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quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Sakamoto culpa jornalistas também pelo show de horrores sobre médicos cubanos

Por Leonardo Sakamoto - no seu Blog
Parte dos jornalistas passou dias dizendo o que quis sobre a vinda dos médicos cubanos, sem se preocupar em checar informações ou as consequências de suas ações.
São escravos, vêm em aviões negreiros, são incompetentes, indolentes e teve até quem disse que as médicas pareciam “empregadas domésticas” (o fantástico é que a tosca em questão achou que estava ofendendo as doutoras mas, no fundo, rasgava preconceito contra uma suposta aparência de trabalhadoras domésticas).
Muito jornalista também deu voz de forma passiva e servil ao corporativismo médico desmiolado, ou seja, ouviu e transmitiu aberrações sem questionar. Que é a função primordial dele.
Isso alimentou um bando de filhos das classes média e alta, com formação política zero, conhecimento histórico inexistente, pouco senso crítico e zero de autocrítica. Que depois de bem “fundamentados”, levaram seus jalecos brancos para a porta de aeroportos a fim de repetirem o que ouviram.
Em suma, todo e toda jornalista que ajudou a inflar o monstro da xenofobia e do preconceito neste caso ou ao longo dos anos ou se omitiu diante disso tem uma parcela de culpa nesse show de horrores e de vergonha alheia.
Não somos nós que vamos a público tentar agredir estrangeiros. Da mesma forma que não é a mão de pastores ou deputados que seguram a faca, o revólver ou a lâmpada fluorescente que atacam homossexuais. Mas somos nós que, muitas vezes, na busca por audiência ou para encaixar um fato em nossa visão de mundo, tornamos a agressão banal, quase uma necessidade para restabelecer a ordem das coisas.
Parabéns colegas, a gente é o máximo.

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Uma virada na cobertura


Por Luciano Martins Costa em 14/06/2013 na edição 750

Comentário para o programa radiofônico do Observatório, 14/6/2013

   
De repente, não mais que de repente, o noticiário sobre as manifestações que paralisam grandes cidades brasileiras há uma semana sofre uma reviravolta: agora os jornais começam a enxergar os excessos da polícia e mostrar que no meio da tropa há agentes provocadores e grupos predispostos à violência.

Um dos relatos mais esclarecedores sobre o momento em que a passeata realizada na capital paulista na quinta-feira (13/06) deixou de ser pacífica é feito pelo colunista Elio Gaspari, na Folha de S.Paulo e no Globo (ver "A PM começou a batalha na Maria Antônia"). Ele descreve como uma equipe da tropa de choque se posicionou e agiu deliberadamente para provocar o tumulto.

Há também, na rede social digital, um vídeo mostrando um PM, aparentemente por orientação de um oficial, quebrando o vidro da viatura. A imagem, cuja autenticidade só pode ser confirmada pela própria Polícia Militar, está diponível no Youtube.

No Facebook, registro para a legenda colocada sob cenas dos conflitos, no noticiário da GloboNews durantea noite: “Polícia fecha a Avenida Paulista para evitar que manifestantes fechem a Avenida Paulista”. Nessa linha de raciocínio, pode-se imaginar também a seguinte manchete: “Polícia usa violência para evitar violência de manifestantes”.

Truculência e irresponsabilidade

Foi preciso mais do que evidências para a imprensa cair na real: os repórteres testemunharam dezenas de ações abusivas de policiais, como a retirada e o espancamento de um casal que tomava cerveja num bar, alheio à passeata, ou o lançamento de granadas de gás em meio aos carros travados nos congestionamentos.

Claramente, não se trata de bolsões descontrolados, mas de uma ação organizada dentro da corporação policial, o que mostra o esgarçamento da disciplina e do controle na Polícia Militar. A única possibilidade de desmentir tal observação é a ação imediata do comando, identificando e afastando das ruas os oficiais responsáveis por esses grupos.

A violência gratuita e excessiva ficou registrada nas páginas dos jornais, entre outras razões, porque desta vez houve mais jornalistas entre as vítimas de agressões. Sete deles são repórteres da Folha de S. Paulo. Isso talvez explique a mudança de tom nas reportagens, mas o relato da violência não esgota o assunto, apenas instala algum equilíbrio na visão dos fatos por parte da imprensa.

