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domingo, 2 de março de 2014

Carnaval na Criméia

28/02/2014 - Pepe Escobar - Asia Times Online
– The Roving Eye - “Carnival in Crimea”
- Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu - Redecastorphoto

Mapa político da Ucrânia e principais cidades e fronteiras - ao sul, a península da Crimeia

O tempo não espera por ninguém, mas, parece, esperará pela Crimeia.

O presidente do Parlamento da Crimeia, Vladimir Konstantinov, confirmou que haverá um referendo, que decidirá sobre maior autonomia em relação à Ucrânia, dia 25 de maio.

Até lá, a Crimeia permanecerá tão quente e fumegante quanto o carnaval no Rio – porque na Crimeia tudo tem a ver, sempre, com Sebastopol, o porto de atracação da Frota Russa do Mar Negro.

Se a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) é um touro, esse é o pano vermelho mãe de todos os panos vermelhos.

Ainda que você esteja tentando afogar todas as suas mágoas no nirvana movido a álcool e pulando para suar todos os seus problemas no carnaval no Rio – ou em Nova Orleans, ou Veneza, ou Trinidad e Tobago – mesmo assim seu cérebro registrou que o sonho mais molhado dos sonhos molhados da OTAN é instalar um governo fantoche do ocidente na Ucrânia, para despachar de lá, de sua base em Sebastopol, a marinha russa.

O arrendamento negociado do porto é vigente até 2042. Já há rumores e ameaças de que o arrendamento será cancelado.

Mapa da Crimeia com suas cidades principais e a vizinhança da Rússia

A península da Crimeia é habitada por maioria absoluta de falantes de russo. Pouquíssimos ucranianos vivem ali. Em 1954, o ucraniano Nikita Krushchev – aquele, o que bateu o sapato na mesa, na Assembleia Geral da ONU [1] – precisou só de 15 minutos para dar a Crimeia de presente à Ucrânia (então, parte da União Soviética). Na Rússia, a Crimeia é vista como russa. Nada mudará esse fato.

Ainda não estamos diante de uma nova Guerra da Crimeia – ainda não. Só um pouco. O sonho molhado da OTAN é uma coisa; outra coisa, muito diferente, é fazê-lo acontecer: tipo pôr fim para sempre à rotina de a frota russa deixar Sebastopol pelo Mar Negro, pelo Bósforo, e assim chegar a Tartus, o porto mediterrâneo da Síria. Assim sendo, sim, sim, trata-se tanto de Crimeia, quanto de Síria.

Mapa Étnico linguístico-cultural da Ucrânia atual

A nova revolução ucraniana cor de laranja, de tangerina, de Campari, de Aperol Spritz ou de Tequila Sunrise parece, até aqui, ser resposta às preces da OTAN. Mas ainda há estrada longa e sinuosa a percorrer, antes de a OTAN conseguir reencenar os anos 1850s e produzir o remix da Guerra da Crimeia original.

No futuro à vista e previsível, seremos afogados num mar branco de platitudes. Como o El Supremo do Pentágono, Chuck Hagel [caricatura], “avisando” a Rússia que fique longe do torvelinho, enquanto ministros da Defesa da OTAN lançam toda a pilha indispensável de declarações, em nenhuma das quais se lê “garantindo integral apoio” à nova liderança, e paus mandados da imprensa-empresa universal repetem sem parar que não se trata de Nova Guerra Fria, para tranquilizar a população. [2]

Dancem conforme a minha estratégia, otários

Onde está HL Mencken, quando se precisa dele? Ninguém jamais perdeu dinheiro subestimando a capacidade de mentir do sistema Pentágono/OTAN/CIA/Departamento de Estado dos EUA. 

Especialmente agora, quando a política para a Ucrânia do governo Obama parece ter sido subalugada à turma da neoconservadora Victoria "Foda-se a União EuropeiaNuland, casada com Robert Kagan, neoconservador queridinho de Dábliu Bush.

Como Immanuel Wallerstein já observou, Nuland, Kagan e a gangue neoconservadora estão tão aterrorizados ante a possibilidade de a Rússia dominar” quanto ante o surgimento de uma aliança geoestratégica que pode emergir lentamente, e bastante possível, entre a Alemanha (com a França como parceiro júnior) e a Rússia. 

Significaria o coração da União Europeia constituindo um contrapoder, de oposição ao abalado e oscilante poder norte-americano.

E, como atual encarnação do abalado poder norte-americano, o governo Obama é, sim, um fenômeno. 

Agora, estão perdidos no pântano que eles próprios inventaram, do tal “pivô”. Que pivô vem primeiro? Aquele na direção da China? Mas, nesse caso, temos de pivotear-nos, antes, para o Irã – para pôr fim à ação dispersiva, lá, no Oriente Médio. Ou quem sabe...? Talvez não.

