sábado, 2 de outubro de 2010

“Esquerda fez opção pela democracia na América Latina”, diz Lula

Esta entrevista de Lula é histórica, por vários motivos.
Mas resolvemos destacar os jornais que a veicularam:
latino-americanos, de esquerda, fortes e respeitados, porém
pouco conhecidos por nós, brasileiros. Confira.
Zilda Ferreira - Equipe do Blog EDUCOM


Lula: nordestino, operário, brasileiro
Por Emir Sader, cientista político e colunista da Carta Capital

Fomos nos acostumando tanto com o sucesso de Lula, seja no seu governo, seja na projeção internacional, que às vezes não temos suficientemente presente todas as dimensões desse fenômeno. Pudemos entrevistá-lo e nos darmos conta do amadurecimento político com que Lula chega ao fim do mandato, o entusiasmo com que termina esses impressionantes 8 anos e as qualidades que lhe permitiram, em uma arquitetura genial, ser o artífice da candidatura da Dilma.

Solicitamos a entrevista, conseguida para três dias antes das eleições, horas depois de Lula ter chegado do penúltimo comício, em Sergipe, e horas antes do último, no ABC (ele promete seguir fazendo passeatas silenciosas – permitidas pela legislação eleitoral).

Quisemos que fosse uma modalidade mais ampla, democrática. Para isso, convidamos os dois principais diários de esquerda do continente – Página 12, da Argentina, que mandou o melhor jornalista argentino da atualidade, Martin Granovski, e La Jornada, do México, que mandou sua notável diretora, Carmen Lira. Ambos tem tiragens importantes – La Jornada é o segundo em tiragem no México, com 8 edições regionais -, com sites com entradas diárias muito grandes, publicações que destoam claramente do resto da imprensa dos seus países, muito similar à nossa.

Por outro lado, quisemos abrir consultas com os leitores sobre as perguntas que gostariam de fazer a Lula, sabendo que seria impossível fazê-las todas, pela quantidade, mas para sentir os temas principais de interesse dos leitores. Eu disse a Lula que, no momento do início da entrevista, já havia mais de 250 perguntas, que nos comprometíamos a fazer-lhe chegar todas por escrito.

Nos reunimos com Lula, os três, alternando as perguntas e às vezes estabelecendo um diálogo. Assistiram ou passaram em algum momento, Gilberto Carvalho, Franklin Martins, Alexandre Padilha e Marco Aurélio Garcia. No final pudemos conversar um pouco em off com o Lula. Na saída já nos entregaram o DVD com a gravação integral da reunião, nos enviaram fotos e mais tarde a entrevista integralmente degravada.

Claramente o tema das comunicações foi dos mais reiterados, como se pode ver pela íntegra da entrevista publicada. Quisemos que fosse publicada na íntegra. Esta também deve ser uma prática da imprensa alternativa, não se dar o direito de selecionar o que parece a editores valer a pena submeter aos leitores. A internet não deve ser só um meio tecnicamente diferenciado, mas uma forma diferente, pluralista, alternativa, de fazer comunicação.

Apesar das intensas atividades e emoções correspondentes, Lula estava com ótimo ânimo, coerente com o tamanho da vitória que se aproxima. Despreocupado se a vitória se dará no primeiro turno – hipótese claramente mais provável – ou no segundo, mas seguro de que termina seu mandato – como disse ele, onde muitos nem começaram – realizando o fundamental com que se comprometeu – a prioridade do social era a substância do discurso na primeira campanha vitoriosa.

Nos acostumamos – como dizia no começo deste texto – com esse sucesso, mas é bom parar um pouco e pensar suas reais dimensões e facetas. Nos esquecemos, de tanto ter incorporado, o verdadeiro peso de Lula ter duas determinações essenciais – imigrante nordestino e operário. Duas marcas discriminadas e marginalizadas no Brasil. Nos meus anos 50, os nordestinos – chamados de "cabeças-chata", "paraíbas" – eram a categoria mais baixa da ordem social. Sua imagem cotidiana era a do trabalhador da construção civil – sem casa, sem identidade, quase anônimo. Pertenciam àquela imensa leva de imigrantes que, com as terríveis secas do nordeste nos anos 50, mais o imenso boom econômico de São Paulo – “A cidade que mais cresce no mundo, constroem-se quatro casas pro hora”, se propalava, orgulhosamente, sem a consciência das monstruosidades que esse crescimento rápido e desordenado estava produzindo.

Mesmo sendo operário, do setor tecnologicamente mais avançado da economia – a industria automobilística chegou a representar, direta ou indiretamente, ¼ do PIB brasileiro -, pertencia a uma categoria que nunca foi devidamente valorizada no Brasil. Foram poucas gerações como a de Lula, com o processo industrial em expansão, com a valorização da imagem do operário. Logo veio a ditadura, depois o neoliberalismo e a desqualificação do trabalhador, do mundo do trabalho, do desenvolvimento econômico.

Pois é Lula, imigrante nordestino, operário, que personificou esses 8 anos importantíssimos para resgatar o Brasil, rebaixado e avacalhado por Collor e FHC. Para resgatar o Estado brasileiro, um modelo de desenvolvimento econômico e social que permite, pela primeira vez, diminuir a desigualdade social no país mais desigual do continente mais desigual do mundo, para levar adiante uma política internacional soberana, centrada no Sul do mundo.

Lula sai mais fresco do que quando entrou no governo. Dinâmico, mais experiência, com ar de estadista, de construtor de um projeto hegemônico, com um profundo sentimento brasileiro e latinoamericano, com amor pela África, com o orgulho de que o povo brasileiro o sinta como um deles, com o sentimento de voltar para São Bernardo e tomar umas biritas com os mesmos amigos que deixou quando veio a Brasília se tornar o primeiro presidente operário, o primeiro a eleger seu sucessor, o primeiro a promover a eleição de uma mulher como presidente do Brasil.

Esse é o Lula que encontramos ontem – cuja entrevista pode ser lida integralmente na Carta Maior -, que vota no domingo em São Bernardo, para onde irá Dilma, depois de votar em Porto Alegre, viajando ambos no final da tarde para Brasília, esperar os resultados que devem consagrar nas urnas o melhor governo que o Brasil já teve e apontar para a consolidação da construção de uma sociedade justa, solidária e soberana. Esse Lula, a encarnação mesma do brasileiro, do que de melhor têm os brasileiros, essa Dilma, que representa a trajetória digna de uma militante da luta contra a ditadura, de construtora desse Brasil pelo qual lutávamos e continuamos lutando, mudando os métodos de luta, mas nunca mudando de lado – como ela gosta de destacar.
Leia aqui a íntegra da entrevista de Lula. Saudações educomunicativistas.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Exército equatoriano enfrenta rebeldes e presidente Correa volta ao poder

Do Blog Tijolaço
O presidente do Equador, Rafael Correa, foi resgatado por militares do hospital onde ficou mantido por 11 horas por policiais amotinados e fez um discurso ao povo do palácio do governo, onde agradeceu a resistência heróica dos equatorianos, que abortaram uma tentativa de golpe de Estado.

Uma ação militar libertou o presidente do Equador, num enfrentamento com os policiais rebelados, que teria deixado cinco feridos, segundo as Forças Armadas. Parte dos militares chegou a apoiar os policiais sublevados, mas o alto comando acabou se colocando ao lado da ordem constitucional e devolveu o presidente legítimo ao poder.

A revolta começou ontem após a aprovação de uma lei que reduziu benefícios salariais de policiais e militares, com tropas chegando a tomar o aeroporto de Quito. Correa foi a um regimento policial para tentar resolver a crise, mas foi atacado pelos policiais sublevados, ficou ferido e foi levado para um hospital.

O presidente denunciou o levante como golpe de Estado e afirmou que ele tinha raízes mais profundas que a questão salarial. Correa teve a solidariedade da comunidade internacional e até dos Estados Unidos.

Tentativa de golpe no Equador enfrenta forte reação popular

Da Carta Maior
Aeroportos fechados, prédios ocupados por policiais militares, marchas nas ruas. O cenário nesta quinta, 30 de setembro, em Quito, Equador, chamou a atenção de toda a comunidade internacional para o que poderia acenar para um novo Golpe de Estado na América Latina. Governos como o de Hugo Chávez, da Venezuela, declararam que a manifestação policial iniciada hoje, teria, sim, por trás, a intenção de ferir a democracia da nação equatoriana.

O protesto começou quando um grupo de policiais - contrário a negação de Correa ao veto da Lei de Serviço Público - tomou à força o regimento número 1 de Quito. O presidente equatoriano, quem esteve no local para tentar estabelecer um diálogo com os manifestantes, encontrava-se no Hospital da Polícia Nacional, na capital do país, recuperando-se das agressões promovidas pelos policiais, os quais lançaram gases lacrimogêneos.

Para Correa, essas ações são parte de uma tentativa de golpe de Estado que estava sendo preparada há meses pela oposição. Mesmo com os ataques, o mandatário anunciou em Rádio Pública que continuará com suas posições. "Eu não vou retroceder, se querem, venham me buscar aqui, deem-me um tiro e que siga adiante a República, matarão a mim, como dizia Neruda, poderão cortar as flores, mas não impedir a chegada da primavera", afirmou.

