sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Discursos de comunidades do Orkut refoçam a ideia da escola ser a chave para um futuro digno



Segundo estudo, comunidades reproduzem divisões típicas do ambiente escolar.

Agência Notisa – O artigo “Escola, Orkut e juventude conectados: falar, exibir, espionar e disciplinar”, publicado ano passado na revista Pro-Posições, se propôs a analisar comunidades do famoso site de relacionamentos Orkut que tivessem a escola como tema. O trabalho é assinado por Shirlei Rezend Sales e Marlucy Alves Paraíso, ambas da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais.
A pesquisa partiu da percepção de que, ainda que pareçam mundos distantes, a vida virtual e a cotidiana dos jovens se entrelaçam, de maneira que, mesmo sendo o Orkut proibido em grande parte das escolas, a experiência escolar é debatida e comentada ativamente nas comunidades do site.
 
Assim como a escola “consiste em uma instituição que recebe em seu interior cotidianamente uma multiplicidade de jovens de diferentes etnias, classes sociais, idades, gênero e culturas”, as comunidades do Orkut também se apresentam como um ambiente heterogêneo, no qual convivem as mais diferentes posições a respeito das aulas, didáticas e currículos escolares. Isto é evidenciado pela existência de comunidades diametralmente opostas, como as intituladas “Eu amo estudar” (12.753 membros, na época de publicação do trabalho) e “Eu odeio estudar” (206.263 membros), citam as autoras no artigo.
 
O que chamou a atenção das pesquisadoras foi o fato de boa parte das comunidades reforçar a ideia da escola, a despeito de eventuais críticas, como caminho para garantia de um futuro promissor. Isto fica claro nas divisões que aparecem nos perfis dos jovens que participam das comunidades: há os “vagabundos”, os “nerds” e os “CDFs”. Os primeiros declaram odiar estudar, consideram o currículo inútil, vão à escola para “zuar”. Por outro lado, há a ideia geral de que estes “vagabundos” serão “uma/ um fracassada/o no futuro”, qualifica o artigo. Por sua vez, o jovem “nerd” é aquele “que só pensa em estudar, que ‘puxa saco’ das/os professoras/es e que não ajuda as/os colegas, mas que tem a garantia de um futuro digno”. Já o “CDF” “se dá bem com colegas e professoras/es, é bem-sucedido na escola e, como o ‘nerd’, certamente terá um futuro brilhante”, relatam as autoras no artigo.
Dessa maneira, a validade da escola se coloca em relação direta com as portas que uma boa formação pode abrir, por exemplo, “quando, nas comunidades das/os que odeiam estudar, os ‘nerds’ e os ‘CDFs’ defendem a escola e também as/os participantes das comunidades destinadas àquelas/es que amam estudar, a escola é sempre descrita como única forma de fazer com que a/o jovem seja ‘alguém na vida’, como garantia de um ‘futuro melhor’, um ‘bom emprego’, uma vida ‘profissional de sucesso’, visando o ‘desenvolvimento do País’”. Tais ideias, diz o artigo, se multiplicam em “diversas enunciações que circulam em várias comunidades do Orkut que tratam da escola”, e reforçam a máxima de “a educação ser tudo”, que pode ser encontrada “nas políticas educacionais, nos currículos oficiais, na televisão, no rádio, no jornal, nas revistas e coloca-se como verdade irrefutável”, consideram as autoras.
 
Agência Notisa (science journalism – jornalismo científico