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quinta-feira, 1 de março de 2012

EUA contra Manning & Assange


29/02/2012-Michael Ratner* (entrevista transcrita por The Real News Network, TRNN)
“United States vs. Manning & Assange” - Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Rede castorphoto

*Michael Ratner é presidente emérito do Centro pelos Direitos Constitucionais (CDC) em New York e presidente do Centro Europeu pelos Direitos Constitucionais e Humanos em Berlim. Atualmente, trabalha como conselheiro para questões de lei nos EUA, contratado por Wikileaks e Julian Assange. Ratner e o CDC foram os primeiros a denunciar a ilegalidade da detenção de suspeitos na prisão de Guantánamo e continuam a trabalhar pelo fechamento daquela prisão. Foi professor da Faculdade de Direito de Yale e da Faculdade de Direito de Columbia, e presidente da Associação Nacional de Advogados. É autor de vários livros, dentre os quais Hell No: Your Right to Dissent in the Twenty-First Century America [Proibido! O direito de discordar, nos EUA do século 21] e Who Killed Che? How the CIA Got Away With Murder [Quem matou Che? Como a CIA escapou de responder por aquele crime].

As opiniões de Ratner nesta entrevista são opiniões pessoais, e não envolvem as organizações das quais participa.

Vídeo URL: http://www.youtube.com/watch?feature=player_detailpage&v=ctKqJ-WJs64 (http://youtu.be/ctKqJ-WJs64)


PAUL JAY, editor sênior, TRNN: Você é um dos advogados de Julian Assange e WikiLeaks e acompanhou a sessão da corte militar que está julgando Bradley Manning. O que aconteceu lá?

RATNER: Bem, como você e seus ouvintes, melhor, seus telespectadores, certamente sabem, Bradley Manning é acusado de ser a fonte de grande parte do material que WikiLeaks publicou: o vídeo “Assassinato Colateral”, em que se assiste aos assassinatos cometidos no Iraque, os tiros partidos de um helicóptero; e as centenas de milhares de documentos de guerra sobre o Afeganistão e também sobre o Iraque; e um quarto de milhão dos chamados “telegramas diplomáticos". E é acusado de ter feito tudo isso aos 22 anos, servindo ao exército. Está agora com 24 anos. Foi tratado com extrema, extrema violência, foi torturado durante longo tempo. E agora está sendo mandado para uma corte marcial – em que militares julgam militares. Pesam contra ele 22 acusações, inclusive, e a mais grave de todas, de ter cooperado com o inimigo, crime punível com pena de morte. Quanto a isso, os procuradores disseram – falaram, pelo menos, sobre isso, o governo disse – que não pedirão a pena capital; disseram que querem julgá-lo e condená-lo à prisão perpétua. Na sessão mais recente desse processo, Manning foi levado ante o juiz, para que se declarasse culpado ou não culpado, ou pedisse uma prorrogação. Assisti a essa sessão. Foi rápida, cerca de uma hora, em Fort Meade, perto de Baltimore, a uma hora, mais ou menos, talvez 40 minutos de distância, do centro da cidade. É uma base militar imensa. Ninguém entra. Meu carro foi revistado. Exigem que você exiba seguro do carro, vários documentos. Se se passa por essa inspeção, entra-se numa fila.

Não se pode levar nenhum tipo de objeto para dentro da sala do tribunal, só papel e lápis. Não se pode usar nenhum tipo de telefone, transmissor, computador, nada. E lá fiquei, naquela sala limpa como quarto de hospital. É difícil descrever aquele tipo de limpeza, de assepsia: revestimento de tipo industrial, barato, no piso; teto de compensado, com pequenos furos; e lugares para apenas 20 pessoas. Havia dez presentes, a maioria, da imprensa. Bradley Manning entrou. É baixo, menos de 1,60m, magro, em uniforme de soldado, ao lado de seu advogado civil (que já foi advogado militar). Sentou-se junto à mesa. E continuava uma sensação estranha, naquela corte antisséptica.

Ali estava aquele homem, acusado de ter revelado quantidades massivas de crimes de guerra cometidos, segundo se sabe, pelos EUA. Mas quem ali estava era Manning, ali, naquele Fort Meade. Sentado ali, o que eu sentia é que ali deveriam estar sentadas as vítimas do que os EUA fizeram no Iraque e no Afeganistão. Mas bem claramente não estavam ali. Ali se viam os militares da acusação, com mais medalhas e condecorações do que eu jamais vira numa mesma sala. E o acusado, claro. Acusado de crimes muito, muito sérios.

O juiz é novo, recentemente indicado, e Bradley Manning foi chamado para responder perguntas. A única coisa que se ouviu dele naquela sala foi “sim, meritíssimo”; e “não, meritíssimo”. O advogado falou por ele; pediu uma prorrogação. E marcaram a data para a próxima audiência, que será em março.

Quanto à data do julgamento – os militares querem que o julgamento aconteça em agosto. O que significa que, se for julgado em agosto – e não creio que o julgamento seja marcado para agosto – Bradley Manning terá permanecido preso, até lá, mais de 800 dias. Durante esse tempo, foi submetido a tratamento que muitos de nós entendemos que seja tortura: foi mantido completamente nu, numa cela solitária, durante nove meses, até que, afinal, muita gente pôs-se a protestar pelo mundo, e ele foi transferido para a prisão de Fort Leavenworth, no estado do Kansas.

Quanto às 22 acusações, como já disse, são pesadíssimas. Na última audiência, seu advogado, David Coombs, disse que Manning está sendo acusado de tantos crimes exclusivamente porque as autoridades norte-americanas acreditam que ele tenha repassado os documentos a WikiLeaks e supõem que ele conheça algum segredo sobre WikiLeaks e Julian Assange; então, querem que Manning conte tudo o que supõem que Manning saiba; não apenas que confesse que passou os arquivos a Assange, mas que diga algo que realmente implique Julian Assange e WikiLeaks.

JAY: A ideia geral é que, se houve um vazamento, Manning é responsável; mas ele pode ter apenas passado adiante, digamos, o material que reuniu. Mas se Assange o instruiu antes, se disse a ele o que fazer ou como fazer, nesse caso seria possível acusar Assange de envolvimento nos mesmos crimes de que acusam Manning. É isso?

RATNER: Você está lembrando um aspecto muito importante. É exatamente isso. Quero dizer: eu não diria exatamente nessas palavras, mas a questão é, sim, exatamente essa. Os juízes militares querem provar – ou, pelo menos, é o que o estado está tentando provar – que Julian Assange participou da conspiração ou que, no mínimo, convenceu e ajudou Bradley Manning a pôr as mãos naqueles documentos. Querem construir um cenário em que Manning e Assange teriam trabalhado juntos desde o começo; Assange não recebeu, apenas, de Bradley Manning documentos que Assange nem sabia que existissem.

