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sábado, 14 de setembro de 2013

Dez fatos perturbadores sobre a grande mídia

12/09/2013 - Sophie McAdam - Jornal GGN-O jornal de todos os Brasis

O site True Activist criou uma lista de fatos a respeito da grande mídia de massa internacional, relacionados a casos recentes envolvendo jornalismo e poder.

Confira:

1. Grande mídia só existe para dar lucro
Qual o propósito da grande mídia? 

Dizer que a imprensa existe para informar, educar ou entreter é como dizer que a função principal da Apple é fazer com que a tecnologia possa enriquecer nossas vidas

Na verdade, a indústria de mídia de massa é igual a qualquer outra em uma sociedade capitalista: ela existe para dar lucro.

O MediaLens, site britânico que critica o jornalismo convencional (ou empresarial), afirma que todas as empresas, incluindo aquelas que lidam com a mídia, existem apenas para maximizar o retorno aos acionistas – uma “lei” universalmente aceita como algo divino, uma verdade incontestável.

Sem agradar os acionistas e um conselho de administração, as empresas de mídia de massa simplesmente não existiriam. Assim que você entender isso, nunca mais verá as notícias da mesma forma.

2. Os anunciantes ditam o conteúdo
Como é que a busca do lucro afeta a notícia que consumimos? 

Corporações de mídia obtêm a maior parte - geralmente, em torno de 75% - de seu lucro com publicidade, o que significa que são os próprios anunciantes que ditam o conteúdo, não jornalistas. E certamente não são os consumidores.

Imagine que você é editor de um jornal de sucesso ou de um canal de TV com altos índices de audiência. Você atrai receitas de grandes marcas e corporações multinacionais como a BP, a Monsanto e companhias aéreas dos Emirados Árabes Unidos.

Como poderia, então, lidar com temas importantes, como alterações climáticas, alimentos geneticamente modificados ou desastrosos vazamentos de petróleo de uma forma que fosse honesta com seu público e favorável a seus clientes? A resposta é simples: não pode.

Isso pode explicar porque Andrew Ross Sorkin, do jornal The New York Times – patrocinado pela Goldman Sachs –, é tão interessado em defender a corporação.

Andrew Marr, correspondente político da BBC, resume o dilema em sua autobiografia: “A grande questão é se os limites de publicidade remodelam a agenda de notícias. Eles fazem isso, claro. É difícil fazer as somas somarem quando você está chutando as pessoas que assinam os cheques”.

3. Bilionários magnatas e monopólios de mídia ameaçam jornalismo de verdade
A monopolização da imprensa (pequenos grupos de indivíduos ou organizações que controlam partes crescentes dos meios de comunicação) está crescendo a cada ano, e isso é um grave perigo para a ética e a diversidade.

A política pessoal neoliberal do magnata da mídia Rupert Murdoch [foto ]é repassada por seus 175 jornais e endossada por especialistas (vide Fox News) nos canais de TV que ele possui, 123 deles só nos EUA.

Qualquer pessoa que não esteja preocupada com a visão de mundo desse homem sendo consumida por milhões de pessoas em todo o mundo – dos EUA ao Reino Unido, da Nova Zelândia à Ásia, da Europa à Austrália – não está pensando suficientemente sobre as consequências.

É um monopólio abrangente, que não deixa dúvida de que Murdoch é um dos homens mais poderosos do mundo. Mas, como mostrou o escândalo de escutas telefônicas, ele certamente não é o mais honroso ou ético deles.

Assim como não é Alexander Lebedev, um ex-espião da KGB e político que comprou o jornal britânico The Independent em 2010. Com tanta influência (o oligarca bilionário está envolvido em vários setores, desde bancos de investimentos a companhias aéreas), podemos realmente esperar que a cobertura de notícias dessa publicação, que já foi respeitada, vá continuar na mesma linha? Obviamente que não: o jornal que sempre carregou um banner em sua primeira página declarando-se “livre de preconceitos político-partidários, livre da influência do dono”, curiosamente o abandonou em setembro de 2011.

4. Imprensa corporativa está na cama com o governo
Além do óbvio, um dos fatos mais preocupantes que emergiu do escândalo dos grampos telefônicos de Murdoch foi a exposição de ligações obscuras entre altos funcionários do governo e magnatas da imprensa.

Durante o escândalo, e ao longo do Inquérito Leveson sobre a ética da imprensa britânica (ou a falta dela), ficamos sabendo de encontros secretos, ameaças de Murdoch a políticos que não queriam atender o que ele queria, e que o primeiro-ministro David Cameron [foto] tem uma estreita amizade com o então editor-chefe do Sun, Rebekah Brooks [foto].

Como os jornalistas podem fazer o seu trabalho de manter os políticos prestarem contas quando eles estão de férias juntos ou sentam um ao lado do outro em jantares privados? 

Mas o apoio do governo funciona em ambos os sentidos. Cameron tentou ajudar o filho de Murdoch a vencer uma licitação para a BSkyB, enquanto que, bizarramente, o belicista ex-primeiro-ministro Tony Blair é padrinho de filha de Murdoch, Grace.

Esse apoio bilateral também garante uma tendência esmagadora na cobertura de notícias e campanhas eleitorais, inundando jornais com artigos baratos e fáceis, de fontes governamentais inquestionáveis. Além da ausência de criticas contra quem está no poder.

Essas conexões secretas também são responsáveis por grande parte da futilidade incessante da mídia corporativa ao falso patriotismo, especialmente em períodos que antecedem ataques contra outros países.

Uma interessante análise da cobertura da atual situação na Síria, pelo New York Times, por exemplo, demonstra como os jornalistas estão deixando de refletir sobre o sentimento público a respeito da questão de um ataque em grande escala contra Assad pelos EUA (Estados Unidos) e seus aliados.

