terça-feira, 27 de novembro de 2012

Impressões de uma visita a Gaza

24/11/2012 - Noam Chomsky - Carta Maior
Tradução de André Cristi


Uma noite encarcerado é o bastante para que se conheça o sabor de estar sob total controle de uma força externa. E dificilmente demora mais de um dia em Gaza para que se comece a perceber como é tentar sobreviver na maior prisão a céu aberto do mundo.
Na Faixa de Gaza, a área de maior densidade populacional do planeta, um milhão e meio de pessoas estão constantemente sujeitas a eventuais e amiúde ferozes e arbitrárias punições, cujo propósito não é senão humilhar e rebaixar a população palestina e ulteriormente garantir tanto o esmagamento das esperanças de um futuro decente quanto a nulidade do vasto apoio internacional para um acordo diplomático que sancione o direito a essas esperanças.

Benyamin Netanyahu

O comprometimento a isso por parte das lideranças políticas israelenses (foto) foi ilustrado expressivamente nos últimos dias, quando eles advertiram que enlouqueceriam’ se os direitos palestinos fossem reconhecidos, mesmo que limitadamente, pela ONU.

Essa postura não é nova. A ameaça de enlouquecer’ (‘nishtagea’) tem raízes profundas, lá nos governos trabalhistas dos anos 1950 e em seus respectivos “complexos de Sansão”: “se nos contrariarem, implodimos as paredes do Templo à nossa volta”. À época, essa ameaça era inútil; hoje não é mais.

A humilhação deliberada também não é nova, apesar de adquirir novas formas constantemente. Há trinta anos, líderes políticos, inclusive alguns dos mais notórios ‘falcões’ (sionistas mais conservadores), apresentaram ao primeiro-ministro um relato detalhado de como colonos regularmente violavam palestinos da forma mais vil e com total impunidade. A proeminente analista Yoram Peri notou com repugnância que a tarefa do exército não é a de defender o Estado, mas de “acabar com os direitos de pessoas inocentes somente porque são araboushim (uma ofensa racial) vivendo numa terra que Deus nos prometeu”.


O povo de Gaza foi selecionado para punições particularmente cruéis. É quase miraculoso que eles suportem tal existência. Raja Shehadeh descreveu como eles o fazem num eloquente livro de memórias, A Terceira Via, escrito há 30 anos. O texto relata seu trabalho como advogado empenhado na tarefa de tentar proteger direitos elementares num sistema legal feito para ser insuficiente, além de sua experiência como um resistente que vê sua casa tornar-se uma prisão por ocupantes violentos e nada pode fazer além de “aguentar”.

A situação piorou muito desde o texto de Shehadeh. Os acordos de Oslo, celebrados com muita cerimônia em 1993, determinaram que Gaza e a Cisjordânia eram uma só entidade territorial. Os EUA e Israel puseram sua estratégia de separá-los para funcionar já naquela época, de forma a barrar um acordo diplomático e punir os araboushim em ambos os territórios.



A punição aos moradores de Gaza tornou-se ainda mais severa em janeiro de 2006, quando eles cometeram um crime hediondo: votaram no “lado errado” na primeira eleição do mundo árabe, elegendo o Hamas. Demonstrando seu amor pela democracia, os EUA e Israel, apoiados pela tímida União Europeia, impuseram um sítio brutal e ataques militares ostensivos logo de cara. Os norte-americanos também imediatamente recorreram ao procedimento operacional padrão para momentos em que populações desobedientes elegem o governo errado: prepararam um golpe militar para restabelecer a ordem.

O povo de Gaza cometeu um crime ainda pior um ano depois. Barraram a tentativa de golpe, levando a uma forte escalada do sítio e das ofensivas militares. Isso culminou, no inverno de 2008-9, na Operação Chumbo Fundido, um dos mais covardes e perversos exercícios de poder militar na memória recente, na qual uma população civil sem defesa e enclausurada ficou sujeita à implacável ofensiva de um dos mais avançados sistemas militares do mundo, que conta com o apoio das armas e da diplomacia estadunidense.