Ouçam essa, a melhor, do secretário de Estado John Kerry [foto fantasia abaixo], sobre o Irã:

"Tomamos a iniciativa e lideramos o esforço para tentar ver se antes de irmos à guerra realmente poderia haver uma solução pacífica."

Quer dizer então que já não se trata de acordo nuclear a ser alcançado, talvez, em 2014. Nada disso. Agora se trata de “antes de irmos à guerra”. Trata-se de bombardear um possível acordo, para que o Império possa bombardear mais um país – outra vez. Ou, talvez, não passa de sonho molhado fornecido pelos patrões dos fantoches Likudniks.

O grande Michael Hudson especulou que um “xadrez multidimensional” poderia estar “guiando os movimentos dos EUA na Ucrânia”

Nada disso. Está mais para “se não podemos nos pivotear para a China – ainda – e se a pivotagem para o Irã vai falhar (porque desejamos que falhe), podemos nos pivotear para algum outro lugar...” 

Oh yes, tem aquele maldito país que nos impediu de bombardear a Síria; chamado “Rússia”. E tudo isso sobre o comando ilustrado de Victoria Foda-se a União Europeia” Nuland. Onde está um neo-Aristófanes, para escrever a história dessas comédias?

E ninguém jamais esqueça a imprensa-empresa. A CNN já começou a “Amanpourear” [ref. a Christiane Amanpour [foto]; equivale aos verbos “Jaborizar (derivado de Jabor)” ou “Waackear (der. de Waack)”, em português do Brasil (NTs)] sobre o Acordo de Budapeste – e só fazem repetir que a Rússia tem de ficar fora da Ucrânia.

Visivelmente, uma horda de produtores, todos com “índices” de audiência desabados, sequer se deram o trabalho de ler o Acordo de Budapeste, o qual, como o professor Francis Boyle da Universidade de Illinois lembrou "determina, isso sim, que EUA, Rússia, Ucrânia e Grã-Bretanha têm de reunir-se imediatamente, para “consulta” conjunta – e que a reunião tem de ser feita no nível de ministros de Relações Exteriores, pelo menos”.

Assim sendo, então... Quem paga as contas?

O novo primeiro-ministro da Ucrânia, Arseniy Yatsenyuk, é – e o que mais seria?! – um tecnocrata reformador”, expressão em código para “fantoche do ocidente”. [3]

Ucrânia está convertida em caso perdido (rebentado). A moeda caiu 20% desde o início de 2014. Milhões de desempregados europeus sabem que a União Europeia não tem dinheiro para resgatar o país (talvez os ucranianos devam pedir algumas dicas ao ex-primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi).

Em termos do Oleogasodutostão, a Ucrânia é apêndice da Rússia; o gás que transita pela Ucrânia para mercados europeus é gás russo. E a indústria ucraniana depende do mercado russo.

Examinemos mais de perto os bolsos dos novos “revolucionários” cor de Aperol Spritz. Todos os meses, a conta de gás natural importado da Rússia fica em torno de US$ 1 bilhão. Em janeiro, o país teve de despender também US$ 1,1 bilhão para pagar dívidas. As reservas em moeda estrangeira caíram, de US$ 20,4 bilhões, para US$ 17,8 bilhões. A Ucrânia tem de pagar, como 
pagamento mínimo da dívida, nada menos de $17 bilhões  em 2014. E tiveram até de cancelar um lançamento de $2 bilhões de eurobonds, semana passada.

Francamente: o presidente Vladimir Putin – codinome “Vlad, A Marreta” – deve estar rindo feito o gato de Cheshire [4] [imagem].

Pode simplesmente cancelar o significativo desconto de 33% no preço do gás natural importado, que deu a Kiev, no final do ano passado. 

Rumores insistentes já dizem –desesperançados – que os revolucionários da revolução cor de Aperol Spritz não terão dinheiro para pagar aposentadorias e salários dos funcionários públicos.

Em junho, vence uma dívida monstro, em mãos de vários credores (no total, cerca de US$ 1 bilhão). Depois disso, a coisa é mais sinistra, desolada e escura que o norte da Sibéria no inverno.

A oferta dos EUA, de $1 bilhão, é piada. E tudo isso, depois que a estratégia de “Foda-se a União Europeia” de Victoria Nuland torpedeou um governo ucraniano de transição – transição, por falar dela, negociada pela União Europeia – que teria mantido os russos a bordo, e o dinheiro deles.

Sem a Rússia, a Ucrânia dependerá totalmente do ocidente para pagar as próprias contas, para nem falar de tentar evitar o calote de todas as dívidas. O total alcança vertiginosos $30 bilhões, até o final de 2014.

