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quinta-feira, 30 de junho de 2011

Paciente colabora mais no tratamento quando entende a doença

COBERTURA ESPECIAL – CONFERÊNCIA HTAi 2011
 

Por isso, especialistas asseguram que investir na educação dos pacientes é uma boa estratégia.
Agência Notisa – A Conferência Internacional HTAi, que discutiu durante essa semana no Rio de Janeiro a importância da avaliação de tecnologias em saúde, reservou para seu último dia (29) o debate sobre o papel dos pacientes no próprio tratamento. Segundo pesquisadores de diferentes países, a educação é uma importante ferramenta, pois possibilita que os médicos conversem com os pacientes utilizando uma linguagem que eles entendam. Dessa forma, os doentes aprendem qual é a melhor opção para seu caso, tendo por base suas preferências.
A antropóloga Britta Mortensen, pesquisadora do Centro Dinamarquês para a Avaliação de Tecnologias em Saúde, usou o seu país como exemplo para justificar o quanto é importante investir na educação dos pacientes.
“As doenças crônicas são cada vez mais frequentes no mundo. Só na Dinamarca, 1/3 da população tem uma ou mais doenças crônicas. Cerca de 70 a 80% dos gastos do sistema de saúde são destinados ao tratamento dessas pessoas. Além dos benefícios para os pacientes, esse viés econômico mostra que a educação do paciente é uma boa estratégia. Assim, eles podem cada vez mais gerir suas doenças, reduzindo os custos do governo”, disse.
Na Espanha, o epidemiologista Javier San Roman, membro da Unidade de Avaliação de Tecnologia de Saúde da Agência governamental Lain Entralgo, desenvolveu uma ferramenta para ajudar o paciente na tomada de decisão sobre como cuidar da sua doença. Segundo ele, o método se mostrou muito eficaz na redução da passividade no processo de tomada de decisões.
 
“Com esse método, o paciente pode refletir sobre os prós e contras de cada opção terapêutica. Pode tomar uma decisão mais embasada sobre que caminho seguir”, disse. O método desenvolvido por ele, que parte de entrevistas com os pacientes, foi testado em mulheres com câncer de mama.
 
Tanto Javier quanto Britta e outros pesquisadores presentes no evento concordam que, infelizmente, um programa de educação de pacientes criado em um país dificilmente terá a mesma eficácia em outro. “A aplicabilidade fica comprometida devido aos diferentes contextos locais, às praticas médicas, entre outros.”, explicou Javier.
 
A pesquisadora Sophie Werkö, do Conselho Sueco de Avaliação de Tecnologias em Saúde, avaliou ferramentas de educação de pacientes na Suécia. Segundo ela, os métodos de entrevista motivacionais e terapia cognitiva comportamental, ambos realizados em grupo e individualmente, se mostraram eficazes na redução do HbA1C em pacientes diabéticos e, inclusive, foram incorporados às diretrizes nacionais do tratamento da doença.
 
“O programa de educação em grupo se mostrou um dos mais eficazes. No entanto, o mais importante é ressaltar que o programa tem mais sucesso quando é realizado por profissionais que conhecem bem a doença e a metodologia”, destacou.
 
Os profissionais responsáveis pela aplicação do programa no estudo conduzido por Sophie foram enfermeiros. Porém, ela e os outros especialistas enfatizaram que uma característica essencial de toda equipe de saúde envolvida no tratamento é saber ouvir o doente. Só assim, os profissionais saberão o que é melhor para cada paciente. A partir dos desejos e preferências deles.
 
Javier, Britta, Sophie e os demais profissionais presentes no evento acreditam que o processo de tomada de decisão compartilhada é o melhor caminho no tratamento de muitas doenças. Embora eles considerem que são necessários mais estudos para avaliar a eficácia dos programas e ferramentas, assim como seus custos, acreditam que o investimento na educação dos pacientes não deve parar.
 
“Muitos pacientes fazem o recomendado pelos médicos, porém não entendem o que estão fazendo. O aprendizado dessas competências os faz ser mais independentes. Abre novas perspectivas na sua vida e os tornam mais seguros”, resumiu Britta.
 
Agência Notisa (science journalism – jornalismo científico

terça-feira, 28 de junho de 2011

Na America Latina, dificuldades de atualização científica pode ser compensada pela interação entre vizinhos

COBERTURA ESPECIAL – CONFERÊNCIA HTAi 2011


China e Argentina mantêm programas de cooperação para criação de diretrizes de saúde.
 
Agência Notisa – Ontem (27), no primeiro dia da Conferência HTAi, que acontece no Rio de Janeiro até quarta-feira (29), o painel Challenges of HTA Translation Into National Clinical Practice Guidelines in Developing Countries: Experience of Argentina and Chile mostrou como países latino-americanos contornam dificuldades para a produção de diretrizes que possibilitem a criação de sistemas de saúde melhores. Participaram da mesa-redonda, Victoria Wurcel (Ministério da Saúde da Argetina), Graciela Demirdjian (National Pediatric Hospital J.P. Garrahan, Argentina), Luis Vera Benavides e Patrícia Kraemer (ambos do Ministério da Saúde chileno).
 