5. Histórias importantes são ofuscadas por trivialidades
Você poderia ser perdoado por assumir que a parte mais interessante da situação de Edward Snowden [foto], como denunciante, foi sua viagem de avião de Hong Kong para a Rússia, ou sua longa temporada de espera em um aeroporto de Moscou para alguém – ninguém – oferecer-lhe asilo.

Isso porquê, com a exceção do The Guardian, que publicou os vazamentos, em geral, a mídia tem preferido não se concentrar nas condenatórias revelações de Snowden sobre liberdade e tirania, mas sim sobre trivialidades banais – como sua personalidade e antecedentes, se sua namorada sente falta dele, se ele é realmente um espião chinês, e claro, nos lembrar do desenho “Onde está Wally?” e como ele cruzou o mundo inteiro como um fugitivo.

O mesmo poderia ser dito sobre a mudança de sexo de Bradley Manning que, convenientemente, ofuscou a enorme injustiça de sua sentença.

E o que dizer de Julian Assange? Seu perfil na mundialmente respeitada rede BBC foi dedicado quase que inteiramente a manchar seu caráter, em vez de detalhar os profundos impactos do Wikileaks sobre nossa visão do mundo.

Em todos os casos, as principais histórias são desviadas de nossa atenção, que fica perdida em um mar de curiosidades, e habilmente retiradas dos problemas reais que temos nas mãos: aqueles que, invariavelmente, o governo quer que esqueçamos.

6. A grande mídia não faz perguntas
Verifique suas fontes, cheque os fatos” são regras de ouro do jornalismo, mas você não iria supor que isso é feito a partir da leitura da imprensa ou de canais de TV corporativos.

Neste momento, Obama está batendo os tambores para uma guerra contra a Síria. Após acusações dos EUA e do Reino Unido de que Assad foi o responsável por um ataque químico contra seu próprio povo, no mês passado, a maioria dos grandes jornais, como o New York Times, não exigiu provas do ataque em grande escala.

Mas há várias boas razões para que os jornalistas questionem a história oficial.

Em primeiro lugar, o jornal de extrema-direita britânico The Daily Mail publicou uma notícia, em janeiro deste ano, sobre vazamento de e-mails de uma empresa de armas britânica, mostrando que os EUA estavam planejando um ataque químico contra civis na Síria.

Eles, então, culpariam Assad para obter apoio público para uma posterior invasão em larga escala. O artigo foi rapidamente apagado, mas uma versão em cache ainda existe.

Veja abaixo a carta:


Outra evidência recente atinge o inacreditável.

Verificou-se que os produtos químicos usados para fazer o gás usados no ataque foram enviados do Reino Unido, e a inteligência alemã insiste que Assad não foi o responsável pelo ataque químico.

Enquanto isso, um hacker ativista revelou evidências de envolvimento de agências de inteligência norte-americanas no massacre, que sugerem que houve uma conspiração tramada por potências ocidentais.

Nâo esqueça dos laços da mídia corporativa tanto com grandes empresas como com o governo antes de aceitar o que lhe é dito.

Se o jornalismo está morto, você tem o direito e o dever de fazer suas próprias perguntas.

7. Jornalistas corporativos odeiam jornalistas reais
Michael Grunwald, correspondente do Times, tuitou que não podia esperar para escrever uma reportagem sobre quando um drone matasse Julian Assange.

O escritor David Sirota sublinhou a ironia do fato: “Aqui temos a excitação expressa de um repórter sobre a perspectiva de o governo executar o editor de informações que se tornou a base para algumas das mais importantes informações jornalísticas da última década”.

Sirota passou a notar vários exemplos do que ele chama de “jornalistas contra o clube do Jornalismo”, e cita vários exemplos, como o colunista do The Guardian, Glenn Greenwald, que foi atacado pela imprensa corporativa por causa dos vazamentos feitos por Snowden.

Andrew Ross Sorkin, do New York Times, pediu a prisão de Greenwald, enquanto David Gregory, da NBC, declarou que Greenwald tem “ajudado e instigado Snowden”.

Quanto à questão de saber se os jornalistas podem, de fato, ser francos, Sirota observa precisamente que tudo depende se suas opiniões servem ou desafiam o status quo, e, assim, passam à lista da hipocrisia dos críticos de Greenwald: "Grunwald tem dado opiniões barulhentas que orgulhosamente apoiam os ataques aéreos do governo e de vigilância."

As opiniões de Sorkin promovem os interesses de Wall Street.

David Broder (do The Washington Post) tinha opiniões que sustentavam, entre outras coisas, a agenda comercial do “livre” serviço corporativo do governo.

Bob Woodward (também do Washington Post) tem opiniões de apoio cada vez maiores ao orçamento do Pentágono, que enriquece empreiteiros do setor de defesa.

Jeffrey Goldberg (The Atlantic's) promove o complexo militar-industrial, e geralmente tem opiniões pró-guerra.

Thomas Friedman (New York Times) tem as mesmas opiniões de todos os outros, promovendo o “livre” comércio, por exemplo.

Esas vozes lealmente promovem os pressupostos não declarados que servem às estruturas de poder e que dominam a política americana. Todas as suas opiniões particulares não são sequer tipicamente retratadas como opiniões, pois geralmente representam "objetividade sem polêmicas”.

8. Má notícia vende, boa notícia é censurada, e fofocas de celebridades são questões importantes
É triste mas é verdade: uma má notícia realmente vende mais jornais. Mas por quê?

Será que estamos realmente tão pessimistas? Será que saboreamos o sofrimento dos outros? Estamos secretamente felizes de que algo terrível aconteceu com alguém, que não seja nós?

Lendo a imprensa corporativa como um alienígena em visita à Terra, você poderá achar isso.

