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segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Alba critica os poderosos

O encontro foi sombrio por causa do risco de que o Protocolo de Kioto não seja renovado em 2012, de que vários países se retirem e de que um segundo fracasso quebre a possibilidade de retroceder na questão do aquecimento global.
Do argentino "Página/12",com tradução de Moisés Sbardelotto

Os membros da Alba denunciaram, na Conferência sobre Mudanças Climáticas de Cancún, o risco de que os países desenvolvidos se neguem a renovar o Protocolo de Kioto, firmado em 1997 e que expira em 2012. A advertência ilustra o tom sombrio em que se desenvolve a Conferência, na qual não só é difícil vislumbrar avanços, mas também em que se propõe o risco de retroceder em acordos que possam fazer frente ao aquecimento global.

O Japão anunciou seu propósito de se retirar do Protocolo, postura a qual a Rússia e o Canadá poderiam se somar. Os Estados Unidos nunca o ratificaram. O representante brasileiro advertiu que, "se ocorrerem duas Conferências seguidas sem resultados (aludindo à que fracassou no ano passado em Copenhague), se colocará em risco a própria possibilidade de negociação multilateral nesse tema".

Subsiste, em troca, a possibilidade de acordos em aspectos específicos, como a criação de um "Fundo Verde" e o maior acesso a tecnologias não contaminantes para os países pobres. Neste sábado, começaram a chegar os ministros de Meio Ambiente de diversos países para a fase decisiva da Conferência, que finaliza na próxima sexta-feira.

Os países ricos "estão voltando às posições extremas que tiveram na noite horrorífica de Copenhague", defendeu a representante da Venezuela, Claudia Salerno, flanqueada pelos representantes da Bolívia, do Equador, da Nicarágua e da caribenha Comunidade de Dominica. A Conferência de Copenhague, em dezembro de 2009, se propunha a definir um acordo mundial a partir de 2012, fim do primeiro período do Protocolo de Kioto, mas não foi além de um texto não vinculante, que propõe reduzir a elevação da temperatura global em dois graus, mas sem especificar como. O acordo – impulsionado no último momento por Barack Obama, presidente dos Estados Unidos – foi firmado só por 140 nações, das 193 reunidas. Em Cancún, o debate consiste em como transformar essa expressão de desejos em compromissos mensuráveis e monitoráveis.

O representante boliviano em Cancún, Pablo Solón, advertiu que "vários países propuseram que não vai haver um segundo período do Protocolo de Kioto". O Japão anunciou explicitamente seu propósito nesse sentido, e menciona-se também pelo menos a Rússia e Canadá. O Protocolo de Kioto foi firmado nessa cidade japonesa em 1997 e estabelece compromissos de redução de emissões para os países desenvolvidos. Esse acordo não inclui os dois maiores emissores do planeta, Estados Unidos – que nunca o ratificou – e a China, que, por ser país em desenvolvimento, não é obrigada por ele. Esse é o principal argumento do Japão para não seguir aceitando-o. Em contrapartida, muitos países em desenvolvimento defendem o Protocolo como o único instrumento que impõe aos países industrializados objetivos de redução de gases de efeito estufa.

Sérgio Serra, representante do Brasil, afirmou que, "se tivermos duas Conferências seguidas sem nenhum resultado no mesmo debate, estamos pondo em risco a totalidade do exercício de negociação acerca das mudanças climáticas, e isso é muito ruim, porque não se vislumbram alternativas".

Os negociadores mantêm expectativas de conseguir acordos em assuntos menos comprometedores. Um deles é a criação de um "fundo verde" destinado a ajudar os países mais pobres a reduzir emissões e a se adaptar às mudanças climáticas. Na Conferência de Copenhague, os países ricos prometeram contribuir com 100 bilhões de dólares anuais em 2020. Outro acordo possível é facilitar o acesso dos países em desenvolvimento a tecnologias menos contaminantes, incluindo a criação de órgãos para a transferência tecnológica. Também se poderia agilizar um plano para que os países em desenvolvimento recebam compensação monetária por preservar suas florestas e selvas tropicais.

Os países em desenvolvimento requerem também que seja criado um "comitê de adaptação" para impulsionar medidas que reduzam os efeitos de deteriorações já ocorridas ou inevitáveis. Até agora, as negociações priorizaram a mitigação, isto é, procurar impedir ou mitigar as mudanças prejudiciais. Neste sábado, começaram a chegar os ministros de Meio Ambiente de diversos países para a fase final da Conferência, que finaliza na próxima sexta-feira.

sábado, 31 de julho de 2010

O Insustentável

Por ocasião da Conferência de Copenhague, postamos uma matéria com o título ""metamorfose de Blairo Maggi"", da  Revista Veja que o elogiava.

Este ano,  O Globo faz uma matéria  com novas acusações. Será por que?

Nota da editora do Blog.
Zilda Ferreira

A Polícia Federal trabalhou mais de dois anos usando duas armas: monitoramento telefônico e perícia de imagens de satélite. Depois, foi usada uma terceira arma: a quebra do sigilo bancário e fiscal dos suspeitos. Isso levou dezenas de pessoas à prisão na Operação Jurupari, em Mato Grosso, e levantou uma dúvida: o ex-governador Blairo Maggi (foto acima) não tinha mudado? Seu ex-secretário de Meio Ambiente Luiz Henrique Daldegan era o chefe da operação limpeza de reputação de Blairo, que no passado era o maior antiambientalista e depois passou a dizer que era um defensor do meio ambiente. Daldegan hoje está preso como suspeito de fazer parte de um esquema de esquentamento de madeira retirada ilegalmente de terras públicas. O ex-secretário de Mudanças Climáticas Afrânio Migliari também está no mesmo processo, como chefe de inúmeros ilícitos. Ao todo, foram expedidas ordens de prisão de 91 pessoas entre políticos, servidores, autoridades da Secretaria de Meio Ambiente, empresários.

Na questão ambiental houve dois Blairo Maggi nos últimos anos. O primeiro disse que destruir 24 mil km de floresta num ano era pouco perto do tamanho da Amazônia; afirmou que o país não podia ficar catando coquinho na floresta; hostilizou ministros do Meio Ambiente e acusou o Inpe de erro técnico. Um segundo Blairo Maggi disse que tinha se convencido de que estava errado. Numa entrevista que me concedeu em agosto de 2009, Blairo disse: â Tive que fazer uma inflexão, reavaliar as minhas posições. Não só minhas, como as dos demais componentes do agronegócio do meu estado. Tive que chamá-los e dizer que o caminho que estávamos seguindo não era o mais correto. O que o delegado da PF Franco Perazzoni, que comandou a investigação, conta é que foi flagrado um grande conluio entre empresas, funcionários públicos, políticos e autoridades com poder para liberar os "planos de manejo".  As grandes fraudes acontecem no inventário da madeira. Pelo plano de manejo é preciso dividir a terra em 30 talhões, ir explorando um a cada ano, de tal forma que só no final do trigésimo ano se volte ao primeiro talhão. Com planos assim é que se consegue a emissão do guia florestal, documento exigido para se transportar madeira e vendê-la no mercado legal. A fraude consiste em pôr no inventário o que não tem. Isso gera um registro fictício que é usado, depois, para legalizar madeira retirada ilegalmente de área pública. O registro falso esquenta a madeira ilegal â diz.

A diferença de preço entre a madeira ilegal e a supostamente legal é imensa: â Numa tora, numa árvore em pé, em área que não pode ser explorada, não se dá mais que R$ 50,00. Se ela for apresentada como retirada de plano de manejo, pode chegar a R$ 1.400 o m. Nem tráfico de drogas dá lucro tão grande. Pelo monitoramento telefônico foi possível acompanhar o tráfico de influências para conseguir licenças falsas. Com as imagens de satélite era possível verificar, por exemplo, que a terra da qual se pedia licença para retirar madeira já estava degradada há muito tempo. O que os proprietários conseguiam eram relatórios de vistoria feitos por técnicos atestando haver a madeira que não havia no local. Depois, era só ir numa área pública, muitas vezes indígena, tirar a madeira e usar a guia falsa para esquentar aquela madeira. Tudo passava pela Secretaria de Meio Ambiente.

O curioso é que o braço direito de Maggi, para provar que o estado do Mato Grosso tinha virado exemplo de sustentabilidade, era justamente o secretário Daldegan. Com ele, e grande comitiva, o governador foi a Copenhague participar de debates sobre créditos pelo desmatamento evitado. Alegava ter desenvolvido ferramentas modernas para detectar, prevenir e combater o desmatamento. Enquanto isso, a Polícia Federal investigava: â O monitoramento telefônico não é usado como elemento de prova, mas como orientação para conduzir as investigações que ganharam consistência com os laudos periciais â diz Perazzoni.

Inúmeras falsas licenças foram assinadas exatamente pelo subsecretário de gestão de florestas, e depois secretário de Mudanças Climáticas, Afrânio Cesar Migliari. Existem indícios, diz o relatório da Polícia Federal, de que Migliari era dono de fato de empresas investigadas e inclusive madeireiras. As propriedades investigadas ficavam perto de áreas indígenas ou protegidas. Em geral, já estavam desmatadas, mesmo assim conseguiam licenças de exploração que tinham indícios eloquentes de fraude. Por exemplo, segundo o delegado, houve um inventário que registrava que uma determinada terra estava 60% ocupada pela mesma espécie nobre. Com a diversidade da floresta nativa é difícil acreditar em tal percentual de uma mesma espécie.

Há uma licença espantosa dada pela Secretaria de Meio Ambiente: plantar eucalipto na Chapada dos Guimarães, uma Área de Preservação Permanente onde era proibido plantar espécies exóticas. Blairo, candidato ao Senado e líder nas pesquisas, aparece no inquérito pressionando para apressar a liberação de licenças que favoreciam políticos. É assim que se desmata na Amazônia com o conluio de gente muito fina. E que fica por aí usando em vão a palavra sustentabilidade.

Míriam Leitão

http://oglobo. globo.com/ pais/noblat/

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Brasil vai sediar conferência ambiental 20 anos depois da Eco-92

por Luana Lourenço, da REBIA
O Brasil vai sediar em 2012 a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, já batizada de Rio+20, em referência a Eco-92, realizada no Rio de Janeiro, cidade que deve receber novamente o evento.

A conferência foi aprovada em dezembro pela Assembléia Geral das Nações Unidas. O encontro havia sido proposto em 2007 pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A ideia é avaliar e renovar os compromissos com o desenvolvimento sustentável assumidos pelos líderes mundiais na Eco-92. A Rio+20 tembém discutirá a contribuição da economia verde para o desenvolvimento sustentável e a eliminação da pobreza.

Outra tema na pauta da conferência será o debate sobre a estrutura de governança internacional na área do desenvolvimento sustentável. O modelo de consenso, que só permite decisões com a aprovação de todos os países, foi colocado em xeque na 15ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, em Copenhague, que terminou sem acordo por divergências entre os países ricos e em desenvolvimento sobre as ações necessárias para enfrentar o aquecimento global.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Copenhague, um fracasso esperado

Editorial do Brasil de Fato, publicado na edição de 30 de dezembro de 2009, nas bancas. Do website do MST

COP15: Copenhague, um fracasso esperado
Foi um fracasso a 15ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, COP-15, realizada de 7 a 18 de dezembro, em Copenhague, na Dinamarca.

