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sábado, 19 de janeiro de 2013

A cara do Rio que se mobiliza

                                        19/01/2013 - Antonio Fernando Araujo (*)

Mais uma vez o Rio de Janeiro volta a se movimentar.

Em defesa da Aldeia Maracanã foram milhares os que, no último dia 13/01 se viram compelidos a sair em defesa dos índios dessa aldeia urbana.

Um batalhão de choque da PM cercou a aldeia e só não concretizou mais uma de suas ações porque encontrou reação de militantes e movimentos sociais”, escreveria mais tarde o professor de História, Antonio Elias Sobrinho, o que deixaria a todos assombrados buscando encontrar explicações sobre o porquê de tanta voracidade do governo sobre duas dezenas de brasileiros que, num prédio em ruínas, ali se encontram há mais de uma década tangenciando a miséria a que foram relegados, e, ainda assim, procuram manter intactas suas tradições e sua cultura já semidestroçadas pelo forçado convívio urbano com uma grande metrópole.

No entanto, como prossegue o autor, “a compreensão dessa realidade deve servir para que todas as forças sociais que se opõem” entendam ser “necessário a união e a ação do maior número de pessoas possíveis, não só para se opor a esta ordem como também para tentar construir um projeto que seja alternativo”. 

Em tudo semelhante a construção de um projeto alternativo, foi como percebemos em um primeiro momento, a convocação que ontem iluminou as redes sociais e até o próximo dia 30 vai se espalhar pela mídia alternativa de todo o país e, quiçá, do exterior.

O Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, com sede em São Paulo, em conjunto com Blogueiros e Internautas Progressistas do Rio de Janeiro, conhecidos por sua sigla RioBlogProg e apoiados pela Central Única dos Trabalhadores, também do Rio, lançaram uma ampla CONCLAMAÇÃO – CONVITE, subtitulada, EM DEFESA DA DEMOCRACIA - QUEREMOS UM JULGAMENTO SEM ERROS.

O anúncio de um Abaixo-assinado em que pedem a realização de um novo julgamento, em decorrência dos erros que alegam ter encontrado ao longo do processo que condenou praticamente todos os réus da AP 470, a do chamado “mensalão petista”, serve de epígrafe para um “JOGO DOS SETE ERROS” que por sua vez antecipa aquilo que só mais adiante nos permitirá compreender, ao menos em parte, as razões que se ocultam por detrás desse processo e como seu desenrolar deixou nítidas as pegadas de um dos erros mais clamorosos praticados por uma instituição jurídica que, garantem, querem ver preservada acima de tudo, pelo bem de uma Democracia que ainda engatinha.

E eles não parecem estar falando à toa quando asseguram:

O julgamento da Ação Penal 470 apresentou erros.
Erros graves, porque ocorreram principalmente naquilo que sustentou a tese condenatória do relator juiz Joaquim Barbosa. Na lista abaixo nós os identificamos integralmente. Daí a razão deste Abaixo-Assinado.

Não pleiteamos aqui a absolvição dos réus.

O que queremos é um novo julgamento, de forma correta, rigorosamente assentado nos documentos constantes dos Autos, coisa que, no nosso entender, não foi feito, ou as falhas aqui apontadas não teriam sido detectadas. Ei-las, no que chamamos de:

O JOGO DOS SETE ERROS NO JULGAMENTO DA AÇÃO PENAL 470

1. Erro 1: Considerar que o dinheiro do Fundo Visanet era público.
Não era; não pertencia ao Banco do Brasil (BB). Pertencia à empresa privada Visanet, controlada pela multinacional Visa Internacional, como comprovam os documentos.

2. Erro 2: Considerar que o Banco do Brasil colocava dinheiro na Visanet.
O BB nunca colocou dinheiro na Visanet. A multinacional Visa Internacional pagava pelas campanhas publicitárias realizadas por bancos brasileiros que vendessem a marca VISA.

3. Erro 3: Considerar que houve desvio de dinheiro e que as campanhas
publicitárias não existiram.
Não houve desvio algum. Todas as campanhas publicitárias, com a marca VISA foram realizadas pelo BB, fiscalizadas e pagas pela Visanet. Toda a documentação pertinente encontra-se arquivada na Visanet e o Ministro relator teve acesso a ela.

4. Erro 4: Omitir ou, no mínimo, distorcer informações contidas em documentos. 
A Procuradoria Geral da República/Ministério Público Federal falseou e omitiu informações de documentos produzidos na fase do inquérito para acusar pessoas. Exemplo de omissão: somente representantes autorizados do Banco do Brasil tinham acesso ao Fundo Visanet.

5. Erro 5: Desconsiderar e ocultar provas e documentos.
Documentos e provas produzidos na fase da ampla defesa foram desconsiderados e ocultados. Indícios, reportagens, testemunhos duvidosos, relatórios preliminares da fase do inquérito prevaleceram. No entanto foram desconsiderados todos os depoimentos em juízo que favoreciam os réus.

6. Erro 6: Utilizar a “Teoria do Domínio Funcional do Fato” para condenar sem provas.
Bastaria ser “chefe” para ser acusado de “saber”. O próprio autor da teoria desautorizou essa interpretação: "A posição hierárquica não fundamenta, sob nenhuma circunstância, o domínio do fato. O mero ‘ter que saber’ não basta".

7. Erro 7: Criar a falsa tese de que parlamentares foram pagos para aprovar leis. 
Não existe prova alguma para sustentar esta tese. De qualquer forma, não faria sentido comprar votos de 7 deputados, que já eram da base aliada, dentre 513 integrantes da Câmara Federal, quando 257 votos eram necessários para se obter maioria simples.












Resta ainda considerar alguns outros equívocos:

* O duplo grau de jurisdição para réus é uma exigência da Corte Interamericana de Direitos Humanos. Ao não garanti-lo, o STF violou o Pacto de São José da Costa Rica.

* Assim, 35 dos 38 réus não tiveram direito à segunda instância. Por decisão do Supremo, o julgamento de todos foi apenas em uma instância, o STF, embora 35 não tivessem direito ao chamado foro privilegiado.

