segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Avanço da comunicação pública


por Mario Osava, da IPS
617 Avanço da comunicação públicaAssunção, Paraguai, 31/10/2011 – Os meios de comunicação públicos crescem na América Latina com novos conceitos, acentuando sua independência do Estado e do setor privado, afirmaram jornalistas, acadêmicos e funcionários reunidos na capital Paraguai. “A comunicação pública e do governo precisam ir por linhas separadas”, destacou o ministro da Comunicação do Paraguai, Augusto dos Santos, ao falar no Seminário Internacional “Mídia Pública e Sociedade: a Experiência Global e o Caminho Latino-Americano”, realizado no dia 26. Autonomia, compromisso com a cidadania e “ouvir todos os setores” são condições necessárias para a primeira, disse Santos.
O Paraguai, que recebeu o seminário no contexto da XXI Cúpula Ibero-Americana, realizada nos dias 28 e 29, em Assunção, inaugurou em agosto sua primeira rede pública de televisão, ainda com transmissões experimentais. Já no Equador os meios de comunicação públicos registraram um rápido avanço impulsionado pela Constituição aprovada em 2008, que gerou “a disputa do relato” com grupos privados que dominavam a comunicação social no país, segundo o subdiretor do jornal equatoriano El Telégrafo, Orlando Pérez. El Telégrafo, Equador TV e Rádio Pública logo aderiram à carta magna que, entre outras regras, impede a aquisição de veículos pelos banqueiros, que antes controlavam boa parte do setor, destacou.
Depois, “diversificaram-se as vozes e os conteúdos. As 14 nações indígenas existentes no Equador conquistaram suas frequências de rádio, inauguraram transmissões em suas próprias línguas e formaram jornalistas”, disse Pérez. Os meios de comunicação públicos de alcance nacional e as rádios comunitárias, às quais se somaram “tribos juvenis urbanas”, despertaram “uma reação sem precedentes” dos grupos privados tradicionais, que perderam participação no “mix de publicidade” e na audiência, ressaltou. Pérez acrescentou que a circulação do El Telégrafo foi boicotada pelo setor privado, com exemplares retirados das bancas.
O Peru, por outro lado, chega com atraso ao movimento que vive a América Latina desde a década passada. Seus meios de comunicação foram “desmantelados, reduzidos a nada” pelo segundo governo de Alan García (2006-2011) e agora busca reconstruí-los com uma visão pública e de inclusão social, informou a atual diretora de Comunicação, Blanca Rosales. “Meu escritório tinha apenas duas pessoas”, e eram administrativas. A Rádio Nacional não cobria nem mesmo a capital Lima e a emissora de TV sobrevivia com um orçamento insignificante, disse Rosales. Espera-se que a situação mude com a chegada ao poder do esquerdista Ollanta Humala, que “não era o favorito dos meios de comunicação privados”, recordou.
No Brasil já havia vários veículos estatais, incluindo 22 emissoras de televisão estaduais, nove rádios e a TV Brasil. Após um longo processo de debates, em 2007 foi criada a Empresa Brasil de Comunicação (EBC) para administrar a mídia pública. Por outro lado, existe a NBR, emissora de televisão claramente estatal, que informa sobre as políticas do governo. Porém, as duas últimas administrações, embora muito populares, nada puderam fazer para mudar as comunicações no Brasil, dominadas por grupos privados, devido à “correlação de forças” e ao escasso apoio social para implantar, por exemplo, algum sistema de regulação das emissoras de TV, admitiu Carlos Tibúrcio, assessor da Presidência.
“A sociedade brasileira discute pouco sobre os meios de comunicação” e os empresários do setor reagem a qualquer proposta de regulação ou alteração, como se violassem seus “direitos adquiridos”, explicou Tibúrcio. Contudo, pedem intervenção estatal agora que as operadoras telefônicas pretendem entrar na produção de conteúdo para televisão, acrescentou. Tibúrcio afirmou que a mídia pública deveria receber mais recursos das autoridades. Diante “do poder concentrado dos meios de comunicação privados”, o Estado tem de “tratar de forma desigual” os diferentes sistemas para estabelecer algum equilíbrio, afirmou.
Os recursos financeiros têm que vir do orçamento nacional, isto é, dos impostos pagos pela população, afirmou, por sua vez, Ivanir Bortot, editor-chefe da Agência Brasil, administrada pela EBC. A TV Brasil nasceu com vocação também internacional: seu sinal chega a 69 países. Porém, não alcança todo o território nacional, como locais isolados e pouco povoados que jamais interessariam aos meios de comunicação privados.
Chegar a todo o país é uma das três condições que, segundo o especialista argentino Martin Becerra, compõem o caráter público de uma mídia. As outras são a participação social no controle e na programação, e uma sustentabilidade que garanta sua permanência, ao contrário de órgãos estatais que podem desaparecer quando muda o governo.
Fazer-se público é um processo, exige capacitação dos jornalistas e condições de “independência e pluralidade”, dois conceitos repetidos por diferentes oradores no seminário promovido pela Secretaria de Informação e Comunicação para o Desenvolvimento, do governo paraguaio, junto com o Banco Mundial, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento e a agência Inter Press Service (IPS).
Como modelos de televisão pública de outros continentes apresentaram-se a NHK, do Japão, a britânica BBC e a Televisão Espanhola (TVE), campeã de audiência em seu país. Outros veículos internacionais, com Telesur, fundado em 2005 por Venezuela, Argentina, Cuba e Uruguai, apresentaram-se como exemplos no seminário de Assunção, que continuou o debate iniciado em um encontro em junho em Montevidéu.
Nove agências nacionais, incluindo a Venezuelana de Notícias (AVN), a cubana Prensa Latina e a Notimex, formaram em junho a União Latino-Americana de Agências de Notícias (Ulan), buscando sinergia para se fortalecer no campo jornalístico, destacou Daniel Giarone, gerente de Desenvolvimento Internacional da argentina Telam. Também foi destacado o papel exercido pelas rádios públicas e comunitárias, como a Paraguai Rádio Viva e a boliviana Rádio Pio 12, além de iniciativas como a Associação Latino-Americana de Educação Radiofônica e a Associação Mundial de Rádios Comunitárias. Envolverde/IPS

Fonte: Site Envolverve/IPS

A voz de Lula e outras vozes

O ex-presidente brasileiro (2003-2010) não é só o líder do maior partido de esquerda do mundo, o Partido dos Trabalhadores, e uma das figuras mais carismáticas do planeta. Parte de sua militância, antes e agora, desde que começou sua carreira sindical nos anos 70 até seu giro pela Europa para pedir uma solução política para a crise, consiste em convencer e convencer. Com fatos, mas também falando com sua voz rouca para enunciar argumentos simples e emocionar. O artigo é de Martín Granovsky.

Era de manhã e caía uma chuva tropical quando o moderador Sergio Bertoni disse: “Queremos dar-lhes a notícia de que o presidente Lula tem câncer”. Não havia maiores informações. Fez-se um silêncio denso entre os 468 participantes do Congresso Mundial de Blogueiros, em Foz do Iguaçu. Passou menos de um minuto em meio ao painel “Experiências na América Latina” para se conseguir mais dados (era câncer de laringe e Lula já estava internado no Hospital Sírio Libanês de São Paulo) e tuitar: “Uma desgraça. Lula, dirigente popular e pedagógico, tem câncer de laringe”.

O ex-presidente brasileiro (2003-2010) não é só o líder do maior partido de esquerda do mundo, o Partido dos Trabalhadores, e uma das figuras mais carismáticas do planeta. Parte de sua militância, antes e agora, desde que começou sua carreira sindical nos anos 70 até seu giro pela Europa para pedir uma solução política para a crise, consiste em convencer e convencer. Com fatos, mas também falando com sua voz rouca para enunciar argumentos simples e emocionar. “Que problema”, disse alguém no twitter desde a Argentina. “O mesmo aconteceu com Castelli, orador da Revolução”, escreveu @raulcaminos. Castelli teve câncer de garganta.

O Encontro Internacional de Blogueiros, impulsionado por Joaquim Palhares, o inquieto editor do site de esquerda Carta Maior, com mais de 60 mil leitores cadastrados com nome e sobrenome, tratou de vozes.

Entre os 468 participantes, 250 eram de Foz e 218 de fora. Vieram de 17 estados do Brasil e de 23 países distintos, entre eles a Argentina, representada por Damián Loreti, que integrou a equipe que redigiu a Ley de Medios, o pesquisador Martín Becerra e outro Martín, que assina esta nota.

O Congresso emitiu um documento final reivindicando a liberdade de expressão, repudiando qualquer tipo de censura e criticando os monopólios midiáticos. Participou do encontro Ignacio Ramonet, diretor do Le Monde Diplomatique em espanhol, sempre preocupado em pedir uma atitude aberta ante às mudanças tecnológicas envolvendo o jornalismo e enfatizar que as novidades não devem supor uma queda da qualidade profissional nem um cataclismo.

Os detalhes da experiência argentina despertaram muito interesse. A Ley de Medios poderia ser copiada no Brasil? Diplomático, Loreti disse que não se sentia autorizado para dizer o que outro país deve fazer, mas lembrou que, na elaboração da lei argentina, foram fundamentais “a participação popular, a vocação política e a decisão de basear-se em princípios dos direitos humanos” vigentes na América e no mundo. “Mesmo que a mão invisível do mercado alcançasse algum âmbito da comunicação, é certo que não seria suficiente para garantir a pluralidade nos meios de comunicação”, disse após esclarecer que a legislação argentina não regula conteúdos nem tem jurisdição sobre a imprensa escrita.

