sábado, 30 de abril de 2011

Internet pode servir à população e aos médicos como fonte de informação confiável

COBERTURA ESPECIAL – 6º Seminário Nacional Médico/Mídia
 

Segundo especialista, criação de um selo de certificação para sites pode dar mais segurança a pacientes e profissionais de saúde.
 
Agência Notisa - “O médico do futuro precisa indicar não apenas remédios ou diagnósticos, mas também páginas da Internet a serem consultadas”. Reproduzindo esta frase, de autoria do historiador da Fundação Oswaldo Cruz André Pereira, o segundo vice-presidente da Federação Nacional dos Médicos (FENAM) Eduardo Santana resumiu o norteador de sua palestra intitulada “A certificação de sites médicos na Internet - a importância da criação de um selo para que a mídia reconheça as informações qualificadas”. O evento, que ocorreu ontem (28), fez parte das atividades do primeiro dia do 6º Seminário Nacional Médico/Mídia, promovido pela FENAM. O seminário, que acontece no Rio de Janeiro, vai até hoje (29).
 
Eduardo Santana abriu sua exposição explicando que a certificação de sites – ou seja, a criação de um selo que garanta ao usuário a confiabilidade das informações nele contidas – não deve ter como alvo apenas profissionais de mídia (jornalistas). Na visão do médico, uma vez que a informação está disponível na Internet, formando uma “nuvem”, ela “pertence a todos”. Assim, a criação de um selo que diga quais informações são confiáveis deve visar à orientação de toda a sociedade, sejam médicos, jornalistas ou o usuário comum.
 
A necessidade desta certificação é de suma importância, explicou Santana, devido à realidade de hoje a Internet se configurar como a maior biblioteca do planeta. Neste imenso acervo, sites dedicados à medicina não faltam, o que deu origem, disse, ao “doutor Google”, consultado “antes e depois da consulta (com o médico)”. Além disso, os serviços do “Dr. Google” não são procurados apenas por leigos. Segundo Eduardo Santana, uma pesquisa inglesa recente mostrou que a maioria dos médicos e acadêmicos em medicina do país buscava informações e tirava suas dúvidas recorrendo ao Google e à Wikipedia.
 
Diante dessa realidade, é preciso separar sites sérios e confiáveis daqueles que possam conter informações equivocadas. Para Eduardo Santana, a validação de um “selo de qualidade” só será possível depois de percorrida três etapas: (1) identificação da origem das informações (catalogar os médicos que postam informações na Internet); (2) criação de uma Rede de Médicos (espaço destinado à construção, distribuição e troca de conteúdo entre a comunidade médica, uma espécie de “Orkut dos médicos”); e (3) identificação da qualidade dos conteúdos. Esta última etapa, para Santana, é a mais complicada, devido ao imenso volume de conteúdo disponível na Internet, que demanda um enorme esforço para ser analisado e validado. Ainda assim, o profissional acredita que é um passo que o Brasil está preparado para dar. Esta capacidade é ajudada pelas determinações do Conselho Federal de Medicina (CFM) e de conselhos regionais como o de São Paulo, que visam guiar os profissionais da área quanto à maneira correta de divulgação de conteúdo on-line. Essas determinações, segundo ele, acabam criando guias para evitar a distribuição de informações pouco claras ou equívocas.
 
Com a criação de um selo de qualidade, a Internet pode se configurar como uma fonte confiável de informações sobre doenças e desafios médicos. Para Santana, nesse novo cenário a relação médico-paciente se modifica, uma vez que ambos se encontram mais bem informados. Na visão do profissional, esta nova relação se caracteriza por uma interação, possibilitando uma troca de informações e conhecimentos que, caso baseados em fontes on-line validadas, se provará benéfica para ambas as partes.
Agência Notisa (science journalism – jornalismo científico)

DE TREM BALA A MARIA FUMAÇA


Laerte Braga


“Caranguejo não é peixe/caranguejo peixe é/caranguejo só é peixe lá na enchente da maré....” Canto folclórico que cabe com precisão à política externa da presidente Dilma Roussef. O contrário do Peixe Vivo, que via de regra era cantado para homenagear o mineiro JK. “Como pode o peixe vivo viver fora d’água fria/como poderei viver/sem a tua companhia”.

O ex-ministro das Relações Exteriores do Brasil, governo Lula, Celso Amorim, publicou um artigo numa revista nos EUA.  AMERICA’S QUARTELY, onde afirma que o Brasil poderia ser o principal mediador da crise entre os países árabes e os Estados Unidos.

Amorim tece considerações sobre a política externa do governo Lula, reafirmando a condição de um dos maiores defensores do grupo de países chamados emergentes.

Amorim e Samuel Pinheiro Guimarães, o ex-secretário de Assuntos Estratégicos e um diplomata de prestígio internacional (além de Amorim, lógico, eleito ano passado o sexto formulador político mais influente do mundo) foram substituídos no governo Dilma Roussef por Anthony Patriot (Itamaraty e pasmem-se sempre, o inacreditável Wellington Moreira Franco, múmia corrupta e embolorada do PMDB).

E Dilma é do mesmo partido de Lula, foi escolhida por Lula para dar continuidade aos avanços obtidos em seu governo, mas entre tentar o trem bala prefere voltar aos tempos neoliberais de Maria Fumaça.

Vai, entre outras coisas, privatizar os aeroportos brasileiros.

Não imagino que se transformou presidente por outra razão que não aquela dita por Delfim Neto, dois anos antes das eleições de 2010 – “Lula elege até um poste” –. É evidente que o ex-presidente não imaginou isso e Delfim apenas procurou dar a dimensão do prestígio do então presidente. Nem Dilma é um poste, do contrário não estaria caindo nas mãos dos grupos mais conservadores da política brasileira e levando o seu partido, o PT, para o espaço anteriormente ocupado pelo PSDB, o social democrata. Isso a despeito da resistência de boa parte da sua militância, mas em cumplicidade com a cúpula nacional, uma espécie de Politburo às avessas.

O problema deve ser oftalmológico. Falta de visão política, burocratês com características de brabeza como se isso venha a significar alguma coisa que não retrocesso.

E olha que ao longo de seu governo Lula se viu na contingência de fazer várias concessões para evitar o pior, as bombas de efeito retardado deixadas pelo PSDB, precisamente por FHC.

Privatizar aeroportos era um dos itens da campanha de José Serra.

Já a Maria Fumaça não. É escolha de Dilma. Com certeza, no último debate da campanha presidencial ouviu José Serra dizer que o trem bala era uma loucura, um disparate.

Só pode. 

O artigo do ex-chanceler Celso Amorim é um primor de lucidez ao tecer comentários sobre a política externa que comandou por oito anos, ao mostrar o saldo que legou ao País, o de poder andar de pé e não tirar os sapatos diante do mundo em nenhuma circunstância e no resgatar essas características básicas de uma política externa independente.

“Talvez uma visão menos maniqueísta e mais sutil da realidade, como demonstrada pelos Brasil e por outros países sul-americanos, seria útil para iniciar um novo diálogo com os Estados Unidos – refere-se aos países árabes –. “Não seria o momento de utilizar as boas relações do Brasil e de outros países sul americanos com o mundo árabe para iniciar um novo diálogo”? É a pergunta que Amorim faz.

Com a visão que ministros são como os sargentões que filmes e quadrinhos mostram o governo Dilma Roussef entregou a política externa a um embaixador que a despeito de qualidades que possa ter, não tem a estatura que o Brasil exige neste momento. E à própria presidente, lhe falta essa dimensão.

Estamos silentes diante de uma crise grave nos países árabes, de uma ação estúpida da OTAN – ORGANIZAÇÃO DO TRATADO ATLÂNTICO NORTE – na Líbia (destruindo um país pelo controle do petróleo) e um silêncio que grita escancaradamente pela paz, por negociações, mas o Brasil de Dilma resolveu que vai ser pequeno e jogar fora o patrimônio construído por Celso Amorim.

O ex-ministro deu o exemplo do acordo obtido pelo governo anterior e o governo turco com o Irã, evitando e frustrando planos guerreiros dos EUA – são uma nação falida, uma federação extinta, um conglomerado terrorista – e que espantou o mundo e o próprio governo de Obama, levando a secretária de Estado Hilary Clinton, diante de falta de argumento que caracteriza os primitivos a declarar, frustrada com o trabalho de Amorim e dos governantes turcos em favor da paz, a dizer que não acredita no Irã. Isso depois de ter imposto duas condições e o Irã tê-las aceito no acordo.

O “negócio” para os EUA é o grande “negócio” da guerra, onde envolvem outros países, sobretudo da falida Comunidade Européia – embasbacada com a suntuosidade medieval de um casamento da casa real da “Micro Bretanha” (definição perfeita de Milton Temer) e aqui, Dilma começa a ceder ao canto das sereias tucanas e privatistas, assume parte do programa de José Serra e já conversa nos bastidores sobre a presença – “colaboração” é como chamam – de forças militares do Brasil (no duro mesmo à falta de guardas de trânsito no Haiti, serviços assim) em países da África.

A divisão dos custos da guerra.

Há necessidade de reação a esse espírito autoritário e ao caráter marqueteiro da presidente (com ampla cobertura da mídia privada que apoiou Serra), independente de um outro ponto positivo de seu governo, mas estamos, definitivamente, deixando de ser trem bala, para sermos Maria Fumaça.   

O que Celso Amorim construiu e chama de “crescente influência do Brasil” está se desmoronando e vai acabar em “crescente subserviência do Brasil”, um retrocesso sem tamanho em nossa política externa.

Os laços de integração latino-americana  estão sendo deixados de lado e o delírio do governo Maria Fumaça resfolega na subida de uma montanha sem tamanho que termina num abismo onde os brasileiros terão um preço alto a pagar.

E já vai a VALE entrar na monstruosidade que chamam Belo Monte. Ou no código florestal do deputado do PC do B Aldo Rebelo e dos latifundiários brasileiros em parceria inédita, que chegou a despertar reação em deputados do próprio partido da presidente.

Como está Dilma vai precisar de muita lenha para que a locomotiva que tenta puxar o vagão não volte ao ponto de partida.       
      



   

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Chávez derrapa e capota



Laerte Braga


Não há justificativa para a decisão do governo venezuelano do presidente Hugo Chávez de entregar a autoridades colombianas o jornalista Joaquin Pérez Becerra, preso no aeroporto de Maiquetía pela polícia da Venezuela.

Trata-se de um caso de seqüestro puro e simples e Chávez atendeu a um “pedido pessoal” do presidente da Colômbia. Becerra estava refugiado na Suécia, tem nacionalidade sueca e noutra atitude arbitrária o governo venezuelano impediu o cônsul sueco de visitar o jornalista seqüestrado enquanto esteve preso naquele país.

A informação que o governo colombiano teria enviado “documentos oficiais” ao presidente da Venezuela “comprovando” as ligações de Becerra com as FARCs-EP é ridícula.

É só lembrar o episódio do bombardeio feito por forças colombianas contra um acampamento no Equador onde se encontrava e foi morto o chanceler rebelde Raúl Reyes – 2008 –. À época Álvaro Uribe era o presidente da Colômbia e exibiu um notebook pertencente a Reyes contendo informações que “atestariam” a ligação das FARCs-EP com o narcotráfico.

Uribe recusou-se a permitir uma perícia internacional no referido computador, mas semanas depois peritos de todo o mundo afirmaram que o governo colombiano havia colocado informações falsas ali.

O Departamento anti-drogas dos EUA, ainda no governo do terrorista internacional George Bush, acusou o presidente colombiano Álvaro Uribe de ligações profundas com o narcotráfico em seu país e apontou suas ligações com o mega traficante Pablo Escobar (já falecido). Santos, atual presidente da Colômbia era o ministro da Defesa do governo Uribe.

Num julgamento de paramilitares – organização de extrema direita e controladora do tráfico de drogas na Colômbia – no final do ano passado, desmentiu-se outra versão fantasiosa sobre as ligações das FARCs-EP com o narcotráfico. O traficante brasileiro Fernando Beira-mar foi preso junto a paramilitares. O fato acabou vazando no Brasil numa escorregada do jornal O GLOBO, braço do conglomerado terrorista EUA/ISRAEL TERRORISMO S/A na mídia brasileira.

O tráfico de drogas na Colômbia é monopólio do governo, das forças armadas e das instituições policiais.

Milhares de pessoas inocentes morrem todos os anos na Colômbia vítima desses grupos e o pretexto é sempre “ação da guerrilha”.

É incompreensível a decisão do presidente Hugo Chávez. Joga por terra toda a credibilidade em sua revolução bolivariana. Neste momento os ideais de Simon Bolivar foram esquecidos.

Becerra é um jornalista que pertencia a União Patriótica, partido de esquerda e que foi exterminado pelos governos colombianos na política terrorista implantada ao longo dos últimos anos. Para evitar ser assassinado pelo governo obteve asilo na Suécia, recebeu cidadania sueca e de forma surpreendente foi entregue ao terrorismo de Estado, o do governo colombiano, por um governo que se afirma popular. 

Becerra cumpria um papel importante o de divulgar através de seus trabalhos jornalísticos os crimes cometidos pelo governo da Colômbia (Uribe e Juan Santos) em toda a Europa e esse trabalho criou problemas para o terrorismo de Estado da colônia norte-americana na América do Sul. Várias organizações internacionais de direitos humanos passaram a denunciar a situação e as práticas assassinas dos governos, militares e policiais colombianos contra opositores, a real situação da Colômbia – imersa numa guerra civil – e quem de fato controla o tráfico de drogas.

A situação de Becerra é a mesma de vários jornalistas que vivem e trabalham no país. O governo Chávez repete todo o discurso terrorista oficial da Colômbia e os dados para que fossem forjados os tais “documentos oficiais” estavam, segundo os colombianos, no computador de Raúl Reyes.

Há dois anos atrás o jornalista Fredy Muñoz que trabalhava para a TELESUR  na Colômbia foi acusado de ser “especialista em explosivo das FARCs-EP”. Foi julgado e absolvido, mas mesmo assim acabou saindo do país para evitar que fosse assassinado pelo governo.

No caso de Becerra, a TELESUR, ao contrário de seus objetivos, repete a versão colombiana, jogando por terra todo um trabalho que alcançou respeito e admiração exatamente pela independência.

O Brasil vive situação quase semelhante com o refugiado italiano Cesare Battisti. Manobra do então presidente do STF – SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL – Gilmar Mendes (ligado ao banqueiro Daniel Dantas e a FHC, comprovadamente corrupto) criou condições para que a concessão de refugio a Battisti, ato do ministro da Justiça de então Tarso Genro e depois confirmado pelo presidente Luís Inácio Lula da Silva, seja objeto de novo exame da corte, com riscos de quebra da ordem constitucional.

Sabe que a atual presidente, cada vez mais distante do seu criado, Lula, não vai por a mão nas castanhas quentes e silenciar sobre o assunto.

A atitude de Chávez além de incompreensível significa capitulação pura e simples. Foi um ato covarde, pois o presidente venezuelano sabe o que espera Becerra na Colômbia. Toda a barbárie do regime de Juan Manoel Santos, o principal traficante de drogas no momento em toda a Colômbia.

A revolução bolivariana de Chávez derrapou e capotou numa manobra inconseqüente e inaceitável para a luta popular para a integração dos povos latino-americanos e para a liberdade em seu sentido pleno.