Um testemunho inesquecível do morticínio – infanticídio, nas palavras deles – é o livro Eyes in Gaza, [Olhos em Gaza - literal] de dois corajosos doutores noruegueses, Mads Gilbert e Erik Fosse, que à época trabalhavam no principal hospital de Gaza.

O Presidente Obama não foi capaz de dizer uma palavra além de reiterar sua sincera simpatia pelas crianças sob ataque – na cidade israelense de Sderot. A investida minuciosamente planejada foi levada a cabo justamente antes do empossamento de Barack, assim ele pôde dizer que era hora de vislumbrar o futuro, não o passado.

Obviamente, havia pretextos – sempre há. O de costume, apresentado assim que necessário, é a “segurança”: neste caso, os foguetes caseiros de Gaza. Como de costume, também, o pretexto carecia de credibilidade. Em 2008, estabeleceu-se uma trégua entre Israel e o Hamas. E o governo israelense reconheceu formalmente que o Hamas cumpriu a trégua. Nenhuma bomba do Hamas foi disparada até que Israel rompeu a trégua encoberto pelas eleições presidenciais norte-americanas de 4 de novembro de 2008, invadindo Gaza por motivos ridículos e matando meia-dúzia de membros do Hamas.

O governo de Israel foi aconselhado por suas mais altas autoridades de inteligência de que a trégua poderia ser retomada por suavizar o bloqueio criminoso e acabar com as ofensivas militares. Mas o governo de Ehud Olmert, por reputação um “pombo” (termo para os sionistas “moderados”), preferiu rejeitar estas opções e lançar mão de sua enorme vantagem no quesito violência: a Operação Chumbo Fundido.


O modelo de bombardeio da Operação Chumbo Fundido foi analisado cuidadosamente pelo respeitado defensor dos direitos humanos Raji Souraninatural de Gaza. Ele aponta que o bombardeio concentrou-se ao norte, irando civis indefesos nas áreas de maior densidade populacional, sem qualquer desculpa do ponto de vista militar. O objetivo, ele sugere, talvez tenha sido mover a população intimidada para o sul, próximo à fronteira com o Egito. Mas, apesar da avalanche terrorista, os resistentes não se moveram.

Outro objetivo provavelmente era movê-los para lá da fronteira. Desde o início da colonização sionista dizia-se que os árabes não tinham motivo para estar na Palestina. Eles podiam continuar felizes noutro lugar e deveriam ser “transferidos” de maneira educada, sugeriam os pombos. Esta, que claramente não é uma preocupação menor do governo egípcio, talvez seja a razão pela qual o Egito não abre sua fronteira seja para civis, seja para os suprimentos dos quais o país necessita desesperadamente.

Sourani e outras fontes dignas de reconhecimento notam que a disciplina dos resistentes oculta um barril de pólvora que pode explodir inesperadamente, como aconteceu na primeira Intifada em Gaza em 1989, após anos de repressão indigna de qualquer interesse ou nota.


Só para mencionar um dos inumeráveis casos, pouco antes da eclosão da Intifada, uma menina palestina, Intissar al-Atar, foi assassinada no pátio da escola pelo morador de um assentamento judeu próximo. Ele era um dos milhares de colonos israelenses trazidos para Gaza, o que violava leis internacionais, sob proteção da enorme presença de um exército que assumiu o controle das terras e da escassa água da Faixa.

O assassino da estudante, Shimon Yifrah, foi preso. No entanto, foi solto rapidamente quando o tribunal determinou que “o delito não foi severo o suficiente” para justificar a detenção. O juiz comentou que Yifrah só pretendia assustar a garota por atirar na direção dela, não matá-la, assim, “o caso não é o de um criminoso que deve ser punido com um aprisionamento”. Yifrah recebeu uma pena suspensa de 7 meses, o que levou os outros colonos presentes à sala de tribunal a dançar e cantar. E o silêncio, pra variar, reinou. Afinal, a rotina é essa.