As ações protagonizadas hoje pelos policiais não ficaram sem respostas. Logo após a tomada à força do regimento número 1 em Quito, organizações sociais equatorianas, assim como organismos internacionais e autoridades latino-americanas, declararam apoio ao mandatário e demonstraram preocupação com a democracia do país.

Sob o lema "defendemos a democracia e apoiamos a gestão do Presidente da República Rafael Correa", milhares de equatorianos e equatorianas foram na manhã de hoje à Praça da Independência apoiar o chefe de Estado. Além de Quito, movimentos e organizações sociais das províncias de Loja, Pichincha, Imbabura, Pastaza e Chimborazo estão promovendo ações em apoio ao presidente e denunciando a tentativa de golpe de Estado.

A comunidade internacional também está preocupada com a situação do país. A Organização dos Estados Americanos (OEA), por exemplo, convocou para a tarde de hoje uma reunião extraordinária do Conselho Permanente para discutir o caso do país sul-americano. Já a União das Nações Sul-Americanas (Unasul) declarou estar ao lado de Correa, e convocou uma reunião de urgência para a noite de hoje em Buenos Aires.

Em comunicado, Néstor Kirchner, secretário-geral do organismo, destacou que os países sul-americanos não podem "tolerar, sob nenhum aspecto, que os governos eleitos democraticamente se vejam pressionados e ameaçados por setores que não querem perder privilégios".

Ademais, afirmou "firme compromisso e a mais absoluta solidariedade" ao mandatário do Equador "frente à tentativa de sublevação de setores corporativos das forças de segurança daquele país à ordem constitucional".

Do mesmo modo, o governo da Argentina respaldou o governo de Correa e demonstrou preocupação com o ato promovido por policiais equatorianos no dia de hoje. "A Chancelaria argentina expressa sua profunda preocupação pelos fatos protagonizados hoje (quinta-feira) pelo pessoal policial e militar das forças armadas equatorianas nas cidades de Guayaquil e Quito", ressalta.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

O Partido da Imprensa Golpista: 1964, as eleições 2010 e o Equador

Diante do golpe de Estado militar contra o presidente Rafael Correa, do Equador, nada melhor que lembrar as ligações entre o que ocorre no cenário político daquele país e o que está em jogo em toda a América Latina neste momento. Quem lê os sites dos grandes jornais brasileiros hoje pode pensar que trata-se de um "protesto" de policiais insatisfeitos com salários baixos, mas nada mais estamos vendo que os mesmos atores utilizando os mesmos estratagemas para solapar a vontade do povo. Em 1964, tudo começou com rebeliões do baixo oficialado, classificadas por jornais como "O Globo", "Folha de S. Paulo" e "O Estado de S. Paulo" de quebra de hierarquia...



Da Carta Maior
Juristas lançam manifesto defendendo governo Lula

Manifesto assinado por nomes como Celso Antonio Bandeira de Mello, Cezar Britto, Dalmo Dallari e Márcio Thomaz Bastos, rebate a tese do "autoritarismo e de ameaça à democracia" que setores da grande imprensa e a oposição vêm tentando imputar ao presidente Lula e ao seu governo, após o presidente ter feito críticas ao comportamento da mídia em relação à candidatura de Dilma Rousseff. Iniciativa é uma resposta ao manifesto lançado por um outro grupo de juristas de direita, ligados ao PSDB e ao DEM, que lançaram texto a pedido dos empresários da mídia atacando o presidente Lula.

Redação

Um grupo de juristas divulgou ontem (27) um manifesto intitulado "Carta ao Povo Brasileiro", onde reafirmam o compromisso do governo Lula com a preservação e a consolidação da democracia no país. Os juristas rebatem a tese do "autoritarismo e de ameaça à democracia" que setores da grande imprensa e a oposição vêm tentando imputar ao presidente Lula e ao seu governo, após o presidente ter feito críticas ao comportamento da mídia em relação à candidatura de Dilma Rousseff. A iniciativa é uma resposta ao manifesto lançado por um outro grupo de juristas de direita, ligados ao PSDB e ao DEM, que lançaram texto a pedido dos empresários da mídia atacando o presidente Lula.

"Nos últimos anos, com vigor, a liberdade de manifestação de idéias fluiu no País. Não houve um ato sequer do governo que limitasse a expressão do pensamento em sua plenitude. Não se pode cunhar de autoritário um governo por fazer críticas a setores da imprensa ou a seus adversários, já que a própria crítica é direito de qualquer cidadão, inclusive do Presidente da República", diz um trecho do documento, assinado por dezenas de personalidades do mundo jurídico, incluindo vários presidentes estaduais da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).

O documento registra ainda que é preciso deixar o povo "tomar a decisão dentro de um processo eleitoral legítimo, dentro de um civilizado embate de idéias, sem desqualificações açodadas e superficiais, e com a participação de todos os brasileiros".

Veja abaixo a íntegra do manifesto que é assinado, entre outros, por Celso Antonio Bandeira de Mello, Cezar Britto, Dalmo Dallari e Márcio Thomaz Bastos:

Em uma democracia, todo poder emana do povo, que o exerce diretamente ou pela mediação de seus representantes eleitos por um processo eleitoral justo e representativo. Em uma democracia, a manifestação do pensamento é livre. Em uma democracia as decisões populares são preservadas por instituições republicanas e isentas como o Judiciário, o Ministério Público, a imprensa livre, os movimentos populares, as organizações da sociedade civil, os sindicatos, dentre outras.

Estes valores democráticos, consagrados na Constituição da República de 1988, foram preservados e consolidados pelo atual governo.

Governo que jamais transigiu com o autoritarismo. Governo que não se deixou seduzir pela popularidade a ponto de macular as instituições democráticas. Governo cujo Presidente deixa seu cargo com 80% de aprovação popular sem tentar alterar casuisticamente a Constituição para buscar um novo mandato. Governo que sempre escolheu para Chefe do Ministério Público Federal o primeiro de uma lista tríplice elaborada pela categoria e não alguém de seu convívio ou conveniência. Governo que estruturou a polícia federal, a Defensoria Pública, que apoiou a criação do Conselho Nacional de Justiça e a ampliação da democratização das instituições judiciais.

Nos últimos anos, com vigor, a liberdade de manifestação de idéias fluiu no País. Não houve um ato sequer do governo que limitasse a expressão do pensamento em sua plenitude.

Não se pode cunhar de autoritário um governo por fazer críticas a setores da imprensa ou a seus adversários, já que a própria crítica é direito de qualquer cidadão, inclusive do Presidente da República.

Estamos às vésperas das eleições para Presidente da República, dentre outros cargos. Eleições que concretizam os preceitos da democracia, sendo salutar que o processo eleitoral conte com a participação de todos.

Mas é lamentável que se queira negar ao Presidente da República o direito de, como cidadão, opinar, apoiar, manifestar-se sobre as próximas eleições. O direito de expressão é sagrado para todos – imprensa, oposição, e qualquer cidadão. O Presidente da República, como qualquer cidadão, possui o direito de participar do processo político-eleitoral e, igualmente como qualquer cidadão, encontra-se submetido à jurisdição eleitoral. Não se vêem atentados à Constituição, tampouco às instituições, que exercem com liberdade a plenitude de suas atribuições.

Como disse Goffredo em sua célebre Carta: “Ao povo é que compete tomar a decisão política fundamental, que irá determinar os lineamentos da paisagem jurídica que se deseja viver”. Deixemos, pois, o povo tomar a decisão dentro de um processo eleitoral legítimo, dentro de um civilizado embate de idéias, sem desqualificações açodadas e superficiais, e com a participação de todos os brasileiros.

Assinam o manifesto:

ADRIANO PILATTI - Professor da PUC-Rio

AIRTON SEELAENDER - Professor da UFSC

ALESSANDRO OCTAVIANI - Professor da USP

ALEXANDRE DA MAIA - Professor da UFPE

ALYSSON LEANDRO MASCARO - Professor da USP

ARTUR STAMFORD - Professor da UFPE

CELSO ANTONIO BANDEIRA DE MELLO - Professor Emérito da PUC-SP

CEZAR BRITTO - Advogado e ex-Presidente do Conselho Federal da OAB

CELSO SANCHEZ VILARDI - Advogado

CLÁUDIO PEREIRA DE SOUZA NETO - Advogado, Conselheiro Federal da OAB e Professor da UFF

DALMO DE ABREU DALLARI - Professor Emérito da USP

DAVI DE PAIVA COSTA TANGERINO - Professor da UFRJ

DIOGO R. COUTINHO - Professor da USP

ENZO BELLO - Professor da UFF

FÁBIO LEITE - Professor da PUC-Rio

FELIPE SANTA CRUZ - Advogado e Presidente da CAARJ

FERNANDO FACURY SCAFF - Professor da UFPA e da USP

FLÁVIO CROCCE CAETANO - Professor da PUC-SP

FRANCISCO GUIMARAENS - Professor da PUC-Rio

GILBERTO BERCOVICI - Professor Titular da USP

GISELE CITTADINO - Professora da PUC-Rio

GUSTAVO FERREIRA SANTOS - Professor da UFPE e da Universidade Católica de Pernambuco