E pior, como afirma a nota do PCB – Partido Comunista Brasileiro – ele não ganha nada à direita e perde à esquerda.

Chávez parece estar absorvendo o deslocamento petista no Brasil – o comando partidário – para o campo da social democracia, tomando o lugar do PSDB e esse fundindo-se ao DEM para deixar o povão de lado e tentar a classe média.

     

quinta-feira, 28 de abril de 2011

O Sacrifício




Fátima An-Najar é uma daquelas avós que carregam toda a dor e o sofrimento da humanidade. Seu nome evoca a filha do profeta Muhammad (Maomé) e o sobrenome a profissão de José, pai de Jesus.

Aos 67 anos de idade despediu-se do mundo explodindo o corpo em protesto contra a ocupação israelense.

Para a mídia foi apenas mais um número a contabilizar; para os palestinos mais uma mártir que partia. Antes dela, os israelenses haviam assassinado seu marido, dois filhos e um dia antes de sua morte, um neto de 17 anos.

O martírio de Fátima foi a culminância de um mês de massacres contra seu povo pelas tropas sionistas. Primeiro o assassinato frio e cruel de 18 mulheres e crianças em suas casas enquanto dormiam. A isso, a mídia ocidental denominou “incidente”. As vítimas não tinham nome, não tinham rosto, não tinham sonhos. Eram apenas números.

E em “outro incidente”, de acordo com a mídia ocidental, suas tropas dispararam contra 50 mulheres palestinas que tentavam proteger 60 refugiados em uma mesquita. Vejam que comportamento mais imoral dessa mídia. Para não criticar os carrascos israelenses, justificam o massacre acusando as 50 mulheres de servir de escudo para proteger 60 “militantes”. Vocês repararam nos números? 50 mulheres e 60 refugiados numa mesquita.

Não falam em 60 mães desesperadas tentando salvar os filhos.

Isso me lembra o jornalismo praticado na época da ditadura. Torturava-se até a morte e depois alegava-se suicídio ou atropelamento... Com o beneplácito dessa mesma mídia. Pergunto: alguma coisa mudou?

Fátima An-Najar, 67 anos, mãe, avó, palestina.
Fátima An-Najar, 67 anos, sacrificou-se em nome da humanidade!

E abaixo você assiste a mais uma manifestação de arrogância de um soldado israelense que dança para humilhar uma jovem palestina manietada.
 
http://www.youtube.com/watch?v=wBoFfWCwBlQ&feature=player_embedded

http://blogdobourdoukan.blogspot.com/

quarta-feira, 27 de abril de 2011

A ironia do SUV com adesivo "Save the Planet"



por Leonardo Sakamoto*
1285 A ironia do SUV com adesivo “Save the Planet”Alguém me explica como uma pessoa tem a pachorra de colocar um adesivo “Save the Planet” em uma SUV? Ou sua variante “adventure cool”, que é usar uma capa para o estepe traseiro com os mesmos dizeres sobre uma imagem de uma jaguatirica ou um papagaio.
Em grandes aglomerados urbanos, como São Paulo, a poluição gerada pelos automóveis é maior do que aquela cuspida por indústrias. E essa categoria de carro (veículo esportivo utilitário, em inglês), beberrona de combustível, e que deveria estar sumindo por questões socioambientais, vende que é uma beleza nas lojas daqui.
À medida que cresce nossa economia, aumenta o desejo da classe média alta de copiar esse modelo (em declínio) do Grande Irmão do Norte, de veículos grandes e potentes. Talvez para mostrar a todo mundo “cheguei lá”, talvez para compensar o tamanho do vazio que espera aqueles que atingem o topo do pódio da sociedade enquanto o restante se segura para não rolar morro abaixo. Será que não dava para usar uma fitinha branca na lapela mostrando a classe social? Seria algo bem bizarro, meio Admirável Mundo Novo, mas ainda assim menos danoso aos demais seres que habitam a polis do que baforadas de fumaça.
“Ah, mas eu abasteço com biodiesel! Sou um guerreiro da nova consciência.” A despeito do fato da mistura oriunda de matriz vegetal/animal (é isso aí, a gordura animal – banha de boi, por exemplo – só perde para a soja no ranking das matérias-primas mais usadas na produção de biodiesel no Brasil) representar apenas 5% da sua composição, sua cadeia produtiva ainda conta com uma série de impactos sociais, ambientais e trabalhistas mal resolvidos que impedem de chamá-lo de combustível limpo. No que pese os esforços da indústria e do governo de propagandear isso lá fora, pelo comércio, e aqui dentro, para aplacar corações e mentes.
O melhor de tudo é que tenho certeza que muitos dos que andam de SUV com um adesivo desses dão bronca na empregada porque esta jogou a latinha de alumínio na cesta de lixo orgânico (mas ligam os 1.536 aparelhos de ar condicionado de casa ao mesmo tempo), brigam com a faxineira por lavar a calçada com mangueira (mas não dispensam o banho de beleza na banheira com bolhas duas vezes por semana), compram móveis de madeira certificada da Indonésia (mas não se perguntam de onde veio a madeira extraída ilegalmente da Amazônia utilizada na construção de seu apartamento de frente para o parque).
Não, não. Não estou pedindo coerência. Afinal, somos humanos e errados por natureza. Mas é estranho, feito o Batmóvel com um adesivo do Coringa.
* Publicado originalmente no Blog do Sakamoto.
(Blog do Sakamoto)

Leia também:
A conferência Rio+20 e suas
polêmicas<http://www.outraspalavras.net/2011/04/26/a-conferencia-rio20-e-suas-polemicas/>

Itamaraty pede paz nos países árabes e critica ataques à Líbia


Brasília, 27 abr (EFE).- O ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, afirmou nesta quarta-feira que os países árabes precisam de "paz e desenvolvimento" e reiterou suas críticas aos ataques da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) contra a Líbia, pois, disse, podem ter efeitos contrários aos desejados.
Patriota participou de uma audiência realizada na Comissão de Relações Exteriores do Senado, na qual abordou diversos aspectos da agenda internacional, com especial ênfase na conflituosa situação provocada pelas revoltas em diversos países árabes.

O ministro indicou que a comunidade internacional deve buscar fórmulas que permitam levar "paz, desenvolvimento e segurança" a essas nações, das quais, segundo ele, que ficaram "excluídas" do processo de globalização e da "prosperidade" levada a outras regiões.

Em relação ao caso particular da Líbia, que é alvo de uma ofensiva militar da Otan autorizada pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas, Patriota considerou que a situação "se voltou mais complexa" desde o início dos bombardeios.

Patriota ressaltou que o Brasil, membro rotativo do Conselho de Segurança, se absteve da votação que autorizou os ataques justamente pelo temor de que eles provocassem um efeito contrário ao desejado, que é a proteção da população civil.

Ele reiterou as críticas do Brasil aos bombardeios que foram lançados por aviões da Otan contra propriedades do líder líbio Muammar Kadafi, que, em sua opinião, estão fora do marco traçado pela resolução do Conselho de Segurança da ONU.

Segundo Patriota, esses ataques poderiam não ser "compatíveis" com as resoluções adotadas pelo Conselho de Segurança, pois vão além do objetivo de "proteger a população civil". EFE

Fonte Yahoo Notícias

Paz nas Escolas




Cristovam Buarque*

O assassinato brutal de 12 crianças em uma escola em Realengo não
afetará o PIB de 2011. Por isso, corremos o risco de um fato tão grave
ser esquecido dentro de pouco tempo, como aconteceu com o assassinato
de seis crianças em Luziânia, Goiás, em 2010. Isso porque ainda
estamos presos à economia e ao imediatismo. Quando ocorre um crime
como o de Realengo, a busca pela segurança prevalece sobre a ideia da
paz. Desde essa tragédia, surgiram várias propostas para evitar a
violência nas escolas: muros, detectores de metal. Mas não são solução
para formar as futuras gerações que governarão o País. Mesmo para
garantir a segurança imediata é preciso ter a perspectiva da paz, no
médio e longo prazo. E para isso, devemos entender melhor o problema
da violência nas escolas.

