quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Dilma pede substituição de armas por alimentos

25/09/2012 - Eleutério Guevane, da Rádio ONU
- extraído do site Mercado Ético


A presidente do Brasil, Dilma Rousseff, pediu à comunidade internacional que as armas de destruição em massa sejam transformadas em recursos para beneficiar as vítimas da fome no mundo.

No discurso da Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova York, a presidente disse que, a nível regional, o Brasil está envolvido em ações para deter os armamentos.


Alimentos
Quero lembrar a existência de imensos arsenais que além de ameaçar toda a humanidade, agravam tensões e prejudicam os esforços de paz."

"O mundo pede, em lugar de armas, alimentos para bilhões de homens que padecem do mais cruel castigo que se abate sobre a humanidade, a fome”.

No seu segundo pronunciamento no plenário, desde que foi eleita, Dilma Rousseff abordou, principalmente a crise econômica e defendeu o posicionamento brasileiro sobre política monetária e protecionismo.


Manifestação
O Oriente Médio também foi tema do discurso, com destaque para a busca de uma solução para a crise síria. Ela condenou a violência gerada por “motivos religiosos.”

Registro neste plenário, nosso mais veemente repúdio à escalada do preconceito islamofóbico nos países ocidentais."

"O Brasil é um dos protagonistas da iniciativa generosa da Aliança de Civilizações, convocada originalmente pelo Governo Turco."

"Com a mesma veemência, senhor presidente, repudiamos também os atos de terrorismo que vitimaram diplomatas americanos na Líbia”.

Ainda nesta terça-feira, Dilma Rousseff foi recebida pelo Secretário-Geral da ONU. Ban Ki-moon agradeceu pela contribuição brasileira no Haiti.


(Rádio ONU)

Fonte
http://mercadoetico.terra.com.br/arquivo/dilma-pede-substituicao-de-armas-por-alimentos/

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

O Congresso Nacional e a Desnacionalização Fundiária


24/09/2012 - Mauro Santayana em seu blog

Há cem anos, sobre um vasto território entre o Paraná e Santa Catarina, uma empresa norte-americana, a Southern Brazil Lumber & Colonization, reinava absoluta.

Com a maioria de empregados norte-americanos, contratados por Percival Farquhar, que pretendia transformar o Brasil em vasta empresa de sua propriedade, a Lumber abatia todas as árvores de valor comercial, da imbuia à araucária.

Todas as manhãs, ao som de um gramofone, os empregados – incluídos os brasileiros – reunidos na sede da empresa, em Três Barras, entoavam o hino norte-americano, The Star-Spangled Banner, enquanto a bandeira de listras e estrelas era hasteada. Ao anoitecer, repetia-se a cerimônia, ao recolher-se o pavilhão.

Ali mandavam e desmandavam os ianques. O imenso espaço em que se moviam os homens de Farquhar estava fora da jurisdição brasileira.

Embora não houvesse sido a única razão do conflito, a Lumber esteve no centro da Guerra do Contestado, um dos mais épicos movimentos de afirmação nacionalista do povo brasileiro. Nele, houve de tudo, dos interesses econômicos de Farquhar e seus assalariados pertencentes às oligarquias políticas, ao fanatismo religioso, em que não faltou uma Joana d’Arc – a menina Maria Rosa morta aos 15 anos na beira do Rio Caçador, lutando como homem.

Enquanto houver nações, a terra, o sangue e a honra continuarão unidos para dar corpo ao que chamávamos pátria, e de que nos esquecemos hoje. 

Quem conhece história sabe que os movimentos internacionalistas, quase sempre a serviço dos impérios, acabam sendo vencidos pelos sentimentos mais poderosos dos povos identificados pela cultura, pelas crenças – e pela língua.

Nós podemos conhecer muitas línguas, mas só saberemos expressar os sentimentos mais fortes naquela que aprendemos dos lábios maternos.

Podemos conhecer todas as paisagens do mundo, mas só nos identificamos com aquelas que os nossos olhos descobriram sob o sol da infância.


Mas há duas formas de pisar o chão pátrio: a dos ricos e a dos pobres.

Isso explica por que os grandes agronegocistas brasileiros estão pressionando o governo e o Congresso, a fim de que sejam abolidas as restrições (já de si débeis) à aquisição de terras nacionais pelos estrangeiros. Eles querem ganhar, ao se associarem aos capitais de fora ou participando da especulação de terras. Calcula-se que mais de um por cento das terras brasileiras já pertençam, e de forma legalizada, aos alienígenas.

A essa enorme área há que se acrescentar glebas imensas, adquiridas de forma subreptícia, e sem conhecimento público, porque os cartórios de imóveis estão dispensados de registrar a nacionalidade dos compradores.


O Congresso está para aprovar a flexibilização das leis que regulam o assunto, ao estender à agropecuária a Doutrina Fernando Henrique Cardoso, que considera empresa nacional qualquer uma que se estabelecer no Brasil, com o dinheiro vindo de onde vier e controlada por quem for, e que tenha sua sede em Nova Iorque ou nas Ilhas Virgens.



Nós tivemos, no século 19, uma equivocada política colonizadora, que concentrou, nos estados meridionais, a presença de imigrantes europeus.


Isso implicou a criação de enclaves culturais que se revelariam antinacionais, durante os anos 30 e 40 do século passado.


Foi difícil ao Brasil conter a quinta-coluna nazista e fascista que se aliava ao projeto de Hitler de estabelecer, no Cone Sul, a sua Germânia Austral. O governo de Vargas foi compelido a atos de firmeza – alguns com violência – a fim de manter a nossa soberania na região.



Só no Piauí, a venda de glebas aos estrangeiros aumentou em 138% entre 2007 e 2010.



São terras especiais, como as do sudoeste da Bahia, que estão sendo ocupadas até mesmo por neozelandeses.



Estamos em momento histórico delicado, em que os recursos naturais passam a ser disputados com desespero por todos.

As terras férteis e molhadas, de que somos os maiores senhores do mundo, são a garantia da sobrevivência no futuro que está chegando, célere.

Nosso território não nos foi doado. Nós o conquistamos, e sobre ele mantivemos a soberania, com muito sangue e sacrifícios imensos.

Não podemos cedê-los aos estrangeiros, a menos que estejamos dispostos a viver contidos em nossa própria pátria, desviando-nos das colônias estrangeiras, cada uma delas marcada por bandeira diferente.

Ao contrário da liberalização que pretendem alguns parlamentares do agronegócio, que esperam um investimento de 60 bilhões na produção de soja e milho transgênicos no país – o que devemos fazer, e com urgência, é restringir, mais ainda, a venda de terras aos estrangeiros, sejam pessoas físicas ou jurídicas.

Do contrário, e em tempo relativamente curto, teremos que expulsá-los, seja de que forma for, e enfrentar, provavelmente, a retaliação bélica de seus países de origem.

É melhor evitar tudo isso, antes que seja tarde.


Fonte:
http://www.maurosantayana.com/2012/09/a-posse-da-terra-e-desnacionalizacao.html

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Direita “pit-bull” as raízes de “Occupy Wall Street”


23/09/2012-original em OpEdNews-“…The radical right-wing roots of Occupy Wall St.
por Maureen Tkacik
- Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu para a redecastorphoto


[“La extensión universal del scenario em que habrá de desarrollarse la revolución y la intensidad de sus efectos, harán que les entre por la cabeza la dialéctica hasta a essos mimados advenedizos del Sacro Imperio prusiano-alemán”. MARX, K. El Capital, Crítica de la Economía Política, México, Ed. Fondo de Cultura Económica, 1978, 2ª edição, 13ª reimpressão (trad. de Wenceslao Roces), vol.1, Posfácio. [1] ]

Se há um traço que une os movimentos Occupy Wall Street e Tea Party, desde o primeiro instante, é a furiosa aversão a qualquer identificação entre eles.


Os partidários do Tea Party começaram a afiar as facas antes até de a Ocupação começar. 

Duas semanas antes do lançamento de Occupy, ano passado, o blogueiro Bob Ellis, do Tea Party, publicou um post intitulado “Socialistas planejam ataque raivoso à Liberdade, no Dia da Constituição” – em que denuncia preventivamente planos “infantilóides” de “crianças mimadas”, para “fazer barulho” e “zombar do American way of life” e do bem-amado movimento que “brotou há apenas pouco mais de dois anos, bem debaixo do nariz de um presidente marxista e de um Congresso marxista”.

Na realidade, é claro, movimento algum brota “do nada”. E é interessante constatar que, nesse caso, os dois movimentos podem ter brotado, isso sim, de um mesmo homem.

55 anos daquele outono, ancestrais diretos do movimento Tea Party reuniram-se em Indianapolis, para lançar as primeiras ideias sobre reunir cidadãos contra o “dedicado, consciente agente da conspiração comunista” que, então, ocupava a Casa Branca, Dwight Eisenhower. Mas quando seu bem amado líder anticomunista Barry Goldwater foi enterrado nas eleições presidenciais de 1964, o Partido Republicano, discretamente, renunciou às “organizações extremistas” que tanto haviam desgastado sua imagem pública.

Na mesma época, o até então mais extremista dos extremistas de direita e muito prestigiado autor dos discursos de Goldwater, Karl Hess, passou a viver num barco, abandonou completamente a política e passou a dedicar a própria vida a protestar pacificamente contra a concentração de poder econômico e político nas mãos de uma nova aristocracia – que chamou de “os 1%”.

Isso mesmo. O primeiro sujeito que convocou às armas o exército dos 99% é o mesmo homem que pouco antes escrevera discurso em que se ouviu que “não há crime em extremismo que defenda a liberdade”. Goldwater referiu-se então a Hess, carinhosamente, como “meu Shakespeare”.

Hess também trabalhara como agitador anti-sindical profissional e foi informante de Joe McCarthy e J. Edgar Hoover; escrevia regularmente para Counterattack jornal de direita extremista com sede em Wall Street; e foi o contrabandista de armas amador que contrabandeou napalm para uns golpistas, patrocinados pela empresa Bacardi, que tentaram depor Fulgêncio Batista e assumir o governo em Cuba. Hess também foi editor-fundador da National Review e redator-fantasma em tempo integral a serviço de H.L. Hunt, conhecido oligarca texano do petróleo e financiador da John Birch Society [2].

Mas, de repente, alguma coisa mudou. Hess já não conseguia conciliar a retórica individualista dura da extrema direita norte-americana e o que ele via, cada vez mais claramente, como a realidade subalterna da mesma extrema direita. Então, desistiu da retórica. Comprou, primeiro, uma motocicleta. Depois, uma casa-barco. Parou de pagar impostos; matriculou-se numa escola de comércio, para aprender a barganhar na negociação de compra de comida, roupas e maconha; escreveu para jornais alternativos e para as revistas Playboy [3] e Ramparts, essa, conhecida campeã das lutas anticorrupção e pró-ética da New Left; fundou uma comunidade agrícola naturista de semiautossuficiência em Washington, D.C., e, finalmente, refinou e sofisticou a desconfiança que sempre houvera nele contra estados-grandes e governos-grandes, convertendo-a em oposição mais teórico-argumentada contra qualquer tipo de granditude, em geral.

Instituições-grandes são inerentemente inimigas da democracia, Hess explicou em seu manifesto-agenda de 1975, Dear America, porque foram criadas por e para as pequenas elites minoritárias, as quais já são acionistas majoritárias do poder e já detêm o controle de facto sobre o chamado “poder econômico e político da nação”:


"1,6% da população adulta é dona de 82% das ações com direito a voto; portanto, aqueles poucos são donos, de fato, de todo o comércio e indústria nos EUA.

Em sentido muito real, aquele 1% da população dispõe os restantes 99% do outro lado de um muro de interesses só seus e muito reais. Esse minúsculo 1% acumula riqueza sempre, cada vez mais, nunca menos, com o passar do tempo.

A chave para essa acumulação é assegurar que sempre haja restrições à capacidade dos restantes 99% para acumularem poder e privilégios."

Não há como saber se Dear America converteu alguém dos 99%, por mais que essa fosse sua intenção não declarada. Mais que qualquer outra peça que Hess tenha produzido depois de sua conversão ideológica, Dear America, que é dedicado “aos americanos de bom-senso normal”, falava diretamente ao seu antigo público das reuniões da John Birch Society e outros furiosos anticomunistas linha-dura, mas sempre mais furiosos, sobretudo, isso sim, contra o invencível poder dos Rockefellers e do Grupo Bilderberg e dos sionistas e do Federal Reserve.

Ao redefinir os neossubversivos e neoinimigos, concentrando-os naquele “minúsculo 1% que, com o passar do tempo acumula sempre mais riqueza, nunca menos”, Hess converteu as teorias de conspiração em fenômeno matemático.

Verdade é que o prognóstico que se lê em Dear America acertou em cheio. Em 1975, quando o livro foi escrito, o 1% mais rico da população abocanhava meros 8,5% de toda a riqueza anual dos EUA; de lá até hoje, já abocanha três vezes isso. E o 1% estava, então, há três décadas de distância do ponto a que chegou hoje, em termos de manipulação retórica. Aí está, sem dúvida, parte do motivo pelo qual centenas de revistas e jornais dedicaram muitas páginas, páginas e páginas, de atenção a Hess e seu emergente ramo de anarquismo – veículos que vão do New York Times Magazine a Mother Earth News – durante todos esses anos, virtualmente sem uma única referência à crítica à crescente concentração de riqueza, que fizera de Hess o mais perfeito proscrito, marginal irrecuperável perfeito, da política eleitoral dita “grande”, nos EUA.

Mas Hess, mais que “homem à frente do seu tempo”, era também, claramente, “homem do seu tempo”. Talvez Hess tenha encarnado, mais que qualquer outro norte-americano, o espírito dos “99%”. Não há notícia de outro que, tendo sido quem Hess foi, passasse, depois de deixar de ser quem fora, e para pagar as contas, a aceitar qualquer trabalho – assistente de xerife de cidade do interior, editor de revista de pesca, correspondente da [revista] Newsweek.

Foi homem indiscutivelmente indiferente à riqueza pessoal. De fato, apesar de ter parado de pagar impostos e de o Fisco norte-americano ter passado a confiscar 100% do que ele recebia pela venda de seu “trabalho-conhecimento” no final dos anos 60s, Hess escreveu Dear America exclusivamente – como disse ao Washington Post em entrevista, naquela época, “porque sou respondão”.

Fez tal quantidade de serviços sujos, enquanto viveu “a serviço dos super-ricos”, que a denúncia que faz contra o (mesmo) sistema provoca abalos excepcionais, apesar de Hess jamais ter revelado os detalhes mais terrivelmente escabrosos nem os nomes dos envolvidos. (Com raras exceções. Uma dessas exceções é um parágrafo em que descreveu a vida da direita norte-americana como “infindável repetição” de festa da redação de National Review, na qual uma das “recém-contratadas secretárias cara-nova, apanhada de olhos postos em Bill Buckley por mais tempo do que se recomenda, diz afinal, em voz inebriada “Bill, você tem o perfil de um jovem Cesar”.”)

Inicia um capítulo sobre Marx, com desculpas por ter, antes, escrito um livro em que condenava Marx “baseado em releases que o FBI me passava, com frases que eles me diziam que Marx dissera, não por conhecimento ou leitura diretos”.

O que Hess escreve perturba também quando defende sindicatos organizados, causa contra a qual ele muito aplicou suas muitas e variadas competências – como agitador pago para infiltrar-se em sindicatos, provocador profissional, propagandista, boicotador, etc. – e passa a extrair inspiração da simples evidência de que os sindicatos sobrevivem:


"Trabalho e criatividade, portanto, parecem ser as coisas que realmente constroem e são atributos, não dos ricos reinantes, mas de toda a população em geral, dos trabalhadores, muito mais que dos proprietários.

Você sabe que é verdade. Os sentidos lhe dizem que é assim. Mesmo assim, propagandistas pagos pelos ricos aparecem, como eu fiz e outros ainda fazem, e dizem e repetem e repetem que sem os ricos você morre de fome; que sem os ricos as fábricas fecham; que sem os ricos as fazendas não produzem; que sem os ricos seríamos forçados a voltar a uma existência animal e primitiva.

É possível imaginar os EUA sem seus trabalhadores inacreditavelmente criativos e habilidosos, sem as máquinas que eles desenham, constroem e operam, sem a rica história que os operários têm de independência defendida; é possível supor que essa terra retrocederia, só porque os Rockfellers, os DuPonts, os Morgans e os Mellons fossem expropriados de sua imensa riqueza?"

Na minha experiência, é muito raro encontrar homens na posição de Hess que admitam ter sido “propagandistas mentirosos a favor dos ricos” ainda que só para si mesmos; que o admitam para o grande público, é muito mais raro. Mas, talvez porque jamais tenha delatado nomes de seus companheiros propagandistas mentirosos pagos e nunca tenha lavado roupa suja em público, Hess jamais enfrentou a violência do revide que cabe esperar, no caso de apostasia equivalente, hoje.

De todas suas incursões para fora da reserva de praxe, foi entre os experts no bem trajar que Hess gerou os maiores incômodos, segundo Jerome Tuccille, seu velho amigo, cujas divertidas memórias das aventuras de guerra, de quando Hess estava construindo sua grande frente de coalizão entre anarquistas e capitalistas, It Usually Begins With Ayn Rand [Em geral, a coisa começa com Ayn Rand], estão recheadas com vívidas descrições de Hess em trajes de “Marechal de Campo da Revolução”:


"Lá estava ele, o revolucionário de ar mais “operário-pobre” dos 50 estados: guarda-roupa recém saído das araras de Abercrombie & Fitch [a Autêntica Roupa dos Americanos desde 1892”, como diz a publicidade].

Botas de combate atadas até a canela com cadarços grossos; calças jeans presas à cintura com a maior, mais monumental, mais reluzente fivela de cinto que o mundo jamais vira; camisa jeans com três botões abertos, para deixar ver os pelos do peito; jaqueta forrada com pele de ovelha, para resguardar-se do gélido inverno de outubro; e, la piece de resistence, um surrado boné de campanha à moda Fidel Castro, com um botton anarquista, vermelho e preto, espetado na aba.

Roupa proletária equivalente a uma semana de salário proletário."


Era difícil não gostar dele” – relembra Tuccille. – “Havia nele uma sinceridade, uma doçura; e jamais foi nem amargo nem ressentido contra a direita. A direita só lhe inspirava pena.” Permaneceu sempre amigo próximo de Barry Goldwater e de grandes nomes da direita extremista, como James Kilpatrick; e, num dos períodos mais feios da história política dos EUA, parece ter conseguido não fazer inimigos poderosos (além do Fisco dos EUA).


Direitistas em geral, quando são muito fortemente ideológicos, e os liberais [à moda dos liberais brasileiros do Instituto Milênio (NTs)] quase sempre reprimem alguma parte fundamental da própria humanidade. Hess apenas deixou de reprimi-la. Imediatamente se sentiu muito mais feliz.

Posso garantir que nosso relacionamento melhorou muito depois da conversão” – relembra o filho, Karl Hess Jr. – “Não há dúvida alguma de que a capacidade para ser humano, do meu pai, aumentou consideravelmente depois que se mudou para a esquerda”.

Mas quanto mais redescobria a própria humanidade, mais Hess desconfiava de governos e da política corrupcionista que detém o controle dos governos. “Ouvi praticamente todos os políticos do planeta admitirem que, no final das contas, a única função de um partido político nos EUA é ganhar o poder” – Hess escreveu em Dear America.


O nome do jogo, dizem eles, é vencer eleições. Só vencer. Vencer ou vencer”.

Hess com certeza não se supreenderia ao ouvir o filho da velha bête noir de seus tempos de pré-conversão, George Romney, contra cuja facção os Goldwateristas “progressivistas” combateram justas amargas ao longo dos anos 50s e 60s, apresentar-se, hoje, estupidamente, como impiedoso super-homem Randiano [4], no esforço para ordenhar mais milhões, dos doadores ricos.