Assim que Yifrah foi libertado, a imprensa israelense reportou que uma patrulha armada atirou no pátio de um colégio para meninos de 6 a 12 anos num campo de refugiados da Cisjordânia, ferindo cinco crianças. O ataque só pretendia “assustá-los”. Não houve punições e o evento, para variar, não atraiu atenção. Era só mais um episódio do programa de “analfabetismo como punição”, disse a imprensa israelense, programa que incluía o fechamento de escolas, uso de bombas de gás, espancamento de estudantes a coronhadas, bloqueio de auxílio médico para vítimas; e para além das escolas predominou a mesma brutalidade, que até asseverou-se durante a Intifada, sob ordens do Ministro da Defesa Yitzhak Rabin, outro bem conceituado “pombo”.

Minha impressão inicial, depois de uma visita de alguns dias, foi de admiração ao povo palestino. Não só pela habilidade de levar a vida, mas também pela vitalidade da juventude, particularmente a universitária, com a qual eu passei um bom tempo numa conferência internacional. Mas também fui capaz de perceber que a pressão pode tornar-se grande demais. Relatos apontam que entre a população masculina jovem há uma frustração crescente e o reconhecimento de que, sob comando dos EUA e de Israel, o futuro não é promissor.

A Faixa de Gaza parece uma típica sociedade de terceiro mundo, com bolsões de riqueza rodeados por uma pobreza medonha. Não é, entretanto, um lugar “subdesenvolvido”.


Na verdade, é “des-desenvolvido”, e de maneira muito sistemática, pegando emprestado um termo de Sara Roy (foto), a maior especialista acadêmica em Gaza.

Gaza poderia ter se tornado uma região mediterrânea próspera, com rica agricultura, uma promissora indústria pesqueira, praias maravilhosas e, como descobriu-se há dez anos, a perspectiva de uma extensa reserva de gás natural dentro dos limites de suas águas. Coincidentemente ou não, foi há uma década que Israel intensificou seu bloqueio naval, levando navios pesqueiros em direção à costa.

As perspectivas favoráveis foram frustradas em 1948, quando a Faixa tornou-se abrigo da enxurrada de refugiados palestinos que fugiram ou foram expulsos à força do que hoje é Israel.

Na verdade, eles continuaram sendo expulsos quatro anos depois, como informou no periódico Ha’aretz (25.12.2008) o estudioso Beni Tziper (foto). Ele afirma que, já em 1953, “avaliava-se necessário varrer os árabes da região”.

Isso foi em 1953, quando a necessidade de militarização ainda não se insinuava. As conquistas israelenses de 1967 ajudaram a administrar os golpes posteriores. Vieram então os terríveis crimes já mencionados, que continuam até hoje.

É fácil notar os sinais de tais crimes, mesmo numa visita breve. Num hotel perto da costa pode-se ouvir as metralhadoras israelenses empurrando pescadores para fora das águas de Gaza, em direção à própria costa. Assim, eles são levados a pescar em águas que estão poluidíssimas porque norte-americanos e israelenses não permitem a reconstrução dos sistemas de esgoto e energia que eles próprios destruíram.



Os Acordos de Oslo planejavam duas usinas de dessalinização, imprescindíveis em função da aridez da região. Uma instalação muito avançada, foi construída – em Israel. A segunda é em Khan Yunis, sul da Faixa de Gaza. O engenheiro encarregado de tentar obter água potável para a população explicou que essa usina foi projetada de forma tal que é incapaz de usar água do mar, ela depende de reservas subterrâneas, um sistema mais barato que, no entanto, degrada o aquífero já deficiente. Mesmo assim, a água é limitadíssima.

A Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA), que cuida dos refugiados (mas não dos outros moradores de Gaza), recentemente lançou um relatório advertindo que os danos ao aquífero podem em breve tornar-se “irreversíveis”, e que, sem ações reparadoras, Gaza talvez deixe de ser um “local habitável” em 2020.



