terça-feira, 28 de junho de 2011

Na America Latina, dificuldades de atualização científica pode ser compensada pela interação entre vizinhos

COBERTURA ESPECIAL – CONFERÊNCIA HTAi 2011


China e Argentina mantêm programas de cooperação para criação de diretrizes de saúde.
 
Agência Notisa – Ontem (27), no primeiro dia da Conferência HTAi, que acontece no Rio de Janeiro até quarta-feira (29), o painel Challenges of HTA Translation Into National Clinical Practice Guidelines in Developing Countries: Experience of Argentina and Chile mostrou como países latino-americanos contornam dificuldades para a produção de diretrizes que possibilitem a criação de sistemas de saúde melhores. Participaram da mesa-redonda, Victoria Wurcel (Ministério da Saúde da Argetina), Graciela Demirdjian (National Pediatric Hospital J.P. Garrahan, Argentina), Luis Vera Benavides e Patrícia Kraemer (ambos do Ministério da Saúde chileno).
 
Segundo Victoria Wurcel, a situação argentina – que pode ser estendida a muitos países da América Latina – torna complicado o estabelecimento de diretrizes e protocolos de qualidade inquestionável para orientação das práticas médicas. Entre as razões para tal dificuldade, estão: a lenta penetração e consolidação de movimentos de pesquisas baseadas em evidência; as barreiras linguísticas que tornam difícil o acesso à literatura biomédica atualizada e a falta de recursos humanos e econômicos. Além disso, disse Wurcel, o fato da Argentina ser dividida em 24 jurisdições autônomas dificulta políticas nacionais, uma vez que estratégias para saúde não podem ser impostas a todas as jurisdições, dificultando uma integração de qualidade.
 
Graciela Demirdjian apresentou a situação do Hospital J.P. Garrahan, uma referência em tratamento pediátrico na Argentina. A especialista lembrou que muitas vezes a elaboração de guias e protocolos é desestimulada dentro dos próprios centros de saúde, sob o argumento de que não há evidências para montá-los ou de que será um esforço em vão. Para anular tais argumentos, é importante que, uma vez estabelecidos guias, haja um monitoramento de sua aplicabilidade e eficiência. Na avaliação de Demirdjian, protocolos bem definidos e criados com base em evidências científicas seguras promovem e aumentam a qualidade do atendimento, ao mesmo tempo em que podem reduzir custos. Além disso, são instrumentos importantes para preencher o espaço entre a pesquisa e a prática, se configurando como ferramentas para o trabalho médico diário.
 
Já o sistema de saúde chileno funciona num regime misto (privado e público), sendo o Ministério da Saúde o grande pólo que designa políticas e programas nacionais, além de coordenar órgãos subordinados e monitorar e avaliar a aplicação de suas estratégias para saúde, explicou Luis Vera Benavides. Patrícia Kraemer detalhou os passos para criação de guias do Ministério da Saúde chileno: coordenadores temáticos e tecnológicos se unem para convocação de um painel de especialistas, vindos de hospitais, universidades e outros centros de produção de conhecimento. Em seguida, é feita pesquisa e análise de evidências para elaboração de diretrizes para questões específicas, com eliminação de dados que não são relevantes. A versão bruta do guia é levada para revisão e recebe sugestões de diversos especialistas. Depois de corrigida, é impressa a versão final do protocolo, também disponibilizado on-line.
 
Uma iniciativa do Chile apresentada pelos palestrantes foi o plano AUGE, instaurado em 2005, que é parte de um movimento amplo de reforma do sistema de saúde chileno. O projeto busca garantir a todos os chilenos o acesso a um pacote de medidas de saúde para alguns problemas específicos, baseado nos princípios de “acesso, prazo, proteção financeira e urgência vital”. A medida, porém, ainda é falha para criação de diretrizes, porque, segundo Benavides, há problemas para padronização de guias a nível nacional, havendo também falhas na monitoração e implementação das garantias estabelecidas pelo AUGE.
 
Para contornar as dificuldades de criação de guias para a prática médica, Victoria Wurcel destacou que, além de medidas a nível nacional como a Unidad Coordinadora de Evaluación y Ejecución de Tecnologías en Salud (UCEETS – iniciativa argentina que busca a troca de informações, participação conjunta, padronização e criação de um banco de dados comum, entre outros objetivos para estabelecimento de guias para saúde), é importante a cooperação entre países da América Latina. Segundo ela, Chile e Argentina têm se esforçado para criação de estratégias capacitadoras, através da troca de recursos, transferência de conhecimentos e facilitação de acesso a novas tendências internacionais, eliminando tradicionais dificuldades de atualização em pesquisas internacionais. Ainda que, como Graciela Demirdjian ressaltou, a disseminação de diretrizes deva levar em conta o contexto de cada situação, uma vez que “pessoas são diferentes e países são diferentes”, as bases para montagem de protocolos são transferíveis, de maneira que, acredita Victoria, a cooperação deve ser sempre estimulada.
Nota: O Brasil é o primeiro país da América Latina a sediar a Conferência Internacional de Avaliação de Tecnologias de Saúde(HTAi). Essa de 2011 é oitava. O Blog  Educom Aprenda Ler a Mídia
está publicando a Cobertura Especial  da  HTAi  feita pela Agencia Notisa, que começou ontem e termina amanhã (Zilda Ferreira).
Agência Notisa (science journalism – jornalismo científico