Eu não usaria exatamente essas palavras, porque tenho outra hipótese sobre o caso. Considere o seguinte. O repórter James Risen, do New York Times, o jornalista que descobriu as gravações ilegais de telefonemas de cidadãos, que Bush autorizara, recebeu “de dentro”, os documentos que provavam as gravações ilegais; recebeu-as de alguém da Agência Nacional de Segurança, ou de alguma outra agência do governo norte-americano. Não se comentou, mas presumo – não sei desses detalhes – que os documentos não foram simplesmente deixados sobre a mesa de James Risen no New York Times nem lhe foram entregues, de repente, pelo correio. Presumo, não sei, estou presumindo, que houve contatos anteriores entre o jornalista e a “fonte”. Talvez vários contatos.
O que quero dizer é que, em certo momento, os contatos entre jornalista e fonte podem, sim, começar chegar muito perto de conspiração contra o estado, o governo, o presidente. Mas se digo à minha fonte: “encontre-me na esquina de Hollywood e Vine; há um restaurante ali; entre e deixe os documentos sobre o balcão”... Ora. Isso não converte nenhum jornalista em conspirador. Se o jornalista disser à fonte “deixe o envelope embaixo de uma pedra do jardim”... Nada disso, por si só, converte o jornalista em conspirador ou em “formador de quadrilha” [1].

Os EUA estão procurando qualquer vestígio de pêlo em ovo, nesse caso, porque os juízes e advogados que estão trabalhando para acusar Manning já sabem que têm um problema. Se não conseguirem envolver Julian Assange e WikiLeaks num caso de conspiração, no qual alguém consiga provar que Assange instruiu e ajudou Bradley Manning, os juízes nada têm para construir uma acusação formal contra Assange. Qual seria a diferença entre Julian Assange e o jornalista; ou entre WikiLeaks e o jornal The New York Times? Todos os dias abrimos o jornal e lemos páginas e páginas de material sigiloso vazado para a imprensa. Mas os EUA têm agora de tentar – como você disse, precisam manter preso Bradley Manning pelo maior tempo possível, na esperança de que, seja como for, conseguirem implicar Julian Assange nos crimes de que acusam Bradley Manning.

JAY: Entendido. E sobre...

RATNER: Foi exatamente o que disse o próprio advogado de Bradley Manning. Por isso é que Manning está sendo tratado de modo tão violento. Sim, ele baixou todos aqueles documentos. E o governo quer puni-lo pelo que fez, quando ainda era soldado. Mas o que o governo realmente quer – os peixes grandes que o governo dos EUA quer enredar nesse caso são WikiLeaks e Julian Assange.

JAY: A imprensa tem discutido a estratégia da defesa, e parece, pelo que se diz, que, em primeiro lugar, Manning estava em estado mental, psicológico, tão precário, que, em primeiro lugar, ele jamais poderia ter tido acesso a tantos segredos. Ninguém parece interessado em afirmar que, se um soldado encontra provas de que se cometeram crimes de guerra, é dever dele expor o que sabe; que esse seria seu direito e, até, seu dever. A defesa não parece interessada em explorar esse caminho. Estão dizendo apenas que há algum problema, alguma, digamos, fragilidade psicológica, em Bradley, e que ele deve ser absolvido por causa disso.

RATNER: Veja... Ao final da audiência da semana passada, eu estava lá com, digamos, outras dez pessoas, entre as quais um homem que esteve preso com o Padre Berrigan [2], nos anos 1970s. – Imagine só. O homem estava lá, em Baltimore, semana passada! – De fato, acho que foi dos primeiros feridos naquelas manifestações populares dos anos 1970s. Foi preso e depois, acabou por ser posto em liberdade. O homem é do tipo que resiste, você sabe, dos que nunca desistem, um daqueles indestrutíveis militantes pacifistas da resistência contra a guerra. E estava lá, no julgamento de Manning. Ao final da audiência, aquele homem – e isso é importante, a favor do que você lembrou – gritou: “E não é dever de todos os soldados denunciar crimes de guerra?!”

Acho que a questão é exatamente essa. É obrigação dos soldados revelar crimes de guerra que vejam acontecer. E isso, em minha opinião, é exatamente o que Bradley Manning fez. Por isso, todos os que como eu creem que os EUA cometeram inúmeros crimes de guerra, pelos quais tentam não ser responsabilizados, vemos com tanta simpatia a causa de Manning. Assumindo-se que Manning tenha feito o que é acusado de ter feito, ele desempenhou papel muito importante ao trazer todos aqueles crimes ao conhecimento do povo dos EUA.

Mas, sim, como você disse, a defesa parece trabalhar numa via diferente dessa. A defesa de Manning, pelo menos na audiência que chamam de “audiência do artigo 32”, uma audiência preliminar, para estabelecer se há provas suficientes para acusar e julgar alguém, a defesa, como estava dizendo, optou por uma espécie de defesa psicológica.

A defesa de Manning, de fato, optou por uma defesa ‘em dois tempos’: começaram por argumentar que, afinal de contas, havia 3,5 milhões de pessoas, todas com o mesmo nível de acesso a documentos secretos que Bradley Manning também tinha; essas 3,5 milhões de pessoas foram autorizadas a ver aqueles documentos pelos serviços militares e de segurança dos EUA. Assim sendo, o que o governo esperava? Que ninguém, daquelas 3,5 milhões de pessoas, jamais revelasse coisa alguma?

JAY: Só para explicar aos que nos ouvem: Bradley Manning tinha o mesmo tipo/nível de acesso a documentos secretos que outros 3,5 milhões de militares e agentes de segurança. A loucura inicial, portanto, parece ser que tantos documentos hoje apresentados como tão sensíveis, tenham sido expostos a essa verdadeira multidão. Ok. Prossiga.

RATNER: Exatamente. O que quero dizer é que, de fato, aqueles documentos eram de nível “secreto” ou inferior. Nada havia, nos documentos divulgados, que fosse “top secret”. Nos telegramas diplomáticos não há um só documento classificado como “top secret”. Há o vídeo “Assassinato Colateral”, importante; mas foi classificado como “secreto”, não é “top secret”. Por isso, 3,5 milhões de pessoas tinham acesso àqueles documentos. Ainda que Manning e outros não tivessem qualquer motivo para fazer o que Manning está sendo acusado de ter feito, se tinham acesso àqueles documentos, esse acesso lhes foi autorizado por militares ou agentes de segurança de patente superior à de um cabo. Com o que se vê que todo o sistema de segurança é fragilíssimo. Assim sendo, a responsabilidade pelos vazamentos é dos serviços militares e de inteligência dos EUA, que não fizeram o que existem para fazer.