Israel permite a entrada de concreto para projetos da UNRWA, mas não para os palestinos comprometidos com as enormes necessidades de reconstrução. O equipamento pesado permanece ocioso a maior parte do tempo, já que Israel não permite materiais para reparo. Tudo isso é parte do programa descrito por Dov Weisglass, conselheiro do primeiro-ministro Ehud Olmert, (foto) depois de os palestinos terem deixado de seguir certas ordens na eleição de 2006: “a ideia”, disse ele, “é aplicar uma dieta aos palestinos, mas não deixá-los morrer de fome”. Não seria de bom tom.


O plano está sendo seguido conscienciosamente. Sara Roy nos dá vasta evidência disso em seus estudos. Recentemente, após anos de esforços, a Gisha, organização israelense pelos direitos humanos, conseguiu obter uma ordem judicial exigindo que o governo divulgue os planos da “dieta”. 


Jonathan Cook, (foto) jornalista em Israel, assim os resume: “oficiais de saúde forneceram cálculos do número mínimo de calorias que Gaza precisa para que os 1.5 milhão de habitantes não fiquem desnutridos. Esse número traduziu-se no número de caminhões de comida que Israel supostamente permite a cada dia, uma média de apenas 67 caminhões – bem menos do que a metade do requerido. E que se compare com isso os 400 caminhões diários de antes do bloqueio”. Segundo relatórios da ONU, mesmo essas estimativas são bastante generosas.


O resultado da imposição da dieta, observa o especialista em Oriente Médio Juan Cole, (foto) é que “cerca de 10% das crianças palestinas com menos de cinco anos tiveram seu crescimento atrofiado pela desnutrição. Além disso, a anemia hoje afeta dois terços das crianças mais jovens, 58,6% das crianças em idade escolar e mais de um terço das grávidas”. Os EUA e Israel querem ter certeza de que nada além da mera sobrevivência seja possível.

O que devemos ter em mente”, diz Raji Sourani, “é que a ocupação e o encerramento absoluto é um ataque em andamento contra a dignidade humana do povo de Gaza em particular, e contra os palestinos em geral. É degradação, humilhação, isolamento e fragmentação sistemática do povo palestino”.

Essa conclusão é confirmada por muitas outras fontes. Em um dos mais importantes periódicos médicos do mundo, The Lancet, um físico de Stanford, horrorizado com o que viu, descreveu a Faixa de Gaza como um tipo de “laboratório de observação da completa ausência de dignidade”, condição que tem efeitos “devastadores” sobre o bem-estar físico, mental e social da população. “A constante vigilância vinda do céu, punições coletivas por bloqueios e isolamentos, invasão de lares e de sistemas de comunicação, além de restrições aos que tentam viajar, casar ou trabalhar, tornam difícil viver de maneira digna em Gaza”.







Havia esperanças de que o novo governo egípcio de Mohammed Mursi, (foto acima) menos servil à Israel do que a ditadura de Mubarak, pudesse abrir a Travessia de Rafah, única saída de Gaza que não está sujeita a controle israelense direto. Até houve uma pequena abertura.

A jornalista Leila el-Haddad (foto) escreve que a reabertura sob Mursi “é simplesmente um retorno ao status quo de anos anteriores: somente os palestinos portadores de identidades de Gaza aprovadas por Israel podem usar a Travessia”, o que exclui inclusive a família da jornalista.

Ademais, continua Leila, “Rafah não leva à Cisjordânia e não permite o transporte de bens, restrito às travessias controladas por Israel e sujeito às proibições a materiais de construção e exportação”. A restrição à Travessia de Rafah não muda o fato, também, de que “Gaza permanece sob apertado sítio marítimo e aéreo e fechada para qualquer capital cultural, econômico ou acadêmico que venha do resto dos territórios palestinos, o que viola as obrigações dos EUA e de Israel segundo o Acordo de Oslo." 



