Mostrando postagens com marcador Fidel Castro. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Fidel Castro. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Madiba está morto, voltemos a falar do oposto do Natal, o apartheid

19/12/2013 - Mandela morreu. Por que ocultar a verdade sobre o apartheid
- Fidel Castro Ruz, de Havana (**) - Correio do Brasil

A luta contra o apartheid foi longa, difícil e dolorosa e Cuba e os comunistas foram importantes aliados durante a Guerra Fria.

Talvez o império tenha acreditado que o nosso povo não honraria sua palavra quando, nos dias incertos do século passado, afirmamos que mesmo que a União Soviética desaparecesse, Cuba seguiria lutando.

A Segunda Guerra Mundial eclodiu quando, no dia 1 de setembro de 1939, o nazi-fascismo invadiu a Polônia e caiu como um raio sobre o povo heroico da União Soviética, que deu 27 milhões de vidas para preservar a humanidade daquela brutal matança que pôs fim à vida de mais de 50 milhões de pessoas.

A guerra é, por outro lado, a única atividade no curso da história que o gênero humano nunca foi capaz de evitar; o que levou Einstein a responder que não sabia como seria a Terceira Guerra Mundial, mas a Quarta seria a paus e pedras.

Somados os meios disponíveis, as duas potências mais poderosas, Estados Unidos e Rússia, dispõem de mais de 20 mil – vinte mil – ogivas nucleares.

A humanidade deveria saber bem que, três dias depois de ascensão de John F. Kennedy à presidência de seu país, no dia 20 de janeiro de 1961, um bombardeiro B-52 dos Estados Unidos, em um voo de rotina, que transportava duas bombas atômicas com uma capacidade destrutiva 260 vezes maior que a utilizada em Hiroshima, sofreu um acidente que precipitou o aparato em direção ao chão.

Em tais casos, equipamentos automáticos sofisticados aplicam medidas que impedem a explosão das bombas.

A primeira atingiu o chão sem risco algum; três dos quatro mecanismos da segunda falharam, e o quarto, em estado crítico, funcionou por pouco; a bomba não explodiu por acaso.

Nenhum acontecimento presente ou passado do qual eu me lembre ou tenha ouvido falar impactou tanto a opinião pública mundial como a morte de Mandela; e não por suas riquezas, mas pela qualidade humana e a nobreza de seus sentimentos e ideias.

Ao longo da história, até apenas um século e meio atrás, e antes que as máquinas e robôs, a um custo mínimo de energia, se ocupassem de nossas tarefas, não existiriam nenhum dos fenômenos que hoje comovem a humanidade e regem inexoravelmente cada uma das pessoas: homens ou mulheres, crianças ou idosos, jovens e adultos, agricultores e trabalhadores fabris, manuais ou intelectuais.

A tendência dominante é a de se instalar nas cidades, onde a criação de empregos, transporte e as condições elementares de vida demandam enormes investimentos em detrimento da produção de alimentos e outras formas de vida mais razoáveis.

Três potências fizeram artefatos aterrissarem na Lua do nosso planeta.

No mesmo dia em que Nelson Mandela, envolto na bandeira de sua pátria, foi enterrado no pátio da humilde casa onde nasceu 95 anos atrás, um módulo sofisticado da República Popular da China descia em um espaço iluminado da nossa Lua.

A coincidência de ambos os acontecimentos foi absolutamente casual.

Milhões de cientistas investigam materiais e radiações na Terra e no espaço; por meio deles sabe-se que Titã, uma das luas de Saturno, acumulou 40 — quarenta — vezes mais petróleo que o existente no nosso planeta quando começou a exploração do mesmo há apenas 125 anos, e, no ritmo atual de consumo, durará apenas mais um século.

Os fraternais sentimentos de irmandade profunda entre o povo cubano e a pátria de Nelson Mandela nasceram de um fato que nem sequer foi mencionado, e do qual não tínhamos dito uma palavra ao longo de muitos anos.

Mandela porque era um apóstolo da paz e não desejava ferir ninguém; Cuba porque jamais realizou ação alguma em busca de glória ou prestígio.

Quando a Revolução triunfou em Cuba fomos solidários com as colônias portuguesas na África, desde os primeiros anos.

Os Movimentos de Libertação desse continente punham em xeque o colonialismo e o imperialismo, depois da Segunda Guerra Mundial e da libertação da República Popular da China — o país mais povoado do mundo —, depois do triunfo glorioso da Revolução Socialista Russa.

As revoluções sociais sacudiam as fundações da velha ordem. Os povoadores do planeta, em 1960, chegavam a 3 bilhões de habitantes.

Paralelamente, cresceu o poder das grandes empresas transnacionais, quase todas nas mãos dos Estados Unidos, cuja moeda, apoiada no monopólio do ouro, e a indústria intacta pela distância das frentes de batalha, se fez dona da economia mundial.

(O então presidente dos Estados Unidos), Richard Nixon, revogou unilateralmente o respaldo da sua moeda no ouro, e as empresas de seu país se apoderaram dos principais recursos e matérias-primas do planeta, que adquiriram com papéis.

Até aqui nada que não se conheça.

