01/01/2013 - "Lei dos meios" - Vladimir Safatle (*)
- Folha de São Paulo
No entanto, há um debate importante que deve ser feito de maneira desapaixonada. Ele passa pela resposta à pergunta: "Precisamos ou não de leis que restrinjam a concentração da propriedade de canais de comunicação?".
Ou seja, podemos afirmar que a concentração da mídia não afeta necessariamente o funcionamento da democracia?
Neste sentido, vale a pena lembrar que o mercado de mídia é, atualmente, um dos mais oligopolizados do mundo.
Murdoch detinha um império mundial de TVs, jornais, editoras, revistas, rádios, estúdios de cinema, portais de internet que lhe dava uma capacidade de moldar o debate, pressionar governos e de intervir na política a ponto de prometer a um general norte-americano (David Petraeus) apoio irrestrito de seu império caso ele aceitasse concorrer à Presidência norte-americana.
Situações como esta não são exclusivas do mundo anglo-saxão.
As últimas décadas conheceram uma tendência brutal à concentração de mídia que interfere, de maneira nociva, não apenas na política, mas também na cultura.
Um grupo como Time Warner, por exemplo, controla, ao mesmo tempo, a produção, a difusão e o desenvolvimento das técnicas de reprodução.
Por isto, podemos dizer que leis que impeçam a formação de oligopólios são uma forma da sociedade defender-se da uniformização forçada de opiniões e do silenciamento de perspectivas.
Pode-se contra-argumentar dizendo que a pulverização das mídias as deixa mais vulneráveis às pressões dos governos. Este é um argumento relevante.
No entanto, a solução para esse problema não está na perpetuação de outro problema.
Há de se pensar ações que impeçam os governos de moldarem as informações a partir de seus interesses.
(*) Vladimir Safatle é professor livre-docente do Departamento de filosofia da USP (Universidade de São Paulo).
Fonte:
http://www1.folha.uol.com.br/colunas/vladimirsafatle/1208576-lei-dos-meios.shtml
Leia também:
- No mundo de Murdoch - Luiz Gonazaga Belluzzo
- Compare: o juiz inglês e os nossos juízes - Paulo Nogueira
Nota:
A inserção de algumas imagens adicionais, capturadas do Google Images, são de nossa responsabilidade, elas inexistem no texto original.