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domingo, 28 de abril de 2013

Judeus: o que teria se passado entre Varsóvia e Israel?

23/04/2013 - Os judeus, entre Varsóvia e Israel
- Mauro Santayana - JB

Embora, pelos cânones hebraicos, não fosse judeu, porque nascido de mãe não judia, Marcos Magalhães Rubinger era orgulhoso de sua circunstância, e se identificava como judeu.

Antropólogo conceituado, e homem de esquerda, ele foi compelido ao exílio pelo regime militar brasileiro.

Ao encontrá-lo na Suíça, em 1967, logo depois da Guerra dos Seis Dias, que consolidou a posição do Estado de Israel no território palestino, ele estava desolado: os judeus haviam dado mais um passo atrás de sua plena integração à Humanidade.

Continuamos no gueto” – me disse. “No grande gueto que nós mesmos instalamos e, tal como ocorreu com o Gueto de Varsóvia, iremos murá-lo e selá-lo por dentro”.

A grande muralha de Israel ainda não fora levantada.

Talvez não haja tema histórico mais discutido do que o do povo de Israel.

Só isso basta para atestar a sua importância na formação da ideia do Ocidente nestes dois últimos milênios.

A sua presença na Europa e no mundo conquistado pelos romanos e seus sucessores, mais do que documentada, é cercada de mitos.

Não há dúvida de que foi povo perseguido, obrigado a isolar-se em sua fé, e a defender-se, como lhe era possível, a fim de impedir o genocídio.

Essa defesa os levou a buscar o conhecimento e a riqueza, que não lhes bastou para impedir a perseguição, nem foi suficiente para conjurar sua divisão entre judeus ricos e judeus sem dinheiro, para lembrar a obra prima de Michael Gold, (foto) pseudônimo do jovem escritor americano Itzok Isaac Granich.

Nestes dias de abril e maio, os judeus – e os humanistas mais atentos – lembram dois episódios fortes na história contemporânea: o Levante do Gueto de Varsóvia, em 1943, e a criação do Estado de Israel, em 1948.

Há quem associe os dois fatos, como se tratasse de uma coisa só; há quem assegure que, sem o Levante, não teria havido o segundo êxodo e sua conseqüência política, e há os que separam os dois episódios, dando a cada um deles sua própria razão.

Como é costume ocorrer na História, todas as três versões são corretas, – o que difere é a contribuição de cada uma delas no desenvolvimento posterior da questão judaica.

Recente artigo da historiadora norte-americana Marci Shore, (retrato ao lado) publicado pelo New York Times, ao reconstruir a crônica da resistência dos judeus de Varsóvia, abre o caminho para nova interpretação dos fatos.

Ela mostra como os judeus de Varsóvia se encontravam inermes diante do ocupante nazista.

E revela que a resistência, naqueles dias de abril e maio de há 70 anos, foi  ato de dignidade, assumido por jovens dispostos a morrer lutando, e não conformados a ver a resignação de seus pais e avós, ao embarcar rumo aos campos de extermínio a poucos quilômetros de Varsóvia.

Os nazistas, depois da ocupação da Polônia, empurraram, pouco a pouco, todos os judeus da cidade ao imenso gueto e os obrigaram a erguer espesso muro em volta: as únicas entradas e saídas eram vigiadas por soldados das SS.

De acordo com a sua política perversa, criaram, em 1942, um Conselho Judaico, encarregado de indicar a lista diária dos que deviam ser encaminhados às câmaras de gás e aos trabalhos forçados, presidido por Adam Czerniakov.

No dia 22 de julho daquele ano, os nazistas decidiram iniciar a deportação em massa dos judeus do Gueto rumo a Treblinka e a Auschwitz.

Como conhecesse o destino que os esperava, no dia seguinte Czerniakow engoliu uma cápsula de cianureto.

Não houve unidade na luta de resistência. Os sionistas de extrema direita formaram seu próprio corpo de combate.

Os mais duros guerreiros foram jovens, alguns deles religiosos, mas a maioria de agnósticos e marxistas, ligados aos movimentos socialistas de esquerda, como a Bund (Liga) e com forte presença de comunistas.

Quando os nazistas atearam fogo ao Gueto, o núcleo duro da resistência refugiou-se em um bunker, sob o comando do jovem Marek Elderman (foto jovem).