* O uso da dupla-função. Quem preside a fase de investigação não pode depois participar do julgamento, porque nesse caso cumpre os papéis de investigador e de juiz;

* “O Supremo deu grande relevância à prova indiciária, até então considerada a mais perigosa de todas”, como disse o juiz Murilo Kieling. Tal prova é perigosa porque pode permitir a manipulação dos indícios por juízes inescrupulosos ou a serviço de interesses políticos ou econômicos.

Considerando o exposto, pode-se entender como os Procuradores, primeiro Antonio Fernando de Souza e em seguida Roberto Gurgel, junto com o Ministro Joaquim Barbosa, construíram a tese da acusação. A partir dessa construção desenrolaram a trama que condenaria praticamente todos os réus.

Foi desta forma que a AP 470, a ação penal do chamado "mensalão petista", se tornou a mais eficaz e sedutora arma que a grande mídia, liderada pela poderosa Família GAFE da Imprensa (Globo/Abril/Folha/Estadão), conseguiu construir desde 2002 para finalmente empunhá-la em 2012. Seu alvo é o projeto de nação que há 10 anos o Partido dos Trabalhadores concebeu e vem construindo, um projeto dificílimo de ser derrubado nas urnas.

O que esse projeto tem de mais?
Ele bate de frente com interesses vitais do chamado “mercado financeiro", aquele dos capitalistas e investidores do mundo dos negócios privados não-produtivos, em estreita sintonia com o empresariado ligado às exportações de commodities (agropecuária e minérios) assentados no topo da pirâmide socioeconômica, lugar das corporações e megacorporações nacionais e, principalmente, internacionais.

E a Família GAFE da Imprensa - centrada no Rio e em São Paulo - é a porta-voz desse povo. Nela, apenas essa gente e seus interesses - com o endosso da classe média alta - têm direito a voz. Ela atua diretamente através de seus próprios órgãos de divulgação ou por meio dos veículos do seu partido, o PIG (Partido da Imprensa Golpista), composto por seus afiliados em todas as redações desse Brasil afora. Seu Instituto, o Millenium, com sede no Rio, funciona como o cérebro pensante. É, principalmente, de lá que saem as teses defensoras dos privilégios dessa classe alta.

Para elas o país é visto apenas como um celeiro de oportunidades de negócios para que seus membros se tornem, a cada ano, ainda mais ricos e poderosos, aqui ou no exterior.

No caso deste julgamento, todavia, algo se tornou ainda mais preocupante.

Nos golpes recentes ocorridos em Honduras e Paraguai, vimos a Corte Suprema e Parlamentares desses países funcionarem como legitimadores da quebra da ordem institucional e contando sempre com o apoio da mídia empresarial local.





No instante em que testemunhamos aqui nosso Supremo Tribunal Federal (STF), conscientemente ou não, pondo-se a serviço desse poder hegemônico, representado, como vimos, pela mídia-empresa, num país em que a democracia ainda engatinha, assombra-nos o risco enorme que ela corre.

Sim, tememos que um golpe semelhante, também institucional, ocorra entre nós, lembrando que em 1964 já tivemos essa mesma Família GAFE apoiando e saudando com júbilo o advento do golpe militar quando as Reformas de Base que Jango propunha “ameaçavam” suprimir, em especial das elites do campo, alguns poucos privilégios.

Devem-se apurar os supostos desvios, processar e julgar os eventuais denunciados nessa AP 470. Mas quando isso se transforma, nas mãos do que existe de mais egoísta e retrógrado no país, em uma arma que visa unicamente torpedear um projeto de nação voltado à redução das desigualdades sociais e ao crescimento sustentável e que implica apenas em uma tênue redução dos privilégios dos 1% do topo da pirâmide, não estamos mais diante de alternativas. É nosso dever e missão contribuir para reduzir o poder desse monstro midiático que desde 2002 voltou a nos ameaçar.

Entendemos ser nossa obrigação fazer o que estiver ao nosso alcance para que o STF seja preservado como uma Instituição soberana à salvo de interesses outros que não os da Justiça.

“Costuma-se dizer que decisão judicial não se discute, cumpre-se. De fato, devem ser cumpridas, sob pena de caos institucional. Mas, sempre que se entender apropriado, devem ser discutidas. Contestadas, criticadas e corrigidas. Pois é isso que faz toda instituição crescer e vicejar - inclusive o Judiciário, que não é um poder absoluto", escreveu um dos condenados, José Dirceu. E é isso que queremos.

Por conta dessa ameaça, nossa luta contra a poderosa Família e seus tentáculos adquiriu um emblema especial em 2012 e deve ser objeto de muitas batalhas neste 2013. Esta é apenas uma delas: neutralizar ou destruir, ainda que parcialmente, os erros cometidos no julgamento da AP 470.

E é também pelo mesmo motivo que nos recusamos a aceitar a ‘tese’ de que esse julgamento é uma "página virada". Muito pelo contrário. Que esta campanha e este evento que se anunciam como partes dessa luta sejam percebidos como um enfrentamento tático de um combate mais amplo, voltado contra os superpoderes da mídia empresarial tornada um imenso e poderoso oligopólio no Brasil.

Por conseguinte, desta AP 470 só deve restar aquilo que, comprovadamente, se configurar como um delito, sujeito, portanto, às penas da lei, tal e qual rezam nossa Constituição, o Código Penal, as garantias processuais, ritos e jurisprudências.






















Só então poderemos anunciar que nesta batalha lutamos pela Democracia e nos impusemos vitoriosamente sobre essa mídia que, segundo avaliamos, pode muito bem estar à espreita de um possível golpe ao qual possa atribuir, também, ares de legalidade.

Assim, realizaremos no Rio de Janeiro, no próximo dia 30/01, um debate do mais alto nível, tendo como foco os erros cometidos pelo STF ao julgar os réus da Ação Penal.

Esperamos poder contar com expressiva parcela da sociedade civil e de personalidades profundamente conhecedoras dos meandros desse processo e de suas implicações políticas e jurídicas.

