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sábado, 18 de agosto de 2012

Segregação e gerenciamento do capital na África do Sul

18/08/2012 - da Redação do site Rede Democrática

Policiais sul-africanos cercam corpos de mineiros que assassinaram em Marikana: tanto lá como aqui a "justiça" foi feita para os pobres e pretos.

O vídeo mostra cenas que eram muito comuns nos anos em que a África do Sul era dominada pelo regime segregacionista do Apartheid que misturava repressão, racismo e gerenciamento do capital.

De armas na mão, policiais observam os corpos de manifestantes no chão, ensanguentados, após o protesto ser violentamente e covardemente reprimido pelas autoridades. No vídeo se pode ver claramente a enorme superioridade numérica dos policiais armados. Uma repressão e asssassinto totalmente desnecessário e covarde. Nos anos 1990, os policiais eram brancos e, os mortos, todos negros lutando por igualdade. Hoje, os corpos continuam sendo de negros, mas muitos policiais também são. Se bem que se pode observar no video que a chefia é de branco. O conflito além de racial, também é trabalhista. É a África do Sul de 2012, livre do atroz regime da supremacia branca, agora com a supremacia do capital, neste caso a defesa da empresa inglesa Lonmin, que obtém 96% da platina que exporta para todo o mundo.

A chacina de quinta-feira 16 ocorreu nas minas de Marikana (a 40 quilômetros de Johannesburgo), da empresa britânica Lonmin. As cenas fizeram os sul-africanos reviverem fatos de uma década trás. Em trajes de choque e fortemente armados, os policiais montavam barricadas com arame farpado quando foram flanqueados por grupos de trabalhadores, muitos deles armados com machetes, lanças e outras armas improvisadas. A polícia, então, não vacilou: ao invés de recuar ou disparar para o alto advertindo, abriu fogo direto, com a intenção de matar os manifestantes. Lá, não usaram balas de borracha, jatos de água para dispersar que estava presente ou spray de pimenta.

Esta sofisticação de repressão dita 'democrática' não foi feita. Após a rajada de tiros, pelo menos sete corpos ficaram no chão enquanto dezenas de policiais, aparentemente amedrontados, apontavam as armas para os mortos e caidos com se fossem se levantar. Até 18 pessoas podem ter sido assassinadas.

Na sexta-feira 17, as notícias mostraram que o massacre foi ainda maior. Pelo menos 34 pessoas morreram e outras 78 ficaram feridas e foram levadas aos hospitais de Rustemburgo e Johannesburgo, duas das maiores cidades da região. Imediatamente após o massacre, a polícia sul-africana não se manifestou. E as declarações não servem para explicar o banho de sangue.


Riah Phiyega
A polícia teve que usar a força para se proteger do grupo que estava atacando”, disse Riah Phiyega, uma ex-executivo de bancos que é o comandante da polícia sul-africana desde junho. Ou seja, o massacre desta vez foi feito sob o comando de uma pessoa que, além de mulher é negra. Muito conveniente para a empresa britânica Lonmin que explora as minas de platina.

Presidente Jacob Zuma
 Horas depois das mortes, o presidente da África do Sul, Jacob Zuma, emitiu um comunicado lamentando o episódio e prometendo levar os culpados à Justiça. Segundo Zuma, há na África do Sul “espaço suficiente na ordem democrática para que qualquer disputa seja resolvida por meio do diálogo sem rompimentos da lei ou violência”.

A fala de Zuma não encontra ecos na sociedade sul-africana. O jornal Sowetan, que fala em 34 mortos, questionou em editorial nesta sexta-feira o que havia mudado no país desde 1994, quando o Apartheid - a segregação - chegou ao fim. Para a publicação, os negros pobres continuam sendo tratados como objetos pelo governo. Instituições ligadas aos direitos humanos condenaram o massacre, também assemelhando o ato policial ao tipo de comportamento que as autoridades tinham durante o auge do regime racista. Pelo visto, o que os novos governantes aprenderam do regime anterior foi reprimir. A democracia ainda não se aprendeu. 
Marikana

O massacre em Marikana é o ponto culminante de seis dias de violência. Desde 10 de agosto, quando a paralisação teve início, trabalhadores que tentaram furar a greve foram atacados e pelo menos dez pessoas morreram, entre elas dois policiais. A violência é resultado da rivalidade de oito meses provocada por uma disputa de poder entre dois sindicatos de mineiros, um existente há mais de 20 anos e outro recém-aberto. Um líder grevista afirmou ao jornal sul-africano The Star que os 3 mil mineiros estavam ali em nome próprio, após décadas de “negociações infrutíferas” dos sindicatos. Os trabalhadores tinham, segundo este líder, duas reivindicações. Serem recebidos por diretores da Lonmin e um aumento salarial dos atuais 5000 rands (equivalente a 1200 reais) para 12500 (cerca de 2900 reais).

Barnard Mokwena, vice-presidente-executivo da mineradora, afirmou que a empresa estava interessada em negociar por meio de “estruturas reconhecidas” (leia-se os sindicatos) e que não pretendia dar aumento salarial. Uma ironia: se não pretende dar aumento salarial, em verdade não quer negociar. E para isto conta com a repressão policial.

A grande preocupação da Lonmim é com a queda de mais de 6% de suas ações na Bolsa de Londres e com o fato de ter deixado de produzir cerca de 15 mil onças (425 quilos) de platina nos últimos seis dias. A diretoria da Lonmim se recusou a comentar o massacre em suas minas. A empresa se limitou a dizer que se tratava de uma “operação policial”.

O vídeo acima, da rede de tevê Al-Jazeera, do Catar, mostra imagens do massacre em defesa da empresa inglesa que controla essas minas: a Lonmin, que obtém 96% da platina que exporta para todo o mundo. Agora, a repressão e morte que antes era em nome do racismo, não se disfarça mais e age claramente em nome do capital. Um governo e um partido que não avança claramente para construção de uma sociedade mais justo e correta, descamba para o gerenciamento ostensivo do capital. A herança do passado repressor e racista se faz presente hoje, mostrando que o apartheid - a segregação - não foi superada, foi apenas 'modernizada': se trata agora de segregar o pobre, usando o próprio negro. Quem viveu sempre reprimido, ainda não aprendeu a democracia, usa apenas o que viu e o que sentiu na pele por gerações.

Cf:
http://www.sowetanlive.co.za/news/2012/08/17/police-boss-says-34-miners-killed-in-self-defence

P.A.

Fonte: