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sexta-feira, 15 de junho de 2012

COBERTURA ESPECIAL – Rio+20


[Com essa Cobertura Especial, a equipe do blog EDUCOM registra, nesta data, os 20 anos da inauguração, também
no Rio de Janeiro, da Cúpula da Terra, na ECO-92]


14/06/2012 - COBERTURA ESPECIAL – Rio+20
Fonte: Agência Notisa


Países avançaram muito pouco em estratégias de prevenção de desastres desde a Eco 92

Para especialistas, é preciso mudar o comportamento social, investir em pesquisa e melhorar o diálogo entre cientistas e governantes.

Agência Notisa - Dados da Estratégia Internacional das Nações Unidas para a Redução de Desastres (UNISDR) indicam que desde a realização da Cúpula da Terra, no Rio de Janeiro em 1992, 4,4 bilhões de pessoas foram afetadas por esses desastres. No total, isso representa um prejuízo de US$ 2 trilhões de dólares e 1,3 milhões de óbitos. Apenas na China, um dos dez países mais impactados pelos desastres, 2,5 bilhões de pessoas foram afetadas. No Haiti 230.675 pessoas foram mortas. Esses foram alguns dados apresentados em uma sessão do Forum on Science, Technology & Inovation for Sustainable Development, realizada na manhã de hoje (14) na Pontifícia Universidade Católica (PUC-RJ). O fórum é um dos eventos paralelos à Rio+20.

Durante a sessão, especialistas de diferentes nacionalidades discutiram medidas interdisciplinares para redução e gerenciamento de riscos de desastres. Segundo Gordon McBean, professor e diretor do Institute for Catastrophic Loss Reduction do Departamento de Geografia e Ciência Politica da University of Western Ontario, no Canadá, em todas as sociedades as pessoas mais pobres são as que estão mais suscetíveis aos desastres. Boa parte desses eventos, segundo ele, está relacionada ao clima e a mudanças climáticas. Nesse sentido, ele destacou a necessidade da colaboração nacional e internacional para a formação de uma consciência social.

Desde 1980, tem-se observado um número crescente de desastres. O pesquisador lembrou que Austrália, Ásia e América do Norte são alguns dos lugares onde há relatos frequentes desses eventos. “Com esse aumento de eventos notamos que cada vez mais pessoas têm sido afetadas. Atualmente, existem vários métodos para normalizar essas perdas, por exemplo, estatísticas que levam em conta dados sociodemográficos e socioeconômicos”, disse o especialista. Segundo Gordon, progressões indicam que as sociedades devem esperar ainda mais desastres. Dessa forma, ele defendeu a importância do mundo estar preparado para enfrentá-los.

Para Kuniyoshi Takeuchi, diretor do Internacional Center for Walter Hazard and Risk Management (ICHARM), do Japão, um dos fatores que tem contribuído para a intensificação e maior constância dos desastres é o número crescente de habitantes do planeta. “As pessoas vêm se empenhando cada vez mais para obter mais educação e maior poder aquisitivo. Atualmente, nossos investimentos em prevenção de desastres não são suficientes. Precisamos de muito mais esforços para reduzir a frequência desses eventos”, considerou.

Ana Maria Cruz, editorial manager GCOE e professora adjunta visitante da Kyoto University, do Japão, destacou que embora existam sistemas de alerta para desastres, eles não têm funcionado de forma satisfatória. “Essas ferramentas não foram suficientes para proteger a cidade em muitos desastres. Precisamos de uma comunicação melhor, precisamos ser mais honestos e isso envolve qualquer caso de desastre, seja natural ou causado pelo homem”, afirmou.

Abdou Sane, président du réseau des parlementaries sénégalais por I´Habitt, la Sécurité, la Prévention et la Gestion des Risques de Catastrophes lieés aux Changements climatiques, do Senegal, também reforçou a importância de mais investimentos financeiros na prevenção de desastres. Para ele, é necessário estabelecer planos de ação.

Segundo Walter Ammann, presidente do CEO Global Risk Forum GRF Davos, da Suíça, os risco são compostos de fatores naturais, mas também estão relacionados ao mau uso dos recursos, por exemplo, através da construção de forma indiscriminada de prédios. Nesse sentido, ele afirmou que o fator natural é apenas um componente do gerenciamento de riscos. “Precisamos relacionar o gerenciamento de risco com o desenvolvimento social. Há vinte anos na Convenção do Clima, também realizada no Rio de Janeiro, foram propostas medidas, mas o que vemos hoje é que houve um avanço muito lento nesse campo. É preciso relacionar gerenciamento de risco à sustentabilidade”, considerou.