Ele e seus companheiros fugiram pelos esgotos fétidos, nos quais a maioria morreu asfixiada pelos gases.

Quarenta deles sobreviveram, alguns se aliaram aos guerrilheiros poloneses e russos, e muitos sobreviveram à Guerra.

Elderman (foto abaixo), depois da derrota alemã, tornou-se cardiologista – e jamais quis viver em Israel.

Ele, e muitos outros, defendiam a cultura ashkenazi, fundada no uso do ídiche como o idioma de seu povo, e um “modus vivendi” com os povos conhecidos, o que seria facilitado pelo resultado do conflito;

não a ocupação de um território no meio do deserto, ao lado de grupos étnicos estranhos, nem a ressurreição de uma língua morta, só usada nos ritos religiosos, como idioma oficial.

Em razão disso, o Estado de Israel não o considera herói nacional.

Ele era um dos que, como Rubinger, defendiam o convívio dos judeus com os outros povos, e achava um erro estratégico a criação de Israel, que vinha sendo planejada desde o fim do século 19.

Os sionistas se apropriaram da gesta heroica dos combatentes do Gueto de Varsóvia, como se tratasse de uma vitória sua.

Na realidade foi uma vitória do melhor do povo judeu, dos filhos de trabalhadores, de intelectuais engajados nos movimentos políticos clandestinos, dos que não aceitavam o triste e resignado cortejo de seus pais e seus irmãos menores rumo às câmaras de gás.

O Levante foi a resposta viril ao Holocausto, e redimiu, na bravura de seus jovens, o grande povo judeu.

Se a Humanidade tiver algum futuro, a resistência do Gueto de Varsóvia será vista, nos séculos a vir  – como muitos a vêem hoje – como ato muito mais importante do que a criação do Estado de Israel.

Ela se equivale à dura resistência do povo de Stalingrado, com uma virtude a mais. Em Stalingrado os combatentes contavam com a nação. Em Varsóvia, em uma Polônia marcada pelo racismo, os jovens judeus estavam sós.

O general Jurgen Stroop, comandante das tropas de Varsóvia que massacraram os habitantes do Gueto, foi condenado à morte em 1951 e executado pelo governo polonês.

Mas cumprira a sua missão, conforme relatório a Berlim: em maio de 1943 já não havia um só bairro judeu em Varsóvia.

Mais de 300.000 judeus haviam sido enviados para as câmaras de gás, e se calcula que mais de 10.000 morreram calcinados pelas chamas em que ardeu o Gueto (foto acima), naqueles dias de maio.

No dia 7 de dezembro de 1970, como correspondente deste Jornal do Brasil, assisti ao Chanceler Willy Brandt (foto) em gesto grandioso, ajoelhar-se diante do marco evocativo do Gueto de Varsóvia.

O líder socialista, com a autoridade de quem resistira, ainda adolescente, ao nazismo, ajoelhou-se, em atordoante silêncio, em homenagem aos combatentes de 1943 – ou, seja, de 27 anos antes.

Esses registros históricos e a situação atual de Israel – com tantos e eminentes judeus que se opõem ao genocídio dos palestinos e buscam construir a paz – tornam proféticas as palavras de Marcos Rubinger: trata-se de imenso gueto, erigido em terras estranhas, murado por dentro.

Os jovens de Varsóvia lutaram e morreram para que não houvesse                                   muros.

Alguns, como Marek Elderman, sonhavam com uma única Humanidade.

Talvez ainda haja tempo.

Fonte:
http://www.maurosantayana.com/2013/04/os-judeus-entre-varsovia-e-israel.html

Leia também:
- Adolescente brasileiro, preso por israelenses - Guila Flint
- Se os EUA não fizerem o que Israel diz que Deus disse... estamos fritos - Paul Craig Roberts

Nota:
A inserção de imagens adicionais, capturadas do Google Images, são de nossa responsabilidade, elas inexistem no texto original.

sábado, 27 de abril de 2013

Adolescente brasileiro, preso por israelenses

- 21/04/2013 - Brasileiro é preso acusado de atirar pedras em soldados israelenses
- Guila Flint - De Tel Aviv para a BBC Brasil - por: BBC e Stop the Wall 

O adolescente Majd Hamad, de 15 anos, filho de uma brasileira e que vinha sendo procurando pelo Exército israelense sob acusação de jogar pedras contra as tropas, se entregou neste domingo [21/04] em uma delegacia de polícia na Cisjordânia.