Diferente do Egito, a Ucrânia não pode telefonar para a Casa de Saud e pedir cataratas de petrodólares. Aquele empréstimo de US$ 15 bilhões que a Rússia ofereceu recentemente chegaria em boa hora – mas Moscou tem de receber algo em troca.

A ideia de que Vladimir Putin [imagem por Maurício Porto] ordenará ataque militar contra a Ucrânia explica-se pelo quociente subzoológico de inteligência da imprensa-empresa nos EUA.

Vlad, A Marreta” só precisa assistir ao circo – o ocidente batendo cabeça para ver se arranja aqueles bilhões a serem desperdiçados num caso perdido (rebentado).

Ou ao Fundo Monetário Internacional e aquela conversa sinistra de mais um monstruoso “ajuste estrutural” para mandar a população da Ucrânia de volta ao Paleolítico, de vez.

A Crimeia pode até encenar seu próprio carnaval adiado, votando não só para ter mais autonomia, mas, também, para livrar-se do tal caso perdido (rebentado). Nesse caso, Putin receberá a Crimeia de presente, grátis – à moda Krushchev. Não é mau negócio.

E tudo graças àquela oh! tão estratééégica pivoteação contra a Rússia, com o “Foda-se a União Europeia”.
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Notas de rodapé
- Khrushchev e o sapato 
[1] A foto da primeira página do New York Times do dia 12/10/1960 mostrava Khrushchev com um sapato na mão e a manchete “Rússia novamente ameaça o mundo. Dessa vez, com o sapato do líder”. 
Mas, pouco depois, pessoas presentes à Assembleia Geral da ONU que se realizara na véspera corrigiram a notícia e a manchete: Khrushchev não batera com o sapato no púlpito principal, mas na própria mesa; e não para ameaçar alguém, apenas para chamar a atenção.

Sergei Khrushchev conta
Quando Nikita Sergeevich entrou no salão, estava cercado de jornalistas; um deles pisou no seu calcanhar e arrancou-lhe o sapato. Khrushchev, bastante gordo, não quis expor-se ao ridículo de procurar o próprio sapato e calçá-lo ali, em pé, à vista das câmeras. Andou então diretamente para sua mesa e sentou-se; o sapato, embrulhado num guardanapo, foi trazido por alguém e posto sobre a mesa.
Naquele momento, um delegado filipino disse que a União Soviética havia engolido’ a Europa Oriental, “privando-a de seus direitos civis e políticos”. A frase causou tumulto e protestos na sala. Um delegado romeno saltou em pé e pôs-se a gritar contra o diplomata filipino. Nesse ponto, Khrushchev quis intervir na discussão, mas o delegado irlandês, que presidia a discussão, não o viu. Khrushchev acenou com uma mão, depois com a outra. Sem resultado, ele pegou o sapato que ainda estava sobre a mesa e o agitou no ar. Ainda sem resultado, ele bateu o sapato, com força, na mesa. O irlandês afinal olhou na direção dele e o viu

[2] 26/2/2014, Daily Telegraph em: “US and Britain say Ucrânia is not a battleground between East and West”.

[3] 27/2/2014, Voice of America, em: “Biden: U.S. Supports Ucrânia's New Government” 

[4] Cheshire Cat com a banda Blinck 182 com letra mostrada no vídeo (em inglês) a seguir:


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[*] Pepe Escobar (1954) é jornalista, brasileiro, vive em São Paulo, Hong Kong e Paris, mas publica exclusivamente em inglês. Mantém coluna (The Roving Eye) no Asia Times Online; é também analista de política do blog Tom Dispatch e correspondente/ articulista das redes Russia Today, The Real News Network Televison e Al-Jazeera. Seus artigos podem ser lidos, traduzidos para o português pelo Coletivo de Tradutores da Vila Vudu e João Aroldo, no blog redecastorphoto.

Livros:
− Globalistan: How the Globalized World is Dissolving into Liquid War, Nimble Books, 2007.
− Red Zone Blues: A Snapshot of Baghdad During the Surge, Nimble Books, 2007. 
− Obama Does Globalistan, Nimble Books, 2009.

Fonte:
http://redecastorphoto.blogspot.com.br/2014/02/pepe-escobar-carnaval-na-crimeia.html

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

O silencioso golpe militar que se apoderou de Washington

25/09/2013 - Por John Pilger (*) - no The Guardian, da Grã Bretanha
- extraído do Portal Carta Maior - Tradução: Liborio Júnior

Na parede tenho exposta a primeira página do Daily Express [foto] de 5 de setembro de 1945 com as seguintes palavras: "Escrevo isto como uma advertência ao mundo".