Para isso estamos empenhados em uma ampla mobilização para a qual queremos não só sua participação pessoal, mas também a do seu círculo social e profissional. Seu apoio, sua parceria enfim e até mesmo sua ajuda, serão imprescindíveis para que este acontecimento fique registrado como algo representativo da sociedade como um todo, um êxito dos mais retumbantes.

O anúncio do Abaixo-Assinado com o qual abrimos esta CONCLAMAÇÃO-CONVITE dará a partida nesta mobilização para que ela atinja a dimensão de um brado enorme contra os erros cometidos nesse processo. Em seguida virão folders, mensagens e entrevistas em rádios, charges, filminhos, jornais de bairro, etc. Sinta-se à vontade para também produzir outros, envie-nos que os divulgaremos.

Imaginamos assim que uma ampla rede de comunicadores estará montada e voltada para esse objetivo, o de pleitear a correção desse julgamento e o de convocar a sociedade civil para estar presente no evento do dia 30, cujo local, hora e componentes da Mesa divulgaremos em um comunicado específico, tão logo estejam todos definidos.”

Essa é a cara alegre do Rio, a mesma que assume, sempre que se vê diante de qualquer autoritarismo, ainda mais quando exibem com mais relevo seus ares de injustiça.

As feições de um Rio alegre e solidário que volta a se mobilizar estão estampadas em cada um desses gestos que de tempos em tempos revelam o quanto de recusa de submissão à vontade de outrem, atos com os quais, historicamente, os cidadãos desta cidade se contrapõem, em especial quando esses outros são os que “jogam um peso enorme, inclusive usando a violência, para afastar todos os sinais de resistência”, exatamente como deixou escrito o professor, Elias Sobrinho.


(*) Antonio Fernando Araujo é engenheiro. Articulista, colabora neste blog.

Leia também:
- A encenação do mensalão - Revista Retrato do Brasil - ed. 65
- STF: Mais um erro? - Megacidadania
- A verdade o absolverá - Lia Imanishi e Raimundo Pereira

Nota:
A inserção de algumas imagens, capturadas do Google Images, são de nossa responsabilidade, elas inexistem no texto original.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

A Um Herói de Purpurina

22/11/2012 - Antonio Fernando Araujo

É difícil tratar com ironias uma cerimônia do porte da posse de um presidente da mais alta instituição jurídica do país sem também levar em conta que nesse universo de eventos desconcertantes há pouco mais de dois anos nossa Família GAFE da Imprensa (Globo/Abril/Folha/Estadão) protagonizava sua desejada assunção de Marina Silva à presidência da república.

Não que Joaquim Barbosa tenha se tornado uma Marina Silva de toga e, muito menos pelo fato das iniciais do seu nome coincidirem com as de Jader Barbalho e que apenas isso nos autoriza a fazer de conta que a moeda de troca em qualquer dos casos tenha sido a mesma, justamente aquela que também foi utilizada para transformar Fernando Collor de Mello de um exótico "caçador de marajás" em Presidente da República e daí no maior patife que o Planalto Central, até então já vira florescer.

Apesar disso e se for esse o caso, pois nada nos impede, vamos então apostar que algumas capas de revistas e meia-dúzia de manchetes bem postadas no topo das suas páginas sejam as varinhas de condão que ainda conservam o mesmo fascínio que não só encantou aquele hóspede da "Casa da Dinda" e comprou o silêncio venal do senador do Pará quanto exaltou o moralismo desajeitado da ex-seringueira do Acre e agora se dispõe a borrifar a purpurina negra da toga sobre o verde-amarelo da faixa presidencial que o agora, tornado "caçador de corruptos" e nossa Família GAFE, tornada agora madrinha, já sonham exibir-se em janeiro de 2015, numa espécie de maquinação antecipada com ares de patriotismo de oportunidade.

Se assim for, a ironia que se pretende aqui não é nem de longe a advinda do fato dessa grande mídia empresarial já, há algum tempo, ter percebido o quanto sai barato produzir um herói a cada semana, mas a jubilosa constatação de que, ao menos nesse aspecto e talvez até de forma idêntica ainda que fortuita, não é assim que a grande massa costuma forjar seus verdadeiros heróis.

Por seus veículos, grande massa e grande mídia, tão perto de uma legítima e profunda identidade com a parcela maior da população brasileira se encontra a primeira quanto tão distante e desassociada dela se encastela a outra.

Embora saibamos que em qualquer dos casos seus custos possam ser similares, seus significados contudo, em muito ultrapassam o preço de uma bala disparada contra o peito de Getúlio, a vida de algumas centenas de jovens brasileiros dependurados e torturados em "paus-de-araras", de outros tantos exilados como o foi José Dirceu, ou simplesmente mortos na luta heroica contra o fascismo tupiniquim, não importando aqui se, em um rosário de ironias, nos for permitido incluir - e apenas como um símbolo -, a perda de um dedo mindinho da mão esquerda, nem que seja tão somente para que boa parte dos ideais daquela juventude não se perca assim de todo, vazada pelos ralos de uma democracia caricata que se instalou no país pós-ditadura civil-militar.

No entanto, de uma coisa estamos certos, por mais irônico que tudo possa parecer. Nesses cenários não há sarcasmo algum que se mantenha como tal.



