Laerte Braga


Há anos atrás, ainda na revista O CRUZEIRO (tinha pelo menos sete vezes a circulação de VEJA, questão de qualidade) o jornalista Millôr Fernandes afirmou que “a única regra que não tem exceção é essa – toda regra tem exceção”.

É perigoso generalizar essa história de Congresso corrupto, Judiciário idem, Executivo ibidem e partidos políticos sem princípios. É claro que dez por cento dos senadores, dez por cento dos deputados, dez por cento dos governadores, deputados estaduais, juízes, ministros de cortes supremas são decentes. Têm consciência do papel que desempenham.

E nem a corrupção é a cabeça principal do processo político no Brasil. Ela é conseqüência do modelo, do capitalismo, é intrínseca ao capitalismo.

Esse sim, o capitalismo, em si e por si, é a razão de ser de todo essa degeneração política no Brasil e em quase todo o mundo hoje, aterrorizado pelos arsenais nucleares do terrorismo norte-americano. A chamada nova ordem política e econômica imposta após o fim da União Soviética.

No caso específico do Brasil a cúpula de “consultores” do PT já percebeu o equivoco que foi a escolha de Dilma Roussef. E nisso não há dúvidas quanto ao seu caráter, mas certeza quanto ao seu tamanho político. É menor que o cargo que ocupa, que a tarefa que lhe foi confiada. Essa percepção do tamanho político de Dilma passa não por compromissos assumidos em campanha, mas por dificuldades na consecução de “negócios” que possibilitem apartamentos de seis milhões, quase sete, de reais.

O problema de toda essa confusão em torno de Antônio Palocci, ministro chefe do Gabinete Civil é que, de saída, Palocci nunca poderia ter sido chamado de volta a um governo depois dos fatos que resultaram em seu afastamento do Ministério da Fazenda no governo Lula. É além de tudo é um sujeito repulsivo.

Aí, entra outra responsabilidade. O PT nasceu como partido “diferente”. Livre dos vícios e ranços de partidos tradicionais – falo dos grandes – em toda a História do Brasil. Sinalizava mudanças estruturais num País ainda na Idade Média em determinadas regiões, sobretudo aquelas dominadas pelo latifúndio (bestas sobreviventes do período jurássico).

Aos poucos se adequou ao jogo do clube de amigos e inimigos cordiais do poder. Fez concessões de tal ordem que hoje não tem volta. É um PSDB com uma bandeira em cores diferentes.

O jornal THE FINANCIAL TIMES proclama de maneira eufórica que a privatização dos aeroportos no Brasil é uma “guinada ideológica”.

Idéia dos “consultores” do PT, realidade imposta pelas concessões feitas na busca da sobrevivência e de poder – principalmente de poder, aquele negócio de sala com telefone, secretária, grampeador, caixa de clips, carimbo, e placa com o nome.

A conseqüência dessa guinada é que todo o conjunto da luta popular no Brasil é afetado num retrocesso sem tamanho. Não que esteja no mesmo balaio, longe disso, muito longe, mas no efeito cascata da generalização feita pela mídia, parte da podridão capitalista.

Houve conquistas importantes no governo Lula. O presidente inventou o “capitalismo a brasileira” (essa não foi uma conquista). O empresariado percebeu que o modelo lulista comportava políticas sociais que em nada afetariam seus privilégios e a sorte maior de Lula, a de ter conseguido manter no seu ministério duas figuras do porte de Samuel Pinheiro Guimarães e Celso Amorim, além do carisma – inegável – do presidente “operário”, conferiram-lhe o direito de eleger o que Delfim Neto chamou de “um poste”.

É lógico que a militância petista, aquela que acreditou no ex-ministro José Dirceu quando esse confirmou o caráter “socialista” do partido, não tem nada a ver com isso e boa parte deve estar perplexa com os rumos que os tais “consultores” da cúpula petista, todos milionários, vão dando ao governo Dilma Roussef.

O retrocesso que se verifica no País é de exclusiva responsabilidade do PT e sua cúpula. Não foram capazes de compreender o momento histórico do salto político e ideológico que indiscutivelmente o governo Lula gerou e nem o recado das urnas.