A sociedade brasileira é violenta, e é difícil imaginar uma escola em
paz cercada pelo tráfico, pelo assassinato de crianças, por lares
violentos. Existe ainda a violência da miséria convivendo com a
riqueza, ainda mais em uma sociedade permissiva e que não pune a
violência que se espalha diariamente.

É preciso lembrar que nos últimos cinco anos foram assassinadas mais
de 10 mil crianças, que muitos outros milhares morreram por falta de
cuidados. E que há uma violência aceita com naturalidade: o vandalismo
na escola, das cadeiras quebradas, dos prédios degradados por atos de
alunos ou pela omissão de governantes; o desrespeito ao professor; o
bullying generalizado. A construção da paz depende de uma mudança
cultural, mas também de leis que estimulem o respeito pela escola e a
punição de todos os crimes: dos assassinos em massa aos vândalos.

Um dos passos é criar no MEC um setor educacional dedicado à
segurança, sob a ótica da paz. Para construir um pacto dentro da sala
de aula, envolvendo professores, alunos, pais e servidores, e proteger
os arredores da escola, usando a capacidade e a competência dos
policiais. A escola passa a ser pacífica por dentro, e protegida de
forma invisível por fora. Projeto nesse sentido está no Senado desde
2008, é o PLS 191.

Isso não basta, pois a violência não existe apenas na escola, afeta
milhões de crianças que não têm um setor público federal que tome
conta delas: uma Agência (Secretaria Presidencial) Nacional de
Proteção à Criança e ao Adolescente. Como já existem para jovens,
afro-descendentes, mulheres, índios. Um Projeto de Lei nesse sentido
foi apresentado ao Senado há quase seis anos. Cinco dias depois da
tragédia de Realengo, a Comissão de Finanças da Câmara dos Deputados
mandou arquivar, porque ele envolvia algum custo. Foi aprovada a
criação de um ministério para cuidar das pequenas e médias empresas,
mas falta dinheiro para cuidar dos pequenos e médios brasileiros.

Também está tramitando no Senado o PLS 518/2009, que propõe concentrar
a ação do MEC na educação de base. Nem é preciso criar um novo
ministério, as universidades podem ser bem cuidadas pelo Ministério de
Ciência e Tecnologia.

Ajudaria a trazer paz às escolas o PLS 480/2007, pelo qual seria falta
de decoro um político eleito proteger seus filhos em escolas privadas,
abandonando as públicas para os filhos dos seus eleitores. Esse também
está engavetado na Comissão de Constituição e Justiça.

Cabe lembrar que a paz na escola só virá se tivermos escolas com
qualidade. Só temos um caminho: criar uma carreira nacional do
magistério básico e um programa federal de qualidade escolar em
horário integral. Projeto para ambos tramita no Senado desde 2008.

Finalmente, é preciso implantar o cartão federal de acompanhamento de
toda criança, desde o nascimento, ou mesmo antes, desde a gestação,
como o MEC iniciou os estudos em 2003.

Depois de assistirmos a tantas mortes, de sabermos que nossas escolas
são depredadas e violentadas diariamente, esperemos que a
monstruosidade cometida em Realengo desperte a população para a
importância de ir além da segurança e construir a paz de que todas as
escolas precisam.

Cristovam Buarque é Professor da Universidade de Brasília e Senador pelo PDT/DF

__._,_.___
|Fonte O Globo

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Conflitos envolvendo a água cresceram 93,3%, aponta estudo da CPT


por Tatiana Félix, da Adital
1256 Conflitos envolvendo a água cresceram 93,3%, aponta estudo da CPTJosé Maria Filho era a maior liderança social da região da Chapada do Apodi, no interior do Ceará. Ele estava presente nas manifestações sociais denunciando as violações dos direitos humanos e, principalmente, a contaminação da água pelo uso indiscriminado de agrotóxicos na região. Por causa disso é que Zé Maria do Tomé, como era conhecido, foi assassinado com 19 tiros em Limoeiro do Norte, quando ia para casa, na Comunidade do Tomé, no dia 21 de abril de 2010.
Conflitos pela água, como este, e centenas de outros casos envolvendo conflitos pela terra e mineração, por exemplo, estão registrados no relatório ‘Conflitos no Campo Brasil 2010′, lançado no dia 19 pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), em Brasília (DF). Há anos que a entidade faz um amplo mapeamento dos conflitos no campo no país.
De acordo com o relatório, os conflitos envolvendo a água foram os que mais chamaram a atenção dentre os casos analisados, já que eles aumentaram 93,3% em relação ao ano anterior. Em 2010, os conflitos pela água totalizaram 87 ocorrências no Brasil, envolvendo 197.210 pessoas, sendo duas vítimas fatais.
O mapeamento da CPT também revela que o número de assassinatos passou de 26 em 2009, para 34 em 2010, registrando um aumento de 30%. O estudo também observou o ‘retorno’, depois de mais de 30 anos, do protagonismo dos posseiros na luta pela terra. O número total de conflitos mapeados pela CPT em 2010 foi de 1.186 casos que envolveram mais de 559 mil pessoas e deixaram um saldo de 34 mortos.
Sobre os conflitos trabalhistas, a CPT destaca o índice de trabalho escravo, que ainda persiste na casa das 200 ocorrências, apesar dos esforços das equipes de fiscalização e dos grupos de resgate.
O relatório mostra que os conflitos de terra quase dobraram no ano passado, em comparação com 2001, quando foram registradas 366 ocorrências. Em 2010, este número saltou para 638 casos. Neste mesmo período, o número de assassinatos se mantém numa média de 32, com exceção do ano de 2003, quando foram registrados 71 assassinatos por conflitos de terra. Naquele ano, mais de 350 mil pessoas estiveram envolvidas nos conflitos em mais de 13.312 hectares de terra, segundo o estudo.
Na análise sobre a violência contra a ocupação e a posse de terra, o relatório da CPT mostra que a região Norte do país continua sendo a mais violenta, apresentando 6.849 casos de crimes de pistolagem, seguida pela Nordeste com 2.557 casos. O Estado do Pará ainda concentra a grande maioria dos casos de pistolagem, com 5.526 ocorrências.
Entre as comunidades mais afetadas por conflitos em 2010, estão as quilombolas, com 79 conflitos. De modo geral, de acordo com o relatório, 8.067 famílias foram despejadas de suas terras em 2010, enquanto 1.216 foram expulsas de suas casas, durante os conflitos.
Sobre os conflitos envolvendo a mineração, o estudo destaca que, atualmente, existem cerca de oito mil áreas de produção mineral no Brasil, e que este número deve aumentar com o novo marco legal da mineração. Em Parauapebas, no Pará, está o local de mais intensa exploração de minério de ferro do mundo. No entorno da mina de Carajás (PA), muitas comunidades rurais estão sendo expulsas de suas casas devido às obras de duplicação do sistema mina-ferrovia-porto da Vale S.A.
Segundo o estudo, as licenças ambientais se tornaram o gargalo no processo de construção de grandes projetos econômicos. Belo Monte é o maior símbolo no Brasil e no mundo, da disputa entre modelos de desenvolvimento e defesa da vida das comunidades locais.
Diante destas realidades, o Pe. Dário Bossi, que escreve sobre mineração no relatório, ressaltou que povoados, assentamentos, comunidades e povos tradicionais são atropelados para garantir os lucros das empresas mineradoras, tornando-se assim “reféns da riqueza de sua própria terra”.
Guilherme Zagallo também comenta que “os impactos sociais e ambientais acabam se tornando mero detalhe, um apêndice sem muita importância”, durante a disputa pelas riquezas naturais. “O lucro é privado, mas os impactos são públicos”, lembra o texto.
Leia o relatório na íntegra aqui
* Publicado originalmente na Adital.
(Adital)

Sumindo, sumindo...Sumiu!




