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terça-feira, 9 de novembro de 2010

A quem interessa a crise e o possível fim do Enem?

O Exame Nacional do Ensino Médio foi ampliado e consolidado no Governo Lula. Atualmente é utilizado, no mínimo como primeira etapa de seleção de candidatos ao ingresso no ensino superior, por uma ampla rede de universidades públicas e particulares espalhada pelo Brasil. Agora, diante dos problemas envolvendo 0,06% das provas aplicadas no último fim de semana (das 21 mil provas que apresentaram erros, apenas 2 mil não foram substituídas, de um universo de 3,3 milhões de alunos que realizaram o Enem), a Justiça Federal concedeu liminares cancelando e impedindo a reaplicação do Enem para os estudantes prejudicados. Hoje a Comissão de Educação do Senado convocou o ministro Fernando Haddad a explicar os problemas no Enem. A empresa norte-americana RR Donelley, gráfica contratada pelo Inep, lidera esse mercado mundialmente. Mas o fato é que uma crise está instalada.
Com a consolidação e cada vez maior aceitação do Enem pelas instituições de ensino superior, a importância do vestibular - e por extensão de seus mecanismos "estilo múltipla escolha" de instrumentalização da educação - foi reduzida, bandeira histórica dos militantes pela educação no Brasil. Com isso, toda uma indústria teve interesses contrariados, desde os chamados cursinhos, às gráficas especializadas em confecção de provas e às ONGs costumeiramente contratadas para realizar concursos públicos. Em contraposição, segmentos da sociedade brasileira que antes tinham pouco acesso ao ensino superior alteraram em parte o mapa sócio-econômico dos campi. Leia esta coletânea de alguns posts do website Conversa Afiada, em que o jornalista Paulo Henrique Amorim vai ao "X" da questão.


Haddad enfrenta a batalha do ENEM em defesa dos pobres

Por Paulo Henrique Amorim, do Conversa Afiada
O Ministro da Educação Fernando Haddad identificou entre 1.800 e 2.000 provas que deverão ser refeitas no ENEM deste fim de semana.

A gráfica contratada produziu 10 milhões de provas.

Houve problema num lote de 20 mil provas.

Dessas 20 mil provas, 10% podem ter problema.

Ou seja, seria uma relação de dois problemas em mil provas produzidas.

Um horror !

É preciso Privatizar a educação no Brasil, diriam a elite branca e os donos de cursinhos.

O Ministro Haddad agora vai examinar caso a caso a situação destas 1.800 provas.

Identificados aqueles efetivamente prejudicados eles farão uma nova prova.

O Ministro Haddad usa o chamado método TRI, que permite aplicar provas em dias diferentes com o mesmo grau de dificuldade.

No ENEM 2009, isso foi feito com pleno sucesso em presídios e em duas cidades do Espírito Santo que, no dia do exame, foram alagadas.

Não há problema nenhum !

O único problema é que o ENEM cria uma mudança estrutural no acesso à universidade brasileira.

O ENEM facilita e estimula o acesso dos pobres.

É por isso que uma inovação bem sucedida e importada dos Estados Unidos se transforma no Brasil numa guerra de classes.

Bendito o segundo turno.

Foi no segundo turno que caíram algumas das máscaras.

Uma delas é a ideologia da Casa Grande que sobrevive instalada na alma e no bolso de uma elite que pensa que o Brasil é bicolor.

Para entar na faculdade de Direito da Universidade de Harvard, Barack Obama teve que fazer o ENEM (lá conhecido como SAT).

Sessenta países membros da OCDE submetem os estudantes ao ENEM – lá conhecido como teste PISA.

O Toffel de proficiência em inglês é um ENEM.

É um sistema universal, comparável, utilizado há 60 anos e há quinze no Brasil.

O ENEM usa o método TRI – perguntas diferentes com idêntido grau de dificuldade.

Só assim é possvel aplicar o ENEM em dias diferentes, locais distantes e, no Brasil, em 1.600 cidades do país e a três milhões de estudantes.

É o sistema que seleciona os alunos do ProUni, os que se submetem à Prova Brasil, à Provinha Brasil, ao Enseja e, proximamemnte, aos financiados pelo FIES.

(Na gestão Haddad, o FIES passou a dispensar fiador. E, se o aluno cursar Medicina ou se tornar professor de escola pública, não paga o financiamento – o Estado paga tudo. Que horror !)

Para se inscrever no ENEM, o candidato paga R$ 35.

Mas, se for egresso de escola pública ou se demonstrar que é pobre não paga nada.

Oitenta e três mil vagas de universidades públicas federais serão preenchidas pelo ENEM.

Com os 150 mil alunos do ProUni – que sempre tiveram que fazer o ENEM (para o Agripino Maia e a Monica Serra não dizerem que o ProUni é o “Bolsa Aluno vagabundo”) com os alunos do ProUni, serão 230 mil vagas de universitários do país aprovados no ENEM.

Para o aluno, o ENEM traz inúmeras vantagens.

Ele pode fazer a prova em qualquer uma das 1.600 cidades e se qualificar para estudar em qualquer faculdade do país.

Ele não precisa se deslocar para o local da faculdade.

Não precisa se preparar em cursinho para se qualificar em curriculos de vestibulares diferentes.

O ensino médio deve ser suficiente para levá-lo a uma faculdade, passado o ENEM.

É mais barato e mais racional: ele compara a média dele com a de seus concorrentes e avalia para onde mais é mais razoável ir.

Estas são informações extraídas de entrevista que este ordinário blogueiro fez com o Ministro Fernando Haddad, que vai ao ar esta terça feira às 21h00 na Record News.

Perguntei se ele concordaria com a minha suposição de que o ENEM é a banda larga para o pobre chegar à faculdade.

Ele disse que sim.

E acrescentou.

“Eu costumo dizer que assim como “saudade” não tem tradução, “vestibular” também não.”

O ministro Fernando Haddad estava afiado. Veja como ele encara duas cobras criadas do PIG no "Bom Dia Brasil" desta terça.



Atualizando: importante anotar o exato significado de TRI - Teoria de Resposta ao Item. É o método utilizado no Enem e que, segundo o MEC, garante idêntico grau de dificuldade a diferentes perguntas sobre o mesmo tema, portanto atestando isonomia entre candidatos que respondem provas de um mesmo concurso em dias diferentes.