Assim começava o relatório de Wilfred Burchett [fotos] sobre Hiroshima. Foi a notícia bomba do século.

Com motivo da solitária e perigosa viagem com a qual desafiou as autoridades de ocupação estadunidenses, Burchett foi colocado na picota, sobretudo por parte de seus colegas.

Avisou que um ato premeditado de assassinato em massa a uma escala épica acabava de dar o disparo de partida para uma nova era de terror.

Na atualidade, [a advertência de] Wilfred Buirchett está sendo reivindicada pelos fatos quase todos os dias.

A criminalidade intrínseca da bomba atômica foi corroborada pelos Arquivos Nacionais dos EUA e pelas ulteriores décadas de militarismo camuflado como democracia. O psicodrama sírio é um exemplo disso.

Uma vez mais somos reféns da perspectiva de um terrorismo cuja natureza e história continuam sendo negadas inclusive pelos críticos mais liberais.

A grande verdade inominável é que o inimigo mais perigoso da humanidade está do outro lado do Atlântico.

A farsa de John Kerry e as piruetas de Barack Obama são temporais.

O acordo de paz russo sobre armas químicas será tratado ao cabo do tempo com o desprezo que todos os militaristas reservam para a diplomacia.

Com a al-Qaeda figurando agora entre seus aliados e com os golpistas armados pelos EUA solidamente instalados no Cairo, os EUA pretendem esmagar os últimos Estados independentes do Oriente Próximo: primeiro a Síria, depois o Irã.

"Esta operação [na Síria]", disse o ex-ministro de exterior francês Roland Dumas [foto] em junho, "vem de muito antes. Foi preparada, pré-concebida e planejada".

Quando o público está "psicologicamente marcado", como descreveu o repórter do Canal 4, Jonathan Rugman, a esmagadora oposição do povo britânico a um ataque contra a Síria, a supressão da verdade se converte em tarefa urgente.

Seja ou não verdade que Bashar al-Assad ou os "rebeldesutilizaram gás nos subúrbios de Damasco, são os EUA, não a Síria, o país do mundo que utiliza essas terríveis armas de forma mais prolífica.

Em 1970 o Senado informou: "Os EUA derramaram no Vietnã uma quantidade de substâncias químicas tóxicas (dioxinas) equivalente a 2,7 quilos por cabeça".

Aquela foi a denominada Operação Hades, mais tarde rebatizada mais amavelmente como Operação Ranch Hand, origem do que os médicos
vietnamitas denominam "ciclo de catástrofe fetal".

Vi gerações inteiras de crianças afetadas por deformações familiares e monstruosas [abaixo].

John Kerry, cujo expediente militar escorre sangue, seguramente que os lembra.

Também os vi no Iraque, onde os EUA utilizaram urânio empobrecido e fósforo branco, como o que fizeram os israelenses em Gaza.

Para eles não houve as "linhas vermelhas" de Obama, nem o psicodrama de enfrentamento.

O repetitivo e estéril debate sobre se "nós" devemos "tomar medidas" contra ditadores selecionados (ou seja, se devemos aplaudir os EUA e seus acólitos em outra nova matança aérea) forma parte de nosso lavado de cérebro.

Richard Falk [abaixo], professor emérito de Direito Internacional e relator especial da ONU sobre a Palestina, o descreve como "uma máscara legal/moral unidirecional com anseios de superioridade moral e cheia de imagens positivas sobre os valores ocidentais e imagens de inocência ameaçada cujo fim é legitimar uma campanha de violência política sem restrições".

Isso "está tão amplamente aceito que é praticamente impossível de questionar".

Se trata da maior mentira, parida por "realistas liberais" da política anglo-estadunidense e por acadêmicos e meios de comunicação auto proclamados gestores da crise mundial mais que como causantes dela.

Eliminando o fator humanidade do estudo dos países e congelando seu discurso com uma linguagem a serviço dos desígnios das potências ocidentais, endossam a etiqueta de "falido", "delinquente" ou malvado aos Estados aos que depois infligirão sua "intervenção humanitária".

Um ataque contra a Síria ou Irã ou contra qualquer outro demônio estadunidense se baseará em uma variante de moda, a "Responsabilidade de Proteger", ou R2P, cujo fanático pregoeiro é o ex-ministro de Relações Exteriores australiano Gareth Evans [abaixo], co-presidente de um "centro mundialcom base em Nova Iorque.

Evans e seus grupos de pressão generosamente financiados jogam um papel propagandístico vital instando a "comunidade internacional" a atacar os países sobre os quais "o Conselho de Segurança resiste aprovar alguma proposta ou que recusa abordá-la em um prazo razoável".