Hess perdeu qualquer desejo por essas coisas. Convertido ao institucional estritamente local, passou o resto da vida dedicado a experimentos de modalidades de sobrevivencialismo sustentável. Construiu uma casa totalmente alimentada com energia solar em West Virginia com a segunda esposa, Therese; escreveu um livro para crianças e falou em convenções do Partido Libertarista [orig. Libertarian Party [5]] e em colégios secundários locais. Até pouco antes de problemas cardíacos lhe imporem limitações graves, trabalhou na campanha eleitoral de Ron Paul, em 1988, com a plataforma dos Libertaristas.

Creio que se Karl estivesse vivo, teria grande respeito pelo movimento Occupy” – disse Tuccille, que trabalha com finanças e não tem dúvidas de que seu velho amigo também teria grande respeito pelo movimento Tea Party. Tucille lembrou que Ron Paul – diferente nisso da maioria dos Republicanos – andou fazendo comentários simpáticos aos Occupy, em entrevista recente a Brian Williams:


"Defendo o mercado. Mas concordo que o 1% é rico porque recebem os lucros do sistema inflacional, do sistema dos contratos do Estado, do sistema de gastos militares, do sistema do resgate a bancos quebrados.

Identifico-me com eles [do movimento Occupy]... Por isso não gosto de lembrar que Cain [sócio de Mitt Romney] disse que aquele pessoal devia sair da praça e procurar emprego. Por que culpar as vítimas?"

Só porque a consciência política de um homem começa em Ayn Rand, em outras palavras, não significa que tenha de ficar nisso.


Karl Hess morreu em 1994, antes de que a primeira Revolução Republicana catapultasse os think tanks libertaristas para a “liga principal” da elite de Washington. Seu filho, Karl Jr., então bolsista do Cato Institute, acabou por organizar uma biografia do pai – Mostly on the Edge [Quase sempre no fio da navalha], reunindo anotações, rascunhos, esboços que encontrou nos arquivos do pai, acrescentando entrevistas que o filho fez e lembranças pessoais. Os dois prefácios foram escritos pelo fundador do Institute for Policy Studies (IPS), Marcus Raskin, e Charles Murray, autor de The Bell Curve, e os dois prefaciadores tratam da fé absoluta que havia em Hess quanto à própria irrelevância histórica. Relembrando um conferencista do IPS que, dizendo falar pelas “forças da história”, ofendera Hess, Raskin elogia seu velho amigo por sempre lembrar que “os que tentaram fazer história com esquemas grandiosos sempre o fizeram montados às costas de outros.” Murray não fez diferente:

"Karl Hess mudou a cabeça de muita gente que faz política nos EUA. Mas Karl, ele mesmo, seria o primeiro a dizer que não faz diferença alguma se influenciou ou não outros pensadores e autores.

A história tomará o rumo que tomar por razões que nada jamais terão a ver com figuras históricas ou grandes filósofos políticos, nem, muito menos, com jornalistas e editorialistas que vivem de inventar editoriais, colunas ou jornais políticos."

O livro Dear America está há muito tempo esgotado. Ainda se consegue uma cópia da brochura, de folhas enroladas, em sebos, por $40 dólares. Mas a lista de agradecimentos (mais de 100), nas páginas iniciais da biografia de Hess escrita por seu filho, em que a família agradece as contribuições para pagar as contas de hospital e médicos de Hess, daria a qualquer leitor bem informado a ideia de que o biografado foi mais um desses bem-relacionados direitistas profissionais e alto conspirador da Guerra Fria. Lá estão Barry Goldwater, Charles Koch, Ed Crane e Tom Palmer do Cato Institute; o ex-diretor da CIA, Bill Casey; a Editora Paladin de The Hit Man [6], e Victor Niederhoffer, gerente de fundo de investimentos e veterano Objetivista tão fanático, que deu à filha o nome “Galt” – homenagem ao personagem John Galt, do livro A Revolta de Atlas, de Ayn Rand [7]. Muitos desses nomes aparecem também na lista de grandes doadores do Tea Party ou de think tanks associados. E, sim, nos anos 90, o filho de Hess foi bolsista-Cato.

O caro leitor não sabe – ou, pelo menos, Hess-pai não esperaria que o caro leitor soubesse – o quanto Hess-pai tentou e tentou, sem jamais conseguir, alertar os EUA contra o perigo de deixar aumentar e aumentar a concentração da riqueza; contra o perigo que são os que trabalham na propaganda a favor do 1% e de seu discurso político; e contra a absoluta insustentabilidade desses excessos, considerada a lógica, a intuição ou a regra histórica. Mas Hess acreditava suficientemente na humanidade para crer que muita gente pode chegar a entender as coisas pela própria cabeça, com independência. Quanto aos demais, como Raskin escreveu:

"Acho que, na maior parte das vezes, Hess cruzava os dedos, com esperança, porque conheceu a perversidade e as distorções, de quando, no século 20, sonhos traídos e ideologias de exploração, andaram por esse mundo."

Cruzemos os dedos, pois, pelos 99%.