GUSTAVO JUST - Professor da UFPE

HENRIQUE MAUES - Advogado e ex-Presidente do IAB

HOMERO JUNGER MAFRA - Advogado e Presidente da OAB-ES

IGOR TAMASAUSKAS - Advogado

JARBAS VASCONCELOS - Advogado e Presidente da OAB-PA

JAYME BENVENUTO - Professor e Diretor do Centro de Ciências Jurídicas da Universidade Católica de Pernambuco

JOÃO MAURÍCIO ADEODATO - Professor Titular da UFPE

JOÃO PAULO ALLAIN TEIXEIRA - Professor da UFPE e da Universidade Católica de Pernambuco

JOSÉ DIOGO BASTOS NETO - Advogado e ex-Presidente da Associação dos Advogados de São Paulo

JOSÉ FRANCISCO SIQUEIRA NETO - Professor Titular do Mackenzie

LENIO LUIZ STRECK - Professor Titular da UNISINOS

LUCIANA GRASSANO - Professora e Diretora da Faculdade de Direito da UFPE

LUÍS FERNANDO MASSONETTO - Professor da USP

LUÍS GUILHERME VIEIRA - Advogado

LUIZ ARMANDO BADIN - Advogado, Doutor pela USP e ex-Secretário de Assuntos Legislativos do Ministério da Justiça

LUIZ EDSON FACHIN - Professor Titular da UFPR

MARCELLO OLIVEIRA - Professor da PUC-Rio

MARCELO CATTONI - Professor da UFMG

MARCELO LABANCA - Professor da Universidade Católica de Pernambuco

MÁRCIA NINA BERNARDES - Professora da PUC-Rio

MARCIO THOMAZ BASTOS - Advogado

MARCIO VASCONCELLOS DINIZ - Professor e Vice-Diretor da Faculdade de Direito da UFC

MARCOS CHIAPARINI - Advogado

MARIO DE ANDRADE MACIEIRA - Advogado e Presidente da OAB-MA

MÁRIO G. SCHAPIRO - Mestre e Doutor pela USP e Professor Universitário

MARTONIO MONT'ALVERNE BARRETO LIMA - Procurador-Geral do Município de Fortaleza e Professor da UNIFOR

MILTON JORDÃO - Advogado e Conselheiro do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária

NEWTON DE MENEZES ALBUQUERQUE - Professor da UFC e da UNIFOR

PAULO DE MENEZES ALBUQUERQUE - Professor da UFC e da UNIFOR

PIERPAOLO CRUZ BOTTINI - Professor da USP

RAYMUNDO JULIANO FEITOSA - Professor da UFPE

REGINA COELI SOARES - Professora da PUC-Rio

RICARDO MARCELO FONSECA - Professor e Diretor da Faculdade de Direito da UFPR

RICARDO PEREIRA LIRA - Professor Emérito da UERJ

ROBERTO CALDAS - Advogado

ROGÉRIO FAVRETO - ex-Secretário da Reforma do Judiciário do Ministério da Justiça

RONALDO CRAMER - Professor da PUC-Rio

SERGIO RENAULT - Advogado e ex-Secretário da Reforma do Judiciário do Ministério da Justiça

SÉRGIO SALOMÃO SHECAIRA - Professor Titular da USP

THULA RAFAELLA PIRES - Professora da PUC-Rio

WADIH NEMER DAMOUS FILHO - Advogado e Presidente da OAB-RJ

WALBER MOURA AGRA - Professor da Universidade Católica de Pernambuco


Nota da Equipe do Blog EDUCOM: acompanhe as atualizações do blog. Logo publicaremos mais informações sobre a tentativa de golpe contra o governo constitucional do Equador.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

'Precisamos conscientizar a população sobre os efeitos dos agrotóxicos'

Por Vanessa Ramos*

Os prejuízos causados à saúde com a utilização exagerada de agrotóxicos ainda são desconhecidos pela maioria da população e pouco discutidos pela sociedade. Por isso, mais de 20 entidades lançaram a campanha nacional contra o uso dos agrotóxicos.

Na semana passada, essas entidades participaram do seminário contra o uso dos agrotóxicos, organizado pela Via Campesina, em parceria com a Fiocruz e a Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio. Na atividade, os participantes fizeram um estudo sobre os impactos dos agrotóxicos na economia agrícola nacional, na saúde pública e no ambiente. A partir dessas discussões, a campanha tirou como eixos de atuação informar a sociedade sobre os efeitos da utilização desse “agroveneno” e apresentar uma nova proposta para a agricultura.

Roseli de Sousa, da direção nacional do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) e da Via Campesina, afirma que a meta da campanha é “denunciar esse modelo de produção agrícola, as causas desse veneno e alertar sobre quantas pessoas hoje estão doentes, sobretudo, com câncer, em função do uso desses venenos”.

A seguir, leia a entrevista concedida à Página do MST.

Como você avalia o seminário contra o uso dos agrotóxicos?
O seminário dos agrotóxicos foi um grande passo contra o uso exagerado de venenos na agricultura brasileira. O Brasil já é campeão em consumo de venenos, em consumo de agrotóxicos. Isso gera grandes danos à saúde da população. Nesse momento, em que há grandes avanços do agronegócio, o seminário foi de extrema importância, já que o veneno é parte desse modelo de desenvolvimento de agricultura. Além disso, conseguimos reunir quase 30 entidades e organizações de diversos setores da sociedade. Isso é um grande avanço na tentativa de conscientização contra esse modelo agrícola.

Quem são os maiores prejudicados pelo o uso do agrotóxico na agricultura brasileira?
Quem produz, como os camponeses, os agricultores, os assentados, sofre um efeito maior porque está em contato direto com o veneno. Mas também a população em geral, que consome um produto que não é de boa qualidade, é o maior prejudicado. Assim, as doenças aumentam e aparecem cada vez mais. E quem lucra com isso tudo, sem dúvida, são as empresas.

Quais os objetivos da campanha?
O grande objetivo da nossa articulação contra o agrotóxico e do seminário em si é conseguir traçar um plano, uma estratégia de combate a esse modelo agrícola e ao grande uso de veneno no Brasil. A partir disso, essas articulação vai resultar na campanha nacional contra o agrotóxico no Brasil.

Como será realizada?
A nossa campanha terá dois eixos. O primeiro tem como meta denunciar esse modelo de produção agrícola, as causas desse veneno e alertar sobre quantas pessoas hoje estão doentes, sobretudo, com câncer, em função do uso desses venenos, além de como é que esse veneno tem sido uma das formas do agronegócio ganhar dinheiro. O que as empresas lucram vendendo o veneno é muito grande. Dessa forma, um dos eixos da campanha será a denúncia desse modelo. 

E o segundo eixo da campanha?
Vamos anunciar o que queremos para a sociedade, dentro de um outro projeto de desenvolvimento para a agricultura. Assim, devemos almejar um desenvolvimento baseado na agroecologia, na agricultura saudável, na produção de alimentos para toda a população. Baseado também numa outra sociedade com outros tipos de valores, que valorize uma educação e uma saúde diferente. Certamente, a nossa campanha terá esses dois eixos: denúncia contra o modelo agronegócio e anúncio de qual sociedade nós queremos para o futuro.

Quais setores da sociedade podem se somar nessa luta?
Nós já temos engajados nessa luta os movimentos sociais da Via Campesina, centrais sindicais, setores das universidades, médicos, organizações não governamentais (ONGs). Tivemos também a presença muito importante da atriz Priscila Camargo no seminário. Ela representou os artistas e se colocou à disposição para ajudar a fazer esse grande debate no meio dos artistas.

Temos também o apoio da Fiocruz, sobretudo da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio da Fiocruz. Passaram pelo seminário diversos pensadores e professores, que nos ajudaram e que estão se engajando nesse debate. Nós queremos convidar não só esses, mas todos os setores da sociedade para fazer parte desse grande debate, dessa grande conscientização para de fato darmos um outro rumo para a nossa agricultura brasileira. 

Como a sociedade pode se informar sobre o tema dos agrotóxicos e participar da campanha?
Em breve, nós teremos um site e um blog no ar. Os interessados também podem procurar nossos veículos de comunicação de apoio, como o Brasil de Fato, que vai elaborar matérias específicas sobre o tema, além dos movimentos sociais ligados à Via Campesina. Nos seus espaços de trabalho, de militância e de atuação, devem procurar informações sobre as causas dos venenos e ajudar nessa grande conscientização.
O dia 16 de outubro é o Dia Internacional dos Alimentos. É um dia também em que a gente quer fazer debates e ações contra esse modelo e a favor da produção saudável. Certamente, terão outros meios que, logo assim que a gente estruturar melhor a campanha, vai estar à disposição de toda a sociedade a fim de se somar a esse grande debate.

Quais serão as ações a serem realizadas no Dia Internacional dos Alimentos?
É tradição da Via Campesina Brasil e Internacional fazer grandes debates em torno dos alimentos saudáveis no dia 16 de outubro. Os estados e os movimentos nas suas regiões devem promover debates e ações. Vamos fazer também 5º Congresso da Coordenação Latino Americana de Organizações do Campo (CLOC), no Equador. Por isso, o dia 16 vai ser um dia de grande debate em toda a América Latina.