Para ampliar sua compreensão do que realmente se passa nas ruas da cidade por estes dias, o leitor tem que se valer de outras fontes além dos jornais e do noticiário da TV. Por exemplo, o vereador Ricardo Young, que acompanhou o indiciamento de alguns manifestantes detidos, registrou no Facebook um fato preocupante: policiais fizeram a revista de mochilas e bolsas longe de testemunhas, trocando conteúdos e inserindo em algumas delas materiais estranhos, como pedras e pacotes com maconha. Assessores do vereador denunciam que houve tentativa de “plantar” provas contra alguns dos manifestantes detidos.

É notória a má vontade da polícia, como instituição, contra jovens em geral, talvez ainda um resquício da ideologia de segurança pública que se consolidou durante a ditadura militar e que ainda orienta a formação nas academias. Os indicadores de agressões cometidas por agentes públicos contra homens jovens são um dos aspectos mais evidentes nos estudos sobre a violência nas grandes cidades brasileiras. O encontro dessa mentalidade com a irresponsabilidade de grupos de manifestantes que se julgam autores de uma revolução política pode resultar em tragédia.

Ações ilegais

Se algum fato mais grave vier a ocorrer em futuras manifestações, pode-se contar como grande a probabilidade de haver alguns desses policiais envolvidos. Portanto, a responsabilidade pelo que virá a partir de segunda-feira (17/6), quando nova manifestação está marcada para o Largo da Batata, na zona oeste de São Paulo, tem um peso maior na Secretaria de Segurança Pública.

Isso não quer dizer que a prefeitura e os líderes do Movimento Passe Livre, bem como os dirigentes dos partidos cujas bandeiras são agitadas por alguns ativistas, estejam isentos de arcar com sua parte na tarefa de prevenir o desastre.

A imprensa, que finalmente despertou para o fato de que há vândalos em ambos os lados do conflito, pode ajudar a identificar os comandantes dessas ações ilegais, assim como tem sabido apontar os autores de depredações durante os protestos.

Foi preciso que alguns jornalistas sofressem a violência no próprio corpo para que os jornais se dessem conta de que nem tudo é o que parece.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Os Dez Mandamentos para Jornalista nas Redes Sociais

30/01/2012 - Leonardo Sakamoto em seu blog

Fico assustado com a quantidade de informação mal checada e precipitada que circula por aí, principalmente em momentos de grande comoção. Fofoca sempre existiu, mas agora é transmitida em massa por conta das novas tecnologias da comunicação. As redes sociais, principalmente o Twitter, são plataformas que estão mudando o modo como nos comunicamos e fazemos fluir informação pela sociedade, alterando – consequentemente – as estruturas tradicionais de poder. Mas se elas ajudam a formar, também desinformam.

Com a ajuda de alguns colegas jornalistas, fizemos uma breve lista com dez conselhos para quem assume a função de distribuir notícias nas redes sociais. Alguns podem nos achar malas sem alça, outros bradarem que estamos fazendo o jogo de X ou de Y com essas regrinhas que tolhem a liberdade. Bem, prefiro acreditar que uma informação errônea ao ser divulgada pode causar um impacto negativo contrário maior do que sua intenção. Ou pior, com o tempo, a credibilidade de quem divulga sem checar tende a ir para o ralo. Como já disse aqui anteriormente, acredito piamente que um diploma não faz um jornalista, mas sim o comprometimento e a ética que a pessoa assume ao exercer essa função.

Os Dez Mandamentos para Jornalista nas Redes Sociais:

1) Não tuitarás notícia sem antes checar a informação.

2) Não divulgarás notícias relevantes sem atribuir a elas fontes primárias de informação.

3) Tuítes “apócrifos”, sem fonte, jamais serão aceitos como instrumento de checagem ou comprovação.

4) Não esquecerás que informação precede opinião.

5) Não matarás – sem antes checar o óbito.

6) Lembrarás que mais vale um tuíte atrasado e bem checado que um tuíte rápido e mal apurado. E que um número grande de retuítes não garante credibilidade.

7) Serás assertivo apenas naquilo que tens certeza do que diz.

8 ) Não se esquecerás da apuração in loco, por telefone e/ou por e-mail.

9) Não terás pudores de reconhecer, rapidamente e sem poréns, o erro em caso de divulgação ou encaminhamento de informação incorreta.

