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sábado, 21 de dezembro de 2013

Indigestão ambiental na escola de Gestão Ambiental da USP

18/12/2013 - por Juliana Guarexick, da Envolverde

Infestação por ratos, ácaros de pombos e contaminação da água causaram mais uma interrupção das atividades acadêmicas no Campus Leste da Universidade de São Paulo (USP) desde a segunda-feira, (16).

Ironicamente, os problemas ambientais se intensificam na unidade que concentra o curso de gestão ambiental da mais importante universidade da América Latina.

Alunos, professores e funcionários marcam ato de protesto em frente à Reitoria nesta quinta-feira (19) às 17 horas (Marcelo Camargo/ABR)

Alunos, funcionários e professores já haviam feito, em setembro, uma greve que durou 50 dias, para exigir medidas saneadoras da direção da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH), que em 2 de agosto foi advertida pela Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb) de que deveria cumprir exigências para descontaminação do solo do campus e afastar o risco de explosão.

Os prazos para atendimento de todas as exigências da Cetesb é abril de 2014. Porém, a companhia exige que algumas etapas sejam concluídas até o final de dezembro, como por exemplo “a definição sobre a implantação dos sistemas de extração de gases e a finalização das investigações do solo contaminado”.

Além disso, a Cetesb adverte que “não serão autorizadas quaisquer intervenções nos solos, ou nas águas subterrâneas, na área do campus da EACH, até que um estudo de investigação ambiental e um plano de intervenção tenham sido aprovados pela companhia”.

No e-mail dirigido aos alunos, professores e funcionários para comunicar a suspensão das atividades acadêmicas, o vice-diretor no exercício da direção da EACH, Edson Leite [foto-D], informou que já foram iniciadas as providências para saneamento das instalações de água, com a limpeza dos reservatórios, dedetização e desratização geral do campus e troca de filtros dos bebedouros.

Quanto aos ácaros, estava prevista para ontem (17) uma inspeção detalhada em todas as instalações da unidade para planejar as ações necessárias.

Riscos à saúde
No final de novembro, o Ministério Público Estadual (MPE) entrou com uma ação civil pública solicitando a suspensão das aulas e a interrupção das obras de ampliação no Campus Leste.

O detalhamento dos riscos à saúde e dos problemas ambientais também estão entre as demandas do MPE.

Apesar de admitir que a água do subsolo está contaminada em diversos pontos do campus, a direção publicou no site da EACH que “estudos apontam a inexistência de riscos atuais aos trabalhadores e estudantes do campus, desde que não haja ingestão de água do subsolo”.

Afirma também que “não existe nenhuma relação do gás metano com a água fornecida pela Sabesp ou com a água de reúso do Campus USP Leste”. Os detalhes sobre a segurança ambiental do campus podem ser acessados aqui.

O terreno, cedido pelo governo do Estado de São Paulo, já funcionou como aterro de dejetos do Rio Tietê.

Com o passar do tempo, o material decomposto começou a emitir gás metano. Segundo a Cetesb, esse contaminante é tóxico e pode até ser explosivo.

Parecer técnico elaborado por professores de Avaliação de Impacto Ambiental e de Gestão de Recursos Hídricos da EACH ressalta, porém, que “o risco à saúde humana é um risco crônico que somente irá se manifestar depois de algum tempo”. Veja o documento completo aqui.

Campus da USP Leste, em Ermelino Matarazzo. Foto: Divulgação

O buraco é fundo
Nós estamos mergulhados no caos. O cenário na EACH é uma fratura exposta da USP”, disse à Envolverde o professor de Gestão de Políticas Públicas da unidade, Marcelo Nerling [foto], ao relatar que a situação no campus não se restringe aos problemas ambientais.

“Há prática de abuso de autoridade, constrangimento de professores e incapacidade de ampliação do espaço físico.”

Nerling diz que a gestão do campus, atualmente sob responsabilidade do vice-diretor Edson Leite, é parte de “um jogo de ‘faz de contas’ com o diretor José Jorge Boueri Filho, afastado do cargo em 13 de setembro por decisão de reunião aberta da Congregação da USP Leste”.

Boueri foi afastado temporariamente em consequência do despejo de terra de origem desconhecida no campo central, em 2011.

O afastamento definitivo deve ser oficializado em novo encontro da congregação.

Até agora nenhuma reunião foi marcada e o poder concentra-se 
nas mãos de Leite, que não tem capacidade nem legitimidade para funcionários, professores e alunos”, diz o professor Nerling.

Todos esses fatores, segundo ele, compõem “um quadro comprometedor da qualidade de ensino”.

Ato por respeito à EACH
A interrupção das aulas ocorre justamente no período de finalização do semestre, já atrasado para reposição dos dias da greve que se estendeu até o dia 29 de outubro.

Alguns alunos faziam provas, outros teriam trabalhos e outros ainda tinham aulas”, explicou à Envolverde Augusto Amado, aluno do 5° ano de gestão ambiental.

Segundo ele, “estava marcada para quinta-feira uma cervejada de fim de ano”, mas a confraternização vai ser substituída por um ato em frente à reitoria da USP Butantã às 17 horas – no mesmo dia da eleição do novo reitor da Universidade.

Até o fechamento desta matéria, mais de 670 pessoas já tinham confirmando presença na página do evento no Facebook.

Procurada pela Envolverde para se manifestar sobre o assunto, a direção da EACH informou por e-mail que “estará em recesso entre os dias 18 de dezembro e 3 de janeiro de 2014. As atividades serão retomadas no dia 6 de janeiro de 2014 (segunda-feira)”.

* Edição:
Sávio de Tarso - Envolverde

Fonte:
http://envolverde.com.br/noticias/indigestao-ambiental-na-escola-de-gestao-ambiental-da-usp/