Geralmente, a cobertura de notícias é sensacionalista e deprimente como o inferno, com tantas páginas dedicadas a homicídios, estupros e pedofilia, mas nenhuma (ou muito poucas) para as centenas de milhares de boas ações e movimentos incrivelmente inspiradores que ocorrem a cada minuto de cada dia em todo o planeta.

As razões para consumirmos más notícias é perfeitamente lógica.

Em tempos de paz e harmonia, as pessoas simplesmente não sentem a necessidade de educar-se, tanto quanto o fazem em épocas de crise. Essa é uma boa notícia para quem começava a se desesperar com a ideia de que os seres humanos são apáticos, odiosos e mudos.

Poderia-se argumentar que esse fato preocupante e simples é um grande incentivo para a indústria da comunicação social para fazer algo que vale a pena.

Ela poderia começar a oferecer um ângulo positivo e de esperança para uma mudança. Poderia usar períodos obscuros de maior interesse público para transmitir uma mensagem de paz e de justiça. Poderia refletir o desejo da humanidade por soluções e nossas preocupações urgentes com o meio ambiente. Poderia atuar como a voz de uma população mundial que sofreu bastante com violência e mentiras, para fazer campanha voltada à transparência, à igualdade, à liberdade, à verdade e à verdadeira democracia. 

Venderia jornais? Acho que sim. Poderiam até mesmo defender alguns políticos em nome do povo.

Mas, para o futuro próximo, é provável que a imprensa corporativa só venha a desviar nossa atenção com outra foto da bunda da Rihanna, outro rumor sobre os hábitos de Justin Bieber ou outro artigo sobre Kim Kardashian usando saltos altos com os tornozelos inchados durante a gravidez. 

9. Quem controla a linguagem controla a população
Você já leu clássico romance de George Orwell, “1984”? 

Ele tornou-se uma referência-clichê na distopia de hoje, isso é verdade, mas com uma boa razão.

Há muitos, muitos paralelos entre o futuro obscuro e imaginário de Orwell e nossa realidade atual, mas uma parte importante de sua visão se concentra na língua.

Orwell cunhou o termo “novilíngua” para descrever uma versão simplista do idioma inglês com o objetivo de limitar o livre pensamento sobre as questões que desafiam o status quo (criatividade, paz e individualismo, por exemplo).

O conceito de novilíngua inclui o que Orwell chamou de “duplipensar” – como a linguagem é construída de forma ambígua, ou mesmo invertida, para transmitir o oposto do que é verdadeiro.

Em seu livro, o Ministério da Guerra é conhecido como o Ministério do Amor, por exemplo, enquanto o Ministério da Verdade lida com propaganda e entretenimento. Soar familiar?

Outro livro que investiga o tema mais profundamente é “Unspeak”, uma leitura obrigatória para qualquer pessoa interessada em linguagem e poder e, especificamente, em entender como as palavras são distorcidas para fins políticos.

Termos como “mísseis mantenedores da paz”, “extremistas” e “zonas livres”, as armas sendo referidas como “espólios”, ou eufemismos comerciais enganosos como “enxugamento” para redundâncias e “por do sol” para o extermínio – esses e centenas de outros exemplos demonstram como a linguagem pode ser poderosa.

Em um mundo de crescente monopolização da mídia corporativa, aqueles que exercem o poder podem manipular palavras e, portanto, a reação do público, para incentivar o cumprimento, defender o status quo, ou provocar medo.

10. A liberdade de imprensa não existe mais
A única imprensa que está atualmente livre (pelo menos por enquanto) é a publicação independente, sem anunciantes corporativos, conselho de administração, acionistas ou diretores executivos.

Detalhes de como o Estado redefiniu jornalismo são mencionados no item nº 7, mas o melhor exemplo recente seria o tratamento do governo ao The Guardian sobre a publicação dos vazamentos de Snowden.

É bom ressaltar que é possível que esse jornal jogue conosco, assim como qualquer outro – o Guardian Group não é peixe pequeno, afinal.

Por outro lado deveríamos achar difícil de acreditar que, depois da publicação dos arquivos da NSA, o editor Alan Rusbridge relatou o que foi dito pelas autoridades: “você já teve o seu divertimento, agora devolva os arquivos”; que os funcionários do governo invadiram a redação e destruíram discos rígidos, ou que o parceiro de Greenwald, David Miranda, foi detido por nove horas em um aeroporto de Londres sob a Lei de Terrorismo, e teve apreendidos documentos relacionados com a história contada pelo colunista?

O jornalismo, lamentou Alan Rusbridge, “pode estar enfrentando uma espécie de ameaça existencial”.

Conforme escreveu o âncora da CBS Evening News, Dan Rather: “Temos alguns príncipes e condes hoje, mas certamente eles têm seus equivalentes modernos que buscam gerenciar a notícia, fazer fatos desagradáveis desaparecerem e eleger os representantes que estão a serviço de sua própria agenda econômica e social.

A 'imprensa livre' não é mais um fiscal do poder. Ela foi transformada em parte do próprio aparato de poder”.

Fonte:
http://jornalggn.com.br/noticia/dez-fatos-perturbadores-sobre-a-grande-midia

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Por que a mídia não quer que mude nada

10/09/2013 - Paulo Nogueira [*]- Diário do Centro do Mundo

Como mostra a lista de bilionários da Forbes, as famílias lucram extraordinariamente com os privilégios que têm.

Na rarefeita lista dos bilionários brasileiros montada pela revista Forbes estão quatro donos de empresas de mídia: os três irmãos Marinhos – Roberto Irineu, João Roberto e José Roberto – [foto] e Giancarlo Civita, o Gianca, primogênito e um dos herdeiros de Roberto Civita. [Editora Abril]

Essa simples informação – a lista da Forbes não é científica, mas ao longo de décadas seus editores desenvolveram métodos sofisticados de apuração – explica por que a mídia brasileira luta tanto contra qualquer mudança que represente o fim de seus imensos privilégios e mamatas.