Por que se surpreender com o resultado se as decisões para salvar ao planeta deveriam ser tomadas exatamente pelos principais causadores dos desastres ecológicos que ocorrem hoje e tendem a se agravar, com conseqüências irreversíveis, num curto espaço de tempo? Bem resumiu Kumi Naiodoo, diretor internacional do Greenpeace, ao dizer que a cidade de Copenhague é a cena de um crime climático, com homens e mulheres culpados, fugindo para o aeroporto com vergonha.

As discussões giraram em torno das medidas necessárias para impedir que temperatura mundial chegue aos 2 graus Celsius – hoje ao redor de 0,7º Celsius. Como medida urgente é necessário que os governos assumam metas – e cumpram! - de reduzir a emissão de gás carbônico em até 40% até o ano 2020. Foram incapazes de fazer esse acordo.

A primeira constatação é a incapacidade e falta de credibilidade da Organização das Nações Unidas (ONU) em liderar a tomada de decisões conjuntas, superando os interesses nacionais ou particulares. A Rodada de Doha, desde 2001, negocia medidas políticas que poderia amenizar o desequilíbrio comercial provocado pelas economias ricas sobre os paises não industrializados. Passado nove anos, nada de concreto foi aprovado.

O mesmo fracasso ocorre com o processo liderado pela ONU para o desarmamento do planeta. Os maiores promotores e financiadores das guerras são exatamente os países mais industrializados, tendo à frente os Estado Unidos da América. A ONU se mostra incapaz de enfrentar seus interesses e por um basta aos genocídios que enriquecem uma minoria e sustenta um padrão de consumismo irracional nos paises ricos.

O Conselho de Segurança, instância máxima da ONU, composto por cinco países com poder de veto – Estados Unidos, Rússia, China, França e Reino Unido – é outra excrescência desse sistema multilateral, resultante da Segunda Guerra Mundial. Não é mais suficiente ampliar esse Conselho para 3 ou 4 países-candidatos – entre eles o Brasil - que almejam uma cadeira nesse grupo seleto, logo antidemocrático. É preciso democratizar a estrutura desse sistema, assegurando ao todos os países o direito de voz e de voto.

O Sistema está falido e, enquanto não mudar, continuaremos vendo encenações teatrais, como essa de Copenhague, onde os líderes dos países ricos, contando com a subserviência de inúmeros outros países, se dirão preocupados com os problemas que afetam os povos e o planeta. Ao final, do ato teatral, fugirão novamente, envergonhados, para os aeroportos.

A segunda constatação da COP-15, é que já é insuficiente a diminuição da emissão dos gases que estão provocando o aquecimento do planeta. É preciso dar um basta à guerra que os paises ricos travam contra os paises pobres para apoderar-se dos recursos naturais, da biodiversidade e para impor um controle alimentar, que afeta os processos de desenvolvimento dessas populações. A voracidade dos governos e das empresas transnacionais por lucros fáceis e rápidos, ditam políticas de ampliação das extensas áreas de monocultivos, de desmatamentos, impor um modelo de agricultura industrial, uso intensivo de agrotóxicos e de sementes transgênicas, utilização de aparatos repressivos – particulares e governamentais – e de uma super-exploração da mão-de-obra que em muito se assemelha aos períodos escravocratas.

A continuidade desse modelo econômico significará o aumento da pobreza, da fome, da escassez de água, da perda da biodiversidade, do envenenamento dos solos, do ar, das águas e dos alimentos. É preciso combinar o desenvolvimento de práticas e modos de vida que sejam ambientalmente sustentáveis com políticas que promovem justiça social, democracia e a distribuição da riqueza produzida em nosso planeta. É impensável que tais políticas sejam adotadas pelos líderes que fogem envergonhados para os aeroportos.

É acertado, assim, o alerta feito pelo teólogo Leonardo Boff, ao referir-se à COP-15: “enquanto mantivermos o sistema capitalista mundialmente articulado será impossível um consenso que coloque no centro a vida, a humanidade e a Terra e a se tomar medidas para preservá-la”. Alerta reforçado pelo Presidente da Bolívia: “Ou superamos o capitalismo ou ele destruirá a Mãe Terra.”

As saídas dos problemas, a COP-15 mais uma vez demonstrou, não virá com os que lucram coma irracionalidade do sistema capitalista e sua cultura consumista. Os camponeses, através da Via Campesina, exigem uma mudança radical no modelo de produção e consumo. É necessário reorientar as economias agro-exportadoras, promover a reforma agrária, fortalecer a agricultura familiar e tratar o alimento como um direito dos seres humanos, e não como uma mercadoria.

Já o argentino Adolfo Pérez Esquivel, Premio Nobel da Paz, juntamente com a Academia de Ciências do Ambiente de Veneza (Itália), estão impulsionando uma campanha para constituir o Tribunal Penal Internacional sobre o Meio Ambiente. A proposta visa levar aos tribunais e penalizar as empresas e governos que destrói o meio-ambiente e afetam prejudicialmente a vida dos povos, sinalizando que os danos ambientais são crimes de lesa humanidade.

A próxima reunião ministerial sobre o clima, organizada pela ONU, será na cidade do México, de 8 a 19 de novembro de 2010. Esperamos que até lá, os movimentos sociais, mais fortes e organizados, se façam ouvir. Ou ao menos, não fiquem desimpedidas as vias de acesso aos aeroportos, para onde costumeiramente fogem os líderes envergonhados.

sábado, 26 de dezembro de 2009

Apocalipse agora

Maurice Strong, secretário-geral da Rio 92, destacava: "O volume de riqueza, hoje, é capaz de proporcionar uma boa qualidade de vida ao dobro da população mundial". Assim ele abria a Eco 92, propondo a erradicação da pobreza.

Em julho de 2009, durante um curso de economia para jornalistas no Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em Brasília, o presidente da autarquia, Marcio Pochmann, assegurou que o volume de riqueza atualmente é muito maior. Na mesma aula, informava que as três maiores corporações do mundo têm o PIB do Brasil.

A FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação) recentemente divulgou que há no mundo 969 milhões de famintos e que, nos últimos dois anos, este número aumentou em 200 milhões.

Diante disso e da voracidade dos representantes das nações ricas, agora, em Copenhague, para impor acordos que permitissem a manipulação dos recursos naturais pelos países ricos - 80% do patrimônio natural pertence aos países pobres - não nos restam dúvidas de que se aproxima o apocalipse.

Imaginem que a Terra é um organismo vivo. Sua base é formada pelos pobres, que estão morrendo de fome ou sendo executados para que a indústria de armas cresça. Em breve, a Terra desmoronará. A Terra talvez não, mas a humanidade sim.

Este texto de Frei Betto, que transcrevemos na íntegra a seguir, foi publicado originalmente no Correio da Cidadania em 12 de dezembro de 2009.

Será que teremos Feliz Ano Novo?
(Zilda Ferreira - Equipe do Blog EDUCOM)

Apocalipse agora

Frei Betto*
O fim do mundo sempre me pareceu algo muito longínquo. Até um contra-senso. Deus haveria de destruir sua Criação? Hoje me convenço de que Deus nem precisa mais pensar em novo dilúvio. O próprio ser humano começou a provocá-lo, através da degradação da natureza.

Os bens da Terra tornaram-se posse privada de empresas e oligopólios. A causa de 4 bilhões de seres humanos viverem abaixo da linha da pobreza, e 1,2 bilhão padecerem fome, é uma só: toda essa gente foi impedida de acesso à terra, à água, à semente, às novas técnicas de cultivo e aos sistemas de comercialização de produtos.

A decisão dos EUA e da China de ignorarem a Conferência de Copenhague sobre Mudanças Climáticas torna mais agônico o grito da Terra. Os dois países são os principais emissores de CO2 na atmosfera. São os grandes culpados pelo aquecimento global. Ao decidirem boicotar Copenhague e adiar o compromisso de reduzirem suas emissões, eles abreviam a agonia do planeta.

Felizmente, a 25 de novembro o presidente Obama, sob forte pressão, voltou atrás e desdisse o que falara em Pequim. Os EUA, responsáveis por 23% das emissões mundiais de CO2, prometerão em Copenhague reduzir, até 2020, 17% das emissões de gases de efeito estufa; 30% até 2025; e 42% até 2030.

Por que o recuo? Além da pressão dos ecologistas, Obama deu-se conta de que ficaria mal na foto ignorar Copenhague e comparecer em Oslo, dia 10 de dezembro – quando se comemora o 61º aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos – para receber o prêmio Nobel da Paz. Portanto, na véspera estará na capital da Dinamarca.

Curioso, todos os prêmios Nobel são entregues em Estocolmo, exceto o da Paz. Por uma simples e cínica razão: a fortuna da Fundação Nobel, sediada na Suécia, resulta da herança do inventor da dinamite, Alfred Nobel (1833-1896), utilizada como explosivo em guerras. Como não teve filhos, Nobel destinou os lucros obtidos por sua patente a quem se destacar em determinadas áreas do saber.

Há uma lógica atrás da posição ‘ecocida’ dos EUA e da China. São dois países capitalistas. O primeiro abraça o capitalismo de mercado; o segundo o de Estado. Ambos coincidem no objetivo maior: a lucratividade, não a sustentabilidade.

O capitalismo, como sistema, não tem solução para a crise ecológica. Sabe que medidas de efeito haverão de redundar inevitavelmente na redução dos lucros, do crescimento do PIB, da acumulação de riquezas.

Se vivesse hoje, Marx haveria de admitir que a crise do capitalismo já não resulta das contradições das forças produtivas. Resulta do projeto tecnocientífico que beneficia quase que exclusivamente apenas 20% da população mundial. Esse projeto respalda-se numa visão de qualidade de vida que coincide com a opulência e o luxo. Sua lógica se resume a "consumo, logo existo". Como dizia Gandhi, "a Terra satisfaz as necessidades de todos, menos a voracidade dos consumistas".

Exemplo disso é a recente crise financeira. Diante da ameaça de quebra dos bancos, como reagiram os governos das nações ricas? Abasteceram de recursos as famílias inadimplentes, possibilitando-as de conservar suas casas? Nada disso. Canalizaram fortunas – um total de US$ 18 trilhões - para os bancos responsáveis pela crise. Eduardo Galeano chegou a pensar em lançar a campanha "Adote um banqueiro", tal o desespero no setor.

O planeta em que vivemos já atingiu os seus limites físicos. Por enquanto não há como buscar recursos fora dele. O jeito é preservar o que ainda não foi totalmente destruído pela ganância humana, como as fontes de água potável, e tentar recuperar o que for possível através da despoluição de rios e mares e do reflorestamento de áreas desmatadas.