De qualquer modo, pouco me preocupa a fragilidade do sistema de segurança. O que me interessa é que, sim, estavam acontecendo crimes por lá; e os crimes vieram à tona, talvez, exatamente, porque os eventos daquela guerra não estavam protegidos por sistemas de segurança eficazes.

Por tudo isso, a defesa de Manning começou por aí: se aqueles documentos eram sigilosos e importantíssimos... por que não estavam protegidos adequadamente? Só depois de fixar esse primeiro argumento é que a defesa de Bradley Manning entrou no campo das dificuldades psicológicas do próprio Bradley.

Bradley é gay, o que não seria problema em si. Mas, pelo que se sabe, foi severamente abusado pelos colegas, desde o primeiro dia de serviço militar, por ser gay, por ter baixa estatura, todos conhecemos esse tipo de violência: Bradley Manning não tinha os atributos que os preconceitos associam ao “soldado modelo”. Sabe-se que o comando no qual Manning estava alistado recebeu várias reclamações, dos chefes imediatos de Manning, que protestaram contra Manning ser mandado para o Iraque. Fato é que Manning foi mandado para o Iraque e, lá, foi posto na sala de computadores onde trabalhou. Sabe-se também que Manning escreveu e-mails sobre o assunto, e que pesquisou vários sites em que se discutem questões de gênero; que enfrentava problemas de identidade sexual; que considerou a possibilidade de inscrever-se para uma cirurgia de mudança de sexo. Algumas vezes, ao que se sabe, foi encontrado no chão, em posição fetal. E há outras informações desse tipo, no processo.

O que interessa observar é que a defesa de Manning não construiu uma defesa política; não disse, até agora, que o soldado tem o direito, se não a obrigação (que, de fato, o soldado tem) de denunciar publicamente crimes de guerra dos quais tenha conhecimento. Se o soldado leva os crimes ao conhecimento dos superiores imediatos, e não vê tomarem-se providências, é preciso, então, denunciar os mesmos crimes, por outras vias. Mas os advogados de Manning não adotaram essa via política de defesa.
Minha opinião é que a defesa está convencida de que o caminho que escolheu é o melhor para Bradley Manning. Eles estão preparando o campo para, no caso de Manning ser condenado, haver fatores que possibilitem requerer reduções da pena. Pessoalmente, essa é a minha opinião até agora.

JAY: É possível que a defesa tenha razão. Afinal, é difícil imaginar que uma corte militar de justiça aceite que soldados revelem segredos, em todos os casos em que os soldados suponham que tenha havido crime de guerra.

RATNER: Por um lado, é claro, foi uma decisão dos advogados que estão defendendo Bradley Manning. Claro que, sim, como você disse, se tivessem optado por defesa mais fortemente política, o mais provável é que fossem detonados naquela corte militar. Mas, se adotassem uma via mais política, conseguiriam mobilizaria mais facilmente a opinião pública mundial. Talvez até, num determinado momento, sob forte pressão popular, o governo fosse forçado a conceder alguma espécie de indulto, ou perdão; talvez o governo ficasse em posição de não poder continuar a julgar Manning como criminoso, se as pessoas o vissem como herói. Concordo que, aqui, já entramos no terreno da pura especulação. Eu talvez, como advogado, preferisse a linha mais política. Mas o advogado de Manning é experiente e está conduzindo as coisas como lhe parece melhor para Manning.
Mas eu sou advogado de WikiLeaks e Julian Assange, e todo esse julgamento me interessa diretamente, porque interessa aos meus clientes, por algumas razões muito importantes. Primeiro, como já disse e como o advogado de Manning também disse, o governo está tentando forçar Bradley Manning a testemunhar contra Julian Assange. Manning foi torturado para que dissesse qualquer coisa que incriminasse Assange. Está sendo julgado com a fúria condenatória que se vê naqueles juízes, também, para forçá-lo a dizer qualquer coisa que incrimine Assange. Vai ser julgado em corte militar marcial, exclusivamente como mais um meio para tentar forçá-lo a dizer qualquer coisa que incrimine Assange. Por tudo isso, o julgamento de Manning é muito importante para nós.

E o julgamento de Manning também é importante para nós, porque os EUA estão muito fortemente empenhados em indiciar Julian Assange. Há um Grande Júri, uma corte federal instalada, pronta e à espera, em Alexandria, Virginia. Está constituída e suspensa há um ano. Não tenho tido notícias recentes, mas está aberta e em andamento lá uma investigação sobre WikiLeaks. Além disso, todos entendemos que o objetivo dos EUA é conseguir extraditar Julian Assange, seja da Grã-Bretanha, se Assange permanecer lá; seja da Suécia, se Assange tiver de voltar à Suécia na sequência de um processo ainda não encerrado, em que Assange foi acusado de abuso sexual e estupro. O objetivo dos EUA é conseguir extraditar Assange, seja da GB ou da Suécia, para julgá-lo nos EUA.

JAY: Há alguma razão pela qual seja mais provável extraditá-lo da Suécia para os EUA, do que da GB para os EUA?

RATNER: Deixe-me só concluir meu argumento, antes de falar sobre isso, que é muito, muito importante.

O segundo aspecto do julgamento de Bradley Manning interessa e tem muito a ver com Julian Assange é que, na tentativa para extraditar Julian Assange, um aspecto que a Corte Europeia considerará é como Assange será tratado nos EUA. Será tratado como combatente inimigo? É possível. É pouco provável, mas é possível. Será posto em cela solitária e torturado, como Bradley Manning, deixado nu, sem poder ver ninguém? Isso com certeza é muito, muito provável, como todos sabemos. E será acusado de crimes para os quais a Lei Antiespionagem [orig. Espionage Act] prevê pena de morte? Tudo isso será discutido na Corte Europeia que decidirá sobre a extradição de Assange. Por isso, quando se analisa o modo como Bradley Manning está sendo tratado nos EUA, uma das defesas possíveis para Julian Assange – e, quanto a isso, não faz diferença de onde ele seja extraditado – será mostrar como os prisioneiros são tratados nos EUA.

Agora, sobre o que você perguntou, se será mais fácil extraditá-lo da Suécia, que da Grã-Bretanha, acho que – é minha opinião, pessoal – sim, será mais fácil extraditá-lo da Suécia. Acho que uma das razões de eu pensar assim é ver que, sim, os EUA preferem tentar extraditá-lo da Suécia. O que sei é que na Grã-Bretanha (e conheço bem os advogados ingleses de Assange) a extradição não é fácil. Não é fácil arrancar prisioneiros de Londres. Há advogados britânicos especialistas nesse tipo de defesa. Há o caso de um hacker que, muito jovem, invadiu os computadores do Pentágono. Os EUA tentam extraditá-lo há oito anos E não estou dizendo que demore tanto. Não sei. Mas Assange tem muitos apoiadores na Grã-Bretanha. Entendo que, para os EUA, será extremamente difícil, se chegarmos a isso, extraditar Assange da Grã-Bretanha. A Suécia é país menor. Apesar da boa imagem da Suécia nos EUA, o governo é muito mais cooperativo, com os norte-americanos, do que muita gente pensa. Muitos pensam como eu: que será muito mais fácil para os EUA tirarem Assange da Suécia, que da Grã-Bretanha.

