18/09/2012 - Medo da Globo?
- por Rodrigo Vianna em seu blog O Escrevinhador
Já nos primeiros meses de governo, tudo estava claro. O governo Dilma significou um movimento rumo ao centro. Parecia uma estratégia inteligente, como escrevi na época aqui.
Lula tinha já o apoio da “esquerda” tradicional – com sindicatos, movimentos sociais e também a massa de eleitores de baixa renda beneficiados pelos programas sociais. Dilma avançou para o centro, com acenos para a classe média que preferira Serra e Marina em 2010.
A agenda “técnica” e a “faxina” são a face visível desse giro ao centro. Não é à toa que Dilma alcançou mais de 80% de aprovação.
Mas ela não fez só isso. Abriu mão de conquistas importantes dos anos Lula: houve retrocessos na Cultura e na área Ambiental, pouca disposição para dialogar com os movimentos sociais, nenhuma disposição para qualquer avanço na área de Comunicações. São apenas alguns exemplos.
Concentro-me nesse último ponto: o Brasil tem uma legislação retrógrada e um mercado de mídia dominado por meia dúzia de famílias.
Não é só um problema de falta de concorrência, mas um problema político – na medida em que essas famílias impedem a diversidade de opinião e interditam o debate no país.
No segundo mandato, Lula percebeu a necessidade de mexer nessa área; convocou a Confecom (Conferência Nacional de Comunicação) e encomendou a Franklin Martins um novo Marco Regulatório para o setor.
Dilma preferiu o silêncio, mandou o ministro Paulo Bernardo guardar o projeto de Franklin numa gaveta profunda.
Dilma foi a festinhas em jornais e TVs, logo após a posse, e aceitou as pressões da velha mídia para barrar a investigação da “Veja” e de Policarpo na CPI do Cachoeira. O governo foge do confronto. Ao mesmo tempo, entope de anúncios – e de dinheiro – as empresas que são as primeiras a barrar qualquer tentativa de avanço no país – como escreveu Paulo Henrique Amorim.
Min. Helena Chagas - Secretaria de Comunicação |
A turma que cuida da Comunicação no governo Dilma parece dividir-se em duas: uma tem medo da Globo e da Abril, a outra quer garantir empregos na Globo e Abril quando terminar o mandato.
Dilma segue popular. Mas a base tradicional lulista está ressabiada.
A velha mídia e os tucanos perceberam a possibilidade de abrir uma cunha entre Dilma e o lulismo. A estratégia é simples: poupa-se Dilma agora, concentra-se todo o ódio no PT e em Lula. Com PT e Lula fracos, ficará mais fácil derrotar Dilma logo à frente.
A presidente, pessimamente aconselhada na área de Comunicações, parece acreditar na possibilidade de uma “bandeira branca” com a mídia. Não percebe que ali está o coração da oposição.
A velha mídia, derrotada por Lula em 2006 e 2010, mostra que segue fortíssima com esse episódio do ”Mensalão”.
Colunistas de quinta categoria pautaram os ministros do STF, capas da “Veja” e manchetes do “JN” empurraram o julgamento para as vésperas da eleição municipal.
O STF adota uma linha “nova” para o julgamento, que rompe com a jurisprudência adotada até aqui, e aceita indícios como elementos para a condenação.
Evidentemente que – nesse episódio do chamado “Mensalão” - dirigentes do PT erraram feio: está claro que a rede de promiscuidade e troca de favores entre agências de publicidade, bancos privados e entes públicos precisava ser investigada e punida. Não era “mensalão”, mas era ilícito.
O que chama atenção é o moralismo seletivo da Justiça e da velha mídia. Querer transformar o arranjo mambembe – e desastrado – feito pelo PT de Delúbio Soares no ”maior escândalo da história republicana” é quase uma piada.
O fato é que a velha mídia ganhou esse jogo até aqui.
Outro fato: ninguém acredita que “indícios” serão suficientes para condenar mensalões tucanos, nem banqueiros ou publicitários que tenham se lambuzado em operações com outras forças políticas.
Não. O roteiro está preparado para condenar o PT.
E só isso. É parte da estratégia de retomar o Estado brasileiro.
Era como se a presidenta tentasse se desvincular: o “velho PT” vai pro banco dos réus; ela não, é “moderna” e confiável. Huuum…!!!
Imaginem Zé Dirceu condenado. [Como já o foi] Na manhã seguinte, o alvo será Lula. Consolidado o ataque a Lula, as baterias estarão voltadas contra Dilma.
Rapidamente, a sucessora de Lula perceberá que a ilusão de um trato “republicano” com a velha mídia brasileira não era nada além disso: ilusão.
Será que Dilma deu-se conta do erro que é apostar na lua-de-mel com os conservadores? Afinal, bateu pesado em FHC, quando este último escreveu sobre a “herança” pesada que Lula teria deixado pra ela.
Mas e a relação com a mídia?
Preocupante saber que Dilma teria confirmado presença no Congresso da SIP (Sociedade Interamericana de Imprensa).
Trata-se de uma espécie de Instituto Millenium, maior e mais articulado em todas as Américas.
FHC e Marina estarão lá na SIP.
Se Dilma também for, o círculo estará fechado.
Fonte:
http://www.rodrigovianna.com.br/palavra-minha/dilma-a-ilusao-de-um-acordo-com-a-midia.html