O número 1 é o investidor Jorge Paulo Lemann. Mas se você combinar as fortunas dos três herdeiros de Roberto Marinho, Lemann é ultrapassado com 
folga.

Um olhar de floresta sobre a listagem mostra que 124 pessoas concentram 12,3% do PIB brasileiro.

Eis um número que se pode classificar de miserável: é a representação da extrema iniquidade do país.

Vi a notícia no site da Exame, da Abril, e evidentemente fui lê-la. Um bom texto, exceto por uma omissão que mostra como é difícil a vida dos jornalistas profissionais no Brasil de hoje: entre os setores que abrigam os bilionários não estava citada a mídia.

Presumo que o editor, ou o próprio redator, tenham tirado a menção por cuidado.

A voz rouca das ruas não tem ideia das facilidades que as grandes empresas de mídia têm recebido ao longo dos tempos do Estado. Ou, para sermos mais precisos, do contribuinte.

O papel usado, por exemplo, é isento de impostos. É o chamado “papel imune”, no jargão interno das empresas de jornalismo. Tampouco elas pagam 
ISS sobre as vendas de publicidade.

Ao longo da história, órgãos como o BNDES e o Banco do Brasil concederam empréstimos a juros maternos para a mídia, sempre com dinheiro público.

Nos anos 1980, o Jornal do Brasil pagava suas dívidas perante o Banco do Brasil com anúncios. Mesmo assim, quebraria por causa de uma gestão ruinosa.

É um clássico na mídia: a administração é lastimável. Isso se explica, em parte, pela absurdamente anacrônica reserva de mercado mantida para as 
grandes corporações jornalísticas.

A reserva – que a mídia combate em todos os setores exceto o dela mesma – impede a concorrência estrangeira. Mas o preço pela facilidade são gestões trôpegas, típicas de quem goza de reserva. Para as famílias acionistas é uma coisa boa, mas para a sociedade é péssimo.

Administrações atrapalhadas ajudam a entender por que, mesmo com tantas vantagens bancadas com dinheiro público, as empresas de mídia frequentemente estiveram à beira da quebra. Muitas foram além disso e se instalaram no cemitério.

Veja a diferença.

No exterior, Rupert Murdoch [foto], da News Corp, construiu um império global à base de risco.

Murdoch foi da Austrália para o Reino Unido, e de lá para os Estados Unidos, com base em apostas que poderiam levá-lo ao céu ou ao inferno.

No final da década de 1980, ele decidiu investir em tevê por satélite. Pegou dinheiro emprestado em bancos e montou a Sky. Mas as coisas não correram como o esperado, e ele esteve à beira de ir à bancarrota.

Foi obrigado pelos credores a se juntar em tevê por satélite com a rival da Sky, a BSB. Pouco tempo atrás, ele estava com o dinheiro pronto para comprar a parte da BSB por mais de 20 bilhões de reais. O negócio só não foi feito porque o escândalo de seu tabloide levou o governo britânico a proibir a aquisição.

Veja, em contraste, como a Globo construiu sua supergráfica que foi concebida, pausa para rir, para uma tiragem de mais de 1 milhão de exemplares do Globo.

A Globo foi buscar dinheiro no lugar de sempre, o BNDES. Ou seja, a viúva e os pensionistas foram convocados para ajudar a família Marinho.

A mídia tem tido no Brasil um “Estado-babá”. Isso é bom para seus acionistas, como se vê pela Forbes.

Para a sociedade, é uma tragédia.

[*] O jornalista Paulo Nogueira, baseado em Londres, é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.

Fonte:
http://www.diariodocentrodomundo.com.br/por-que-a-midia-nao-quer-que-mude-nada/

Leia também:http://contextolivre.blogspot.com.br/2013/09/dez-fatos-perturbadores-sobre-grande.html

quarta-feira, 3 de abril de 2013

A sociedade se descola


 Por Luciano Martins Costa (*)


Lembra do tempo quando a opinião pública era a opinião dos donos de jornais? (Aparecido Araujo Lima)
     
Os jornais da quarta-feira (27/03/2013) não trazem um tema impactante, desses capazes de mobilizar as opiniões dos leitores. Mas o conjunto das notícias forma um mosaico interessante para a análise de algumas mudanças que podem ser percebidas na relação da sociedade com a mídia tradicional.

Com exceção do Globo, as manchetes destacam a aprovação do projeto que estende os direitos trabalhistas de empregadas domésticas, tema que já vem sendo debatido nas redes sociais há pelo menos uma semana: a única coisa que o leitor tem de novidade é que agora se tornou lei, e os jornais aproveitam para esclarecer melhor as novas regras.

O Globo prefere usar a manchete para discutir o fechamento do Estádio Olímpico João Havelange, o Engenhão, mas também registra a mudança nas normas trabalhistas. A Folha de S.Paulo ainda encontra espaço para sua recém-inaugurada cruzada contra o novo prefeito de São Paulo, cujo mandato ainda não completou três meses.

De modo geral, parece haver um esforço dos diários para se manter sintonizados com os debates nas redes sociais digitais, onde a natureza do trabalho doméstico produz opiniões muito divergentes. Há reportagens alertando para o risco de centenas de milhares de demissões, a possibilidade de se reduzir o número de empregos domésticos com carteira assinada, e para o possível aumento das demandas na Justiça do Trabalho.

Parte da imprensa também registra o caso do jovem que teve um braço decepado após atropelamento em São Paulo e que se reencontrou com os homens que o socorreram na ocasião do acidente.

