20/12/2012 - Saul Leblon em seu Blog das Frases
- Carta Maior
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Decorridos mais 365 dias, nosso olhar se desliga agora do passado e se volta para o futuro, apresentando-lhes este texto. Como o autor, desejamos aos leitores uma boa leitura e um FELIZ ANO-NOVO.
(Equipe Educom)]
Recorrente, como um soluço no imaginário social, o milenarismo não contagia apenas mentes ingênuas e visões de mundo primitivas.
Às vezes o fatalismo pega carona em 'sinais' correlatos, como agora. Interpretações apocalípticas, ou apenas oportunistas, anunciaram o fim do mundo neste dia 21 de dezembro de 2012, ao término do 13º giro, de 393 anos cada, do calendário maia.
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Na concepção religiosa original um círculo iniciado há milhares de anos se fecha. Reabre-se um novo.
Para o milenarismo ligeiro é o apocalipse, o fim, a tragédia. Contra ela não há apelação. É esperar e sucumbir.
A concepção da história como um destino que caminha para o esgotamento, um fio de azeite sugado no miolo do pão, ressurge não raro quando massas de força de aparência incontrolável conduzem a humanidade a um horizonte engessado, como que desprovido da dialética.
A crise sistêmica do capitalismo, blindada desde 2008 pelo poder de persuasão do seu aparato ideológico, encerra certo incentivo ao desespero milenarista.
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Instituições são capturadas pela crise; a sociedade é destituída das suas salvaguardas. Governantes mugem como gado no rumo do abate. Pode ser no próximo ajuste. Ou nas urnas.
Seria preciso reformar as instituições democráticas para enfrentar a abrangência e a profundidade de uma crise como a atual.
O dispositivo midiático cuida de interditar esse debate. E toma a lição de casa a cada dia. No café da manhã, à tarde e na sabatina da noite.
Como discutir novos caminhos e repactuar consensos se o espaço da liberdade de expressão foi congestionado pelo monólogo da reiteração conservadora?
A pergunta argui o milenarismo de governos que aceitam as limitações institucionais com a mesma fatalidade dos que aguardam o apocalipse no fecho do círculo maia.
A economia brasileira é parte indissociável dessa paralisia mundial.
A travessia iniciada em 2008 avançou do arcabouço neoliberal para um modelo de desenvolvimento em que o comando do Estado subtraiu algum espaço à supremacia financeira asfixiante.
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A supremacia financeira uiva, ruge e manda recados, em idioma local e forâneo. Fica bem pedir a cabeça de Mantega em inglês. Ou elogiar o sultanato do judiciário incentivando prisões de petistas antes do Natal.
A redução imposta às taxas de juros dará ao Estado brasileiro uma folga da ordem de R$ 40 bilhões a R$ 50 bilhões em 2013. Dinheiro subtraído ao rentismo à disposição do investimento público.
O governo poderá destiná-lo a desonerações fiscais e a investimentos em infraestrutura. Poderá beneficiar as condições de vida da população e a engrenagem da produção.
O governo Dilma só não pode desmoralizar o comando estatal das finanças com dinheiro parado no cofre.
Um Estado feito para não funcionar.
Uma engrenagem desprovida de agilidade, sem quadros de ponta capaz de ativa-la, necrosada na capacidade de planejamento, corroída na gestão operacional; drenada pelo rentismo; sem fundos públicos suficientes e carente de legitimidade política.
Criou-se neste país um Estado anti-estatal. Um aparato esquizofrênico que se acanha de si mesmo, fatiado em normas labirínticas que exaurem o impulso do desenvolvimento em vez de alimenta-lo.
O que trava o passo seguinte da economia hoje no Brasil não é a falta de recurso, mas a falta de poder de comando do Estado.
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O fato, porém, é que sob a névoa da maior crise do capitalismo em 80 anos, a iniciativa privada não vai a lugar nenhum sem a indução estatal do comboio.
Desobstruir o Estado - despi-lo dos torniquetes neoliberais - seria encrespar ainda mais o embate político num calendário já congestionado pela largada eleitoral de 2014, argumenta-se.
A essa altura pode ser verdade. Mas à contabilidade dos interditos vem somar-se as operações conjuntas - bem sucedidas - das togas, da mídia e demais interesses contrariados nessa transição. O espaço se estreita de forma exasperante.
É esse o objetivo conservador.
A areia da ampulheta empurra o país para o escrutínio político dos conflitos.
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A opção à paralisia converge cada vez mais para quatro letras que romperam seu ostracismo no vocabulário do PT e de ministros próximos a Lula nos últimos dias: ruas.
Coube ao ex-presidente da República nesta quarta-feira - às vésperas do 'fatídico' 21-12-2012 - dar a esse resgate vernacular a dimensão de um compromisso que reabre o calendário das ruas na história brasileira.
(Lula, na posse da nova diretoria do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, 19-12-12).
Fonte:
http://cartamaior.com.br/templates/postMostrar.cfm?blog_id=6&post_id=1160
Nota:
A inserção das imagens, quase todas capturadas do Google Images, são de nossa responsabilidade e, excetuando uma ou outra, inexistem no texto original.