Será simplesmente insustentável que floresça a crença de que o barro que se utilizou para moldar a História heroica de toda uma geração tenha sido o mesmo empregado pelas caducas algumas e decadentes outras, Redações - ainda que conservem o glamour e as garras afiadas -, da nossa Imprensa GAFE quando ela se dispõe a produzir lendas e mais lendas, todas elas, desafortunadamente calcadas sobre seus tristes heróis de purpurina.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Um outro sonho para Joaquim Barbosa

29/10/2012 - Antonio Fernando Araujo (*)


Ramatis Jacino

Quando Ramatis Jacino, em seu belo texto "O Sonho do Ministro Joaquim Barbosa" assegurou-nos que "o conjunto de organizações sindicais, populares e partidárias, além das elaborações teóricas classificadas como 'de esquerda', [são] os aliados naturais dos homens e mulheres negros, na sua luta contra o racismo, a discriminação e a marginalização a que foram relegados" também recorreu a versos de Solano Trindade, dos

"Negros que escravizam e vendem negros na África, não são meus irmãos...
Negros senhores na América a serviço do capital, não são meus irmãos... 
Negros opressores, em qualquer parte do mundo, não são meus irmãos..."


para reafirmar que acima de tudo é a solidariedade dos que optaram pelos pobres que norteia-lhes a construção de dignidades, os seus indignares frente à exclusão social, as suas inconformações com toda forma de injustiça ou, como dizia Bobbio, as suas indestrutíveis considerações de que se trata mesmo de uma aberração a desigualdade social que campeia neste Brasil e que lhe dando uma dimensão de tragédia concede-lhe destaque ímpar na cena mundial.






Vai, Joaquim Barbosa! ser 'gauche' na vida, poderia ter-lhe dito Drummond.

Tudo porque, como escreveu Cynara Menezes na CartaCapital, "ser de esquerda é não roubar nem deixar roubar", mas também "é ser contra a exploração do homem pelo homem e de países por outros países; é ser a favor da igualdade entre raças e gêneros; do Estado laico; é ser contra o preconceito e a intolerância; é ser a favor da natureza; de que o povo coma 
bem e direito; da justiça social; é ser a favor de uma nova política para drogas e aborto; da reforma agrária; da moradia, da educação e da saúde de 
qualidade para todos. Ser de esquerda é ser um defensor incorruptível da paz, da democracia e da liberdade. E ser de esquerda é, sim, dar menos importância ao dinheiro e mais à felicidade."

E, como ele veria, se porventura sonhasse o sonho de Drummond, que isso é muito mais do que roubar, "não roubar, nem deixar roubar", justo aquilo do que ele mais acusa José Dirceu, não de ser um homem de esquerda, dotado de todas aquelas virtudes, mas tão somente um reles chefe de uma quadrilha de ladrões.

Fiquei feliz com as dezenas de comentários supimpas que surgiram depois da publicação neste blog e de outros tantos que aplaudiram em silêncio ou via emails, o "O Sonho do Ministro Joaquim Barbosa".

Não só porque Ramatis Jacino pusera o pingo nos is, mas porque permitirá, quem sabe, que o Ministro Barbosa perceba que só lhe é permitido estar presente nas capas e espaços que os Marinhos, os Civitas, os Frias e os Mesquitas lhes emprestam - essas quatro grandes famílias da nossa imprensa GAFE (Globo/Abril/Folha/Estadão) - enquanto ele funcionar como um vigilante escoteiro da direita ideológica, a mesma que se regozija quando "Negros escravizam e vendem negros...", quando se tornam "Negros senhores na América a serviço do capital..." e "Negros opressores, em qualquer parte do mundo...", postos a seus serviços.

Tal e qual esses pobres diabos que em fins de carreira trocaram suas dignidades de rebeldes de esquerda que foram na juventude, com os atuais donos do poder e dos meios de comunicação, por algum espaço para escrever ou deitar falação sempre anti-PT, Lula ou Dilma, anti-esquerda como exigem seus patrões, nas rádios e emissoras de TV empresariais para que assim lhes sejam assegurados a sobrevivência dos decadentes.

Fico então mais à vontade pra condimentar este texto, pois, recuando algumas décadas, arrisco a dizer que é bem possível que o Ministro Barbosa tenha sabido que "com Richard Nixon e as ordens executivas do 'black capitalism', delineou-se uma família de políticas raciais destinadas a propiciar o surgimento de uma elite negra no mundo empresarial" norte-americano e, naturalmente e por conta própria, tenha aventado a hipótese disso merecer um prolongamento até o sofisticado universo do supremo judiciário brasileiro.

Tanto lá, como cá "a elite negra que emergiria a partir dos estímulos do poder público - nesse quesito Lula até que deu uma mãozinha - cumpriria a função de um agente da ordem, contribuindo para a estabilidade social e política. Se para o governo americano, a estratégia cumpriria a finalidade de amortecer o descontentamento gerado pelas profundas desigualdades econômicas, numa sociedade em que não era fácil distinguir classes sociais de grupos raciais" no Brasil, anos mais tarde, o ex-prefeito negro de São Paulo, Celso Pitta, demonstraria na prática que o furo é bem mais embaixo.




Custo a crer que Barbosa não tenha lido "Uma Gota de Sangue", onde Demétrio Magnoli - um dos ex-comunistas que aderiu à direita midiática com a fúria dos derrotados -, disse isso tudo e ainda assegurou pra quem quisesse ouvir, que a pobreza, tem sim uma cor, mas que aos "talentosos 10%", é-lhes destinado salvar "a raça negra, como todas as raças, por homens excepcionais."


Joaquim foi muito pobre, mas certamente se considera talentoso e, por conseguinte um homem excepcional, fruto inconteste do "melhor desta raça, que pode guiar a massa para longe da contaminação e morte, provenientes da ralé na sua própria e em outras raças."


E porque, logo ele, foi dar ouvidos a Magnoli e não pensar nessas "outras raças" como sendo todo o povo brasileiro, posto agora nesse alvorecer em que a moralidade da revista Veja se apresenta como sendo a bandeira a qual Barbosa devesse desfraldar para que ele apareça sempre na capa entre fogos de artifício, sorrindo a encantar a titubeante classe média brasileira, seus leitores, com vistas as eleições de 2014?

No entanto, nesse jogo brutal, o que é sensato o Ministro Barbosa entender, desde já, é que além da resistência aos processos desumanizadores do racismo ser, de longe, a maior contribuição dos negros à cultura brasileira, é, agora, ele também ter a consciência nítida de que "as elites brasileiras sempre utilizaram indivíduos ou grupos, oriundos dos segmentos oprimidos para reprimir os demais e mantê-los sob controle", como escreveu Jacino.


