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quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

As derrotas da mídia na América Latina

01/01/2014 - Por Altamiro Borges em seu blog do Miro

Em 2013, a América Latina se manteve na vanguarda da luta pela regulação da mídia.

A região conhece bem os estragos causados por uma mídia concentrada e manipuladora.

Os golpes e ditaduras que infelicitaram o continente foram bancados pelos veículos da imprensa.

O neoliberalismo que dizimou a região também foi apoiado por este setor.

Já os governos progressistas nascidos da luta contra as chagas neoliberais tiveram como principal opositor o “Partido da Imprensa Golpista (PIG)”.

Nada mais natural, portanto, que a regulação se tornasse uma exigência democrática.

Ley de Medios da Argentina
A derrota mais sentida pelos barões da mídia no ano passado se deu na Argentina.

Em outubro, finalmente a Suprema Corte do país declarou a constitucionalidade de quatro artigos da “Ley de Medios” que eram contestados pelo Grupo Clarín, principal império midiático da nação vizinha.

Esta decisão histórica permitiu que o governo de Cristina Kirchner [foto] prosseguisse com a aplicação integral da nova legislação, considerada uma das mais avançadas do mundo no processo de desconcentração e democratização dos meios de comunicação.

Pelas regras agora em vigor, os grupos monopolistas tem um prazo definido para vender parte de seus ativos com o objetivo expresso de “evitar a concentração da mídia”.

O Grupo Clarín, maior holding multimídia do país, terá de ceder, transferir ou vender de 150 a 200 outorgas de rádio e televisão, além dos edifícios e equipamentos onde estão as suas emissoras.

A batalha pela constitucionalidade dos quatro artigos durou quatro anos e agitou a sociedade argentina.

O Clarín – que fez fortuna durante a ditadura militar – agora não tem mais como apelar.

Aprovada por ampla maioria no Congresso Nacional e sancionada por Cristina Kirchner em outubro de 2009, a nova lei substitui o decreto-lei da ditadura militar. Seu processo de elaboração envolveu vários setores da sociedade – academia, sindicatos, movimentos sociais e empresários.

Após a primeira versão, ela recebeu mais de duzentas emendas parlamentares.

No processo de debate que agitou a Argentina, milhares de pessoas saíram às ruas para exigir a sua aprovação.

A passeata final em Buenos Aires contou com mais de 50 mil participantes.

Mesmo assim, os barões da mídia tentaram sabotá-la, apostando suas fichas na Suprema Corte da Argentina.

Isto explica porque a sentença de outubro abalou tanto os impérios midiáticos da região, reunidos na Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP).

Num discurso terrorista, eles afirmaram que a nova lei é autoritária.

Mas até o Relator Especial sobre Liberdade de Expressão da Organização das Nações Unidas (ONU), Frank La Rue [foto], reconheceu que a Ley de Medios da Argentina – com seus 166 artigos – é uma das mais avançadas do planeta e visa garantir exatamente a verdadeira liberdade de expressão, que não se confunde com a liberdade dos monopólios midiáticos.

Equador e Uruguai dão exemplo
A Argentina não foi a única a avançar neste debate estratégico na região. Outros dois países deram passos significativos neste sentido em 2013.

Em junho, o parlamento do Equador aprovou o projeto do governo de Rafael Correa [foto] que cria um órgão de regulação da mídia com poderes para sancionar econômica e administrativamente os veículos da imprensa e que definirá os critérios para as futuras concessões de rádio e televisão no país.

O projeto tramitou por quatro anos na Assembleia Nacional e foi aprovado por folgada maioria – 108 a favor e 26 contra.

Além de criar a Superintendência de Informação e Comunicação, que terá o papel de “vigilância, auditoria, intervenção e controle”, a lei reserva 33% das futuras frequências de rádio e TV para a mídia estatal, 33% para emissoras privadas e 34% para os grupos indígenas e comunitários.

Ela também garante amplo direito de resposta, contrapondo-se ao chamado “linchamento midiático”.