Mas, por que tentam esconder que o regime do apartheid, que tanto fez a África sofrer e indignou a imensa maioria das nações no mundo, era fruto da Europa colonial e foi transformado em potência nuclear pelos Estados Unidos e por Israel, regime que Cuba, um país que apoiava as colônias portuguesas na África que lutavam por sua independência condenou abertamente?

Nosso povo, que tinha sido cedido pela Espanha para os Estados Unidos depois da heroica luta de mais de 30 anos, nunca se resignou ao regime escravocrata que lhe foi imposto durante quase 500 anos.

Da Namíbia, ocupada pela África do Sul, partiram em 1975 as tropas racistas, apoiadas por tanques rápidos com canhões de 90 milímetros, que penetraram mais de mil quilômetros até as proximidades de Luanda, onde um Batalhão de Tropas Especiais cubanas — enviadas pelo ar — e várias tripulações também cubanas em tanques soviéticos que estavam lá sem efetivos, puderam contê-las.

Isso aconteceu em novembro de 1975, 13 anos antes da Batalha de Cuito Cuanavale.

Já disse que não fazíamos nada em busca de prestígio ou qualquer benefício.

Mas é um fato muito real que Mandela foi um homem íntegro, profundo e radicalmente socialista, que, com grande estoicismo, suportou 27 anos de prisão solitária.

Eu sempre admirei sua honra, sua modéstia e seu enorme mérito.

Cuba cumpria com seus deveres internacionais rigorosamente. Defendia pontos-chave e treinava a cada ano milhares de combatentes angolanos no manejo das armas.

A União Soviética fornecia as armas.

No entanto, naquela época, não compartilhávamos da ideia do assessor principal da parte dos fornecedores de equipamento militar.

Milhares de angolanos jovens e saudáveis ingressavam constantemente nas unidades de seu incipiente exército.

O assessor principal não era, contudo, um (Georgui) Jukov (comandante-em-chefe das Forças Armadas Soviéticas durante a Segunda Guerra Mundial), um (Konstantin) Rokossovsky (comandante da União Soviética e posterior ministro de Defesa da Polônia), um (Rodion) Malinosvky (sargento durante a Segunda Guerra Mundial e posterior ministro da Defesa da União Soviética) ou outros muitos que encheram de glória a estratégia militar soviética.

Sua ideia obsessiva era enviar brigadas angolanas com as melhores armas ao território onde supostamente residia o governo tribal de (Jonas) Savimbi, um mercenário a serviço dos Estados Unidos e da África do Sul, que era o mesmo que enviar as forças que combatiam em Stalingrado à fronteira da Espanha falangista que tinha enviado mais de 100 mil soldados para lutarem contra a União Soviética.

Naquele ano estava sendo produzida uma operação desse tipo.

O inimigo avançava sobre as forças de várias brigadas angolanas, atingidas nas proximidades do local para onde eram enviadas, a 1,5 mil quilômetros, aproximadamente, de Luanda.

Dali, vinham perseguidas pelas forças da África do Sul em direção a Cuito Cuanavale, antiga base militar da OTAN, a cerca de 100 quilômetros da primeira Brigada de Tanques cubana.

Nesse instante crítico, o presidente de Angola [Agostinho Neto, foto acima] solicitou o apoio das tropas cubanas.

O chefe das nossas forças no sul, general Leopoldo Cintra Frías [foto], nos comunicou o pedido, algo que era habitual.

Nossa resposta firme foi que prestaríamos esse apoio se todas as forças e equipes angolanos dessa frente se subordinassem às ordens cubanas no sul de Angola.

Todo mundo compreendia que nosso pedido era um requisito para transformar a antiga base no campo ideal para atingir as forças racistas da África do Sul.

Em menos de 24 horas, chegou de Angola a resposta positiva.

Decidiu-se pelo envio imediato de uma Brigada de Tanques cubana até esse ponto.

Várias outras estavam na mesma linha em sentido oeste.

O obstáculo principal foi a lama e a umidade da terra em época de chuva, que deveria ser checada metro a metro para evitar minas terrestres.

Foi igualmente enviado a Cuito o efetivo para operar os tanques sem tripulação e os canhões que necessitavam dele.

A base estava separada do território que se situa ao leste pelo caudaloso e rápido rio Cuito, sobre o qual havia uma única ponte.

O exército racista a atacava desesperadamente; um avião teleguiado repleto de explosivos conseguiu acertá-la e inutilizá-la.

Os tanques angolanos em retirada, que podiam se mover, cruzaram por um ponto mais ao norte.

Os que não estavam em condições adequadas foram enterrados, com suas armas apontando para o leste; uma densa faixa de minas terrestres e antitanques transformaram a linha em uma armadilha mortal do outro lado do rio.

Quando as forças racistas reiniciaram a investida e se chocaram contra aquela muralha, todas as peças de artilharia e os tanques das brigadas revolucionárias disparavam de seus pontos de localização na região de Cuito.

Um papel especial foi reservado para os caças Mig-23 [foto] que, a cerca de mil quilômetros por hora e a 100 — cem — metros de altura, eram capazes de distinguir se os artilheiros eram negros ou brancos, e disparavam incessantemente contra eles.

