sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Quênia descobre um inacessível excesso de água

por Miriam Gathigah, da IPS


kenia Quênia descobre um inacessível excesso de água
O condado de Turkana é a região mais árida do Quênia. Segundo especialistas, a descoberta de 200 mil metros cúbicos de água na região deve beneficiar diretamente a comunidade do lugar, majoritariamente nômade. Foto: GNR8R/CC by 2.0

Nairóbi, Quênia, 19/9/2013 – Zakayo Ekeno passou décadas pastoreando gado nas áridas terras do condado queniano de Turkana, como seu pai fizera antes. Nada nesses solos liquidados pela seca lhes indicava a riqueza que escondiam. “Muitas vezes me perguntei se poderia sair algo bom desta terra de má sorte”, contou Ekeno. Turkana é o mais árido e pobre dos 47 condados do Quênia. Em 2011, quase 9,5 milhões de pessoas dessa comunidade, principalmente nômade, foram afetadas por uma severa falta de chuvas.
Assim, poucos poderiam ter sonhado que debaixo dessa terra rachada e chamuscada pelo Sol havia água suficiente para abastecer durante 70 anos um país de 41,6 milhões de habitantes como este. No dia 11 deste mês, o governo do Quênia e a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) anunciaram a descoberta de reservas de aproximadamente 200 mil metros cúbicos de água doce na bacia do Lotikipi, em Turkana.
“Todos os anos perdemos gado por falta de água e pastagens. Também vivemos com medo de que outros roubem nossos animais para substituir os que perderam. Eu mesmo já fiquei ferido nesses assaltos. A água é a solução para este conflito”, pontuou Ekeno. Até agora a Organização das Nações Unidas (ONU) considera o Quênia como um país com escassez hídrica crônica, e estatísticas da Unesco mostram que 17 milhões de pessoas não têm água potável. O Quênia consome cerca de três bilhões de metros cúbicos por ano.
Embora a descoberta tenha sido recebida com emoção, especialistas em água e meio ambiente, como a cientista Judith Gicharu, alertaram que o governo queniano tem pouca capacidade e marcos legais para manejar esta sustentabilidade hídrica. “Temos a Lei da Água de 2002 e a Lei de Manejo e Coordenação Ambiental de 1999. Entretanto, elas não fornecem um contexto apropriado para a administração da água subterrânea”, indicou à IPS.
Existem disposições em marcos mais amplos, mas não abordam especificamente o uso da terra e a administração das camadas freáticas, explicou Gicharu. As decisões sobre a água subterrânea “não costumam se basear em normas sólidas. E, mesmo havendo regulamentações, raramente são cumpridas. A implantação de qualquer disposição fica comprometida pela superposição de responsabilidades de diferentes órgãos do governo que se ocupam da água e do meio ambiente”, detallhou.
No Quênia, todos os recursos hídricos pertencem ao Estado, e as entidades governamentais devem aprovar e dar permissões para o uso da água. Contudo, segundo o informe intitulado Quênia: Estudo de Caso Sobre a Governança da Água Subterrânea, publicado em 2011 pelo Banco Mundial, “não existe consciência estratégica sobre a necessidade de proteger estes recursos”.
Ikal Angelei, da organização ambientalista comunitária Amigos do Lago Turkana, alertou que, na falta de um forte contexto legislativo que possa estabelecer “a forma de explorar os recursos, quem se beneficia deles e como, é possível que esta riqueza natural não melhore significativamente a sorte do país”. A ativista acrescentou que, “tão logo foi descoberto o aquífero, e a população de Turkana já está ausente do diálogo sobre a água. O governo já fala em abastecer todo o país com a ‘nova’ água, mas, quanto dela será destinado aos habitantes do lugar?”
Esta é a segunda maior descoberta de recursos naturais em Turkana. Em março de 2012 a empresa de exploração petroleira Tullow Oil anunciou a descoberta de milhões de barris de óleo na bacia do Lokichar. “Não podemos seguir o mesmo caminho que tomou a questão do petróleo. Desde que foi descoberto em Turkana, os investidores só se interessaram em saber quando começará a ser explorado. Dos benefícios para a comunidade não falam”, destacou Angelei.
Para o economista Arthur Kimani, “o governo tem de ajudar a comunidade a entender que, além de beber a água, este recurso também pode gerar dinheiro, por exemplo, se usado para cultivar espécies comerciais”. Uma fonte do Ministério do Meio Ambiente, Água e Recursos Naturais declarou que essas críticas “não poderiam estar mais longe da verdade. De fato, a população de Turkana obterá água nas próximas duas semanas. Também nos comprometemos com o setor privado para concretizar associações que resultem economicamente viáveis para a comunidade”.
Kimani insiste em que o papel do governo é crucial para administrar o fornecimento de água subterrânea. É necessário que haja participação pública para acordar como acontecerá”, ressaltou. “Muitas empresas trabalham com uma camarilha de gente bem conectada para apresentar um sistema opaco de declaração de resultados do que foi explorado e da renda obtida”, afirmou.
“Os esquemas de renda compartilhada deveriam ser adotados de maneira aberta, para que o setor estatal tenha oportunidade de participar e se desestimule os funcionários que buscam benefícios pessoais à custa do público, sobretudo da comunidade que vive perto dos recursos naturais”, enfatizou Kimani. Por sua vez, Samuel Kimeu, diretor-executivo do escritório da Transparência Internacional no Quênia, disse à IPS que é necessário existir clareza em toda a cadeia de extração. Do contrário, “os termos das licenças irão contra o interesse público, que fica privado de seus possíveis ganhos”, ressaltou. 
Fonte: site Envolverde/IPS 
http://envolverde.com.br/ips/inter-press-service-reportagens/quenia-descobre-inacessivel-excesso-agua/