Caso julgue que pessoa física ou jurídica foi “caluniada e desacreditada” pela mídia, a Superintendência pode obrigar o veículo responsável a divulgar um ou mais pedidos de desculpas.

Para o deputado Mauro Andino, relator do projeto, a nova lei com seus 119 artigos representa significativo avanço na democracia no Equador e na garantia da verdadeira liberdade de expressão.

Como cidadãos, queremos a liberdade de expressão com os limites dados pela Constituição e pelos instrumentos internacionais, além de uma liberdade de informação com responsabilidade...

Propusemos uma lei que se constrói a partir de um enfoque de direitos para todos, não para um grupo de privilegiados”.

Vale lembrar que a mídia equatoriana é controlada por banqueiros!

Para irritar ainda mais os barões da mídia do continente, em dezembro último a Câmara dos Deputados do Uruguai aprovou a Lei dos Serviços de Comunicação Audiovisual, proposta pelo governo de José Pepe Mujica [foto].

Com 183 artigos, a nova “Ley de Meios” encara os meios de comunicação como um direito humano e define que “é dever do Estado assegurar o acesso universal aos mesmos, contribuindo desta forma com liberdade de informação, inclusão social, não-discriminação, promoção da diversidade cultural, educação e entretenimento”.

Em seu enunciado, a nova lei enfatiza que os monopólios dos meios de comunicação “conspiram contra a democracia ao restringir a pluralidade e a diversidade que asseguram o pleno exercício do direito à informação”.

Visando corrigir esta distorção, o texto propõe “plena transparência no processo de concessão de autorizações e licenças para exercer a titularidade” nas emissoras de rádio e televisão.

Ela também prevê a criação de um Conselho de Comunicação Audiovisual, com o intento de “implementar, monitorar e fiscalizar o cumprimento das políticas”.

A nova lei uruguaia ainda estabelece cotas mínimas de produção audiovisual nacional, institui o horário eleitoral gratuito nos canais e determina que as empresas telefônicas não poderão explorar concessões de rádio ou tevê.

Ela também contempla a proteção à criança e ao adolescente, já que regula a veiculação de imagens com “violência excessiva”.

Das 6h às 22h, esse tipo de conteúdo é proibido, com a exceção para “programas informativos, quando se tratar de situação de notório interesse público” e somente com aviso prévio explícito sobre a exposição dos menores.

A reação da máfia midiática da SIP
As recentes mudanças legais na Argentina, Equador e Uruguai se somam as que já estavam em vigor na Venezuela – o primeiro país da região a encarar este tema estratégico –, Bolívia e Nicarágua.

Não é para menos que o rebelde continente latino-americano é hoje o maior entrave ao poder dos monopólios da mídia.

Em outubro passado, durante a 69ª Assembleia-Geral da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), os poderosos empresários do setor confessaram que estão perdendo a batalha de ideias na América Latina e decidiram reforçar sua postura oposicionista.

Na maior caradura, o [ex] presidente da SIP, Jaime Mantilla [foto], disse que "os governos latino-americanos têm se dedicado a semear o ódio e o medo" contra os meios de comunicação.

O objetivo da entidade, sediada em Miami, com famosos vínculos com a CIA e que sempre apoiou os golpes e as ditaduras, é evitar que as novas legislações sejam aplicadas em sua plenitude e que contagiem outros países da região.

O Brasil inclusive foi citado como preocupação maior dos mafiosos da mídia do continente.

Se depender da presidente Dilma Rousseff, porém, eles podem dormir tranquilamente.

(*) No próximo e último artigo da série, uma análise sobre o debate acerca da mídia no Brasil.

Leia também:
- Derrota dos barões da mídia em 2013 - Altamiro Borges
- China vs. Brasil: alguma diferença? - Venício Lima

Fonte:
http://altamiroborges.blogspot.com.br/2014/01/as-derrotas-da-midia-na-america-latina.html#more

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

O que disse Johnny Saad para Fernando Haddad

19/12/2013 - O telefonema de Johnny Saad para Fernando Haddad
- Paulo Nogueira (*) - Diário do Centro do Mundo

“Recebi um telefonema de um dono de muitos meios de comunicação dizendo que não daria trégua à prefeitura e que colocaria todos seus veículos contra o IPTU progressivo. Isso não me foi contado. Isso foi dito.