Para Loreti, especialista em Direito à Informação, “historicamente os meios de comunicação não são os oradores, mas sim o fórum público”.

Blanca Josales, diretora de comunicação do Peru, disse que para o governo de Ollanta Humala “a comunicação é um direito vinculado com a inclusão social”. Além disso, destacou que “o direito à informação é uma política pública”.

Ahmed Bahgat, do Egito, explicou um cyberativista não é o mesmo que um blogueiro. Ele contou que, durante as revoltas no Cairo, tiveram que driblar a divisão da polícia política encarregada da guerra eletrônica, que chegou a internar um blogueiro em uma instituição de saúde mental. Bahgat narrou que, enquanto enganavam a vigilância deviam construir redes de confiança. “Nós prestávamos atenção em quem estava trabalhando na rua e quando víamos que sua informação era séria nos conectávamos para trocar dados”, relatou. Terminaram desenhando círculos que serviam para checar a informação. Como uma redação virtual, mas nas praças e nos bairros das principais cidades do Egito.

Jesse Freeston mostrou um impactante vídeo sobre Honduras, onde um colaborador de um dirigente do presidente Porfirio Lobo se aproximava e, apontando para um periodista, dizia: “Faça com que o matem”. Freeston disse que, na América Latina, Honduras tinha o maior volume de jornalistas assassinados. Um dos ameaçados destacava no vídeo que tornar-se conhecido internacionalmente era uma das principais formas de proteção.

O autor do vídeo citou o encarregado da embaixada dos EUA na Guatemala, Hugo Llorens. É o mesmo diplomata que substituiu o embaixador Lino Gutiérrez na Argentina. Gutiérrez e outros membros do Departamento do Estado viram interrompidas suas carreiras depois que a Chancelaria dos EUA iniciou uma investigação interna por supostas irregularidades. O Página/12 informou em 2005 sobre o papel de Gutiérrez e sua equipe na teia de relações entre a empresa Cogent, Ciccone e o empresário Mario Montoto. É provável que Llorens tenham um guarda-chuva de proteção maior que o resto de seus colegas, porque segue na carreira.

O espanhol Pascual Serrano pediu para que não se sinta “um êxtase místico pelas redes”, ainda que “seria um suicídio renunciar aos artefatos da tecnologia”. Ao falar dos indignados disse que “a rua e o acampamento sozinhos, sem partidos, sem política, não servem” e defendeu que “a organização segue sendo importante como foi durante toda a vida, com pessoas que se juntam cara a cara e discutem”, porque “o ativismo virtual só consegue melhoras virtuais e não há possibilidade de mudança sem uma construção coletiva”.

Na mesma linha, Becerra disse que “é arriscado acreditar que as redes sociais medem o humor popular” e também que “pode haver um risco de endogamia, porque se reúne gente que pensa de maneira bastante parecida”.

Andrés Thomas Conteris, fundador nos EUA de Democracy Now em espanhol, ressaltou a “perspectiva das histórias populares como uma tarefa a realizar”. Ao comentar a crise econômica dos EUA deu um dado: enquanto outras crises que envolveram escândalos econômicos chegaram a envolver mil investigadores do FBI, “desta vez há só 15”. E um outro: as dívidas dos estudantes pelos créditos para seus estudos representam uma soma superior à dívida de cartões de créditos. Às 14h10min, um dos organizadores atualizou a informação. Lula estava sob controle médico. Aplausos.

Tradução: Marco Aurélio Weissheimer

Fonte: Carta Maior

Jakobskind lança livro sobre a Líbia



Líbia: Barrados na fronteira, de autoria do jornalista Mário Augusto Jakobskind, será lançado no próximo dia 11 de novembro, sexta-feira, a partir das 18h30 na Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Rua Araújo Porto Alegre, 71, 7º andar. Antes da noite de autógrafos, haverá debate sobre o papel da mídia e o que ocorreu na Líbia nos últimos meses de conflitos. Está confirmada a presença do deputado federal Protógenes Queiroz (PCdoB-SP), um dos integrantes da frustrada viagem da delegação brasileira, que tinha como objetivo preparar um relatório para a ONU sobre a invasão daquele país pelas forças da OTAN. O livro é mais uma edição da BOOKLINK (www.booklink.com.br), e conta com o apoio da ABI.

Além de analisar os acontecimentos naquele país do Norte da África, o autor mostra como os meios de comunicação manipularam fatos com a edição de imagens e textos que tiveram o objetivo de convencer a opinião pública sobre a “missão humanitária” exercida pelos bombardeios da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), fator determinante para a definição de um dos lados da disputa entre adeptos e opositores do regime líbio, capitaneado por Muammar Kadhafi.

O presidente da ABI, Maurício Azêdo, no texto de apresentação, assim se refere sobre o lançamento: “Com extremado senso de oportunidade jornalística, já demonstrado em outros trabalhos publicados pela mesma editora, Mário Augusto Jakobskind nos oferece neste seu mais novo livro não apenas o relato episódico de relevante acontecimento histórico, mas um amplo e circunstanciado painel da tragédia que se abateu sobre a Líbia e seu povo após a união de poderosas forças do Ocidente – Estados Unidos, Grã-Bretanha e França – para a derrubada de um dirigente nacional, Muammar Kadhafi, que durante mais de quatro décadas foi protagonista de destacados momentos da vida internacional.”

O autor, experiente repórter, com passagens por diversas redações, também fez parte da delegação brasileira à Líbia, que ficou barrada na fronteira da Tunísia e a Líbia. E atualmente é conselheiro da ABI e o representante da entidade junto à EBC (Empresa Brasileira de Comunicação). Dois dos seus livros também foram publicados com o selo da BOOKLINK: Parla! e Cuba: Apesar do bloqueio.  



domingo, 30 de outubro de 2011

Carta de Foz do Iguaçu

 

 Encontro Mundial de Blogueiros.

 


O 1º Encontro Mundial de Blogueiros, realizado em Foz do Iguaçu (Paraná, Brasil), nos dias 27, 28 e 29 de outubro, confirmou a força crescente das chamadas novas mídias, com seus sítios, blogs e redes sociais. Com a presença de 468 ativistas digitais, jornalistas, acadêmicos e estudantes, de 23 países e 17 estados brasileiros, o evento serviu como uma rica troca de experiências e evidenciou que as novas mídias podem ser um instrumento essencial para o fortalecimento e aperfeiçoamento da democracia.
Como principais consensos do encontro – que buscou pontos de unidade, mas preservando e valorizando a diversidade –, os participantes reafirmaram como prioridades:
- A luta pela liberdade de expressão, que não se confunde com a liberdade propalada pelos monopólios midiáticos, que castram a pluralidade informativa. O direito humano à comunicação é hoje uma questão estratégica;
- A luta contra qualquer tipo de censura ou perseguição política dos poderes públicos e das corporações do setor. Neste sentido, os participantes condenam o processo de judicialização da censura e se solidarizam com os atingidos. Na atualidade, o WikiLeaks é um caso exemplar da perseguição imposta pelo governo dos EUA e pelas corporações financeiras e empresariais;
- A luta por novos marcos regulatórios da comunicação, que incentivem os meios públicos e comunitários; impulsionem a diversidade e os veículos alternativos; coíbam os monopólios, a propriedade cruzada e o uso indevido de concessões públicas; e garantam o acesso da sociedade à comunicação democrática e plural. Com estes mesmos objetivos, os Estados nacionais devem ter o papel indutor com suas políticas públicas.
- A luta pelo acesso universal à banda larga de qualidade. A internet é estratégica para o desenvolvimento econômico, para enfrentar os problemas sociais e para a democratização da informação. 
O Estado deve garantir a universalização deste direito. A internet não pode ficar ao sabor dos monopólios privados.
- A luta contra qualquer tentativa de cerceamento e censura na internet. Pela neutralidade na rede e pelo incentivo aos telecentros e outras mecanismos de inclusão digital. Pelo desenvolvimento independente de tecnologias de informação e incentivo ao software livre. Contra qualquer restrição no acesso à internet, como os impostos hoje pelos EUA  no seu processo de bloqueio à Cuba.
Com o objetivo de aprofundar estas reflexões, reforçar o intercâmbio de experiências e fortalecer as novas mídias sociais, os participantes também aprovaram a realização do II Encontro Mundial de Blogueiros, em novembro de 2012, na cidade de Foz do Iguaçu. Para isso, foi constituída uma comissão internacional para enraizar ainda mais este movimento, preservando sua diversidade, e para organizar o próximo encontro.

Fonte: Blogueiros Progressistas do Estado de São Paulo (Esmaeel)

sábado, 29 de outubro de 2011

A Islândia põe os seus banqueiros na prisão


Escrito por  Claudi Pérez

Islandia
“A primeira vítima da crise financeira constitui-se como uma valente tentativa de pedir responsabilidades”. Claudi Pérez (El País) conta neste artigo a história da ascensão e da queda da economia islandesa.

A Interpol emitiu um mandado de busca em nome de Sigurdur Einarsson, presidente executivo de um dos maiores bancos da Islândia, o Kaupthing, que acabou nacionalizado quando da crise de 2008.
Procura-se. Homem, 48 anos, 1,80 metros, 114 quilos. Calvo, olhos azuis. A Interpol acompanha esta descrição de uma foto na qual aparece um tipo bem barbeado enfiado num desses fatos escuros de 2000 euros e enfeitado com um impecável nó de gravata. Vê-se à légua que se trata de um banqueiro: este não é um desses cartazes do oeste selvagem. A delinquência mudou muito com a globalização financeira. E contudo esta história tem contornos de western de Sam Peckinpah ambientado para o Árctico. Isto é a Islândia, o lugar onde os bancos vão à ruína e os seus dirigentes podem ir para a cadeia sem que o céu se abata sobre as nossas cabeças; a ilha onde apenas meio milhar de pessoas armadas com perigosos tachos podem derrubar um governo.
Isto é a Islândia, o pedaço de gelo e rocha vulcânica que em tempos foi o país mais feliz do mundo (assim, tal como consta) e onde agora os taxistas lançam os mesmos olhares furibundos que em todas as partes quando se lhes pergunta se estão mais chateados com os banqueiros ou com os políticos. Enfim, Isto é a Islândia: paraíso sobrenatural, reza o cartaz que se avista do avião, mesmo antes de desembarcar.
O tipo da foto chama-se Sigurdur Einarsson. Era o presidente executivo dum dos grandes bancos da Islândia e o mais temerário de todos, Kaupthing (literalmente, "a praça do mercado"; os islandeses têm um estranho sentido de humor, para além duma língua milenar e impenetrável). Einarsson já não está na lista da Interpol. Foi detido há uns dias na sua mansão de Londres. E é um dos protagonistas do livro mais lido na Islândia: nove volumes e 2400 páginas para uma espécie de saga delirante sobre os desmandes que a indústria financeira pode chegar a perpetrar quando está totalmente fora de controlo.
Nove volumes: praticamente episódios nacionais em que se demonstra que nada disso foi um acidente. A Islândia foi saqueada por cerca de 20 ou 30 pessoas. Uma dezena de banqueiros, uns poucos empresários e um punhado de políticos formaram um grupo selvagem que levou o país inteiro à ruína: 10 dos 63 parlamentares islandeses, incluindo os dois líderes do partido que governou quase ininterruptamente desde 1944, tinham empréstimos pessoais concedidos por um valor de quase 10 milhões de euros por cabeça. Está por demonstrar que isso seja delito (embora pareça que parte desse dinheiro servia para comprar acções dos próprios bancos: para fazer inchar as cotações), mas pelo menos é um escândalo enorme.
A Islândia é uma excepção, uma singularidade; uma raridade. E não só por deixar os seus bancos ir à falência e perseguir os banqueiros. A ilha é uma paisagem lunar com apenas 320 000 habitantes a meio caminho entre a Europa, os EUA e o círculo polar, com um clima e uma geografia extremos, com uma das tradições democráticas mais antigas da Europa e, último tópico, com uma gente de indomável carácter e uma forma de ser e fazer do mais peculiar. Um lugar onde um desses taxistas furibundos, depois de deixar para trás a capital, Reikiavik, se mete por uma língua de terra rodeada de água e deixa o jornalista ao pé da distinta residência presidencial, com o mesmíssimo presidente esperando na soleira da porta: qualquer um pode aproximar-se sem problemas, não há medidas de segurança, nem sequer um polícia. Só o pormenor exótico duma enorme pele de urso polar no alto duma escadaria tira do pasmo quem numa primeira entrevista com um presidente dum país dá com um mandatário - Ólagur Grímsson, que considera "uma loucura" que os seus concidadãos "tenham de pagar a factura da banca sem serem consultados".
E do presidente ao cidadão de pé-no-chão: da particularidade à categoria. Arnar Arinbjarnarsson é capaz de resumir o apocalipse da Islândia com surpreendente impavidez, à frente dum fumegante capuchino no central Café Paris, a dois passos do Althing, o Parlamento. Arnar tem 33 anos e estudou engenharia na universidade, mas, ao acabar nem sequer lhe passou pela cabeça desenhar pontes: um dos bancos contratou-o, apesar de não ter formação financeira. "A banca estava a experimentar um crescimento explosivo, e para um engenheiro é relativamente simples aprender matemática financeira, sobretudo se o ordenado for estratosférico", alega.
A Islândia costumava ser o país mais pobre da Europa nos princípios do século XX. Nos anos oitenta, o governo privatizou a pesca: dividiu-a em quotas e fez uns quantos pescadores milionários. A partir daí, sob o influxo de Ronald Reagan e Margaret Thatcher, o país converteu-se na quintessência do modelo liberal, com uma política económica de baixos impostos, privatizações, desregulamentações e além do mais: a sombra de Milton Friedman, que viajou durante essa época para Reikiavik, é alargada. Aquilo funcionou. O rendimento per capita situou-se entre os mais altos do mundo, o desemprego estabilizou em 1% e o país investiu em energia verde, unidades industriais de alumínio e tecnologia. O cúmulo deu-se com o novo século: o Estado privatizou a banca e os banqueiros iniciaram uma corrida desaforada pela expansão dentro e fora do país, ajudados pelas mãos deixadas livres com a falta de regulamentação e com taxas de juro à volta de 15% que atraíam as poupanças dos dentistas austríacos, dos reformados alemães e dos comerciantes holandeses. Uma economia sã, assente em sólidas bases, converteu-se numa mesa de black jack. Nem sequer faltou uma campanha nacionalista a favor da supremacia racial da casta empresarial, o que talvez demonstre como é perigoso meter esse tipo de tontarias na cabeça das pessoas, seja "as casas nunca baixam de preço" ou "os islandeses controlam melhor o risco pelo seu passado viking".
A festa descontrolou-se: os activos dos bancos chegaram a multiplicar o PIB por 12. Apenas a Irlanda, outro exemplo de modelo liberal, se aproxima dessas cifras. Até que da noite para o dia - com o colapso da Lehman Brothers e o estouro financeiro mundial - tudo se desmoronou, no que foi "o choque mais brutal e fulminante da crise internacional", assegura Jon Danielsson, da London School of Economics.
Mas voltemos a Arnar e ao seu relato: "a banca começou a desbaratar dinheiro em farras com champanhe e estrelas de rock; comprou ou ajudou a comprar meia Oxford Street, vários clubes de futebol da liga inglesa, bancos na Dinamarca, empresas por toda a Escandinávia: tudo o que estivesse à venda e tudo a crédito". Os executivos concediam créditos milionários a si mesmos, a familiares, a amigos e aos políticos próximos, frequentemente sem garantias. A Bolsa multiplicou o seu valor por nove entre 2003 e 2007. Os preços dos andares triplicaram. "Os bancos levantaram um obsceno castelo de cartas que levou tudo à frente", conta Arnar, que conserva o seu emprego, mas com metade do ordenado. Acaba de comprar um barco a meias com o pai com a intenção de mudar de vida: quer dedicar-se à pesca.
A fábula duma ilha de pescadores que se converteu num país de banqueiros tem uma moral: "Talvez seja a hora de voltar ao começo", reflecte o engenheiro. "Talvez todo esse dinheiro e esse talento que a banca absorve quando cresce demasiado não só se converta num foco de instabilidade, como que subtraia recursos a outros sectores e possa chegar a ser nocivo ao impedir que uma economia desenvolva todo o seu potencial", diz o presidente Grímsson.
A magnitude da catástrofe foi espectacular. A inflação descontrolou-se, a coroa veio por ali abaixo, o desemprego cresceu a toda a velocidade, o PIB caiu 15%, os bancos perderam uns 100 mil milhões de dólares (há-de passar muito tempo até haver números definitivos) e os islandeses continuaram a ser ricos, mais ou menos: metade do que eram antes. De quem foi a culpa? Dos bancos e dos banqueiros, naturalmente. Dos seus excessos, daquele forrobodó de crédito, da sua desmedida cobiça. Os bancos são o monstro, a culpa é deles e, de toda a forma, dos políticos que lhes permitiram tudo isso. OK. Não há dúvida. Somente dos bancos?
"O país inteiro viu-se apanhado numa bolha. A banca sentiu um desenvolvimento repentino, coisa que agora vemos como algo estúpido e irresponsável. Mas as pessoas fizeram algo parecido. As regras normais das finanças permaneceram suspensas e entramos na era do vale tudo: duas casas, três casas por família, um Range Rover, uma moto de neve. Os salários subiam, a riqueza parecia sair do nada, os cartões de crédito deitavam fumo", explica Ásgeir Jonsson, ex-economista chefe da Kaupthing. O também economista Magnus Skulasson assume que essa loucura colectiva levou um país inteiro a parecer dominado pelos valores de Wall Street, da banca de investimento mais especulativa. "Nós islandeses contribuímos decisivamente para que se passasse o que passou, por permitirmos que o governo e a banca fizessem o que fizeram, mas também participamos dessa combinação de cobiça e estupidez. Os bancos merecem ficar afastados do jogo e nós merecemos uma parte do castigo: mas só uma parte", afirma no restaurante dum hotel central.