Em todos esses temas, é interessante observar como o noticiário da mídia tradicional interage com informações e opiniões postadas autonomamente por participantes das mídias digitais. Assim como acontece com as instituições que regulam a vida pública, como o conjunto dos partidos políticos, comissões do Congresso ou entidades do sistema Judiciário, parece estar em andamento uma diluição do poder da imprensa sobre aquilo que se costumava chamar de “opinião pública”.

Os espaços públicos para a comunicação se expandem sem limites perceptíveis e os temas dos quais se ocupa a sociedade não dependem mais apenas nos meios institucionais de informação e opinião. A questão da violência urbana, por exemplo, ganha outra dimensão nos relatos e comentários publicados nas redes sociais, onde as pessoas podem entender melhor os sentimentos do jovem atropelado ao rever aqueles que salvaram sua vida.

Democracia midiática
Há sinais de que a sociedade em rede se descola rapidamente da imprensa e demais instituições tradicionais. Por outro lado, pode-se notar como a rotina das instituições passa a ser afetada pela dinâmica do ambiente de relações virtuais criado pela tecnologia digital de comunicação.

A nomeação de deputado pastor Marcos Feliciano para a presidência da Comissão de Direitos Humanos da Câmara provocou uma onda de protestos nas redes sociais. Os jornais de quarta-feira (27) informam que seu partido, o PSC, vai manter sua indicação, mas outros integrantes falam em abandonar a comissão, para obrigá-lo a renunciar.

Não foi certamente um súbito ataque de pruridos morais que provocou a ruptura no corporativismo parlamentar, mas isso parece resultar das pressões de milhares de indivíduos nos grupos de debates online. Claramente, a agenda pública se transfere do ambiente administrado pela mídia tradicional para o amplo e caótico espaço hipermediado, e não há como prever até que ponto as informações e opiniões dispersadas pelas redes poderão criar algum padrão que possa ser analisado objetivamente.

A notícia segundo a qual o fundador do Facebook,Mark Zuckerberg, estaria organizando um grupo político para atuar junto a instituições americanas merece uma observação cuidadosa. Trata-se de um movimento que segue a estratégia de iniciativas como o Avaaz.org, que organiza campanhas comunitárias por todo o mundo e tem ajudado a congregar ativistas dispersos nas redes sociais.

O que Zuckergerg pretende, segundo informe distribuído pelo Facebook,é criar um fundo destinado a financiar mobilizações por reformas legislativas nos Estados Unidos. Com cerca de US$ 50 milhões, ele planeja juntar especialistas para levar um pouco de racionalidade aos debates parlamentares sobre a política de imigração e estimular projetos de reforma do sistema educacional americano. Além disso, o projeto prevê investimentos em pesquisas, também com objetivo de reduzir a distância entre o conhecimento científico e as normas legais.

No Brasil, as mobilizações ainda dependem da vontade de militantes dispostos a doar seu tempo para campanhas, mas, ainda que faltem recursos e organização, tais iniciativas já produziram, por exemplo, a lei da Ficha Limpa.

Na medida em que as redes socais aumentam sua distância das mídias tradicionais e seu vicioso processo de controle da comunicação, é possível que estejamos assistindo à consolidação de uma forma muito interessante de democracia midiática.

http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/a_sociedade_se_descola

(*) REDES SOCIAIS - A sociedade se descola - Por Luciano Martins Costa em 27/03/2013 na edição 739 - Comentário para o programa radiofônico do Observatório, 27/3/2013


terça-feira, 23 de outubro de 2012

Em Cuba votam os cidadãos, não as empresas-imprensa

20/10/2012 - Eleições em Cuba: votam os cidadãos, não as empresas-imprensa
- Postado por Marco Antônio Nogueira no Portal Luis Nassif
- por Luisa María González García, para Prensa Latina 




Havana - O sistema eleitoral cubano distingue-se do que se vê em outros países, sobretudo, porque, em Cuba, todos os cidadãos têm igual possibilidade de assumir responsabilidades públicas – explicou o professor Juan Mendoza, vice-decano da Faculdade de Direito da Universidad de La Habana, em conversa com Prensa Latina sobre as particularidades do modelo eleitoral cubano, na véspera dos comícios que começam no domingo, 20/10, e que elegerão os delegados de bairro (concejales) às assembleias municipais do Poder Popular.





Falando sobre o processo pelo qual se apresentam os candidatos, disse que o que se vê em muitos países são listas eleitorais montadas por partidos políticos, às quais só os mais ricos têm acesso: “Considera-se o desempenho financeiro dos candidatos, não algum compromisso com os eleitores ou com o futuro das pessoas e do país”.

Nesse cenário” – disse o professor Juan Mendoza –, “é muito difícil alguém conseguir candidatar-se como candidato independente, porque as campanhas eleitorais são caríssimas.”

Em Cuba, tudo isso é diferente. Em Cuba, para apresentar-se como candidato no início do processo eleitoral, basta ter mais de 16 anos, residir em Cuba e ser apoiado pelos vizinhos de bairro. Essa é uma das razões pelas quais o modelo eleitoral cubano é “específico, profundamente democrático e socialmente muito avançado” – explicou o professor.



Mendoza lembra que na maioria dos países, as empresas da imprensa corporativa, os grandes grupos ‘de mídia’ louvam como se fossem muito democráticas eleições que, de fato, não passam de jogo tradicional, de cartas marcadas, entre partidos que disputam, menos o poder político, que o acesso não controlado às riquezas do país e do povo.

Para vários estudiosos, aquilo não passa de uma 'partidocracia', bem pouco democrática, porque os partidos representam interesses de diferentes setores do capital, mas apresentam-se como se fossem representantes de parcelas do povo. Só muito raramente, nessas partidocracias, algum partido manifesta desejo político realmente popular. Disputa partidarizada entre diferentes interesses setoriais dos mais ricos não é o que se possa chamar de disputa democrática” – continuou o professor Mendoza.