Ecologia vem do grego "oikos", significa casa, e "logos", conhecimento. Portanto, é a ciência que estuda as condições da natureza e as relações entre tudo que existe - pois tudo que existe co-existe, pré-existe e subsiste. A ecologia trata, pois, das conexões entre os organismos vivos, como plantas e animais (incluindo homens e mulheres), e o seu meio ambiente.

Essa visão de interdependência entre todos os seres da natureza foi perdida pelo capitalismo. Nisso ajudou uma interpretação equivocada da Bíblia - a idéia de que Deus criou tudo e, por fim, entregou aos seres humanos para que "dominassem" a Terra. Esse domínio virou sinônimo de espoliação, estupro, exploração. Os rios foram poluídos; os mares, contaminados; o ar que respiramos, envenenado.

Agora, corremos contra o relógio do tempo. O Apocalipse desponta no horizonte e só há uma maneira de evitá-lo: passar do paradigma de lucratividade para o da sustentabilidade.
*Frei Betto é escritor, autor do romance "Um homem chamado Jesus", lançamento da editora Rocco para o Natal 2009.

Leia também: Salvemo-nos com o Planeta!

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Decreto de Lula cria 50 mil km2 de reservas indígenas

Uma área de mais de 50 mil quilômetros quadrados - equivalente a 34 vezes o tamanho da cidade de São Paulo - foi confirmada como território indígena. O decreto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva que aumenta o volume de floresta protegida no país foi publicado na edição de quarta, dia 23, do "Diário Oficial" da União.

A maior das nove terras indígenas homologadas é a Trombetas Mapuera, no estado do Amazonas. Mede quase 40 mil quilômetros quadrados, mais do que o dobro da área da reserva Raposa Serra do Sol, em Roraima, objeto de disputa no STF (Supremo Tribunal Federal) neste ano.

A segunda menor terra indígena homologada pelo governo federal ontem é provavelmente a que mais renderá polêmica. Arroio-Korá fica em Mato Grosso do Sul, em terras disputadas por fazendeiros.

"A questão indígena em Mato Grosso do Sul é complexa e corre o risco de ser transformada em um novo grande conflito, repetindo a crise que envolveu a demarcação da reserva Raposa Serra do Sol", registra documento da CNA (Confederação Nacional da Agricultura), presidida pela musa do trabalho escravo, a senadora Kátia Abreu (DEM-TO).

O presidente da Funai (Fundação Nacional do Índio), Márcio Meira, não acredita em reação semelhante à dos arrozeiros de Roraima. "Quando o presidente homologa essa área gigantesca de terras indígenas, está dando um sinal de que o Brasil vai cumprir as metas de corte das emissões de gases de efeito estufa, além de reconhecer o direito dos índios", disse.

A maior parcela da meta de corte das emissões depende da queda do desmatamento na Amazônia e no Cerrado. Terras indígenas são áreas ambientalmente protegidas, assim como as unidades de conservação.

As nove terras indígenas homologadas ontem têm culturas muito diferentes. Elas abrigam aproximadamente 7.000 indígenas de 29 etnias diferentes. Há povos com quase cinco séculos de contato, como os guarani kaiowá, de Mato Grosso do Sul, assim como grupos isolados identificados na terra Trombetas Mapuera, no Amazonas, ou os zo'és, no Pará.

Os zo'és ocupam a segunda maior terra indígena homologada ontem, no município paraense de Óbidos, com 6,2 mil quilômetros quadrados, ou quatro vezes o tamanho da cidade de São Paulo.

A população estimada nessa área (178 índios) é menor do que na terra indígena Balaio, que abriga 350 índios de dez etnias diferentes: tukáno, yepamashã, desána, kobéwa, pirá-tapúya, tuyúka, baníwa, baré, kuripáko, tariáno. A Balaio é a terceira maior terra indígena do pacote.

O Brasil detém hoje mais de um milhão de quilômetros quadrados de terras indígenas em diferentes fases de reconhecimento. Isso equivale a 12,5% do território nacional. A homologação por decreto do presidente da República é a penúltima etapa do processo de reconhecimento de um território indígena. Depois da homologação, ocorre o registro em cartório.

Segundo levantamento da Funai, ainda existem cerca de 28 mil quilômetros quadrados de terras indígenas pendentes de homologação, além de mais de cem áreas ainda não demarcadas, em estudo ou com restrição de acesso a não índios.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

COP15, 'uma depredação capitalista'. E veja como latifundiário é tratado na Bolívia...


Os presidentes da Bolívia e da Venezuela (foto, do jornal argentino Página 12) insistiram que o aquecimento se deve aos "desvios do capitalismo" e criticaram os países centrais que impediram que se chegasse a um acordo. Chávez citou Fidel ao dizer que o fechamento é "inglório". A reportagem é de Cledis Candelaresi e foi publicada pelo Página 12 no sábado, dia 19. Tradução de Moisés Sbardelotto.

"Somos guerreiros, não se metam conosco", advertia Hugo Chávez, meio a sério, meio em tom de brincadeira, com um abraço lateral a Evo Morales no palco da coletiva de imprensa que ambos os presidentes improvisaram para anunciar sua retirada da cúpula porque já não haveria um documento de consenso. A decisão foi apresentada como sendo do bloco Alba, a Aliança Bolivariana, iniciativa promovida pelo presidente venezuelano, e à qual aderem outros como Equador, Cuba e Nicarágua. Os discursos dos governantes se centraram na denúncia do capitalismo e eludiram questões técnicas.

Foi a ministra do Patrimônio Natural do Equador que fez uma síntese da denúncia formulada pelo bloco e esclareceu que o Brasil, a China e a Índia comungam dessa postura, mesmo que não estivessem presentes ali. "Denunciamos as práticas antidemocráticas, que violam os procedimentos das Nações Unidas. Não podemos aceitar que países de elite tomem decisões que nos envolvam e querem impingi-las a nós", sentenciou Marcela Aguinaga.

Ela fazia referência à possibilidade, depois concretizada, de que se apresentasse no final do evento um documento diferente de qualquer um que pudesse ter surgido do trabalho que, durante dias, os dois grandes grupos de negociação realizaram: o que discutiu uma prorrogação do Protocolo de Quioto e o que tentou construir as bases para um acordo totalmente novo. Em rigor, a mesma manobra que o presidente do Brasil objetou durante sua veemente exposição do meio-dia.

"É preciso reflorestar o planeta. Temos que frear a depredação capitalista" , sintetizou o venezuelano quando uma jornalista brasileira lhe perguntou especificamente sua opinião sobre os avanços técnicos do grupo Redd (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação), que busca analisar as complexas alternativas para combater o desmatamento do planeta. A essa inquietação expressada em portunhol, seguiram-se várias outras em inglês, que o chanceler nicaraguense – erigido a moderador do encontro – fez que fossem formuladas rapidamente, habilitando extensas respostas que finalmente não iam ao encontro do núcleo da pergunta proposta.

"O que está em debate são as duas formas de vida: a do capitalismo, que não respeita a Mãe Terra, e a do socialismo, que tenta harmonizar a vida com ela", considerou Morales. A colaboradora do presidente Rafael Correa o ajudava como intérprete, enquanto uma jovem tradutora fazia o mesmo com Chávez, que em todas as ocasiões que teve aludiu a uma opinião de Fidel Castro, dada em uma nota em seu poder. Ali, o líder da Revolução Cubana qualificou de "inglório" o encerramento desse encontro sem um documento de consenso.

Mas no mesmo estrado estava também o vice-presidente cubano, Salvador Ceren, que em tom cansado, totalmente alheio à pressão que impõe o ritmo frenético de uma sucessão de coletivas de imprensa desse evento, detalhou como a revolução da ilha limita as emissões de carbono "ensinando os jovens" a organizar a agricultura. Chávez o interrompeu prometendo contar em um minuto o que ele precisou de dez: como em seu país criam-se "animalitos" (bactérias) que devoram pragas sem necessidade de fumigar, cuidando desse modo do ambiente.

O presidente da Bolívia preferiu conceitos contundentes. "Não se trata só do clima. Trata-se da fome e do racismo. Trata-se dos desvios do capitalismo" . A funcionária equatoriana, enquanto isso, foi mais precisa ainda com o remate de sua intervenção. "Questionamos a falta de compromisso real de reduzir as emissões dos países desenvolvidos. Estão se esquecendo da dívida histórica de contaminação que contraíram". Fora do salão, enquanto isso, buscava-se desesperadamente algum papel que evitasse o encerramento inglório, segundo os termos de Fidel.

Dá-lhe Evo!

do Portal Imprensa
O banqueiro, barão da mídia e latifundiário boliviano Osvaldo Monasterio, proprietário da rede de TV opositora Unitel, teve quase 3 mil hectares de suas terras expropriados (confiscados sem indenização) pelo governo, para fins de Reforma Agrária. Segundo a agência de notícias Associated Press, as terras serão distribuídas a indígenas.

As autoridades alegam que Monasterio obteve os títulos de propriedade de maneira fraudulenta, e os prédios localizados nos terrenos não cumpriam função sócio-econômica. No entanto, parlamentares de oposição consideram que a expropriação teve motivação política.

domingo, 20 de dezembro de 2009

É a treva: rumo ao desastre

por Leonardo Boff, teólogo
Uma jovem e talentosa atriz de uma novela muito popular, Beatriz Drumond, sempre que fracassam seus planos, usa o bordão:”É a treva”. Não me vem à mente outra expressão ao assistir o melancólico desfecho da COP 15 sobre as mudanças climáticas em Copenhague: é a treva! Sim, a humanidade penetrou numa zona de treva e de horror. Estamos indo ao encontro do desastre. Anos de preparação, dez dias de discussão, a presença dos principais líderes políticos do mundo não foram suficientes para espancar a treva mediante um acordo consensuado de redução de gases de efeito estufa que impedisse chegar a dois graus Celsius. Ultrapassado esse nível e beirando os três graus, o clima não seria mais controlável e estaríamos entregues à lógica do caos destrutivo, ameaçando a biodiversidade e dizimando milhões e milhões de pessoas.

O Presidente Lula, em sua intervenção no dia mesmo do encerramento, 18 de dezembro, foi a único a dizer a verdade:”faltou-nos inteligência” porque os poderosos preferiram barganhar vantagens a salvar a vida da Terra e os seres humanos.

Duas lições se podem tirar do fracasso em Copenhague: a primeira é a consciência coletiva de que o aquecimento é um fato irreversível, do qual todos somos responsáveis, mas principalmente os paises ricos. E que agora somos também responsáveis, cada um em sua medida, do controle do aquecimento para que não seja catastrófico para a natureza e para a humanidade. A consciência da humanidade nunca mais será a mesma depois de Copenhague. Se houve essa consciência coletiva, por que não se chegou a nenhum consenso acerca das medidas de controle das mudanças climáticas?