Nota da editora do Blog:  A Resolução da ONU 64/292 de julho de 2010 determina que é  direito humano Água e Saneamento. Durante a Rio+20, as nções ricas e industrializadas, principalmente Inglaterra, EUA e União Européira tentaram derrubar essa Resolução, que ainda não é cumprida.
Leia também:http:http://brasileducom.blogspot.com.br/2012/07/a-luta-pelo-direito-agua-na-rio20.html
http://brasileducom.blogspot.com.br/2010/08/agora-agua-para-todos.html

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Bashar al-Assad, da Síria, entrevistado pelo Rússia 24

15/09/2013 - Entrevista com o Presidente Bashar al-Assad da Síria em 13/9/2013, ao canal Rossiya-24 TV (vídeo em russo)
Entrevista traduzida da transcrição em inglês pelo pessoal da Vila Vudu

Vídeo em russo: canal TV Rússia 24:

Rossiya-24: Senhor presidente, obrigado por receber o canal Rossiya-24. Para começarmos com a pergunta mais importante: por que a Síria concordou com a iniciativa da Rússia de pôr armas químicas sob controle internacional, e por que se chegou tão rapidamente a esse acordo?

Presidente Bashar al-Assad: A Síria já apresentara essa proposta à ONU há mais de dez anos – para livrar a região do Oriente Médio de armas de destruição em massa, especificamente, porque essa é região caracterizada por instabilidades e guerras que, algumas, duraram anos. Tudo isso começou há séculos. 

Remover daqui todas as armas de destruição em massa teria impacto importante para estabilizar a região. Só os EUA opuseram-se à nossa proposta. 

Não gostamos de saber que há armas de destruição em massa no Oriente Médio. Sempre nos interessou mais a estabilidade e a paz na região. 

Esse é um lado. O outro lado da questão tem a ver com a situação atual. Não há como não ver que o estado sírio tem empreendido todos os esforços para impedir que nosso país e outros países da região sejamos arrastados para outra guerra insana, que alguns dos que pregam guerra nos EUA querem desencadear no Oriente Médio.

Até hoje, os sírios pagamos o preço por guerras que os EUA fizeram, por exemplo no Afeganistão – mesmo sendo país distante da Síria – ou no Iraque, que está aí, num país aqui bem próximo.

Minha opinião é que qualquer guerra contra a Síria afetará muito negativamente toda a região, com o Oriente Médio inteiro empurrado para décadas de instabilidade e de problemas. Haverá guerra até para as nossas futuras gerações. 

A terceira razão pela qual nos interessa a proposta que volta, agora, com os russos, e a mais importante, é a própria proposta. Não tivesse havido agora essa iniciativa, seria muito difícil para a Síria, só ela, obter o mesmo resultado e caminhar nessa direção.

Nossas relações com a Rússia são construídas a partir de mútua confiança, e essa confiança só cresceu durante a crise síria, nos últimos dois anos e meio. A Rússia confirmou que merece a confiança dos sírios, por suas ações. Mostrou que tem compreensão clara sobre o que está acontecendo em nossa região. A Rússia fez prova de que é confiável, provou que é governo sério, no qual se pode confiar. 

Por todas essas razões, a Síria aceitou assinar a Convenção para Proibição de Armas Químicas. 

Rossiya-24: O presidente dos EUA, Sr. Obama, e o secretário de Estado dos EUA, Kerry, creem que a Síria decidiu entregar suas armas químicas ao controle internacional exclusivamente porque foi ameaçada militarmente. O que lhe parece?

Presidente Bashar al-Assad: Se se pensa sobre os eventos e as ameaças dos EUA, que duraram semanas, vê-se que as ameaças nada tinham a ver com garantir que as armas químicas fossem bem guardadas. As ameaças não passaram de provocação. E a provocação começou quando foram usadas armas químicas num subúrbio de Damasco, Al-Ghouta. 

Aquela provocação foi organizada pelo governo dos EUA. Em outras palavras, ninguém ameaçou a Síria pensando em conseguir que nós entregássemos 
armas químicas. Nada disso é verdade. Só depois do encontro do G-20 na Rússia, os norte-americanos começaram a falar sobre a entrega das armas 
químicas à guarda internacional. Nós só começamos a considerar a possibilidade depois da iniciativa dos russos e das negociações relacionadas a isso que mantivemos com os russos. 

Quero sublinhar bem, mais uma vez, que, se não fosse por essa iniciativa dos russos, sequer discutiríamos a questão com o outro lado. Os norte-
americanos tentam agora uma espécie de golpe de propaganda. Kerry e o governo, inclusive Obama, sempre querem aparecer como vencedores, como se tivessem obtido alguma coisa com suas ameaças. Mas nada disso nos interessa, nem nos diz respeito. 

Rossiya-24: Ontem, surgiu a notícia de que a Rússia apresentou ao senhor um plano para a transferência das armas químicas para supervisão
internacional. Que mecanismos estão sendo considerados para esse processo?

Presidente Bashar al-Assad: A Síria entrará em contato com a ONU e a Organização para a Proibição de Armas Químicas nos próximos dias. Nesse processo há documentos técnicos, necessários para a assinatura do acordo. Depois começará o trabalho para a assinatura da Convenção das Armas Químicas. 

Essa Convenção inclui vários pontos. Um deles dispõe sobre a proibição de produzir armas químicas, armazenamento e uso. Depois, a Convenção passa 
a ter vigência. Pelo que sei até agora, a Convenção passará a ter vigência um mês depois de assinada. E a Síria começará a transmitir informações 
sobre suas armas químicas para aquela organização internacional. São processos padronizados. E nos pautaremos por eles. 

Mas é preciso que todos entendam bem o seguinte ponto: esses mecanismos não funcionam só para um lado. Nada disso implica que a Síria assina, 
preenche as condições estipuladas e está feito. Esse é um processo de duas mãos, que visa, em primeiro lugar, a que os EUA suspendam essa 
política de ameaçar a Síria. Depende também de até que ponto se implemente a proposta dos russos. 