Os efeitos disso são dolorosamente evidentes. No hospital de Khan Yunis, o diretor, que também é cirurgião-chefe, descreve enfurecido tanto a falta de remédios para aliviar o sofrimento dos pacientes quanto a dos equipamentos cirúrgicos mais simples.

Relatos pessoais dão vivacidade à corrente aversão à obscenidade da ocupação.

Um exemplo é o testemunho de uma jovem que desesperou-se quando seu pai, que se orgulharia ao saber que sua filha foi a primeira mulher do campo de refugiados a receber um diploma avançado, “faleceu após seis meses de luta contra o câncer, aos 60 anos. A ocupação israelense negou que ele fosse aos hospitais de Israel para tratar-se. Eu tive de suspender meus estudos, meu trabalho e minha vida para ficar ao lado de sua cama. Todos nós, incluindo meu irmão e minha irmã, sentamo-nos ao lado de meu pai, assistindo seu sofrimento impotentes e sem esperança. Ele morreu durante o desumano bloqueio a Gaza no verão de 2006, com pouquíssimo acesso a serviços de saúde."

"Sentir-se impotente e sem esperança é o sentimento mais terrível que alguém pode ter. É um sentimento que mata o espírito e quebra o coração. Podemos lutar contra a ocupação, mas não podemos lutar contra o sentimento de impotência. Não se pode nem dissolver esse sentimento”.

Aversão à obscenidade combinada com culpa: nós podemos acabar com esse sofrimento e permitir aos resistentes a vida de paz e dignidade que eles merecem.

(*) Noam Chomsky visitou a Faixa de Gaza nos dias 25 a 30 de outubro.

Fonte:
http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=21304

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Gaza é em todo o mundo

20/11/2012 - Laerte Braga - Diário Liberdade, da Galiza


O nome da barbárie é capitalismo.
Gaza e seus horrores vividos na insânia do terrorismo de Estado está em cada rua do Haiti onde tropas da ONU a pretexto de "libertar", escravizam e matam.

Ou nos despejos como o de Pinheirinhos, no Brasil. Onde a "justiça" se transforma em instrumento de violência e coloca seis mil famílias sem moradia.

Nas favelas incendiadas de São Paulo.

Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel
Na violência disfarçada de pacificação das Unidades de Polícia Pacificadora no Rio. Montadas em Israel, cultivadas no Haiti e na Colômbia, na subserviência de um gigante que permanece adormecido.

Nas ruas da Grécia, da Espanha, de Portugal, da Itália, do Egito, da Jordânia, onde milhões de pessoas protestam contra a estupidez das políticas de austeridade que beneficiam os bancos, os grandes conglomerados empresariais.



Nos 30 milhões de norte-americanos que vivem na linha da pobreza na nação mais rica do mundo.

Deus é apenas o artifício, o pretexto para essa loucura pensada, planejada e executada com requintes de crueldade que traumatizam o mais insensível dos seres humanos, nessa insensibilidade criada diariamente pela mídia capitalista. A tarefa de transformar o ser em objeto, em mercadoria exposta na vitrine de horror das bombas bíblicas despejadas cheias de fósforo branco e em nome da "auto defesa".

É um paradoxo, mas Gaza, a faixa, cerca de 360 mil quilômetros quadrados, um milhão e meio de seres humanos, os palestinos, sobrevivia da produção de tomates, de flores, de frutas. A água lhes foi tomada pela ganância de nazi/sionistas e transformada em empresa.

É a área de maior densidade populacional do mundo.


A repetição de imagens chocantes vai anestesiando os seres e fazendo com que se acostumem a uma rotina que é típica do capitalismo. Seja o corpo esfacelado de uma criança em Gaza, seja o idoso buscando um pedaço de pão numa lixeira em Portugal.

"Na União Soviética tínhamos o pão e a liberdade" dizia uma das faixas do protesto contra o governo ditatorial de Vladimir Putin.