10) Na dúvida, não retuitarás. Pois, tu és responsável por aquilo que repassas. Ou seja, se der merda, você é culpado.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Jornalistas ameaçados de morte na Líbia

Matando a verdade

Mahdi Nazemroaya ameaçado pelos rebeldes ao serviço da NATO por Michel Chossudovsky
Mahdi Darius Nazemroaya, juntamente com Thierry Meyssan estão agora isolados no centro de media do hotel Rixos, em Tripoli, em meio do combate do combate pesado que se verifica em torno.

Pedimos aos nossos leitores para reflectir sobre o que Mahdi estava a tentar conseguir no centro de media do Rixos: reportagem factual honesta, com preocupação pela vida humana, em solidariedade com os homens, mulheres e crianças líbios que perderam suas vidas em raids de bombardeamento sobre áreas residenciais, escolas e hospitais.

A vida de Mahdi está ameaçada por nos contar a verdade, por revelar crimes de guerra da NATO.

A "construção da democracia" na Líbia, dizem-nos, exige o bombardeamento extensivo de todo o país, sob o "Responsability to Protect" (R2P) da NATO.

Mas Mahdi questiona tal conceito. Ele desafia os próprios fundamentos da guerra de propaganda, a qual apoia um acto de guerra como esforço de pacificação.

Durante os últimos dias, todo o nosso tempo e energia tem sido dedicado a garantir a segurança de Mahdi, Thierry e vários outros jornalistas independentes aprisionados no Rixos Hotel.

A atmosfera dentro do centro de media do Rixos Hotel, em Tripoli, deve ser entendida.

Os media de referência (mainstream), incluindo a CNN e a BBC, têm ligações directas à NATO, ao Conselho de Transição e às forças rebeldes. Eles estão a servir os interesses da NATO de um modo directo através da maciça distorção dos media.

Ao mesmo tempo, aqueles no Centro de Media do Rixos que estão comprometidos com a verdade são o objecto de ameaças veladas. No caso de Mahdi, as ameaças foram muito explícitas.

Aqueles que dizem a verdade são ameaçados.

Aqueles que mentem e aceitam o consenso da NATO terão as suas vidas protegidas. As forças especiais da NATO a operarem dentro das fileiras rebeldes garantirão a sua segurança.

Neste ambiente repulsivo, romperam-se ligações pessoais. Os jornalistas dos media independentes, bem como aqueles de países não-NATO incluindo China, Irão, América Latina, são considerados "persona non grata" pelos grupos dos media de referência dentro do hotel.

Mahdi diz a verdade. Ele desafia directamente as mentiras dos media de referência.

As reportagens de Mahdi ameaçam o consenso dos media da NATO.

O que ele está a descrever é a destruição de todo um país, das suas instituições, da sua infraestrutura.

Esta matança e destruição, dizem-nos, é necessária para instaurar "democracia" sob a bandeira colonial do rei Idris.

Mentem-nos do modo mais desprezível. As vítimas da agressão da NATO são designadas como "criminosos de guerra", ao passo que os perpetradores da guerra são saudados como Libertadores.

A mentira tornou-se a verdade e é por isso que a vida de Mahdi está ameaçada.

A guerra torna-se paz, de acordo com o consenso da NATO.

A "comunidade internacional" carimbou a campanha de bombardeamento da NATO dizendo que Kadafi é um ditador.

Repetido ad nauseam, as pessoas finalmente aceitam o consenso. A matança é um esforço de pacificação.

Como poderia ser de outra forma: Todos os media, todos os noticiários, por toda a terra, gente no governo, intelectuais, todos aceitaram este consenso.

Realidades são voltadas de pernas para o ar. Pessoas já não são mais capazes de pensar.

Elas aceitam o consenso porque ele emana de uma autoridade superior a qual não ousam questionar.

Isto é de facto a própria base de uma doutrina inquisitorial.

Os suportes "humanitários" da "Responsability do Protect", contudo, superam em muito a Inquisição Espanhola.

O que estamos a tratar é de um dogma que ninguém pode questionar.

Mahdi Nazemroaya desafiou este consenso ao revelar as mentiras dos media de referência.

Uma vez rompido o consenso da NATO, a legitimidade instigadores da guerra entra em colapso como um castelo de cartas.

E é por isso que a vida de Mahdi Nazemroaya está ameaçada.

Isto é uma guerra do século XXI. É uma guerra que afirma não ser guerra.

Todos os protocolos e convenções referentes à guerra deixam de ser aplicados.

O Comité Internacional da Cruz Vermelha não se encontra no terreno. Eles não têm mandato porque oficialmente isto não é uma guerra.