Tão logo os sírios estejamos convencidos de que os EUA estão realmente interessados na estabilidade de nossa região, e suspendam as ameaças e as 
tentativas de atacar a Síria, quando cortarem o suprimento de armas para os terroristas, então, sim, entenderemos que podemos dar andamento aos 
processos até o fim, que o processo todo é efetivo e aceitável para a Síria. 

Todos esses mecanismos, como já disse, não são mecanismos a serem usados de um lado só. A Rússia tem papel muito importante a desempenhar nesse processo, porque não temos nem confiança nem conexões com os EUA. A Rússia é o único país que pode assumir esse papel. 

Rossiya-24: Consideremos a questão de implementar a iniciativa russa: que organização internacional interagirá com a estrutura da República Árabe Síria para assumir o controle das armas químicas? Essa não é uma situação padrão, que se vê todos os dias. 

Presidente Bashar al-Assad: Entendemos que a estrutura lógica apropriada para esse papel é a Organização para a Proibição de Armas Químicas, porque só ela reúne os especialistas nessa área e também monitora o cumprimento da Convenção para Armas Químicas em todos os países do mundo. 

Todos sabemos que Israel assinou a Convenção para Armas Químicas, mas ainda não a ratificou. A Síria exigirá e insistirá para que Israel afinal 
implemente a assinatura da Convenção. 

Quando a Síria, antes, apresentou um projeto para abolir as armas de destruição em massa no Oriente Médio, os EUA impediram a aprovação. Uma das razões pelas quais fizeram isso foi para permitir que Israel continuasse autorizado a possuir essas armas de destruição em massa. Se queremos 
realmente estabilizar o Oriente Médio, todos os países têm de aderir à Convenção. 

E o primeiro país que tem de aderir é Israel, porque Israel tem armas químicas, biológicas e nucleares, em termos gerais, Israel tem todos os 
tipos catalogados de armas de destruição em massa. É importante assegurar que nenhum país tenha essas armas. Só assim todos ficaremos protegidos 
contra guerras futuras, devastadoras e muito custosas – não só no Oriente Médio, mas em todo o mundo. 

Rossiya-24: A Síria põe suas armas químicas sob controle internacional. Mas já se sabe, com certeza absoluta, porque a inteligência russa já comprovou, que grupos terroristas rebeldes usaram armas químicas num subúrbio de Aleppo. Na sua opinião, o que terá de ser feito para proteger o povo sírio e de países vizinhos contra esses terroristas que já usaram armas químicas, pelo menos, com certeza, uma vez?

Presidente Bashar al-Assad: O incidente a que você se refere aconteceu em março passado, quando os moradores da região de Khan al-Assal, perto de Aleppo foram atacados por terroristas, com foguetes carregados com toxinas químicas. Houve dúzias de vítimas. Recorremos à ONU. Pedimos que a ONU enviasse especialistas para esclarecer esse incidente e determinar que grupo fora responsável por aquele ataque. Para nós, a situação é bem clara: foi trabalho de terroristas. 

Mas naquele momento, os EUA opuseram-se ao envio de especialistas da ONU à Síria. Consequentemente, trabalhamos com especialistas russos, que 
receberam todas as provas que havíamos reunido. Ficou fartamente provado que os terroristas que ainda operam no norte da Síria cometeram aquele 
ataque químico. 

Necessário agora é que a delegação de especialistas que estiveram na Síria até a semana passada, retornem e retomem as investigações. Terão de 
voltar à Síria, porque ficou acordado que voltariam, há esse acordo entre o governo sírio e aqueles especialistas. Esse acordo diz respeito a 
investigações ainda a fazer em várias províncias, principalmente em Khan al-Assal. 

É preciso examinar cuidadosamente tudo isso, para determinar, por exemplo, a composição química dos venenos usados e, a partir daí, as condições 
do solo onde as armas químicas foram usadas. Também é importante determinar de onde vieram aquelas substâncias químicas, como chegaram aos grupos terroristas. Os responsáveis têm de ser julgados. 

Rossiya-24: Senhor presidente, permita que lhe faça uma pergunta indispensável: é realista supor que se consiga realmente tomar todas as armas químicas que ainda estejam em mãos de grupos terroristas? 

Presidente Bashar al-Assad: Tudo depende de se saber que países, dos que mantêm relações com os terroristas, estão envolvidos na venda ou no contrabando das armas químicas. Todos os países dizem que não apoiam terroristas, mas sabemos, com certeza, que o ocidente lhes dá apoio 
logístico – embora digam que seriam coisas “não letais” ou, até, “ajuda humanitária”. 

De fato, já não há dúvidas de que o ocidente e alguns países da região – Turquia, Arábia Saudita, antes também o Qatar – mantêm contato direto 
com grupos terroristas, aos quais apoiam com todos os tipos de armas. Trabalhamos com a ideia de que um desses países forneceu armas químicas aos terroristas. Evidentemente, quem dava pode parar de dar.

Mas há também grupos terroristas que não ouvem nenhum dos lados. Esses grupos, quando têm acesso a armas e, portanto, à capacidade de destruir, não se acham obrigados a respeitar acordos, nem a obedecer a nada e ninguém, nem aos que lhes tenham dado dinheiro e aquelas armas. 

Rossiya-24: Alguns veículos nos EUA noticiaram que oficiais do Exército Sírio Árabe teriam pedido sua aprovação para usar armas químicas contra gangues da oposição armada. Dizem que o senhor negou a autorização, mas que apesar disso aqueles oficiais teriam usado armas químicas contra 
sírios, especialmente em Ghouta Leste. É verdade? Essas operações são possíveis na Síria?