Laerte Braga


É difícil a um estado sobreviver incólume a um conjunto de governadores montados numa soma de incompetência, corrupção e todo um jogo político capaz de transformar uma das mais importantes unidades da Federação num caos que sobrevive por conta do que restou e luta para resgatar todo o esplendor que Estácio de Sá enxergou na primeira vez que chegou ao Rio de Janeiro.

Desde o fim da ditadura o Estado do Rio de Janeiro teve um governador identificado com o epíteto – digamos assim – de Cidade Maravilhosa, que pode ser aplicado ao resultado Guanabara mais Rio de Janeiro, invenção do general Ernesto Geisel. Falo de Leonel Brizola.

No período ditatorial, a exceção de Francisco Negrão de Lima, ainda Guanabara, todo o resto era resto mesmo. Uma espécie de rebotalho de um período sombrio da história do Brasil. E olhe que Faria Lima tinha um handicap. Não metia a mão no bolso de ninguém. Falo da turma do poder, tinha a turma do lado de cá que guardava a sete chaves a beleza da vida (Milton Temer, Max da Costa Santos, Ruben Paiva, Ruben Moreira Lima, muitos, muitos mais).

Moreira Franco, Marcelo de Alencar, Anthony Garotinho, Rosinha Garotinho e agora Sérgio Cabral, de permeio um período de Benedita da Silva.

Correndo por fora todo um aparato de casas no paraíso vendidas por Edir Macedo, sicários e assemelhados.

O BOPE é conseqüência natural disso daí.

Uma excrescência que surgiu nos EUA – tolerância zero – e foi aprimorada por técnicas de barbárie desenvolvidas em Israel e que eletriza multidões. Como está, corre o risco de inaugurar, em breve, estátuas do ex-deputado Sivuca em todas as praças públicas como exemplo a ser seguido. Jair Bolsonaro vai cortar as fitas nos atos de inauguração.

O tenente Wolney de Paulo arvorou-se em governador do Batan, um complexo residencial da cidade do Rio de Janeiro. Controla a funcionária da associação dos moradores que é sua nora e o Centro de Educação Tecnológica através de sua mulher, ambas com salários razoáveis. Mas razoável mesmo, prá lá de razoável é o poder do tenente.

Candidato a deputado estadual pelo PSB sofreu forte e contundente derrota, não permitiu campanha para outros candidatos na região (as ameaças foram garantidas pelas chamadas UPPs – UNIDADES DE POLÍCIA PACIFICADORA) e se declara agora disposto ao “sacrifício” de vir a ser candidato a vereador nas eleições municipais do próximo ano.

Em Minas Gerais, de Belo Horizonte para baixo, é comum as famílias abastadas ou de classe média exportarem seus sociopatas para o Rio de Janeiro. A presunção que uma substancial mesada e a distância resolvem o problema e os inconvenientes criados em suas cidades de origem.

O volume de histéricos e histéricas exportados para o Rio é incalculável. E curiosamente ou são bebuns (inofensivos, alguns até brilhantes) ou são “guerrilheiros” da histeria que toma conta de mineiros que entendem que o mar é um piscinão e sonham com uma vereança representando Ipanema. Tudo com sotaque, puxando no “x”.

Sonho de alguns mineiros nas décadas de 50, 60, 70 e 80 do século passado era Copacabana. Hoje, dada a origem – classes altas e médias – é Ipanema. Muitos e muitas ameaçam querer ser vereadores.

Ari Barroso, o notável compositor, mineiro de Ubá, foi vereador à Câmara Municipal do Rio de Janeiro, ainda capital da República, eleito pela antiga UDN e desistiu de ser candidato à reeleição com o argumento que “é um trem muito chato esse negócio”.

O fato é que o Rio, a despeito de dois extraordinários mandatos de Leonel Brizola, não consegue sobreviver à soma de Moreira Franco (ministro de Dilma), Marcelo Alencar, Benedita da Silva, Anthony e Rosinha Garotinho e agora Sérgio Cabral Filho, o amigo de Luciano Huck (que já manifestou vontade de ser presidente da República para ajudar as pessoas a consertarem seus automóveis antigos e quebrados).

Inveja de Alagoas que produziu Collor de Mello. Ou de São Paulo que gerou FHC.

Mas nada disso, ou esses transformam o Rio num inferno. Pelo contrário. Falo da cidade que abrigou Sérgio Porto, os pernambucanos Antônio Maria, Vinícius de Moraes e Nelson Rodrigues, o gaúcho Leonel Brizola, tantos outros, a cidade sobrevive no espírito e vontade recôndita e explícita de cariocas.

Existe gente como Sílvio Tendler, Ana Helena, que transcendem como se nuvem fossem a toda e qualquer espécie de Sérgio Cabral e do tenente Wolney de Paula.

À época do Ita – “tomei um Ita no norte...” –, Carlos Drumond de Andrade veio de ônibus mesmo e com ele Rubem Braga, Fernando Sabino, a despeito da invasão da mediocridade de hoje, histéricos e histéricas. Braga era capixaba.

E olhe que o conceito definitivo de histéricos e histéricas é ainda incompleto, objeto de debates, variou ao longo dos séculos, mas foi associado, num determinado ponto, ao narcisismo.

O diabo é que Narciso, à época, não transformava a beleza absoluta em copos de chope e quejandos (não confundir com queijo) e nem tinha pretensões inconscientes de integrar o Exército da Salvação tocando trombone em Ipanema.

Não era nada disso, Freud, entre 1998 e 1893 transformou e associou o conceito de histeria à idéia de Charcot, origem traumática, abusos sofridos na infância.

Pode ser entendido como uma Lady Godiva que ao invés de percorrer o vilarejo nua e montada num cavalo como forma de punição, sai carregando bandeiras com uma porção de bolinhos de bacalhau e copos de chope nos gritos de liberdade, mas naquele negócio soldadesco de ter que marchar para não pensar.

Godiva ao contrário.

Kulbrick fala disso, ou mostra isso em DOUTOR FANTÁSTICO, quando a verdadeira mão, a direita, escapa por falta de controle.

O Rio como um todo, para voltar a ser o que Brizola dizia – a caixa de ressonância da vontade do País – precisa urgentemente de união dos cariocas/fluminenses, agregados lúcidos, responsáveis, para reencontrar-se com sua história e sua fantástica beleza para não se resumir a um tenente do BOPE querendo ser vereador enquanto pratica o mais deslavado nepotismo, ou o bando de histéricas/histéricos que acreditam que a verdade está em São Paulo.

E antes que seja tarde.

Eu mesmo há uns vinte anos atrás vi um beija-flor na casa de uns amigos.

Sinal que tem salvação. 

Não pode virar DORIL. A fórmula é laboratórios estrangeiros.

E nem falei de Aécio Neves.
 
Só da tropa rasa.   


Uma data histórica e seus reflexos no Brasil

Por Mário Augusto Jakobskind 
 
Parece que foi ontem. Há 37anos caia uma ditadura fascista em Portugal. Uma revolução conduzida pela oficialidade jovem mandava para o lixo da história a cúpula ditatorial comandada pelo então presidente do Conselho de Ministros, Marcelo Caetano, que acabou vindo para o Brasil, cujos governos da época sempre votavam nas Nações Unidas com o regime colonial português. As exceções ficaram com um breve período de Jânio Quadros e João Goulart. O ditador de plantão, Ernesto Geisel, para limpar a imagem do Brasil na África acabou sendo o primeiro a reconhecer a independência de Angola.