Segundo Victoria Wurcel, a situação argentina – que pode ser estendida a muitos países da América Latina – torna complicado o estabelecimento de diretrizes e protocolos de qualidade inquestionável para orientação das práticas médicas. Entre as razões para tal dificuldade, estão: a lenta penetração e consolidação de movimentos de pesquisas baseadas em evidência; as barreiras linguísticas que tornam difícil o acesso à literatura biomédica atualizada e a falta de recursos humanos e econômicos. Além disso, disse Wurcel, o fato da Argentina ser dividida em 24 jurisdições autônomas dificulta políticas nacionais, uma vez que estratégias para saúde não podem ser impostas a todas as jurisdições, dificultando uma integração de qualidade.
 
Graciela Demirdjian apresentou a situação do Hospital J.P. Garrahan, uma referência em tratamento pediátrico na Argentina. A especialista lembrou que muitas vezes a elaboração de guias e protocolos é desestimulada dentro dos próprios centros de saúde, sob o argumento de que não há evidências para montá-los ou de que será um esforço em vão. Para anular tais argumentos, é importante que, uma vez estabelecidos guias, haja um monitoramento de sua aplicabilidade e eficiência. Na avaliação de Demirdjian, protocolos bem definidos e criados com base em evidências científicas seguras promovem e aumentam a qualidade do atendimento, ao mesmo tempo em que podem reduzir custos. Além disso, são instrumentos importantes para preencher o espaço entre a pesquisa e a prática, se configurando como ferramentas para o trabalho médico diário.
 
Já o sistema de saúde chileno funciona num regime misto (privado e público), sendo o Ministério da Saúde o grande pólo que designa políticas e programas nacionais, além de coordenar órgãos subordinados e monitorar e avaliar a aplicação de suas estratégias para saúde, explicou Luis Vera Benavides. Patrícia Kraemer detalhou os passos para criação de guias do Ministério da Saúde chileno: coordenadores temáticos e tecnológicos se unem para convocação de um painel de especialistas, vindos de hospitais, universidades e outros centros de produção de conhecimento. Em seguida, é feita pesquisa e análise de evidências para elaboração de diretrizes para questões específicas, com eliminação de dados que não são relevantes. A versão bruta do guia é levada para revisão e recebe sugestões de diversos especialistas. Depois de corrigida, é impressa a versão final do protocolo, também disponibilizado on-line.
 
Uma iniciativa do Chile apresentada pelos palestrantes foi o plano AUGE, instaurado em 2005, que é parte de um movimento amplo de reforma do sistema de saúde chileno. O projeto busca garantir a todos os chilenos o acesso a um pacote de medidas de saúde para alguns problemas específicos, baseado nos princípios de “acesso, prazo, proteção financeira e urgência vital”. A medida, porém, ainda é falha para criação de diretrizes, porque, segundo Benavides, há problemas para padronização de guias a nível nacional, havendo também falhas na monitoração e implementação das garantias estabelecidas pelo AUGE.
 
Para contornar as dificuldades de criação de guias para a prática médica, Victoria Wurcel destacou que, além de medidas a nível nacional como a Unidad Coordinadora de Evaluación y Ejecución de Tecnologías en Salud (UCEETS – iniciativa argentina que busca a troca de informações, participação conjunta, padronização e criação de um banco de dados comum, entre outros objetivos para estabelecimento de guias para saúde), é importante a cooperação entre países da América Latina. Segundo ela, Chile e Argentina têm se esforçado para criação de estratégias capacitadoras, através da troca de recursos, transferência de conhecimentos e facilitação de acesso a novas tendências internacionais, eliminando tradicionais dificuldades de atualização em pesquisas internacionais. Ainda que, como Graciela Demirdjian ressaltou, a disseminação de diretrizes deva levar em conta o contexto de cada situação, uma vez que “pessoas são diferentes e países são diferentes”, as bases para montagem de protocolos são transferíveis, de maneira que, acredita Victoria, a cooperação deve ser sempre estimulada.
Nota: O Brasil é o primeiro país da América Latina a sediar a Conferência Internacional de Avaliação de Tecnologias de Saúde(HTAi). Essa de 2011 é oitava. O Blog  Educom Aprenda Ler a Mídia
está publicando a Cobertura Especial  da  HTAi  feita pela Agencia Notisa, que começou ontem e termina amanhã (Zilda Ferreira).
Agência Notisa (science journalism – jornalismo científico

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Na área de saúde, Brasil ainda não consegue transformar conhecimento em riqueza social

COBERTURA ESPECIAL – CONFERÊNCIA HTAi 2011


País tem dificuldade em desenvolver pesquisa científica que leve a mudanças sociais efetivas.
 