Ângela Merkel constrói o IV Reich em sua faixa, a imensa faixa da União Européia sobre os escombros da classe trabalhadora explorada ao limite pelo sistema desumano e impiedoso, o capitalismo.


"É capitalismo estúpido". É o que Clinton deveria ter dito a Bush.


Gaza são os índios Guarani-Kaiowás cercados por pistoleiros e policiais às margens de um rio, terra que lhes pertence, por conta do latifúndio, uma espécie de predador multiplicado nos transgênicos que nos envenenam todos os dias e compramos em clima de alegria nas gôndolas dos supermercados. Um templo do capitalismo onde os funcionários são aconselhados a usar fraldões para não perder tempo (time is money) indo ao banheiro satisfazer necessidades fisiológicas.

Satisfazem o apetite pantagruélico dos exploradores.


A mãe segura a cabeça do filho. O pai segura o corpo. Segundo Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro do Estado terrorista de Israel, é "auto defesa".

As provas começam a aparecer, o ataque israelense/terrorista foi uma decisão do gabinete genocida para reforçar as pesquisas eleitorais a favor do governo em época de proximidade de eleições e reação ao não de Obama a um ataque insensato ao Irã.

Ahmadinejad, o diabo pintado pela mídia ocidental, recebe e conversa com rabinos contrários ao massacre de palestinos. Um jovem de 19 anos, judeu, é preso e pode ser condenado por traição. O crime de se opor ao terrorismo de seu governo. Existem hiatos de bom senso.

Os protestos se multiplicam pelo mundo.


O PCC – Primeiro Comando da Capital – contrata policiais para matar policiais, exibe a falência do Estado instituição, recebe suas dívidas em corpos de pseudos agentes da lei, na violência que é, em si, o chamado mundo institucional. Isso em São Paulo, uma das grandes metrópoles do mundo.

Dilma Rousseff chega a Madri e critica a política de "austeridade" dos países da União Européia receitando desenvolvimento e aumentos salariais. O clássico faça o que eu falo e não o que eu faço.



É a típica neoliberal. Desmancha os serviços públicos no Brasil, sucateia os setores que na constituição são direitos básicos de cada um dos brasileiros, enquanto rega seu canteiro eleitoral com políticas assistencialistas.

Elege o automóvel como o deus da tribo neoliberal que governa o Brasil.

E engole a ditadura da chamada corte suprema, grupo de ministros, ou pelo menos assim chamados, especialistas em habeas corpus para banqueiros fraudadores, médicos estupradores e latifundiários, com as garantias dos jagunços do ministro Gilmar Mendes, outrora, desafeto do agora amigo Joaquim Barbosa.
O capitalismo é cínico, é frio, é impiedoso.
Gaza é a materialização de toda essa barbárie.

Não há saída possível dentro dessa ordem, dentro dos limites estabelecidos pela democracia que é farsa, que não existe. Em qualquer canto do mundo onde o capitalismo seja o altar principal.

Quando o cristianismo foi reconhecido pelo imperador, IV dC, o bispo de Poitiers, Hilário, avisou a seus colegas bispos. – "Ele, o imperador, não vos trouxe a liberdade lançando-vos à prisão, mas trata-os com respeito em seus palácios e, portanto, transforma-os em escravos"

A mercadoria deus, qualquer que seja o nome que tenha, ou a forma como seja entendido. O capitalismo sabe bem disso.

Discute-se toda a violência em Gaza a partir de "especialistas" e conjunturas sobre as negociações de paz.
Que paz? Quando a paz foi assinada mataram Itzak [Yitzhak] Rabin (foto acima) para que a paz não se materializasse.
Que diferença existe entre os sionistas e os nazistas? Uma única.

Num determinado momento os nazistas pareciam ter vencido, noutro determinado agora, perceberam que o nazi/sionismo tem tudo a ver.

É só judiar implacavelmente do povo palestino e mostrar ao mundo o poder da boçalidade.

As flores de Gaza são regadas com sangue da insânia fingida do terrorismo de Estado.