Acompanhado pela mãe, Najat Hamad, que nasceu em Goiás, e pelo ministro-conselheiro do escritório de Representação do Brasil em Ramallah, João Marcelo Soares [ao lado], ele chegou pela manhã ao posto policial Binyamin, perto de Ramallah.

Após cerca de uma hora de interrogatório, durante o qual as autoridades não permitiram a presença da mãe ou do diplomata, Majd ficou detido no local e, de lá, deverá ser transferido para a prisão de Ofer.

De acordo com a mãe, "quando saiu do interrogatório, estava muito nervoso e com olhos vermelhos, mas não me deixaram falar com ele".

Majd Hamad, 15 anos
O adolescente é acusado de jogar pedras contra soldados israelenses durante uma manifestação no dia 11 de abril, nas proximidades do vilarejo de Silwad, onde mora.

Najat Hamad, nascida na cidade de Anápolis, afirma que seu filho não participou da manifestação em questão.

"Naquele dia, eu e meu marido decidimos não deixar Majd sair de casa, pois a situação estava tensa em Silwad, depois que colonos de um assentamento próximo espancaram um agricultor palestino", disse a mãe à BBC Brasil.

Segundo o porta-voz do Exército israelense, capitão Barak Raz, "o Exército não prende ninguém à toa. Se foi preso, é sinal de que há provas contra ele", disse citando a possibilidade de haver vídeos, fotos ou depoimentos envolvendo o nome do adolescente.

Buscas
De acordo com o relato da mãe, soldados israelenses invadiram a casa da família às 2 horas da manhã do sábado (13/04).

"A família inteira estava dormindo quando ouvimos batidas muito fortes na porta", disse a brasileira. "Minha filha de 13 anos foi abrir e se deparou com um grupo de soldados com fuzis apontados para a cabeça dela."

"Eles entraram rapidamente e começaram a revistar a casa. Reuniram a nossa família na sala e começaram a procurar nos quartos", disse a mãe.

"Eu tinha certeza de que eles estavam procurando meu marido e fiquei muito surpresa quando um dos soldados me disse que vieram prender Majd."

"Eu disse a ele que Majd tinha ido dormir na casa de parentes e que ele é muito pequeno, só tem 15 anos", afirmou.

Ao fim da operação de busca, a mãe prometeu aos militares que entregaria seu filho às autoridades israelenses neste domingo.

Fiança
O diplomata brasileiro João Marcelo Soares, que acompanhou a apresentação do adolescente à delegacia, disse à BBC Brasil que "as autoridades israelenses me informaram que os interrogatórios ainda estão em curso e, ao final, haverá uma decisão sobre o pedido de libertação sob fiança".

"Caso o pedido seja negado, amanhã (22/04), os menores serão levados a um tribunal militar, que deverá reconsiderar o pedido", acrescentou.

Majd Hamad foi preso juntamente com mais quatro colegas da mesma classe, todos de 15 ou 16 anos.

Sua mãe, Najat Hamad, que mudou-se para a Cisjordânia há 17 anos, disse que "não esperava que aqui prendessem crianças desse jeito".

"O que são pedras diante das metralhadoras e dos veículos blindados do Exército israelense?", perguntou.

O Exército israelense define o lançamento de pedras como "atentados terroristas que podem matar".

Unicef
Em março, o Fundo das Nações Unidas para Infância (Unicef) publicou um relatório acusando Israel de violar os direitos de crianças e adolescentes palestinos presos.

O relatório afirma que "menores de idade palestinos detidos por militares israelenses são sujeitos a maus tratos que violam a lei internacional".

De acordo com o Unicef, a cada ano cerca de 700 menores palestinos, entre 12 e 17 anos, são interrogados e detidos pelo Exército, pela polícia e por agentes de segurança de Israel.

Segundo o presidente da Associação dos Prisioneiros Palestinos, Kadura Fares [foto], atualmente há cerca de 200 menores palestinos presos em cadeias israelenses.

Fares disse à BBC Brasil que, nas cadeias israelenses, os menores "têm o mesmo tratamento que os adultos, não há prisões especiais para as crianças".