Bem-vindo ao mundo como ele é, Haddad.

Haddad disse aquilo a jornalistas. Preferiu não dar o nome do empresário.

Mas o site Conversa Afiada logo descobriu de quem se tratava: de Johnny Saad [foto], dono da Rede Band, herdeiro de uma concessão pública e multimilionário.

É um episódio que traz diversas conclusões.

Primeiro, e antes de tudo, ele mostra como funciona a mídia corporativa. O dono manda seus empregados defenderem a causa dele próprio, e a sociedade é bombardeada com um noticiário viciado.

Saad é dono de imóveis em São Paulo, e isso significa que ele teria que pagar mais IPTU.

O brasileiro ingênuo – cada vez em menor número, felizmente – tem uma fé cega naquilo que ouve, vê e lê na mídia.

Não tem ideia dos interesses por trás do noticiário.

Depois, há uma questão de moralidade.

Saad tem uma concessão pública, a televisão.

Como ele se atreve a usá-la em seu favor?

Algum tempo atrás, o executivo da ONU que trata da liberdade de expressão, Jacques de la Rue (sic) [Frank la Rue] [foto], notou um fato curioso.

Em muitos países, o Brasil entre eles, as pessoas que receberam concessão pública para ter uma tevê ou uma rádio usam isso com a única finalidade de enriquecerem.

Para ficar no caso mais dramático, os três herdeiros de Roberto Marinho estão no topo da lista das maiores fortunas pessoais do Brasil.

Concessão pública não foi feita para que um pequeno grupo se locuplete.

Por isso, há necessidade de regras que coíbam abusos e fiscalizem o uso decente de concessões.

Cristina Kirchner [foto] deu um exemplo de combatividade ao enfrentar a mesma situação na Argentina, ao preço de um colossal desgaste derivado da resistência feroz do grupo Clarín.

Mas não fraquejou e venceu.

Terceiro, o episódio do telefonema mostra uma coisa importante: na Era Digital, uma boa forma de tornar públicos absurdos privados é por vazamentos.

Nenhum órgão das empresas jornalísticas – Globo, Veja [Abril], Folha, Estadão [a Família GAFE da Imprensa] – publicaria a denúncia de Haddad, e os brasileiros não saberiam da brutalidade de Saad ao telefone.

A informação foi vazada e a Band é obrigada a enfrentar a vergonha do telefonema de seu dono.

Foi fruto de um vazamento, também, o furo do ano no Brasil: a trapaça fiscal da Globo na aquisição dos direitos da Copa de 2002.

O site Cafezinho publicou a documentação, passada por alguém inconformado da Receita Federal.

O Brasil foi ocupado – na acepção do Movimento Ocupe Wall Street – pelas companhias de mídia.

Elas se valem de tudo para manter seus privilégios e os do pequeno grupo a que pertencem.

Usam seus empregados como se fossem gado para propalar mentiras que lhes convêm.

Fui um deles, aliás.

Vazar informações que ajudem num processo imperioso de desocupação é um ato que beneficia toda a sociedade.

Que todos que possuem informações relevantes se lembrem disso.

(*) O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.

Fonte:
http://www.diariodocentrodomundo.com.br/o-telefonema-de-johnny-saad-para-fernando-haddad/

Nota:
A inserção de algumas imagens adicionais, capturadas do Google Images, são de nossa responsabilidade, elas inexistem no texto original.