O de Evans vem de longe. O personagem já apareceu em meu filme de 1994, Death of a Nation, que revelou a magnitude do genocídio no Timor Leste.

risonho homem de Canberra alça sua taça de champanhe para brindar por seu homólogo indonésio enquanto sobrevoam o Timor Leste em um avião
australiano depois de haver firmado um tratado para piratear o petróleo e gás do devastado país em que o tirano Suharto assassinou ou matou de fome um terço da população.

Durante o mandato do "débil" Obama o militarismo cresceu talvez como nunca antes.

Ainda que não haja nenhum tanque no gramado da Casa Branca, em
Washington se produziu um golpe de Estado militar.

Em 2008, enquanto seus devotos liberais enxugavam as lágrimas, Obama aceitou em sua totalidade o Pentágono que lhe legava seu predecessor George W. Bush, completo com todas suas guerras e crimes de guerra.

Enquanto a Constituição vai sendo substituída por um incipiente Estado policial, os mesmos que destruíram o Iraque a base de comoção e pavor, que converteram o Afeganistão em uma pilha de escombros e que reduziram a Líbia a um pesadelo hobbesiano, esses mesmos são os que estão ascendendo na administração estadunidense.

Por trás de sua amedalhada fachada, são mais os antigos soldados estadunidenses que estão se suicidando que os que morrem nos campos de batalha.

No ano passado 6.500 veteranos tiraram suas vidas. A colocar mais bandeiras.

O historiador Norman Pollack chama isso de "liberal-fascismo":

"Em lugar de soldados marchando temos a aparentemente mais inofensiva militarização total da cultura. E em lugar do líder grandiloquente temos um reformista falido que trabalha alegremente no planejamento e execução de assassinatos sem deixar de sorrir um instante".


Todas as terças-feiras, o "humanitário" Obama supervisiona pessoalmente uma rede terrorista mundial de aviões não tripulados que reduz a mingau as pessoas, seus resgatadores e seus doentes.

Nas zonas de conforto do Ocidente, o primeiro líder negro no país da escravidão ainda se sente bem, como se sua mera existência supusesse um avanço social, independentemente do rasto de sangue que vai deixando.

Essa obediência a um símbolo destruiu praticamente o movimento estadunidense contra a guerra. Essa é a particular façanha de Obama.

Na Grã Bretanha as distrações derivadas da falsificação da imagem e da identidade políticas não triunfaram completamente.

A agitação já começou, mas as pessoas de consciência deveriam apressar-se. 

Os juízes de Nuremberg foram sucintos: "Os cidadãos particulares têm a obrigação de violar as leis nacionais para impedir que se perpetrem crimes contra a paz e a humanidade".

As pessoas normais da Síria, e muito mais gente, como nossa própria autoestima, não se merecem menos nestes momentos.

(*) John Pilger é jornalista do The Guardian, Grã Bretanha. Em “Bitácora”, do Uruguai.

Fonte:
http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=22772

quarta-feira, 19 de junho de 2013

A verdade proibida

16/06/2013
- A verdade proibida: os EUA estão a canalizar armas químicas para a Al Qaeda na Síria
- por Michel Chossudovsky - site Resistir.info, de Portugal

Obama é um mentiroso e um terrorista 
– Quem cruzou a "Linha vermelha"? 
Obama e John Kerry apoiam uma organização terrorista que consta na lista negra do Departamento de Estado.


Estará o presidente Obama a preparar o cenário para uma "intervenção humanitária" ao acusar displicentemente o presidente sírio de matar o seu próprio povo? 

"Na sequência de uma revisão deliberativa, nossa comunidade de inteligência estima que o regime Assad utilizou armas químicas, incluindo o agente de nervos sarin, em pequena escala contra a oposição múltiplas vezes durante o ano passado

O vice-conselheiro de segurança nacional da Casa Branca, Ben Rhodes, afirmou numa declaração: "Nossa comunidade de inteligência tem alta confiança naquela estimativa devido a múltiplas e independentes fontes de informação". 

Obama avisou o presidente Bashar Al Assad das "enormes consequências" de ter cruzado a "linha vermelha" ao alegadamente utilizar armas químicas. 

Dinheiro e armas para a Al Qaeda 
A saga das armas de destruição maciça (ADM) no Iraque, com base em provas falsificadas, está a desdobrar-se. Os media ocidentais em coro acusam implacavelmente o governo sírio de assassínio em massa premeditado, conclamando a "comunidade internacional" a vir resgatar o povo sírio. 

A Síria transpõe a "linha vermelha" sobre armas químicas. Como responderá Obama? 

A "oposição" síria está a clamar junto aos EUA e seus aliados para que implementem uma zona de interdição de voo (no fly zone). 