Fontes:
http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2013/04/130421_palestino_brasileiro_prisao_gf_fn.shtml

Nota:
A inserção de imagens adicionais, capturadas do Google Images, são de nossa responsabilidade, elas inexistem no texto original.

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Israel e Gaza: Robert Fisk entrevista Uri Avnery

Parabéns ao povo e ao governo do Rio Grande do Sul pela realização do Fórum Mundial - Palestina Livre e nossa homenagem ao povo palestino, pelo reconhecimento ontem, 28/11/2012, pela Assembléia Geral da ONU, da bravura e dignidade desse povo, heroico em sua luta contra um opressor cruel e desumano.
[Equipe do blog Educom]

24/11/2012 - por Robert Fisk, “One of Israel's great leftist warriors wants peace with Hamas and Gaza - but does the Knesset?
- publicado em 23/11/2012 no The Independent, UK
- Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu


Uri Avnery: “Um dos maiores guerreiros da esquerda de Israel quer paz com Hamás e Gaza. Mas e o Knesset?” [Parlamento] O velho Uri Avnery tem 89 anos e ainda luta.


Hamás
De fato, escritor mundialmente conhecido, ainda é um dos maiores guerreiros da esquerda de Israel, ainda exige paz com os palestinos, paz com o Hamás, um estado palestino nas fronteiras de 67 – com pequenos acertos de território para um lado e outro.

Ainda crê que Israel poderia ter paz, amanhã ou na próxima semana.

Se Netanyahu quisesse paz.
“Azar de otimista incorrigível” – assim ele descreve o próprio destino. Ou talvez seja, mesmo, só, um velho mágico?
Benyamin Netanyahu, escombros em Gaza

Ainda é o mesmo sujeito que encontrei há 30 anos, jogando xadrez com Yasser Arafat nas ruínas de Beirute. Cabelos e barbas hoje brancos, lança palavras – diz que ultimamente anda um pouco surdo – com a mesma fúria e o humor de sempre. Pergunto a Avnery o que estão fazendo Netanyahu e seu governo. Qual o objetivo deles nessa guerra de Gaza? Os olhos dele brilham e ele responde.

"Você pressupõe que eles queiram alguma coisa e que queiram paz – e, nesse caso, a política deles é idiota, ou insana. Mas se você assume que não dão a mínima para a paz, mas querem um estado judeu que vá do Mediterrâneo ao rio Jordão, então, em certa medida, o que estão fazendo tem um certo sentido.

O problema é que o que eles querem está levando a um beco sem saída – porque já temos um estado em toda a Palestina histórica, três quartos do qual é o estado judeu de Israel e um quarto do qual são a Cisjordânia e a Faixa de Gaza ocupadas."

Apartheid em Israel
Avnery fala em sentenças perfeitas. Minha caneta corre pelo papel até ficar sem tinta. Tenho de usar uma das dele.

"Se anexarem a Cisjordânia como anexaram Jerusalém Leste – diz ele – nem faz muita diferença. O problema é que nesse território que hoje é dominado por Israel, há 49% de judeus e 51% de árabes, e o desequilíbrio aumenta ano a ano, porque o crescimento populacional natural entre os árabes é muito maior que o crescimento natural do nosso lado. Portanto, a verdadeira pergunta é: se essa política continua, que tipo de estado haverá? Como é hoje, é um estado de apartheid; absoluto apartheid nos territórios ocupados e apartheid crescente em Israel. E se isso continuar, haverá absoluto apartheid em todo o país, sem dúvida alguma."

O argumento de Avnery avança, claro.
"Se os habitantes árabes tiverem garantidos plenos direitos civis, logo haverá maioria árabe no Knesset [Parlamento], e a primeira coisa que esse Parlamento fará será trocar o nome do país, de “Israel” para “Palestina”, e todo o exercício dos últimos 130 anos será reduzido a nada. Limpeza étnica massiva é impossível no século 21" – diz ele ou espera ele – "mas quanto à demografia, não há o que discutir."

"É uma supressão. Espera-se que ninguém pense nisso, que se afaste a ideia da nossa consciência. Nenhum dos partidos fala sobre esse problema. A palavra ‘paz’ não aparece em nenhum manifesto eleitoral, exceto no do pequeno partido Meretz –, nem nos partidos da Oposição nem na Coalizão.