Leia também:
Os truques da edição jornalística da Globo - Parte 1/3 - Alexandre Tambelli
Os truques da edição jornalística da Globo - Parte 2/3Alexandre Tambelli
- Os truques da edição jornalística da Globo - Parte 3/3Alexandre Tambelli
- Lições de Chavez - Beto Almeida
- As 10 estratégias de manipulação midiática - Noam Chomsky
- O dia que adoramos ver a TV Globo - Blog Educom

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Cristina Kirchner, coragem de enfrentar monopólios

29/10/2013 - Que a coragem de Cristina Kirchner em enfrentar monopólios de mídia inspire Dilma
- Paulo Nogueira (*) - Diário do Centro do Mundo

Há uma enorme torcida na mídia brasileira contra o governo de Cristina Kirchner.

Colunistas brasileiros festejaram “o fim de seu ciclo” na Argentina depois dos resultados das eleições legislativas de domingo.

Mas como mostrou hoje a charge do jornal argentino Página 12: que “derrota” peculiar é aquela em que o governo mantém a maioria no Congresso.

Pois foi isso o que aconteceu na Argentina.

E eis que, mal terminada a apuração dos votos, Cristina obtém uma de suas maiores vitórias como presidenta, senão a maior. A Suprema Corte da Argentina aprovou a famosa Ley de Medios.

É uma lei que combate monopólios e estimula a pluralidade nos debates trazidos pela mídia.

O grupo Clarín – uma espécie de Globo local – se bateu quanto pôde contra a lei. Seu ponto – quem acredita nele acredita em tudo – é que se trata de uma legislação contra a liberdade de expressão.

Mentira

O grupo Clarín poderá continuar a dizer o que quer. Apenas não terá o monopólio da voz.

A decisão da justiça encerra a disputa: o Clarín vai ter que se desfazer de parte de seu monstruoso portfólio de mídia.

Conexões com o Brasil são inevitáveis.

Até quando a Globo continuará a desfrutar de seu monopólio abjeto, com o qual seus três acionistas herdaram a maior fortuna brasileira?


Até quando a mídia negará aos brasileiros, sem embaraço de qualquer natureza, pluralidade nos debates?

Cristina Kirchner fez uma coisa que nem Lula e nem Dilma (pelo menos até aqui) ousaram: enfrentou a mídia.

Ah, as circunstâncias lá são diferentes, objetarão alguns. Sim, nada é exatamente igual em dois países. Isto é um truísmo.

A real diferença entre o caso argentino e o caso nacional reside na bravura de Cristina para combater o bom combate.

No Brasil, há décadas, sucessivos governos se acovardam quando se trata de lidar com a mídia.

Numa situação patética, as empresas de jornalismo não pagam imposto pelo papel com que imprimem suas publicações, sejam jornais ou revistas.

São os cofres públicos financiando, pelo chamado “papel imune”, empresas riquíssimas empenhadas em perpetuar privilégios nocivos à sociedade.

Outra mamata inacreditável é a reserva de mercado de que a mídia goza, ela que fala tanto na importância do livre mercado.

Num artigo relativamente recente publicado no Globo para defender a reserva, foi dito que as novelas são “patrimônio nacional”, e por isso não podem ser ameaçadas pela concorrência estrangeira.

Também foi dito que haveria risco de uma emissora chinesa fazer propaganda de Mao Tsetung, caso instalada no Brasil.

O autor desse beatialógico é o hoje ministro do Supremo Luís Roberto Barroso, à época advogado do órgão de lobby da Globo, a Abert.

Quanto o poder irrestrito da mídia é ruim para o Brasil foi espetacularmente demonstrado em 1954 e em 1964, quando seus donos conspiraram abertamente contra governos eleitos e fizeram campanhas nas quais a verdade foi a primeira vítima.

Curiosamente, depois de chegar ao poder com uma grande frase segundo a qual a esperança deveria vencer o medo, o PT agiu de forma oposta em relação à mídia.

O medo venceu a esperança.

Mesmo sem dentes, mesmo com Ibope em queda livre, mesmo sem ganhar uma única eleição em muitos anos, mesmo ameaçado de morte pela internet, o Jornal Nacional continua a meter medo, melhor, pavor em administrações petistas.

Em Cristina Kirchner, a esperança foi maior que o medo, e o resultado é uma conquista histórica não dela, não de seu governo – mas da Argentina.