Uma coisa salva os islandeses, de alguma maneira os redime de parte desses pecados. No seu incisivo Indignai-vos!, Stephane Hessel descreve como os financeiros na Europa e nos EUA, culpados indiscutíveis da crise, salvaram o buraco e continuam com a sua vida como sempre: voltaram os lucros, os bónus, essas coisas. Em compensação, as suas vítimas não recuperaram o nível de ganhos, e muito menos o emprego. "O poder do dinheiro nunca havia sido tão grande, insolente, egoísta com todos", acusa e, contudo, "os banqueiros mal suportaram as consequências dos seus desaforos", acrescenta no prólogo do livro o escritor José Luis Sampedro.
Assim é: salvo talvez no Árctico. A Islândia fez uma valente tentativa de pedir responsabilidades. "Deixar falir os bancos e dizer aos credores que não vão cobrar tudo o que se lhes deve ajudou a mitigar algumas das consequências das loucuras dos seus banqueiros", assegura por telefone a partir do Texas o economista James K. Galbraith.
Contada assim, a versão islandesa da crise tem um toque romântico. Mas a economia é sempre mais prosaica do que parece. Há quem relate uma historia diferente: "Simplesmente, não havia dinheiro para resgatar os bancos: caso contrário, o Estado tê-los-ia salvado: Chegamos a pedi-lo à Rússia!", critica o politólogo Eirikur Bergmann. "Foi um acidente: não queríamos, mas tivemos de deixá-los falir e agora os políticos tratam de vender essa lenda de que Islândia deu outra resposta".
Seja como for, a crise deixou uma cicatriz enorme que continua bem visível: há controlo de capitais, um delicioso eufemismo do que no hemisfério Sul (e mais concretamente na Argentina) costuma chamar-se corralito. O desemprego continua acima dos 8%, taxas desconhecidas por estes lares. A queda da coroa empobreceu todo o país, excepto as empresas exportadoras. Quatro em cada dez lares endividaram-se em divisas ou com créditos ligados à inflação (parece que, em geral, para comprar segundas residências e carros de luxo), o que deixou um buraco considerável no bolso das pessoas. Depois de deixar falir o sistema bancário, o Estado nacionalizou-o e acabou a injectar montões de dinheiro - o equivalente a uma quarta parte do PIB - para que a banca não deixasse de funcionar e agora começa a reprivatizá-lo: a vida, de algum modo, continua igual.
Tudo isso elevou a dívida pública acima de 100% do PIB e para controlar o défice os islandeses nem sequer se livraram da maré de austeridade que percorre a Europa desde o Estreito de Gibraltar até à costa da Gronelândia: mais impostos e menos gastos públicos. No final a Islândia teve que pedir um resgate ao FMI e o Fundo aplicou as receitas habituais: elevaram o IRS e o IVA islandeses e criaram novos impostos, e pelo lado dos gastos baixaram os salários e benefícios sociais e estão a fechar escolas; reduziu-se o Estado social. Que é o que costuma suceder quando de repente um país é menos rico do que pensava.
"Andámos uma década para trás", encerra Bergman. E mesmo assim o governo e o FMI asseguram que a Islândia crescerá este ano uns 3%: a queda da coroa permitiu um arranque das exportações, há sectores de ponta - como o alumínio - que estão a ter uma crise muito proveitosa, e, ao fim e ao cabo, a Islândia é um país jovem com um nível educativo excelente. Entre a dezena de fontes consultadas para esta reportagem, contudo, não abunda o optimismo. Um dos economistas mais brilhantes da Islândia, Gylfi Zoega, desenha um panorama preocupante: "os bancos ainda não estão operacionais, os balanços das empresas estão prejudicados, o acesso ao mercado de capitais está fechado, o governo mostra uma debilidade alarmante. Não há consenso sobre que lugar deve Islândia e a sua economia ocupar no mundo. Vamos à deriva... não se engane: nem sequer o colapso dos bancos foi uma opção; não havia alternativa. A Islândia não pode ser modelo de nada".
Há quem duvide inclusivamente de que os banqueiros venham finalmente a dar com os ossos na cadeia: "os executivos foram detidos várias vezes, e depois, postos em liberdade: como tantas outras vezes, isso é mais uma brincadeira com a opinião pública que outra coisa", assegura Jon Danielsson. Hannes Guissurasson, assessor do anterior governo e conhecido pela sua férrea defesa de postulados neoliberais, até traça uma estreita linha entre o delito e algumas das práticas bancárias dos últimos anos. "Muito poucos banqueiros vão parar à prisão, se é que algum vai: a excessiva tomada de riscos infringe que lei?" pergunta-se.
Mas os mitos são os mitos (e um jornalista deve defender a sua reportagem até ao último parágrafo) e a Islândia deixa várias lições fundamentais. Uma: não está claro se deixar cair um banco é um acto reaccionário ou libertário, mas o custo, ao menos para Islândia, é surpreendentemente baixo; o PIB da Irlanda (cujo governo garantiu toda a dívida bancária) caiu o mesmo e as suas perspectivas de recuperação são piores. Dois: ter moeda própria não é um mau negócio. Em caso de aflição desvaloriza-se e vitória, vitória que se acabou a história; isso permite sair da crise com exportações, algo que nem a Grécia nem a Irlanda (nem a Espanha) podem fazer.
O último e definitivo ensinamento vem da mão do grupo selvagem que ninguém viu vir: nem as agências de notação nem os auditores anteciparam os problemas (ainda que o que uma boa auditoria não descobre, uma boa crise desvela: Pricewaterhousecoopers está acusada de negligência). Mas os problemas estavam aí: a prova é que a imensa maioria dos executivos da banca estão na rua e alguns aguardam julgamento. O nosso Sigurdur Einarsson, o banqueiro mais procurado, tratou de comprar uma mansão em Chelsea, um dos bairros mais exclusivos de Londres, por 12 milhões de euros. A maioria dos banqueiros que tem problemas com a justiça fizeram o mesmo durante os anos do boom, e menos mal que o fizeram: as pessoas apupavam-nos no teatro, atiravam-lhes bolas de neve em plena rua, lançavam bocas nos restaurantes ou deixavam espirituosas pinturas nas casas. Saíram a correr da Islândia. O caso é que Einarsson não teve de sair: vivia na sua estupenda mansão londrina desde 2005. A hipoteca não era problema: Einarsson decidiu alugá-la ao banco enquanto vivia na casa; ao fim e ao cabo, um presidente é um presidente e esse é o tipo de demonstrações de talento financeiro que só trazem surpresas no improvável caso de que a justiça se meta no meio.
A Islândia parece o lugar adequado para que sucedam coisas improváveis: segundo as estatísticas, mais de metade dos islandeses acredita em elfos. No avião de volta percebe-se melhor a publicidade do aeroporto, sobretudo porque as fontes consultadas descartam que, se finalmente há condenação dos banqueiros, o governo islandês vai conceder apenas um indulto. Isto é a Islândia: paraíso sobrenatural. Ai não que não é!
IslandiaO 'caso Icesave' (e outras peculiaridades)
O tubarão putrefacto é um dos pratos típicos da Islândia, que tem uma noite infindável (não só pelas horas de escuridão), uma das poucas primeiras-ministras do mundo (Johana Sigurdardottir, abertamente lésbica) e um museu do pénis (e isto não é uma gralha). A lista de peculiaridades é infindável: é mais fácil entrevistar o presidente da Islândia que o presidente da câmara de Reikiavik, Jon Gnarr, célebre por fazer acordos só com quem tenha visto as quatro temporadas de The Wire. Com a crise, as singularidades alcançaram mesmo o sempre aborrecido sector financeiro: em Londres chegaram a aplicar-lhe métodos antiterroristas.
Landsbanki, um dos três grandes bancos islandeses, abriu uma filial pela Internet com uma conta de poupança a altas taxas de juro, Icesave, que fez furor entre britânicos e holandeses. Quando as coisas começaram a dar para o torto e o governo britânico detectou que o banco estava a repatriar capitais, aplicou-lhe a lei antiterrorista para congelar os fundos. Esse foi o detonador de toda a crise: provocou a falência em cadeia de toda a banca. E continua a dar tremendas dores de cabeça à Islândia.
A Holanda e o Reino Unido devolveram aos seus cidadãos 100% dos depósitos e agora exigem esse dinheiro: 4 mil milhões de euros, um terço do PIB islandês, nada menos. O governo chegou a um acordo para que os cidadãos pagassem em 15 anos e a 5,5% de juro: as pessoas organizaram-se para deitá-lo abaixo num referendo, depois do veto do presidente. Assim chegou um segundo pacto, mais vantajoso (juros de 3%, a pagar em 37 anos), e de novo as pessoas decidirão em Abril em referendo se pagam ou não pelos desmandes dos seus bancos [o artigo foi escrito antes do referendo de dia 9 de Abril, do qual saiu recusado este novo acordo – quase 60% dos islandeses votaram não]. Agni Asgeirsson, ex-executivo que foi despedido da Kaupthing e agora trabalha como engenheiro em Río Tinto, é cortante a esse respeito: "o primeiro acordo era claramente uma fraude. Este é mais discutível. Não queremos pagar, mas isso acrescentaria incerteza legal sobre o futuro do país. Mas interessante é como reagiram as pessoas". Esse é talvez o maior atractivo da resposta islandesa: a parlamentar e ex-magistrada francesa Eva Joly (a quem se atribuiu o início da investigação sobre a banca) assegura que o mais chamativo na Islândia é que num país "que se considerava a si mesmo um milagre neoliberal e onde se tinha perdido gradualmente todo o interesse pela política, agora as pessoas querem ter o destino nas suas próprias mãos".
"Isso sim: a fé nos políticos e nos banqueiros demorará a voltar, antes de muito, muito, tempo", diz a terminar o cônsul de Espanha, Fridrik S. Kristjánsson.