Notas dos tradutores
[1] Epígrafe acrescentada pelos tradutores.
[2] Todas as publicações citadas e a John Birch Society são conhecidas organizações da extrema direita norte-americana.
[3] Pode-se ler o que Hess escreveu para a Playboy, em março de 1969 em “The Death of Politics”, em inglês.
[4] Sobre Ayn Rand e seu “super homem”, ver “A Nascente [Romney, Ryan e o Instituto Milênio]”, 2882012, Uri Avnery, em português.
[5] Libertarian Party. Não há tradução possível para o português do Brasil; tentamos esse “libertarista”, à espera de melhor solução. O Partido Libertarian” é o 3º maior partido dos EUA e o que mais tem crescido. Defende mercados minimamente regulados, estado mínimo, fortes liberdades civis (com apoio a casamentos de pessoas de mesmo sexo e outros direitos de LGBT), a legalização da maconha, a separação entre estado e igreja, fim de qualquer limite à imigração, relações diplomáticas sem qualquer tipo de intervencionismo e total neutralidade, liberdade de comércio e viagem para todos os países e democracia direta. O Partido Libertarista prega a saída dos EUA de organizações como OMC, ONU e OTAN. Para muitos, é partido “mais à direita” que o Partido Democrata e “mais à esquerda” que o Partido Republicano. Os Libertarian são furiosamente anticomunistas. Em 2012, o candidato do Partido Libertarista à presidência dos EUA é Gary Johnson.
[6] Hit Man A Technical Manual for Independent Contractors [Disfarce perigoso Manual Técnico para Agentes Mercenários e Assassinos de Aluguel] é livro escrito por Rex Feral [pseudônimo] e publicado pela empresa editora Paladin Press em 1983. O editor, Peder Lund, disse, em entrevista pela televisão, que o livro nasceu como romance policial escrito por uma dona de casa na Flórida, depois editado para adaptar-se ao leitor-padrão dos livros de sua editora. É um manual que ensina os passos iniciais para fazer carreira como assassino de aluguel. Todas as cópias foram confiscadas na editora e destruídas, depois que investigação policial comprovou que o livro fora usado no planejamento de um triplo assassinato, em 1993; mas o livro permanece à venda online e é encontrado em sebos.
[7] Sobre isso ver (também como na nota 4) “A Nascente [Romney, Ryan e o Instituto Milênio]”, 2882012, Uri Avnery, em português. 

Fonte:
http://redecastorphoto.blogspot.com.br/2012/09/direita-pit-bull-as-raizes-de-occupy.html

Leia aqui também:
http://redecastorphoto.blogspot.com.br/2012/08/a-nascente-romney-ryan-e-o-instituto.html 

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

“A Nascente” [Romney, Ryan e o Instituto Milênio]


25/08/2012 - original em Gush Shalom [Bloco da Paz], Israel - “The Fountainhead”
- por Uri Avnery
- traduzido pelo pessoal da Vila Vudu - redecastorphoto

Paul Ryan
O nome do homem que será indicado candidato a vice-presidente dos EUA na chapa do Partido Republicano absolutamente não me interessava, até que surgiu, associado a ele, o nome de Ayn Rand.

Ayn Rand
O que se diz é que Ayn Rand é uma das fontes inspiracionais que anima o específico pensamento filosófico de Paul Ryan, candidato a vice-presidente dos EUA.

Mitt Romney
E, dado que o mesmo Paul Ryan está sendo apresentado não como político mequetrefe padrão, como Mitt Romney, mas como profundo pensador de política e economia, a tal fonte inspiracional merece algum exame.

Como no caso de muita gente em Israel, Ayn Rand entrou na minha vida como autora de The Fountainhead [1] [A Nascente], romance lançado quatro anos antes do nascimento do Estado de Israel e que rapidamente se tornou bestseller [2]. O filme baseado no romance, com Gary Cooper no papel principal (no Brasil e em Portugal, Vontade Indômita, 1949 [3]) tornou-se ainda mais popular.

É a história de um arquiteto de gênio (semelhante, nos traços gerais, a Frank Lloyd Wright) que segue o próprio estilo individual e desdenha as preferências das massas. Quando seu projeto arquitetônico para uma casa é modificado pelos construtores, o arquiteto destrói os prédios e, em seguida, defende os próprios atos nos tribunais, num apaixonado discurso a favor do individualismo.

(Honestamente: Muitas vezes tive ímpetos de fazer o mesmo que ele a alguns prédios em Telavive, sobretudo aos hotéis de luxo erguidos entre minha janela e o mar.)

Comecei a ler o segundo bestseller da mesma autora, Atlas Shrugged [1957 (2008), A revolta de Atlas, SP: ed. Ed. Sextante e Instituto Milênio [4]], no qual expõe detalhadamente a própria filosofia. Nesse caso, tenho de confessar que, para minha eterna vergonha, não consegui avançar e jamais concluí a leitura.

Um dia, em 1974, meu amigo Dan Ben-Amotz telefonou-me para pedir que eu recebesse um jovem que ele acabava de conhecer, Dr. Moshe Kroy. “Um gênio!”, disse ele.

Ben-Amotz já era, só ele, personagem notável. Tinha mais ou menos a minha idade e, em 1974, era conhecido humorista e ícone da geração que fez a guerra de 1948 e criou a nova cultura hebraica. Ben-Amotz, como muitos de nós, era self-made man; mais propriamente dito, era autoinventado e fez-se conhecido como exemplo consumado do sabra [israelense nativo] perfeito. Um dia, muitos anos depois, transpirou que teria nascido na Polônia e chegara menino à Palestina, onde adotara o nome de amplas sonoridades hebraicas pelo qual se tornou conhecido, em substituição ao nome que trazia da Polônia, Moshe Tehilimzeigger (em ídiche, “recitador de salmos”).