Qual a nossa tarefa para o próximo período?
Fica a grande tarefa de entender de fato quem são os grandes prejudicados com o uso de agrotóxico. Enquanto as empresas como a Bayer, a Monsanto, a Syngenta, além de outras, ganham tanto dinheiro, a população está condenada a morrer por doenças adquiridas em função do uso dos agrotóxicos. Neste contexto, o seminário representou passos que devem ser continuados. 

Cada indivíduo desse país precisa fazer a sua parte. Cada um de nós precisa ajudar a desconstruir esse modelo de produção agrícola e construir outro modelo de sociedade, baseado na agroecologia, baseado na vida humana. Nós queremos uma agricultura camponesa que preserve os recursos naturais e que resgate as práticas camponesas de cultivo, que está comprometida hoje com o bem estar de quem produz e de quem consome o alimento. Nós só vamos ter um outro modelo de sociedade se conseguirmos fazer a Reforma Agrária. 

*Matéria originalmente publicada no site do MST

À NAÇÃO

Por Emir Sader

Em uma democracia nenhum poder é soberano. Soberano é o povo.
É esse povo – o povo brasileiro – que irá expressar sua vontade soberana no próximo dia 3 de outubro, elegendo seu novo Presidente e 27 Governadores, renovando toda a Câmara de Deputados, Assembléias Legislativas e dois terços do Senado Federal.
Antevendo um desastre eleitoral, setores da oposição têm buscado minimizar sua derrota, desqualificando a vitória que se anuncia dos candidatos da coalizão Para o Brasil Seguir Mudando, encabeçada por Dilma Rousseff.
Em suas manifestações ecoam as campanhas dos anos 50 contra Getúlio Vargas e os argumentos que prepararam o Golpe de 1964. Não faltam críticas ao “populismo”, aos movimentos sociais, que apresentam como “aparelhados pelo Estado”, ou à ameaça de uma “República Sindicalista”, tantas vezes repetidas em décadas passadas para justificar aventuras autoritárias.
O Presidente Lula e seu Governo beneficiam-se de ampla aprovação da sociedade brasileira. Inconformados com esse apoio, uma minoria com acesso aos meios, busca desqualificar  esse povo, apresentando-o como “ignorante”, “anestesiado” ou “comprado pelas esmolas” dos programas sociais.
Desacostumados com uma sociedade de direitos, confunde-na sempre com uma sociedade de favores e prebendas.
O manto da democracia e do Estado de Direito com o qual pretendem encobrir seu conservadorismo não é capaz de ocultar a plumagem de uma Casa Grande inconformada com a emergência da Senzala na vida social e política do país nos últimos anos. A velha e reacionária UDN reaparece “sob nova direção”. Em nome da liberdade de imprensa querem suprimir a liberdade de expressão. A imprensa pode criticar, mas não quer ser criticada. É profundamente anti-democrático – totalitário mesmo – caracterizar qualquer crítica à imprensa como uma ameaça à liberdade de imprensa.
Os meios de comunicação exerceram, nestes últimos oito anos, sua atividade sem nenhuma restrição por parte do Governo.
Mesmo quando acusaram sem provas.Ou quando enxovalharam homens e mulheres sem oferecer-lhes direito de resposta.Ou, ainda, quando invadiram a privacidade e a família do próprio Presidente da República.
A oposição está colhendo o que plantou nestes últimos anos.
Sua inconformidade com o êxito do Governo Lula, levou-a à perplexidade. Sua incapacidade de oferecer à sociedade brasileira um projeto alternativo de Nação, confinou-a no gueto de um conservadorismo ressentido e arrogante.
O Brasil passou por uma grande transformação.Retomou o crescimento. Distribuiu renda. Conseguiu combinar esses dois processos com a estabilidade macroeconômica e com a redução da vulnerabilidade externa. E – o que é mais importante – fez tudo isso com expansão da democracia e com uma presença soberana no mundo.
Ninguém nos afastará desse caminho.
Viva o povo brasileiro.

O QUE PRETENDE A MÍDIA COMERCIAL

Texto de  Frei Leonardo Boff(*)

A mídia comercial em guerra contra Lula e Dilma

Sou profundamente pela liberdade de expressão em nome da qual fui punido com o "silêncio obsequioso"pelas autoridades do Vaticano. Sob risco de ser preso e torturado, ajudei a editora Vozes a publicar corajosamente o "Brasil Nunca Mais" onde se denunciavam as torturas, usando exclusivamente fontes militares, o que acelerou a queda do regime autoritário.

Esta história de vida, me avaliza para fazer as críticas que ora faço ao atual enfrentamento entre o Presidente Lula e a midia comercial que reclama ser tolhida em sua liberdade. O que está ocorrendo já não é um enfrentamento de idéias e de interpretações e o uso legítimo da liberdade da imprensa. Está havendo um abuso da liberdade de imprensa que, na previsão de uma derrota eleitoral, decidiu mover uma guerra acirrada contra o Presidente Lula e a candidata Dilma Rousseff. Nessa guerra vale tudo: o factóide, a ocultação de fatos, a distorção e a mentira direta.

Precisamos dar o nome a esta mídia comercial. São famílias que, quando vêem seus interesses comerciais e ideológicos contrariados, se comportam como "famiglia" mafiosa. São donos privados que pretendem falar para todo Brasil e manter sob tutela a assim chamada opinião pública. São os donos do Estado de São Paulo, da Folha de São Paulo, de O Globo, da revista Veja na qual se instalou a razão cínica e o que há de mais falso e chulo da imprensa brasileira. Estes estão a serviço de um bloco histórico, assentado sobre o capital que sempre explorou o povo e que não aceita um Presidente que vem deste povo. Mais que informar e fornecer material para a discussão pública, pois essa é a missão da imprensa, esta mídia empresarial se comporta como um feroz partido de oposição.

Na sua fúria, quais desesperados e inapelavelmente derrotados, seus donos, editorialistas e analistas não têm o mínimo respeito devido à mais alta autoridade do pais, ao Presidente Lula. Nele vêem apenas um peão a ser tratado com o chicote da palavra que humilha.

Mas há um fato que eles não conseguem digerir em seu estômago elitista. Custa-lhes aceitar que um operário, nordestino, sobrevivente da grande tribulação dos filhos da pobreza, chegasse a ser Presidente. Este lugar, a Presidência, assim pensam, cabe a eles, os ilustrados, os articulados com o mundo, embora não consigam se livrar do complexo de vira-latas, pois se sentem meramente menores e associados ao grande jogo mundial. Para eles, o lugar do peão é na fábrica produzindo.

Como o mostrou o grande historiador José Honório Rodrigues (Conciliação e Reforma) "a maioria dominante, conservadora ou liberal, foi sempre alienada, antiprogresssita, antinacional e nãocontemporânea. A liderança nunca se reconciliou com o povo. Nunca viu nele uma criatura de Deus, nunca o reconheceu, pois gostaria que ele fosse o que não é. Nunca viu suas virtudes nem admirou seus serviços ao país, chamou-o de tudo, Jeca Tatu, negou seus direitos, arrasou sua vida e logo que o viu crescer ela lhe negou, pouco a pouco, sua aprovação, conspirou para colocá-lo de novo na periferia, no lugar que contiua achando que lhe pertence (p.16)".

Pois esse é o sentido da guerra que movem contra Lula. É uma guerra contra os pobres que estão se libertando. Eles não temem o pobre submisso. Eles tem pavor do pobre que pensa, que fala, que progride e que faz uma trajetória ascendente como Lula. Trata-se, como se depreende, de uma questão de classe. Os de baixo devem ficar em baixo. Ocorre que alguém de baixo chegou lá em cima. Tornou-se o Presidene de todos os brasileiros. Isso para eles é simplesmente intolerável.

Os donos e seus aliados ideológicos perderam o pulso da história. Não se deram conta de que o Brasil mudou. Surgiram redes de movimentos sociais organizados de onde vem Lula e tantas outras lideranças. Não há mais lugar para coroneis e de "fazedores de cabeça" do povo. Quando Lula afirmou que "a opinião pública somos nós", frase tão distorcida por essa midia raivosa, quis enfatizar que o povo organizado e consciente arrebatou a pretensão da midia comercial de ser a formadora e a porta-voz exclusiva da opinião pública. Ela tem que renunciar à ditadura da palabra escrita, falada e televisionada e disputar com outras fontes de informação e de opinião.

O povo cansado de ser governado pelas classes dominantes resolveu votar em si mesmo. Votou em Lula como o seu representante. Uma vez no Governo, operou uma revolução conceptual, inaceitável para elas. O Estado não se fez inimigo do povo, mas o indutor de mudanças profundas que beneficiaram mais de 30 milhões de brasileiros. De miseráveis se fizeram pobres laboriosos, de pobres laboriosos se fizeram classe média baixa e de classe média baixa de fizeram classe média. Começaram a comer, a ter luz em casa, a poder mandar seus filhos para a escola, a ganhar mais salário, em fim, a melhorar de vida.