Gaza é o capitalismo em sua sanha mais desumana e bestial. Mas Gaza é todo o mundo.
Fonte:
http://www.diarioliberdade.org/opiniom/opiniom-propia/33214-gaza-%C3%A9-em-todo-o-mundo.html#.UKuD_d197OE.facebook

domingo, 25 de novembro de 2012

Lição de Jornalismo

23/11/2012 - Tereza Cruvinel - Correio Braziliense


Em tempos de poder midiático sem precedentes, aqui e no mundo, nessa hora em que o jornalismo é discutido até em relatório de CPI, achei oportuno compartilhar com os leitores este magnífico artigo do jornalista Pedro Rogério. Profissional experiente, com passagem por todos os cargos que contam nesta profissão, em variados veículos, Pedro Rogério nos recorda os cânones sagrados dessa profissão.

Lição de jornalismo - Pedro Rogério Moreira (*)


Tenho uma passagem com o jornalista Evandro Carlos de Andrade quando ele era diretor de Redação de O Globo, da qual já dei notícia numa memória intitulada "Lição de jornalismo" e que figura no meu livro Jornal Amoroso - Edição Vespertina (Thesaurus, 2007). É uma passagem de boa atualidade.

Um pouco de nostalgia para situar o leitor. Era eu, no começo dos anos de 1970, uma espécie de factotum de Deodato Maia, secretário da madrugada de O Globo: redigia as matérias de última hora, atualizava os telegramas da Guerra do Vietnam, corria à oficina para fiscalizar a paginação, numa época em que ainda prevalecia a imprensa de chumbo de Gutemberg e aquele jornal carioca conservava um quê de vespertino.



Em certa madrugada atendi a telefonema de um intermediário de Mariel Mariscot, (foto) o policial que  passara para o lado dos bandidos e virara o inimigo público número 1 da cidade. O interlocutor propunha   dar ao Globo o privilégio de entrevistar Mariel se concordássemos com duas ou três exigências.

Vislumbrei a chegada dos meus 15 minutos de glória. Expus o caso ao velho Deodato. Ele puxou uma tragada no seu Hollywood, pigarreou ao estilo e anunciou: "Vou consultar o Evandro". E telefonou para a casa dele, acordando-o naquela hora morta.

Grande expectativa no coração disparado do jovem jornalista cabeludo de calça boca de sino. Volta Deodato com a resposta de Evandro: "Diga ao Pedro que O Globo não faz acordo com foras-da-lei".

Contou-me outro dia o colunista Merval Pereira que o preceito da família Marinho, enunciado pelo saudoso Evandro (quanta falta faz!) permanece como um dos pilares do maior jornal do País. Eu não imaginava o contrário.



Os "capitães da imprensa" não são novidadeiros, repórteres é que o são. Eles cruzam na vida com Deus e o Diabo. E às vezes repetem o "Fausto". É o que parece ter acontecido recentemente. Parece, pois não se sabe se é vero. E corremos (os leitores, a sociedade) o risco de nunca sabermos, pois a CPMI do Cachoeira está se encerrando e o jornalista Policarpo Junior (D) resiste em esclarecer se fez ou não fez o pacto do infausto personagem de Goethe. Isto é, ele tem o dever de esclarecer o motivo de ter sido escolhido por Cachoeira (E), um Mariel da atualidade, para ser o depositário das bombásticas informações do fora-da-lei.

Outro aspecto curioso deste caso que abala a credibilidade do jornalismo brasileiro é a enxurrada de artigos de proteção ao jornalista alçado ao posto, quiçá não almejado, de queridinho do fora-da-lei. Assim como a CPMI tem a tropa de choque de parlamentares que defendem a Delta, todo dia aparece um jornalista, um sociólogo, um historiador, um parlamentar, achando um despropósito a convocação de Policarpo, como se jornalista tivesse imunidade.