A palavra ‘paz’ desapareceu completamente em Israel."

"A esquerda em Israel? Como que, mais ou menos, hiberna – desde que a esquerda foi destruída por Ehud Barak, em 2000. Ele voltou de Camp David – como autoproclamado líder do “campo da paz” – e decidiu que “não temos parceiro para a paz”. Foi golpe mortal."

"Quem disse isso não foi Netanyahu, mas o líder do Partido Trabalhista. Foi o fim do movimento Paz Agora."

Esperança
Então, o otimista ressurge, com a nuvens escurecendo o mar que se avista do apartamento de Avnery, sétimo andar, em Telavive.

"Quando encontrei-me com Arafat em 1982, os termos estavam ali. O mínimo e o máximo do que os palestinos queriam era a mesma coisa: um estado palestino junto a Israel, que compreenderia a Cisjordânia, a Faixa de Gaza e Jerusalém Leste como capital, com pequenos acertos de território e uma solução simbólica para a questão dos refugiados. Lá está sobre a mesa, como flor murcha. Olha para nós todos os dias. Já cedemos a Faixa de Gaza – para ganhar o controle sobre a Cisjordânia, assim como [Menachem] Begin cedeu todo o Sinai, para ganhar toda a Palestina."

Avnery está convencido de que o Hamás aceitaria proposta semelhante – como disse a eles, em Gaza, em 1993;

"... lá estava eu, frente a 500 xeiques de barbas negras, eu falando hebraico. Aplaudiram e me convidaram para o almoço."

Várias vezes, reuniu-se com delegados do Hamás depois daquele dia. Para eles, defender a Palestina é waqf [dever absoluto, sob a lei islâmica], não podem ceder a Palestina.

Mas um acordo pode ser reconhecido e santificado também em termos religiosos. “Se oferecessem uma trégua de 50 anos, para mim, pessoalmente, seria suficiente”.

“Claro – diz Avnery - o Hamás mantém, em seu manifesto, que quer destruir Israel. Abolir um manifesto é coisa muito difícil de fazer. Os russos algum dia aboliram o Manifesto Comunista? Pois a OLP aboliu o manifesto deles”.

E assim seguem as coisas. Os grupos da paz, pequenos mas muito ativos – Gush Shalom [Bloco da Paz], o projeto Paz Agora, que monitora as colônias, os Combatentes da Paz (ex-soldados israelenses e ex-combatentes palestinos) e outros assemelhados preparam-se para as eleições de janeiro.


Curiosamente, Avnery acredita que o terrível – e muito execrado – Relatório Goldstone sobre a matança que foi a guerra de Gaza de 2008-2009, foi o que impediu, daquela vez, a invasão por terra.

"Goldstone pode orgulhar-se do que fez – de fato, salvou muitas vidas."

Barbárie: bombas de fósforo branco sobre Gaza
Não poucos, na esquerda de Israel, sonham com que Uri Avnery viva outros 89 anos.

Fonte:
http://redecastorphoto.blogspot.com.br/2012/11/israel-e-gaza-robert-fisk-entrevista.html

Leia também:
- Quem deu a Israel o direito de negar todos os direitos?

- Impressões de uma visita a Gaza

- Gaza é em todo o mundo

Imagens: Google Images

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Quem deu a Israel o direito de negar todos os direitos?

22/11/2012 - Por Eduardo Galeano
- extraído do blog Pragmatismo Político


Eduardo Galeano: “Este artigo é dedicado a meus amigos judeus assassinados pelas ditaduras latinoamericanas que Israel assessorou”


Para justificar-se, o terrorismo de estado fabrica terroristas: semeia ódio e colhe pretextos. Tudo indica que esta carnificina de Gaza, que segundo seus autores quer acabar com os terroristas, acabará por multiplicá-los.

Desde 1948, os palestinos vivem condenados à humilhação perpétua. Não podem nem respirar sem permissão. Perderam sua pátria, suas terras, sua água, sua liberdade, seu tudo. Nem sequer têm direito a eleger seus governantes. Quando votam em quem não devem votar são castigados.