Quando o inimigo desgastado e imobilizado iniciou a retirada, as forças revolucionárias se prepararam para os combates finais.

Numerosas brigadas angolanas e cubanas se moveram rapidamente numa distância adequada até o oeste, onde estavam as únicas vias amplas por onde sempre os sul-africanos começavam suas ações contra Angola.

O aeroporto, entretanto, estava aproximadamente a 300 — trezentos —
quilômetros da fronteira com a Namíbia, ocupada tolamente pelo exército do apartheid.

Enquanto as tropas se reorganizavam e se reequipavam, decidiu-se com toda urgência construir uma pista de aterrissagem para os Mig-23.

Nossos pilotos estava usando os equipamentos aéreos entregues pela União Soviética para Angola, cujos pilotos não tinham tido o tempo necessário para sua adequada instrução.

Vários equipamentos aéreos estavam de fora devido a baixas que, às vezes, eram causadas por nossos próprios artilheiros ou operadores de meios antiaéreos.

Os sul-africanos ocupavam ainda uma parte da rodovia principal que leva da borda do planalto de Angola até a Namíbia.

Nas pontes sobre o caudaloso rio Cunene, entre o sul de Angola e o norte da Namíbia, começaram nesse momento com o joguinho de disparos de canhões de 14 milímetros que davam a seus projéteis um alcance de cerca de 40 quilômetros.

O problema principal estava no fato de que os racistas sul-africanos possuíam, segundo nossos cálculos, de 10 a 12 armas nucleares. Tinham realizado testes inclusive nos mares e nas áreas congeladas do sul.

O presidente Ronald Reagan tinha dado sua autorização, e entre os equipamentos entregues por Israel estava o dispositivo necessário pra fazer explodir a carga nuclear.

Nossa resposta foi organizar o efetivo em grupos de combate de não mais de 1000 — mil — homens, que tinham de marchar à noite por uma grande extensão de terreno e dotados de carros de combate antiaéreos.

As armas nucleares da África do Sul, de acordo com relatos fidedignos, não podiam ser carregadas por aviões Mirage, requeriam bombardeiros pesados tipo Canberra.

Mas, em todo caso, a defesa antiaérea de nossas forças dispunha de numerosos tipos de foguetes que podiam atingir e destruir alvos aéreos a até centenas de quilômetros de nossas tropas.

Adicionalmente, uma represa de 80 milhões de metros cúbicos de água, situada no território angolano, tinha sido ocupada e minada por combatentes cubanos e angolanos.

A explosão daquela represa teria sido equivalente a várias armas nucleares.

Não obstante, uma hidrelétrica que usava as fortes correntes do rio Cunene, antes de chegar à fronteira com a Namíbia, estava sendo utilizada por um destacamento do exército sul-africano.

Quando, em seu novo teatro de operações, os racistas começaram a disparar os canhões de 140 milímetros, os Mig-23 atacaram com força aquele destacamento de soldados brancos, e os sobreviventes abandonaram o lugar deixando inclusive algumas posições críticas à revelia do próprio comando.

Tal era a situação quando as forças cubanas e angolanas avançavam em direção às linhas inimigas.

Soube que Katiuska Blanco [foto], autora de vários relatos históricos, junto a outros jornalistas e fotojornalistas, estava ali.

A situação era tensa, mas ninguém perdeu a calma.

Foi então que chegaram notícias de que o inimigo estava disposto a negociar.

Tinha-se conseguido pôr fim à aventura imperialista e racista; em um continente que em 30 anos terá a população superior à da China e da Índia juntas.

O papel da delegação de Cuba, com o falecimento de nosso irmão e amigo Nelson Mandela, será inesquecível.

Felicito o companheiro Raúl (Castro, presidente de Cuba) por seu brilhante desempenho e, em especial, pela firmeza e dignidade quando, com gesto amável, mas firme, cumprimentou o chefe de governo dos Estados Unidos e lhe disse, em inglês: “Senhor presidente, eu sou Castro” [foto acima].

Quando a minha própria saúde colocou um limite para a minha capacidade física, não vacilei um minuto em expressar minha opinião sobre quem eu acredito que poderia assumir a responsabilidade.

Uma vida é um minuto na história dos povos, e penso que quem assume hoje tal responsabilidade requer a experiência e autoridade necessárias para optar entre um número crescente, quase infinito, de variantes.

O imperialismo sempre reservará várias cartas para subjugar nossa ilha ainda que tenha que despovoá-la, privando-a de homens e de mulheres jovens, oferecendo-lhe migalhas dos bens e recursos naturais que saqueia do mundo.

Que falem agora os porta-vozes do império sobre como e porque surgiu o apartheid.

(*) Fidel Castro Ruz é advogado, líder revolucionário, ex-presidente de Cuba e militante do Partido Comunista Cubano.

(**) Publicado, originariamente, no site cubano de notícias Cuba Debate.