E sem refrescar alerta: "A tragédia, para estes indivíduos – de ontem e de hoje -, se estabelece quando, depois de cumprida a função para a qual foram cooptados são devolvidos à mesma exclusão e subalternidade social dos seus irmãos."

Assim, diria eu ao ilustre Juiz e Ministro Barbosa, por razões óbvias, fazer parte do jogo da burguesia não têm o condão de alterar o panorama de exclusão que se verifica até o instante em que as elites brancas admitem que um "talentoso 10%" pode lhes ser útil, mas que, certamente não passará disso.







Daí em diante, o que volta a prevalecer é a consciência e a realidade dos excluídos, tanto os que o são pela cor da pele quanto pela cor da pobreza.

Na verdade, e isso é o mais importante, o que deveria ser uma consciência de todos nós, uma bandeira da nossa identidade brasileira, talvez quem sabe - ou seria pedir muito? -, um outro sonho para Joaquim Barbosa, até um prenúncio de uma reordenação da nossa realidade social, daquela que até então permanece gravada de forma cruel na história do povo brasileiro.







Um sonho, uma consciência e uma bandeira que não devem servir pra que se consagre apenas como a história particular de um talentoso juiz negro alçado a Ministro do Supremo Tribunal Federal que a Família GAFE da Imprensa guindou ao altar da fama, mas de todo um povo que não merece que a vaidade dele ponha tudo a perder, justamente por ter-lhe faltado um talento a mais, aquele que Magnoli escamoteou, mas que é justamente o decisivo, o que seria capaz de fazê-lo perceber, sem ter que esfregar muito os olhos, o que exatamente está em jogo, o que vale e o que não vale na mesa do capital, seja ele "black or white", quando se trata de manter a hegemonia sócio-econômica de uma elite tupiniquim a qual ele não pertence e que, por tantos motivos, como sabemos, deve ser posta abaixo.

(*) Antonio Fernando Araujo é engenheiro e colaborador deste blog

sábado, 22 de setembro de 2012

Toda araruta tem seu dia de mingau


22/09/2012 - O espetacular desfile do Grêmio Recreativo Escola de Samba Unidos no Mensalão Tucano (GRES-UMT), no Grupo Especial
- por Antonio Fernando Araujo (*)


Calma gente, toda araruta, sim, tem seu dia de mingau. Mino Carta já não escreveu na CartaCapital "nuvens plúmbeas estacionam no horizonte?"

e prosseguiu: "Desde já, CartaCapital avisa. Tão logo termine o julgamento do chamado 'mensalão petista', nossa capa vai soletrar: E AGORA VAMOS AO MENSALÃO TUCANO.

Temos um excelente enredo a desenrolar. Se mudança houve, que seja." 

E, aqui pra nós, não adianta querer forçar a barra, como insiste a talentosa Rede Globo, apelidando-o de 'mensalão mineiro', pois na verdade este 'mensalão petista', já em fase final de julgamento, ficará para a história apenas como o remanescente atávico do mesmo sistema nefasto que há tempos irriga com uma grana extra, políticos e seus Partidos, aquele que possui, desde sua origem, a experiência, a plumagem e o DNA dos que conduziram com destreza essa modalidade de patifaria: o MENSALÃO TUCANO. Pois foi lá, no ninho azul e amarelo deles, inspirados e chocados cuidadosamente por Eduardo Azeredo quando governador tucano de Minas Gerais, que nasceram todos os demais mensalinhos e mensalões, patéticos com suas variadas cores e sinistros personagens a promoverem a descrença e a deformação dos políticos e da atividade política neste país.
Augusto Boal

No entanto, nesse desfile alegórico, nessa quase pantomina que logo estará na avenida, há que se levar em conta que "o teatro é uma representação do real, não é o real, ainda que saibamos todos que a imagem do real é real enquanto imagem". Ao garantir isso em seu livro "O Teatro como Arte Marcial", Augusto Boal antecipou aquilo que décadas mais tarde se tornaria a narrativa de uma comédia encenada numa monumental passarela do samba de qualquer cidade brasileira, o enredo trágico e deslumbrante de uma Escola de Samba irreal, mas que, enquanto imagem que expressa a afirmação do mestre do Teatro do Oprimido, é ficção real, dolorosamente real e dramaticamente ficção.

Assim sendo galera, vâmu qui vâmu a esse turbilhão de alegorias onde vida e arte se entrelaçam, porque prestes a terminar o desfile do Mensalão Petista, se apressa para entrar fulgurante na avenida, o fantástico Mensalão Tucano.


Antes porém, e como acaba de divulgar o TSE (Tribunal Superior Eleitoral), o tucano PSDB, que a “grande imprensa” da Família GAFE (Globo/Abril/Folha/Estadão) considera seus membros, os bastiões brasileiros da moral, dos bons costumes e da anticorrupção, é o partido que tem mais pessoas Fichas-Sujas entre os candidatos a prefeito no Brasil, os chamados Barrados do Ficha Limpa, nestas "Eleições 2012". Assim, no Grupo de Acesso, composto por todos os Barrados do Ficha-Limpa, o tucano PSDB não renunciou às suas origens, acabou de sagrar-se Campeão. Portanto sua participação no Grupo Especial já está garantida.


Agora vamos ao desfile desse Grupo Especial, do qual participa o já veterano Grêmio Recreativo Escola de Samba Unidos no Mensalão Tucano (GRES-UMT).

Já escalado pra Comissão de Frente estará o Satiagraha, ficando a refinada coreografia a cargo de Gilmar Mendes, a Suprema Majestade do Supremo dos Supremos. Segredos, há tempos guardados sob a toga, vão surpreender na avenida.

A Privataria Tucana, candidata ao Prêmio Jabuti-2012 em uma de suas categorias, virá a seguir num deslumbrante Carro Abre-Alas, onde o destaque, claro, é o incansável e insistente José Serra, fantasiado de querubim ao lado do padre Marcelo Rossi. Vibrando com ele, o Mestre de Bateria, o imbatível e sedutor FHC com sua Pasta Rosa onde guardará as batutas de maestro de oito anos de carnavais em notas de 1000. Se der tudo certo e ele for novamente guindado a Mestre de Bateria no ano que vem, elas serão distribuídas generosamente entre todos os ritmistas.