Aqui surge a segunda lição que importa tirar da COP 15 de Copenhague: o grande vilão é o sistema do capital com sua correspondente cultura consumista. Enquanto mantivermos o sistema capitalista mundialmente articulado será impossível um consenso que coloque no centro a vida, a humanidade e a Terra e se tomar medidas para preservá-las. Para ele centralidade possui o lucro, a acumulação privada e o aumento de poder de competição. Há muito tempo que distorceu a natureza da economia como técnica e arte de produção dos bens necessários à vida. Ele a transformou numa brutal técnica de criação de riqueza por si mesma sem qualquer outra consideração. Essa riqueza nem sequer é para ser desfrutada mas para produzir mais riqueza ainda, numa lógica obsessiva e sem freios.

Por isso que ecologia e capitalismo se negam frontalmente. Não há acordo possível.O discurso ecológico procura o equilíbrio de todos os fatores, a sinergia com a natureza e o espírito de cooperação. O capitalismo rompe com o equilíbrio ao sobrepor-se à natureza, estabelece uma competição feroz entre todos e pretende tirar tudo da Terra, até que ela não consiga se reproduzir. Se ele assume o discurso ecológico é para ter ganhos com ele.

Ademais, o capitalismo é incompatível com a vida. A vida pede cuidado e cooperação. O capitalismo sacrifica vidas, cria trabalhadores que são verdadeiros escravos “pro tempore” e pratica trabalho infantil em vários paises.

Os negociadores e os lideres políticos em Copenhague ficaram reféns deste sistema. Esse barganha, quer ter lucros, não hesita em pôr em risco o futuro da vida. Sua tendência é autosuicidária. Que acordo poderá haver entre os lobos e os cordeiros, quer dizer, entre a natureza que grita por respeito e os que a devastam sem piedade?

Por isso, quem entende a lógica do capital, não se surpreende com o fracasso da COP 15 em Copenhague. O único que ergueu a voz, solitária, como um “louco” numa sociedade de “sábios”, foi o presidente Evo Morales: “Ou superamos o capitalismo ou ele destruirá a Mãe Terra”.

Gostemos ou não gostemos, esta é a pura verdade. Copenhague tirou a máscara do capitalismo, incapaz de fazer consensos porque pouco lhe importa a vida e a Terra mas antes as vantagens e os lucros materiais.

sábado, 19 de dezembro de 2009

COP15 em debate quarta, 23, na TV Brasil. Participação de Zilda Ferreira, do Blog EDUCOM



O entrevistado do '3 a 1' é o cientista Luiz Carlos Molion, contrário às teses sobre o suposto aquecimento da Terra. Veja a chamada no site do "3 a 1" para o debate, que vai ao ar às 23 horas:

Entrevista com Luiz Carlos Molion

O polêmico e contestador cientista brasileiro, o doutor em meteorologia, Luiz Carlos Molion é o convidado do 3 a 1 desta quarta-feira, dia 23. Entrevistado por Luiz Carlos Azedo, e pelos jornalistas convidados Zilda Ferreira, especialista em educação ambiental, e Efraim Neto, coordenador da rede brasileira de jornalismo ambiental, ele defende a tese que não há aquecimento global e sim um resfriamento da terra.

"Ao invés de estarmos em Copenhague preocupados com a emissão de CO2 deveríamos era estar discutindo como melhorar a distribuição das riquezas e a previsão do tempo, isso sim é o mais importante.", afirma Molion.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

João Pedro Stédile, sobre COP15 e CPMI anti-Reforma Agrária


Leia a seguir artigos de João Pedro Stédile (foto), coordenador da Via Campesina-Brasil, falando de dois temas que mobilizam o país e o mundo.

Copenhague e suas falsas soluções

A Conferência em Copenhague não vem tratando sobre o clima e suas mudanças. Trata, sim, de uma avançada engenharia financeira para a consolidação e expansão do que se convencionou chamar capitalismo verde. Isso se comprova facilmente pela vitória dos mecanismos de mercado sobre as propostas de fundos públicos, pelo avanço dos agrocombustíveis e dos transgênicos resistentes a um clima mais adverso. Tudo construído e legitimado pelo processo decadente da democracia representativa, na qual os povos de todo o mundo, diretamente afetados pelo aquecimento global e as mudanças climáticas, não tem voz.

Entretanto, no Clima Fórum, espaço paralelo ao oficial, foi construída outra perspectiva. A compreensão de que o sistema tem que mudar, e não o clima, foi um dos consensos mais fortes. É necessária uma mudança estrutural em direção a um sistema que não tenha como seu único objetivo a acumulação privada, mas sim as necessidades humanas.

A Via Campesina Internacional, que congrega 148 organizações de 68 países, possui a mesma compreensão. A agricultura industrial capitalista tem imensa responsabilidade nas mudanças climáticas, seja pela utilização intensiva de insumos químicos, seja pela devastação florestal que promove. Somente a agricultura camponesa, com suas agroindústrias e distribuição de seus produtos, pode alimentar a humanidade com base em sistemas agroecológicos, que acumulam carbono e preservam o meio ambiente.

A COP 15 tem como resultado uma colcha de retalhos de falsas soluções. Antes que a humanidade pague a conta destas aventuras capitalistas, a proposta popular de Copenhague precisa ser levada a cabo. Somente quando a humanidade se libertar dos interesses pelo lucro, poderá utilizar sua capacidade para consolidar sistemas urbanos e camponeses sustentáveis. Assim, teremos soluções reais para os atuais problemas ambientais.
(João Pedro Stédile, membro da coord. nacional da Via Campesina - Brasil)

Uma CPMI contra a Reforma Agrária

A burguesia agrária brasileira não tem jeito mesmo. O seu poder econômico, político e ideológico na mídia brasileira, é tão grande, que a deixa cada vez mais prepotente, porém cega e burra.
Vejamos alguns dados da realidade agrária explicitados pelo censo agropecuário realizado pelo IBGE em dezembro de 2006 e recentemente publicados:
- Cerca de um por cento dos proprietários de terra no Brasil, controlam 46% de todas as terras do país.
- Apenas 15 mil fazendeiros, que possuem áreas acima de 2.500 ha, são donos de 98 milhões de hectares (equivalente a 4 estados de São Paulo juntos).
- A concentração de terras no Brasil continua aumentando. E se desnacionalizando. Nos últimos anos as empresas transnacionais compraram mais de 20 milhões de hectares. E junto com a terra, água, minérios, etanol, usinas, madeira e biodiversidade.
- O índice de Gini que mede a concentração de terras no Brasil é de 0,856 e é o segundo país de maior concentração de terras do mundo.
- O Banco Oportunity, por exemplo, que opera recursos de origem norte-americana comprou em apenas três anos, 56 fazendas e mais de 600 mil ha, no sul do Pará.
- A empresa Cutrale, passou a monopolizar a produção de sucos de laranja e conseguiu levar a miséria milhares de pequenos e médios agricultores paulistas que tiveram que destruir nada menos do que 280 mil ha de cultivo de laranjas, nos últimos dez anos. Mas a Cutrale acumulou 60 mil ha, em 36 fazendas. Detém 80% de toda produção de suco do país, exporta 90% e controla 30% do comércio mundial de suco, em parceria com a coca-cola.
- Os fazendeiros vinculados ao agronegócio produzem ao redor de 100 bilhões de reais por ano. Mas estão cada vez mais dependentes do capital financeiro, e para conseguir produzir esse valor, tomam emprestado todos os anos ao redor de 90 bilhões de reais de credito rural nos bancos.
- Essa produção é na verdade fruto do trabalho de aproximadamente três milhões de assalariados permanentes e temporários. É revendida para apenas 20 empresas (a maioria transnacionais) que controlam o comercio de commodities e de insumos agrícolas no Brasil.
- O Balanço dessas 20 maiores empresas que atuam no agro, revelou que elas faturam sozinhas ao redor de 115 bilhões de reais por ano. Ou seja, toda aquela riqueza vai parar nas mãos deles.
- O agronegócio dá emprego para apenas 15% da população economicamente ativa (PEA) os outros 85% trabalham na agricultura familiar. Ou seja, há 18 milhões de trabalhadores rurais adultos, e destes 15 milhões estão na agricultura familiar.
- Do total de trabalhadores adultos que estão na agricultura, 80% fez apenas ate a quarta serie do ensino fundamental, e há 35% de analfabetos.
- A agricultura familiar produz 85% de todos alimentos que vão para a mesa do povo brasileiro. Já o agronegócio produz apenas commodities, ou seja, matérias primas para exportação.
- Cerca de 90% dos proprietários de terra que detem áreas acima de 200 hectares não moram nas fazendas , mas nas cidades. Dos 15 mil maiores fazendeiros, a grande maioria mora em São Paulo e no Rio de Janeiro.
- Graças a essa aliança entre os grandes fazendeiros brasileiros com as empresas transnacionais, o Brasil se transformou em 2008, o maior consumidor mundial de venenos agrícolas. São aplicados nos 45 milhões de hectares, nada menos que 700 milhões de litros de venenos. Apenas seis empresas produzem: Monsanto, Syngenta, Bayer, Basf, Shell.. todas transnacionais. Os agrotóxicos são de origem química. Matam o solo, matam a biodiversidade, contaminam as águas e viram câncer no seu estomago.
- O Brasil é a nona economia mundial em produção de riquezas. Mas está em 75 lugar nas condições de vida da população, e é a sétima pior sociedade do mundo, em desigualdade social.
- Desde a redemocratização, em 1985, foram assassinados no campo mais de 1.600 lideranças de trabalhadores. Destes apenas 80 chegaram aos tribunais, 15 foram condenados e uns 5 mandantes e assassinos estão na cadeia. Todos os demais estão impunes inclusive os autores dos massacres de Corumbiara(1995) Carajás (1996) e Felisburgo (2004).

O que fazer para enfrentar uma realidade tão dura e injusta? Os parlamentares ruralistas que são a fina flora da direita atrasada e burra, decidiram: Vamos convocar uma CPMI, para impedir a reforma agrária!!
Como diria o saudoso Florestan Fernandes, como nos faz falta uma revolução burguesa! Pelo menos.  
(artigo de J.P. Stédile para a edição de dezembro da revista Caros Amigos)

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Presidente da COP-15 renuncia

da Revista Fórum, com informações de Agência Brasil e BBC Brasil
Presidente da 15ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-15), Connie Hedegaard renunciou ao posto quarta, 16. Ela vinha sendo acusada por representantes de países em desenvolvimento de querer beneficiar países ricos nas negociações. Hedegaard foi substituída pelo primeiro-ministro da Dinamarca, Lars Lokke Rasmussen.

As razões da renúncia ainda não foram esclarecidas. Hedegaard disse que seria mais apropriado que o encontro fosse presidido pelo primeiro-ministro tendo em vista a presença de tantos chefes de Estado nos estágios decisivos do evento, marcado para terminar nesta sexta, dia 18.

As negociações continuam divididas, e os protestos nas ruas de Copenhague (Dinamarca) parecem ter ganhado força nesta reta final. Manifestantes criticam o pouco progresso rumo a um acordo.

Pouco após o início de uma passeata na manhã da mesma quarta-feira da renúncia de Hedegaard, a polícia dinamarquesa afirmou ter prendido cerca de cem pessoas, após supostas ameaças de ativistas de que o grupo furaria um bloqueio policial.