E assim chegamos ao caso de Julian Assange. Interessante, que esperávamos que aparecesse, muito rapidamente, dado que estamos no contexto da União Europeia, um pedido de extradição que incluísse os dois países, Suécia e Grã-Bretanha. O sistema europeu é como ir de Maryland a New York, você sabe, é interestatal; o sistema judiciário europeu é praticamente interestatal. E supúnhamos que não seria difícil que os EUA obtivessem a extradição. Mas os advogados ingleses lutaram muito, e o caso acaba de chegar à Corte Suprema na Grã-Bretanha, à qual só chegam casos (como à Suprema Corte dos EUA) que a Suprema Corte queira julgar; a Suprema Corte não é obrigada a julgar. A defesa foi apresentada a sete juízes (acho que eram sete, talvez tenham sido cinco, não estou certo). E foi defesa muito forte, um argumento muito vigoroso. Ali, os advogados ingleses que defendem Assange decidiram começar por discutir as imperfeições do sistema sueco, uma discussão extremamente técnica. Um Procurador sueco expediu o mandado de prisão, de extradição, contra Assange, pedindo que a Grã-Bretanha o extraditasse. Nos termos da lei sueca, só juiz poderia expedir mandado de prisão, de extradição. Obviamente, autoridades judiciais são neutras. O Procurador insiste em que seu pedido deve prevalecer. O que se discute, então, é o seguinte: na Suécia, um Procurador é autoridade judicial? Não tenho dúvidas de que a corte britânica levará extremamente a sério essa discussão. E tenho esperanças de que Julian não será mandado para a Suécia. Seja como for, você sabe, é mandado de prisão, de extradição, válido para toda a Europa. Assim sendo, ainda não sabemos.

JAY: OK. Por favor, rapidamente: qual é a base legal, ou precedente, se houver, para que Manning argumente, em sua defesa, que um soldado que descubra provas de que se cometeram crimes de guerra tenha algum tipo de obrigação de tornar público o que sabe?

RATNER: Veja... É precedente antigo. De fato, pode-se rastrear a origem desse precedente até os julgamentos de Nuremberg. Há o precedente legal, nos termos da Convenção de Genebra, e também nos termos de nossas leis, nos EUA, de que não se podem nem cometer nem tolerar crimes de guerra. Se você descobre indício ou informação sobre crimes de guerra, você tem o dever legal de dar divulgação ao que sabe. Quanto aos EUA, em sentido geral, o soldado tem o dever de informar o superior imediato na cadeia de comando. Claro que, nos EUA, informar os superiores na cadeia de comando é, na essência, inútil. Conheço vários casos de estupro entre militares, de mulheres que denunciaram ter sofrido estupro, aos superiores militares. E a situação das vítimas só piorou, foram perseguidas, há casos de mulheres vítimas de estupro que tiveram de deixar a carreira militar. Imagine no caso de crimes de guerra. É gritar contra uma muralha. Não há saída.

Por tudo isso, não tenho dúvidas de que houvesse qualquer alternativa para Bradley Manning, além de fazer o que fez. E, você sabe... Sabe-se pouco, quase só o que foi noticiado, mas, segundo o que todos lemos, é fácil concluir que o problema, de fato, foi aquele vídeo, que mostra a morte de dois jornalistas da Reuters assassinados no Iraque, de um helicóptero norte-americano, e as crianças feridas. E é um vídeo. Manning viu aquilo. E concluiu que tinha de divulgar.

Além disso, se se examina o que foi vazado, e por que aqueles documentos eram considerados secretos... A maioria daqueles documentos só são considerados secretos porque os EUA querem esconder seus próprios crimes, os procedimentos, as questões em que seus embaixadores envolvem-se, nos países onde atuam. E isso é especialmente verdade em relação ao vídeo de guerra “Colateral”.


====  FIM DA ENTREVISTA  ====


Notas dos tradutores
[1] No Brasil, para ampliar o exemplo, a jornalista Renata LoPrete, da Folha de S.Paulo escreveu que foi procurada por telefone, num sábado pelo (hoje ex) deputado Roberto Jefferson, que lhe disse que tinha “revelações estarrecedoras”. O deputado não tinha documento algum a exibir, nem a jornalista (?) investigou coisa alguma antes de noticiar, logo no domingo seguinte, um “escândalo” completamente inventado: hoje já se sabe que o tal “mensalão” que a jornalista e o (hoje ex) deputado Roberto Jefferson: (a) inventaram; (b) batizaram e (c) noticiaram como se fosse fato, e tudo isso sem exibir qualquer prova até hoje, jamais existiu. Nem por isso a jornalista LoPrete e o (hoje ex) deputado Roberto Jefferson foram acusados de conspirar contra governo democraticamente eleito, amparados, ambos, no direito à “liberdade de expressão” que também assegura direitos a qualquer jornalista caluniador de caluniar sem medo e sem vergonha, sequer quando o jornalista e seu patrão nada investigam, publicam qualquer coisa que lhes interesse publicar e, eventualmente, bem podem estar agindo como quadrilha. De diferente, claro, na comparação – a favor de Manning e Assange e contra a jornalista LoPrete e o ex-deputado Roberto Jefferson – que Manning e Assange deram a conhecer ao mundo crimes cometidos e as correspondentes provas suficientes.

[2] Padre Philip Berrigan, padre católico e ativista dos movimentos antiguerra nos anos 1970s.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Inteligência dos EUA trabalha para o PiG

Publicado em 27/02/2012 - Paulo Henrique Amorim - Conversa Afiada

O Stanley Burburinho envia denúncia-bomba: tem alguém do PiG que “compra” furo de reportagem de empresa que trabalha com Inteligência para o Governo americano.

Quem será?

 
Quem tem bala para isso?

O infatigável e insubstituível Stanley Burburinho (quem será ele?):

Veja o e-mail vazado pelo WikiLeaks que mostra que existe um grande jornal brasileiro que é parceiro de uma empresa que fornece serviços de inteligência confidenciais para grandes corporações dos EUA e também para agências governamentais, incluindo o Departamento de Segurança Interna dos EUA, os fuzileiros navais dos EUA e a Agência de Inteligência de Defesa dos EUA.