Agência Notisa – Não se pode negar que o Brasil tem crescido muito em termos de produção de conhecimento. Cada vez mais pesquisas nacionais aparecem em publicações internacionais, e a área de saúde se destaca como um campo frutífero à produção científica. Mas esse crescimento em produção teórica e em pesquisas de qualidade ainda não conseguiu ser transformado em mudanças que estimulem o desenvolvimento econômico e social do país. É esta a avaliação de Carlos Gadelha, secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde, apresentada durante o plenário intitulado The Challenge: Healthcare Systems Sustainability in the 21th Century, ocorrido hoje no Rio de Janeiro.(27/06/2011)
 
O evento faz parte da Conferência HTAi 2011, iniciativa da Health Techonology Assessment International (HTAi) juntamente com o Ministério da Saúde e outros centros, cujo objetivo este ano é discutir como a Avaliação de Tecnologias em Saúde (ATS) – qualificada pelo Ministério da Saúde como um “processo de investigação das consequências clínicas, econômicas e sociais da utilização das tecnologias em saúde” – pode contribuir para criação de sistemas de saúde que respeitem princípios da sustentabilidade. Da mesa redonda deste primeiro dia da conferência, participaram também Andy Haines (London School of Hygiene & Tropical Medicine), Alice Granados (Genzyme – Espanha), José Carvalho de Noronha (Fundação Oswaldo Cruz) e Adriana Velazquez (OMS), com coordenação de Reinaldo Guimarães (ex-secretário do Ministério da Saúde).
 
Os palestrantes se dedicaram a destrinchar o atual cenário dos sistemas de saúde, seja no âmbito nacional ou internacional. Em relação ao Brasil, Carlos Gadelha afirmou que o país vive hoje um “contexto social muito dinâmico”, com queda nos índices de pobreza e grande crescimento da classe média, sendo que 53% da população têm acesso ao sistema primário de saúde através do SUS. Diante disso, os desafios para montagem de um sistema de saúde que atenda a esta porcentagem crescente aumentam. O grande problema é que haveria um “descompasso” entre tal demanda em atendimento em saúde e a nossa capacidade de produção e inovação, necessária para garantir um serviço abrangente e de qualidade.
 
Na visão de Gadelha, o Brasil tem dado passos importantes em relação ao aumento de sua capacidade de produção e inovação em tecnologias e pesquisas em saúde, porém este conhecimento não termina por gerar riqueza social, ou seja, não há uma tradução deste conhecimento em estratégias e diretrizes para serem aplicadas na prática médica. Esta realidade, segundo o secretário, fica clara analisando alguns dados: “não só a participação do país na criação de patentes em saúde a nível mundial é quase irrisória, como grande parte das tecnologias e inovações usadas em nosso sistema de saúde são importadas, criando grande dependência externa”.
 
Para resolver este problema, seria necessário encontrar maneiras de articular a dinâmica do desenvolvimento econômico e de inovação com o desenvolvimento social. Uma alternativa, sugeriu Gadelha, é a interação entre sistemas públicos e privados, organizada de forma mais abrangente do que um mero “meio para alavancar renda para pesquisa em saúde”. Mais do que uma fonte de obtenção de recursos, tal parceria deve pautar a agenda de inovações, permitindo que o setor privado invista onde o Estado não pode alcançar.
 
As apresentações dos representantes internacionais deixaram claro que o Brasil não é o único país que precisa ultrapassar muitos desafios para conseguir estabelecer um sistema de saúde mais seguro e acessível a toda a população. Andy Haynes e Adriana Velazquez mostraram em gráficos e números que a situação da saúde principalmente em países menos desenvolvidos ainda é precária, com grandes questões envolvendo doenças virais como malária e a AIDS, além de altos níveis de mortalidade materna e infantil. Em 2005, exemplificou Velazquez, enquanto foram registrados 650 mortes maternas em países de baixa renda, apenas nove casos semelhantes ocorreram em países com melhores condições. Ambos os especialistas concordam que a solução para este descompasso estaria na melhoria do sistema primário de saúde. Segundo eles, se houver investimento em tecnologias e inovações que permitam diagnósticos precoces e atendimentos mais velozes, certamente muitas vidas serão salvas. Alicia Granados lembrou, por sua vez, da importância fundamental de se ter uma visão holística dos sistemas de saúde, entendendo-os em suas dimensões científica, política e social, de maneira que sejam estimuladas a parceria e a solidariedade entre todos estes componentes.
 
Já José Carvalho de Noronha lembrou da questão do envelhecimento da população, uma tendência mundial. O aumento da longevidade não necessariamente se reflete na queda da morbidade, sendo as doenças crônicas hoje uma questão preocupante, que pressiona a administração de mais recursos num planeta de fontes esgotáveis. Para o profissional, seria preciso, então, traçar um caminho em que sejam atendidas as necessidades do presente, sem comprometimento com a habilidade de atendê-las no futuro.

Agência Notisa (science journalism – jornalismo científico)