Ben-Amotz trouxe Kroy à minha casa. Tinha 24 anos e era impressionantemente erudito, já professor na Universidade de Telavive, com óculos grossos e conversa muito altamente filosófica. Fiquei impressionadíssimo.

Logo ficou bem claro que era Crente Fiel dos ensinamentos de Ayn Rand, apresentados pela autora como “objetivismo”. O objetivismo ensinava (e pelo visto, como fazem o tal candidato Republicano à vice-presidência dos EUA e a rede Fox, ainda ensina) que o principal e básico dever de todos os seres humanos é o egoísmo. Qualquer tipo de envolvimento ou compromisso social é pecado contra a natureza. Só quando luta pelos próprios interesses pessoais, limpando-se de qualquer traço de altruísmo, o ser humano realiza o destino para o qual veio ao mundo. A sociedade só progride quando constituída de e baseada em indivíduos assim furiosamente egoístas, cada um lutando para promover só os próprios interesses pessoais.

É filosofia que pode ser irresistivelmente atraente para certo tipo de gente. Garante a esse tipo de gente a justificativa filosófica de que precisam para ser furiosamente egoístas, vivendo sem dar a mínima a quem que seja, além deles mesmos.

Kroy, e também é claro, Ben-Amotz, eram religiosamente devotados àquele novo credo, militantes do egoísmo. (Há aí evidente oximoro, porque a própria Ayn Rand era absolutamente não crente, condenando todas as religiões, inclusive a religião dos judeus de sua família.) Em certo momento, apanhei Ben-Amotz com a boca na botija, fazendo algo que, sim, bem poderia implicar benefício a outras pessoas. Ele deu-se muito trabalho para explicar que, naquele ato, de fato, no longo prazo, visava exclusivamente a obter vantagens só para ele mesmo.

Kroy, como já então era bem visível, era pessoa bastante perturbada. Matou-se, aos 41 anos. Nunca consegui definir se Ayn Rand perturbou-o além do suportável, ou se foi atraído para ela porque já era suficientemente perturbado antes de conhecer o objetivismo. 

AYN RAND foi pseudônimo de Alisa Zinovyevna Rosenbaum, nascida em São Petersburgo, que depois foi Petrogrado, que depois foi Leningrado. Tinha 12 anos quando eclodiu naquela cidade a Revolução Bolchevique. A farmácia de seus pais foi tomada pelo regime, e a família burguesa fugiu para a Crimeia, então defendida pelas forças dos Russos Brancos. Adiante retornaram à cidade natal, onde Alisa estudou filosofia e até publicou um livro em russo. Em 1926, ela chegou, sozinha, aos EUA.

Adotou o nome “Ayn” (que rima com “swine” [suíno(a)], como ela mesma explicava). Provavelmente recolheu a palavra do hebraico, em que significa “olho”. O sobrenome Rand pode ser contração do sobrenome original judeu-alemão da família.

Sua história inicial, em certa medida, explica o ódio imorredouro que o Comunismo sempre lhe inspirou, como todas as modalidades de coletivismo, inclusive a social-democracia, além do ódio a todas as formas de religião ou estatismo. Para ela, o Estado é o inimigo do indivíduo idealmente totalmente livre. Esse ideário levou-a naturalmente a abraçar um capitalismo de laissez-faire absolutamente desatinado (que Shimon Peres chamou de “capitalismo swinish [lit. “suíno”] e a rejeitar toda e qualquer forma de estado de bem-estar e rede de proteção social.

Tudo isso aparecia bem estruturado na filosofia dela, que foi adotada por crentes adoradores em todo o mundo. Certa vez, ela se autoapresentou como “o(a) mais criativo(a) pensador(a) vivo.” Noutra ocasião, disse que em todos os anais da filosofia há só três grandes pensadores, todos na letra A: Aristóteles, Santo Tomás de Aquino e Ayn Rand.

Com toda a probabilidade, foi também racista do tipo furioso: durante a Guerra do Yom Kippur, em 1973, disse que “homens civilizados enfrentavam selvagens” e comparou os israelenses aos brancos, nos EUA, enfrentando bárbaros peles vermelhas.
Não surpreende que, no post-mortem, Ayn Rand tenha-se tornado leitura preferencial dos fanáticos do Tea Party, que hoje dominam o Partido Republicano. Não surpreende tampouco que o candidato à vice-presidência Paul Ryan refira-se a ela, orgulhosamente, como um de seus mais importantes mentores intelectuais. (Ayn Rand morreu em 1982, com 77 anos. Ao funeral compareceram vários crentes devotos, entre os quais Alan Greenspan, um dos coveiros da economia dos EUA. [E é cultuada até hoje, no Brasil, pelo Instituto Liberal e pelo Instituto Milênio, que co-editam seus livros, os quais podem ser lidos gratuitamente na página Internet do IM (NTs)].