Artigo de Claudi Pérez/El País. Tradução de Paula Sequeiros.

Fonte: Rede Democrática

Grupo de manifestantes rasga revistas Veja em frente à sede da Abril

 
Thaís Naldoni, gerente de Jornalismo de IMPRENSA | 28/10/2011 19:12
Quem passou pela Editora Abril, no final da tarde desta sexta-feira (28), foi surpreendido por um protesto, realizado pelo movimento "Anonymous", junto com integrantes do "Acampa Sampa" 
.

Um grupo de cerca de trinta jovens - munido de exemplares da revista Veja, com a chamada de capa "Dez motivos para se indignar com a corrupção", faixas com os dizeres "Chega de Mentira", além de um megafone - parou em frente à sede da Editora para um manifesto contra Veja.

Reprodução
Capa de Veja
Segundo apurou IMPRENSA, o grupo, sob gritos de palavras de ordem, passou a picar exemplares da revista. Alguns dos manifestantes estavam com máscaras semelhantes à que ilustrava a capa da publicação. Os seguranças da Editora Abril se posicionaram em frente à porta giratória de entrada, para impedir que houvesse uma tentativa de invasão.

No Facebook, postado no perfil "#acampasampa" está a explicação para o movimento. Um texto atribuído ao "Anonymous" diz que o grupo, que está acampado desde o dia 15/10 em protesto contra o sistema político-econômico vigente, "recebeu com indignação a matéria de capa da edição de 26 de outubro da revista Veja". "A matéria 'Dez motivos para se indignar com a corrupção' demonstra mais uma vez a tendência conservadora do conselho editorial do grupo Abril, e sua prática de manipulação da informação pelo método de omissão e ênfase", diz o texto.

O grupo afirma, ainda, que a revista "manipula símbolos". "A manipulação de símbolos é flagrante, por exemplo, com o uso descontextualizado da imagem da máscara de Guido Fawkes, que se tornou símbolo dos levantes anticapitalistas no mundo todo, visando canalizar a insatisfação dos 99% da população para as pautas que interessam ao privilegiado grupo econômico da qual a publicação é porta-voz: o empresariado, sobretudo paulista".

Até o fechamento desta nota, a manifestação acontecia de forma pacífica.

Para ler o manifesto completo, clique aqui.

 Leia mais



Fonte: Portal Imprensa

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Julgamento Ético Popular das Transnacionais começará na próxima sexta-feira


Karol Assunção - Jornalista da Adital

         A partir da próxima sexta-feira (28), movimentos e organizações sociais latino-americanas se reunirão em Buenos Aires, na Argentina, para participar doJulgamento Ético Popular das Transnacionais. O julgamento, que se estenderá até domingo (30), apresentará casos de 14 empresas transnacionais que atuam na região.
         Os dois primeiros dias ocorrerão na Faculdade de Ciências Sociais de Buenos Aires (Santiago del Estero, 1029). Já o encerramento será realizado no domingo no Espaço Cultural Pompeya (Carlos María Ramirez, 1429 – Pompeya). O julgamento é promovido pelo Centro de Investigação e Formação dos Movimentos Sociais Latino-Americanos e pela Equipe de Educação Popular Pañuelos en Rebeldía em parceria com organizações e movimentos sociais da América Latina.
         Durante os três dias, representantes de organizações de Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Honduras, Paraguai e Uruguai analisarão casos de 14 empresas que atuam na região: Barrick Gold, Minera La Alumbrera, Agua Rica, Ledesma, Repsol, Pan American Energy, Monsanto, Projeto Navidad (Pan American Silver), Projeto Potasio Rio Colorado (Rio Tinto/Vale), Cargill, Alto Paraná, Microsoft, Telefónica e Google.
         Na ocasião, será apresentada uma síntese das audiências já realizadas pelas organizações em outras áreas da Argentina, como: Patagônia (dias 16 e 17 de setembro), Noroeste argentino (23 a 25 de setembro), e Tríplice Fronteira (30 de setembro e 1° de outubro).
         A ideia é identificar os pontos comuns de funcionamento dessas empresas, denunciar as políticas públicas e privadas que beneficiam a atuação das transnacionais na América Latina, questionar o papel dessas empresas na região e analisar a expansão do modelo de desenvolvimento atual.
         No final, o Tribunal Ético avaliará as denúncias apresentadas nas audiências anteriores e emitirá uma sentença popular que será enviada tanto aos meios de comunicação quanto a organismos políticos e jurídicos para que possam realizar uma ação contra a continuidade das violações humanas e ambientais.
         Violações aos direitos humanos e dos trabalhadores; trabalho escravo; repressão e criminalização do protesto social; impactos culturais e simbólicos; militarização dos territórios em conflito; concentração, estrangeirização e privatização das terras; destruição da natureza; e impactos sobre a soberania nacional e popular são apenas algumas situações denunciadas pelas organizações sociais.
         "As grandes corporações transnacionais constituem um elo chave das cadeias contemporâneas do neocolonialismo. São operadoras centrais do extrativismo, do saque dos bens naturais da natureza, da destruição e contaminação dos territórios e da violação dos direitos das populações”, consideram.
         Os movimentos esperam, com o julgamento, conseguir desenvolver ações concretas contra essas empresas, tais como condenações, boicotes, repúdios, entre outros. Da mesma forma, acreditam que a iniciativa será uma oportunidade para fortalecer redes e articulações entre os movimentos sociais, assim como para divulgar as denúncias coletivas. 

         Para mais informações sobre o Julgamento, consulte: http://juicioalastransnacionales.org/ou http://www.panuelosenrebeldia.com.ar/

terça-feira, 25 de outubro de 2011

ONU considera Jornalismo uma das profissões mais perigosa do mundo



Da Redação do site Comunique-se

Em alguns países, ser jornalista pode significar correr risco diariamente. A Organização das Nações Unidas (ONU) considera a profissão como uma das mais perigosas do planeta.

Segundo estudos do Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ), no ano passado, 44 jornalistas foram mortos em todo o mundo. Em 2009, 73 morreram em decorrência da profissão, sendo 29 deles em um incidente nas Filipinas.

Atualmente um dos lugares mais violentos do mundo é o México. Só em 2010, nove profissionais foram assassinados. Desde 2005, 13 repórteres desapareceram e 18 veículos de comunicação foram atacados.

ImpunidadeDe acordo com o Índice de Impunidade calculado pelo CPJ, cerca de 30% dos processos não solucionados envolvendo jornalistas de todo o mundo - que sofreram algum tipo de agressão ou até mesmo morreram – se referem àqueles que estavam cobrindo temas políticos locais. Outros 28% perderam a vida enquanto cobriam conflitos armados.

Esses dados são calculados com base no número de assassinatos não resolvidos. Foram computadas as mortes de repórteres cujos julgamentos continuam sem solução do período entre 1º de janeiro de 2001 e 31 de dezembro de 2010.

A alta comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Navi Pillay, disse durante encontro organizado pela Unesco, que os jornalistas são fundamentais tanto em tempos de paz quanto de conflito. “Eles reportam as violações dos direitos humanos e má governança, dão voz às vítimas e aos oprimidos, e contribuem para a sensibilização em questões sobre os direitos humanos.”

Ranking dos países mais violentos para o exercício do Jornalismo. (Foto: Reprodução)
  Nota do Blog: faltam dados da Líbia.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