Na sede da COP15, as discussões parecem estar irremediavelmente paradas em questões como metas para países desenvolvidos e, sobretudo, financiamento para redução de emissões de gases de efeito estufa em longo prazo.

Em entrevista ao jornal britânico Financial Times, o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-Moon, chegou a dizer que os países em desenvolvimento deveriam deixar este objetivo de lado para obter um acordo.

Hidrelétrica de Belo Monte e Aquecimento Global: indígenas na COP 15

da página do Conselho Indigenista Missionário - CIMI, com informações do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM)
No dia 11 de dezembro, na Conferência de Copenhague (COP 15), lideranças indígenas e comunidades tradicionais falaram ao público sobre suas impressões sobre o clima, modelo de desenvolvimento atual e de políticas de contenção ao aquecimento do clima.

Foi numa sala dessa conferência lotada e tensa que um grupo de cinco pessoas da Amazônia falou ao público. Eles são líderes de suas comunidades, e participam ativamente na capacitação de suas comunidades e como porta vozes dos mesmos.

Ianukulá Kaiabi Suiá, da associação Terra Indígena Xingu, começou dizendo que “para nós o fim pode chegar mais próximo”. Ianu, como é chamado, trouxe um exemplo prático e muito próximo a eles: a construção da nova hidrelétrica de Belo Monte. Sobre a implementação da hidrelétrica, foi enfático: “não somos consultados, temos nossos direitos ignorados, somos praticamente atropelados.”Afirmando que tal implementação deve fazer “desaparecer território sagrado”, Ianu resumiu a mensagem dos povos do Xingu: “não a Belo Monte”.

O fundamento das mensagens é o mesmo: O modelo de desenvolvimento atual não funciona - agride o meio ambiente e não resulta em benefícios para aqueles que historicamente protegem as florestas do mundo: as comunidades tradicionais e povos indígenas.

Informados, esses grupos exigem que as negociações do clima levem em conta seus recados. Que seus papéis históricos sejam reconhecidos, valorizados e recompensados.

O mecanismo de Redução de Emissões para o Desmatamento e Degradação (REDD) foi citado por todos os participantes como aquele que pode funcionar, atendendo tanto às políticas internacionais, como às necessidades locais. Sonia Guajajara, vice-coordenadora da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira – COIAB, complementou que REDD, planejado de ‘baixo para cima’, poderá garantir seus territórios, a continuação de suas culturas e valorização de seus papéis históricos.

Manuel Cunha, presidente do Conselho Nacional dos Seringueiros (CNS), traz a clara mensagem que o clima não é mais o mesmo. Que seu pai, antigo seringueiro analfabeto, antes previa a chuva e assim seus dias de trabalho, e como isso hoje, tão distante, entristece a família. Que as árvores e seus frutos estão descompensados, fora do tempo. Isso, segundo ele, atrapalha o trabalho e causa até desavenças: pássaros e animais vão a propriedades vizinhas para se alimentarem.

Manuel, então, enfatiza: “Não fomos nós que tiramos a cobertura vegetal do Planeta, não é justo que paguemos esse preço”.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Cuidar el solo...

Baixe e comente.

Saudações educomunicativistas

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Nota da CNBB sobre a Conferência de Copenhague

do website da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil

“Toda a criação espera ser libertada da escravidão” (cf. Rm 8,21).

Nos dias 7 a 18 de dezembro, realiza-se a Conferência da ONU
sobre Meio Ambiente - COP15, em Copenhague. As decisões que serão
tomadas pelos governantes terão impacto no futuro da humanidade e em
todas as formas de vida no Planeta.

Considerando a importância dessa Conferência, bem como a
urgência do tema em pauta, nós bispos do Conselho Episcopal de
Pastoral (CONSEP), reunidos em Brasília, nos unimos ao apelo global
direcionado aos líderes mundiais, exigindo um acordo corajoso com
metas necessárias e mensuráveis na emissão de poluentes. Esperamos
igualmente que as populações mais vulneráveis afetadas pelas mudanças
climáticas recebam os recursos necessários para a sua adaptação e o
seu desenvolvimento sustentável.

Diante da declaração de intenção do Governo brasileiro em diminuir, até 2020, em 38% a emissão de gases que provocam aquecimento da Terra, e a redução de 80% do desmatamento da Amazônia, manifestamos a nossa expectativa para que essas metas sejam acompanhadas por políticas nacionais coerentes, que promovam a sustentabilidade do desenvolvimento humano, especialmente das populações mais empobrecidas e a integridade da criação, em obediência aos seguintes princípios:

* O reconhecimento da água como direito humano, bem público e
patrimônio de todos os seres vivos, com a conseqüente implementação de
políticas hídricas que priorizem o ser humano e a dessedentação dos
animais;
* A implementação de uma ampla política de reforma agrária e
agrícola com uma justa distribuição da terra, em favor das unidades
familiares e comunitárias, mais produtivas por hectare, geradoras de
oportunidade de trabalho, produtoras de alimentos, em consonância com
o meio ambiente;
* O aprimoramento e a implementação do Plano Nacional de Mudanças
do Clima (PNMC), que orientem de modo adequado e coerente outros
planos e iniciativas governamentais;
* A opção por uma matriz energética limpa e diversificada, junto
com um maior investimento tecnológico e atenção à sabedoria e ás
práticas das populações tradicionais;
* A manutenção do código florestal e a busca de mecanismo de
incentivo para a sua implementação;
* Transparência e controle social sobre os investimentos públicos
e privados para que as políticas de Reduções de Emissões Associadas ao
Desmatamento e à Degradação Florestal (REDD) não sejam regidos pelos
interesses do mercado.

Movidos pelos gritos da Terra e dos seus filhos e filhas
especialmente, dos mais empobrecidos, conclamamos as nossas
comunidades eclesiais a realizarem nos dias 12 e 13 de dezembro
próximo, atos que sinalizem nossa preocupação com as decisões que
serão tomadas na Conferência de Copenhague. “Antes que seja tarde
demais, precisamos fazer escolhas corajosas, que possam restabelecer
uma forte aliança entre o ser humano e a Terra” (Papa Bento XVI,
discurso em Loreto).

Como gesto concreto, sejam promovidos debates, orações e
vigílias junto com iniciativas de outras Igrejas e organizações
sociais, Em consonância com a iniciativa das Igrejas de outros
Continentes, incentivamos que se dêem 350 repiques de sino, às 12
horas do próximo dia 13 de dezembro. Este gesto simbólico visa alertar
os governos a não permitirem que se ultrapassem 350 partes por milhão
(PPM), limite máximo e seguro de dióxido de carbono (CO2) na
atmosfera, conforme atestam os cientistas que estudam o clima.

Que as celebrações do Advento nos coloquem em vigilante
atitude na defesa e promoção da vida na Terra.

Brasília, DF, 10 de dezembro de 2009.



Dom Geraldo Lyrio Rocha

Arcebispo de Mariana

Presidente da CNBB



Dom Luiz Soares Vieira

Arcebispo de Manaus

Vice-Presidente da CNBB



Dom Dimas Lara Barbosa

Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro

Secretário-Geral da CNBB

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

A agenda oculta de Copenhague

Mais uma fonte, agora um blog (veja só!) dos Estados Unidos denuncia os verdadeiros objetivos por trás da COP15. O mais pernicioso: legitimar e oficializar o lucrativo mercado de créditos de carbono, negociata mundial às custas de uma suposta agenda de conservação do meio ambiente. Baixe aqui a tradução do post originalmente publicado no Washington's Blog.

Saudações educomunicativistas

domingo, 13 de dezembro de 2009

Cientista brasileiro chama COP15 de farsa e diz que Amazônia crescerá com aquecimento

do Terra Magazine
Ab'Saber: COP-15 é farsa. Amazônia crescerá com aquecimento



Carolina Oms
Especial para Terra Magazine

Atento aos estudos sobre os impactos das mudanças climáticas globais e às notícias sobre a Cúpula do Clima (COP-15) em Copenhague, Dinamarca, o geógrafo Aziz Ab'Saber (foto, reproduzida de arquivo da USP), 85, considerado referência no assunto, ratifica a tese de que o planeta está mesmo aquecendo. Mas não acredita que as medidas apresentadas na conferência possam impedir esse processo.

O professor emérito da Universidade de São Paulo (USP) classifica a conferência como "farsa". "Em um lugar com mais de 1.000 pessoas, não pode haver debate ou questionamentos", justifica.

Tampouco acredita nas metas levadas para a redução de emissão de CO2: "São metas irreais. Quando um país leva uma meta que vai reduzir 40%, por exemplo, não vai".

Ponderado, o professor, critica os que ele chama de "terroristas do clima": "Não tenho dúvida de que as causas (do aquecimento) não são tão perfeitas quanto eles pensam".

Ab'Saber estuda geografia há 68 anos (ingressou aos 17 no curso de geografia da USP), ele afirma que os "terroristas" não consideram os movimentos periódicos do clima ou as variações climáticas ao longo da história da Terra.

Sobre as consequências catastróficas prenunciadas pela maioria dos cientistas, ele também faz inúmeras ressalvas. Para ele, o aquecimento não causará a desertificação das florestas tropicais, ao contrário. "A tendência, no caso da mata Atlântica e da Amazônia, é que elas cresçam", defende.

Leia os principais trechos da entrevista:

Terra Magazine - O que o senhor está achando da 15ª Conferência das Partes da ONU em Copenhague, a COP-15?
Aziz Ab'Saber - Copenhague é uma farsa, quando eu vi que levaram cerca de 700 pessoas do Brasil pra lá eu disse "meu Deus", essas pessoas não terão um segundo pra falar, nem nada. Para mim, quando uma conferência passa de 1.000 pessoas na sala, elas ficam só ouvindo as metas e propostas dos outros. Não há espaço para debate ou questionamento. Além disso, os países levam metas irreais. Quando um país diz que vai reduzir 40%, por exemplo, não vai. Espertos são os países que levam metas baixinhas.

E quanto ao objetivo central da conferência: reduzir as emissões de CO2?
Não tenho a menor dúvida de que as causas não são tão perfeitas como eles pensam. Mas é fato que está havendo um aquecimento: Na cidade de São Paulo, no século passado, tinha 18,6 graus Celsius de temperatura média na área central. Hoje, tem entre 20,8 e 21,2 graus. Se a gente fizer a somatória de todas as cidades em São Paulo e as contas do desmate ocorrido no nosso território, veremos que com esses desmates o sol passou a bater diretamente no chão da paisagem. Se esse aquecimento é em função do calor das grandes cidades... O clima urbano deve ser considerado, porque evidentemente esse clima tem certa projeção espacial, em algumas cidades mais em outras menos.
Há também que se considerar os efeitos das chamadas Células ou Ilhas de Calor, por que quando eu digo que a temperatura da cidade de São Paulo aumentou nesse século, eu não falo do estado como um todo, nem mesmo da cidade. A temperatura medida na área central é uma, nos Jardins é outra e, lá onde eu moro, perto de Cotia, é outra.