À frente deles e deslizando esplêndida como um cisne, sua Rainha, outra não poderia ser senão a vistosa Vanessa Mendonça, a mulher do grande Patrono da Escola, o benemérito bicheiro Carlinhos Cachoeira.

O teatral Roberto Jefferson, digníssimo presidente do PTB, é o puxador do samba-enredo "O Mensalão Campeão", que embora não tenha sido composto por ele, promete levantar bem alto a galera de tanto susto e indignação, depois que a merda toda vier à tona e se espalhar pelas arquibancadas, frisas e camarotes. O Primeiro Mestre-Sala, claro, é Demóstenes Torres (ex-DEM) e sua Porta-Bandeira, o Agripino Maia travestido, do DEM, portando a bandeira azul e amarelo tucana, imbatíveis quando tratam de honrar com galhardia o nobre apelido que lhes deram, C&H, de Cinismo & Hipocrisia.

Por seu turno e por não ter sido tão habilidoso quanto seu colega Demóstenes, José Arruda (ex-DEM, ex-governador do DF e que já foi flagrado nas patifarias pela segunda vez), por isso mesmo, é o Segundo Mestre-Sala. Sua Porta-Bandeira é a Rosinha Garotinho, ex-governadora do Rio, como seu marido e tutor Anthony Garotinho, ele veterano, mas ela, no caso, ainda uma aprendiz. 


Compondo a Velha Guarda do GRES-UMT, entrarão em peso e em volta do Banestado, toda a Ala do DEM, com o Jorge Bornhausen fantasiado de Madre Tereza de Calcutá, já que ele nunca escondeu sua ojeriza a pobre, seguido por ACM Neto (candidato a prefeito de Salvador e "in memoriamrepresentando o insigne avô), Rodrigo Maia (candidato a prefeito do Rio), o " dad " César Maia (ex-prefeito do Rio) e seus colegas tucanos mais emplumados e experientes, Sérgio Guerra, Álvaro Dias, Eduardo Azeredo (o histórico grande artífice de todos os mensalões), Marconi Perillo, Roberto Freire (o "tucano de periferia"), o Kassab (o "tucano regra três") e o Garotinho que, embora não sendo demo nem tucano, na última hora pediu pra entrar nessa Ala, pois quer ficar de olho na Rosinha, já que não confia nem um pouco que o trapalhão do Arruda possua gabarito suficiente para dar a ela boas aulas de rodopio com a bandeira azul, verde e branco do Mensalão do DEMOS. Como aprendiz que ela ainda é, não convém se deixar flagrar ao escorregar e cair na tentação em plena avenida, diante dos jurados do "Samba, Tradição & Fuzarca" (STF) e das câmeras ocultas dos arapongas X-9, tipo Dadá do Cachoeira.

Já o contrito Bispo Macedo, refinado como ele é, astuto Diretor de Harmonia, não teve maiores dificuldades. Ali mesmo e em troca dos trocados abençoados, ele concordou com o pedido do Garotinho, e sem pestanejar fez uma prece com o olhar revirado pro Céu - que os maledicentes logo interpretaram como uma nova versão da Oração do Mensalão -, piscou duas vezes pro evangélico Garotinho, sem titubear pegou dele o calhamaço de notas e, numa rapidez incrível, acomodou tudo num esconderijo secreto entre suas pelhancas do tronco das coxas com as nádegas.

Já a turma dos garis será comandada por ninguém menos que Boris Casoy, claro, um privilégio que depois de muito empenho, ele conseguiu com o ilibado governador Cabral, um ex-tucano, acatando uma recomendação do seu 'capo' Fernando Cavendish, agora dono nas sombras da Empreiteira Delta, por conta de uma carona rapidamente aceita no jatinho do empresário pra próxima temporada de compras parisienses com todas as mulheres, primas, cunhadas, amantes e sogras dispostas em caravana a renovar por lá o estoque de calçados da nova temporada.

Como sabemos Casoy possui uma indiscutível afinidade com essa turma de macacão laranja da Comlurb, desde quando no Natal de 2010 os desancou no ar, ao não perceber que o áudio ainda estava aberto. Nelson Jobim, fantasiado com uniforme camuflado de selva, concreto e asfalto se encarregará da segurança contando com o apoio velado do ex-Secretário de Segurança da Rosinha Garotinho, Álvaro Lins, que embora se encontre na cadeia, condenado que foi por sua exemplar conduta corporativa no gerenciamento de milícias devidamente conciliada com a pose de Secretário de Governo, prometeu um suporte discreto, mas eficaz.

Os jurados estarão sob o comando de Joaquim Barbosa, que, com o egrégio assentimento de quase todos os seus pares do órgão máximo do "Samba, Tradição & Fuzarca" (STF) também será encarregado das apurações. Perfeito, da forma como ele exigiu. Alegando dores insuportáveis no quartos praticamente impôs que nesse caso, primeiro se apure os votos e depois, se for assim tão necessário, se julgue cada um dos quesitos dos carnavalescos, num delírio tão fantasioso que a Corte Internacional que rege os carnavais do mundo todo, tão logo soube, pediu vistas.

Roberto Gurgel, o exemplar Procurador Geral da Liga, seu manhoso e celebrado assistente, assentiu levantando o dedão pro alto e ao dar o ok pra essa artimanha digna de registro nos anais forenses, consagrou uma prática jurídica que ainda vai dar muita dor de cabeça aos futuros carnavalescos que porventura pensem em burlar as ancestrais regras de presunção de inocência e virgindade das candidatas a Rainha da Bateria, dos destaques e passistas de samba no pé, bem como da necessária apresentação de provas insofismáveis que são habilidosas Portas-Bandeiras para um desfile impecável em termos puramente burlescos no surrupio do dinheiro público sem se deixar flagrar. Dessa forma, Barbosa prometeu que os resultados sairão antes das Olimpíadas de 2016 ou antes dele ficar entrevado de vez, o que acontecer primeiro.