Presidente Bashar al-Assad: Não passa de propaganda americana. Esse tipo de propaganda serve-se de todos os tipos de mentiras para justificar suas guerras. É conversa parecida com a de Colin Powell, no governo de George Bush Jr., para justificar a guerra contra o Iraque, há pouco menos de dez anos. Naquela ocasião, apresentaram o que diziam que seriam provas de que Saddam Hussein produzia armas de destruição em massa. Mais 
adiante se soube que era mentira. Hoje as mentiras mudaram um pouco, como essa que você acaba de mencionar.

A verdade é que conversa desse tipo jamais aconteceu, nem comigo nem com ninguém na Síria. Essas armas são administradas de modo centralizado em 
vários países e exércitos do mundo, sempre pelas forças armadas. Nenhum soldado raso, ou comandante de escalão inferior manuseia essas armas, nem 
forças terrestres, nem as unidades blindadas ou quaisquer outras. São um tipo especial de arma de uso restrito de Forças Especiais. Essa notícia é mentirosa e nem faz sequer sentido. Ninguém acreditaria numa história dessas. 

Rossiya-24: Recentemente apareceram no Congresso dos EUA o que para alguns seriam “provas convincentes” e “indubitáveis” – vídeos, que 
comprovariam que se usaram armas químicas no subúrbio de Damasco, em Ghouta, e que foram usadas pelo Exército Sírio. O que o senhor tem a dizer 
sobre essa versão americana? 

Presidente Bashar al-Assad: Não têm prova alguma, nem o Congresso, nem a imprensa, nem o povo, ninguém jamais viu ou mostrou prova alguma de coisa alguma. Nem nenhum outro país conseguiu exibir prova alguma, nem a Rússia, que participou do processo de negociação. Nada disso jamais aconteceu. São só palavras, sempre e só, mais propaganda norte-americana.

A mais elementar lógica, por outro lado, diz que ninguém usaria armas de destruição em massa a poucas centenas de metros de onde esteja o seu 
próprio exército. Ninguém usaria armas de destruição em massa em áreas densamente habitadas, sem causar centenas de milhares de vítimas.

Ninguém jamais usaria armas de destruição em massa no mesmo local e momento em que seus próprios soldados estão avançando em terra. Nada disso faz sentido. Agora, as lideranças políticas nos EUA meteram-se numa posição difícil. Mentiram de modo ainda menos convincente, até, do que as 
mentiras contadas pelo governo George Bush.

O governo anterior, nos EUA, mentiu muito, mas mentiu mentiras que, pelo menos num primeiro momento, tinham alguma chance de convencer pelo menos uma parte da opinião pública mundial. O atual governo dos EUA, com suas mentiras, não conseguiu convencer nem os seus próprios aliados. Nada do que disseram faz qualquer sentido. Não é lógico. É implausível.

Rossiya-24: Tenho de lhe fazer mais uma pergunta, porque diz respeito à segurança de toda a região. A imprensa russa noticiou recentemente que as gangues armadas de oposição ao seu governo planejam provavelmente outra provocação, que poderia envolver uso de armas químicas contra Israel, que seria desencadeada a partir de um território controlado pelo Exército Sírio. O que o senhor sabe sobre isso, como comandante-em-chefe? 

Presidente Bashar al-Assad: Já há confirmação de que grupos terroristas têm armas químicas, dado que até já as usaram na Síria, contra nossos soldados e civis. É claro que têm. Além disso, também sabemos que aquelas gangues terroristas e os que os controlam, sim, querem provocar um ataque aéreo dos norte-americanos. Já em ocasiões anteriores tentaram envolver Israel na crise síria. Não se pode excluir a possibilidade de que 
essa informação seja correta e que vise, outra vez, aos mesmos objetivos. 

Se há guerra numa região, o caos se expande. Mas, para que o caos se expanda, é essencial que os territórios sejam permeáveis às gangues 
terroristas, para que possam causar o máximo de dano e destruição. Esses são riscos reais, não são ameaças inventadas, porque, sim, os 
terroristas têm armas químicas, que recebem de outros países.

Rossiya-24: Obrigado por nos receber e responder nossas perguntas.

Fonte:
http://redecastorphoto.blogspot.co.at/2013/09/entrevista-com-o-presidente-bashar-al.html

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Lula, o Papa e o PIG

07/09/2013 - Lula (*), o Papa e o PIG (**)
- Data da Viagem: segunda-feira, setembro 09, 2013
- blog do Ênio Barroso Filho, da Estação do PTrem das Treze

Francisco, o Papa argentino, em sua recente visita ao Brasil onde foi calorosamente bem recebido pela Presidenta Dilma e pelo nosso povo, admitiu que Deus é brasileiro.
Consta até que teria nascido no Nordeste num lugarejo próximo a Garanhuns - PE.

Por conta disso é que a sua única frustração foi não poder (apesar dos esforços) ter se encontrado com o nosso eterno Presidente do Povo, Lula (agenda lotada) em território brasileiro e longe de La Bombonera [famoso estádio de futebol em Buenos Aires]. Mas não se fez de rogado.

Francisco é argentino e não desiste nunca (a inveja é uma merda)

- Por falar em inveja, há rumores de que Francisco cogita revogar a inveja da lista dos pecados capitais só pra atender a uma antiga reivindicação de Maradona. "La mano de Dios" [alusão a um gol de Maradona feito com a mão] não chega aos pés de Pelé. E a sua amizade com Fidel não dá um mindinho perdido de Lula !!!

- Sigamos... 
De volta ao Vaticano Sua (tua) Santidade tratou logo de telefonar ao Instituto [Lula] para agendar tal encontro o mais breve possível nem que fosse em sigilo.

Conseguiu na semana passada !!! Lula retornou e concordou encontrar-se com o Papa aqui no Brasil e graças ao trabalho de Barack Obama, a generosidade de Edward Snowden e a colaboração gratuita do jornalista americano Glenn Greenwald que reside no Brasil, este pequeno blog teve acesso com exclusividade à transcrição do telefonema ocorrido entre essas duas celebridades e Pop Stars mundiais. Lula e Francisco, Francisco e Lula.