E os inúmeros alertas para as consequências do aquecimento: O aumento do nível do mar, a desertificação de florestas...
Mas essas observações de que o aquecimento global vai derrubar a Amazônia são terroristas! Há um aquecimento? Sim, seja ele mediano ou vagaroso, mas, quanto mais calor, a tendência, no caso da mata Atlântica e da Amazônia, é que elas cresçam e não que sejam reduzidas. Parece que essas pessoas, esses terroristas do clima nunca foram para o litoral! A gente que observa o céu vê que as nuvens estão subindo e sendo empurradas para a Serra do Mar, levando mais umidade para dentro do território. Esses cientistas alarmistas não observam nada, não têm interdisciplinaridade. Na média, está havendo aquecimento, mas as consequências desse aquecimento não são como eles preveem. Mas essa é uma realidade não relacionada tão diretamente com a poluição atmosférica do globo e pode sofrer críticas sérias de pessoas com maior capacidade de observação.

Esse ano nós tivemos um clima problemático... Enchentes sérias em São Paulo, em Santa Catarina...
Esse ano é um ano anômalo, El Niño funcionou por causa do aquecimento do Pacífico equatorial, a umidade veio pra leste, bateu na Colômbia, lá houve problemas sérios, inundações. Aqui, essa massa de ar úmida entrou pela Amazônia e outras regiões sul-sudeste, e perturbou todo o sistema de massas de ar no Brasil. E continua, isso vem desde novembro do ano passado até hoje. Quando o pessoal diz: "Olha, está muito calor, o aquecimento!", eles não sabem as consequências das perturbações climáticas periódicas. E aí entra o problema da periodicidade climáticas que ninguém fala! Se não falarem disso lá em Copenhague, será uma tristeza para a climatologia. A periodicidade do El Niño é de 12 em 12, 13 em 13, ou 26 em 26 anos. Então ontem, no jornal, alguém disse: "O último ano que fez tanto calor foi em 1998". Há 11 anos, a medida do El Niño, então esse calor, essas chuvas, é um tempo diferenciado provocado pelo El Niño.

E o que aconteceu?
O que aconteceu naturalmente? Sem indústria, sem nada: Entre 23 mil e 12 mil anos A.P. (termo da Arqueologia, significa "Antes do Presente". Tendo por base o ano de 1950), houve um período muito crítico. O planeta passou por um período de glaciação. Devido ao congelamento de águas marinhas nos pólos Norte e Sul, o nível dos oceanos era cerca de 90 metros mais baixo do que o registrado hoje. A partir de 12 mil anos atrás, cessou o clima frio e começou a haver um aquecimento progressivo. Com isso, o nível do mar subiu, ele tinha descido 95 metros.

Isto, por conta do aquecimento...
Com o aquecimento, as grandes manchas florestais, que haviam se reduzido a refúgios, cresceram. A esse processo, que aconteceu principalmente na costa brasileira, eu dei o nome de "A Réplica do calor" e o período foi chamado de Optimum climático. Durante esse Optimum climático, o calor foi tão grande que o nível do mar subiu, embocando nas costas mundiais, formando baías, golfos, rias (canal ou braço do mar).

E o que aconteceu depois?
Houve mais chuvas, o que favoreceu a continuidade das florestas. O optimum é uma fase da história climática do mundo que vários cientistas e o próprio IPCC não consideram. Como naquele período, nem a mata Atlântica nem a Amazônia desapareceram do mapa, não é certo dizer que até 2100 a Amazônia vai virar cerrado. Mais

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

A falsa democracia do sistema ONU

por Luiz Zarref*, da página do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra

Ao longo das últimas duas décadas, reuniões como as do G8, do Fórum Econômico em Davos e da Organização Mundial do Comércio (OMC) consolidaram-se como centro do enfrentamento entre movimentos de todo o mundo e os representantes do Estado Capitalista (que só muda de nacionalidade, mas mantém as mesmas características qualitativas). A luta anti-capitalista e anti-globalização ganhou muita força graças a esses acontecimentos.

Entretanto, as inúmeras conferências da Organização das Nações Unidas (ONU) sempre gozaram de certo status de democracia. A presença de representantes de todos os países e a necessidade de consenso durante as negociações ainda são como pilares da democracia representativa. A voz dada às organizações não governamentais (normalmente grandes ONGs transnacionais) e a certa tolerância às manifestações públicas completam o teatro, com uma cereja de democracia direta.

Obviamente, toda esta encenação não teria suporte por muito tempo sem expor suas contradições. Alguns sintomas desta falência já vêm aparecendo: a desmoralização mundial diante da intransigência bélica estadunidense; a presença assustadora de grandes corporações do complexo agroindustrial nas Conferências de Biodiversidade; a ausência de prioridade das nações de capitalismo avançado sobre as Conferências da FAO.

Entretanto, a Conferência sobre as Mudanças Climáticas tem potencial para deixar marca como divisor de águas. Enquanto o espaço oficial está repleto de grandes corporações (Coca-Cola, Google, Microsoft, Mercedez-Benz e brasileiras como Vale, Odebrecht, entre diversas outras), os movimentos sociais e entidades comprometidas com os povos e o planeta sofrem com uma terrível guerra psicológica implementada pelo governo dinamarquês, anfritrião da conferência.

Há poucas semanas foi aprovado no parlamento Dinamarquês, em tempo absolutamente recorde, uma lei repressiva contra mobilizações. Para demonstrar a brutalidade da lei, alguns exemplos: caso os manifestantes não cumpram imediatamente a voz de dispersar, poderão ser multados em 80 euros; caso resistam, fiquem juntos ou desenvolvam qualquer outra forma de obstrução à repressão policial, podem ficar presos por 40 dias. E estas sanções se aplicam a cidadãos europeus! No caso de estrangeiros, a deportação é imediata e o retorno à União Européia é proibido sumariamente!

E a repressão não irá atuar apenas no momento das mobilizações. Desde a noite do dia 8/12, a fronteira entre a Dinamarca e a Alemanha está fechada para qualquer militante social - ou seja, para qualquer um que a Polícia considerar uma "ameaça". A região sul da Dinamarca está com vários destacamentos policias prontos para as grandes mobilizações do dia 12 e 16/12. O serviço de inteligência também está a todo vapor. Nas últimas semanas tem seguido militantes juvenis e feito ameaças. Ontem, dia 9/12, uma casa onde estão alojados jovens militantes europeus foi invadida sem qualquer justificativa e as pessoas ali alojadas levadas para a delegacia.

A Conferência das Mudanças Climáticas, por sua vez, permanece num silêncio retumbante. Isolada em um local distante da cidade, cercada por policiais e arames farpados, torna-se cúmplice do Estado Policial. Esta é a democracia capitalista referenciada pela ONU. Pergunta-se: há possibilidade de construir algo diferente a partir deste falido sistema?
*Luiz Zarref é integrante da Via Campesina

Nota da Equipe do Blog EDUCOM: a presença de empresários e porta-vozes do agronegócio em Copenhague é um fato e será ainda mais expressiva até o encerramento da Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, dia 18. A senadora tocantinense Kátia Abreu, musa dos ruralistas, dama de ferro do trabalho escravo, principal articuladora da CPMI criada no Congresso Nacional para atacar o MST e, portanto, inimiga número 1 da Reforma Agrária falará na COP15. Outra figura, bem conhecida por nós, dono de um bom pedaço do Brasil e que ainda tem poder político (mas é claro) sobre seu reino também pintará no pedaço. Saiba de quem falamos lendo o texto abaixo e conheça mais um abnegado neoverde brasileiro...

A metamorfose de Blairo
publicado originalmente na revista Veja (setembro de 2009)

O governador de Mato Grosso, Blairo Maggi, já foi chamado de "estuprador da Amazônia". Agora, mudou o discurso e a prática. Quer até premiar os fazendeiros que não desmatarem. Por essas e outras, tornou-se xodó de ambientalistas

Em 1956, uma amiga de Lúcia Borges Maggi sugeriu que elas dessem a seus filhos os nomes de uma dupla de cantores sertanejos: Blairo e Clairon. Jamais houve um segundo Clairon (em lugar dele, nasceu uma menina), mas o filho de Lúcia não seria um Blairo necessitado de parceiro para fazer carreira. Atual governador de Mato Grosso, Blairo Borges Maggi é um dos mais ricos políticos brasileiros – e uma admirável exceção por não ter feito fortuna na política. Seu conglomerado, o Grupo André Maggi (nome do pai, que o fundou), movimenta 8% de toda a soja produzida no Brasil e fatura 2,4 bilhões de dólares por ano. Mas não foi a riqueza que tornou Blairo célebre. Foi o terror que inspirava nos ambientalistas do Brasil e do mundo. Ele era considerado o mentor, o executor, o defensor da derrubada da floresta mato-grossense num ritmo chinês para o cultivo de soja. Seu despudor em relação à questão ambiental era tamanho que, quando chegou ao governo, em 2003, ele deu a seguinte declaração ao jornal The New York Times: "Um aumento de 40% no desmatamento da Amazônia não significa nada. Não sinto a menor culpa pelo que estamos fazendo aqui". Desde 2008, porém, vem-se operando uma metamorfose em Blairo. Tanto que, agora, há ambientalistas entre seus simpatizantes.

Um deles é o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc. Há apenas dezesseis meses, o ministro disse que, se o governo deixasse, Blairo plantaria soja até nos Andes. Hoje, ele já não poderia afirmar o mesmo. No último ano, o desmatamento da Amazônia caiu 47% – e boa parte disso se deve ao estado administrado por Blairo. Entre agosto de 2007 e julho de 2008, foi ceifada a cobertura vegetal de 8 200 quilômetros quadrados da região. De agosto de 2008 a julho deste ano, a devastação caiu para 4 300 quilômetros quadrados. Mato Grosso contribuiu com uma redução de 2 000 quilômetros quadrados. "É por isso que estamos em paz com Blairo", explica Minc. "No começo da minha gestão, não dei prioridade à política ambiental. Foi o maior erro que cometi", reconhece o governador, que chegou a ser chamado de "estuprador da floresta". Antes escorraçados, os movimentos ambientalistas passaram a participar de suas decisões.

Blairo adotou bandeiras caras aos ambientalistas, como a adoção de medidas que desestimulam a pecuária extensiva, uma das principais razões do desmatamento. Também passou a advogar em prol da regularização da situação fundiária dos fazendeiros que atuam nas bordas das florestas – precondição para punir os proprietários que abrem clareiras maiores que o permitido por lei. Ela acabou sendo adotada em maio com a edição da Medida Provisória 458. Falou-se que a metamorfose de Blairo começou em 2008, mas em 2006 ele já emitia sinais contraditórios em relação a seu discurso de "Motosserra de Ouro", título que lhe foi conferido pelo Greenpeace. Naquele ano, ele persuadiu os grandes esmagadores de soja do país a assinar a "moratória da soja". Por esse acordo, renovado neste ano, os esmagadores se comprometeram a não adquirir mais grãos oriundos de áreas recém-desmatadas. Há alguns meses, ele abraçou uma proposta da rede varejista Wal-Mart de reproduzir a iniciativa no setor de carnes. E, com o empurrão de Blairo, os maiores frigoríficos do país se comprometeram a não comprar mais bois criados em áreas de desmatamento ilegal. Ah, sim, como se não bastasse, ele se dispôs a fiscalizar o cumprimento do acordo. "Há uma percepção de que Blairo Maggi mudou sua visão sobre o problema ambiental e existe um reconhecimento pelo seu esforço nesse sentido", diz Steve Schwartzman, da ONG Environmental Defense Fund, com sede em Washington.