Nestas bandas, a Revolução portuguesa, que tinha figuras de destaque como o Major Otelo Saraiva, era acompanhada com grande interesse, chegando até a provocar otimismo. Chico Buarque apresentava aos brasileiros uma sua composição que dizia, entre outras coisas, que “isso aqui algum dia vai se tornar um imenso Portugal”, o que, para variar, desagradava os detentores do poder de fato, que acabaram censurando a peça Calabar, musicada por ele.
Quando o povo disse não à ditadura
Seis meses depois desse triunfo histórico dos portugueses, o povo brasileiro, em outubro de 1974, votava em peso na oposição dando o recado de que estava farto da ditadura. O General Ernesto Geisel junto com o Coronel Golbery do Couto e Silva iniciava o que se denominava de “abertura lenta e gradual” em que os golpistas de 64 percebendo que o regime se debilitava decidiram comandar uma suposta transição.
Mas no meio de tudo isso, o mesmo general que conduzia a “abertura” promovia uma dura repressão quando ocorreu o assassinato de dirigentes de um partido político clandestino, o PC do B, em São Paulo. Um pouco antes, quase concomitantemente eram assassinados nos porões da ditadura o jornalista Vladimir Herzog e em seguida o operário Manuel Fiel Filho, provocando a exoneração do então comandante do II Exército, General Ednardo Dávila Melo.  
Geisel mais tarde em um de seus depoimentos chegou a justificar a tortura em “certas circunstâncias”. Deve ter aprendido isso com agentes estadunidenses e pouco antes com os franceses, especialistas em torturas na Argélia, que também ensinaram essa prática hedionda por aqui.
Movimento operário se reergue
 E o tempo avançou, o movimento operário se reerguia na região do ABCD e em São Bernardo aparecia um jovem dirigente sindical que começava a fazer história. Luiz Inácio da Silva, também conhecido como Lula, cujo apelido veio a se incorporar oficialmente ao nome. Pouco mais de 20 anos depois, o mesmo torneiro mecânico veio a se eleger Presidente da República, em outubro de 2002. O Brasil mudava e deixava para trás, pelo menos em parte, aqueles tempos de triste memória.
Agora, depois de Lula cumprir um segundo mandato e da eleição da primeira mulher como Presidenta da República, a ex-presa política Dilma Rousseff, ganha força a criação de uma Comissão da Verdade, para que o País vire de uma vez por todas a página nefasta de sua história representada pelos anos que se seguiram a derrubada do Presidente constitucional João Goulart.
Reformas ainda pendentes
Os tempos hoje são outros, bem diferentes daquele período, embora muitas das reformas de base, não levadas adiante, impedidas pelos golpistas de 64, continuem na ordem do dia, como, por exemplo, a agrária. No caso, em março de 1964, antes da derrubada de Jango, ocorria a reforma agrária mais avançada da história do Brasil, fato sempre lembrado por João Pedro Stédile, coordenador do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
Claro, hoje uma reforma agrária de fato seria distinta da daquela época quando foram desapropriadas terras na beira de estradas, num raio de dez quilômetros dos eixos das rodovias e ferrovias federais. Hoje, o latifúndio se incorporou ao agronegócio, que se julga inexpugnável e ganhando até defensores de políticos como o deputado Aldo Rabelo (PC do B) com o seu Código Florestal, bastante badalado pela senadora Kátia Abreu, porta-voz dos ruralistas no Congresso.
Atualmente também está em discussão a revisão de um setor que para alguns é mais difícil de ser mexido do que o agrário. Estamos falando do setor midiático, apologista do esquema neoliberal e cada vez mais adepto do pensamento único. Nos últimos tempos, jornais como a Folha de S. Paulo, O Globo e O Estado de S. Paulo, revistas Veja, Época e Isto É, para ficarmos no eixo Rio–São Paulo não escondem as suas preferências ideológicas e motivações jornalísticas.
Exemplo concreto
Aecio Neves BebadoUm caso concreto mais recente do jornalismo praticado por estes periódicos remete ao incidente protagonizado pelo Senador Aécio Neves, que se recusou a se submeter exame de bafômetro para medir o grau de álcool ingerido e acabou cometendo outra infração por estar dirigindo com carteira vencida. Como o caso vazou, os jornais divulgaram o fato.
Numa tentativa, digamos assim, de amenizar o incidente, o jornalista Jorge Bastos Moreno escreveu quase uma página inteira para dizer que “a política (quase sempre) é feita em torno de um copo”.
Colocou então Aécio Neves em pé de igualdade com os presidentes Fernando Henrique Cardoso, Lula da Silva, políticos como Tancredo Neves e Ulysses Guimarães, além de dirigentes estrangeiros como Bill Clinton e Boris Yeltsin, entre outros, afirmando que eles poderiam ser pegos também numa blitz da lei seca.
Moreno em seu estilo irônico quis fazer humor, mas o texto acabou sendo uma visível tentativa de limpar a barra de Aécio Neves, como se um político se recusando a ser testado no bafômetro fosse uma rotina e não prova de irresponsabilidade. Até porque não está em julgamento se o político xis ou ypslon bebe, mas sim se ele seria pego pelo bafômetro depois de uma noitada alegre. Mas isso o jornalista de O Globo não entrou em consideração.    
Na internet foram produzidas edições fictícias da revista Veja mostrando como seria a capa da semana caso o acontecido com Aécio fosse protagonizado por Lula. No final das contas, embora noticiado, o incidente foi verdadeiramente minimizado, pois afinal, como diriam os editores da mídia de mercado, “esse (político) é bem visto pela casa”.
O exemplo recente serve para ilustrar perfeitamente a tendência de uma publicação de linha conservadora, como O Globo. E se o leitor acompanhar o noticiário, nacional, internacional, da área de economia e outras observará grande manipulação informativa, que de tão primária desabona o jornalismo.
Resistências às mudanças
A resistência a esse tipo de crítica é muito grande e qualquer tentativa de democratização do setor é também rejeitada pelos grandes proprietários dos veículos de comunicação, que apelam até para a Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) * lançar notas oficiais em favor da “liberdade de imprensa”. É entre aspas mesmo, porque na verdade o setor troca liberdade de empresa por liberdade de imprensa. E isso tudo com uma ampla divulgação.
Não é à toa que muitos observadores consideram uma reforma na legislação midiática, no sentido de sua democratização, realmente talvez mais difícil do que até mesmo uma reforma agrária. Mas só que sem reforma nesse setor, o Brasil não poderá ser considerado um país absolutamente democrático.
E, em suma, para se tentar entender melhor os dias atuais, é importante recordar de fatos históricos contemporâneos importantes, como foi o 25 de abril de 1974 em Portugal e até mesmo seus reflexos por aqui. Daí a oportunidade desta reflexão.
(*) entidade que reúne os grande proprietários de veículos de comunicação das Américas e que em praticamente todas as suas reuniões cerra baterias contra governos como o do Presidente venezuelano Hugo Chávez e da argentina Cristina Kirchner, exatamente porque nos dois países a legislação midiática foi modificada e onde os veículos alternativos (à grande mídia) e comunitários tiveram ampla extensão.
Fonte: Rede Democrática

sábado, 23 de abril de 2011

Para Frei Betto, governo é conivente com descaso de empreiteiras


Frade dominicano e ex-assessor da Presidência da República lamenta postura do governo Dilma em relação às obras do PAC, critica virada diplomática em relação ao Irã e avalia o cenário político no Oriente Médio e em Cuba 
 

São Paulo – Conhecido pelo apoio crítico ao atual governo, o escritor Frei Betto não poupa a presidenta Dilma Rousseff de observações nestes primeiros meses de gestão. Lamenta a decisão de apoiar o envio de um relator especial sobre direitos humanos ao Irã e questiona por que não se adota a mesma postura em relação às violações cometidas pelos Estados Unidos.
Assessor de Lula na primeira metade do primeiro mandato, Betto tampouco elogia a prioridade a grandes obras via Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). “O governo sempre foi conivente para com o descaso das empreiteiras com a condição dos trabalhadores, ou seja, as empreiteiras terceirizam o trabalho manual através de gatos”, lamenta em entrevista à Rede Brasil Atual e ao Jornal Brasil Atual.
O autor de “A mosca azul” e “Calendário do poder”, obras nas quais analisa sua passagem pelo Palácio do Planalto e a formação do PT até chegar à Presidência, também vê de forma crítica as reclamações que os ministros de Dilma têm feito da Organização dos Estados Americanos (OEA). Este mês, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), subordinada à OEA, fez um alerta sobre o impacto das obras da hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, o que provocou fortes declarações por parte dos integrantes do alto escalão do governo.
“Se o Brasil está insatisfeito com o que seria uma ingerência da OEA em assuntos internos, siga o exemplo de Cuba: rompa. Agora, se o Brasil continua como signatário e membro da OEA, precisa respeitar as decisões da OEA”, dispara.
Confira:
Como tem visto esses primeiros meses de governo Dilma quanto à proteção dos direitos humanos e à continuidade de um projeto reformista?
O governo Lula foi excepcionalmente positivo, na minha opinião o melhor de nossa história republicana, sobretudo pelo aspecto social e pela política externa, e minha esperança é de que o governo Dilma dê continuidade a essa pauta.
Preocupa-me, até agora, nesses cem dias de governo Dilma, justamente o ponto dos direitos humanos na questão internacional. Ao contrário do que fez o governo Lula, que sempre se recusou a fazer eco às posturas anti-iranianas da Casa Branca, o Brasil do governo Dilma votou em Genebra pela fiscalização dos direitos humanos no Irã, quando muitos países foram contra e muitos se abstiveram. E eu levanto o porquê de ser no Irã, e por que não nos Estados Unidos, que é o maior violador de direitos humanos?
Aliás, poucos dias depois (do voto sobre o Irã) o Departamento de Estado (dos EUA) emitiu uma avaliação sobre vários países e condenando o Brasil porque ainda perdura a tortura nas nossas delegacias, o que é verdade, mas o Itamaraty ficou sumamente irritado e fez uma nota de protesto, o que acho inútil. A pergunta é: por que o governo brasileiro não dá um troco à altura, fazendo um relatório sobre direitos humanos nos Estados Unidos?
Tivemos recentemente duas questões relacionadas a direitos humanos e PAC. Primeiro, Jirau e a revolta dos trabalhadores. Depois, Belo Monte e o pedido da OEA para que se façam mudanças nas condições gerais das obras.
O governo sempre foi conivente com o descaso das empreiteiras, com a condição dos trabalhadores, ou seja, as empreiteiras terceirizam o trabalho manual através de “gatos”, através dos que fazem contratos de trabalho semi-escravo porque isso convém para a economia (de custos) da obra. Então, o governo subsidia essas obras, muitas vezes através do BNDES, com recursos polpudos. E as empresas estão muito mais pensando em margem de lucro que na qualidade da obra e muito menos nas condições de trabalho daqueles que a constroem.
Jirau e Belo Monte são dois alertas. Em Belo Monte houve condenação formal da OEA, para a qual espero que o Brasil dê uma resposta satisfatória. Ou rompa com a OEA. Se o Brasil está insatisfeito com o que seria uma ingerência da OEA em assuntos internos, siga o exemplo de Cuba: rompa. Agora, se o Brasil continua como signatário e membro da OEA, precisa respeitar as decisões da OEA.
No caso de Jirau, o caldo entornou porque as condições absolutamente desumanas daquele conglomerado de trabalhadores sendo tratado sem nenhuma dignidade. E agora o governo resolveu tomar medidas, mas gostaria muito que essas medidas fossem tomadas também com relação às outras obras incluídas no PAC e sobretudo na reforma de aeroportos e na construção de estádios para os dois grandes eventos que o Brasil abrigará em 2014 e em 2016 (Copa do Mundo e Olimpíadas).
Ainda a respeito da OEA, o Brasil tem dado resposta à condenação da Corte Interamericana sobre nossa ditadura?
O governo brasileiro está tomando posições muito ambíguas. Liberou todos os arquivos da Polícia Civil, mas não liberou os das Forças Armadas. A duras penas se aceita que faça uma Comissão da Verdade, mas não se aceita que o crime da tortura, que é humana e internacionalmente imprescritível seja averiguado e, de certa forma, punidos aqueles que sejam identificados – até para mostrar que não é toda a Força Armada que praticou o crime em nome do Estado, mas alguns de seus membros. Isso deveria ser dito às claras e as famílias dos mortos e desaparecidos merecem uma reparação e, sobretudo, uma grande satisfação.
Então, espero que a Comissão da Verdade saia, mas que a gente possa ainda, à luz do que a OEA manifestou, de que a Lei de Anistia é esdrúxula, que se siga o exemplo dos demais países da América Latina onde a apuração dos crimes da ditadura só veio a fortalecer o processo democrático.
No dia 31 de março, vários militares voltaram a defender o golpe de 64...
A presidenta Dilma tomou uma medida extremamente positiva, e lamentavelmente pouco comentada, que foi proibir manifestações formais dentro dos quartéis. Na verdade, o golpe foi em 1º de abril e os milicos têm vergonha de admitir isso, por causa do caráter da data. Várias manifestações, como nos quartéis de Fortaleza, tinham sido programadas, e por ordem da Presidência da República foram vetadas. Tenho certeza de que se dependesse de Jobim ele permitiria.
A respeito do norte da África e do Oriente Médio, que já resultaram na derrubada de antigas ditaduras, podemos dizer que nos países árabes há movimentos revolucionários ou haverá algum outro tipo de desfecho para estes casos?
Não chamaria de revolucionários. Chamaria de evolucionários. Na verdade, são países que vivem sob ditaduras, autocracias, países cujos governos autoritários foram apoiados sempre pelos mesmos países ocidentais que agora ou temem a derrubada dos governantes, como acontece na Síria, ou querem derrubar os governantes, como aconteceu no Egito e agora na Líbia.
Ou seja, aquelas pessoas que estão reagindo, sobretudo jovens, querem se libertar de uma sociedade onde um certo fundamentalismo religioso instituiu uma série de segregações, tabus, preconceitos, e graças à internet e aos novos meios de comunicação, querem se integrar neste mundo globalizado. Acho que há uma carga muito forte de ingenuidade no sentido de que capitalismo e liberdade são sinônimos, mas há um passo adiante no sentido de se livrar de regimes arcaicos, onde as mulheres valem menos que certos animais e onde a racionalidade moderna, que faz a distinção entre religião e política, ainda não se instituiu como forma de pensamento coletivo.
Esta semana, Fidel Castro se retirou em definitivo das funções públicas ao deixar a presidência do Partido Comunista Cubano (PCC), transmitida ao irmão Raúl. Este, por sua vez, prometeu promover reformas econômicas acordes ao processo revolucionário da ilha. Gostaria de pedir que o senhor fizesse uma avaliação das mudanças propostas no recente congresso do partido.
Primeiro, Cuba vive uma situação econômica muito difícil porque é um país que é uma ilha quatro vezes. É uma ilha geográfica, é uma ilha por ser o único país socialista da história do Ocidente, é uma ilha porque perdeu o apoio significativo da União Soviética, e é uma ilha porque sofre o bloqueio dos Estados Unidos, que já dura 50 anos.
Como assegurar a onze milhões de habitantes condições dignas de vida, como faz Cuba, sem que haja similar na América Latina? A Revolução Cubana tem vários defeitos, mas não tem o de não assegurar os mais básicos dos direitos humanos: alimentação, saúde e educação. Isso tem um custo e esse custo foi muito abalado com o desaparecimento da URSS. Cuba perdeu 25% de seu PIB de 1990 a 2006.
Agora em 2008, dois furacões que derrubaram 440 mil casas e afetaram drasticamente a lavoura consumiram 25% do PIB. O principal produto de exportação de Cuba até 2008, que era o níquel, custava 70 mil dólares a tonelada no mercado internacional e hoje vale sete mil dólares. Como diz Raúl Castro, a água já passou acima da boca e está quase tapando o nariz, então é preciso sanar essa situação com medidas econômicas e essas medidas se caracterizam principalmente pela desestatização da atividade laboral, permitindo que os cubanos possam ter pequenas e médias iniciativas privadas, mas dentro do caráter da revolução, ou seja, sem liberar processos de acumulação de propriedade, de progressão rápida de riqueza e tudo nisso.
Espero que essas medidas deem certo, mas o mais importante de tudo é suspender o bloqueio dos Estados Unidos. Todos os governantes da América Latina são favoráveis ao fim deste bloqueio, inclusive a Igreja Católica em Cuba condena este bloqueio, mas lamentavelmente o Obama, de quem se esperava atitudes ao menos mais flexíveis em relação a Cuba, vem adotando as mesmas posturas típicas do Partido Republicano.
Essas mudanças podem abrir brechas para a volta do capitalismo em Cuba?
Não. Primeiro porque os cubanos olham em volta, veem a América Latina e não querem que o futuro de Cuba seja o presente da Guatemala, do Panamá, de Honduras. Você nunca ouviu falar de uma manifestação de rua em Cuba contra o socialismo. As pessoas que estavam insatisfeitas já deixaram o país há muitos anos. Evidente que há sempre alguém que tem uma cabeça muito capitalista e gostaria de viver em um país capitalista, mas o grosso da população é beneficiário das conquistas da revolução.
Várias vezes, conversando com cubanos que fazem serviços bem simples, como faxineira de hotel, motorista de táxi, guarda de rua, e eles lembram que, se não fosse a revolução, os filhos deles não chegariam à faculdade, não teriam como se tratar de doenças, seriam analfabetos, a filha poderia ser prostituta, o filho poderia estar envolvido no tráfico de drogas. E essas coisas, felizmente, não existem em Cuba, ou se existem são num número tão reduzido que não chega a representar um problema social.
Como vê a renúncia de Fidel Castro ao cargo no partido?
É esperado, na medida em que está adoentado, recolhido em sua casa. Não faria sentido continuar nesse cargo. Cuba tem uma nova geração preparada para assumir o governo, mas não adianta agora perguntar quem, porque a mídia só foca agora quem está em proeminência. Eu, que conheço intimamente o processo cubano, sei da qualidade de vários dirigentes para assumir o governo e dar continuidade e aprimoramento a esse processo socialista.