Segue então a transcrição do telefonema na íntegra:

Lula: Papa??? Aqui é Lulinha Paz e Amor. A menina anotou o recado e podemos nos encontrar sim nesta semana que o Corinthians joga as duas fora. 

Menos Quarta-feira que o jogo é contra o Inter e eu quero ver na Band. "Sacumé"... Todos os comentaristas esportivos no Brasil são corinthianos e 
eu já falei pro Casagrande que ele é da senzala, petista e trabalhar na Globo é paradoxal ( Gostou do "paradoxal" ???)

Já os comentaristas políticos daqui são "coxinhas" sãopaulinos e eu não os leio nem assisto porque me dá asco. Mas é isso. Vou de Neto !!!. Podia ser no fim de semana já que o jogo é contra o lanterna (o Náutico) e eu só quero mesmo é ver no "teipe" a enxurrada de gols.

Francisco: Gracias por recibirme Presidente Lula !!! Fútbol, religión y política no se discute como se enseñaran los milicos.

La ventaja de jugar en casa es suya, pero no me gustaria hablar de política en este momento. Yo quiero hablar de ecología, que es un tema más global y da más audiencia ahí fuera.

Lula: Ecologia ??? Amazônia !!! Vamos nos encontrar na Amazônia então !!! Mas sem a Marina.

Francisco: Perfecto !!! Amazônia !!! Pero Marina ??? ¿Quién es ???

Lula: Uma ex-companheira que depois que virou evangélica cismou de falar difícil, criou uma Rede bancária e cosmética e danou-se a interromper grandes obras pra salvar desova de bagres.

A doida endoidou pra ser Presidenta do Brasil mas quero ver é ela convencer esse povo a mudar a dieta e passar a comer bioma sem Pré-Sal !!! E tudo isso na verdade é só para atender aos interesses dos ongueiros estrangeiros.

Francisco: Milongueros !!! Yo sé cómo é !!! No, no Marina no !!! Iglesia competidor ... Partido competidor... Con perdón de mi Dios, el diablo que la carga !!!

Lula: Fazer o seguinte Chicão (Putz, o Chicão foi pro Flamengo!!! [foto]), 7 de setembro é um feriado que cai no sábado e não vai dar pra esticar. 

Como a Santidade prefere que o encontro seja sigiloso vamos aproveitar que a mídia golpista brasileira marcou "o maior protesto da histórianesse dia e vai estar todinha concentrada em transmitir ao vivo o show da banda da direita "Black Blocs" para mais de 150 cidades brasileiras... Pelo menos é o que foi confirmado no Facebook.

Francisco: Perdón, "Black Blocs" ???

Lula: Uma molecada "cara tapada" que quebra tudo no palco é a nova grande esperança dos "bate-cabeça" da oposição para divulgar o seu "Projeto de país".

A mídia tá encantada !!! E o "inteligente" Caetano Veloso que já chamou a mim de ignorante analfabeto caiu de boca !!! Pegou carona nos meninos pra tentar de novo aparecer.

Francisco: ¿Qué país es éste ???

Lula: É a porra do Brasil !!! Mas é uma minoria. Meu povão mesmo tá vacinado e guardado e ano que vem vai pras urnas !!! Fechado então??? 7 de 
setembro???

Francisco: Cerrado!!! 07 de septiembre en Amazon!!! Tengo que vacunar contra la fiebre amarilla ???

Lula: Não, não !!! O Padilha [Ministro da Saúde] já mandou os médicos cubanos pra lá e em três dias já acabaram com a febre amarela pra desgosto de uma colunista escravagista daqui !!!

Só cuidado com a "febre azul" transmitida pelas cagadas dos tucanos em um processo semelhante à transmissão da raiva através das mordidas dos cachorros.

Mas pode ficar sossegado que os poucos tucanos que restam estão todos enfiados na prefeitura de Manaus e não "trabalham" no fim de semana nem nos outros dias também. Até lá Papa !!! Um abraço !!!

Francisco: Gracias Presidente Lula !!! Hasta nuestra reunión!!! Hasta la victória, siempre !!! (ops!!! esta frase es de otro argentino [Che Guevara]).

E assim foi...
Sábado, 7 de setembro, barca no rio Amazonas e uma multidão de beatas, padres e sacristãos acompanhando da margem o Grande Encontro (Eita povinho fofoqueiro, não guardam nem segredo de confissão!!! É um boca a boca da porra!!!)

Havia também uma ruma de jornalistas, avisados que foram por sua amiguinha Helena Chagas, responsável pela Secretaria de Comunicações (SECOM) do Gabinete da Presidência em Brasília (Até quando meu Deus???)

Após os cumprimentos protocolares de praxe, Lula iniciou sua fala descrevendo para o Papa as conquistas ecológicas de suas duas gestões:

"Companheiro Papa, companheira Marisa, Camerlengo... (uma sutil risadinha) 

Desculpe não te chamar de companheiro também mas é que o pessoal da 
CUT depois vai querer pegar no meu pé.

Mas pega as fotos aérea da região amazônica batidas no governo anterior e compare com as tirada no meu Governo!!! Tapamos de verde todas aquelas mancha marrom que tinha nas foto daqui!!! Deu trabalho porque se você tapa uma, o agronegócio já caga em outro lugar.

Fizemos um grande esforço pra convencer no diálogo que não adianta só comer a carne de boi se não tiver também a salada já que esse povo quanto mais come, mais fica exigente e nós achamos que é isso mesmo o que tem que ser feito.

Foram mais de 500 anos de fome passada nesse país e agora chegou a vez do mais pobre participar do banquete que antes era só para ELES, uma elite insaciável !!! (Gostou do insaciável???) (APLAUSOS !!!)

E a fumaça???