A Honra Reconquistada de Muammar al-Gaddafi


Mário Maestri*

         Muammar Abu Minyar al-Gaddafi caiu combatendo na defesa da independência nacional de sua nação.  Resistiu, cidade por cidade, quarteirão por quarteirão, casa por casa, até ficar encurralado com seus derradeiros companheiros e companheiras, feras indomáveis, nos poucos metros de terra líbia livre. Como dissera, enfrentou, até a morte, irredutível, a coligação das mais poderosas nações imperialistas ocidentais.
         Ferido, foi preso, achincalhado, arrastado, torturado e, já moribundo, assassinado. Em torno dele desencadernava a canalha armada e excitada que se banqueteava, havia semanas, rapinando, executando, violando a população da cidade heróica de Sirte, arrasada por sua resistência à recolonização do país. Sirte, no litoral mediterrânico, com mais de 130 mil habitantes, foi sede de universidade pública, destruída, e do terminal do impressionante rio artificial que retirava as águas fósseis do deserto do Saara para aplacar a das populações e agricultura líbia.
         Nas últimas cidades rebeldes, encanzinados franco-atiradores, homens e mulheres, jovens e adultos, foram calados com o arrasamento pela artilharia pesada dos prédios em que se encontravam. Estradas, portos, centrais elétricas e telefônicas, quartéis, escolas, creches, hospitais, aeroportos, estações televisivas e radiofônicas, a infraestrutura do país construída nas últimas quatro décadas, foi arrasa por seis meses de ataques aéreos, navais e missilísticos - mais de cinqüenta mil bombas! -, responsáveis por enorme parte dos talvez cinqüenta mil mortos, em população de pouco mais de seis milhões de habitantes.
         A lúgubre paz dos cemitérios reina finalmente sobre a Líbia submetida.
         Quarenta e dois anos após a conquista de sua independência nacional, a Líbia retorna ao controle neocolonial do imperialismo inglês e francês, que se dividiram a hegemonia sobre o país após a 2ª Guerra, que pôs fim à dura dominação colonial da Itália fascista. Tudo é claro sob a vigilância impassível da hiena estadunidense.
         Em 1969, o então jovem coronel Muammar, com 27 anos, chegava do deserto para comandar o golpe de jovens militares pela independência e unidade da Líbia, animado pelas esperançosas idéias do pan-arabismo de corte nacionalista e socialista. Do movimento surgiu um Estado laico, progressista e anti-imperialista, que nacionalizou os bancos, as grandes empresas e os recursos petrolíferos do país.
         Quarenta e três anos mais tarde, Gaddafi  cai simbolizando os mesmos ideais. Com sua morte, expia dramática e tardiamente sua irresponsável tentativa de acomodação às forças do imperialismo, empreendida após a vitória mundial da contra-revolução liberal.
         Quem abraça o demônio, jamais dirige a dança! Foi o movimento de privatizações, de "austeridade", de abertura ao capital mundial, de apoio às políticas imperialistas na África, etc., sob os golpes da crise mundial, o grande responsável pela perda de consenso social de ordem que, no contexto de suas enormes contradições, realizara a mais ampla e democrática distribuição popular da renda petroleira das nações arábico-orientais.
         Por décadas, ao contrário do que ocorria com tunisianos, argelinos, egípcios, etc.  não se viu na Europa um líbio à procura de um trabalho que encontrava em seu país. Ao contrário, o país terminou como destino de forte imigração de trabalhadores da África negra subsaariana, atualmente maltratados, torturados, executados por membros das "tropas revolucionárias" arregimentadas pelo imperialismo, sob a desculpa de ser os "mercenários" de Ghadafi.
         A intervenção na Líbia não procurou apenas recuperar o controle direto das importantes reservas petrolíferas pelo imperialismo inglês, francês e estadunidense. Objetivou também assentar golpe mortal na revolução democrática e popular do norte da África, mostrando a capacidade de arrasar implacavelmente qualquer movimento de autonomia real. Com uma Líbia recolonizada, espera-se construir plataforma de intervenção regional, que substitua o hoje convulsionado Egito.
         A operação líbia significou também conquistas marginais, além do controle do petróleo, da disposição de sufocação da revolução democrático-popular árabe, da construção de plataforma imperialista na região. Enormes segmentos da esquerda mundial, sem exceção de grupos auto-proclamados radicais, embarcaram-se no apoio de fato à intervenção imperialista, defendendo graus diversos da sui-generis proposta de estar com o "movimento revolucionário" líbio e contra o imperialismo que o criara e sustentara. Aplaudiam as bombas que choviam sobre o país, propondo que não sustentavam a intervenção da OTAN!
         Para não se distanciarem da opinião pública sobre o governo líbio e os sucessos atuais, construída pela tradicional subordinação e hipocrisia da grande mídia mundial, seguiram na saudação das forças "revolucionárias líbias", como se não fossem meras criaturas da intervenção imperialista, como demonstraram - e seguirão demonstrando - inapelavelmente os fatos! Os revolucionários líbios não avançaram um metro nos combates, sem o aterrador apoio aéreo e a seguir terrestre da OTAN. Em não poucos casos, também como fizera Gaddafi nos últimos tempos, procuram consciente ou inconscientemente acomodar-se à besta imperialista.

        * Mário Maestri, 63, sul-rio-grandense, é professor do curso e do Programa de Pós-Graduação em História da UFF. maestri@via-rs.net
         Pravda Ru

domingo, 23 de outubro de 2011

CHEGA DE SANGUE

 

por Mauro Santayana

Diante da imagem de Kadafi trucidado, e dos aplausos de Mrs. Clinton e de dirigentes franceses, ao ver o homem seminu e ensangüentado, recorro a um testemunho indireto de Henri Beyle - o grande Stendhal, autor de Le Rouge e le Noir - de um episódio de seu tempo. Beyle foi oficial de cavalaria e secretariou Napoleão por algum tempo. Em 1816, em Milão, Beyle ficou conhecendo dois viajantes ingleses, o poeta Lord Byron e o jovem deputado whig John Hobhouse. Coube a Hobhouse relatar o encontro, no qual Beyle impressionou a todos os circunstantes, narrando fatos da vida de Napoleão. São vários, mas o que nos interessa ocorreu logo depois da volta do general a Paris, em seguida à derrota em Moscou. Durante uma reunião do Conselho de Estado, da qual Beyle foi o relator, descobriu-se que Talleyrand havia escrito três cartas a Luís de Bourbon, que restauraria, dois anos mais tarde, o trono. As cartas, que se iniciavam com o reconhecimento de vassalagem, no uso do pronome “Sire”, revelavam que o bispo já conspirava contra o Imperador. Os membros do Conselho decidiram que Talleyrand devia ser castigado com rigor – ou seja, condenado à morte. Só um homem, e com a autoridade de “arquichanceler” do Império, Cambacérès, se opôs, com voz firme: Comment? toujours de sang? Napoleão, que estava deprimido com as cenas de seus soldados mortos no campo de batalha, ficou em silêncio.
O sangue que se verteu no século passado devia ter bastado, mas não bastou. Iniciamos este novo milênio com muito sangue e a promessa de novas carnificinas. O cinismo dos que exultam agora com a morte de Kadafi, ao que tudo indica linchado pelos seus inimigos, após a captura, dá engulhos aos homens justos. Os que levaram a ONU a aprovar os bombardeios brutais da OTAN contra a população líbia haviam sido, até pouco tempo antes, parceiros do coronel na exploração de seu petróleo, indiferentes a que houvesse ou não liberdade naquele país. Mas Kadafi não era apenas o ditador megalômano, que vivia no luxo de seus palácios e que promovia festas suntuosas para o jet-set internacional. Ele fizera radical redistribuição de renda em seu país, mediante uma política social exemplar, com a criação de universidades gratuitas, a construção de hospitais modernos e com a assistência à saúde universal e gratuita. Quanto à repressão, ele não foi muito diferente da Arábia Saudita e de outros governos da região, e foi muito menos obscurantista para com as mulheres do que os sauditas.
Apesar das cenas horripilantes de Sirte, que fazem lembrar as de Saddam Hussein aprisionado e, mais tarde, enforcado, além das usuais que chegam da África, há sinais de que os homens começam a sentir nojo de tanto sangue. É alentador, apesar de tudo, que o governo de Israel tenha aceitado acordo com os palestinos, para a troca de prisioneiros. É também alentador que os bascos hajam renunciado à luta armada e preferido o combate político em busca de sua independência. E é bom ver as multidões reunidas, em paz, em todos os paises do mundo, contra os ladrões do sistema financeiro internacional – não obstante a violência, de iniciativa de agentes provocadores, como ocorreu em Roma,e a costumeira brutalidade policial, na Grécia, na Grã Bretanha e nos Estados Unidos.
Há, sem dúvida, os que sentem a volúpia do cheiro de sangue, associado à voracidade do saqueio. A reação atual dos povos provavelmente interrompa essa ânsia predadora dessas elites européias e norte-americanas – exasperadas pela maior crise econômica dos últimos oitenta anos e ávidas de garantir-se o suprimento de energia de que necessitam e a preços aviltados.
É preciso estancar a sangueira. O fato de que sempre tenha havido guerras não significa que devemos aceitá-las entre as nações e entre facções políticas internas. Como mostra a História, o recurso às armas tem sido iniciativa dos mais fortes, e diante dele só cabe a resistência, com todos os sacrifícios.
No fundo das disputas há sempre os grandes interesses econômicos, que se nutrem do trabalho semi-escravo dos povos periféricos, como se nutriram grandes firmas alemãs, ao usar judeus, eslavos e comunistas, como escravos, em aliança com Hitler.
A frase é um lugar comum, mas só o óbvio é portador da razão: os que trabalham e sofrem só querem a paz, para que usufruam da vida com seus amigos, seus vizinhos, suas famílias.
O odor do sangue é semelhante ao odor do dinheiro, e excita os assassinos para que trucidem e se rejubilem com a morte – como se rejubilaram ontem, diante do corpo humilhado de Kadafi, a Secretária de Estado dos Estados Unidos e os arrogantes franceses. Há três dias, em Trípoli, a senhora Clinton disse a estudantes líbios, que esperava que Kadafi fosse logo capturado ou morto. Nem Condoleeza Rice, nem Madeleine Albright seriam capazes de tamanho desprezo pelos direitos de qualquer homem a um julgamento justo. Esse direito lhe foi negado pelas hordas excitadas por Washington e Paris, com a cumplicidade das Nações Unidas - e garantidas pelas armas da OTAN.
Não que Kadafi tenha sido santo: era um homem insano, e tão insano que acreditou, realmente, que os americanos, italianos e franceses, quando o lisonjeavam, estavam sendo sinceros.

Fonte: Blog Mauro Santayana

A urgência da democratização da mídia

 
Por Emir Sader, no sítio Carta Maior:

Nos meses transcorridos desde as acusações a Palocci até esta ofensiva contra Orlando Silva ficou clara a força da velha mídia para pautar a política nacional. A agenda política ficou periodizada pelos ministros que eram a bola da vez das acusações, numa sequência prolongada de “escândalos, que deu a impressão que essa era a cara mais marcante do governo.

A política econômica e sua articulação com as políticas sociais – o tema mais importante do governo, porque isso vai definir a capacidade do Brasil para resistir às consequências da crise no centro do capitalismo – não conseguiu o espaço essencial que deveria ter na agenda nacional. Ficou na sombra da pauta de denúncias produzida pela velha mídia.

