O que é mídia livre?
7 de dezembro de 2009A sala não estava nem vazia, nem cheia. Havia uma quantidade ideal de pessoas no GT2 dessa sexta-feira, com o tema “Fazedores de Mídia Colaborativa”. Descobri isso logo que todos os presentes levantavam a mão e a voz para opinarem e darem continuidade ao debate.
No início, todos se apresentaram. Estavam lá Henrique Antoun (UFRJ), Pedro Markun (Jornal de Debates), Túlio Vianna (advogado e blogueiro), Edson Mackenzy (Videolog.com), Altino Machado (jornalista e blogueiro), João Caribé (consultor de mídias sociais / blogueiro), Alon Feuerwerker (blogueiro e jornalista), Antonio Martins (Le Monde Diplomatique), Marcelo Branco (Campus Party) e outros. A maioria portando seu notebook e twittando entre uma fala e outra.
Durante o GT, muitos pontos foram discutidos acerca do uso da internet para se fazer uma mídia colaborativa. Henrique Antoun afirmou que a internet, com suas redes e blogs, é uma mídia muito ligada a coletivos, a movimentos. E levantou a questão: qual a diferença entre comunicação e mídia colaborativa?
Enquanto o debate esquentava, Antonio Martins confirmou que a interatividade promovida pela mídia livre muda as coisas, mas não se sabe quanto tempo vai durar. Marcelo Branco completou, dizendo que a questão do financiamento dos novos modelos de software livre é uma incógnita. Para concluir, Fabio Malini definiu a questão principal: como financiar as mídias colaborativas diferente do modelo tradicional?
Já no fim do GT2, discutiu-se sobre o fato de a mídia livre ser colaborativa, pois os grandes meios também são colaborativos a partir do momento em que fazem jornalismo-cidadão e similares. E não se deve considerar esse meios livres somente por isso. Mas o que seria mídia livre afinal? E foi essa pergunta que se tentou responder durante todo o Fórum. No GT2, ficamos com essa: mídia livre é forte, é uma tentativa de dar voz a uma minoria e a muitas pessoas ao mesmo tempo.
Comunicação como direito, comunicação como negócio
4 de dezembro de 2009O Fórum de Mídia Livre possui como objetivo não apenas fomentar discussões acerca do cenário midiático nacional; na verdade, se utiliza desse mecanismo como ferramenta para propor ações que promovam um diferencial na atual economia da informação. Tal meta foi perseguida exaustivamente nas quatro horas de debate coordenadas por Renato Rovai (Revista Fórum), no GT Políticas de Fortalecimento da Mídia Livre, nessa sexta-feira, 4.
Para quem esperava um refluxo de circulação a caminho do Seminário “A Morte do Popstar” se surpreendeu: todas as cadeiras da sala onde ocorreu o debate, no Prédio de Multimeios, estavam ocupadas – seja por pessoas, seja por aparatos técnicos de transmissão pela web (juntamente com a produção jornalística do FML, estava sendo realizada uma transmissão ao vivo pela Abraço). Na intenção de quebrar o gelo emissor-receptor, os presentes propuseram uma organização das mesas que permitisse dar voz a todos os presentes. Um a um, todos se levantaram formando uma grande roda, marca registrada de um formato que aos poucos vem tomando conta de debates, a desconferência.
A idéia do GT é formular propostas de políticas públicas que possam fortalecer a atividade midialivrista no Brasil e empenhar esforço para efetivá-las junto ao governo. Contudo, mais do que isso, Rovai aponta para a formação de uma rede de solidariedade: “é bom poder conhecer as pessoas que só conhecemos através de emails e ver como elas fazem para tocar suas próprias histórias. Acaba virando também um espaço para um ajudar o outro com idéias, apoio, incentivo etc”.
Propostas e pontos de vista
De uma forma geral, é possível dizer que a busca é por autonomia e dignidade. Rovai contrapõe a forma como a comunicação é vista entre os midialivristas (e aqui podemos incluir desde rádios e TVs comunitárias a blogueiros solitários) e o mercado tradicional: ao passo que o primeiro vê a comunicação como um direito, o segundo vê como business. Mas veja, conforme alerta Alexander Galvão (Ancine), é preciso estar atento à definições: “fazer parte da economia das mídias não é o mesmo que jogar conforme o mercado das mídias”. Marco Amarelo (Soy Loco por Ti) vai na mesma linha quando enuncia a posição editorial de não trabalhar com publicidade em seu portal na web.
Há ainda ponderações no debate. Luiz Carlos (Abraço) critica a sustentabilidade das mídias livres apenas através de editais e incentivos governamentais. Mas Rovai indica que o caminho na verdade é da mudança no modelo de financiamento. Segundo Rovai, “esse modelo vai mudar para todos. O velho modelo do mercado de massa está fadado a morrer. Nossa meta é traçar estratégias para ocupar o espaço quando essa mudança ocorrer”.
"Quem se diz fazedor de mídia livre, quem se apresenta como midialivrista não pode defender o direito autoral para a produção de conteúdo na mídia e na cultura." (Renato Rovai, diretor da Revista Fórum, durante o II Fórum de Mídia Livre. Vitória, dezembro de 2009)