WikiLeaks: The Global Intelligence Files

Na segunda-feira, 27 fevereiro de 2012, o WikiLeaks começou a publicar “Os Arquivos Globais de Inteligência”, mais de cinco milhões de e-mails do Texas sede da empresa de “inteligência global” Stratfor. Os e-mails datam entre julho de 2004 e final de dezembro de 2011. Eles revelam o funcionamento interno de uma empresa que atua como uma editora de inteligência, mas fornece serviços de inteligência confidenciais para grandes corporações, como a Dow Chemical Co. de Bhopal, a Lockheed Martin, Northrop Grumman, Raytheon e agências governamentais, incluindo o Departamento de Segurança Interna dos EUA , os fuzileiros navais dos EUA e Agência de Inteligência de Defesa dos EUA. Os e-mails mostram a teia de informantes da Stratfor, estrutura de pagamento, técnicas de lavagem de pagamento e métodos psicológicos.


LEMBRETE da Confederação – Lista de Anseios do Brasil - E-mail ID-5502132
Data: 2011/12/05 15:33:37
De: allison.fedirka @ stratfor.com
Para: econ@stratfor.com, latam@stratfor.com

Estarei enviando a lista de orientações para o nosso parceiro Confederação amanhã. Obrigado a todos aqueles que responderam. Incluí e exemplifiquei uma lista de itens no final deste e-mail. Por favor, sintam-se livres para fazer alterações ou adicionar qualquer coisa ao e-mail.

————————————————–

"Oi a todos,
Ontem me encontrei com um parceiro da confederação brasileira, um grande jornal daqui. Ontem me encontrei com o POC (POC (Militar) = Point Of Contact: Ponto de Contato – http://wikileaks.org/wiki/POC_(military)) [ponto de contato] principal, bem como o cabeça do jornal para discutir como poderíamos tornar a nossa parceria mais produtiva.

Uma das coisas que o jornal solicitou de nós foi uma lista de itens específicos de nosso interesse. Nosso POC (ponto de contato) está disposto a nos colocar em contato com vários repórteres que são especialistas em nossas áreas de interesse. Essas pessoas estarão disponíveis para bate-papos em geral e também questões específicas.

Então, o que eu preciso é de uma lista de itens que nos interessam. É necessário que tenha um bom equilíbrio entre específico versus geral.

Depois de pronto, eles terão uma idéia melhor de quem colocarão em contato com a gente. Então, poderemos enviar perguntas específicas, por exemplo: como é que o derramamento de petróleo pela Chevron afeta os regras do petróleo?

Ontem eu conheci pessoas que podem ajudar com a macroeconomia / política, infra-estrutura e política brasileiras. Então, essas seriam boas áreas para se obter alguns itens de nosso interesse. Esta lista será útil tanto para a cooperação e para atualização da nossa orientação. Gostaria de obter essa lista para o nosso POC na segunda-feira da próxima semana ou terça-feira no mais tardar.

Obrigado, Allison"


ECONOMIA
- A decisão política sobre crescimento, inflação
- Disputas comerciais com a Argentina
- Relação com a China; investimentos em energia, dumping de mercadorias, concorrência no setor

INFRA-ESTRUTURA
- Modernização dos projetos portuários
- Medida a ser implementada para se certificar de que os projetos da Copa do Mundo serão concluídos dentro do prazo

DEFESA
- Os exercícios militares na fronteira
- 13 tratados com os países fronteiriços para coordenar os esforços na luta anti-droga
- Qualquer pressão sobre os orçamentos militares em face de restrições financeiras

POLÍTICA BRASILEIRA
- Remodelação do gabinete em Janeiro[2012, acredito – posse de Dilma]
- Resultados e conseqüências da votação para divisão do estado do Pará.

http://wikileaks.org/gifiles/docs/5502132_confed-reminder-brazil-wish-list-.html

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

DOMINIQUE STRAUSS KAHAN E JULIAN ASSANGE - AS TIAS NOS TEMPOS DE JK



Laerte Braga


Sérgio Porto no seu inesquecível Stanislaw Ponte Preta tinha uma tia. Zulmira. Senhora de larga experiência na vida, capaz de percepção da realidade num átimo e de sabedoria incrível. Todos nós temos tias. Eu por exemplo, dentre as respeitáveis, tenho no cesto uma que é pilantra de quatro costados. Nada a ver com tia Zulmira ou tantas outras. Cai de quatro ao ver cheiro de dinheiro. Se o figurão tiver titulo, seja comendador, desembargador, conde, o que for, então, vai caindo de quatro e resfolegando amor eterno. Adora juntar remédios vencidos e doar para os “pobres” da paróquia. Sábio, o pároco joga fora. 

Adora broches e jogos de chá alheios.

Dominique Strauss Kahan, ex-diretor do FMI – Fundo Monetário Internacional – tem um monte de tias. A justiça francesa, detetives particulares para vasculharem a vida de suas conquistas e uma incrível vocação Sílvio Berlusconi. A diferença está que um canta a Marselhesa, outro não.

Julian Assange não tem esse tipo de tia. A colônia inglesa quer extraditá-lo para a Suécia, numa operação triangular que possa acabar em Washington e pena de prisão perpétua.

Uma prostituta francesa declarou a jornais de seu país que participou de várias “festas” promovidas por Strauss Kahan. Bem remunerada – de causar inveja a muitas “tias” – e apreciou a “incrível energia” do político francês.

O processo contra o principal responsável pelo site WIKILEAKS começou numa cidade sueca, foi arquivado por falta de provas a pedido do próprio Ministério Público, ou que nome tenha lá e reaberto em Estocolmo a pedido do governo dos EUA. Para um faltavam provas, para outro bastou um grito de Washington.

Registre-se que Suécia e Grã Bretanha são colônias membros da Comunidade Européia, grande protetorado norte-americano na Europa.

O crime de Assange não foi promover festas com prostitutas, ou agarrar uma camareira de um hotel em New York (embora eu creia que nesse caso Strauss Kahan tenha sido vítima de armação e por conta da “fama”).

Foi o de revelar crimes cometidos pelos norte-americanos em suas ações “libertadoras” mundo afora, as barbáries da OTAN e aqui entre nós, que William Waack, jornalista global, é espião dos EUA.

Um terceiro personagem nessa história. Brad Manning. Soldado do exército dos EUA acusado de repassar documentos secretos a Assange revelando toda a “preocupação” do complexo terrorista ISRAEL/EUA TERRORISMO S/A com o resto do mundo. Está preso em condições sub humanas. Sobral Pinto invocaria a lei universal de proteção aos animais.

Dominque Strauss Kahan, como Sílvio Berlusconi, escapa de todas as sanções e punições possíveis sob o manto protetor da tia justiça. Assange corre o risco de ser extraditado para a Suécia e o governo de Estocolmo – governadoria geral dos EUA na colônia nórdica – enviá-lo a Washington, em nome da ordem, da paz, da democracia e da “ajuda humanitária”.

