Carla Silva Machado*
No último 13 de maio, o Jornal Nacional da Rede Globo de televisão entrou no ar anunciando mais um dos problemas da educação brasileira, o editor e apresentador Willian Bonner dá o boa noite e anuncia: “ livro didático de língua portuguesa recomendado pelo MEC defende o erro de concordância.”
Após algum suspense mostrando outra matéria, é a vez de Fátima Bernardes anunciar a matéria e novamente citar que o livro didático em questão é de língua portuguesa, é autorizado pelo MEC e defende o erro de concordância.
A matéria vai ao ar apresentada pelo jornalista Alan Severiano, ele apresenta uma página do livro em que os autores apresentam um exemplo com erros de concordância e fazem comentário de que não se pode considerar aquilo como erro, mas como desvio de linguagem, os autores do livro aproveitam para discutir níveis de linguagem, variação linguística e preconceito linguístico. Após, uma das autoras do livro dá um depoimento concordando com as ideias defendidas em seu livro.
A matéria termina, e ao retornar ao estúdio, o apresentador-editor critica a posição da autora e o livro em questão, além de questionar o MEC por recomendar um livro assim, na concepção dele, com problemas, em seguida, o apresentador corrige dados apresentados no Jornal Nacional do dia anterior sobre o número de cursos de formação de professores, para, logo após, passar para a matéria seguinte.
O que o Jornal Nacional, ao apresentar uma matéria totalmente parcial, não leva em conta é que existe um campo de estudo chamado sociolinguística que defende que desvios padrões são permitidos em função de determinadas situações comunicativas, a página solta de um livro talvez não seja tão abrangente para fazer toda essa discussão, mas aponta para isso, quando menciona a questão do preconceito linguístico e da variação linguíistica, a escola precisa deixar claro para os alunos que existe uma norma culta, padrão, mas que existem inúmeras formas de comunicação, ou algum jovem fica preocupado com a norma culta ao bater papo no MSN?
O que Willian Bonner talvez não saiba é que os cursos de formação de professores, especificamente os de Letras e Pedagogia já trabalham com conceitos da sociolingüística há pelo menos 20 anos visando preparar o professor para atender a todas as camadas sociais que chegam à escola, que os PCNs de Língua Portuguesa, que são os parâmetros curriculares que servem para orientar as escolas de todo o Brasil na preparação de seus projetos pedagógicos já apresentam essa noção de desvio lingüístico no lugar de erro. Que esses PCNS foram lançados em 1996, ou seja, há pelo menos 15 anos o MEC discute a questão levantada no Jornal Nacional como uma denúncia educacional.
Sugiro ao editor e apresentador do Jornal Nacional ficar mais bem informado sobre questões educacionais e de linguagem, se não para informar corretamente à população, pelo menos para acompanhar seus filhos na escola, pois os mesmos devem entender melhor a sociolinguística e a sutil diferença entre erro e desvio que o pai.
Carla Silva Machado*
Professora de Língua Portuguesa do curso de Comunicação Social
da Faculdade Governador Ozanam Coelho (FAGOC/Ubá-MG)
Licenciada em Letras (UFV)/ Mestre em Educação (UFJF