Fonte:
http://correiodobrasil.com.br/noticias/opiniao/mandela-morreu-por-que-ocultar-a-verdade-sobre-o-apartheid/671844/?utm_source=newsletter&utm_medium=email&utm_campaign=b20131220

Nota:
A inserção das imagens, quase todas capturadas do Google Images, são de nossa responsabilidade, pois inexistem no texto original.

domingo, 15 de janeiro de 2012

Um olho em Obama, outro em Ahmadinejad - Rossi não conta

Antonio Fernando Araujo


Quando se lê o artigo de Clóvis Rossi, publicado em 08/01 passado na Folha de S. Paulo não é difícil percebermos que nada mudou na sua maneira (pelo menos no que se refere a questão EUA-Irã) de encaminhar suas análises, desde que em 13/04/2010 escreveu na Folha On Line - "Não é o Irã, é a Al Qaeda": "Por mais que os Estados Unidos, principalmente, mas também França e Alemanha, estejam incomodados com o programa nuclear iraniano, o fato é que a Cúpula sobre Segurança Nuclear, encerrada nesta terça-feira em Washington, não tinha o Irã como alvo principal, mas a Al Qaeda, se se tomar essa expressão como sinônimo de terrorismo global. Não é impressão pessoal nem informação privilegiada. O próprio presidente Barack Obama, em conversa com jornalistas difundida pelo hiper-ativo serviço de imprensa da Casa Branca, deixou claro que a possibilidade de uma organização terrorista conseguir uma arma nuclear 'é a maior ameaça à segurança dos Estados Unidos, tanto no curto prazo como no médio e no longo prazo'." Isso foi o bastante para que Rossi assumisse a tese mestra com que costuma induzir seus leitores, levando-os a acreditar que tudo não passa de uma guerra entre o Bem e o Mal, cujo vilão na época era encarnado na aterrorizante figura de Bin Laden.

Como estamos comprovando agora, tudo isso não passava de conversa fiada. Como, em maio último, Obama - Prêmio Nobel da Paz - teve que mandar "matar" o Bin Laden meios às pressas (no imaginário americano e no de muitos brasileiros bem informados, a Al-Qaeda sucumbiu nesse mesmo dia, também lançada ao fundo do mar) o alvo agora tem mesmo que ser modificado, passa a ser o "desenvolvimento de armamento nuclear", por homens do Mal que ameaçam o mundo. Não importa que tanta gente boa ou do Bem já tenha escancarado os reais motivos: não tem nada de armamento nuclear sendo desenvolvido no Irã (como não havia no Iraque), o que Obama quer mesmo é se apropriar do petróleo iraniano e se reelejer presidente, o tal dos "dois coelhos em uma única cajadada". Mas o "discurso nuclear" funciona como a Comissão de Frente. O(s) carro(s) Abre-alas, a(s) frota(s) que já se desloca(m) rumo aos golfos Pérsico, de Omã e de Aden e aos mares Mediterrâneo, Vermelho e Arábico (onde "estão sepultados" Bin Laden e a Al-Qaeda) já estão praticamente posicionados, estando prestes a completar o cerco do Irã para que Israel também contribua com sua parte na Síria e no Líbano, no esforço de tornar o Mediterrâneo, finalmente, o almejado Lago da OTAN e, de lambujo, caso seja possível - dentro de uma ampla visão estratégica de evitar o golfo Persa para o transporte do óleo e que incluiria outros oleodutos -, ainda ressuscitar o falecido “Trans-Arabian” (Tapline) que liga Ras-Tannurah, na costa saudita desse golfo com o porto de Trípoli, no Líbano, com um mínimo de prejuízo, de olho na redução dos custos e na minimização da importância do estreito de Ormuz e o consequente enfraquecimento estratégico do Irã. Será que daria então para o Rossi explicar aos seus leitores o porque dos atuais esforços de Washington para derrubar o governo sírio (caindo este, o do Líbano cai em seguida), que diariamente nossa imprensa subalterna alardeia como se o facínora fosse unicamente o sírio Bachar El-Assad e Obama - Prêmio Nobel da Paz, insisto - não estivesse nem um pouco interessado em primeiro isolar o Irã, antes de atacar diretamente Teerã.



Embora tudo isso esteja acontecendo a olhos vistos o Rossi nada percebe, prefere desdenhar sobre a visita de Ahmedinejad à América Latina, não ligando a mínima para o que disse Chavez ao iraniano ao recebê-lo na Venezuela: - "Somos vítimas da ganância das superpotências”. Quem duvida? Talvez o Rossi, que também não notou que os EUA estão enfurecidos: o Irã não parece nada “isolado” internacionalmente. - "O regime iraniano rejeitou todas as aberturas propostas pelos EUA e o regime de Castro nunca alterará suas posições”, bradou, no último dia 09/01, a presidente do Comitê de Assuntos Internacionais da Câmara de Deputados em Washington, Ileana Ros-Lehtinen, republicana da Flórida.

Nem esperaria que o Rossi se inteirasse do que escreveu o ex-diplomata indiano MK Bhadrakumar, no Indian Punchline, em 12/01, sob o título "When Fidel meets Ahmadinejad", reproduzido no blog Redecastorphoto, onde, "vê-se hoje já bem evidente uma acomodação politicamente articulada entre o islamismo como força política e a esquerda latino-americana. Ahmedinejad é visto como agente de uma nova forma exemplar de antiimperialismo internacionalmente ativo, que sabe operar em ressonância com a consciência política da esquerda latino-americana, e vê nela traços pelos quais pode identificar o seu próprio projeto histórico. A atual viagem de Ahmadinejad reforça essa nova sintaxe da acomodação política entre os dois lados, e deixa para trás a patética história da Guerra Fria, quando o ocidente conspirava para jogar os marxistas contra os islâmicos, tentando assim abrir caminho para obter vantagens geopolíticas no Oriente Médio rico em petróleo." Mas Rossi nada nota sobre isso, assim como não vê coerência entre as posições anteriormente assumidas por Dilma - que ele mesmo cita - de constestações relacionadas com os "direitos humanos" praticados no Irã e essa "frieza" atual em convidar Ahmadinejad para nos visitar. Prefere então lançar mão de outro trecho daquela declaração de Ileana Ros-Lehtinen - "A atividade iraniana no Hemisfério Ocidental ameaça a segurança regional e a estabilidade" - para tentar associá-la, não à resistência dos que se consideram vítimas da ganância das superpotências, como disse Chavez, mas a uma fantasiosa e "perigosa infiltração iraniana na América Latina", com ares de subversão ideológica, como se agora o islamismo assumisse o papel, deixado para trás, que o comunismo soviético já desempenhara na época da Guerra Fria EUA-URSS, no século passado.

Claro que o Irã, como qualquer outro país do mundo, tem interesses de sobra para se mostrar ativo na América Latina atual, uma ilha de relativa prosperidade sócio-econômica em meio ao caos econômico EUA-Europa. E, se no caso do Irã, esses interesses vão mais além e transcendem o aspecto puramente econômico, se deve certamente à insaciável ambição imperialista norte-americana, ao vergonhoso isolamento econômico que mantém com a frágil Cuba há cerca de 60 anos e o desejo incontrolável de se apossar das riquezas petrolíferas, tanto as de cá - Brasil incluído - quanto as de acolá.

Seria, talvez, desejar demais que o Rossi também tivesse atentado para o idioma político escutado na atual viagem de Ahmedinejad: - “Meu irmão revolucionário”, pronunciou o iraniano ao saudar seu colega Ortega, da Nicarágua, “nossos dois povos, em diferentes partes do mundo, lutamos para estabelecer a solidariedade entre todos e a justiça para todos.” Ora, ninguém fala uma coisa dessas à toa, no mesmo instante em que os "Carros Abre-alas" se movimentam pelos golfos e mares de suas praias. Mas é dessa solidariedade internacional - ainda que originária de "inexpressivas" nações latino-americanas - que provém o temor da Ileana Ros-Lehtinen, a republicana da Flórida que, por viver tão perto de Cuba, tem sabedoria suficiente para avaliar do que é capaz a resistência de um povo quando está forjado "para estabelecer a solidariedade entre todos e a justiça para todos.” Ela certamente entende o que fala o Ahmedinejad. Rossi, infelizmente, passa batido.

sábado, 7 de maio de 2011

"FATO ABOMINÁVEL" - O SILÊNCIO DOS CÍNICOS




Laerte Braga


O mais lúcido documento escrito sobre o assassinato de Osama bin Laden terá sido, juízo pessoal, o de Fidel Castro.  Chama o crime de “fato abominável”. O governo terrorista de Barack Bobama está impedindo a compra de remédios nos EUA para crianças cubanas com câncer.

A barbárie no caso do conglomerado EUA/ISRAEL TERRORISMO S/A tem requintes conscientes de perversidade.

A arrogância da presunção de superioridade.

Barack Bobama virou arroz de festa. Vai passar os próximos meses aproveitando o efeito do “fato abominável” em campanha eleitoral. Cada vez mais Bush.

O Dalai Lama considerou justa a ação dos Estados Unidos. O papa Bento XVI não se pronunciou sobre o assunto. O líder budista ocidental é mero instrumento do conglomerado terrorista na luta pelo Tibete. Nada além disso. Não está preocupado com seu povo, mas com sua conta bancária. E seus livrinhos de auto-ajuda. Concorrente de um sem número de autores num mundo cada vez mais desumanizado. Não tem nada a ver com Buda e muito menos com o budismo. 

Bento VXI se imagina o centro do universo e contabiliza os dólares para salvar uma igreja que vive um processo falimentar – em todos os sentidos – desde a ascensão de João Paulo II, o “beato”. No Brasil, então, embora a CNBB – CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL – não revele de público, o sinal vermelho já acendeu faz tempo. O número de católicos hoje em boa parte das regiões do País é menor que o de fundamentalistas evangélicos. Outro tipo de terror religioso.

Todos convergem para os EUA, Edir Macedo prefere Miami. Outrora os gangsteres ou iam para Chicago ou para Las Vegas. Macedo não é o primeiro brasileiro a optar por Miami. Sérgio Naia foi o pioneiro.

A curva de católicos – em números – é descendente e a de fundamentalistas evangélicos ascendente. Bento XVI ou a maioria dos bispos brasileiros jamais vai entender o porquê dessa história. Se acham iluminados e acreditam piamente que num dado momento a rotação da Terra, que já foi plana para muitos papas, conserta esse “desacerto”. Olhar para dentro e perceber a autofagia isso é inimaginável. Daí o silêncio do papa sobre o assassinato do líder da AL QAEDA.