Ora, o que se quer saber é muito simples: por que o Cachoeira escolheu o jornalista de Veja, e não outros bambambãs, de O Globo, da Folha, do Estadão, da TV Globo, do Correio Braziliense ou de qualquer outro veículo? Tão bons repórteres quanto Policarpo.

Mas não; os furos apurados pelo sofisticado esquema de informação do fora-da-lei só eram destinados ao Policarpo. Videotape do mensalão? Cachoeira entrega pro Policarpo.

Roubalheira no Denit? Cachoeira apura e repassa ao Policarpo. Policarpo quer pegar o Zé Dirceu? Sem problema: o araponga do Cachoeira, um tal Dadá, põe uma câmara escondida no hotel e entrega as fotos de quem conversava com o ex-ministro para o Policarpo. Por que para o Policarpo? É a pergunta que não quer calar.

Mais ainda: na semana passada foram divulgados grampos telefônicos em que, aparentemente, o fora-da-lei se transforma em chefe de reportagem e pede a Policarpo para tirar um repórter de determinada matéria em Goiás. É isso? Ou não é nada disso?

Como novidadeiros, repórteres andam de mãos dadas com o risco. E eu não sei? Na minha época de repórter itinerante do Jornal Nacional na Amazônia, fiz amizade com muitos aviadores. É uma turma muito boa, a gente sempre aprende com eles. São excelentes fontes de informação. Além do mais, no meu caso, me faziam vôos fiados, eu pagava quando a verba de produção chegava, porque, como sabemos, em televisão o espetáculo não pode parar.



Um dia, quando eu já havia voltado para o Rio, deu na imprensa que alguns daqueles meus amigos pilotos de garimpo tinham sido presos por transportar cocaína.

- Que beleza, heim seu Pedro? Com quem você anda, rapaz!

Mas o repórter teria de muito bom grado se apresentado ao delegado Paulo Lacerda, chefe da Polícia Federal em Rondônia, se ele tivesse me convocado, a fim de contar o que fazia um retrato meu confraternizando com os acusados em cima do aparador da sala de visitas da "república" dos aviadores, varejada pelos policiais.

O repórter do JN teria dito ao delegado:
- Eu gostava dos elementos, seu doutor; eles me homenageavam, sempre que eu passava por Porto Velho, com um churrasco sensacional. Desconhecia que eram pilantras e eu nem fumo nem cheiro, seu doutor. E zéfini.

É o que o jornalista de Veja deveria fazer: contar o que sabe e ponto final. A palavra-chave neste caso é apuração, vocábulo registrado em qualquer dicionário de jornalismo. É preciso apurar, o primeiro passo no caminho da verdade, como aprendemos na faculdade ou na escola da vida.

Além do mais, o mundo é mau e tem sempre gente linguaruda para assacar inverdades.

Como na fábula de Araxá, por sinal a terra natal de Cachoeira. Havia nesta cidade mineira um farmacêutico, homem sério e bom. Madrugador no seu ofício, viu as primeiras chamas do incêndio criminoso que consumiu o cartório na calada da noite. Valente, o farmacêutico enfrentou o fogo para salvar o que podia. Foi um herói. Mas, sempre recolhido, não quis alardear o feito para o quinzenário da cidade. Calou-se na sua modéstia. Anos depois, duas velhinhas estão debruçadas na janela de um sobrado, espiando a vida. Vem de lá o farmacêutico. Uma diz pra outra:

- Olha só quem passa...
- E quem é ele, menina? 
- Aquele farmacêutico que esteve envolvido no incêndio do cartório!


O silêncio de Policarpo conspira contra ele. Se for indiciado no relatório, a CPMI pode estar cometendo uma enorme injustiça contra o indigitado. O certo mesmo é que o silencioso jornalista se transformará na vítima das velhinhas do Araxá daqui mais uns anos.


- Quem vem de lá?
- Aquele jornalista que se envolveu com o Cachoeira!

(*) Pedro Rogerio é jornalista 

Fonte:
http://www.dzai.com.br/terezacruvinel/blog/terezacruvinel?tv_pos_id=117924