Por que, em Cuba, é diferente?
O modelo eleitoral cubano foi criado depois da Constituição aprovada em 1976, que serviu de base à primeira lei eleitoral. Depois da reforma da Constituição, em 1992, também a lei eleitoral foi reestruturada, e continua vigente até hoje.

Nos termos da lei eleitoral cubana há dois momentos: eleições gerais a cada cinco anos, para eleger os deputados à Assembleia Nacional e os delegados à Assembleia Provincial; e eleições parciais, a cada dois anos e meio, em que se elegem delegados às Assembleias municipais.

Nas eleições parciais, o fator decisivo é a ‘nomeação’ [orig, nominación], que é ato de participação eminentemente cidadã, dado que, para fazer a nomeação, reúnem-se as próprias comunidades, que apresentam pessoas que as comunidades entendam que tenham condições de representá-las.

Nomes e propostas aprovadas nas reuniões das comunidades passam diretamente a integrar a chapa de candidatos de cada comunidade. “Assim”, explica o professor Mendoza, “evidencia-se o conceito amplamente democrático das eleições em Cuba”.

Em Cuba não há campanhas eleitorais como se conhecem em outros países. Cabe a cada Comissão Eleitoral local divulgar para os eleitores as biografias e fotos dos candidatos.



Em Cuba, as eleições são universais e baseiam-se “no direito de todos a manifestar-se nas eleições”. Não há inscrição eleitoral: todos os cubanos que atinjam os 16 anos, idade considerada mínima para votar e ser votado, convertem-se imediatamente em eleitores, sem qualquer outro tipo de registro ‘de eleitor’ como há em outros países.

O professor Mendoza lembra que “essa é diferença importante, porque, quando se lê que, em outros países, votaram 40% dos eleitores, essa porcentagem não é calculada sobre a população, mas só sobre o universo dos eleitores inscritos como tal”. Quando se diz que, em Cuba, votaram mais de 90% de eleitores, a porcentagem indica que praticamente toda a população votou”.

Eleições, democracia e sistema político 
Um dos objetivos da Comissão Nacional Eleitoral é facilitar o acesso da população às urnas. Mas, lembra o professor Mendoza, “o voto não é obrigatório em Cuba. Nada acontece se alguém preferir não votar. Mas votar é um direito do cidadão e toda a sociedade deseja que todos exerçam esse direito e, assim, manifestem o compromisso individual, de cada cidadão, com todos os demais.

É importante que todos votem, porque as eleições são um mecanismo de validação social do sistema político.



O professor Mendoza lembra que há países que se pressupõem democráticos e promovem seus sistemas políticos, mas, se se examinam aquelas ‘democracias’ e sistemas, se se comparam o número de votos e a população, por exemplo, vê-se que não passam de democracias apenas formais, que mostram só uma fachada de formalidade legal, porque nenhum sistema político pode ser considerado socialmente validado e legitimado se a população nacional não encontra vias abertas para manifestar-se e participar efetivamente do processo político.

Em Cuba, quando alguém vota, está legitimando, validando e consolidando o sistema eleitoral cubano. Assim, com o tempo, quanto mais cubanos votem, mais se democratiza o sistema eleitoral e o voto. Em Cuba, os altos índices de comparecimento às urnas ao longo das últimas décadas já demonstraram que os cubanos estão firmemente envolvidos e comprometidos com o direito democrático de votar, que é de todos. Assim se fortalece o modelo político” – concluiu o professor Mendoza.


Segundo dados oficiais, em todos os comícios realizados desde 1976 votaram mais de 95% dos eleitores das comunidades e bairros, vale dizer, da população cubana.


Fonte:
http://blogln.ning.com/profiles/blogs/elei-es-em-cuba-votam-os-cidad-os-n-o-as-empresas-imprensa?utm_source=feedburner&utm_medium=email&utm_campaign=Feed%3A+MensagensDeBlogDeTodos-PortalLuisNassif+%28Mensagens+de+blog+-+Portal+Luis+Nassif%29

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

A indústria jornalística tem alguma chance de reencarnar?

02/10/2012, por Dan Hind (*), Al-Jazeera
- Traduzido e comentado pelo pessoal da Vila Vudu para a redecastorphoto


[Entreouvido na Vila Vudu: Se o jornalismo tido como melhorzinho já se dá por falido e morto... Imaginem só em que situação está hoje o Grupo GAFE (Globo-Abril-FSP-Estadinho), que faz, no Brasil-2012, o PIOR JORNALISMO DO MUNDO!  \o/ \o/ \o/]

Semana passada o Guardian deu a David Leigh, um de seus jornalistas, oportunidade para propor nova forma de arranjar dinheiro para fazer jornal. A venda de edições impressas despencou para o fundo do poço, diz ele, e cobrar de leitores virtuais não funciona na Grã-Bretanha, por causa da BBC. 

Mas algo se tem de conseguir fazer, Leigh explicou, por que: “... no dia em que os jornais pararem de vez de circular, será um desastre para a democracia”.


[Entreouvido na Vila Vudu: Isso, talvez, e na Grã-Bretanha. No Brasil, no dia em que pararem de circular de vez as publicações do Grupo GAFE (Globo-Abril-FSP-Estadão) a democracia talvez tenha, afinal, alguma chance real de prosperar por aqui .]

“Os magros lucros que os jornais obtêm dos anúncios publicados em páginas online de acesso gratuito pagam só uma mínima fração dos custos do jornalismo investigativo de alta qualidade que os jornais geram”.