Gaza está sendo castigada

Converteu-se em uma armadilha sem saída, desde que o Hamas ganhou limpamente as eleições em 2006. Algo parecido havia ocorrido em 1932, quando o Partido Comunista triunfou nas eleições de El Salvador. Banhados em sangue, os salvadorenhos expiaram sua má conduta e, desde então, viveram submetidos a ditaduras militares. A democracia é um luxo que nem todos merecem.
São filhos da impotência os foguetes caseiros que os militantes do Hamas, encurralados em Gaza, disparam com desajeitada pontaria sobre as terras que foram palestinas e que a ocupação israelense usurpou.

E o desespero, à margem da loucura suicida, é a mãe das bravatas que negam o direito à existência de Israel, gritos sem nenhuma eficácia, enquanto a muito eficaz guerra de extermínio está negando, há muitos anos, o direito à existência da Palestina.

Já resta pouca Palestina. Passo a passo, Israel está apagando-a do mapa. Os colonos invadem, e atrás deles os soldados vão corrigindo a fronteira. As balas sacralizam a pilhagem, em legítima defesa.

Não há guerra agressiva que não diga ser guerra defensiva. Hitler invadiu a Polônia para evitar que a Polônia invadisse a Alemanha. Bush invadiu o Iraque para evitar que o Iraque invadisse o mundo. Em cada uma de suas guerras defensivas, Israel devorou outro pedaço da Palestina, e os almoços seguem.



O apetite devorador se justifica pelos títulos de propriedade que a Bíblia outorgou, pelos dois mil anos de perseguição que o povo judeu sofreu, e pelo pânico que geram os palestinos à espreita.

Israel é o país que jamais cumpre as recomendações nem as resoluções das Nações Unidas, que nunca acata as sentenças dos tribunais internacionais, que burla as leis internacionais, e é também o único país que legalizou a tortura de prisioneiros.

Quem lhe deu o direito de negar todos os direitos? 

De onde vem a impunidade com que Israel está executando a matança de Gaza? O governo espanhol não conseguiu bombardear impunemente ao País Basco para acabar com o ETA, nem o governo britânico pôde arrasar a Irlanda para liquidar o IRA.

Por acaso a tragédia do Holocausto implica uma apólice de eterna impunidade?
Ou essa luz verde provém da potência manda chuva que tem em Israel o mais incondicional de seus vassalos?

O exército israelense, o mais moderno e sofisticado mundo, sabe a quem mata. Não mata por engano. Mata por horror. As vítimas civis são chamadas de “danos colaterais, segundo o dicionário de outras guerras imperiais.

Em Gaza, de cada dez “danos colaterais”, três são crianças.

Gaza: efeito do fósforo branco sobre a pele
E somam aos milhares os mutilados, vítimas da tecnologia do esquartejamento humano, que a indústria militar está ensaiando com êxito nesta operação de limpeza étnica.

E como sempre, sempre o mesmo: em Gaza, cem a um. Para cada cem palestinos mortos, um israelense. Gente perigosa, adverte outro bombardeio, a cargo dos meios massivos de manipulação, que nos convidam a crer que uma vida israelense vale tanto quanto cem vidas palestinas.

E esses meios também nos convidam a acreditar que são humanitárias as duzentas bombas atômicas de Israel, e que uma potência nuclear chamada Irã foi a que aniquilou Hiroshima e Nagasaki.

A chamada “comunidade internacional”, existe? É algo mais que um clube de mercadores, banqueiros e guerreiros? É algo mais que o nome artístico que os Estados Unidos adotam quando fazem teatro?

Diante da tragédia de Gaza, a hipocrisia mundial se ilumina uma vez mais.

Como sempre, a indiferença, os discursos vazios, as declarações ocas, as declamações altissonantes, as posturas ambíguas, rendem tributo à sagrada impunidade.
Diante da tragédia de Gaza, os países árabes lavam as mãos. Como sempre. E como sempre, os países europeus esfregam as mãos. A velha Europa, tão capaz de beleza e de perversidade, derrama alguma que outra lágrima, enquanto secretamente celebra esta jogada de mestre.
Porque a caçada de judeus foi sempre um costume europeu, mas há meio século essa dívida histórica está sendo cobrada dos palestinas, que também são semitas e que nunca foram, nem são, antissemitas.
Eles estão pagando, com sangue constante e sonoro, uma conta alheia.

Fonte:
http://www.pragmatismopolitico.com.br/2012/11/eduardo-galeano-israel-gaza-direito-de-negar-todos-os-direitos.html