Outro conceito inovador foi o desenvolvimento com inclusão soicial e distribuição de renda. Antes havia apenas desenvolvimento/crescimento que beneficiava aos já beneficiados à custa das massas destituidas e com salários de fome. Agora ocorreu visível mobilização de classes, gerando satisfação das grandes maiorias e a esperança que tudo ainda pode ficar melhor. Concedemos que no Governo atual há um déficit de consciência e de práticas ecológicas. Mas importa reconhecer que Lula foi fiel à sua promessa de fazer amplas políticas públicas na direção dos mais marginalizados.

O que a grande maioria almeja é manter a continuidade deste processo de melhora e de mudança. Ora, esta continuidade é perigosa para a mídia comercial que assiste, assustada, o fortalecimento da soberania popular que se torna crítica, não mais manipulável e com vontade de ser ator dessa nova história democrática do Brasil. Vai ser uma democracia cada vez mais participativa e não apenas delegatícia. Esta abria amplo espaço à corrupção das elites e dava preponderância aos interesses das classes opulentas e ao seu braço ideológico que é a mídia comercial. A democracia participativa escuta os movimentos sociais, faz do Movimento dos Sem Terra (MST), odiado especialmente pela VEJA faz questão de não ver, protagonista de mudanças sociais não somente com referência à terra mas também ao modelo econômico e às formas cooperativas de produção.

O que está em jogo neste enfrentamento entre a midia comercial e Lula/Dilma é a questão: que Brasil queremos? Aquele injusto, neocoloncial, neoglobalizado e no fundo, retrógrado e velhista ou o Brasil novo com sujeitos históricos novos, antes sempre mantidos à margem e agora despontando com energias novas para construir um Brasil que ainda nunca tínhamos visto antes.

Esse Brasil é combatido na pessoa do Presidente Lula e da candidata Dilma. Mas estes representam o que deve ser. E o que deve ser tem força. Irão triunfar a despeito das má vontade deste setor endurecido da midia comercial e empresarial. A vitória de Dilma dará solidez a este caminho novo ansiado e construido com suor e sangue por tantas gerações de brasileiros.

(*) Teólogo, filósofo, escritor e representante da Iniciativa Internacional da Carta da Terra.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Regiões mais ricas em recursos naturais são palco de conflitos


Patrícia Benvenuti/Brasil de Fato


Enviada a San Juan de Pasto e Barrancabermeja (Colômbia)

Além de aumento da militarização, simbolizado agora pela instalação de sete bases militares estadunidenses em seu território, os colombianos enfrentam outra ameaça não menos agressiva: o avanço de empresas transnacionais no país. Minas repletas de ouro, manganês e outros recursos são algumas das riquezas nacionais que têm atraído corporações de todo o mundo nos últimos dez anos. Segundo o líder do Comitê de Integração do Maciço Colombiano (Cima), Robert Daza Guevara, atualmente há pelo menos 137 transnacionais atuando no país, que recebem concessões para a exploração em todo o território.

As corporações, porém, não vieram desacompanhadas. Junto com elas, veio a intensificação dos conflitos armados no país. De acordo com o dirigente, muitas empresas agem no sentido de expulsar os trabalhadores do campo, a fim de tomar suas terras. Para isso, fazem uso até do patrocínio de grupos paramilitares. “Em Arauca [departamento], há grupos paramilitares que são financiados por empresas multinacionais petrolíferas. É onde há os mais altos índices de assassinatos e violações dos direitos humanos”, destaca.

Para Guevara, a atuação dos paramilitares em certas áreas está mais relacionada com a existência de recursos naturais do que com presença grupos guerrilheiros. O paramilitarismo, segundo ele, faz parte de um esquema articulado por várias frentes. “As corporações transnacionais, em cumplicidade com o governo, com os militares e em aliança com os paramilitares, retiram as pessoas do seu território. E as bases militares vêm a ser um apoio técnico e militar a todas essas estratégias”, enfatiza.

Como exemplo, ele cita a transnacional AngloGold Ashanty, que ganhou concessão de exploração em 26 dos 32 departamentos colombianos. Dos 13 milhões de hectares concedidos pelo Ministério de Minas e Energia, 800 mil já tem permissão de exploração. Ao recusarem vender suas terras, agricultores, indígenas e negros sofrem ameaças que se concretizam em assassinatos.

Forças Públicas

As terras onde há mais concentração com recursos, no entanto, também têm recebido forte aparato das Forças Públicas colombianas. Em uma hora de viagem entre os municípios de Sapuyes e Ricaurto, no departamento de Nariño, é possível observar cinco bases permanentes da polícia, que conta ainda com outras três ocasionais. A área, uma das mais ricas em ouro, também registra altos índices de violência.

Já em Cajamarca, departamento de Tolima, a disputa por uma grande mina de ouro é a causa de violações e massacres, muitos dos quais atribuídos ao próprio Exército colombiano.

Fomigação

A violência direta, porém, não é a única arma usada contra os camponeses. Sob pretexto de erradicar o plantio de coca, é usada a técnica da fumigação, pelo despejo aéreo de glifosato sobre as lavouras. Como a coca já adquiriu proteção ao glifosato, o prejuízo fica sobre lavouras de alimentos básicos aos agricultores, como cacau, arroz e banana.

Somente nos últimos oito anos, cerca de 4,5 milhões de trabalhadores foram expulsos do campo. Hoje, dos 45 milhões de habitantes da Colômbia, apenas 11 milhões vivem nas zonas rurais.

domingo, 12 de setembro de 2010

V FÓRUM DE CULTURA

Programação

15 e 16 de setembro de 2010. 

Primeiro dia:

Horário: 18h 
Local: Auditório da CMRJ

18:00h – Início

18:30h – Vereador Reimont – presidência dos trabalhos

18:40h - Módulo 1: Júlia W. Pereira – Historiadora e Museóloga do Ecomuseu Ilha Grande, UERJ - O que é patrimônio?  O Patrimônio e as formas de preservação no Brasil: uma breve contextualização. Breve Descrição:Noção de patrimônio no Brasil, fundação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Tombamento, iniciativas estaduais e municipais, ampliação das medidas de salvaguarda do patrimônio (inventários, registro de sítios arqueológicos, registro do patrimônio imaterial, Área de Proteção Ambiental, Área de Proteção do Ambiente Cultural, dentre outras).

19:10h – Módulo 2: Guilherme Cruz de Mendonça – Advogado, Doutorando em Meio Ambiente PPGMA – UERJ, Mestre em Direito das Cidades pela UERJ, Especialista em Patrimônio Cultural IPHAN/UNESCO, Membro da Comissão de Direito Ambiental da OAB/RJ - Cessão de uso, destinação dos bens tombados. Efeitos jurídicos do tombamento (leis que regem o tombamento nas esferas municipal, estadual e federal). Breve Descrição: Panorama das leis que regem o tombamento nas esferas federal, estadual e municipal.  Lei Municipal n.o 166, de 27 de maio de 1980 e a sistemática do tombamento no Município do Rio. Efeitos jurídicos do tombamento.  Uso e destinação dos bens tombados.


20:00h – Módulo 3: Lúcia Helena dos Santos Torres - arquiteta, subsecretaria de patrimônio cultural, intervenção urbana, arquitetura e design, Prefeitura do Rio de Janeiro - Recursos e incentivos à preservação.

20:30h –Módulo 4: Leoonardo Marques de Mesentier – Arquiteto do IPHAN, professor da Escola de Arquitetura da UFF  Políticas, programas e ações. O corredor cultural. Breve descrição: políticas de preservação do patrimônio: a pesquisa, o tombamento, a conservação, o licenciamento, a fiscalização, o inventário, a promoção e o restauro. O planejamento urbano como instrumento de preservação do patrimônio edificado. O corretor cultural e as APACs no Rio de Janeiro.

21:15h – Considerações finais

21:30h – Encerramento

Segundo dia

Horário: 18h 
Local: Salão Nobre da CMRJ
  
Apresentação do Mapa do Tombamento  na Cidade do Rio (apresentado pela autoridade pública), incluindo os bens imóveis tombamentos pelo INEPAC e pelo IPHAN e debates.  

18:00h - Início

18:30h – Vereador Reimont - presidência dos trabalhos

18:40h – Washington Fajardo, Subsecretário de Patrimônio Cultural, Intervenção Urbana, Arquitetura e Design – Apresentação do Mapa do Tombamento

19:30h - Intervalo para o café  

19:50h - Abertura para os participantes (blocos de 3 perguntas. Cada pergunta (ou intervenção) será de 3 minutos. A cada 3 perguntas, o subsecretário responde ao plenário)

21:15h - Considerações finais

21:30h – Encerramento




Blogosfera: A Imprensa Alternativa do Século 21


No dia 21 de setembro, das 18h30 às 20h30, com transmissão online pelo
bate-papo do UOL, o Centro Cultural Banco do Brasil realiza o
debateBlogosfera: A Imprensa Alternativa do Século 21? com os jornalistas
Luiz Carlos Azenha, do blog Vi o Mundo, e Mauro Santayana. A mediação do
encontro será feita pelos também jornalistas Mauro Ventura e Oona Castro,
que encaminhará as perguntas dos internautas aos debatedores.