[Entreouvido na Vila Vudu: “jornalismo investigativo de alta qualidade gerado por jornais”?!... Sóssifô na Grã-Bretanha! kkkkkkkkk]

“Ficaríamos só com a tímida BBC, de um lado; e com jornalismo-lixo, do outro”.
David Leigh

Ante desastre de tais proporções, David Leigh propõe o que, para ele, seria “meio perfeitamente fácil para recuperar jornais, garantir a pluralidade de opiniões: monetarizar a web” -- acrescentar £2 ($3,2 dólares, R$ 7,4) mensais no que se cobra pelo uso da banda larga e, assim, obter, no total, cerca de £500 milhões ($807 milhões de dólares, R$1,77 bilhão) por ano. O dinheiro seria então distribuído para operações jornalísticas “segundo o número de leitores online na Grã-Bretanha”.

Os grupos The Telegraph, Guardian e associados (i.e., Daily Mail) seriam os grandes beneficiados nesse arranjo, cada um deles embolsando cerca de £100 milhões ($161 milhões de dólares, R$ 398 milhões) ao ano. O Sun receberia metade disso, cerca de £50 milhões ($80 milhões de dólares, R$ 160 milhões) e o grupo Independent, £40 milhões.

Em tempos normais, os jornais jamais discutem a economia política da mídia. A publicação do artigo de Leigh sugere que não estamos vivendo tempos normais.


As perdas provocadas pela transferência de leitores para as mídias online acumulam-se hoje em ritmo tal que já obrigam a romper os velhos padrões de silêncio “midiático”. A maioria dos leitores não sabe da quantidade de subsídios públicos que os jornais já recebem (o artigo de Leigh também fala deles, embora muito rapidamente). Interessante será observar se, doravante, o Guardian ou qualquer dos grupos concorrentes começarão a publicar também propostas que não combinem tão exatamente com o que mais interesse ao Guardian.

Jornalismo Investigativo
Deixando isso de lado, nos concentremos no principal problema que há na proposta de Leigh. O mecanismo de distribuição de dinheiro que ele propõe não atingirá o objetivo declarado. Leigh propõe um meio espetacularmente ineficaz de usar dinheiro público para produzir “jornalismo investigativo de alta qualidade”. Longe de impedir um desastre para a democracia, só conseguirá dar sobrevida ao desastre já em andamento.

Embora vez ou outra ainda se encontre jornalismo investigativo nos jornais britânicos [nos jornais brasileiros, nunca, never, jamais, jamais, jamás]não passa de ínfima porção do total de conteúdo publicado. Dá-se sempre espaço muito maior a fofocas sobre celebridades, diz-que-disse diretamente saído do prédio do Parlamento (ou diretamente produzido dentro das próprias redações), comentário-futrica sobre estilos de vida, cobertura de esportes, histórias assustadoras em que imigrantes são sempre “culpados”, bobajol semicru e palpitaria sobre economia e outros temas equivalentes que se reúnem sob a tag “superficialidades e lixo”. Antigamente, esse tipo de “matéria” gerava manchetes hipnóticas e/ou pornô-sedutoras que turbinavam a venda de jornais. Ainda atrai internautas à caça de ver gente super, semi, ou totalmente despida, surubas e/ou pregação “ética” e “indignação” falso-moralista. Mas já não vende como nos bons tempos.

O plano de Leigh visa a turbinar as operações jornalísticas já em curso, com grande número de “seguidores” e/ou “visitantes” e/ou leitores online, independente da quantidade de “jornalismo investigativo de alta qualidade” que encomendem ou publiquem. O plano visa a recompensar, preservando, o que há hoje.

Também estimulará os editores a se dedicar ao sensacionalismo e ao escândalo, ainda mais do que já se vê hoje. A página online do Daily Mail receberia rios de dinheiro. O editor do já defunto The News of the World dos Murdoch poria as mãos em dezenas de milhões de dinheiro limpo e novinho, para pagar investigações privadas sobre mais vidas privadas de mais gente e para pagar despesas que podem ser mais ou menos, mas são, todas, sinistras.

Leigh chega a sugerir que só os sites que atraiam mais de 100 mil visitas/leitores recebam fundos públicos, o que é meio bem estranho para promover alguma pluralidade de opiniões.

A vida pública afundaria de vez na mediocridade, mantendo no poder e nos jornais “os suspeitos de sempre”, jogando sempre pelas mesmas regras.
Baronesa Hale

Até recentemente, havia vozes influentes que defendiam o conteúdo e a conduta atuais das empresas comerciais de jornalismo, a partir do pressuposto de que essas práticas seriam indispensáveis para atrair o interesse do consumidor, gerar vendas, as quais, assim, sustentariam a pluralidade de opiniões. A Baronesa Hale, por exemplo, das mais longevas juízas da Suprema Corte britânica:

Os jornais devem ter assegurada suficiente latitude para intrometer-se no sofrimento privado, para que mantenham os números de venda e a circulação, e todos nós possamos continuar a nos beneficiar da ampla diversidade de jornais e outros meios massivos de informação acessíveis nesse país”.


Na minha avaliação, difícil encontrar doutrina mais repugnante.

Os que desejem e possam continuar a produzir escândalos sobre escândalos e hectares de páginas de fofoca e futrica ficam assim autorizados a continuar a submeter os públicos consumidores à divulgação massiva de sua, só deles, específica ideia sobre o que seja a vida pública.

Como se vê hoje, o discurso público é privilégio reservado, sem qualquer cuidado com manter alguma proporcionalidade entre opiniões divergentes – e com, na prática, garantia de exclusividade –, para os que mais se interessem por atacar qualquer princípio, por mínimo que seja, de tolerância ou decência humana. É praticamente uma nova Constituição, produzida por juíza da Suprema Corte britânica, que assegura direitos de chantagem a todos os jornalistas!

Na caça à futrica mais comercialmente valiosa, os jornais e os jornalistas ficarão autorizados a reunir montanhas de qualquer tipo de “indício” de qualquer coisa que possa ser usado para destruir reputações de políticos e outros, e “indícios” que tanto poderão ser publicados quanto poderão ficar reservados” para uso em chantagens futuras, tudo deixado entregue ao critério de editores, jornalistas, empresários “da mídia”.