Mais ou menos em boca fechada não entra mosquito. No banco do Vaticano entram dólares, desde os tempos do famigerado cardeal Marcinkus (não podia sair do Vaticano, na operação contra as máfias teve a prisão preventiva decretada pela justiça italiana).

Os apaches, através de um neto do chefe Gerônimo, manifestaram seu repúdio ao uso de seu nome na operação criminosa. Gerônimo foi ludibriado pelos norte-americanos em termos de reserva indígena, teve roubada a terra de seu povo e passou vinte anos preso. Morreu aos noventa anos no início do século passado. E esse Gerônimo é com “g” mesmo.

Mas não perdeu a dignidade. Barack Bobama não tem a menor idéia do que seja isso. É o self made man. Tipo os fins justificam os meios.

Bento XVI e o Dalai Lama ocidental então!

Cinismo absoluto.

Bobama segue à risca o traçado de “líder charmoso”. “O líder charmoso constitui com freqüência a imagem do irmão. Com sua característica dominante: a solidariedade. Frente ao mundo dos adultos. Frente à sociedade estabelecida, representada pelos pais. Esse PLANETA DOS JOVENS (Jean Duvignaud – La Planète des Jeunes – Paris, Stock, 1975) projeta sua agressividade sobre o que está FORA DA IRMANDADE” – “O ESTADO DO ESPETÁCULO, Roger-Gérard Schwartzenberg, Difel, 1978 –.

É importante passear com o cachorrinho dos filhos pela Casa Branca, ou arregaçar as mangas e servir cerveja aos amigos.

Murílio Híngel, ex-ministro da Educação, disse uma vez que é comum aqueles que sobem das mais baixas às mais altas camadas sociais costumam se esquecer de sua origem.

É “eu me fiz por mim mesmo”. Trágico, bárbaro, boçal.

“Cortamos a cabeça da AL QAEDA”. Que palhaçada dita diante de militares mercenários – as forças armadas dos EUA são constituídas de soldados contratados e em muitos casos a empresas privadas em clima tucano de terceirização. Que nem Dilma com os aeroportos por aqui. Ou o código florestal ao sabor de latifundiários.

Bobama lembrou os mortos do ataque às torres gêmeas e destacou o apoio de Cuba aos EUA naquele momento. Em seguida lembrou as centenas de milhares de mortos nas guerras estúpidas desfechadas pelos norte-americanos em nome dessa justiça de tortura e prisões secretas.

O xis da questão não é o ser humano. É o jogo do poder. Ai vai o “líder charmoso”.

Esse líder sabe, como definia Montesquieu, que “a gravidade é o escudo dos tolos”.

Prefere o cinismo à espontaneidade.

Parecer ser do povo com um toque de coquetismo.

Ou uma aura de santo.

E haja dízimo para sustentar todo esse aparato que no fim se guarda num arsenal capaz de destruir o mundo cem vezes se preciso for. Fidel fala de uma nação poderosa como nunca houve, ao referir-se aos EUA e ao “fato abominável”.

Jano, o deus das portas, das entradas e das saídas tem duas faces. É o vigilante, a imagem do imperialismo sem limites.

Mas, nos EUA, tem que renovar o carimbo de quatro em quatro anos, com no máximo oito anos e isso é fundamental para a porta de entrada.

Barack Bobama, em bandeja de prata, está servindo a um povo que conta milhões de desempregados, de sem teto, milhões sem saúde pública, a cabeça de Osama bin Laden para o banquete, o festim da boçalidade.

E conta com o silêncio cúmplice dos cínicos. “Job well done” – serviço bem feito disse Bobama em pose de comandante em chefe aos militares numa base do conglomerado em seu território continental.

É a divindade de plantão na Casa Branca. Só falta arranjar um Incitatus. Tocar fogo em Roma vem fazendo desde antanhos, quando os “deuses” tinham outros nomes.

E dizem que é perder tempo ler o que Fidel escreve.

“Fato abominável”.  Repugnante.

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Brasileiro dispensado pela OEA no Haiti diz ter sido 'porta-voz daqueles que não têm voz'

Ricardo Seitenfus reafirma que motivo da dispensa foi oposição à ONU e que Haiti não pode ser coadjuvante da própria história

Entrevista a João Peres, da Rede Brasil Atual

Ricardo Seitenfus (foto: arquivo) vai mesmo deixar o comando das ações da Organização dos Estados Americanos (OEA) no Haiti. Em conversa telefônica com a Rede Brasil Atual, ele reafirma a versão de que o motivo de sua dispensa foi uma entrevista ao jornal suíço Le Temps na qual criticou a presença das forças de paz da Organização das Nações Unidas (ONU) no país centro-americano.

“Provavelmente isso não tenha agradado a todo mundo, são 34 países-membros da OEA e é difícil agradar a tantos senhores, mas preferi agradar aos haitianos e à minha consciência”, resume. A dispensa foi recebida diretamente do secretário-geral da OEA, o chileno Miguel Insulza, em chamada telefônica no último dia 20. Insulza ordenou que o brasileiro tire férias do cargo de representante do secretário-geral no Haiti e, em janeiro, volte a Porto Príncipe apenas para se despedir dos colegas, encurtando o mandato que se encerraria em 31 de março.