Há algo nos ensinamentos dessa pregadora fundamentalista judeu-russa branca do egoísmo total, que os torna sedutores aos olhos dos que cultivam os mitos norte-americanos primitivos e o individualismo absoluto; dos que cultivam a autoconfiança enlouquecida dos “mocinhos” sempre armados na luta contra o Oeste Selvagem; dos que padecem de desconfiança mórbida contra o Estado arrecadador (mitos que chegam ao Rei Eduardo III). Mas, Santo Deus! O mundo já ultrapassou o século 18!

Nunca estudei filosofia, mas ao longo da vida, aqui e ali, li alguma coisa. E as teorias de Ayn Rand sempre me pareceram, digamos, infanto-juvenis.

Há uma lembrança que sempre me acompanha. O falecido Ministro israelense Pinchas, contando como, ainda adolescente, escalou uma escada do kibbutz, encontrou numa das prateleiras mais altas um livro de Nietzsche e lá ficou, a metros do chão, horas a fio, sem conseguir parar de ler. Se bem me lembro, foi Assim falou Zarathustra, livro perigoso para jovens. Pois esse livro também teve poderoso impacto sobre Ayn Rand na adolescência.

Nietzsche deblatera contra a “moral da piedade judaica”, que infectava as adoráveis “bestas louras”. Compaixão pelos fracos é pecado, porque mina as capacidades dos fortes em vias de tornarem-se super-homens. Ayn Rand, no caso, sentiu rugir dentro dela as potências da super-mulher. (...)

Na minha juventude, também fui capturado por Nietzsche. Mas a “moral da piedade judaica” venceu. Por isso eu, como muitos israelenses, absolutamente não conseguimos entender muitas das atitudes sociais dos norte-americanos, algumas das quais se veem bem ilustradas na atual campanha eleitoral.

Para mim, é autoevidente que o Estado tem o dever de amparar os doentes, os velhos, as crianças, os incapazes e os mais pobres. Um velho dito ensina que “cada judeu é responsável por todos os judeus”. Pouco tempo depois de criado o Estado de Israel, já havia constituído aqui um sólido sistema de assistência pública à saúde e serviços sociais. A necessidade da segurança social, instituída na Alemanha por Otto von Bismarck, político de direita, no tempo de Nietzsche, é autoevidente para os israelenses, ainda hoje.

Benyamin Netanyahu é direitista à moda dos Republicanos dos EUA, empenhado apoiador de Mitt Romney. Provocou dano incalculável à rede de amparo social em Israel, primeiro como Ministro das Finanças, depois como Primeiro-Ministro. Pois nem “Bibi” atreveu-se a apresentar-se como discípulo de Ayn Rand.

Mas “Bibi” partilha pelo menos um traço com Paul Ryan, crente fundamentalista da igreja de Ayn Rand: Netanyahu e Ryan são, ambos, promovidos e financiados por Sheldon Adelson.

Acho que não pode haver personificação mais pura da visão de Ayn Rand, que esse bilionário à moda Casino (o filme). Ayn o teria adorado! Sheldon Adelson é o egoísta perfeito. Super enriqueceu explorando os vícios dos seres humanos mais fracos. Suas práticas negociais são mais que suspeitas. Sim, mas... Mesmo assim, é preciso perguntar se Adelson gastaria centenas de milhões em gente como Romney, Ryan e Netanyahu em nome, exclusivamente, de promover os seus próprios interesses comerciais. Pouco provável. O mais provável é que haja nele um traço de altruísmo, uma crença sincera, um desejo sincero de, através dessa gente, promover alguma ideia social que lhe seja sinceramente cara, por pouco decente que nos pareça ser ou que seja.

Ayn Rand era ateia e odiava tudo que não fosse doentiamente racional. Mas o Tea Party é movimento religioso (não interessa a religião). Ayn Rand era apaixonada defensora do aborto... mas Ryan é antiabortista fundamentalista fanático. Farejo problemas.

De fato, não acredito nem na imagem de intelectual nem na imagem de político “ético” que Ryan anda divulgando. 

Há algo de falso, no homem. Acho que nem Ayn Rand confiaria nele.

Se, pelo menos, aparecesse um Gary Cooper, para a vice-presidência...



Notas dos tradutores
[1] Sobre Ayn Rand, há longo verbete em português, na página (e onde mais seria?!) do Instituto Liberal, primo irmão do facinoroso Instituto Milênio. Ver em: http://www.institutoliberal.org.br/galeria_autor.asp?cdc=921
[2] Não por coincidência, é claro, o livro “A nascente” é acessível, em .pdf, em tradução recente para o português [2008, SP: Ed. Landscape, trad. Andrea Neves Holcberg e David Holcberg], na página do portal O Globo. Ver em: http://g1.globo.com/platb/files/1045/theme/A%20Nascente_AynRand.pdf
[3] Ver sobre o filme “The Fountainhead” (dir. King Vidor, 1949) em: http://pt.wikipedia.org/wiki/The_Fountainhead
[4] A edição em português de “A revolta de Atlas” também foi feita em parceria entre a Ed. Sextante, de SP, e o Instituto Milênio. Pode ser baixado em .pdf do site: http://br.librosintinta.in/a-revolta-de-atlas-

Fonte:
pdf.htmlhttp://redecastorphoto.blogspot.com.br/2012/08/a-nascente-romney-ryan-e-o-instituto.html