O objetivo do ciclo é o de pensar a Internet como suporte para a informação
e as artes: música, literatura, teatro, artes plásticas, fotografia, num
total de seis encontros. O primeiro debate do ciclo foi dedicado à discussão
da Web Arte e contou com a participação de Ivana Bentes e Giselle
Beiguelman. No segundo, foi discutido o teatro que se faz na rede, com o
diretor Jefferson Miranda e a atriz Renata Jesion.

Até novembro devem participar das discussões os fotógrafos Arthur Omar e
Claudia Jaguaribe; os escritores Daniel Galera e João Paulo Cuenca; o
tecladista do Skank, Henrique Portugal, e o jornalista Irineu Franco
Perpétuo, autor do livro O Futuro da Música Depois da Morte do CD.

Repórter especial da TV Record e editor-chefe do blog Viomundo, Luiz Carlos
Azenha começou a carreira em um jornal do interior de São Paulo, nos anos
70. Em 1980 tornou-se repórter de TV. Foi correspondente da Rede Manchete e
da TV Globo em Nova York, cidade em que viveu durante mais de 15 anos.
Acompanhou eventos internacionais importantes como a queda do muro de
Berlim, o processo de dissolução da União Soviética e a crise que levou à
invasão do Iraque. É colaborador de revista CartaCapital e mais recentemente
dirigiu a série Nova África, da TV Brasil.

Mauro Santayana é jornalista, colunista político do JB Online. Trabalhou em
todos os grandes jornais brasileiros (Diário de Minas, Última Hora, O Globo,
Folha de S. Paulo, Gazeta Mercantil, Diário Popular e Jornal da Tarde), além
das revistas Manchete, Mundo Ilustrado, Alterosa e Revista do Globo. Na
imprensa alternativa e de resistência, trabalhou no Binômio, de Belo
Horizonte, e Pasquim. Foi correspondente do JB (em Praga e em Bonn, de 1968
a 1973) e da Folha de São Paulo (na Península Ibérica e no Norte da África,
de 1979 a 1982). Como correspondente do JB na Alemanha, ganhou o Prêmio Esso
de Reportagem de 1971, com a matéria Assim Começou uma Guerra, sobre as
relações entre o Brasil e Alemanha que levaram à Declaração de Guerra de
1942. Foi ainda consultor político de Tancredo Neves, secretário-executivo e
membro da Comissão de Estudos Constitucionais da Presidência da República,
que redigiu o ante-projeto da Constituição de 1988, e Adido Cultural do
Brasil em Roma (entre 1987 e 1990). Entre os livros que escreveu estão A
Tragédia Argentina, Poder e Violência, de Rosas a Perón; Dossiê da Guerra do
Saara; Tancredo, o Verbo Republicano e A Política como Razão.

O debate Blogosfera: A Imprensa Alternativa do Século 21? acontece no Teatro
II e as senhas para o evento podem ser retiradas com uma hora de
antecedência, na bilheteria. O CCBB fica na Rua Primeiro de Março 66,
Centro, tel.: (21) 3808-2020. Outras informações podem ser obtidas no site
WWW.bb.com.br/cultura

PARA ROTEIRO
Programa: Arte e Vanguarda na Internet
Patrocínio : Banco do Brasil
Realização: Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro
Curadora: Beatriz Carolina Gonçalves

21 SETEMBRO (com transmissão online pela TV UOL)
BLOGOSFERA: A IMPRENSA ALTERNATIVA DO SÉCULO 21?
Debatedores: Luiz Carlos Azenha e Mauro Santayana
Mediação: Mauro Ventura e Oona Castro
Horário: Das 18h30 às 20h30
Local: Teatro I
Capacidade: 100 lugares
Duração: 120 min.
Recomendação: 12 anos
Entrada gratuita: Retirar senhas na bilheteria uma hora antes do evento
PROGRAMAÇÃO DO CICLO

19 OUTUBRO (com transmissão online pela TV UOL)
MUITO ALÉM DA FOTOGRAFIA
Debatedores: Cláudia Jaguaribe e Arthur Omar
Mediação: Mauro Ventura e Oona Castro

09 NOVEMBRO
LITERATURA NA INTERNET
Debatedores: Daniel Galera e João Paulo Cuenca
Mediação: Mauro Ventura

23 NOVEMBRO MÚSICA E INTERATIVIDADE
Debatedores: Henrique Portugal e Irineu Franco Perpétuo
Mediação: Mauro Ventura
Centro Cultural Banco do Brasil RJ
Rua Primeiro de Março, 66 - Centro.
Informações: (21) 3808-2020
bb.com.br/cultura

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

SOBRE ”VERDADES ABSOLUTAS”

Por Laerte Braga
O pastor norte-americano Terry Jones está tirando o sono de Barack Obama e todo o governo dos EUA, ao conclamar pessoas em todo o mundo para o “DIA INTERNACIONAL DE QUEIMAR UM ALCORÃO”. Terry Jones é um dos líderes da igreja “cristã” DOVE WORLD OUTREACH, na cidade de Gainesville, pouco mais de 95 mil habitantes.

Jones é autor de um livro com o título ISLAM IS OF THE DEVIL. Uma página no site FACEBOOK criada pelo pastor para sua campanha tem perto de onze mil seguidores.

Há cerca de sete dias uma senhora de pouco mais de setenta anos, viúva e mãe de dois filhos com distúrbios mentais provocados pelo uso de drogas dirigia-se a um Terreiro Umbandista de sua cidade, quando foi abordada por um pastor. Recebeu um convite para freqüentar sua igreja (a dele) e a advertência que estava se dirigindo a uma “casa do demônio”.

Bispos da seção paulista da CNBB (CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL) divulgaram uma carta em que recomendam a fiéis a não votar em candidatos que defendam posições contrárias às da Igreja Católica Apostólica Romana, especificando dentre os candidatos Dilma Roussef. Acusam a candidata de Lula de ser pró-aborto. O apelo foi ouvido pelo arcebispo do Pará que quer a carta divulgada em todo o país.

O pastor Jones, no mesmo FACEBOOK enfrenta três outras páginas que condenam sua atitude e que somam pelo menos vinte vezes mais seguidores que os seus fanáticos.

Barack Obama e Hilary Clinton já se manifestaram publicamente contra a convocação de Terry Jones e advertem que atitudes como essa podem aumentar o radicalismo de setores islâmicos, beneficiando organizações terroristas como a AL QAEDA.

Não difere da OPUS DEI, católica, de extrema-direita e que desde a eleição do papa João Paulo II controla o Vaticano com mão de ferro, agora mais ainda com o ex-integrante da juventude hitlerista o papa Bento XVI. A ascensão de João Paulo II significou a retomada de um processo inquisitório dentro da Igreja Católica contra setores da Teologia da Libertação e não identificados com o extremismo visceral do papa polonês. João Paulo II foi eleito com apoio do governo dos EUA, através de negociações do cardeal Marcinkus (chegou a ter sua prisão preventiva pedida pelo governo da Itália por fraudes bancárias, dirigia o banco do Vaticano).

O “sonho” de Edir Macedo, que no Brasil responde a processos por lavagem de dinheiro, extorsão, estelionato, é levar sua igreja ao “mundo muçulmanos” e “libertá-lo do “atraso”. De Miami comanda uma rede que envolve bancos, veículos de comunicação, empresas imobiliárias, toda a sorte de “negócios” a partir do dízimo pago pelos fiéis.

Segundo o site GLOBO.COM, uma espécie de revista do nada na internet, causou risos e espanto a forma como Larissa Riquelme, chamada musa da Copa do Mundo, referiu-se às suas partes íntimas.

A moça estava aproveitando os quinze minutos de fama, posando para a revista PLAYBOY e usou a expressão PANCHULA para definir tais partes.

O Irã, na cabeça dessa gente, é o grande culpado de todas essas mazelas, digamos assim, inclusive dos que aguardam execução nas prisões do Texas, ou do Iraque. Há cerca de dois anos o FBI aceitou como real um estudo de organizações de direitos humanos, que pelo menos cinqüenta condenados a morte eram inocentes e foram executados assim mesmo. Como os exames de DNA só são possíveis de um determinado tempo para cá, a justiça falhou. A maior parte dos executados era de negros, latinos e pobres.

Todos os que estavam no Texas pediram clemência, direito previsto em lei, ao então governador do Estado do Texas, George Bush, mais tarde presidente, que negou todos os pedidos.

O avanço das quadrilhas neopentecostais é exportado pelos Estados Unidos e se instala primeiro na América Latina a partir do Chile e em seguida o Brasil. Pastores formados e treinados por um dos braços mais ativos da inteligência norte-americana a CIA substituem os norte-americanos (chegaram aqui com a Aliança para o Progresso, uma espécie de pedofilia política, dá um pirulito e rouba a essência do ser). À época o principal consultor “religioso” do governo dos EUA era Billy Graham, inspirador de Ronald Reagan em sua cruzada contra o comunismo.

Visitou o Brasil a convite de organizações de extrema-direita e do próprio governo militar, a ditadura.

Hoje a praga se espalha pela África, Europa Ocidental (nova grande colônia dos EUA) e almeja conquistar o mundo muçulmano.

Foi uma resposta, na América Latina, à Teologia da Libertação. Opção de católicos pelos pobres que ganhou força com os papas João XXIII e Paulo VI. Seus papados foram varridos da história da Igreja por João Paulo II e agora Bento XVI, sem falar nos mistérios que cercam a morte de João Paulo I, papa por um mês.

