sábado, 10 de setembro de 2011

Terror e o atentado de 11 de setembro


  • Por Pedro Alves
Terror e o atentado de 11 de setembro 9/11Acordei cedo. Era talvez 6 horas da manhã. Alguma coisa estava acontecendo e estava errado. Estava profundamente errado. Dava para sentir o clima, a expectativa de defecho dos  conflitos. Tinha que haver uma solução. De alguma forma, a cidade amanhecia diferente, com outro clima, outra ansiedade, outra emoção.
Desci e fui comprar pão e ver o que certamente estava acontecendo.
Na volta soube da noticia pelo rádio: o golpe militar estava em marcha contra Allende.
Descemos, eu e Iracema, e fomos direto para o centro da cidade, percorrendo a Alameda as pressas, contornando as obras do metrô, conforme haviamos combinado com o pessoal - Julio, Ritinha, Viegas, Ferreira, para resistir.
Chegamos na casa do Ferreira. Aguardamos algum tempo, mas não havia como telefonar para ninguém: estava tudo congestionado e só sabiamos o que estava acontecendo pela rádio e, como estavamos perto do palácio La Moneda, podiamos ouvir bem claramente os tiros e as rajadas sendo disparadas contra Allende.
Depois de alguns minustos esperando e vendo que não chegava mais ninguém, saimos, eu e Iracema, e fomos encontrar o pessoal na población, depois da estação Mapocho.
Enquanto subiamos pela Alameda, vimos famílias completas, com mulher e filhos, caminhando em direção a La Moneda, com suas 'frazadas' (cobertores), dispostos a passar a noite em defesa do companheiro presidente Salvador Allende, conforme havia acontecido inúmeras vezes antes. Contudo, estas mesmas familias, ao ouvirem os tiros partindo de La Moneda, algumas vacilavam em continuar a sua caminhada, temendo pelo pior. Nesta hora, precisávamos de armas e pessoal bem treinado para assumir a resistência e enfrentar o terror que certamente viria.
Continuamos a caminhada. Pudemos, mais adiante, na altura da estação Mapocho, ver o cerco realizado ao centro da capital Santiago. Os soldado estavam com os seus fuzis e suas baionetas. Por onde passei usavam um lenço vermelho, das tropas leais a Pinochet. Lenços vermelhos, da cor de sangue, traiçoeiros de sua própria nação, antecipando o sangue do povo chileno em sua jornada futura de luta contra a tirania, imposta por Pinochet, também chamado de 'Praga da Humanidade'.
Enquanto isto, Allende resistia em La Moneda, aos bombardeios da aviação e aos tanques golpistas.

Allende contra o golpeNa verdade, a resistência em La Moneda fora bem curta. O golpe militar organizado para derrubar o governo de Unidade Popular de Allende tivera início na madrugada daquele mesmo dia, quando o almirante José Toribio Merino prendeu o comandante-em-chefe da Marinha, leal a Allende, e sitiou as grandes cidades costeiras de Valparaíso, Viña del Mar e Talcahuano com a ajuda da esquadra americana que estava nas costas de Valparaiso.

A estrategia dos golpista não foi atacar os bairros populares, mas sim, cercar o centro da cidade, não permitindo que ninguém entrasse ou saisse, criando um bolsão, decretando o toque de recolher, e prendendo os representantes do poder: Allende e seus ministros, e  ocupando os terrenos com os simbolos de poder: o palacio La Moneda e  o centro da cidade. Depois, e somente bem mais tarde, foi para as 'poblaciones' - os bairros populares, para dominar e impor o terror, a morte e o retrocesso.
A estrategia foi, portando, cercar o centro da cidade, construindo um cinturão em torno, e isolando a resistencia do centro da cidade para não ter contato com  a periferia.
Dominado o centro, aniquilada a resistencia, o resto - a periferia - seria mais uma questão de 'limpeza'.
A estrategia de resistencia ao golpe por parte do movimento popular era atrair os golpistas para as poblaciones. Mas o golpe mostrou que este caminho foi um erro estratégio clamoroso.
É preciso dizer que a frota americana estava em frente a Valparaiso dando cobertura ao golpe. Em verdade, a frota chilena tinha saido de Valparaiso para realizar manobras conjuntas com os americanos e voltaram a noite para o golpe de 11 de setembro, sabendo que podia contar com o apoio da maior nação imperialista de toda a históra da humanidade até hoje: os Estados Unidos da América do Norte.
Em terra, os tanques cercavam o palácio. Mensagens militares se repetiam nas emissoras de rádio controladas pelos militares, enquanto grupos de operários tentavam resistir ao golpe nos cordões industriais de Vicuña Mackenna e Cerrillos, e surgiam franco-atiradores nos edifícios do centro da capital. Pablo, que encontrei na población, não vacilou em pegar um fuzil e ir para o centro da cidade de onde, certamente, fez muitos disparos e acabou sendo preso. Voltei a encontrá-lo no Estadio Nacional em outubro.
O golpe teve início na costa do oceano Pacífico, na cidade portuária de Valparaíso, de onde partiram tropas navais chilenas com destino a Santiago, enquanto vários vasos de guerra da marinha estadunidense estavam na costa do Chile. O plano previa que os marines - Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos - invadiriam o Chile, para "preservar a vida de cidadãos norte-americanos" - velho argumento utilizado pelo EEUU para invadir outros paises, atualmente apresentado como intervenção humanitária e dispostos a sacrificarem populações civis. Um avião WB-575 - um centro de telecomunicações - da força área norte-americana, pilotado por militares norte-americanos, sobrevoava o Chile. Simultaneamente 33 caças e aviões de observação da força aérea norte-americana aterrissavam na base aérea de Mendoza, na fronteira da Argentina com o Chile.

E foi assim que Pinochet e os civis que apoiaram o golpe, fecharam e escondiam o Chile para o mundo por uma semana, enquanto os tanques rolavam e os soldados arrombavam portas e destruiam familias. O som das execuções gritavam dos estádios do Chile, do Nacional e dos outros ao longo do pais. Os mortos se empilhavam ao longo das ruas e flutuavam nos rios. Os centros de tortura iniciaram suas atividades com treinamento e supervisão de militares torturadores brasileiros presentes. Os livros considerados subversivos eram queimados, relembrando os tempos de Hitler e da Inquisição medieval.
Temos que relembar, com pesar, este ataque contra a democracia e um governo eleito democraticamente, realizado com apoio, dinheiro, supervisão, navios de guerra e armas fornecidos pelo terror  norte americano.
Temos que relembrar, para não esquecer jamais que, em defesa dos seus interesses, seja de petróleo ou área de influencia, os norte americanos estarão sempre dispostos a invadir e impor o terror onde quer que seja, usando os mais torpes argumentos, falando em defesa de valores humanos, mas pouco se lixando quantos civis morrem, nem quantas familias são destroçadas, desde que eles tenham total acesso a riqueza e exploração das riquezas do pais.


Fonte: Rede Democrática