FHC percebeu logo. “Temos que deixar de lado os pobres e buscarmos seduzir a classe média”.

Permanecem intocadas as grandes empresas predadoras no Brasil e pior, associadas e defendidas pelo governo petista, caso do consórcio que vai construir o monstro Belo Monte – Tucurui continua sem as tais condicionantes do IBAMA terem sido atendidas, gerou milhares de desabrigados, beneficiou centenas de latifundiários e empresas com grandes e irreversíveis danos ambientais. Se gritar pega ladrão na cúpula do IBAMA não sobra ninguém.

Circulam impunes os latifundiários chefes de pistoleiros a praticar tiro ao alvo em lideranças camponesas.  

Aumenta a presença do capital estrangeiro controlando setores vitais da economia (Israel controla a indústria bélica brasileira). Dos grandes bancos privados dois são nacionais e mesmo assim com participação de capital estrangeiro, vale dizer, controle real. Se puxarem a escada quebram os ditos bancos. E um grupo de empresários espertalhões que percebeu ainda no governo Lula o alcance do “capitalismo a brasileira” – irretorquível definição de Ivan Pinheiro – se transforma, rapidamente, nos novos donos do País.

O latifúndio permanece intocado no desvario dos transgênicos e no agrotóxico servido à mesa de cada brasileiro, em meio ao desmatamento geral sem qualquer critério ou responsabilidade, agora com aval do PC do B através do deputado Aldo Rebelo (não confundir PC do B com PCB, são distintos em tudo e por tudo) e o Brasil retoma a descida ladeira abaixo para transformar-se num entreposto de luxo do capitalismo internacional, na ausência da presidente Dilma Roussef, “poste” controlado pela cúpula de um partido cada vez mais fisiológico e cada vez, uma grande banca de negócios e consultorias.

É pouco provável que Dilma tome uma atitude e com ela as rédeas do governo. Reencontre a si e à sua história.

É certo que os brasileiros pagarão o alto preço da irresponsabilidade desses consultores ávidos de poder e “negócios” e toda a luta popular, inclusive a militância petista, cega ou não, todos vamos pagar o preço desses desvios.

A manchete do THE FINANCIAL TIMES não é mera notícia. É um grito de vitória dos donos do mundo sobre o Brasil.

E a falência do partido transformado em empresa de  “consultoria” com um monte de aspones.   

Nas regiões estratégicas do País circulam sem preocupação de se esconder agentes norte-americanos, da MOSSAD – serviço secreto de Israel – ONGs que disfarçam apetites imperialista e colonialistas.

A fraqueza do governo petista, o comprometimento do PT com o clube de inimigos e amigos cordiais, começa a transformar o Brasil numa casa da mãe Joana. São muitos os donos e o que se constrói é um futuro de privilégios para privilegiados.

Um exemplo? A casa da deputada Rita Camata em Vitória, Espírito Santo, só se ela ganhou na loteria. Do contrário é dinheiro de propina mesmo. E como ela não ganhou na loteria e nem a sociedade dos Camata com Aécio Neves resultou nisso, é o caso típico de quanto me dão para votar a favor. Ou contra, dependendo do que estiver em votação.

Muralhas de cinco metros de altura em praias particulares controladas pela PM do estado.

Povo? O PT não sabe mais o que é isso. Especializou-se em FIESP/DASLU.

O que tem Rita Camata a ver com o PT? Consultoria.

A direita original está pronta para reassumir o controle. O PT virou cópia de má qualidade. 

Cesare Battisti continua preso no maior absurdo jurídico da história recente, como definiu o jurista Dalmo Dalari de Abreu (à época que FHC indicou Gilmar Mendes para o STF, Dalmo Dalari de Abreu denunciou em vários jornais brasileiros que o indicado era corrupto. O Senado aprovou a indicação).

A FOLHA DE SÃO PAULO, nesse diapasão, inclui entre seus colaboradores o torturador, estuprador e um dos principais protagonistas da Operação Condor (esquadrão da morte das ditaduras militares) Brilhante Ulstra.