Uma questão importante, segundo Peter Höppe, do Head of Geo Risks Research Department, Corporate Climate Centre, em Muniche, Alemanha, é que os países em desenvolvimento e os mais pobres são impactados por esses desastres de forma muito mais intensa. “Quando os eventos ocorrem em países desenvolvidos é possível reconstruir as cidades de forma rápida. Acredito que esses países têm responsabilidade de ajudar os países pobres a lidar com os destares. Isso pode ser feito de diversas formas, inclusive, através de recursos financeiros”, afirmou.

Para Allan Lavell, do Integrated Research on Disaster Risk (IRDR) do programme Scientific Commitee member, do Reino Unido, o homem está contribuindo para a construção desses desastres. “Não podemos mudar o comportamento dos tornados, por exemplo, mas podemos mudar o comportamento humano”, destacou.

Essa mudança, segundo Gordon McBean, precisa ser iniciada agora.

O diretor do ICHARM, Kuniyoshi Takeuchi, reforçou a ideia de que os governos não devem investir apenas em sistemas de evacuação, ou seja, em medidas que visem contornar as catástrofes. Para ele, é fundamental o investimento em estratégias capazes de evitar esses eventos. “Precisamos investir, por exemplo, em saneamento básico e em formas de ampliar o acesso à água potável”, ressaltou.

Outra medida importante, segundo Ana Maria Cruz, é que os programas de gerenciamento de risco não sejam conduzidos de forma segmentada. Para ela, é importante que os diferentes setores envolvidos nos planos de ação dialoguem entre si.

Os co-organizadores da sessão Jane E. Rovins, diretora executiva do Integrated Research on Disaster Risk (IRDR) Programme, e Badaoui Rouhban, diretor da Section for Disaster Reduction, da UNESCO, lembraram a importância da educação nesse contexto. Para Jane, o trabalho de orientação em escolas é fundamental.

Os palestrantes discutiram ainda sobre a relação entre política e ciência. Eles destacaram a necessidade de se investir mais na produção de conhecimento e defenderam que esses dois setores precisam se comunicar melhor. Além disso, consideraram que é preciso investir especialmente em estratégias capazes de transferir o conhecimento gerado em laboratório para a prática.

Para Ana Maria Cruz, a ciência pode ser feita através de pesquisas que não necessariamente visam completar lacunas, mas também deve ser feita a partir da identificação de lacunas, buscando formas de preenchê-las.

Agência Notisa (science journalism – jornalismo científico)

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Brasil vai sediar conferência ambiental 20 anos depois da Eco-92

por Luana Lourenço, da REBIA
O Brasil vai sediar em 2012 a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, já batizada de Rio+20, em referência a Eco-92, realizada no Rio de Janeiro, cidade que deve receber novamente o evento.

A conferência foi aprovada em dezembro pela Assembléia Geral das Nações Unidas. O encontro havia sido proposto em 2007 pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A ideia é avaliar e renovar os compromissos com o desenvolvimento sustentável assumidos pelos líderes mundiais na Eco-92. A Rio+20 tembém discutirá a contribuição da economia verde para o desenvolvimento sustentável e a eliminação da pobreza.

Outra tema na pauta da conferência será o debate sobre a estrutura de governança internacional na área do desenvolvimento sustentável. O modelo de consenso, que só permite decisões com a aprovação de todos os países, foi colocado em xeque na 15ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, em Copenhague, que terminou sem acordo por divergências entre os países ricos e em desenvolvimento sobre as ações necessárias para enfrentar o aquecimento global.

sábado, 26 de dezembro de 2009

Apocalipse agora

Maurice Strong, secretário-geral da Rio 92, destacava: "O volume de riqueza, hoje, é capaz de proporcionar uma boa qualidade de vida ao dobro da população mundial". Assim ele abria a Eco 92, propondo a erradicação da pobreza.

Em julho de 2009, durante um curso de economia para jornalistas no Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em Brasília, o presidente da autarquia, Marcio Pochmann, assegurou que o volume de riqueza atualmente é muito maior. Na mesma aula, informava que as três maiores corporações do mundo têm o PIB do Brasil.

A FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação) recentemente divulgou que há no mundo 969 milhões de famintos e que, nos últimos dois anos, este número aumentou em 200 milhões.

Diante disso e da voracidade dos representantes das nações ricas, agora, em Copenhague, para impor acordos que permitissem a manipulação dos recursos naturais pelos países ricos - 80% do patrimônio natural pertence aos países pobres - não nos restam dúvidas de que se aproxima o apocalipse.

Imaginem que a Terra é um organismo vivo. Sua base é formada pelos pobres, que estão morrendo de fome ou sendo executados para que a indústria de armas cresça. Em breve, a Terra desmoronará. A Terra talvez não, mas a humanidade sim.

Este texto de Frei Betto, que transcrevemos na íntegra a seguir, foi publicado originalmente no Correio da Cidadania em 12 de dezembro de 2009.