Dadá, homem da absoluta confiança de seu amigo Carlinhos Cachoeira e seus colegas arapongas ficarão com o encargo de fingir que empurram os carros alegóricos, na verdade movidos por um motorzinho que eles produziram "Sem Autorização da Justiça" e muito menos do STF, embora digam que este teria feito vista grossa por se tratar de amigos tucanos, "tutti buona genti".

Na especial Arquibancada 7, reservada aos turistas mais bem aquinhoados, veremos José Sarney, tendo a tiracolo, Renan Calheiros e Jader Barbalho, todos do PMDB, um do Senado e outro da Câmara, um de cada lado, cercados por garçons, serventes e seguranças, estes a cargo das honradas milícias do deputado tucano Marcelo Itagiba, depois que ele defenestrou delas o Álvaro Lins. O senador Presidente do Congresso, liderando e sendo reverenciado por seus pares de homens e mulheres probos, tanto os das Bancadas Ruralista e Evangélica quanto os dos seus apaniguados no Ministério dos Transportes e no de Minas e Energia, todos presentes para aplaudir o desfile tucano, estarão muito bem instalados em poltronas confortáveis, bem nutridos, cercados de geladeirinhas térmicas recheadas com vinhos, quitutes e guloseimas, fartos de tantos privilégios.

Só falta a mídia, representada na sua totalidade pela impoluta Família GAFE da Imprensa e seu partido, o PIG, o Partido da Imprensa Golpista. Toda a cobertura jornalística e televisiva ficará a cargo do sinistro, mas casto, Roberto Civita, da Veja (mas não leia) tendo como Primeiro Assistente o Policarpo Jr., da Veja-Brasília, amigo, mais do que íntimo, do ilustre Patrono da Escola, o mais do que afamado bicheiro Carlinhos Cachoeira. Os comentaristas escalados para o "aquário" serão o Reinaldo Azevedo, também da Veja, fantasiado de matuto caipira que, por sinal, lhe cai muito bem e o fugitivo Diogo Mainardi (ex-Veja) que, devido as circunstâncias, virá fantasiado com máscaras venezianas pra não dar na vista, mas criativamente adaptadas das dos Irmãos Metralha. Todos do primeiro escalão, dessa que é ou já foi a maior revista semanal da América Latina, embora o Alexandre Garcia, da Globo News, garanta, devido sua intimidade de longa data com os porões da ditadura militar, que há controvérsias no submundo da máfia midiática.

Para o início dos desfiles escalaram a Miriam Leitão, do Globo, em especial pra entrevistar o carnavalesco da Escola, o irrequieto e inefável Geraldo Alckmin, o truculento tucano governador de São Paulo, destacado apreciador de xuxu, "a la Opus Dei". Na verdade a única função da Miriam ali é agourar - especialista que é nesse metier - pra que as demais escolas desfilem mal e a GRES-UMT volte a ser, uma vez mais, a campeã das urnas paulistanas, como tanto deseja o carnavalesco Alckmin. Pra pista também, infiltrado entre os passistas, escalaram o experiente Augusto Nunes (já andou por tudo quanto é mídia, agora está na Veja e, como não poderia deixar de ser, também na Globo News) pra que ele recorde com entusiasmo juvenil, seus tempos de estudante quando, infiltrado no movimento estudantil, funcionava maravilhosamente bem como alcaguete da ditadura.

Pros camarotes, por conta da sua Imortalidade adquirida a prestações, mas com o aval da família Malina, digo Marinho, vai o Merval Pereira, do Globo, fantasiado com o Fardão da Academia e, claro, representando a tal família. Vai levar vários exemplares dos seus dois únicos livros que escreveu, mas que nem a família leu. Não haverá autógrafos, servirão apenas para distribuição gratuita entre aqueles que já estiverem completamente embriagados, pois no dia seguinte jamais saberão ao certo como aquele troço foi parar nas suas mochilas. Entretanto, sua mais destacada missão será entrevistar o William Waack, da Globo News, que no camarote dos EEUU, representará o governo americano e o casal William Bonner & Fátima Bernardes, da TV Globo, que no britânico, posarão como se fossem Suas Altezas Imperiais Britânicas, tudo por conta do servilismo colonial, ainda muito em voga e considerado chique entre esses súditos da nobreza capitalista mundial.

Pra "Dispersão", na Praça da Apoteose, foi designada a Eliane Cantanhede, da Folha e da Globo News. Ninguém melhor que a Musa da Febre Amarela, já que não se pode imaginar uma musa que não seja tão dispersiva, roxa de carteirinha, especializada que é em qualquer tratamento de doenças graves ou leves em geral, biomas de partes remotas da região amazônica, Muamar Khadafi, Bashar-Al-Assad e outros árabes notáveis e suas vertentes islâmicas, além das sutilezas tecnológicas de caças ultra modernos adequados pra nossa FAB.

Já pro meio da galera das últimas arquibancadas, as do povão, ainda cogitaram escalar o Luiz Carlos Prates, agora no SBT, depois que foi expulso da RBS, a Rede Brasil Sul, afiliada da Rede Globo, por conta das insuportáveis asneiras que ele vociferava no ar atribuindo  à Classe C a culpa pelos transtornos no trânsito e as mortes nas estradas. Mas quando chegaram a conclusão que, no ardor da sua demência ele seria capaz de, em pleno Setor 11 da Apoteose, o dos personagens distintos desse vasto Brasil dos excluídos, aqueles conhecidos como Classe E e alguns penetras da F, já no limiar da "Dispersão", quando todos estão alvoroçados, ele tirar a roupa só pra mostrar que por baixo estará fantasiado de "chiquita bacana, lá da Martinica" com apenas uma vulgar casca de banana nanica enfiada entre as pernas como um tapa-sexo pouco criativo, acharam por bem desconvidá-lo, e por medida de segurança, ainda interná-lo no Hospital Souza Aguiar, pra desfrutar do inigualável conforto do maior hospital público da América Latina, no lado mais melancólico e esquecido do centrão do Rio.


