05/12/2013 - A sina da oposição: sobrevivência e terrorismo
- Jeferson Miola (*) - de Porto Alegre - Correio do Brasil
Depois da incandescência das ruas em junho, análises apressadas pintavam um cenário de terra arrasada para a Dilma.
Foi incrível a seletividade de determinados analistas, que alardeavam o pior dos mundos para a Presidenta, mas omitiam que a insatisfação era generalizada e difusa, e abarcava todo o sistema político, a política, os governos e os políticos.
Passado o rescaldo daqueles acontecimentos, sucessivas pesquisas de opinião indicam um ambiente de melhora do desempenho eleitoral de Dilma.
Em todas as simulações – de todos os institutos de pesquisa -, a Presidenta ostenta considerável chance de reeleição, inclusive no primeiro turno.
A oposição, entretanto, segue colecionando dificuldades.
Para ela, o cenário mais alentador é, curiosamente, aquele no qual figuram as “candidaturas-sombras” de Marina Silva e José Serra.
Os até agora “candidatos titulares” Eduardo Campos e Aécio Neves [acima] peleiam com seus fantasmas para manterem suas candidaturas, podendo chegar em 2014 menores do que são hoje.
A potencial reeleição de Dilma, que culminaria um ciclo de 16 anos de governos dirigidos pelo PT, levará o reacionarismo capitaneado pelo PSDB, PPS e DEM ao ocaso.
Com sua visão de um país arcaico, excludente e colonizado, aqueles partidos perdem a capacidade de interpretação e de aderência ao Brasil contemporâneo.
A profecia deles, do “fim da raça”, [1] finalmente terá se realizado; porém, com as setas invertidas – em desfavor deles mesmos.
Nesse contexto, a candidatura do Aécio é tão sólida quanto a chance de se converter em pó.
O PSDB, pela primeira vez na trajetória do partido, enfrenta a perspectiva real de uma derrota acachapante no próximo ano.
Para os tucanos [mas também para seus satélites PPS e DEM], a eleição de 2014 terá como prioridade a sobrevivência partidária e a preservação dos espaços de poder ameaçados de mudar de guarda.
Não se pode descartar, por isso, a hipótese da candidatura presidencial de José Serra em lugar da de Aécio.
Alckmin e Aécio teriam, assim, a função de proteger a joia da coroa do PSDB: os governos de SP e MG.
Aliás, uma tarefa difícil, para quem terá de se explicar sobre escândalos escabrosos: cartel do metrô e o genuíno mensalão.
Adicionalmente, outros dois espectros rondam as eleições.
O primeiro, de nome Joaquim Barbosa.
Sua candidatura, se confirmada, materializaria eleitoralmente o bloco de poder conformado pela mídia conservadora e setores reacionários do Judiciário.
É esse bloco que, na realidade, agenda e articula o combate ideológico ao PT e ao governo Dilma, substituindo os partidos da direita, que estão aos frangalhos e minguando sua audiência na sociedade.
Não existe espaço no Brasil contemporâneo para uma nova farsa do gênero “caçador de marajás”.
A Rede Globo não conseguirá converter Joaquim Barbosa em um santo; aliás, um Ministro adepto de manobras fiscais para investir em Miami.
O império da família Marinho não conseguirá construir essa nova mitificação da política brasileira, como fez com Fernando Collor em 1989 para derrotar Lula.
A opção Joaquim será calculada não pela aspiração de vitória com ele, mas como variável para levar a eleição para o segundo turno.
O contexto proclive para a ocorrência de segundo turno é aquele que apresenta na cédula eleitoral os nomes de Dilma, Serra, Marina e Joaquim.
O justiceiro, jacobino, vingativo, exemplar e inexpugnável Barbosa seria um veículo para se tentar barrar a reeleição direta de Dilma.
O outro espectro que ronda a próxima eleição de 2014 atende pelo nome de Lula.
Com considerável insistência é cogitada a candidatura dele em lugar da de Dilma; insinuação que se propaga na base de apoio do governo, nos meios empresariais, no sistema financeiro e junto a setores militantes.
Os pretextos são uníssonos, tanto dentro como fora do PT: a heterodoxia econômica e o estilo da Presidenta.
Embora o próprio Lula rechace, essa insinuação paira no ar como uma bruma, fomentada na mídia pelas manjadas “fontes próximas ao ex-Presidente”.
É problemático esse procedimento, porque involuntariamente [ou deliberadamente?] expõe Dilma a tensões conservadoras [e inclusive regressivas] na definição do programa e no perfil do eventual segundo governo.
Porém, ao mesmo tempo, não deixa de ser cômodo para o governo – e terrível para a oposição – saber que pode contar com um suplente eleitoralmente insuperável, caso a conjuntura econômica e política degringole.
Hoy por hoy – como se diz em castelhano -, a perspectiva é desalentadora para a oposição conservadora, que vive o dilema de tentar sobreviver enfrentando uma tendência de derrota e de definhamento de sua representação política.
A realidade para a direita é tão mais dramática quanto mais evidente é a obsolescência programática e a incapacidade de oferecer uma visão generosa de futuro para um país que, não sem importantes limites e contradições, finalmente passou a ingressar na modernidade.
Devemos nos preparar para uma conjuntura complicada até as eleições de 2014.
A oposição não se dará por vencida, e poderá promover um terrorismo político, econômico, moral e midiático jamais visto na política brasileira.
Não se pode menosprezar a capacidade de sabotagem, de difusão de ódio e a vilania deles nessa luta derradeira de sobrevivência.
Eles querem sequestrar o Brasil dos brasileiros.
(*) Jeferson Miola, integrante do Instituto de Debates, Estudos e Alternativas de Porto Alegre (Idea), foi coordenador-executivo do 5º Fórum Social Mundial.
Fonte:
http://correiodobrasil.com.br/noticias/opiniao/a-sina-da-oposicao-sobrevivencia-e-terrorismo/667678/?utm_source=newsletter&utm_medium=email&utm_campaign=b20131206
[1] Proferido por Jorge Bornhausen, do DEM
Nota:
A inserção das imagens, quase todas capturadas do Google Images, são de nossa responsabilidade, pois inexistem no texto original.