Prestes, portanto, a voltar a exercer a carreira acadêmica na Universidade Federal de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, Seitenfus ressalta que não fez críticas diretas às forças da paz da ONU (Minustah), mas à maneira como a comunidade internacional lida com o Haiti. De certa forma, o ex-representante da OEA reafirma aquilo que já havia feito em pelo menos duas entrevistas anteriores, em agosto de 2009 e em fevereiro deste ano, quando cobrou que a atuação militar desse espaço ao trabalho social de reconstrução do país.

A diferença, admite, está na forma com que abordou os assuntos desta vez, “utilizando a observação e a razão, mas fazendo com que o coração falasse.” Na entrevista ao Le Temps, Seitenfus afirmou que o Haiti não era um caso para forças militares, já que não representava qualquer ameaça à comunidade internacional, e ponderou que queriam fazer um “país capitalista, uma plataforma de exportação para o mercado dos Estados Unidos, um absurdo.”

Com tantos componentes polêmicos, a conversou ganhou enorme circulação no Haiti e nas redes sociais. A repercussão é tamanha que o ex-presidente de Cuba, Fidel Castro, dedicou suas reflexões desta semana a elogios ao trabalho do brasileiro. “Pode-se ou não estar de acordo com cada uma das palavras do brasileiro Ricardo Seitenfus, mas é inquestionável que disse verdades preciosas”, escreveu o líder. Castro acrescenta que a ONU enviou a Minustah a pedido dos Estados Unidos, “criador da pobreza e do caos na república haitiana.”

Confira os principais trechos da entrevista:

Rede Brasil Atual - O senhor esperava ser dispensado?

Ricardo Seitenfus - Foi uma entrevista que dei em meados de novembro a um jornalista de Genebra. Estudei em Genebra e achava que era uma forma de retribuir tudo o que o país fez na minha formação. Foi uma entrevista sem grandes pretensões a não ser fazer um balanço dos dois anos de observação da comunidade internacional na situação haitiana.

Não falei da OEA. Falei da falta de um sistema internacional capaz de enfrentar situações como a do Haiti. O Haiti é bem mais complicado, bem mais difícil do que simplesmente enviar soldados. Então, foi mais uma espécie de prestação de contas e de auxílio à comunidade internacional, de fazer com que vissem isso. Foi feito de boa fé.

Rede Brasil Atual - Como o senhor viu a reação à entrevista?

Ricardo Seitenfus - Não imaginava a repercussão, sobretudo no Haiti. O Haiti é sempre surpreendente e me surpreendeu mais uma vez. Houve uma unanimidade, a esquerda, a direita, o governo, a sociedade civil, todos de acordo com o que eu disse. Me tornei uma pessoa pública muito querida. Também nas redes sociais houve repercussão porque há uma diáspora de quatro milhões de haitianos espalhados pelo mundo. Simplesmente fui o porta-voz daqueles que não têm voz.

De certa forma, também tem a ver com a forma que eu disse. Utilizando a observação e a razão, mas fazendo com que o coração falasse. Não posso ser outro do que aquele que sempre fui. Prestei um serviço à comunidade internacional, àqueles que querem realmente encontrar caminhos para solucionar os problemas do Haiti. E espero que sirva para incentivar o debate no Brasil sobre isso.

Rede Brasil Atual - Houve um erro da OEA em antecipar o fim da sua missão?

Ricardo Seitenfus - Não posso fazer essa avaliação. Sairia em 31 de março, isso já estava acertado, porque é muito pesado para mim, para minha família. A missão será encurtada em dois meses. É problema da OEA, não é problema meu.

Rede Brasil Atual - Fidel Castro emitiu um texto elogioso a seu trabalho e com críticas às atuações da OEA e da ONU. Como o senhor vê esses elogios?

Ricardo Seitenfus - É uma grande surpresa dialogar com Fidel Castro, um personagem da história mundial. Cuba está muito envolvida na luta contra o cólera no Haiti, temos quase 1.300 médicos, algo que se fala pouco. A imprensa mundial praticamente desconhece o trabalho extraordinário que os médicos cubanos fazem no Haiti junto à população. Creio que tanto Fidel Castro como eu temos um só objetivo, que é o bem-estar do povo haitiano.

Rede Brasil Atual - Os dois concordam com a avaliação de que o povo haitiano vem sofrendo ao longo do tempo pela ousadia de romper com o colonialismo entre os séculos XVIII e XIX.

Ricardo Seitenfus - O pecado original do Haiti foi cometido em 1804, no momento em que os escravos conseguem uma dupla libertação: um país e o rompimento dos grilhões da escravidão. A libertação haitiana veio muito antes do que veríamos depois, que é a luta contra o colonialismo, contra o racismo e contra a escravidão. O Haiti cometeu esse crime que não se pode apagar, que foi fazer com que os condenados da terra pudessem se revoltar.