Inúmeros sacerdotes católicos ligados à Teologia da Libertação foram assassinados por extremistas de direita e por governos militares. Caso do cardeal Oscar Romero em El Salvador e de freis como frei Tito no Brasil.

As três mais conhecidas vítimas desse período foram o arcebispo de Olinda e Recife, D. Hélder Câmara, o cardeal Paulo Evaristo Arns e o frei Leonardo Boff. Não foram assassinados, mas a própria Igreja tratou de silenciá-los enquanto sacerdotes. Boff inclusive abandonou o hábito.

A cúpula da Igreja Católica Romana no Brasil, hoje, é controlada pela OPUS DEI (aparece como vilã no filme CÓDIGO DA VINCI) e as perseguições a remanescentes da Teologia da Libertação permanecem.

Não há diferença alguma entre o extremismo de seitas neopentecostais, ou de católicos da OPUS DEI (RENOVAÇÃO CARISMÁTICA) e fundamentalistas judeus ou muçulmanos. Na essência são apenas a doença da verdade absoluta, variam no modus operandi.

Nas eleições presidenciais de 2006 a OPUS DEI tentou alcançar o governo da República através de Geraldo Alckimin, um dos seus mais proeminentes líderes no Brasil.

A disputa entre neopentecostais e fundamentalistas católicos é apenas pelo controle da “verdade”. Essa “verdade” enche cofres.

Quando os cristãos deixaram Jerusalém nas cruzadas todos os monumentos e prédios religiosos muçulmanos haviam sido destruídos. Quando os mouros – muçulmanos – deixaram a Espanha todos os monumentos católicos estavam preservados.

A nota de bispos paulistas, apoiada pela maioria da CNBB, sobre a candidata Dilma Roussef é inaceitável. Pesquisas anteriores às eleições mostram que a Igreja Católica Romana vive um processo lento e gradativo de extinção. A imensa maioria dos seus fiéis é favorável a pontos que a cúpula fascista de Roma considera inaceitáveis, como divórcio e aborto (sem juízo de mérito aqui).

Bento XVI, como Edir Macedo é um dos braços do capitalismo norte-americano. No fundo não diferem em nada.

Fiéis são instrumentos usados e manobrados em sua boa fé para sustentar todo esse aparato de “verdade absoluta”, de “mandato divino”.

Os generais/gorilas que deram o golpe em Honduras, em 2009, entraram no Palácio do Governo com a imagem de Cristo e assistiram a um ato religioso celebrado pelo cardeal daquele país. Ontem, quarta-feira, dia 8 de setembro de 2010, a repressão hondurenha, naturalmente em nome de Deus e dessa “verdade” absoluta matou dezoito oposicionistas. Esses assassinatos são diários, sistemáticos, fazem parte da política de “limpeza” ou eliminação dos “impuros”, aqueles que não se ajoelham diante das lojas da rede McDonald’s.

O Estado, como instituição, surgiu quando numa determinada comunidade, há milênios, o mais inteligente percebeu que se chamasse o mais esperto conseguiriam um transformar-se em monarca, rei, imperador, dono, outro, em sacerdote, intérprete da “vontade divina”, para legitimar a autoridade do rei e, por via das dúvidas, chamaram o mais boçal, o mais forte, deram-lhe uma borduna para garantir a ordem e as “liberdades”.

Tem sido assim historicamente. A luta de classes nasce ali, pois nasceu ali a exploração do homem pelo homem.

Quando Karl Marx disse que a “religião é o ópio do povo”, o fez fora do contexto de sua obra maior, o capital. O fez num poema, ao constatar que os líderes religiosos de sua época apoiavam com todo ardor o sistema escravagista que negava direitos mínimos e elementares a trabalhadores (salário digno, folga aos domingos, limite de horas de trabalho, licença por doença, etc). Aqueles líderes eram sustentados pelo poder.

Como o são hoje as cúpulas católicas e de seitas neopentecostais. A disputa entre eles é de eficiência na capacidade de seduzir e iludir seres humanos para garantir a “verdade absoluta”, ora com sede em Washington e filial em Wall Street. No resto do mundo os donos espalham bases repletas de armas nucleares, só um tipo diferente de borduna. Coisa de avanços tecnológicos.

Condenar a uma mulher a morrer por apedrejamento é um resquício de estupidez e boçalidade. Maria Madalena, companheira de Cristo, foi salva pelo próprio. A decisão de matá-la dessa forma bárbara fora dos chefes judeus à época.

Em qualquer circunstância a pena de morte é um ato de barbárie. De negação dos princípios mínimos e elementares da essência e do sentido da vida.

Nas prisões do Iraque mais de 1 500 cidadãos iraquianos aguardam execução, muitos deles por resistirem à invasão, ocupação e saque promovido pelos EUA. Em várias prisões de estados norte-americanos que adotam a pena de morte centenas de pessoas aguardam o chamado para serem mortos por uma injeção letal.

O mundo, não teve como esconder, viu os requintes de perversidade dos norte-americanos nas prisões do Iraque. E, recentemente, através de documentos secretos da guerra do Afeganistão, liberados por um site na internet, a prática de tortura, assassinatos seletivos, a forma arrogante como soldados (empregados de empresas privadas que controlam as forças armadas dos EUA e nos “negócios” da guerra) festejavam e festejam a morte de civis.

Ou, também não tem como esconder, o terrorismo de Estado que tomou conta do Israel e como havia previsto Einstein (em carta publicada pelo NEW YORK TIMES), o “fim do sonho”.

A decisão da CNBB é um acinte aos brasileiros. Um desrespeito às liberdades fundamentais do homem.

É bem mais que isso, é a cretinice de bispos católicos transformando a Igreja em partido –o que nunca deixou de ser – dos setores mais atrasados da sociedade brasileira. Não foi por outra razão que surgiu em São Paulo, berço do esquema FIESP/DASLU, um dos últimos bastiões de escravagistas, a serviço de potência estrangeira.

Deus nos livre dessa gente.

É o mundo das PANCHULAS, do culto a PLAYBOY, dos assassinatos de camponeses que lutam contra o latifúndio, da mídia transformada em catedral da “verdade absoluta”, a que aliena, mente, distorce.

Não é por outro motivo que um dos cardeais desse “evangelho” é Arnaldo Jabor.

Já não se fazem cardeais como Richilieu. Banalizaram o “negócio”, qualquer um compra uma indulgência, ou diploma. Vira comendador. Existem aos montes, comendadores, na FIESP/DASLU. Deitam vômito diariamente pela GLOBO.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Conflitos pela água crescem 32%

A CPT lança hoje os dados parciais dos Conflitos no Campo Brasil relativos ao período de 1º de janeiro a 31 de julho de 2010.
Três elementos chamam a atenção nestes dados:  O primeiro é o aumento de Conflitos pela Água em 2010; O segundo é que mais da metade dos conflitos por terra, 54%, ocorreram no Nordeste, onde cresceu o número de conflitos; E o terceiro, muito preocupante, é que contrariamente ao restante do Brasil, no Sudeste e no Sul do país cresceram e de forma expressiva, alguns índices de conflitos e violência.

Nestas duas regiões, “mais ricas e desenvolvidas do país”, cresceu o número de trabalhadores presos e o de agredidos. Além disso, cresceu o número de ações de despejo. Outro dado provoca estranheza. No Sudeste e no Sul, tanto em 2009, quanto em 2010, todos os estados destas regiões, registraram ocorrências de trabalho escravo. O Sudeste com o aumento de ocorrências, porém com diminuição de trabalhadores envolvidos e libertados, e o Sul com a diminuição das ocorrências, mas com aumento significativo no número de trabalhadores envolvidos e libertados. O que anos atrás era atribuído ao atraso das regiões Norte e Nordeste, agora se constata com persistência e crescimento nas regiões onde o “progresso” já se instalou definitivamente.

Conflitos pela água

De janeiro a julho de 2010 foram registrados pela CPT, 29 conflitos pela água envolvendo 25.255 famílias. Número 32% maior do que igual período de 2009, quando se registraram 22 conflitos envolvendo 20.458 famílias.

Em todas as regiões, menos no Norte, os conflitos pela água cresceram: 50%, passando de 2 para 3 no Centro-Oeste; 18,5%, indo de 7 para 9, no Nordeste; 175%, crescendo de 4 para 11 no Sudeste; e 50% de 2 para 3 no Sul. No Norte foram registrados 7 conflitos em 2009, e 3 em 2010, mas cresceu em 395% o número de famílias envolvidas nestes conflitos. Passaram de 2.250 famílias em 2009, para 11.150, em 2010.

Dos 29 conflitos pela água, 11, ou 38%, estão relacionados com a construção de barragens e ocorreram em 14 estados da Federação, em 2010, quando em 2009, atingiram 13 estados.

Sudeste e Sul destacam-se pelos números de violência

Os dados da CPT apresentam declínio nos números absolutos da violência contra a pessoa, no período de janeiro a julho, de 2009 para 2010.

Mesmo com essa queda, na região Nordeste houve aumento no número de assassinatos, passando de 3, em 2009, para 4 em 2010. E nas regiões Sudeste e Sul houve um aumento significativo no número de trabalhadores presos e agredidos.