Um jeito de engaiolá-lo em prisão perpétua sem direito a condicional, uma submissão de Grã Bretanha e Suécia capaz de corar qualquer tia, por mais despudorada que seja.

Bueñel sabia como tratar tias assim. “O Discreto Charme da Burguesia”. Não tem nada a ver com perfume francês, mas com lixo.

Não sei porque, mas isso me lembra Marcelo Rossi num shopping abençoando fiéis e contando os livros vendidos, enquanto sentava a pua em seu concorrente mais próximo dentro da “santa igreja”, Fábio Melo. Aí é tio, Bento XVI.

Afaga os pimpolhos e conta os sacos de dinheiro. Aprendeu com Edir Macedo.

Tirando fora esse negócio de tia e tio, sem enfiar sobrinha chegada a um cheirinho no meio, o negócio é a tal da democracia. A viagem é em carros da década de cinqüenta.
Viva JK.

Que o digam os gregos sentindo os coturnos nazistas de tia Ângela Merkel, com as bandeiras dos bancos falidos e necessitados da piedade dos trabalhadores. Só que com um baita chicote para ordenar essa piedade.

Dá até para dar um pulo por aqui, outra vez, pegar a Chevron no contrapé e a GLOBO no silêncio podre de mídia comprada. Eita história mal contada.

Se forem “inocentes”, pode ter certeza que tanto Sérgio Cabral como Luciano Huck são culpados e em breve lançamentos imobiliários fantásticos na Barra da Tijuca, o garoto propaganda deve ser Zico.

A ressurreição da Rocinha.

A extradição de Assange é um crime sem que se possa medir as proporções, exceto a de constatar que governos como o dos EUA  de suas colônias que formam a tal Comunidade Européia são como que um IV Reich saindo da catacumbas e assentados em um tamanho arsenal nuclear que transforma o mundo num lugar sombrio, triste e sem gente, ou só com zumbis.

A preocupação maior deve ser como é que Juan Carlo de Bourbon vai fazer para caçar búfalos na Suíça a cinco mil dólares por cabeça.

Os povos que saem às ruas indignados com toda essa barbárie, com toda essa virulência democrática não contam. Em New York a polícia baixa o cacete alguém precisa conseguir ajuda humanitária para que os EUA respeitem direitos básicos e fundamentais, ou é só a Líbia que entra na lista de bombas da OTAN?

Os dois novos primeiros-ministros da Grécia e da Itália são ligados a banqueiros –Berlusconi é banqueiro também, mas meteu os pés pelas mãos.

O que está acontecendo é uma espécie de ajuste de contas, busca de equilíbrio fiscal, superávit primário na extorsão capitalista imposta ao mundo.

E a turma aqui dá pulos quando uma agência reguladora aumenta a nota do Brasil. É assustador.

Esse aumento é uma espécie de sinal de fumaça que a tia crise vem por aí, estão organizando o saque e em breve estaremos sob fogo cerrado das tias norte-americanas, seus banqueiros e suas grandes corporações.

No mais é só aguardar a profecia de Roger Noriega feita nas páginas de VEJA. Chávez morre em seis meses e a Venezuela vira o caos, os mariners terão que salvar o país.

Vai daí que Assange paga o pato da democracia e da informação livre para o gáudio dos “idiotas” na classificação feita por William Bonner, a turma que gosta de achar que “se não deu no JORNAL NACIONAL não aconteceu”.

Quem faz coro com essa afirmação é o bandido Ricardo Teixeira.

Haja tia e muito cuidado com boutiques. 

Se bobear Dominique Strauss Kahan ainda acaba presidente da França, próxima vítima da “crise” nesse tabuleiro de ajuste da nova ordem econômica. A imperialista capitalista.

No mínimo vão chamar o secretário de relações exteriores do PT – no rodízio da pelegada – com o objetivo de explicar tudo fazendo top top. 

José Serra vai atrás espargindo o incenso, FHC dando a bênção e Alckimin montado em cavalo da PM com a bandeira da USP como troféu. Aécio sobra, não é páreo para essa gente. Órfão desse tipo de tia acima descrito.

  

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Assange sepultou George Orwell



por Carlos Vieira*

A interatividade da internet, sua aparente anarquia e desgoverno acabaram por inviabilizar regimes totalitários ao estilo Orwell. O mundo interligado torna quase impossível enganar poucos durante algum tempo, o que dirá de muitos durante um longo período.
130 300x225 E Assange sepultou George OrwellQuando li 1984, de George Orwell, faltava pouco para o título do livro, mas muita gente achava que o autor, um comunista de carteirinha e um pessimista idem, só tinha antecipado um pouco a data sobre a ideia cáustica e terrível que fazia do nosso futuro. Um futuro dominado pela tecnologia, vigiado por câmeras em toda a parte e controlado por um Estado autoritário que tudo via e ouvia. Não haveria privacidade alguma, o sexo sem fins de procriação seria considerado crime grave e os cidadãos viveriam uma opressão só possível graças a um regime de quase lavagem cerebral coletiva.
Passados 26 anos da data emblemática do livro e mais de 60 da época em que o inglês Eric Arthur Blair (Orwell era pseudônimo) escreveu pouco antes de morrer a sua sombria e profética obra-prima, vivemos num mundo em que uma das frases mais lidas em diversas línguas é “Sorria, você está sendo filmado”. Câmeras vigiam praças, estradas, esquinas, lojas, escritórios, garagens e diversos ambientes. Isso se ficarmos apenas pelas aparentes, já que das ocultas é melhor nem falar, não vá a paranoia tecer das suas. Além disso, um dos programas mais famosos replicados em todo o mundo transformou o Big Brother, o principal personagem de 1984, num popular programa de televisão que de literatura só tem mesmo uma referência ao passado do apresentador da versão brasileira.
De fato, pode-se dizer que parte do que Orwell anteviu estava mesmo certo. É verdade também que a privacidade das pessoas é hoje um artigo cada vez mais raro e que, a cada dia que passa, fica mais difícil manter em segredo qualquer assunto por menor que seja. Mas as semelhanças param por aí. Na maioria das vezes, são as próprias pessoas que fazem questão de expor suas vidas, seja em reality shows de toda a sorte, em blogs que se tornaram verdadeiros diários abertos à bisbilhotice virtual; seja nas redes sociais ou até mesmo por meio de webcams ligadas dentro de casa exibindo cada minuto de suas existências.
A internet sem dono, com diversos pontos interligados e onde a informação trafega não por um comando central, mas buscando novas conexões sempre que algum caminho é interrompido, foi o começo do fim para a imagem orwelliana de mundo – uma realidade onde o aparato de comunicação era unilateral, vendo, ouvindo e falando apenas o que o Ministério da Verdade queria. A interatividade da internet, sua aparente anarquia e desgoverno acabaram por inviabilizar regimes totalitários ao estilo Orwell. O mundo interligado torna quase impossível enganar poucos durante algum tempo, o que dirá de muitos durante um longo período.
Mas isso era apenas o começo. O acesso ilimitado e rápido a todas as fontes de informação está ajudando a moldar uma sociedade baseada na transparência. Governança corporativa tornou-se um termo importante não só nas empresas, mas também nos governos e em organismos não governamentais. Caminhamos cada vez mais para uma sociedade que exige coerência na execução das políticas baseadas em princípios humanitários e transparência na prestação de contas. Mesmo assim, o fantasma de Orwell e seu horrível futuro descrito em 1984 ainda assustavam muita gente, sobretudo aqueles mais assombrados com teorias conspiratórias.
Essas nuvens, porém, dissiparam-se completamente com o recente fenômeno Julien Assange, o australiano do Wikileaks que praticamente sozinho desafiou o maior império do planeta, pondo a nu as vísceras da sua correspondência diplomática. Cyberterrorista ou um David Paladino da Verdade contra o Golias da Hipocrisia Mundial? Na verdade, pouco importa. O que, de fato é importante em todo esse episódio é que ele é um marco na história da relação dos homens com seus governantes. Um momento em que fica claro que as megaestruturas corporativas, sejam elas empresas ou governos, não passam de tigres de papel compostos por gente como nós – ou melhor, pior do que nós.
E é aí que percebemos o quanto Orwell estava errado. Ao invés de um governo que ouve e vê a todos esmagando os direitos individuais de quem não reza conforme a cartilha do Grande Irmão, temos, de um lado, uma multidão de microcelebridades expondo de livre vontade a sua privacidade e, de outro, governos impotentes diante da ação de pequenas organizações que, pulverizadas por uma rede mundial, expõem para todos as mazelas das autoridades, tal qual um implacável Big Brother que tudo vê e – pior – tudo revela. Descanse em paz, Eric Arthur Blair…