Esta é a mais desprezível e imoral guerra da história, na medida em que mesmo activistas anti-guerra, políticos de esquerda e os chamados progressistas aplaudem-na. "Kadafi é o ditador, ele deve ir".

É uma blitzkrieg com os mais avançados sistemas de armas. Vinte mil raids desde 31 de Março, segundo estatísticas da NATO, cerca de 8000 raids de ataques.

Cada raid de ataque inclui vários alvos, a maior parte dos quais são civis.

Comparar isto com os bombardeamentos da II Guerra Mundial ou do Vietname...

Nossa determinação é trazer Mahdi de volta ao Canadá, garantir o seu retorno seguro.

Divulguem por toda a parte.

24/Agosto/2011/12.22am EDT VIDEO

Programa da CBC News acerca de Mahdi Nazemroaya difundido hoje, terça-feira, 23 de Agosto de 2011:
http://www.cbc.ca/video/#/Shows/1221254309/ID=2103783289

O original encontra-se em http://www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=26164

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .


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sexta-feira, 27 de maio de 2011

Caco Barcellos, Maurício de Souza e Audálio Dantas relembram início no jornalismo


O "Encontro entre Jornalistas Escritores", promovido pelo Congresso Mega Brasil de Comunicação 2011, reuniu, na noite de quarta-feira (25/5), Caco Barcellos, Maurício de Sousa e Audálio Dantas. Com muitas histórias no currículo, os profissionais deixaram suas publicações em segundo plano e relembraram matérias marcantes e as dificuldades encaradas no começo da carreira.



"Gosto da rua, vivenciar o que acontece (...) No Abusado, o morro me deu a história".
Assistente de trovador e taxistaCaco Barcellos, da TV Globo, começou sua participação contando a infância pobre que passou em Porto Alegre. Ao comentar que veio de uma família humilde e que seus pais eram semi-analfabetos, o comandante do Profissão Repórter disse que acompanhava as trovas, cânticos com as observações do cotidiano, de seus familiares e que talvez daí tenha surgido sua percepção jornalística. "Era assistente de trovador, ajudava meu avô. Ele fazia os relatos da semana, sempre com bom-humor, mas minha visão era diferente".

Depois da infância na vida de trovador, Caco começou a trabalhar, mas nem imaginava ser jornalista. Seu emprego era de taxista, circulando pela região da capital gaúcha. Em nenhum momento a profissão foi desmerecida, pois era o que tinha que ser feito. "Como minha família era pobre tive que trabalhar com táxi", explicou.
Jornal com hippiesA carreira do autor de Rota 66 e Abusado começou a se encaminhar para a redação quando a direção da faculdade na qual cursava matemática - isso mesmo, Caco Barcellos chegou a cursar matemática - decidiu criar um jornal e precisava de estudantes para produzir o conteúdo. "Fui escolhido para fazer o jornal, até porque só eu tinha me inscrito", lembrou, aos risos.

Porém, Caco percebeu que não teria como tocar o jornal sozinho e começou a divulgar que precisava de assistentes para o auxiliar no trabalho à frente do veículo. Os anúncios não trouxeram muitos candidatos para a equipe, a não ser um grupo de hippies que demonstrou interesse. "Conversamos, eles estavam a fim e no outro dia já estava morando na casa deles e eles me ajudando a fazer o jornal".
Obama: o assassino de personagensCom o jornal da faculdade, Caco nunca mais deixou a carreira de jornalista de lado, chegando a ser correspondente internacional da Rede Globo em Londres, no Reino Unido. Entretanto, os prêmios recebidos e o reconhecimento do público não tiram a decepção atual do repórter, que é saber que nunca mais terá a oportunidade de entrevistar Osama Bin Laden.

A morte do terrorista, e consequentemente do personagem para uma conversa com Caco, foi lamentada e o presidente dos Estados Unidos não foi esquecido. "O Obama é um assassino de personagem. Queria fazer algum livro sobre a vida do Osama", lamentou.

"Tenho guardado em casa o esboço do personagem repórter policial, mas nunca irei publicar".
Desenho negadoCom o desejo de trabalhar com desenhos desde a adolescência, o criador da Turma da Mônica, Maurício de Sousa, contou que quase desistiu de seu sonho depois que levou seu primeiro sonoro "não". O episódio aconteceu quando, aos 17 anos, o quadrinista levou alguns de seus desenhos para o diretor de arte, na época, da Folha de S. Paulo, para avaliar seu trabalho.