Rio inaugura polêmico aterro sanitário sobre aquífero


Por: Vladimir Platonow, da Agência Brasil

Rio de Janeiro - A prefeitura do Rio já deu início (desde a quarta-feria, 20) à descarga de lixo no Centro de Tratamento de Resíduos (CTR) em Seropédica, município da região metropolitana onde está o Aquífero Piranema, reserva de água subterrânea com capacidade de abastecer a população carioca em caso de necessidade.
A primeira carga de lixo foi de três carretas, cada uma carregada com 30 toneladas. Mas o planejamento é despejar no local mil toneladas diárias pelos próximos meses, até atingir o total de 6 mil toneladas produzidas pelo município do Rio. O objetivo é que Seropédica absorva, até o início do próximo ano, os resíduos que eram levados para o Aterro de Gramacho, em Duque de Caxias, à beira da Baía de Guanabara, e que será finalmente fechado.
A prefeitura do Rio escolheu Seropédica depois de ver barrada sua intenção de levar o lixo urbano para o bairro de Paciência, na zona oeste, por pressões dos moradores, às vésperas da eleição municipal de 2008. O novo aterro será administrado de forma privada pela empresa Ciclus, que receberá pelo trabalho e também poderá explorar a geração de energia elétrica, por meio de uma usina que usará o biogás da decomposição do lixo.
O secretário de Conservação e Serviços Públicos do Rio, Carlos Roberto Osório, defendeu a operação do CTR e disse que o maior benefício será o fechamento definitivo de Gramacho.
"O Rio de Janeiro está pagando uma grande dívida ambiental que tínhamos na região metropolitana. Com o início das operações do CTR de Seropédica, que é o mais moderno do Brasil, nós iniciamos o fechamento do aterro de Gramacho. O Rio sai de uma situação de grande fragilidade ambiental para uma situação de vanguarda e modernidade no tratamento dos resíduos sólidos da nossa cidade", disse Osório.
Ele sustentou que não haverá risco de contaminação do Aquífero Piranema, como apontam ambientalistas e especialistas da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ).
Entre outras alegações, apontou que haverá três camadas impermeabilizantes entre os detritos e o solo, além de sensores que darão o alerta em caso de vazamento.
"Isso [a contaminação do aquífero] não é possível. Esses ambientalistas são poucas pessoas que - por motivos que não conhecemos - lutam contra evidências científicas. O processo de licenciamento do CTR de Seropédica foi o mais rigoroso possível. Temos equipamentos que garantem segurança máxima na colocação dos resíduos sólidos lá", garantiu Osório.

Riscos

Entre os críticos da instalação do depósito, está a professora da Universidade Federal Fluminense (UFF), Sirlei de Oliveira, doutora em geologia e integrante do Conselho do Meio Ambiente de Seropédica. "Eu e os demais pesquisadores da UFRRJ somos absolutamente contra, devido a área que foi escolhida, que é a mais inadequada possível. O solo onde eles estão colocando o lixo é composto de areia. Por mais que falem em fazer camadas de proteção, não será suficiente. Em algum momento, podemos ter um comprometimento muito sério do corpo d´água que está abaixo, o Aquífero Piranema", alertou a geóloga.
Ela discorda da forma como está sendo tratado o aquífero, que representa uma reserva estratégica em caso de acidente com o principal fornecedor de água para a cidade do Rio de Janeiro, o Rio Guandu, afluente do rio Paraíba.
"Hoje o mundo todo está preocupado com a quantidade de água doce que temos à disposição num futuro próximo. Este aqufero é suficiente para abastecer o Rio de Janeiro por mais de um mês, se houver qualquer tipo de contaminação no principal corpo hídrico, que é o Guandu", advertiu Sirlei.
Para a geóloga, o agravante foi a escolha do local, que é justamente onde acontece a recarga de água, próximo a uma serra, que funciona como uma grande calha para as chuvas, que em seguida se infiltram no solo, garantindo novo suprimento de água.
Já o ambientalista Mário Moscateli, que tem se dedicado à proteção do entorno da Baía de Guanabara, promovendo reflorestamentos com espécies nativas, também critica a iniciativa, mas de forma mais branda. Ele considera que a principal vantagem será a possibilidade de se evitar um desastre maior, um vazamento em grandes proporções do Aterro de Gramacho para o mar. Mesmo assim, Moscateli diz que é preciso haver transparência na administração do CTR, com a participação da sociedade no acesso às informações.
"Na medida em que todas as normas técnicas sejam devidamente respeitadas, não vejo grandes problemas para este novo local que receberá os resíduos sólidos. O que precisa ser exigido é que todas as normas, as técnicas e a legislação sejam permanentemente fiscalizadas pelos órgãos ambientais, pelas universidades e pelo Ministério Público. Porque muitas vezes a coisa começa direito e desanda em um determinado momento", salientou Moscateli.