terça-feira, 24 de novembro de 2009

Os comunicadores e os Pontos de Cultura

publicado por Thereza Dantas no Ponto por Ponto, Espaço de Comunicação Compartilhada

Não é incomum observar oficinas de comunicação na grade da programação das oficinas de diversas Organizações Não-governamentais (ONG), Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip) e instituições de caráter social, públicas e privadas. Ao fazer uma reportagem sobre o trabalho de uma ONG na Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro, encontrei uma oficina de "Jornalismo" e como jornalista resolvi pesquisar mais sobre essa nova onda.

Afinal o que é Jornalismo e o que é Comunicação?
Essa definição é consensual e pública: Jornalismo é a atividade profissional que consiste em lidar com notícias, fatos e a divulgação dessas informações. Também define-se o Jornalismo como a prática de coletar, redigir, editar e publicar informações sobre eventos atuais. Jornalismo é uma atividade da área da Comunicação, e dentro da Universidade, é o campo de conhecimento que forma publicitários, jornalistas ou relações públicas.

Mas a Comunicação é um conceito mais amplo, uma qualidade intrínseca do ser humano. Para Flávia Ferreira, jornalista que ministra as oficinas na Rede Enraizados, Ponto de Cultura da baixada fluminense que conta hoje com participação da militância do Hip-Hop de 16 organizações no Brasil e de outros países como Colômbia, Espanha, Bélgica, Portugal, Finlândia, França, Angola, Moçambique e Japão, a Comunicação é "tudo que envolve a sociedade, independente de ser mídia, pois tudo que fazemos precisa da comunicação". Flávia completa a sua ideia: "costumamos falar que um ser desprovido da comunicação se torna um animal, pois não conseguindo articular seus pensamentos com outros seres, ele não consegue pensar criticamente sobre si e sobre o mundo que o cerca, mundo este que só existe por que a comunicação o dotou de significados e signos". E a Flávia tem razão porque através da Comunicação nos relacionamos, dividimos e trocamos experiências, idéias, sentimentos, informações, e juntos modificamos a sociedade onde estamos inseridos.

A coordenadora de Comunicação do Ponto de Cultura Viva Favela, Mayra Jucá, explica o que são as oficinas de Comunicação da ONG carioca: "basicamente, nós capacitamos jovens moradores de comunidades de baixa renda para atuarem como 'Correspondentes Comunitários', termo que criamos no projeto Viva Favela para nomear os comunicadores que reportam sobre suas comunidades". Além desse trabalho formador de comunicadores existe uma grande preocupação com a forma, a maneira como essas comunidades serão retratadas “a proposta é a de construir uma imagem sem estigmas e sem o foco em questões sempre negativas como a violência e a pobreza, que é como a mídia em geral aborda esses espaços”, explica Mayra. É realmente difícil imaginar o ser humano que não se relaciona com outro, que não ame um outro, que não compre e que não venda para outro, enfim que não se comunique com outro ser humano. E a partir da afirmativa da Mayra Jucá podemos antever que para cada grupo social existe uma forma de se comunicar.

Quem são os comunicadores?
Na sua grande maioria são jovens, entre 16 a 25 nos, participantes das oficinas e atividades ligadas à comunicação dos eventos e problemas de suas comunidades. Mas para a carioca Gizele Martins, os jovens carecem de mais informações sobre o tema, "principalmente para quem não estuda na área de jornalismo". Gizele é uma virajovem, participa da redação da Revista Viração, projeto que nasceu em 2003 em São Paulo, e que conta hoje com a participação de jovens de escolas públicas e particulares nos conselhos editoriais nos 21 estados brasileiros para a produção da revista. Além da revista Viração ela também escreve no jornal "O Cidadão" produzido há 10 anos pela comunidade da Maré, no Rio de Janeiro. O bacana é que a jovem Viviane Oliveira também faz parte da equipe de colaboradores deste mesmo jornal só que participa via ONG Viva Favela, extensão do trabalho de políticas públicas da ONG Viva Rio. "Lá somos um total de oito pessoas. Duas delas são jornalistas formadas pela PUC-RJ, um é formado em publicidade, e todos os outros estudam Comunicação Social com habilitação em jornalismo", explica Viviane.

Para se ter uma ideia da importância do trabalho dos comunicadores, só o jornal "O Cidadão" cobre 16 bairros no Complexo da Maré, no Rio de Janeiro. São 20 mil exemplares distribuídos gratuitamente a cada três meses "nas escolas, nas associações de moradores, nos comércio, em lugares públicos da favela", explica a vira-midiadora (nome dos comunicadores da Revista Viração) Gizele Martins. E as mídias utilizadas por esses comunicadores são variadas. Podem ser jornais impressos, webrádios, rádios comunitárias, fanzines, blogs, sites, rádio poste, youtube, ou seja, eles podem ser impressos, áudios e vídeos produzidos de forma alternativa, mas não menos eficientes e muito mais próximos das reais necessidades de seus ouvintes, leitores e espectadores. Mas o comunicador tem uma característica curiosa: ele trabalha para várias redes sociais e de comunicação. O exemplo da correspondente comunitária Viviane Oliveira é muito comum: ela colabora com os blogs "O Cotidiano", "Foto&Jornalismo Maré" e "O CIDADÃO". Mais