O problema é que, como se vê hoje, a autorização que a Baronesa Hale da Suprema Corte britânica garante aos jornais, “para intrometer-se no sofrimento privado”, já não é tão lucrativa. Então... Leigh, do Guardian, propõe que se crie um taxa... para subsidiar aquela intrusão!

Poder-se-ia, talvez, com algum sentido, considerar a criação de novos impostos que subsidiassem a produção de jornalismo investigativo. Talvez. Mas... criar uma nova taxa, sobre o uso da banda larga... para financiar os jornais e os jornalistas que operam os jornais que há hoje?!

[Millôr Fernandes em 2006:
“A imprensa brasileira sempre foi canalha. Eu acredito que se a imprensa brasileira fosse um pouco melhor poderia ter uma influência realmente maravilhosa sobre o País. Acho que uma das grandes culpadas das condições do País, mais do que as forças que o dominam politicamente, é nossa imprensa. Repito, apesar de toda a evolução, nossa imprensa é lamentavelmente ruim. E não quero falar da televisão, que já nasceu pusilânime”. (Equipe Educom)]

O dinheiro correria lépido para os bolsos dos mais capazes de atrair os mais pervertidos! Claro que alguns sites jornalísticos poderiam alocar alguma fração do que recebessem e comprar jornalismo investigativo de alta qualidade... Mas, pode-se dizer, seria “problema deles”... Poderiam também comprar a produção do tal “jornalismo investigativo de boa qualidade” e jamais publicar coisa alguma de boa qualidade, como já fazem hoje.


Não há dúvida de que garantir subsídios públicos para apoiar a produção de jornalismo investigativo é solução altamente desejável. É, de fato, necessária, se se está buscando meio para sair do estarrecedor emaranhado de problemas que hoje enfrentamos. Mas é solução que só se justifica se, sobre a alocação dos tais “subsídios públicos”, houver eficiente controle público.

Criar novos impostos ou aumentar a taxa que os britânicos já pagamos para ter televisão pública seria boa ideia, se cada um de nós recebesse uma quantia de dinheiro para usar “em comunicação pública”, como melhor aprouvesse a cada um. E com o direito assegurado aos cidadãos, para exigir restituição do imposto pago, no caso de absolutamente não interessar a alguém apoiar qualquer tipo de empresa jornalística.

Quanto aos demais cidadãos, alguém pode ter algum interesse específico num determinado tipo de investigação jornalística. Outros, se quisessem, poderiam delegar a uma ou outra empresa jornalística o direito de falar em seu nome, ou de publicar, autorizadamente em nome “do leitor”, o que desse na telha de um ou outro jornalista, autorizando assim, também, um ou outro jornalista a investigar ou deixar de investigar o que bem entendesse.

Assim feito, os cidadãos poderiam decidir quais os temas sobre os quais querem saber mais. Quem desejar escândalo e mais escândalo, que entregue o seu dinheiro ao Sun e ao Daily Mail. (Embora, pensem bem: encontram-se na internet, perfeitamente gratuitos, todos os mais escabrosos escândalos reais e imagináveis!). Quem quisesse saber sobre o que acontece no mundo, poderia dar o próprio dinheiro diretamente aos que tenham conseguido convencer um ou outro cidadão de que merecem receber o seu rico dinheirinho, ou porque sejam confiáveis ou porque mentem talentosamente, do jeito que melhor apraza ser mentido, a um ou outro destinatário. O que importa, em todo esse processo, é que todos temos de poder discutir todas as propostas e todos os resultados.

Indivíduos e pequenos grupos de opinião teriam, assim, meios para continuar a produzir o noticiário que lhes interesse, recebendo dinheiro diretamente da parcela do público que se interessa por um ou outro tipo de informação: pequenos jornais para pequenos públicos. Que grande diferença faria, se vários milhares de pequenos jornais adequadamente financiados e sob eficaz controle público pudessem, todos, produzir jornalismo investigativo de boa qualidade! Que espantosa quantidade de informação pública de boa qualidade haveria disponível para todos, conhecimento público publicamente produzido e publicamente consumido, para esclarecimento público da opinião pública.

O jornalismo-empresa que vende jornais impressos que há hoje não passa de máquina de ensinar preconceitos, superstições e argumentação desejante, incansavelmente repetida, a favor do desejo de uns poucos. Sensacional seria se, todos os dias, alguém lançasse luz sobre alguma parte da realidade que, há tanto tempo, é cuidadosamente mantida na obscuridade, além de nos, também pelos jornais que conhecemos!


Num sistema bem projetado, se inventariam meios para dar ampla divulgação à informação que grande número de cidadãos considerassem interessante, valiosa.

E, nos grandes números, tudo, afinal, acabaria por ser adequadamente investigado.

Encomendar matérias de jornalismo investigativo e avaliar o significado público de uma ou outra descoberta passaria a ser rotina diária, parte da vida.

Como foi, antigamente, quando se comprava o jornal do dia.


(*) Dan Hind is the author of two books, The Threat to Reason and The Return of the Public. His pamphlet Common Sense: Occupation, Assembly, and the Future of Liberty, was published as an e-book in March. He is a member of the Tax Justice Network.

Fonte:
http://redecastorphoto.blogspot.com.br/2012/10/a-industria-jornalistica-tem-alguma.html


Leia mais:
- As 10 estratégias de manipulação midiática
http://brasileducom.blogspot.com.br/2012/07/as-10-estrategias-de-manipulacao.html
- Educom: Há dois anos na batalha
http://brasileducom.blogspot.com.br/2011/10/educom-ha-dois-anos-na-batalha.html