Até o fim do ano, o governador de Mato Grosso pretende dar a prova definitiva de sua conversão. Ele quer ser o primeiro governante a compensar financeiramente, em grande escala, quem não devasta. Propõe pagar 150 dólares aos fazendeiros por hectare de floresta preservado. O dinheiro, se tudo der certo, será fornecido por ONGs europeias e grandes empresas. Blairo diz que já tem garantidos recursos suficientes para sustentar um projeto piloto de 105 000 quilômetros quadrados no noroeste do estado, onde a floresta ainda está intacta. Esse sistema, conhecido como Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação (REDD), é defendido por ambientalistas de peso. Blairo tenciona anunciá-lo no fim deste mês durante a Conferência Internacional de Governadores sobre o Clima Global, a ser realizada em Los Angeles. Na edição de 2008 desse encontro, o governador mato-grossense dividiu as atenções da imprensa internacional com o ator Arnold Schwarzenegger, que governa a Califórnia. O REDD lhe renderá novos holofotes. Em dezembro, Blairo fará também uma apresentação do programa na Conferência sobre Mudanças Climáticas que as Nações Unidas realizarão em Copenhague, na Dinamarca. "Blairo esverdeou", comemora Paulo Adário, um dos líderes do Greenpeace no Brasil. Mais

e, para entender o que pretendem Blairo Maggi e Kátia Abreu ao "aderirem" ao movimento verde, não esqueça de ler este post

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

A disputa pela terra em Copenhague

por Zilda Ferreira, da Equipe do Blog EDUCOM
Começou segunda, 7 de dezembro, em Copenhague, a COP15 - 15ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas. Mais do que isso. Começou na última segunda e seguirá até o dia 18 o duelo entre os conservacionistas e os empresários do agronegócio. Os conservacionistas compram grandes extensões de terra em países ricos em biodiversidade para transformar em ativos ambientais. Os empresários do agronegócio compram solos férteis e ricos em água para produzir commodities.

Os dois grupos ameaçam a soberania dos países pobres e o equilíbrio do planeta. Veja como estão jogando e fique atento às grandes jogadas de ambos durante a Conferência de Copenhague. As mais sofisticadas podem ser as dos conservacionistas e as mais perigosas as do agronegócio.

Em 23 de abril de 2006, a Folha de S. Paulo destacava a compra de 160 mil hectares pelo milionário sueco-britânico Johan Eliasch para ajudar a preservar a Floresta Amazônica. O magnata, que é amigo do governador mineiro Aécio Neves (PSDB), disse na matéria que almejava modificar o Protocolo de Quioto, acordo internacional para reduzir a emissão de gases que causam o efeito estufa, de modo a permitir que proprietários de florestas preservadas possam também vender créditos de carbono.

Elizabeth Laville, uma francesa especialista em negócios verdes e que assessora grandes grupos econômicos, encerra assim sua entrevista à revista Veja, publicada nas páginas amarelas em setembro de 2009: "o ecossistema preservado pode ser trocado por créditos de carbono. Preservar a Amazônia pode ser ótimo negócio”.

A maior Organização Não-Governamental conservacionista do planeta, atualmente, é a Conservação Internacional (CI), presente em 40 países, criada e dirigida por Peter Seligman, que deixou em l987 a ONG estadunidense Nature Conservacy - especializada em compra de terras para instalação de reservas ecológicas. Dois anos mais tarde, em l989, Russell Mittermeier deixou a vice-presidência da World Wildlife Foundation (WWF) para integrar a CI, na ocasião modesta. A sede brasileira fica em Belo Horizonte e há escritórios estratégicos no mapa da biodiversidade brasileira. O Brasil é o primeiro país do mundo no ranking da megabiodiversidade.

A CI já identificou os 34 Jardins do Éden da biodiversidade mais importantes do planeta, com ajuda de seus executivos, que normalmente são cientistas com PhD em Harvard. É proprietária de várias publicações, incluindo a parceria com a revista Planeta. Alem disso, tem apoio de grandes empresas brasileiras e multinacionais, como Citibank, Intel, Bradesco, Banco Real e J.W Thompson entre outros.

No ranking das 17 áreas mais ricas em biodiversidade, os chamados paises de megabiodiversidade estão: em primeiro lugar o Brasil, campeão em água doce e terrestre; em segundo a Indonésia, graças ao grande número de ilhas, recifes e corais, que ganha em diversidade marinha. A seguir, nesta lista, vem Colômbia, México, Austrália, Filipinas, Madagascar, Peru, Equador, China, Índia e República Democrática do Congo (ex-Zaire). A CI recomenda investimentos nesses países em favor da natureza.

O agronegócio tem um jogo mais explícito, portanto mais visível, mas não menos perigoso, porque os danos podem ser irreversíveis.

Em 2004, empresários estadunidenses do agronegócio se reuniram, no estado do Texas, para cobrar do governo mais investimentos na compra de terras nos cerrados brasileiros, onde haveria o melhor solo e com equilibrada distribuição de recursos hídricos. Um jornalista brasileiro, que foi assessor de imprensa do consulado americano esteve presente, nessa reunião, e nos forneceu dados sobre o encontro.

Algum tempo depois, dessa reunião, uma surpresa: o todo poderoso Departamento de Defesa dos EUA permitia a divulgação de um estudo ao qual a revista Fortune teve acesso, sobre o Aquecimento Global. As previsões eram aterradoras.

Eis alguns trechos:

"(...) Milhões morrerão em consequência do superaquecimento do planeta. Outra parte será dizimada em conflitos na disputa por solos cultiváveis e reserva de água. As regiões do Nilo, Danúbio e Amazonas se tornarão zonas militarizadas... hordas de refugiados ambientais criarão êxodo jamais visto."

Provavelmente, esse estudo já era conhecido. Mas foi o alarme, tanto para os conservacionistas europeus como para os empresários estadunidenses de que era urgente a compra de terras em países ricos em recursos naturais, principalmente em água. E todos passaram a defender o desenvolvimento sustentável. Mas antes promoveram filmes e livros anunciando catástrofes iminentes. Em seguida, sequestraram o discurso dos ambientalistas e o imprimiram no marketing de suas corporações.

Em 2005, quando o Protocolo de Quioto entrou em vigor, o alerta foi reforçado. Porém, o maior barulho a respeito do assunto foi em 2007, quando o último Relatório do IPCC – Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas foi divulgado. Na época, a mídia anunciou com veemência a chegada de grandes desastres ambientais.

Agora, socioambientalistas, educadores, índios, quilombolas, comunidades tradicionais, pescadores, pequenos agricultores, sem terra e sem teto devem ficar atentos a esse grande jogo das nações hegemônicas em Copenhague. É preciso encontrar uma brecha que possa quebrar esse mecanismo de opressão cultural e econômica imposto aos pobres, principalmente aos africanos e latino-americanos. E assim, quem sabe, em 2012, quando forem realizadas mudanças no Protocolo de Quioto, viremos o jogo, priorizando realmente a defesa da terra e da vida e não os interesses econômicos dos países ricos.

confira esta reportagem do jornal "The New York Times", traduzida e publicada pelo blog Vi O Mundo...

Existe uma coisa chamada Agro-imperialismo?
22/11/2009
por Andrew Rice

O dr. Robert Zeigler, um eminente botânico estadunidense, voou para a Arábia Saudita em março para uma série de discussões de alto nível sobre o futuro do suprimento de alimentos do reino saudita. Os líderes sauditas estavam assustados: fortemente dependentes da importação de alimentos, eles tinham visto o preço do arroz e do trigo, base da dieta local, flutuarem violentamente no mercado internacional nos três anos anteriores, em um ponto dobrando de preço em apenas alguns meses. Os sauditas, ricos em dinheiro de petróleo mas pobres em terra arável, corriam atrás de uma estratégia para garantir que poderiam continuar a atender o apetite de uma população crescente, e queriam ouvir Zeigler.

Há duas formas básicas de aumentar a oferta de comida: encontrar novos campos para plantar ou inventar formas de multiplicar o que os campos existentes oferecem. Zeigler dirige o Instituto Internacional em Pesquisa do Arroz, que se dedica ao segundo modelo, usando a ciência para expandir o tamanho das colheitas. Durante a assim chamada Revolução Verde dos anos 60, os laboratórios do instituto desenvolveram o "arroz milagroso", uma variedade altamente produtiva que recebe crédito por ter salvo milhões de pessoas da fome. Zeigler foi à Arábia Saudita esperando que o reino milionário poderia oferecer dinheiro para a pesquisa básica necessária a novos saltos tecnológicos. Em vez disso, para surpresa dele, descobriu que os sauditas queriam atacar o problema de uma direção oposta. Estavam em busca de terra.

Em uma série de encontros, autoridades sauditas, banqueiros e executivos do agronegócio disseram a uma delegação do instituto liderado por Zeigler que queriam gastar bilhões de dólares para produzir arroz e outras culturas em nações africanas como o Mali, Senegal, Sudão e Etiópia. "Eles apresentaram esse plano incrível", Zeigler relembra. Ele ficou surpreso, não só pela escala dos projetos mas pela audácia da ideia. A África, o continente mais faminto do mundo, não consegue se alimentar atualmente, o que dizer de alimentar mercados estrangeiros...

O que o cientista norte-americano viu foi uma demonstração de um cenário emergente para os recursos alimentares do mundo, um cenário que começou a se formar no ano passado, longe do escrutínio internacional. Uma variedade de fatores -- alguns transitórios, como o aumento do preço dos alimentos, e outros intratáveis, como o crescimento da população global e a escassez de água -- criaram um mercado para terra arável, no momento em que países ricos mas sem recursos agrícolas, no Oriente Médio, na Ásia e em outros lugares procuram produzir seus alimentos em lugares onde há solo barato e abundante.

Uma vez que a maior parte da terra arável do mundo já está em uso - quase 90%, de acordo com uma estimativa, se você levar em conta as florestas e os ecossistemas frágeis - a busca levou a países menos tocados pelo desenvolvimento, na África. De acordo com um recente estudo do Banco Mundial e da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) , uma das últimas grandes reservas de terras subutilizadas é a zona da savana da Guiné, com um bilhão de acres, uma porção de terra em forma de crescente que vai do leste da África até a Etiópia e em direção ao sul, passando pelo Congo e Angola.