Papa, o "Sr." que é um homem de turíbulo, sabe o que é o fumacê de uma queimada !!! Acabamos com o preconceito de acharem que aqui é o pulmão do planeta e depois que eu parei de fumar, dei o exemplo para que o pulmão da Amazônia também largasse desse vício horroroso e agora pode tirar a chapa desse pulmão!!! Não vão encontrar mais um sinal de fumaça sequer nesse imenso pulmão verde!!! Falta ainda muito pra se fazer. 

Vira e mexe esse verde cai numa segundona e é preciso ficarmos atentos e vigilantes. E isso não é uma "trolage" já que eu tenho muitos amigos 
palmeirenses também como o nosso querido Ênio do Blog "O PTrem das Treze"!!! (depois eu cobro o jabá).

Mas companheiras e companheiros vamos falar dos animais em extinção. No meu Governo nós extinguimos com a extinção!!! Só não foi possível ainda 
com os tucanos e com as ararinhas azuis por culpa deles mesmos e porque no Brasil as aves dessa cor não se bicam, não conseguem fazer amor, estão 
sempre brigando entre si e não tem quem evite que acabem se matando uns aos outros!!!

É um barraco atrás de barraco de fazer inveja ao casal Willian Bonner e Fátima Bernardes cujo "Boa noite" no Jornal Nacional era só de fachada. 

Foi preciso separa-los em um no programa da noite e a outra no da manhã antes que houvesse uma desgraça no ar!!! Quando assumi o Governo muitas 
espécies de veados, como o veado campeiro, estavam condenados a não mais existirem.

Papa, dava dó de ver o que faziam com os bichinhos antes de mim. Com o Programa "Mais veados" foi possível resgatar a imagem deles perante a 
população e além de passarem a ser respeitados, hoje até já procriam em suas marchas coloridas e anuais (eu falei anuais !!!) e já podem até casar!!! 
Temos leis para isso, ouvisse Seu Papa??? PORQUE AQUI É CORÍNTHIANS, O ESTADO É LAICO E PRONTO E ACABOU!!!

Podia aceitar esse exemplo e liberar os padres dessa desgraça do celibato e acabar com a sanha pedófila desses coitados !!! (APLAUSOS DOS PADRES !!!)

Mas eu não queria terminar sem antes falar das antas, que é um animal típica e tapiricamente brasileiro, que além de preservarmos também a sua espécie, botamos a raça pra estudar!!!

Essas antas tiveram a oportunidade de se inscrever no PROUNI, estudaram, se formaram na maioria JORNALISTAS e hoje não lhes falta emprego nos grandes jornais, rádios, televisões e revistas brasileiras onde escrevem matérias em decomposição, colunas, reportagens, etc. e tem liberdade total para acusar Deus e o mundo por aqui.

Uma delas já foi inclusive eleita para a Academia Brasileira de Letras deste país!!! É tão influente no Brasil que dá ordens a ministros do STF! 

Que também são outras antas mas de uma categoria abaixo da dos jornalistas que lhes supervisionam. Nós os escolhemos para decompor a nossa Corte Suprema por possuírem além de outros dotes (como a facilidade para comprar apartamento em Miami sem pagar impostos) o "notório saber jurídico", vide o "julgamento do século" que fizeram e que foi transmitido ao vivo em rede nacional pela Globo de forma pacífica, imparcial e exemplar pelo seu ineditismo no mundo no que se refere de jurisprudência !!!

Um orgulho para o resto das antas brasileiras que apesar de estudadas, bem formadas, bem nutridas e ganhando bem, ainda caminham solitárias nos 
campos, cidades e nas áreas de comentários de sites e blogues dessa nossa inacreditável internet !!!

Pra acabar tem a "Mica" e o Mico Leão Dourado..."   

Nesse momento o discurso de Lula foi interrompido por uma ventania repentina que fez com que aquela toquinha tôsca do Papa (É SOLIDÉU!) lhe voasse da cabeça indo parar no meio do rio Amazonas bem em cima de uma vitória-régia longe do barco.

As beatas se desesperaram, os padres não sabiam o que fazer, o Camerlengo enrubeceu e os sacristãos sem ter o que badalar por falta de sino, badalaram-se uns aos outros.

O jornalistas nem aí. Só um pipocar de "flashes" na busca de uma boa imagem.

No vuco-vuco do quem pega e quem cata o solidéo de Francisco, aquela voz grave, rouca e conhecida de Lula pôs ordem na zoada:

- "Deixa que eu busco !!!

"Francisco, eu sei que Vossa eminência branca e santificada depois que falou com o Duda Mendonça anda pregando aos olhos do mundo a tua humildade. Eu já rodei e desrodei esse mundo e humildade de argentino eu ainda tô pra ver. Não é coisa desse mundo.

Mas pode deixar que o Lulinha aqui vai lá buscar tua boina (Boina é do Che !!! SOLIDÉU !!!) pra te dar uma aula de graça, de como é que se faz !!!"

"Humildade vem de berço e embora meu berço tenha sido um caixote eu tive mãe pra me ensinar"

Lula desceu a escadinha do barco, ANDOU SOBRE AS ÁGUAS até o sudário (ops !!! SOLIDÉU !!!) pegou o bonézinho (SOLIDÉU !!!) na planta, voltou ANDANDO SOBRE AS ÁGUAS, subiu a escadinha e entregou ao Papa Francisco o chapéu (É SOLIDÉU, PORRA !!!)

O silêncio era sepulcro e caiadamente profundo. O Papa de queixo caído feito um argentino num gol de Pelé, as beatas em transe, os padres ajoelhados e contritos. os sacristãos engasgados com não sei o que, e os jornalistas...

Ah!!! Os jornalistas !!!

Deselegantes, desparidos de educação e xenófobos como sempre... Nem esperaram o discurso, a palavra do Papa e picaram a mula voando para as redações.

No dia seguinte uma histórica e retumbante manchete na Folha de São Paulo:
LULA NÃO SABE NADAR !!!    