"Quando ele disse que desenho não me traria dinheiro e que era para eu desistir levei um choque. Minha mãe, meu pai, todo mundo falava que eu desenhava bem, fiquei muito triste na hora", contou Maurício, sem informar o nome do diretor que boicotou a obra do patrono dos gibis da Turma da Mônica.
Repórter policialApesar de abalado por não ter seus desenhos aprovados, Maurício voltou naquela noite para sua casa empregado. Ao sair da conversa com o diretor de arte da Folha, ele mostrou o que tinha produzido para alguns dos repórteres do diário paulista e recebeu uma dica: entrar para a equipe do jornal, ocupando a vaga de copy-desk para depois cravar seu espaço nas ilustrações.

Maurício aceitou o desafio, mas não por muito tempo. Ficou apenas 15 dias na função e passou a ter outro cargo no jornal, repórter policial. Com a novidade, ele criou 'personagem' e comprou capa e chapéu para encarar o dia a dia das delegacias da cidade. "Cheguei na redação fantasiado", brincou.
Quadrinhos, textos, gibis e livrosSempre acompanhado de sua capa e chapéu, Maurício permanceu durante cinco anos como repórter policial da Folha de S. Paulo, quando, no mesmo jornal, pôde fazer o que sempre quis, trabalhar com desenhos. Com suas criações aprovadas pela chefia de redação do veículo, ele recordou a primeira vez que teve uma ilustração publicada. "Foi a primeira histórinha do Bidu".

Depois de mais de 40 anos da sua primeira tira publicada em um jornal, Maurício não guarda mágoas da pessoa que lhe deu o "não" e explicou que a passagem pela redação da Folha o ajudou na construção de textos para as histórias em quadrinhos. "Eu seria apenas um desenhista e não um escritor. A passagem pelo jornal serviu para aprender a escrever em poucas palavras, no tamanho que coubesse nos balões", declarou Maurício de Sousa, primeiro quadrinista a entrar para a Academia Paulista de Letras ao ser 'empossado', na semana passada.

"Para ser um bom jornalista e bom escritor tem que, primeiramente, ser um bom leitor".
A escritora da favelaUma reportagem a respeito das anotações feitas por Catarina Maria de Jesus, uma catadora de lixo que morava em uma favela próxima ao estádio do Canindé, em São Paulo, foi uma das matérias inesquecíveis feitas por Audálio. Na época da materia, ele trabalhava na Folha de S. Paulo e se surpreendeu com os textos. "Era uma semi-analfabeta, mas com uma capacidade imensa de observação".

"Foi a melhor reportagem que já fiz", contou Audálio, que lembrou que a matéria na qual entrevistou Carolina não estava programada em sua pauta, que tinha uma definição agendada: expor a situação de uma pequena favela que tinha surgido próxima ao centro da capital paulista, comunidade na qual morava a fonte do texto produzido.

A reportagem...o livroAlém de ser publicada no jornal, a reportagem que Audálio considera a melhor de sua vida serviu como o foco principal para a produção de Quarto de Despejo, livro escrito por Carolina, organizado por Audálio e traduzido em diversos idiomas. A obra, publicada em 1960, foi comercializada em cerca de trinta países e por quase 20 anos figurou entre as 100 publicações mais vendidas nos Estados Unidos

Fonte: Comunique-se

sábado, 16 de abril de 2011

240 jornalistas demitidos das redaçoes brasileiras, este ano

Desde o começo do ano, as redações brasileiras vêm demitindo jornalistas. Nos últimos quatro meses, foram 240 demissões, em São Paulo, Brasília e Sergipe. No entanto, a capital paulista registrou um número maior de dispensas, 218, em veículos como UOL, Estadão, TV Cultura, Abril, Meia Hora SP, Agora SP e Folha de S.Paulo.

Em muitos casos, os profissionais não serão substituídos, já que as demissões ocorreram por cortes orçamentários, como é o caso da TV Cultura (150), Estadão (22) Meia Hora SP (10) e TV Sergipe (6).

No começo de fevereiro foram 150 dispensas na TV Cultura, seguidas por 22 no jornal O Estado de S.Paulo, duas no UOL, 32 no Grupo Abril e dez no Meia Hora. Recentemente o Correio Braziliense demitiu sete jornalistas e foi seguido pelo conterrâneo Jornal de Brasília, com oito cortes. A TV Sergipe dispensou seis profissionais e o jornal A Tarde cortou um de seus jornalistas. O episódio mais recente foi o do Grupo Folha, que demitiu uma repórter do Agora SP e um editor da Folha, ambos por comentários no Twitter.