A Casa Branca por sua vez reconheceu que a linha vermelha "fora cruzada", enfatizando ao mesmo tempo que os EUA e seus aliados "aumentarão o âmbito e a escala da assistência" aos rebeldes. 

O pretexto das armas químicas está a ser utilizado para justificar ainda mais ajuda militar aos rebeldes, os quais em grande parte foram liquidados pelas forças do governo sírio. 

Estas forças rebeldes derrotadas – em grande parte compostas pela Al Nusrah, associada à Al Qaeda – são apoiadas pela Turquia, Israel, Qatar e Arábia Saudita. 

Os EUA-NATO-Israel perderam a guerra no terreno. Seus combatentes da Frente Al Nusrah, os quais constituem a infantaria da aliança militar ocidental, não podem, sob quaisquer circunstâncias, serem repostos através de um fluxo renovado de ajuda militar dos EUA-NATO

A administração Obama está num impasse: a sua infantaria foi derrotada. Uma "zona de interdição de voo", nesta etapa, seria uma proposta arriscada dado o sistema de defesa aérea da Síria, o qual inclui o sistema russo S-300 SAM.

Os EUA-NATO estão a treinar rebeldes da "oposição" na utilização de armas químicas 

As acusações de armas químicas são falsificadas. Numa ironia amarga, as provas confirmam amplamente que as armas químicas estão a ser utilizadas não pelas forças do governo sírio mas sim pelos rebeldes da Al Qaeda apoiados pelos EUA. 

Numa lógica enviesada pela qual as realidades são invertidas, o governo sírio está a ser acusado pelas atrocidades cometidas pelos rebeldes associados a Al Qaeda patrocinados pelos EUA. 

Os media ocidentais estão a introduzir desinformação nas cadeias de notícias, refutando despreocupadamente as suas próprias reportagens.

Como confirmado por várias fontes, incluindo a CNN, a aliança militar ocidental não só disponibilizou armas químicas para a Frente Al Nusrah como também enviou empreiteiros militares (military contractors) e forças especiais para treinar os rebeldes.

O treino [em armas químicas], o qual está a ter lugar na Jordânia e na Turquia, envolve como monitorar e acumular stocks com segurança, além do manuseamento destas armas em sítios em materiais, segundo as fontes. Alguns dos empreiteiros estão sobre o terreno na Síria a trabalhar com os rebeldes para monitorar alguns dos sítios, segundo um dos responsáveis. 

A nacionalidade dos treinadores não foi revelada, embora os responsáveis advirtam contra a suposição de que todos eles sejam americanos. (CNN , 09/Dezembro/2012, ênfase acrescentada)

Se bem que as notícias e reportagens não confirmem a identidade dos empreiteiros da defesa, as declarações oficiais sugerem um estreito vínculo contratual com o Pentágono.

A decisão estado-unidense de contratar estranhos empreiteiros de defesa para treinar rebeldes sírios a manusearam stocks acumulados de armas químicas parece perigosamente irresponsável ao extremo, especialmente quando se considera quão inepta Washington foi até agora para garantir que apenas rebeldes laicos e confiáveis – na medida em que existam – recebam a sua ajuda e as armas que aliados nos estados do Golfo Árabe têm estado a fornecer. 

Isto também corrobora acusações feitas recentemente pelo Ministério das Relações Exteriores sírio de que os EUA estão a trabalhar para compor o quadro de que o regime sírio como tendo utilizado ou preparado a guerra química. 

"O que levanta preocupações acerca desta notícia circulada pelos media é o nosso sério temor de que alguns dos países apoiando o terrorismo e terroristas possam proporcionar armas químicas aos grupos terroristas armados e afirmar que foi o governo sírio que utilizou tais armas", (John Glaser, Us Defense Contractors Training Syrian Rebels, Antiwar.com, December 10, 2012, ênfase acrescentada).

Não tenhamos ilusões. Isto não é um exercício de treino de rebeldes em não proliferação de armas químicas. 

Enquanto o presidente Obama acusa Bashar Al Assad, a aliança militar EUA-NATO está a canalizar armas químicas para a Al Nusrah, uma organização terrorista na lista negra do Departamento de Estado. 

Com toda a probabilidade, o treino dos rebeldes da Al Nusrah na utilização de armas químicas ficou a cargo de empreiteiros militares privados. 

A Missão Independente das Nações Unidas confirma que forças rebeldes estão na posse do gás de nervos Sarin 

Enquanto Washington aponta o dedo ao presidente Bashar al Assad, uma comissão de inquérito independente das Nações Unidas em Maio de 2013 confirmou que os rebeldes, ao invés do governo, têm armas químicas na sua posse e estão a utilizar gás de nervos sarin contra a população civil.