Será que teremos Feliz Ano Novo?
(Zilda Ferreira - Equipe do Blog EDUCOM)

Apocalipse agora

Frei Betto*
O fim do mundo sempre me pareceu algo muito longínquo. Até um contra-senso. Deus haveria de destruir sua Criação? Hoje me convenço de que Deus nem precisa mais pensar em novo dilúvio. O próprio ser humano começou a provocá-lo, através da degradação da natureza.

Os bens da Terra tornaram-se posse privada de empresas e oligopólios. A causa de 4 bilhões de seres humanos viverem abaixo da linha da pobreza, e 1,2 bilhão padecerem fome, é uma só: toda essa gente foi impedida de acesso à terra, à água, à semente, às novas técnicas de cultivo e aos sistemas de comercialização de produtos.

A decisão dos EUA e da China de ignorarem a Conferência de Copenhague sobre Mudanças Climáticas torna mais agônico o grito da Terra. Os dois países são os principais emissores de CO2 na atmosfera. São os grandes culpados pelo aquecimento global. Ao decidirem boicotar Copenhague e adiar o compromisso de reduzirem suas emissões, eles abreviam a agonia do planeta.

Felizmente, a 25 de novembro o presidente Obama, sob forte pressão, voltou atrás e desdisse o que falara em Pequim. Os EUA, responsáveis por 23% das emissões mundiais de CO2, prometerão em Copenhague reduzir, até 2020, 17% das emissões de gases de efeito estufa; 30% até 2025; e 42% até 2030.

Por que o recuo? Além da pressão dos ecologistas, Obama deu-se conta de que ficaria mal na foto ignorar Copenhague e comparecer em Oslo, dia 10 de dezembro – quando se comemora o 61º aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos – para receber o prêmio Nobel da Paz. Portanto, na véspera estará na capital da Dinamarca.

Curioso, todos os prêmios Nobel são entregues em Estocolmo, exceto o da Paz. Por uma simples e cínica razão: a fortuna da Fundação Nobel, sediada na Suécia, resulta da herança do inventor da dinamite, Alfred Nobel (1833-1896), utilizada como explosivo em guerras. Como não teve filhos, Nobel destinou os lucros obtidos por sua patente a quem se destacar em determinadas áreas do saber.

Há uma lógica atrás da posição ‘ecocida’ dos EUA e da China. São dois países capitalistas. O primeiro abraça o capitalismo de mercado; o segundo o de Estado. Ambos coincidem no objetivo maior: a lucratividade, não a sustentabilidade.

O capitalismo, como sistema, não tem solução para a crise ecológica. Sabe que medidas de efeito haverão de redundar inevitavelmente na redução dos lucros, do crescimento do PIB, da acumulação de riquezas.

Se vivesse hoje, Marx haveria de admitir que a crise do capitalismo já não resulta das contradições das forças produtivas. Resulta do projeto tecnocientífico que beneficia quase que exclusivamente apenas 20% da população mundial. Esse projeto respalda-se numa visão de qualidade de vida que coincide com a opulência e o luxo. Sua lógica se resume a "consumo, logo existo". Como dizia Gandhi, "a Terra satisfaz as necessidades de todos, menos a voracidade dos consumistas".

Exemplo disso é a recente crise financeira. Diante da ameaça de quebra dos bancos, como reagiram os governos das nações ricas? Abasteceram de recursos as famílias inadimplentes, possibilitando-as de conservar suas casas? Nada disso. Canalizaram fortunas – um total de US$ 18 trilhões - para os bancos responsáveis pela crise. Eduardo Galeano chegou a pensar em lançar a campanha "Adote um banqueiro", tal o desespero no setor.

O planeta em que vivemos já atingiu os seus limites físicos. Por enquanto não há como buscar recursos fora dele. O jeito é preservar o que ainda não foi totalmente destruído pela ganância humana, como as fontes de água potável, e tentar recuperar o que for possível através da despoluição de rios e mares e do reflorestamento de áreas desmatadas.

Ecologia vem do grego "oikos", significa casa, e "logos", conhecimento. Portanto, é a ciência que estuda as condições da natureza e as relações entre tudo que existe - pois tudo que existe co-existe, pré-existe e subsiste. A ecologia trata, pois, das conexões entre os organismos vivos, como plantas e animais (incluindo homens e mulheres), e o seu meio ambiente.

Essa visão de interdependência entre todos os seres da natureza foi perdida pelo capitalismo. Nisso ajudou uma interpretação equivocada da Bíblia - a idéia de que Deus criou tudo e, por fim, entregou aos seres humanos para que "dominassem" a Terra. Esse domínio virou sinônimo de espoliação, estupro, exploração. Os rios foram poluídos; os mares, contaminados; o ar que respiramos, envenenado.

Agora, corremos contra o relógio do tempo. O Apocalipse desponta no horizonte e só há uma maneira de evitá-lo: passar do paradigma de lucratividade para o da sustentabilidade.
*Frei Betto é escritor, autor do romance "Um homem chamado Jesus", lançamento da editora Rocco para o Natal 2009.

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