(*) Luiz Inácio Lula da Silva é um ex-sindicalista que governou o Brasil por duas vezes seguidas tendo ao final a aprovação e a aclamação do povo brasileiro em mais de 80%.

Seus primeiros milagres foram sobreviver à fome e a seca nordestina e mais tarde fundar um partido debaixo pra cima sem o consentimento das elites do seu país. Porém dentre tantos, o milagre mais famoso, mundialmente  reverenciado e reconhecido até pelo Vaticano foi o da multiplicação das bolsas-famílias que acabou com a fome e a miséria absoluta que envergonhava o seu país durante mais de cinco séculos. 

Em meados de 2005 foi crucificado, morto e sepultado pela imprensa brasileira tendo ressuscitado no ano seguinte derrotando os capetas pela segunda vez.Elegeu a sua sucessora Mulher em terras machistas e hoje está sentado à direita do inferno extremo-esquerdista e à esquerda do seu próprio partido, o PT.

Passa os seus dias em sermões pelo mundo, tirando mel das primeiras pedras que lhe atiram e transformando postes de luz em Presidentas, Governadores e Prefeitos de grandes cidades.

É comum observar-se em quase todas as mentes populares e em quase todos os muros, paredes e árvores Brasil adentro e Brasil afora a expressão ELE VAI  VOLTAR !!! Para julgar os vivos e os mortos e o seu reino não terá fim !!!

(**) Partido da Imprensa Golpista

Fonte:
http://optremdastreze.blogspot.co.at/2013/09/lula-o-papa-e-o-pig.html

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Marxismo, ideologia e religião

 10/08/2013 - Por Antonio Ozaí da Silva - em seu Blog do Ozaí

Jean-Pierre Vernant (1914-2007), [foto abaixo, quando jovem] intelectual de formação marxista, jovem comunista da Resistência Francesa durante a Segunda Guerra Mundial e membro do Partido Comunista Francês no pós-guerra, diferencia o “marxismo de Marx”, uma “metodologia crítica indispensável para colocar corretamente questões de história”, do marxismo como “catecismo revisto e corrigido, às vezes censurado, ao qual foi reduzido, primeiro para justificar determinada prática política, em seguida para justificar um sistema de Estado burocratizado e de governo autoritário”.[*]

Este marxismo de catequese, a palavra transformada em dogma, verdade sagrada e absoluta, “aparece como um substituto da religião trazendo a seus 
fiéis certezas e respostas prontas, o que evita que eles pensem em perguntas embaraçosas. Entre os dois, a diferença talvez seja da mesma ordem que entre mito e razão” (p. 56).[1]

O marxismo religioso pressupõe mais do que adesão, exige a conversão, ou seja, a introjeção acrítica da ideologia à maneira religiosa.

Neófitos e prosélitos da fé profana amparam-se em livros elevados à categoria de sagrados, em autores e líderes cujas palavras são inquestionáveis; autoridades que, a exemplo dos profetas, denunciam os males do presente e anunciam a mensagem escatológica do paraíso na terra. 

Eles falam pelos livros, e, em seu nome, estabelece-se cultos e rituais.

Se a religião representa o que há de mais simbólico no homem, o tratamento religioso da ideologia secular implica em desenvolver uma concepção  transcendente da realidade.

A religião consiste em afirmar que, por trás de tudo o que se vê, de tudo o que se faz, de tudo o que se diz, existe outro plano, um além. É o símbolo em ação” (p. 64).

A ideologia, na medida em que assume um caráter escatológico, também se coloca, no plano do simbólico, para uma ação que visa o “além”, um objetivo final que está para além da realidade social vivenciada pelos homens e mulheres concretos do presente.

É o futuro incerto, mas inscrito no pensamento dos que agem como demiurgos do novo mundo.

A ideologia como religião é maniqueísta e messiânica. Estabelece-se diante da idéia de que existe o bem e o mal, e que o mal é encarnado pelo Outro (classe social, grupos, indivíduos, adversários, inocentes úteis que fazem o jogo do inimigo, solapam o bem e alimentam o mal etc.).

complemento deste maniqueísmo é a idéia de que cumprimos uma missão salvadora e libertadora.

Vernant, ao rememorar a sua militância comunista à época da juventude, afirma que, para alguém da sua geração, “ser comunista era pensar que estávamos entrando num período de confrontos decisivos contra as forças do mal. Não era apenas o destino individual que estava em jogo, mas o de toda a humanidade” (p. 468-469).[2]

Esse caráter redentor – “estar aqui pela humanidade” ou por uma classe social cuja missão é redimir a humanidade – revela uma certa fé ingênua. 

Havia de minha parte muita ingenuidade, uma ingenuidade humana e intelectual. Eu vivia nos livros, e acreditava também que as teorias marxistas, as teorias revolucionárias deveriam inscrever-se necessariamente na ação daqueles que as adotavam” (p. 469).

A teoria transforma-se em doutrina justificadora da ação. Se a realidade é incompatível com a doutrina, azar dela.

O fanatismo é outro traço religioso da ideologia. Ele se traduz no “culto ao líder”, na fidelidade cega à liderança e à ideologia encarnada por ela.

É sintomático que, a despeito dos fatos históricos, personagens como Stalin [foto] ainda encontrem defensores e seguidores.

É mais uma das características da ideologia enquanto religiosidade. A fé religiosa não admite a dúvida e, ainda que confrontada com a realidade, mantém-se firme e convicta. O marxismo religioso adota procedimento semelhante.

Como atesta Vernant: “O que foi chamado na época de Kruchev, de 'culto da personalidade’ fazia da pessoa de Stalin no topo do Estado, na URSS, uma entidade com valor propriamente religioso, sacramental, e foi transposto até mesmo para a França – com algumas nuanças” (p. 480).

O culto ao líder foi um dos alicerces do stalinismo, mas a idolatria transcende a figura de Stalin. A ideologia não prescinde do culto aos ídolos, sejam eles quem forem. Não é por acaso que os diversos ismos em que se dividem os 
marxismos originam-se de nomes próprios!