No Sudeste o número de trabalhadores presos passou de 3, em 2009, para 11 em 2010, aumento de 276% e o número de agredidos passou de 4 para 15, mais 275%. Na região Sul, o número de presos passou de 12 em 2009, para 18, em 2010 (mais 50%) e o número de agredidos de 2, em 2009, para 20, em 2010, (mais 900%).

O Nordeste concentra 54% dos conflitos por terra

O Nordeste registra 54% dos conflitos por terra de todo o Brasil. Diferentemente do restante do país, o número de conflitos por terra no Nordeste passou de 158, em 2009, para 194, em 2010. As ocorrências de conflitos por terra passaram de 95 para 126 e o de ocupações de 57, para 65. Já o número de acampamentos reduziu de 6, para 3.

Nas demais regiões do Brasil, os conflitos por terra, ocupações e acampamentos sofreram redução, em 2010, em relação ao mesmo período de 2009. São 365 ocorrências de conflitos em 2010, envolvendo 33.413 famílias, contra 547 ocorrências em 2009, envolvendo 47.739 famílias. Mas, em contrapartida, os dados mostram que o número médio de famílias envolvidas em conflitos por terra, em 2010, aumentou, chegando a 94, enquanto que em 2009 a média era de 87 famílias envolvidas.

Famílias expulsas e despejadas

Diminuiu também o número de famílias expulsas e despejadas. Em 2009, registraram-se no período, 16 ocorrências de expulsão atingindo 800 famílias. Em 2010, são 10 ocorrências, envolvendo 653 famílias.

Em relação ao número de famílias despejadas pelo poder judiciário, foram 52 ocorrências, com despejo de 6.844 famílias, em 2009, e 44 ocorrências envolvendo 3.792 famílias, em 2010.

Apesar do decréscimo no número total de ações de despejo, houve crescimento destes números na região Centro-Oeste, mais 25%, passando de 4 ocorrências, em 2009, para 5 em 2010; mais 33% no Sudeste, passando de 9 para 12 e mais 120% no Sul, cujos números passaram de 5, em 2009, para 11, em 2010.

Manifestações

No período cresceu o número de manifestações, mais 18%. Passaram de 323 envolvendo 104.262 pessoas, em 2009, para 385, em 2010, com a participação de 165.530 pessoas.

Este número cresceu no Nordeste, passou de 95 para 130; no Norte; de 53 para 55, e no Sudeste, de 45 para 79. Na região Sul o número manteve-se igual, 78, porém com um número muito maior de participantes, 28.260 pessoas em 2010, 13.178, em 2009. Só na região Centro-Oeste é que o número das manifestações decresceu de 52 para 43.

Destas 385 manifestações, 62 foram relacionadas aos conflitos pela água, 39 das quais relativas à construção de barragens.

Trabalho Escravo

Os números relativos ao trabalho escravo são menores no período de janeiro a julho de 2010. Em 2009, foram registradas 134 ocorrências de trabalho escravo, envolvendo 4.241 trabalhadores, com a libertação de 2.819.

Em 2010, foram registradas 107 ocorrências envolvendo 1.963 trabalhadores, dos quais 1.668 foram libertados.

O que mais chama a atenção é o aumento de ocorrências no Centro-Oeste. Passaram de 16 ocorrências, em 2009, com 259 trabalhadores envolvidos e libertados, para 21 ocorrências em 2010, com a libertação de 526 trabalhadores. Sobressai neste quadro o estado de Goiás, que passou de 6 para 13 ocorrências, passando de 259 para 490 o número de trabalhadores libertados.

Na região Sudeste, todos os estados apresentaram ocorrências de trabalho escravo e o número de ocorrências subiu de 13 para 16, porém com um número significativamente menor de trabalhadores libertados (1266, em 2009 – 268, em 2010).

Na região Sul, também todos os estados apresentaram ocorrências de trabalho escravo, mas com decréscimo no número de ocorrências: 12 em 2009, 8, em 2010, ou seja, - 33%. Mas o número de trabalhadores libertados quase triplicou: passou de 112 para 319, 184% a mais. Destaque para o Rio Grande do Sul e Santa Catarina. O Rio Grande do Sul passou de 1 ocorrência, em 2009, com quatro trabalhadores envolvidos e libertados para 2 ocorrências, em 2010, com 29 trabalhadores envolvidos e libertados. Santa Catarina passou de 3 ocorrências em 2009, para 5 em 2010, com um crescimento expressivo no número de trabalhadores envolvidos e libertados. Passou de 38, para 223. Mais 486%

Alagoas e Amazonas, que não figuravam entre os estados com trabalho escravo em 2009, aparecem em 2010. Alagoas registrou uma ocorrência, com 20 trabalhadores envolvidos e libertados. Amazonas registrou duas ocorrências com 13 trabalhadores envolvidos e libertados.

Uma observação importante. Estes são dados parciais. De diversas regiões do país, sobretudo do Norte, não nos chegaram as informações completas, podendo, assim, os números sofrerem alterações expressivas ao serem incorporados novos dados.

Mais informações: http://www.cptnacional.org.br/

Fonte: Assessoria de Comunicação
Comissão Pastoral da Terra
Secretaria Nacional - Goiânia, Goiás.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

A mídia é o grande prato do restaurante canibal

Por Breno Altman

Não é a primeira vez que importantes meios de comunicação metem o pé na jaca. A revista Veja, em abril de 1983, publicou matéria anunciando a fusão da carne de boi com o tomate, depois de cair em uma brincadeira da revista inglesa New Science, preparada para celebrar o dia da mentira. O caso Boimate, como é conhecido, entrou para a mitologia jornalística como a maior “barriga” (notícia inverídica) de todos os tempos. O caso do "restaurante canibal" em Rondônia tem grandes chances de roubar-lhe o lugar no pódio.

O trabalho eficaz de dois jornalistas, Pedro Aguiar e Laisa Beatris, profissionais da redação de Opera Mundi, trouxe ontem (26/08) a público caso vergonhoso de colonialismo cultural e abuso da boa-fé dos leitores. A história, que pode ser lida no artigo Mídia internacional ignora indícios de fraude e publica notícia sobre restaurante canibal, revela o estado de indigência que afeta parte da imprensa mundial.

Tudo começou quando um político alemão denunciou, ao diário sensacionalista Bild, a existência de restaurante brasileiro, chamado Flimé, no estado de Rondônia, que oferecia carne humana e estaria planejando abrir filial em Berlim. O vereador Michael Braun, dirigente local da União Cristão-Democrática, alegando ter recebido informação de eleitores, protestou contra as intenções do famigerado estabelecimento.

A origem primária das denúncias, logo se soube, estaria em vídeo e página divulgados pela internet. Os autores, provavelmente de nacionalidade portuguesa, talvez na intenção de se vingar das piadas contra seus patrícios, resolveram armar pegadinha contra os brasileiros. No jargão da rede, chama-se essa informação forjada de hoax.

O mais incrível é que a existência do restaurante canibal imediatamente se espalhou entre diversas agências e veículos do planeta. O inglês The Guardian, a espanhola Efe, a italiana Ansa, a alemã Der Spiegel e o português Expresso estão entre as publicações que caíram no engodo. Também comprou gato por lebre a brasileira Folha.com. A reportagem de Opera Mundi provou que não há canibalismo nem restaurante algum.

Aparentemente nenhuma das redações enroladas pelo conto dos portugueses se deu ao trabalho de apurar história tão escabrosa. O restaurante não foi checado. Não se analisou com rigor a gravação que circulou no You Tube. A página web que anunciava as estranhas iguarias tampouco recebeu o devido escrutínio.

Não é a primeira vez que importantes meios de comunicação metem o pé na jaca. A revista Veja, em abril de 1983, publicou matéria anunciando a fusão da carne de boi com o tomate, depois de cair em uma brincadeira da revista inglesa New Science, preparada para celebrar o dia da mentira. O caso Boimate, como é conhecido, entrou para a mitologia jornalística como a maior “barriga” (notícia inverídica) de todos os tempos. O affair Flimé tem grandes chances de roubar-lhe o lugar no pódio.

O problema não é apenas a preguiça dos jornalistas que deram ares de verdade à denúncia fajuta. A substituição da informação pelo espetáculo, de fato, tem poder tóxico sobre a inteligência da imprensa e contamina sua disposição de pegar no batente. Mas, é evidente, nesta situação também jogou peso decisivo a arrogância colonial dos brancos de olhos azuis. Canibalismo no Brasil? Terceiro Mundo? Terra de índios, negros e mulatos? Pau na maquina, que se não for verdadeiro, ao menos está bem contado.

A barrigada, que deveria provocar indignação da mídia brasileira e resposta à altura do governo, porque difama a imagem internacional do país, diz muito a respeito de como funcionam os monopólios mundiais da comunicação. Seus donos e operadores, de tão imbuídos do papel de vanguarda cultural do colonialismo, não perdem sequer uma história da carochinha para demonstrar a suposta primazia civilizatória das nações ricas sobre os povos do sul.

* Breno Altman é jornalista e diretor editorial do site Opera Mundi (www.operamundi.com.br)