Durante os últimos anos do governo Lula – e, em particular durante a campanha eleitoral – foi possível neutralizar relativamente o peso dos monopólios da mídia privada, com Lula – do alto da sua imensa popularidade e com sua linguagem de enorme apelo popular -, ainda mais que contávamos com os horários televisivos e os comícios da campanha.

Passadas essas circunstâncias, a velha mídia monopolista voltou a ocupar seu papel central na definição das agendas nacionais, pautando o governo com seu denuncismo, que visa enfraquecê-lo. Agem como um grande exército regular e nós, da mídia alternativa, como guerrilhas. Temos credibilidade, rapidez, acesso aos jovens – que eles não dispõem –, mas contamos com meios muito menores de difusão.

Temerosos do marco regulatório, difundem que haverá limitação à liberdade de expressão. Ao contrário, o objetivo não será calar ninguém, mas dar voz a milhões de outras vozes, que hoje, apesar de majoritárias no país, não se reconhecem e são excluídas da mídia tradicional.

Não haverá democracia real no Brasil enquanto não forem democratizados os meios de comunicação, enquanto algumas poucas famílias deixarem de querer falar em nome do país e da grande maioria da população, que vota contra e derrota sistematicamente os candidatos que essa mídia apoia.

É urgente iniciar o debate sobre o marco regulatório, mesmo que um Congresso infestado de donos de meios de comunicação privados resista ao máximo a qualquer forma de democratização da mídia. Defendem seus privilégios monopolistas, mas tem que ser derrotados, para que a formação de opinião pública no Brasil possa ser democrática e pluralista.

Fonte: Extraído do Blog do Miro

sábado, 22 de outubro de 2011

Líbia: Barrados na Fronteira


Libia
Na edição de O Globo, de 21 de outubro de 2011, ou seja, um dia depois da morte/assassinato, de Muammar Kadhafi, consta um caderno especial com a manchete “Fim do déspota, início da nova Líbia”, que concedeu espaço para alguns comentários sobre a situação na Líbia:
Mary Dejevsky, colunista do The Independent – A  tentação agora será citar a Líbia para justificar intervenções militares em outros lugares.

Ali Abdullatif Ahmida , Universidade de New England, nos EUA:  Este é o fim de uma era, mas a luta pelo novo governo já começou. Tudo depende de como os líderes do Conselho de Transição vão consertar o país e reconciliar o povo.
Daniel Korski, do Conselho Europeu de Relações Internacionais – A  morte do coronel Kadhafi é um acontecimento ambíguo para as novas autoridades líbias. Elas evitam um drama judicial já conhecido, à la Slobodan Milosevic, que poderia reagregar o povo em apoio ao ex-ditador. Mas a morte de Kadhafi também rouba do novo governo líbio a oportunidade de se mostrar melhor do que o anterior, ao permitir que um processo judicial se estabelecesse. Sua morte, de maneira violenta, também revela o risco da criação da figura de um mártir a partir de um homem cujos feitos em vida nunca foram merecedores dessa aclamação.
Shashank Joshi, Royal United Services Institution, Reino Unido: A Líbia não é um país viável para uma insurgência de maior porte.
Acredito que veremos resistências em alguns lugares, tensões surgirão, mas não será nada que pareça uma contrarrevolução.
Comentário do jornalista português Miguel Urbano Rodrigues, que não saiu em O Globo:
Kadhafi afirmou desde o primeiro dia da agressão que resistiria e lutaria com o seu povo ate à morte. Honrou a palavra empenhada. Caiu combatendo.
Que imagem dele ficará na História?
Uma resposta breve à pergunta é hoje desaconselhável, precisamente porque Muammar Kadhafi foi como homem e estadista uma personalidade complexa, cuja vida refletiu as suas contradições.
Neste sentido, Mário Augusto Jakobskind lança o seu livro 'Líbia: Barrados na fronteira', dia 11 de novembro, na ABI, no Rio, para lançar uma luz neste conflito, marcado por mais uma invasão da Europa em paises árabes.
Desta vez, uma cruzada aérea em pleno século XXI, mas que nada fica a dever as carnificinas praticadas pelos cavaleiros nobres de séculos atrás. O pretexto das invasões na idade média era a religião, o cristianismo, Jerusalem. Sob este pretexto a Europa destruiu, matou e pilhou os paises árabes. O pretexto do século XXI é a democracia. Em nome da democracia a OTAN bombardeou a Libia. Mas todos sabem que o alvo era o petróleo e as reservas monetárias da Libias que somam mais de 100 bilhões de dólares. Uma boa quantia para ajudar a tirar a Europa da crise.

Fonte: Rede Democrática

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

A ONU e a espiritualidade


Na próxima semana, a humanidade comemora o aniversário da ONU, criada em 1948, para cuidar do diálogo entre os povos e da paz no mundo
20/10/2011

Marcelo Barros*

Na próxima semana, a humanidade comemora o aniversário da ONU, criada em 1948, para cuidar do diálogo entre os povos e da paz no mundo. Neste aniversário de 63 anos, o presente que a humanidade quer oferecer à ONU é a reforma de seus estatutos e que as Nações Unidas aceitem como membros, não só os governos, mas também a sociedade civil internacional.
Nestes dias, se completam dez anos da invasão do Afeganistão, realizada pelo governo dos Estados Unidos. O pretexto era a tal guerra preventiva e de que ali se escondia o Al Qaeda. Muitas pessoas inocentes foram assassinadas e o país inteiro destruído. Alguns anos depois, o presidente Bush teve de reconhecer que mentiu ou se enganou. Entretanto, tudo continuou como estava. Até hoje o país é ocupado por tropas estrangeiras. A ONU se pronunciou contra a invasão, mas nada fez para impedi-la. Também não denunciou a ilegalidade da invasão americana no Iraque, nem deixou claro que ao invadir o Paquistão, para assassinar Bin Laden, o presidente Obama se mostrou absolutamente igual ou mais ilegal do que o inimigo friamente massacrado. A recente recusa da ONU em reconhecer o Estado Palestino e assim assegurar a paz no Oriente Médio é mais um fato que revela a urgência de novas regras internacionais para o seu funcionamento e para que possa cumprir bem o seu objetivo de uma comunidade das nações.
Há quem pense que um assunto como este nada tem a ver com a fé e a espiritualidade. Entretanto, todas as grandes tradições espirituais mostram que Deus tem um projeto divino para o mundo e este projeto é a paz e a aliança (shalon) entre todos os seres humanos. Antigos escritos hindus dizem que o mundo inteiro deve ser uma só sangha, uma única fraternidade humana. Buda ensinava que o mundo deveria ser organizado a partir da compaixão, solidariedade com todos os seres vivos. O Corão propõe organizar o mundo a partir da justiça e da misericórdia. As tradições afro-brasileiras falam no Axé, energia vital de amor, como princípio organizador da sociedade. A Bíblia diz que Deus tem um projeto para o mundo: a organização da humanidade em uma só família humana. O Evangelho diz que Jesus morreu “para reunir na unidade todos os filhos e filhas de Deus dispersos pelo mundo” (Jo 11, 52). Paulo escreveu que, na cruz, Jesus aboliu o muro de inimizade que separava os povos e fez de povos diferentes um só povo (Cf. Ef 2, 13 ss). Hoje, a Carta da Terra afirma que, junto com todos os seres do planeta, somos uma só comunidade da vida.  
Nestes dias, os meios de comunicação mostram, em vários países do mundo, manifestações da sociedade civil e principalmente da juventude pedindo outra forma de organizar o mundo. Nos últimos dias, somente nos Estados Unidos,  marchas e manifestações pacíficas reuniram mais de 50 mil pessoas. Elas se manifestaram em 53 cidades e fizeram uma caminhada até Washington para protestar contra o fato do governo norte-americano agir, não como representante do povo e sim como mero funcionário dos grupos financeiros internacionais.
As transformações sociais e políticas, para serem profundas, devem ter como base uma profunda renovação cultural. Sem isso, as mudanças permanecem superficiais. Uma espiritualidade ecumênica e humana, não necessariamente ligada  às religiões e sim à sacralidade da vida, ao respeito à natureza e à dignidade de todo ser humano, sem dúvida, serão fermento de um modo de organizar o mundo e a vida de forma mais justa e amorosa. Então, a ONU merecerá parabéns por seu aniversário e por ser sinal e instrumento de uma humanidade renovada.


Marcelo Barros é monge beneditino*

Fonte:  Brasil de Fato

Gestão em saúde deve ser pensada em nível local

COBERTURA ESPECIAL – CONFERÊNCIA MUNDIAL SOBRE DETERMINANTES SOCIAIS DA SAÚDE
 

Como forma de atingir essa meta, gestores ressaltam a necessidade de políticas que incluam o cidadão no debate.