Um dos aspectos vinculados às religiões é o medo. Não é apenas o temor da condenação e tudo o que representa não ser salvo. Paradoxalmente, o crente ama e teme a divindade; aceita e voluntariamente submete-se.

Os sacerdotes, e outros que falam em seu Nome, nos lançarão diante do horror que ameaça consumir o corpo e alma. Em nome Dele, e para evitar o terror das trevas, muitos estão dispostos a fazer cruzadas e combater as 
heresias, nem que seja preciso consumir no fogo corpos e almas.

Ideologias também sacrificam os seus hereges no altar da ortodoxia secular, condenam as ideias exterminando os corpos que as abrigam e, assim,
reproduzem a inquisição em suas formas de tortura e morte.

Se o herege religioso é condenado ao inferno, a heresia política expressa o pecadoideológico imperdoável. Num caso, o terror religioso; no outro, o terror político.

Ambos exigem fidelidade absoluta. Mas é um terror incorporado e legitimado ideologicamente. É ingenuidade, ou desconhecimento, acreditar que regimes políticos se sustentam apenas pela repressão.

A própria massa é usada pelo e para o terror. “Terror das massas significa que as massas são ao mesmo tempo sujeito e objeto desse terror”.

Muitos foram vítimas e o medo se impôs a todos.

Contudo, Vernant [foto] observa que as massas “também foram sujeito desse terror pois, junto com a passividade, era acompanhado por uma espécie de participação, pois os discursos oficiais davam a entender que o inimigo estava em todo lugar, que era preciso proteger-se dele com os procedimentos da 'democracia de massa', ou seja, notadamente, com a denúncia, o que permitia que as massas colaborassem com o terror pendurado sobre suas cabeças.

Esse fenômeno extraordinário do terror interiorizado faz com que os homens da minha geração, na União Soviética, permaneçam marcados por esse medo, medo que fazia com que não pudessem falar, nem mesmo consigo mesmos” (p. 480).

Nestas condições, há espaço para uma relação de cunho religioso entre governante e governados, pensamento e ação. A URSS aparecia aos militantes como uma espécie de Jerusalém sagrada, Meca ou a utopia milenar realizada.

Ela “representava para nós o socialismo realizado e, apesar da contradição nos termos, a utopia encarnada, a utopia que se tornou Estado.

Éramos uma espécie de grupo religioso de tipo milenarista, com tudo o que isso implica em termos de fé, com a diferença de que os novos tempos já haviam chegado” (p. 482). Isto também era encarnado na relação fideísta com o partido.

Via-se este como uma espécie de “contra-sociedade, e eu diria até como família, ou, como seria mais exato, como fraternidade. Era de fato o que sentíamos” (Id.).

Neste contexto, a ideologia marxista assume caráter religioso e irracional: “Não só porque era incrivelmente simplificadora, mas também e principalmente porque excluía todo esforço de reflexão pessoal, toda atitude crítica, toda mobilização da inteligência."

"Era ensinada como uma espécie de credo, uma bíblia à qual era preciso aderir, e essa bíblia tinha poucas relações com a vida concreta dos jovens aos quais se impunha esse castigo. Logo, para eles, a verdade 'científica' e o ensino eram ao mesmo tempo algo muito rasteiro, sem relação com sua realidade, em que deviam acreditar ainda assim como um dogma sem questioná-lo” (p. 498).

O homem é anulado. Só lhe resta submeter-se ou desempenhar um papel religioso em relação ao partido, ao líder.

Fora disso, é o inferno: “Costumo dizer que o sistema totalitário é aquele que faz com um homem sentado no banheiro, na solidão oferecida pela porta fechada e trancada, é tomado pela angústia, pelo terror e por um intenso sentimento de culpa se de repente ocorre-lhe uma idéia subversiva ou insólita.

Em um sistema totalitário, com efeito, aderimos a nosso medo, tornamo-nos lisos, sem nenhum lugar em que possamos nos agarrar e de onde possamos recusar” (p. 508).

Há numerosas formas de expressar e vivenciar a crença ideológica e autoridades a definir qual a leitura ortodoxa sacramentada: “Mas como as formas de ler estabelecidas por essa autoridade eram mutáveis segundo as circunstâncias políticas, os modos de crença podiam variar segundo os indivíduos."

"Conheci bons comunistas, para começar eu mesmo, totalmente incrédulos no campo da ideologia, depois da guerra assim como o foram antes da guerra, mas que, entretanto, permaneciam completamente fiéis no plano político” (p. 510).

Havia os irremediavelmente crentes, os que se recusaram, a despeito de todas as evidências, a abandonar a “igreja”, aqueles cuja crença “ia além do último suspiro” e que desejavam o enterro oficial no seio da “Igreja” (Id.).

A experiência de Jean-Pierre Vernant mostra o quanto, sob determinadas circunstâncias históricas, a ideologia transubstancia-se em religião, ainda que afirme-se ateísta e vincule-se ao mundo profano. O mesmo pode ser observado no relato de Eric J. Hobsbawm. [3]

--------------------------------------------------------------------------------

[*] Para a reflexão sobre o tema sugiro também a leitura de "O marxismo é religião?", publicado em 19/05/2012; e, "O marxismo é utopia?!", de 06/07/2013.

[1] VERNANT, Jean-Pierre, "Entre Mito e Política", São Paulo: Edusp, 2002. Todas as citações são desta obra.

[2] Sugiro a leitura de HOBSBAWM, Eric J. "Tempos interessantes: uma vida no século XX". São Paulo: Companhia das Letras, 2002, em especial, o significado de “ser comunista” relatado por ele.
Ver "O marxismo é religião?", publicado em 19/05/2012.

[3] Idem.

Fonte:
http://antoniozai.wordpress.com/2013/08/10/marxismo-ideologia-e-religiao/