Aí começa uma grande caminhada solitária do Haiti nas relações internacionais. Nunca sabem como tratar o Haiti. Quando não se sabe tratar, a gente ou se utiliza da violência ou da indiferença. Felizmente, a partir de 2004 a América Latina se interessou pelo Haiti. Espero que esse interesse demonstrado essencialmente em torno dos militares possa se transformar em interesse cultural, social, e que possamos melhor conhecer aquele povo tão extraordinário. Mais

Do Terra: 'Brasileiro é destituído de missão da OEA no Haiti'

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

COP15, 'uma depredação capitalista'. E veja como latifundiário é tratado na Bolívia...


Os presidentes da Bolívia e da Venezuela (foto, do jornal argentino Página 12) insistiram que o aquecimento se deve aos "desvios do capitalismo" e criticaram os países centrais que impediram que se chegasse a um acordo. Chávez citou Fidel ao dizer que o fechamento é "inglório". A reportagem é de Cledis Candelaresi e foi publicada pelo Página 12 no sábado, dia 19. Tradução de Moisés Sbardelotto.

"Somos guerreiros, não se metam conosco", advertia Hugo Chávez, meio a sério, meio em tom de brincadeira, com um abraço lateral a Evo Morales no palco da coletiva de imprensa que ambos os presidentes improvisaram para anunciar sua retirada da cúpula porque já não haveria um documento de consenso. A decisão foi apresentada como sendo do bloco Alba, a Aliança Bolivariana, iniciativa promovida pelo presidente venezuelano, e à qual aderem outros como Equador, Cuba e Nicarágua. Os discursos dos governantes se centraram na denúncia do capitalismo e eludiram questões técnicas.

Foi a ministra do Patrimônio Natural do Equador que fez uma síntese da denúncia formulada pelo bloco e esclareceu que o Brasil, a China e a Índia comungam dessa postura, mesmo que não estivessem presentes ali. "Denunciamos as práticas antidemocráticas, que violam os procedimentos das Nações Unidas. Não podemos aceitar que países de elite tomem decisões que nos envolvam e querem impingi-las a nós", sentenciou Marcela Aguinaga.

Ela fazia referência à possibilidade, depois concretizada, de que se apresentasse no final do evento um documento diferente de qualquer um que pudesse ter surgido do trabalho que, durante dias, os dois grandes grupos de negociação realizaram: o que discutiu uma prorrogação do Protocolo de Quioto e o que tentou construir as bases para um acordo totalmente novo. Em rigor, a mesma manobra que o presidente do Brasil objetou durante sua veemente exposição do meio-dia.

"É preciso reflorestar o planeta. Temos que frear a depredação capitalista" , sintetizou o venezuelano quando uma jornalista brasileira lhe perguntou especificamente sua opinião sobre os avanços técnicos do grupo Redd (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação), que busca analisar as complexas alternativas para combater o desmatamento do planeta. A essa inquietação expressada em portunhol, seguiram-se várias outras em inglês, que o chanceler nicaraguense – erigido a moderador do encontro – fez que fossem formuladas rapidamente, habilitando extensas respostas que finalmente não iam ao encontro do núcleo da pergunta proposta.

"O que está em debate são as duas formas de vida: a do capitalismo, que não respeita a Mãe Terra, e a do socialismo, que tenta harmonizar a vida com ela", considerou Morales. A colaboradora do presidente Rafael Correa o ajudava como intérprete, enquanto uma jovem tradutora fazia o mesmo com Chávez, que em todas as ocasiões que teve aludiu a uma opinião de Fidel Castro, dada em uma nota em seu poder. Ali, o líder da Revolução Cubana qualificou de "inglório" o encerramento desse encontro sem um documento de consenso.

Mas no mesmo estrado estava também o vice-presidente cubano, Salvador Ceren, que em tom cansado, totalmente alheio à pressão que impõe o ritmo frenético de uma sucessão de coletivas de imprensa desse evento, detalhou como a revolução da ilha limita as emissões de carbono "ensinando os jovens" a organizar a agricultura. Chávez o interrompeu prometendo contar em um minuto o que ele precisou de dez: como em seu país criam-se "animalitos" (bactérias) que devoram pragas sem necessidade de fumigar, cuidando desse modo do ambiente.

O presidente da Bolívia preferiu conceitos contundentes. "Não se trata só do clima. Trata-se da fome e do racismo. Trata-se dos desvios do capitalismo" . A funcionária equatoriana, enquanto isso, foi mais precisa ainda com o remate de sua intervenção. "Questionamos a falta de compromisso real de reduzir as emissões dos países desenvolvidos. Estão se esquecendo da dívida histórica de contaminação que contraíram". Fora do salão, enquanto isso, buscava-se desesperadamente algum papel que evitasse o encerramento inglório, segundo os termos de Fidel.

Dá-lhe Evo!

do Portal Imprensa
O banqueiro, barão da mídia e latifundiário boliviano Osvaldo Monasterio, proprietário da rede de TV opositora Unitel, teve quase 3 mil hectares de suas terras expropriados (confiscados sem indenização) pelo governo, para fins de Reforma Agrária. Segundo a agência de notícias Associated Press, as terras serão distribuídas a indígenas.

As autoridades alegam que Monasterio obteve os títulos de propriedade de maneira fraudulenta, e os prédios localizados nos terrenos não cumpriam função sócio-econômica. No entanto, parlamentares de oposição consideram que a expropriação teve motivação política.