Agência Notisa – Uma sociedade saudável se constrói no âmbito local, onde vivem as pessoas e também onde adoecem e morrem. Dessa forma, a gestão de saúde não pode vir de cima, sendo imposta às comunidades, sem levar em conta as características de cada lugar. Nesta quinta-feira (20), no segundo dia da Conferência Mundial sobre Determinantes Sociais da Saúde, que acontece no Rio de Janeiro, gestores de vários países se reuniram para mostrar que as ações em saúde devem ser pensadas a partir das realidades locais e com a participação das populações.
Segundos eles, isso só acontece com um estado descentralizado e participativo. David Butler-Jones, representante da Agência de Saúde Pública do Canadá, disse que ouvir a comunidade é algo de muito valor. Atitude que deve ser tomada por todos, ao invés de partir do pressuposto de que “a comunidade não sabe do que precisa”.
Como exemplo, David citou um caso de uma comunidade que visitou na Amazônia brasileira. Segundo ele, quando perguntados sobre o queriam para sua comunidade, as pessoas disseram que queriam um caminho asfaltado até o rio. “Por que eles pediram isso? Porque eles precisavam ir todo o dia ao rio para se banhar. E quando voltavam, ficavam todos sujos de novo, porque o chão era de terra. Só ouvindo essa comunidade é que o gestor saberá disso”, relatou o palestrante.
Segundo Sebastião Afonso Viana Macedo Neves, governador do Acre, o principal desafio dos governos é essa capacidade de ouvir e interagir com os grupos sociais locais. Ele também deu um exemplo, enfatizando que ouvir é fundamental: “Foi por procurar ouvir a sociedade que nós do governo verificamos que a maior deficiência na área de saúde do estado estava nos serviços de oftalmologia. A maior queixa das pessoas era falta de atendimentos oftalmológicos, sobretudo, de pessoas idosas”, disse.
Hyun Kyung Park, presidente da Fundação para a Mulher e a Família de Seul (capital da Coréia do Sul), complementou dizendo que as ações governamentais devem também ter capacidade de mudar o comportamento não saudável do cidadão. Segundo ela, uma forma que Seul emprega para conseguir isso é a mobilização nas escolas. “No Clube do café da manhã, por exemplo, a dieta escolar é modificada para mudar também o hábito alimentício dos alunos e de suas famílias em casa", disse.
 
A ideia de clubes também foi implementada no Irã. “Acreditamos que os clubes sociais (de idosos, crianças, mulheres, entre outros) são formas de organização eficientes no nível local”, disse Mohammad Hady Ayazi, vice-prefeito para Assuntos Sociais de Teerã (Irã).

Mohammad contou ainda que na sua cidade existem também grupos de trabalhos locais, para diferentes áreas além da saúde, como meio ambiente e educação. “O grupo é composto por pessoas locais e revela indicadores de determinantes sociais de saúde (que são as condições sociais em que as pessoas vivem e trabalham). A partir desses indicadores, ações são tomadas pelos governantes”, disse.
Agência Notisa (science journalism – jornalismo científico)

A EXECUÇÃO DE KADAFI -"NÃO HÁ PARA TODOS"



Laerte Braga


Um ataque de forças da OTAN resultou na morte do líder líbio Muammar Gadaffi. Assassinato puro e simples. Era o desfecho previsível desde que o complexo ISRAEL/EUA TERRORISMO S/A infiltrou mercenários e agentes de inteligência na Líbia através do braço europeu, a OTAN.

Um levante armado de fora para dentro derrubou Gadaffi e terminou em sua morte, tal e qual aconteceu com Saddam Hussein no Iraque.

Gadaffi até a decisão nazi/sionista de intervir na Líbia era amigo íntimo do líder italiano Sílvio Berlusconi, tinha negócios com a Grã Bretanha, a França e a Alemanha, além de outras nações da falida Comunidade Européia.

Suas relações com Barack Obama e os EUA, de um modo geral, eram satisfatórias e tranqüilas, desde que aceitou exigências norte-americanas sobre “terroristas”.

Muammaf Gadaffi era um ditador. Como ditador é o presidente do Iêmen e o rei saudita (aliados de ISRAEL/EUA TERRORISMO S/A). A intervenção na Líbia se deu por conta da necessidade maior de petróleo, das manobras de Gadaffi que desvalorizavam o dólar como moeda de troca internacional e a declaração do comando terrorista da OTAN confirma isso. “A OTAN vai permanecer na Líbia até a normalização democrática”. O que significa, até garantir o petróleo líbio para o conglomerado terrorista.

O filme tem o mesmo roteiro do que aconteceu no Iraque.

Obama, como antes George Bush (e os anteriores também) são como que pistoleiros montados em um poderoso arsenal nuclear capaz de destruir o planeta cem vezes se necessário for e garantir interesses de banqueiros, grandes empresários e em países como o Brasil,  de um latifúndio atrasado e servil, escravocrata.

Pistoleiros da era tecnológica.

Execuções sumárias de “inimigos” são feitas hoje de forma escancarada com ordem direta do presidente.

O controle acionário do complexo ISRAEL/EUA TERRORISMO S/A é de banqueiros e grandes empresários sionistas. Nos EUA e em Israel.

Os povos do mundo inteiro, inclusive norte-americanos e israelenses, são adereços nesse jogo macabro e boçal que o complexo joga para moldar o mundo capitalista a seus interesses.

Milionário gregos no auge da crise, em menos de dois dias, enviaram a bancos suíços seu rico dinheirinho. Para preservá-lo da crise que devasta o país. Isso representa uma evasão de divisas, segundo o jornal alemão BILD, de 200 bilhões de euros. A Grécia vai receber a segunda parcela da ajuda da Comunidade Européia. É de oito bilhões de euros. Isso para continuar minimamente de pé, os bancos e corporações que controlam o país e danem-se os gregos.

Milionários não têm pátria, são amorais.

Uma intensa luta através de greves, manifestações populares tem sido feita diariamente diante de um governo dito socialista, insensível ao clamor popular e pouco se lixando para ele. O que entra por baixo dos panos nesse mundo capitalista devora consciências e compromissos, transforma governantes em meros lacaios do imperialismo boçal que, sem escrúpulos, estende suas garras letais por todo o mundo.

Milhões de norte-americanos – desempregados, sem saúde, sem teto, latinos, etc – saem às ruas de várias cidades do país para protestar contra as políticas de seu governo em favor de bancos e grandes corporações. O Estados Unidos, como nação, hoje é mero arremedo disso. Faliu.

Como em qualquer ditadura a polícia norte-americana prende, arrebenta, tortura e mata.

É claro que a GLOBO e nem as outras vão noticiar isso no Brasil, ou similares no resto do mundo. Fazem parte desse terrorismo, são braços dessa estupidez. Vão vender a mentira e a ilusão de Hollywood e transformar seres em objetos.

Trabalhadores em escravos. Uma forma diferenciada de escravidão, na essência a mesma. Talvez o fato de escravos usarem tênis ADIDAS, ou de outra grande marca, parte dele fabricado por trabalho escravo escancarado na China.

O assassinato de Muammar Gadaffi mostra que desapareceram os escrúpulos, a necessidade de maquiar a barbárie. É o contrário. Estão a mostrá-la para deixar claro do que são capazes, contra quem quer que se lhes oponha.

São terroristas sem entranhas. Há até uma diferença entre bin Laden e Obama. O saudita deixou os “negócios” e empregou sua fortuna pessoal em seu ideal. Sem julgamento de mérito, mas até se poderia discutir isso. Obama, como foi Bush, correram atrás dos “negócios” para fornir seus patrimônios e servir de forma desumana a apetites incomensuráveis de patrões banqueiros, grandes empresários e todo o entorno desse terrorismo capitalista.

São gerentes do crime em escala de Estado. Os crimes que cometem são contra a humanidade.

As principais forças de direita – nazi/sionistas – na Europa fazem campanha com vistas às eleições – não importa a data – afirmando que “não há para todos”. Querem excluir nações falidas como Grécia, Itália, Portugal, Espanha, Irlanda, e outras que se seguirão, além de defender interesses dos banqueiros e grandes empresários.

Sugaram o suor dos trabalhadores gregos, italianos, espanhóis, portugueses, irlandeses e se fartaram no banquete capitalista da ganância desmesurada. Querem agora deixar os feridos para trás e salvar as próprias peles.

Há dois aspectos importantes nesse forma de enxergar dos nazi/sionistas. O primeiro deles é a aceitação que a Comunidade Européia é um clube de banqueiros e grandes empresários com um braço terrorista para garantir os negócios, a OTAN. O segundo deles um recado explícito que mandam a franceses, alemães e britânicos principalmente. Para que aceitem alguns sacrifícios, do contrário serão imolados no altar do capitalismo, tal e qual gregos, norte-americanos, iraquianos, líbios, italianos, espanhóis, irlandeses, uma África dizimada por lutas e pela presença de mercenários e um olhar complacente do resto do mundo.

Aquela velha história de que quando acordar já vai ser tarde.

A execução de Gadaffi é um ato de barbárie, terrorismo. A crise econômica da Comunidade Européia é um ajuste promovido pelo terrorismo de Estado, pelo capitalismo, na tentativa de evitar o seu fim.

“Não há lugar para todos” é um recado também para o mundo.

Para o ser humano, o trabalhador. Sujeite-se ou dane-se.

É hora de seguir o exemplo grego e ir para as ruas. O exemplo dos estudantes chilenos. E ir para as ruas.

Não pensem que passaremos incólumes por essa devastação promovida pelo terrorismo de ISRAEL/EUA TERRORISMO S/A.

Nem os belos olhos de Dilma e seu ministério de cambetas.

Quem tiver dúvidas do que teremos que pagar para essa gente não quebrar, dê uma olhada em


ou


No primeiro endereço vai ter uma idéia clara da essência e dos motivos do terrorismo de Estado. São endereços do próprio governo do assassino Barack Obama.

A França parou para ver via televisão o nascimento da filha de Nicolas Sarlozy e Carla Bruni, o mesmo espetáculo chanchada que tivemos aqui via GLOBO quando do nascimento da filha de Xuxa. Dizem que a moça tem preocupação com os pobres e estava louca para a criança nascer para poder voltar a fumar e a beber.