Investidores estrangeiros - alguns representando governos, outros interesses privados - estão prometendo construir infraestrutura, trazer novas tecnologias, criar empregos e aumentar a produtividade para abastecer mercados estrangeiros, mas também alimentar mais africanos. (Mais de um terço da população do continente é subnutrida). Eles descobriram que governos empobrecidos estão dando boas vindas, oferecendo terras a preço de banana. Algumas transações receberam grande publicidade, como o aluguel de 100 mil acres feito pelo governo do Quênia ao governo de Qatar em troca do financiamento de um novo porto ou a decisão da Coréia do Sul de desenvolver quase 400 milhas quadradas na Tanzânia. Mas muitos outros negócios envolvendo terras, muitas vezes de tamanho sem precendentes, foram fechados sem fazer barulho.

Investidores que participam dessa corrida à terra estão confrontando um medo primitivo, uma situação na qual os alimentos se tornam escassos mesmo que se ofereça qualquer preço. Durante os 30 anos entre a metade dos anos 70 e a metade desta década, a oferta de grãos disparou e os preços cairam pela metade, uma tendência que levou muitos especialistas a acreditar que não havia limite para a capacidade humana de se alimentar.

Mas em 2006 a situação reverteu, acompanhando o boom mais geral das commodities. Os preços dos alimentos cresceram um pouco naquele ano, cresceram 25% em 2007 e dispararam em 2008. Países que produzem além do consumo, como a Argentina e o Vietnã, preocupados em alimentar a própria população, colocaram restrições nas exportações. Os consumidores estadunidenses, se notaram a crise alimentar, a viram nas contas de supermercado, especialmente nos preços das carnes e laticínios. Mas em muitos países -- não apenas no Oriente Médio mas em nações dependentes de importados como a Coréia do Sul e o Japão -- o espectro da hiperinflação e do desabastecimento representam uma ameaça existencial.

"Quando alguns governos deixam de exportar arroz ou trigo, o problema se torna real e sério para povos que não são autosuficientes", diz Al Arabi Mohammed Hamdi, um assessor econômico da Autoridade Árabe para Investimento e Desenvolvimento Agrícola. Sentado em seu escritório em Dubai, de olho nos barcos de madeira ancorados na cidade, Hamdi me falou de sua visão, de que a única forma de ter segurança alimentar é controlando os meios de produção. Mais

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Potencial da biodiversidade é tema de seminário nesta terça, em Brasília

Especialistas e pesquisadores se reúnem para discutir a agenda ambiental, que ganha destaque com a proximidade da COP 15. Seminário começa às 8h45, na sede do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Transmissão ao vivo no site da autarquia
da página do Ipea

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) promove nesta terça, 1° de dezembro, o seminário Potencialidades Econômicas da Biodiversidade Amazônica: Desafios e Oportunidades. O evento será transmitido ao vivo nos sites do Ipea (www.ipea.gov.br e www.agencia.ipea.gov.br).

Às vésperas da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 15), que será realizada entre os dias 7 e 18, na Dinamarca, especialistas e pesquisadores de universidades e de órgãos de governo discutirão temas como os programas e projetos voltados para a biodiversidade; as políticas públicas para a Amazônia; a concessão de florestas e distritos florestais sustentáveis; as alternativas sustentáveis para a geração de energia e a eficiência dos Fundos Constitucionais.

Participarão do seminário o presidente do Ipea, Marcio Pochmann; a diretora da Dirur, Liana Carleial; e o coordenador de Meio Ambiente, José Aroudo Mota, além de representantes da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa), do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), e dos ministérios do Meio Ambiente; da Ciência e Tecnologia e dos Transportes.

O evento será realizado das 8h45 às 18 horas, no auditório do Ipea em Brasília (SBS, Quadra 1, Bloco J, Edifício BNDES, subsolo).

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Ipea debate perspectivas do Brasil para a COP 15 nesta terça, 24, em Brasília

Representantes que apresentarão a posição do Brasil na Conferência sobre Mudanças Climáticas participam de seminário
da página do Ipea

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), por meio do Fórum Ipea de Mudanças Climáticas, promove na terça-feira, 24 de novembro, às 14h, no auditório do Instituto (SBS, Q. 1, Bl J, Ed. BNDES, Brasília-DF), o seminário Brasil Rumo a Copenhague: Perspectivas para a COP 15 de Mudanças Climáticas. O encontro será transmitido on-line pelos sites do Instituto (www.ipea.gov.br e www.agencia.ipea.gov.br).

Os palestrantes do seminário fazem parte da comitiva do governo que apresentará a posição do Brasil durante a 15ª Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, a realizar-se em Copenhague, na Dinamarca, em dezembro. A delegação será chefiada pela ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff.

O Ipea estuda uma série de ações de longo prazo voltadas para a formulação de políticas públicas de sustentabilidade ambiental e de adaptação às mudanças climáticas no País. O evento é aberto ao público, e as inscrições podem ser feitas pelo e-mail eventos@ipea.gov.br. Mais informações com Adriana Moura (adriana.moura@ipea.gov.br, 61 3315-5032) ou Gustavo Luedemann (gustavo.luedemann@ipea.gov.br, 61 3315-5552).

Fórum Ipea de Mudanças Climáticas
24 de novembro- 14h às 18h30


Programação

14h - Apresentação do evento
Marcio Pochmann, presidente do Ipea
Liana Carleial, diretora da Dirur-Ipea
José Aroudo Mota, coordenador de Meio Ambiente, Dirur-Ipea

14h15 - Abertura
Sergio Machado Rezende, ministro da Ciência e Tecnologia
Sergio Serra, embaixador extraordinário para a Mudança do Clima
Izabella Teixeira, secretária executiva do Ministério do Meio Ambiente

14h45 - Palestrantes
Susana Khan Ribeiro, secretária de Mudanças Climáticas e Qualidade Ambiental do Ministério do Meio Ambiente

15h15 - José Miguez, coordenador-geral de Mudança Global do Clima do Ministério de Ciência e Tecnologia

15h45 - Sérgio Serra, embaixador extraordinário para a Mudança do Clima do Ministério das Relações Exteriores

16h15 - Senadora Ideli Salvatti, presidente da Comissão Mista Permanente sobre Mudanças Climáticas do Senado Federal

16h45 - Intervalo

17h - Debates

18h - Encerramento
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Ainda sobre Marcio Pochmann, presidente do Ipea...
Há raras análises econômicas que dissecam a raiz da problemática ambiental. Marcio Pochmann faz essa análise com maestria, neste texto (confira abaixo), da reestruturação. Fiquei impressionada com sua lucidez e conhecimento do tema, durante a abertura do Fórum IPEA de Mudanças Climáticas, ano passado, precisamente no dia 11 de maio de 2008, em Brasília e que tem prosseguimento na próxima terça, 24 de novembro. (Zilda Ferreira, da Equipe do Blog EDUCOM)


A marcha da reestruturação

por Marcio Pochmann*
Superar a crise requer outro padrão de financiamento de longo prazo, novo modelo de produção e consumo e inédita governança global

OITENTA ANOS após a mais grave depressão econômica do século 20, o mundo capitalista convive com uma grave crise de dimensões financeiras, produtivas, sociais e políticas comparáveis à de 1929. A sua superação pressupõe, contudo, a construção de outro padrão de financiamento de longo prazo, de um novo modelo de produção e consumo sustentável ambientalmente e de inédita governança pública global do mundo.

Em síntese, esses são três componentes complexos não desprezíveis para sua imediata resolução e que podem implicar maior tempo do que atualmente imaginado para a saída completa da atual crise internacional.

Apesar disso, diversos países apontam mais rapidamente para o horizonte de recuperação econômica, fruto do êxito das políticas públicas nacionais anticíclicas adotadas.

Mesmo com a queda de quase 12% na produção industrial entre outubro de 2008 e março de 2009, o Brasil apresenta fortes indicadores, não só econômicos, de saída mais fortalecida da crise, sem ter interrompido, inclusive, a tendência de redução da pobreza absoluta e da desigualdade no interior da renda do trabalho nas principais regiões metropolitanas do país.

Essa conjuntura econômica e social nacional menos desconfortável não deveria obscurecer os crescentes desafios que a atual marcha de reestruturação capitalista impõe ao mundo.

Inicialmente, destaca-se a força da reconfiguração na divisão internacional do trabalho, já que o drástico aumento da capacidade ociosa nas grandes corporações transnacionais (apenas 500 respondem por faturamento equivalente a quase 50% do PIB mundial) resulta em profundo acirramento na concorrência intercapitalista e, por que não dizer, entre países.

Em tese, a ampliação da competição em ambiente de contida regulação internacional e inegável ineficiência das agências multilaterais pode levar ao novo quadro geral de conflitos, diretamente proporcional ao avanço dos apelos nacionalistas e de restrição dos mercados.

Simultaneamente, o processo de fusão e concentração do capital em torno das grandes corporações transnacionais tende a sufocar as oportunidades de expansão dos micro e pequenos negócios, uma vez que as fontes de crédito e de apoio fiscal tornam-se cada vez mais enviesadas pelo poder da grande empresa.

As hiperempresas transnacionais não apenas monopolizam praticamente todos os segmentos de mercado como também se tornaram tão grandes que não podem quebrar, sob o risco de causar o próprio colapso do sistema econômico.

Exemplo disso foi a manifestação da crise internacional em 2008 a partir da quebra de um grande banco estadunidense (Lehman Brothers) e a imediata e constante injeção de recursos públicos nas grandes empresas inadimplentes com o fim de impedir o avanço para uma depressão econômica mundial.

Em virtude disso, o papel "ad hoc" e hospitalar do Estado em relação ao setor privado -inimaginável até então pelos defensores do neoliberalismo- deverá levar à nova ossatura estatal. O curso da reestruturação mundial passa a exigir, em contrapartida, a formatação do superestado capacitado para as funções de monitoramento, regulação e intervenção da conduta das grandes empresas de escala mundial.

Do contrário, qualquer novo sinal de quebra dos quase monopólios globais pode implicar adicionais riscos de colapso das economias nacionais.

A importância do Estado torna-se maior na medida em que ele avance os investimentos concentrados na reformulação do padrão de produção e consumo menos degradante do meio ambiente.

A maior eficácia das ações públicas voltadas a minorar as emissões de gases de efeito estufa por meio da conscientização, tributação e promoção de alternativas ambientalmente sustentáveis passa a depender também da renovação da base tecnológica, como as iniciativas em torno da matriz energética renovável e da estrutura bioindustrial com crescente geração de empregos verdes.

A reinvenção do mercado a ser protagonizada pelo superestado não pode deixar de contemplar maior ação articulada e matricial com os micro e pequenos negócios, pois correm o risco de serem ainda mais sufocados pela consolidação da reestruturação somente em torno da grande corporação de dimensão transnacional.

*MARCIO POCHMANN , 47, economista, é presidente do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) e professor licenciado do Instituto de Economia e do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho da Unicamp. Foi secretário do Desenvolvimento, Trabalho e Solidariedade da Prefeitura de São Paulo (gestão Marta Suplicy). Este artigo foi originalmente publicado na Folha de S. Paulo em 13/10/2009
A marcha da reestrutração, no site do Ipea