Estes são apenas os casos conhecidos, divulgados no Comunique-se, em blogs e nas redes sociais. Além desses, é provável que outros cortes tenham ocorrido em redações espalhadas pelo País.

Fonte:  Comunique-se

terça-feira, 8 de março de 2011

A dura vida das jornalistas brasileiras

Leonardo Sakamoto*
Coisa que vale a pena refletir neste 8 de março.
Gostaria de retomar um tema que já trouxe aqui. Há muitas bizarrices cravadas em nossa formação e até os que têm consciência disso cometem barbaridades. Quando páro para pensar no pacote de besteiras e pequenos crimes contra a igualdade de direitos que cometemos, dá até vergonha de sair da cama (ou, pior, de reencontrar algumas pessoas contra as quais perpetramos esses delitos de gênero). O que me lembra uma antiga militante pelos direitos das mulheres que dizia que todo o homem é inimigo até que tenha sido tenazmente educado para o contrário. Nesse sentido, a formação educacional e social de nós, jornalistas, continua pré-histórica, representando um ótimo retrato do restante de nossa sociedade.

Apesar delas serem a imensa maioria nas redações, são minoria nos cargos de alto comando. Raras são as empresas pelas quais já passaram mulheres pela direção. E as aquelas que lá chegam, têm que aguentar piadas e desconfianças. Podem não admitir em público, mas são muitas as histórias de frases como “liga não, é TPM daquela jornalista louca” ditas por fontes para justificar a publicação de determinada denúncia. Isso para ficar em formas leves de truculência.

Há poucas dentre as equipes que escrevem os editoriais – sabe como é, opinião é coisa séria, não dá para deixar na mãos das mulheres. Na média, também recebem salários menores que os nossos. Se forem negras então, afe! Na universidade pública, estudei com apenas uma negra, uma das mais competentes jornalistas que conheci. Mas só uma, dentre 25 pessoas. 

(No ano passado, a Organização Internacional do Trabalho lançou um estudo que mostrava como as mulheres tinham rendimentos mais baixos que os dos homens, apesar de, na média, terem maior escolaridade. Não tenho os dados sobre jornalistas, mas sim dos advogados – que dividirão conosco os melhores lugares no inferno no dia do Juízo Final: para advogados brancos, o salário médio de admissão havia sido de cerca de R$ 3 mil. No caso das advogadas negras, R$ 1,48 mil. Tem gente que ainda acha que isso é mentira – e depois manda a esposa esquentar o jantar e trazer o uísque).

As editoras têm que trabalhar mais para mostrar serviço, uma vez que são testadas o todo o tempo. Isso sem contar o estresse da pressão sobre a gravidez para não perder o que já foi conquistado devido ao afastamento. 

Cansei de contar as vezes que ouvi de amigas histórias de chefes que as assediaram abertamente no final de fechamentos. Para muitas, ser bonita é um presente ruim. De um lado, seu superior vai te fazer convites idiotas que podem “ser úteis para a sua carreira no futuro”. Do outro, os homens da redação, entrincheirados no fundo de sua mediocridade, podem achar que sua promoção ocorreu pelo fato de ter dormido com o chefe e não pela qualidade do seu trabalho. Isso acontece em qualquer profissão, é claro, mas nesta a hipocrisia faz com que as tintas pareçam mais carregadas. Critica-se a sociedade pelas atitudes cometidas dentro de casa. 

Lembrando que isso se aplica a todos – da imprensa mais progressista à mais conservadora. Pois idiotice não é monopólio ideológico de determinado grupo, bem pelo contrário, está espalhada, solta por aí. 

Como disse antes, gostaria de poder afirmar que tudo isso vai mudar e rápido. Desculpe se me repeti quanto ao que já havia discutido aqui antes. Mas jornalistas acham que são iluminados pela razão. O jeito que tratamos nossas companheiras de trabalho – conscientemente ou não – mostra que, apesar do acesso à informação, vamos na mesma lenta toada da sociedade como um todo, engatinhando para sair da idade das trevas do preconceito. Afinal de contas, não é informação que leva à mudança e sim como a compreendemos e nos apropriamos dela em nossas vidas. 

http://blogdosakamoto.uol.com.br/2011/03/07/a-dura-vida-das-jornalistas-brasileiras/
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