18/08/2012 - da Redação do site Rede Democrática
Policiais sul-africanos cercam corpos de mineiros que assassinaram em Marikana: tanto lá como aqui a "justiça" foi feita para os pobres e pretos.
O vídeo mostra cenas que eram muito comuns nos anos em que a África do Sul era dominada pelo regime segregacionista do Apartheid que misturava repressão, racismo e gerenciamento do capital.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEifSBNG4JUNnq5wGp9aIg52yDI0Z5A-d0IPLQexoEq4YKFWTElSSmsBcHdBOqIGYCcXWOskahixT_27qzSUbeJIKn_uQ4dneCkKlwTepxTzwKvkzj348FYF3xfNkZpvUjRRZ0P59QmzGzcJ/s400/mineiros-e-policias-africa-do-sul.jpg)
A chacina de quinta-feira 16 ocorreu nas minas de Marikana
(a 40 quilômetros de Johannesburgo), da empresa britânica Lonmin. As cenas fizeram os sul-africanos reviverem fatos de uma década trás. Em trajes de choque e fortemente armados, os policiais montavam barricadas com arame farpado quando foram flanqueados por grupos de trabalhadores, muitos deles armados com machetes, lanças e outras armas improvisadas. A polícia, então, não vacilou: ao invés de recuar ou disparar para o alto advertindo, abriu fogo direto, com a intenção de matar os manifestantes. Lá, não usaram balas de borracha, jatos de água para dispersar que estava presente ou spray de pimenta.
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Esta sofisticação de repressão dita 'democrática' não foi feita. Após a rajada de tiros, pelo menos sete corpos ficaram no
chão enquanto dezenas de policiais, aparentemente amedrontados, apontavam as armas para os mortos e caidos com se fossem se levantar. Até 18 pessoas podem ter sido assassinadas.
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Na sexta-feira 17, as notícias mostraram que o massacre foi ainda maior. Pelo menos 34 pessoas morreram e outras 78 ficaram feridas e foram levadas aos hospitais de Rustemburgo e Johannesburgo, duas das maiores cidades da região. Imediatamente após o massacre, a polícia sul-africana não se manifestou. E as declarações não servem para explicar o banho de sangue.
Riah Phiyega |
“A polícia teve que usar a força para se proteger do grupo que estava atacando”, disse Riah Phiyega, uma ex-executivo de bancos que é o comandante da polícia sul-africana desde junho. Ou seja, o massacre desta vez foi feito sob o comando de uma pessoa que, além de mulher é negra. Muito conveniente para a empresa britânica Lonmin que explora as minas de platina.
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Presidente Jacob Zuma |
A fala de Zuma não encontra ecos na sociedade sul-africana. O jornal Sowetan, que fala em 34 mortos, questionou em editorial nesta sexta-feira o que havia mudado no país desde 1994, quando o Apartheid - a segregação - chegou ao fim. Para a publicação, os negros pobres continuam sendo tratados como objetos pelo governo. Instituições ligadas aos direitos humanos condenaram o massacre, também assemelhando o ato policial ao tipo de comportamento que as autoridades tinham durante o auge do regime racista. Pelo visto, o que os novos governantes aprenderam do regime anterior foi reprimir. A democracia ainda não se aprendeu.
O massacre em Marikana é o ponto culminante de seis dias de violência. Desde 10 de agosto, quando a paralisação teve início, trabalhadores que tentaram furar a greve foram atacados e pelo menos dez pessoas morreram, entre elas dois policiais. A violência é resultado da rivalidade de oito meses provocada por uma disputa de poder entre dois sindicatos de mineiros, um existente há mais de 20 anos e outro recém-aberto. Um líder grevista afirmou ao jornal sul-africano The Star que os 3 mil
mineiros estavam ali em nome próprio, após décadas de “negociações infrutíferas” dos sindicatos. Os trabalhadores tinham, segundo este líder, duas reivindicações. Serem recebidos por diretores da Lonmin e um aumento salarial dos atuais 5000 rands (equivalente a 1200 reais) para 12500 (cerca de 2900 reais).
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Barnard Mokwena, vice-presidente-executivo da mineradora, afirmou que a empresa estava interessada em negociar por meio de “estruturas reconhecidas” (leia-se os sindicatos) e que não pretendia dar aumento salarial. Uma ironia: se não pretende dar aumento salarial, em verdade não quer negociar. E para isto conta com a repressão policial.
A grande preocupação da Lonmim é com a queda de mais de 6% de suas ações na Bolsa de Londres e com o fato de ter deixado de produzir cerca de 15 mil onças (425 quilos) de platina nos últimos seis dias. A diretoria da Lonmim se recusou a comentar o massacre em suas minas. A empresa se limitou a dizer que se tratava de uma “operação policial”.
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Cf:
http://www.sowetanlive.co.za/news/2012/08/17/police-boss-says-34-miners-killed-in-self-defence
http://www.telegraph.co.uk/news/9483714/South-African-police-say-mine-demonstrators-fired-first.html
P.A.
Fonte: