sábado, 10 de outubro de 2009

MEC inclui educomunicação como conteúdo para curso na área de Comunicação e Artes

Pela primeira vez, a área responsável pelo ensino superior do Ministério da Educação reconhece e legitima a Educomunicação incluindo-a como possível conteúdo para a formação na área de Comunicação e Artes. No caso específico, o conceito está presente entre os conteúdos de formação previstos para os bacharéis em cinema, como parte da proposta de consulta pública para estabelecer os Referenciais Nacionais dos Cursos de Graduação (Licenciatura e Bacharelado), na subárea Cinema e Audiovisual. Sugerimos que tal disposição se estenda a todos os cursos da área da Comunicação Social, assim como aos estudantes de Pedagogia de todo o país.

Lembramos que o MEC, ao incluir o conceito como possível conteúdo disciplinar para a formação do cineasta, está, primeiramente, legitimando uma reflexão recentemente produzida pela prática social que identifica a educomunicação como própria da interface representada pelas ações na inter-relação Comunicação/Educação, não sendo, pois, adequado, que seja apoderado exclusiva ou preferencialmente por um ou outro campo.

Nesse sentido é de se supor que a educomunicação seja, para o MEC, um conteúdo que deve ser compartilhado com profissionais voltados ao campo tanto da produção e organização, quanto para o do magistério. No caso da área voltada para o magistério, a Secretaria do Ensino Básico e o segmento de projetos especiais - como o da educação ambiental - já o vêm trabalhando com o conceito em diferentes ocasiões. No caso do bacharelado em cinema, de acordo com o MEC, o profissional atuará como “produtor”.

Concluimos, daí, que para o MEC o conceito da Educomunicação, além de identificar ações no campo da educação escolar, já vem sendo aceito como definidor de um conjunto de atividades externas ao mundo da educação não formal, como a que envolve a produção cinematográfica.


Conceito complexo
O conceito da educomunicação vem sendo usado, na proposta do Departamento de Comunicações e Artes da ECA-USP, para designar o conjunto das ações voltadas para a criação e administração de processos e de produtos geradores de ecossistemas comunicativos abertos e criativos, envolvendo atores sociais em inter-relação mediante o favorecimento das distintas formas de expressão. Para tanto, tem como característica a concepção e desenvolvimento de planos, programas e projetos que assegurem ao maior número possível de sujeitos sociais articulados em torno de propostas educativas - independentemente de sua condição econômica e social - a acessibilidade aos recursos da informação e às linguagem da comunicação. 



Pressupõe, como condição necessária e indispensável, a gestão democrática e participativa das tecnologias e processos necessários à consecução dos fins propostos. Nesse sentido, o conceito não se confunde, na educação, com “tecnologia educativa” e não se reduz a uma modernização didática através do emprego das linguagens dos meios introduzidas no âmbito escolar tradicional. Nem, tão pouco, no âmbito da comunicação, se resume à produção suplementar direcionada ao ensino.



Trata-se, antes de tudo, de um paradigma ou referencial que vem sustentando o trabalho de numerosas ONGs que desenvolvem propostas de mídia e educação, estando, também, na pauta de veículos de comunicação que desenvolvem projetos com a participação de suas audiências. Na última década, passou a ser pensada como possibilidade junto aos sistemas educativos, permitindo a professores e alunos o planejamento e uso conjunto dos recursos da comunicação, como as linguagens cênica, musical, impressa, radiofônica, videográfica ou cinematrográfica, na prática escolar, hoje facilitadas pelas ferramentas digitais. Notícias sobre o sucesso destes empreendimentos estão presentes constantemente na mídia.


Licenciatura em Educomunicação
A Escola de Comunicações e Artes, que conta com um Curso Superior do Audiovisual, voltado para formar radialistas, cineastas e profissionais de televisão, acaba de aprovar uma Licenciatura em Educomunicação. Com suas disciplinas abertas aos alunos dos demais cursos da Escola e da Universidade, com um todo, a nova licenciatura terá como missão formar um profissional que possa atender as duas ordens de demandas previstas pelo uso do conceito pelo MEC: de um lado, a demanda de interface Comunicação/Educação na área da produção midiática e, de outro, a demanda proveniente do mundo educacional, tanto no âmbito do ensino básico (fundamental e médio) quando no superior.


Por outro lado, os responsáveis pelo projeto da Licenciatura em Educomunicação entendem que a iniciativa do MEC de propor o conceito e a prática educomunicativa como parte do conteúdo destinado à formação de um graduado de uma subárea específica (no caso a do Cinema e Audiovisual), seja igualmente aplicada a todos os projetos didáticos direcionados à formação de estudantes da área de Comunicação e Artes e das Humanidades, especialmente os de Pedagogia. Trata-se, enfim, do reconhecimento de que para além da formação de um profissional específico, previsto pela Licenciatura, tenhamos profissionais da pesquisa, da produção e do magistério em condições de iniciar um diálogo mais profundo sobre a complexa missão de produzir cultura e desenvolver uma educação em consonância com as exigências do mundo contemporâneo. (Ismar de Oliveira Soares. São Paulo, 5 de outubro de 2009)
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