[Com essa Cobertura Especial, a equipe do blog EDUCOM registra, nesta data, os 20 anos da inauguração, também
no Rio de Janeiro, da Cúpula da Terra, na ECO-92]
14/06/2012 - COBERTURA ESPECIAL – Rio+20
Fonte: Agência Notisa
Países avançaram muito pouco em estratégias de prevenção de desastres desde a Eco 92
Para especialistas, é preciso mudar o comportamento social, investir em pesquisa e melhorar o diálogo entre cientistas e governantes.
Agência Notisa - Dados da Estratégia Internacional das Nações Unidas para a Redução de Desastres (UNISDR) indicam que desde a realização da Cúpula da Terra, no Rio de Janeiro em 1992, 4,4 bilhões de pessoas foram afetadas por esses desastres. No total, isso representa um prejuízo de US$ 2 trilhões de dólares e 1,3 milhões de óbitos. Apenas na China, um dos dez países mais impactados pelos desastres, 2,5 bilhões de pessoas foram afetadas. No Haiti 230.675 pessoas foram mortas. Esses foram alguns dados apresentados em uma sessão do Forum on Science, Technology & Inovation for Sustainable Development, realizada na manhã de hoje (14) na Pontifícia Universidade Católica (PUC-RJ). O fórum é um dos eventos paralelos à Rio+20.
Durante a sessão, especialistas de diferentes nacionalidades discutiram medidas interdisciplinares para redução e gerenciamento de riscos de desastres. Segundo Gordon McBean, professor e diretor do Institute for Catastrophic Loss Reduction do Departamento de Geografia e Ciência Politica da University of Western Ontario, no Canadá, em todas as sociedades as pessoas mais pobres são as que estão mais suscetíveis aos desastres. Boa parte desses eventos, segundo ele, está relacionada ao clima e a mudanças climáticas. Nesse sentido, ele destacou a necessidade da colaboração nacional e internacional para a formação de uma consciência social.
Desde 1980, tem-se observado um número crescente de desastres. O pesquisador lembrou que Austrália, Ásia e América do Norte são alguns dos lugares onde há relatos frequentes desses eventos. “Com esse aumento de eventos notamos que cada vez mais pessoas têm sido afetadas. Atualmente, existem vários métodos para normalizar essas perdas, por exemplo, estatísticas que levam em conta dados sociodemográficos e socioeconômicos”, disse o especialista. Segundo Gordon, progressões indicam que as sociedades devem esperar ainda mais desastres. Dessa forma, ele defendeu a importância do mundo estar preparado para enfrentá-los.
Para Kuniyoshi Takeuchi, diretor do Internacional Center for Walter Hazard and Risk Management (ICHARM), do Japão, um dos fatores que tem contribuído para a intensificação e maior constância dos desastres é o número crescente de habitantes do planeta. “As pessoas vêm se empenhando cada vez mais para obter mais educação e maior poder aquisitivo. Atualmente, nossos investimentos em prevenção de desastres não são suficientes. Precisamos de muito mais esforços para reduzir a frequência desses eventos”, considerou.
Ana Maria Cruz, editorial manager GCOE e professora adjunta visitante da Kyoto University, do Japão, destacou que embora existam sistemas de alerta para desastres, eles não têm funcionado de forma satisfatória. “Essas ferramentas não foram suficientes para proteger a cidade em muitos desastres. Precisamos de uma comunicação melhor, precisamos ser mais honestos e isso envolve qualquer caso de desastre, seja natural ou causado pelo homem”, afirmou.
Abdou Sane, président du réseau des parlementaries sénégalais por I´Habitt, la Sécurité, la Prévention et la Gestion des Risques de Catastrophes lieés aux Changements climatiques, do Senegal, também reforçou a importância de mais investimentos financeiros na prevenção de desastres. Para ele, é necessário estabelecer planos de ação.
Segundo Walter Ammann, presidente do CEO Global Risk Forum GRF Davos, da Suíça, os risco são compostos de fatores naturais, mas também estão relacionados ao mau uso dos recursos, por exemplo, através da construção de forma indiscriminada de prédios. Nesse sentido, ele afirmou que o fator natural é apenas um componente do gerenciamento de riscos. “Precisamos relacionar o gerenciamento de risco com o desenvolvimento social. Há vinte anos na Convenção do Clima, também realizada no Rio de Janeiro, foram propostas medidas, mas o que vemos hoje é que houve um avanço muito lento nesse campo. É preciso relacionar gerenciamento de risco à sustentabilidade”, considerou.
Uma questão importante, segundo Peter Höppe, do Head of Geo Risks Research Department, Corporate Climate Centre, em Muniche, Alemanha, é que os países em desenvolvimento e os mais pobres são impactados por esses desastres de forma muito mais intensa. “Quando os eventos ocorrem em países desenvolvidos é possível reconstruir as cidades de forma rápida. Acredito que esses países têm responsabilidade de ajudar os países pobres a lidar com os destares. Isso pode ser feito de diversas formas, inclusive, através de recursos financeiros”, afirmou.
Para Allan Lavell, do Integrated Research on Disaster Risk (IRDR) do programme Scientific Commitee member, do Reino Unido, o homem está contribuindo para a construção desses desastres. “Não podemos mudar o comportamento dos tornados, por exemplo, mas podemos mudar o comportamento humano”, destacou.
Essa mudança, segundo Gordon McBean, precisa ser iniciada agora.
O diretor do ICHARM, Kuniyoshi Takeuchi, reforçou a ideia de que os governos não devem investir apenas em sistemas de evacuação, ou seja, em medidas que visem contornar as catástrofes. Para ele, é fundamental o investimento em estratégias capazes de evitar esses eventos. “Precisamos investir, por exemplo, em saneamento básico e em formas de ampliar o acesso à água potável”, ressaltou.
Outra medida importante, segundo Ana Maria Cruz, é que os programas de gerenciamento de risco não sejam conduzidos de forma segmentada. Para ela, é importante que os diferentes setores envolvidos nos planos de ação dialoguem entre si.
Os co-organizadores da sessão Jane E. Rovins, diretora executiva do Integrated Research on Disaster Risk (IRDR) Programme, e Badaoui Rouhban, diretor da Section for Disaster Reduction, da UNESCO, lembraram a importância da educação nesse contexto. Para Jane, o trabalho de orientação em escolas é fundamental.
Os palestrantes discutiram ainda sobre a relação entre política e ciência. Eles destacaram a necessidade de se investir mais na produção de conhecimento e defenderam que esses dois setores precisam se comunicar melhor. Além disso, consideraram que é preciso investir especialmente em estratégias capazes de transferir o conhecimento gerado em laboratório para a prática.
Para Ana Maria Cruz, a ciência pode ser feita através de pesquisas que não necessariamente visam completar lacunas, mas também deve ser feita a partir da identificação de lacunas, buscando formas de preenchê-las.
Agência Notisa (science journalism – jornalismo científico)