Assim, com essa equipe, cuja parte técnica estará integralmente sob controle do Arnaldo Jabor, da CBN, os telespectadores terão a garantia de que não assistirão porra nenhuma do que realmente vai acontecer na avenida, mestre que ela é em escamotear a verdade, inventando reportagens (a Dilma Roussef-Dulce Maia, do Elio Gaspari, no Globo e na Folha), imagens (a Ficha falsa da Dilma, na Folha), entrevistas (Renato Maurício Prado, ex-Sport TV, na Veja-Rio e a recentíssima envolvendo supostas declarações do Marcos Valério, na Veja), eventos (a bolinha de papel na careca do Serra, no Globo), declarações (todas as do Lula, habilmente distorcidas, como as supostamente ditas por ele no encontro com Gilmar Mendes e Nelson Jobim), pois jornalismo pra essa turma nada mais é do que botar nas bancas e na casa dos assinantes, em primeiro lugar, somente aquilo que for agradável ao paladar mediano, ao juntar em qualquer formato, lazer com fofocas de "celebridades", patifarias falsas e verdadeiras dos políticos com dietas seguras pra emagrecer, pincelando isso tudo com as disputas por fiéis e seus dízimos entre líderes evangélicos e as últimas descobertas da medicina com alguns lançamentos da informática.

Isso vem a ser quase a totalidade do que necessitam para garantir ou aumentar a receita, sem descuidar, claro, da indispensável "aura de credibilidade" que deixam transparecer em algumas páginas raivosas que baixam a ripa exclusivamente no PT e nos textos recheados de invencionices da lavra da maioria de seus articulistas, verdadeiros paus-mandados a soldo dos patrões, para que uns e outros executem algo similar ao papel que a cereja, com galhardia, cumpre no Martíni.

Me ocorre lembrar, que foi nesses moldes que Günter Wallraff, jornalista e escritor alemão, na década de 1970, aludiu ao jornal Bild, do grupo empresarial alemão Springer, quando escreveu o seu "Fábrica de Mentiras". E é sem tirar nem por, o que Sylvia Debossan Moretzsohn, jornalista, escritora e professora da Universidade Federal Fluminense, escreveu na Edição 710, do Observatório da Imprensa, em seu artigo de 04/09/2012, "longa tradição das 'entrevistas' inventadas". Nossa mídia GAFE tem se mostrada em geral, uma aluna, dessas que nunca faltam aos ensaios nos barracões, praticante exemplar desse jornalismo de esgoto.

Mas, voltemos ao desfile pra concluir. Finalmente, o presidente da Liga, já contemplado com uma extensa ficha corrida, o honrado Daniel Dantas, dono do Grupo Opportunity, assessorado pelo não menos íntegro Índio da Costa, o ex-vice do Serra, que recentemente levou à falência o Banco Cruzeiro do Sul, em meio à denúncias cabeludas de malversação do dinheiro dos aplicadores e pelo ativo empreendedor e homem de visão, Ricardo Teixeira (ex-CBF, em conluio com João Havelange e, claro, a mando da família Marinho) já estabeleceu que, no Grupo Especial, aquela Ala Tucana campeã dos Barrados do Ficha-Limpa, deve compor-se com a jovem e promissora Ala dos Tucanalhas do Amanhã, sob a liderança do Otavinho Frias, dono da Folha, o jornal que, além de estampar uma ficha falsa da presidenta Dilma Roussef e não pedir desculpas pela safadeza, não se cansou de ceder seus veículos a notáveis figuras da ditadura militar, para a prisão, tortura e morte dos que, na década de 1970, bravamente, a ela resistiam em São Paulo.

- Aí, não tem pra mais ninguém, está tudo dominado, anunciou em manchete o Estadão, a mando do Serra, e emocionado e aos berros o Paulo Preto, tudo pronto enfim pra ser o Mensalão Campeão, disse ele, enredo e apresentação tão esperados do invencível Grêmio Recreativo Escola de Samba Unidos no Mensalão Tucano (GRES-UMT) que não perde nenhum dos desfiles de São Paulo, há quase 20 anos.

Como viram, esse Mensalão Tucano não é coisa pra principiantes, dado o número, patentes e biografias dos envolvidos. Assim, esses estreantes do Barrados do Ficha-Limpa e que agora, como campeões do Grupo de Acesso, vão participar da Ala dos Tucanalhas do Amanhã, no vitorioso Grêmio Recreativo Escola de Samba Unidos no Mensalão Tucano (GRES-UMT), podem se orgulhar e estar certos de que encontrarão nele o ambiente propício ao desenvolvimento de suas habilidades, já inicialmente testadas e comprovadas nessa recente vitória.

Portanto, desde já, podem todos, novatos e veteranos, encomendar o chope. Com uma ressalva. Saibam que essa distribuição e seu rigoroso controle ficarão exclusivamente a cargo do confiável e abstêmio mineiro Aécio Neves, o rei do bafômetro carioca, que há longa data vem acompanhando das coxias e do seu apartamento do Leblon, todos os ensaios da Escola, tendo já consumado com êxito alguns novos lances experimentais nos desfiles da Belo Horizonte das Alterosas. É o mais bem cotado come quieto, candidato único a suceder o atual presidente da Liga.


"Nuvens plúmbeas estacionam no horizonte", disse Mino Carta, mas as metáforas que protagonizaram este enredo e pretenderam interpretar Boal sob as luzes de uma passarela do samba qualquer, a avenida onde ainda vai desfilar o Grêmio Recreativo Escola de Samba Unidos no Mensalão Tucano são apenas componentes desse imenso palco de um teatro do tamanho do Brasil oprimido, onde apenas veremos uma representação do real, não o real.

Afinal, dizem os esperançosos, a realidade às vezes e ao final das contas, costuma ser até um pouco melhor do que a ficção, do tipo dessa que acabamos de descrever.

"Se mudança houve, que seja." Tomara!


(*) Antonio Fernando Araujo é colaborador deste blog