Investigadores de direitos humanos da ONU reuniram testemunhos das baixas da guerra civil da Síria e de equipes médicas indicando que forças rebeldes utilizaram o agente de nervos sarin, disse domingo um dos principais investigadores. 

A comissão independente de inquérito das Nações Unidas sobre a Síria ainda não viu provas de que forças governamentais tenham utilizado armas químicas, as quais estão proibidas pelo direito internacional, disse Carla Del Ponte [foto], membro da comissão.

"Nossos investigadores estiveram em países vizinhos a entrevistas vítimas, médicos e hospitais de campo e, segundo o seu relatório da semana passada que vi, há fortes e concretas suspeitas, mas não ainda prova incontroversa, da utilização do gás sarin, a partir do modo como as vítimas foram tratadas", disse Del Ponte numa entrevista à televisão suíça-italiana. 

"Isto foi utilizado por parte da oposição, os rebeldes, não pelas autoridades governamentais", acrescentou ela, a falar em italiano. ("U.N. has testimony that Syrian rebels used sarin gas: investigator," Chicago Tribune, May, 5  2013, ênfase acrescentada)

Relatório da polícia turca: "Terroristas do Al Nusrah apoiados pelos EUA possuem armas químicas" 

Segundo a agência de notícias estatal turca Zaman, o Diretorado Geral Turco de Segurança (Emniyet Genel Müdürlügü):

"[A polícia] apreendeu 2 kg de gás sarin na cidade de Adana nas primeiras horas da manhã de ontem. As armas químicas estavam na posse de terroristas do Al Nusra que se acredita terem ido para a Síria. 

O gás sarin é incolor, uma substância inodoro que é extremamente difícil de detectar. O gás é proibido pela Convenção das Armas Químicas de 1993. 


A EGM [polícia turca] identificou 12 membros da célula terrorista Al Nusra e também apreendeu armas de fogo e equipamento digital. Esta é a segunda confirmação oficial importante da utilização de armas química por terroristas da Al Qaeda na Síria após recentes declarações da inspectora Carla Del Ponte  confirmando a utilização de armas químicas pelos terroristas na Síria apoiados pelo Ocidente. 


A polícia turca está actualmente a efectuar novas investigações quanto às operações de grupos ligados à Al Qaeda na Turquia."

(Para mais pormenores ver Gearóid Ó Colmáin, Turkish Police find Chemical Weapons in the Possession of Al Nusra Terrorists heading for Syria, Global Research.ca, May 30, 2013)

Quem cruzou a "Linha vermelha"?
Barack Obama e John Kerry estão a apoiar uma organização terrorista na lista do Departamento de Estado. 

O que se está a desenrolar é um cenário diabólico – o qual faz parte integral do planeamento militar dos EUA –, nomeadamente uma situação em que terroristas da oposição da Frente Al Nusrah aconselhados por empreiteiros ocidentais da defesa estão realmente na posse de armas químicas. 

O Ocidente afirma que está vindo em resgate do povo sírio, cuja vidas alegadamente são ameaçadas por Bashar Al Assad. 


Obama não só "Cruzou a linha vermelha" como está a apoiar a Al Qaeda. Ele é um Mentiroso e um Terrorista. 

A verdade proibida, que os media ocidentais não revelam, é que a aliança militar EUA-NATO-Israel não só está a apoiar a Frente Al Nusrah como também está a disponibilizar armas químicas para forças rebeldes da sua "oposição" proxy. 

A questão mais ampla é:
- Quem constitui uma ameaça para o povo sírio?
- O presidente Bashar al Assad da Síria ou o presidente Barack Obama da América, que ordenou o recrutamento e treino de forças terroristas que estão na lista negra do Departamento de Estado dos EUA? 

Numa ironia amarga, segundo o Bureau of Counter-terrorism do Departamento do Estado dos EUA, o presidente Obama e o secretário de Estado John Kerry, para não mencionar o senador John McCain, podiam ser considerados responsáveis por "conscientemente proporcionar, ou tentar ou conspirar para isso, apoio material ou recursos para, ou envolver-se em transacções com, a Frente al-Nusrah".

O Departamento de Estado emendou o Foreign Terrorist Organization (FTO) e a Executive Order (E.O.) 13224 com as designações da al-Qaida no Iraque (AQI) a fim de incluir os seguintes novos pseudônimos: al-Nusrah Front, Jabhat al-Nusrah, Jabhet al-Nusra, The Victory Front, e Al-Nusrah Front for the People of the Levant.