* Carlos Vieira é jornalista, colunista do Economia Interativa.
** Publicado originalmente no site Economia Interativa.
Extraído do site  Envolverde

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Não há democracia no mundo

Histórias como essas, registradas por Naomi Wolf, não podem fazer parte de nenhuma democracia do mundo. Mas elas existem e são promovidas, principalmente, pelas mais poderosas nações "civilizadas", que matam a democracia para se autopromoverem democratas. (Zilda Ferreira, editora política do EDUCOM)

“QUER ESTUPRAR, ESTUPRA, MAS NÃO PRECISA MATAR”
Laerte Braga, jornalista e analista político

A advogada Naomi Wolf escreveu e publicou um texto de suma importância para que se possa entender o caso Julian Assange, acusado de crimes sexuais na Suécia. Especialista no assunto trabalhou em vários países do mundo com mulheres estupradas, vítimas de tráfico de mulheres e não hesita em acusar a INTERPOL e os governos da GRÃ BRETANHA e SUÉCIA (colônias norte-americanas na Europa) de farsa e “ofensa à mulher”. “Teatro”.

O artigo foi publicado originalmente no HUFFINGTON POST, em 24 dezembro e traduzido no Brasil pelo blog ESQUERDA NET.

Naomi começa com uma pergunta.

“Como sei que o tratamento dado pelo Interpol, Inglaterra e Suécia a Julian Assange é uma forma de fazer teatro?”

E a resposta.

“Porque sei o que acontece em acusações de violação contra homens que não atrapalham governos poderosos”.

Especialista no assunto, Naomi afirma que “que só aqueles que entre nós passaram anos trabalhando com sobreviventes de violação e agressão sexual por esse mundo afora conhecem a resposta legal padrão a acusações de crimes sexuais, compreendem totalmente como essa situação é um profundo e mesmo enojante insulto aos sobreviventes de violação e agressão sexual em todo o mundo. O que quero dizer é isto: os homens praticamente nunca são tratados da maneira que Assange está a ser tratado face acusações de crimes sexuais”.

Naomi não diz, mas por outro lado, ao contrário de mulheres vítimas de violência sexual, estupro, agressões, as duas suecas que se dizem molestadas por Assange estão em estado de êxtase ao contrário das milhões de mulheres submetidas a essa barbárie mundo afora. Em estado de êxtase com os quinze minutos de fama e os bolsos forrados pelo “capital norte-americano” para montar a farsa, o teatro.

Um dos pontos mais interessantes e reveladores do artigo de Naomi é que mulheres vitimas de violência sexual (qualquer que seja), são vistas na maioria dos casos com desdém e a primeira reação policial ou de autoridades é suspeitar de denúncia infundada, tratadas como desdém, mesmo em países ditos civilizados.

O quadro melhorou e muito, mas ainda assim a mulher vítima de violência sexual em um sem número de países, ou localidades onde predomina o conservadorismo ou o fundamentalismo religioso, essas mulheres são isoladas como se contaminadas estivessem com alguma doença contagiosa. Ou vistas, pior, como prostitutas, ou mulheres fáceis.

A autora do artigo começou a trabalhar como advogada num centro inglês de vítimas de violência sexual quando tinha ainda 20 anos de idade. Trabalhou num abrigo para mulheres vítimas de violência nos Estados Unidos, “onde a violência sexual fazia muitas vezes parte dos padrões de abuso”.

Viajou mundo afora fazendo relatos de sobreviventes de agressão sexual e entrevistando-as em países diversos como Serra Leoa, Marrocos, Noruega, Holanda, Israel, Jordânia, território ocupados da Palestina, Bósnia, Croácia, Inglaterra, Irlanda e Estados Unidos.

Registrou relatos em primeira mão de dezenas de meninas adolescentes raptadas sob a mira de armas e mantidas como escravas sexuais em Serra Leoa durante a guerra civil. Eram atadas a árvores e a estacas no solo e violadas por “dúzias de soldados uma a uma. Muitas delas tinham apenas doze ou treze anos. Os seus violadores estão em liberdade”.

Encontrou uma menina de 15 anos que arriscou a vida para fugir de seu captor no meio da noite e levando o bebê que resultou de sua violação por centenas de homens. Caminhou da Libéria, a um campo de refugiados em Serra Leoa, vivendo de raízes do mato, perdendo sangue e descalça. “O seu violador, cujo nome ela conhece, está em liberdade”.

Generais – estou escrevendo generais – a todos os níveis “instigaram esta agressão sexual duma geração de meninas por todo o país. Os seus nomes são conhecidos e estão em liberdade”. Em Serra Leoa a autora colheu documentos de vitimas violadas por objetos contundentes e afiados que provocavam rasgões e lesões vaginais que geram fistulas vaginais que podem ser constatadas por qualquer trabalhador de saúde da região, onde a assistência médica não está disponível.

“Essas mulheres que foram violadas deste modo frequentemente sofrem com corrimentos constantes e mal odorosos por infecções que podiam ser tratadas com antibióticos de baixo custo, estivesse ele disponível. Por causa das lesões são evitadas pelas comunidades e rejeitadas pelos maridos, os violadores estão em liberdade”.

“Mulheres e meninas são drogadas, raptadas e traficadas às dezenas de milhares para a indústria sexual na Tailândia e pela Europa Oriental afora. São mantidas como prisioneiras virtuais por proxenetas”.

Entrevistadas essas mulheres afirmam que “esses raptores e violadores de mulheres são bem conhecidos das autoridades locais e até nacionais, mas esses homens nunca são alvos de acusações. Esses violadores estão em liberdade”.

Aquelas que se dispõem a testemunhar em casos de violação na Índia e no Paquistão foram sujeitas a homicídios de honra e a ataques com ácidos. Os seus violadores quase nunca sofreram acusações, quase nunca são condenados. Há o caso de um playboy indiano, narrado pela autora do artigo, óbvio, nascido em berço de ouro que foi acusado de violar uma empregada de forma violenta e que estava disposta a testemunhar contra ele. O caso foi encoberto nos mais altos níveis da polícia e o estuprador em liberdade.

Foi assim na Bósnia, é assim em Israel, no Marrocos, na Síria, na Arábia Saudita, rigorosamente em países de todo o mundo.

As duas suecas que acusam Assange estão exultantes e felizes por “terem sofrido violência sexual” do fundador do WIKILEAKS Passados alguns anos é possível que venham a ser capas de revistas, páginas centrais da PLAYBOY, frequentadoras do Big Brother de seus países (a praga existe em quase todo o mundo).

Na Suécia, país de origem das moças, Naomi mostra que as vítimas de violência sexual raramente conseguem justiça. Na Suécia e na Inglaterra, duas importantes colônias europeias dos EUA, transformadas em grandes bases militares.

Eis o que afirma Naomi Wolf.

“E que tal alguns casos mais típicos, perto de nós? Nos países ocidentais como a Inglaterra e a Suécia, que estão se unindo para manter Assange sem fiança, se efetivamente se entrevistar mulheres que trabalham em centros de emergência para casos de violação, ouvir-se-á isto: é incrivelmente difícil conseguir-se uma condenação por um crime sexual, ou mesmo uma audiência séria. Os trabalhadores em centros de emergência para casos de violação na Inglaterra e na Suécia dirão que há atrasos enormes no trabalho com mulheres violadas durante anos por pais e padrastos – que não conseguem que se faça justiça. As mulheres violadas por grupos de homens jovens e bêbados, atiradas da parte de trás dos carros para fora, ou abandonadas depois da violação em grupo, num beco, - não conseguem que se faça justiça. As mulheres violadas por conhecidos não conseguem uma audiência séria”.

E mais.

“Nos EUA ouvi falar em dúzias de mulheres jovens que foram drogadas e violadas em cidades universitárias pelo país afora. Há quase inevitavelmente um encobrimento pela universidade – que é garantido se os seus violadores forem atletas destacados na universidade, ou abastados – e os seus violadores estão em liberdade. Se se chegar a inquérito policial, ele raramente vai muito longe”.

E sobre o caso Assange.

“Por outras palavras: nunca em vinte e três anos de relatos e apoio a vítimas de violência sexual pelo mundo afora alguma vez eu ouvi falar dum caso dum homem procurado por duas nações e mantido preso em isolamento sem fiança antes de ser interrogado – para qualquer alegada violação, mesmo ou mais brutal ou mais fácil de provar.”

E o aspecto decisivo nesse caso.

“Quanto a um caso que implica o tipo de ambiguidades e complexidades das queixas dessas pretensas vítimas – sexo que começou consensualmente e que alegadamente se tornou não consensual quanto à discussão surgiu em volta dum preservativo – por favor, encontre-se em qualquer parte do mundo outro homem hoje na prisão sem fiança por alguma acusação que se lhe compare”.

Naomi Wolf, autora de um grande êxito editorial ‘THE END OF AMERICA: LETTER OF WARNING TO A YOUNG PATRIOT”, conclui seu artigo afirmando que

“Não é o Estado a abraçar o feminismo. É o Estado a afrontar, agredir o feminismo”.

Vida privada e vida pública não se misturam, ou não devem se misturar exceto quando a privada interfere na pública. Aí deixa de ser privada e passa a ser pública. Os últimos documentos liberados pelo WIKILEAKS mostram que governantes de alguns países solicitaram a DEA – DEPARTAMENTO ANTIDROGAS DOS EUA – auxílio para escuta e no pretexto de combater a droga, promoviam a escuta de inimigos políticos para usar o material como chantagem.

Hilary Clinton anunciou que vai deixar o Departamento de Estado do governo dos EUA ao final do mandato de Barack Obama e abandonar a vida pública. Sequer disputar a cadeira de senadora por New York. Num animal político, como a definem, isso é surpreendente.

No duro mesmo, nessa farsa toda que o WIKILEAKS mostra, Hillary demonstra que tem inteiro conhecimento que tanto ela como Bil, o seu marido, usaram a Casa Branca para grandes “negócios” donde saíram milionários e que esses negócios muitas vezes passaram pela cama dele, pelo salão oval e pela cama dela.

No Brasil mesmo, FHC teve gravados seus encontros amorosos com uma figura da sociedade de BH e que mais tarde resultou na venda da TELEMIG para a TELEMAR, hoje OI, como no prêmio a Pimenta da Veiga, o Ministério das Comunicações, em retribuição aos serviços prestados por figuras femininas diretamente ligadas a ele.

É a vida privada se misturando à vida pública e lesando o País.

Assange é vítima tanto desse medo de figuras como Hillary, como de governos terroristas como os do EUA, de Israel, ou de colônias como Inglaterra, Suécia, Itália.

Quer algo mais pornográfico que Silvio Berlusconi e suas festas com prostitutas?

O parlamento italiano o manteve no cargo.

O medo dessas figuras passa por aí também.

Os estupros praticados por soldados norte-americanos contra prisioneiros de guerra, as torturas, são reflexo da ordem moral e cristã dessas democracias fajutas. Ou pelo filho do diretor da RBS (GLOBO no sul do País) e mantido em silêncio pela tal “liberdade de expressão” da mídia privada corrupta e podre. Está solto também.

A escola Paulo Maluf, agraciado pela Justiça Eleitoral com o atestado de ficha limpa.

“QUER ESTUPRAR, ESTUPRA, MAS NÃO PRECISA MATAR”, a sabedoria pilantra do deputado paulista, cretina, típica de elites.

É cinismo absoluto da “sociedade do espetáculo”, o terrorismo real e de muitas faces do conglomerado EUA/ISRAEL TERRORISMOS S/A.