As consequências de acrescentar a Frente al-Nusrah como nova denominação para a Al Qaida incluem uma "proibição contra conscientemente proporcionar, ou tentar ou conspirar para proporcionar, apoio material ou recursos para, ou envolver-se em transacções com a Frente al-Nusrah, e o congelamento de toda propriedade e interesses na propriedade da organização que estão nos Estados Unidos, ou venham a estar dentro dos Estados Unidos ou controle de pessoas dos EUA." (ênfase acrescentada)

O conselho do Departamento de Estado reconhece que de Novembro de 2011 a Dezembro de 2012:

"A Frente Al-Nusrah reivindicou aproximadamente 600 ataques – que vão de mais de 40 ataques suicidas a armas pequenas e operações com dispositivos explosivos improvisados – em centros de cidade principais incluindo Damasco, Alepo, Hamah, Dara, Homes, Idlib e Dayr al-Zawr. Durante estes ataques numerosos sírios inocentes foram mortos."

O conselho também confirma que "os Estados Unidos efectuam esta acção [de por a Frente Al Nusrah na lista negra] no contexto do nosso apoio geral ao povo sírio. ...

O que se deixa de mencionar é que a administração Obama continua a canalizar dinheiro e armas para a Al Nusrah em desobediência flagrante da legislação contra-terrorismo dos EUA.

O "intermediário" de Washington: O general Salim Idriss 
O "intermediário" de Washington é o Chefe do Supremo Conselho Militar da FSA, general de brigada Salem Idriss [foto abaixo], o qual está em ligação permanente com comandantes militares da Al Nusrah. 


O secretário de Estado John Kerry reúne-se com representantes da oposição síria. Responsáveis dos EUA reúnem-se com o general Idriss. Este último, a actuar por conta do Pentágono, canaliza dinheiro e armas para os terroristas.

Este modelo de apoio ao Al Nusra é semelhante àquele aplicado no Afeganistão pelo qual o governo militar paquistanês do general Zia Ul Haq canalizou armas para os jihadistas "Combatentes a liberdade" no auge da guerra soviética-afegã. 

O apoio dos EUA a terroristas é enviado sempre através de um intermediário de confiança. Segundo um responsável da administração Obama: "Se bem que os Estados Unidos possam ter influência sobre o general Idriss, não têm capacidade para controlar alguns jihadistas – como a Frente Nusra, a qual também está a combater forças do governo sírio". (New York Times, May 23, 2013

John McCain entra na Síria [foto], em mistura com terroristas patrocinados pelos EUA 

Enquanto isso, o senador John McCain "entrou na Síria [no princípio de Junho] a partir da fronteira turca do país e permaneceu ali por várias horas ... McCain encontrou-se com líderes reunidos de unidades do Free Syrian Army tanto na Turquia como na Síria".

[Ao lado imagem de John McCain com o general Salem Idriss]. 

O papel contraditório do Conselho de Segurança das Nações Unidas 
No fim de Maio de 2013 o Conselho de Segurança da ONU acrescentou a Al Nusrah à Lista de sanções da Al Qaida do UNSC.

Mas ao mesmo tempo, a decisão do Conselho de Segurança despreocupadamente descartou o facto, amplamente documentado, de que três membros permanentes do Conselho, nomeadamente a Grã-Bretanha, a França e os EUA, continuam a proporcionar ajuda militar à Frente Jabbat Al Nusrah, em desafio ao direito internacional e à Carta das Nações Unidas.

ANEXO 1 
THE TERRORIST DESIGNATION OF AL NUSRAH BY THE US STATE DEPARTMENT 
U.S. DEPARTMENT OF STATE 
Office of the Spokesperson December 11, 2012 
STATEMENT BY VICTORIA NULAND, SPOKESPERSON [http://translations.state.gov/st/english/texttrans/2012/12/20121211139845.html#ixzz2WDKARO9n]
Terrorist Designations of the al-Nusrah Front as an Alias for al-Qa'ida in Iraq 

ANEXO
UNITED NATIONS SECURITY COUNCIL
Department of Public Information • News and Media Division • New York [http://www.un.org/News/Press/docs/2013/sc11019.doc.htm] 
Security Council Al-Qaida Sanctions Committee Amends Entry of One Entity on Its Sanctions List 

ANEXO 3 
TRANSCRIPT OF STATE DEPARTMENT PRESS BRIEFING CONCERNING AL NUSRAH 
Senior Administration Officials on Terrorist Designations of the al-Nusrah Front as an Alias for al-Qaida in Iraq 
Special Briefing Senior Administration Officials 
Via Teleconference 
Washington, DC 
December 11, 2012 [http://www.state.gov/r/pa/prs/ps/2012/12/201797.htm]

Ver também: 
Deleted Daily Mail Online Article: “US Backed Plan for Chemical Weapon Attack in Syria to Be Blamed on Assad

O original encontra-se em www.globalresearch.ca/... 

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ 

Fonte:
http://resistir.info/chossudovsky/verdade_proibida.html