(*) O jornalista Paulo Nogueira, baseado em Londres, é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.

Fonte:
http://www.diariodocentrodomundo.com.br/que-a-coragem-de-cristina-kirchner-em-enfrentar-monopolios-de-midia-inspire-dilma/

quinta-feira, 14 de março de 2013

E deu Maradona

13/03/2013 - Laerte Braga - Diário Liberdade

Excesso de virtudes, na visão do escritor inglês Aldous Huxley, não significa compreensão da vida em sua essência, em seu sentido e em sua razão de ser.

Pode significar orgulho, pode levar a pessoa a um afastamento gradativo da realidade, como pode significar mesquinharia.

Jorge Mario Bergoglio (foto), o cardeal argentino eleito papa, Francisco, não é mesquinho e nem alheio à vida, isolado da realidade. Suas virtudes são políticas.

É um dos mais duros críticos do governo da presidente Cristina Kirchner, foi protocolar na condenação à ditadura naquele país e a despeito do voto de pobreza, vive dentro do sistema, mantém a igreja atrelada a conceitos medievais, agora, recheados com uma camada de chantili para dar a impressão de modernidade, ou tornar-se palatável.

Por baixo dessa camada não existe marrom glacê, mas um osso duro de roer e à direita, dentro dos padrões do Vaticano.

Bergoglio não chega, necessariamente, a ser uma surpresa.

No conclave que escolheu Ratzinger foi o segundo mais votado.

Chegou ao Vaticano com um cacife eleitoral razoável.

Sobre o brasileiro Odilo Scherer (foto) leva a vantagem de ser dissimulado (isso conta para a hipocrisia de Roma).

As mudanças serão de estilo e não de fundo.

Deve tentar influir politicamente em seu país, nunca escondeu e de forma pública sua aversão tanto a Néstor Kirchner, quanto a sua mulher Cristina (foto abaixo).

A despeito de críticas à economia de mercado, nunca manifestou um ponto de vista conclusivo, apenas circundou os problemas de seu país, mais ou menos como faziam os antigos políticos do ex-PSD do Brasil. “Nem contra, nem a favor, muito antes pelo contrário, revendo meu ponto de vista."

No caso específico não estava e nunca esteve revendo nada. Exceto no que diz respeito a presidente Cristina (foto, ao lado de Néstor).

Entre suas virtudes escondidas, o poder.

A busca do poder é uma de suas características.

Lembra João Paulo II, um produto de marketing.

Sorri, enquanto sangram nos porões da monarquia absoluta que é a igreja, os seus adversários.

É jesuíta, uma ordem tradicionalmente conservadora e que durante muito tempo ignorou ou manteve-se alheia ao poder de Roma. Seu superior era chamado de “papa negro”.

Começou a perder essa característica quando João Paulo II (foto) pôs fim a ela. Submeteu os jesuítas, fundado por Santo Inácio de Loiola um militar espanhol.

Um sujeito comum que só tenha virtudes é, em si, um chato.

Um papa virtuoso é o sinal que latino-americanos terão problemas com as ingerências do Vaticano em questões políticas, principalmente, em países que buscam a independência plena, sem o controle de Washington.

Não há mudança alguma na igreja.

Um novo showman foi eleito para gerir o Vaticano.

Essa é outra vantagem sobre o brasileiro Odilo Scherer. A falta de jogo de cintura, que sobra no argentino.

No fundo são iguais.

Ao dizer que os homossexuais “merecem respeito”, não está nem de longe discutindo o problema. Esta mantendo o estigma, a hipocrisia bem conhecida nos documentos secretos do papa anterior.

Ao ser contra o aborto está deixando claro que nenhum dos dogmas férreos da Idade Média serão substituídos, ou revistos, apenas atenuados no discurso.

Mas as câmaras de injeções letais do Vaticano continuarão nos cantos soturnos dos palácios papais do Vaticano.

Francisco talvez garanta a igreja uma sobrevida depois do fiasco Bento XVI. Mas só isso.

É uma espécie de canto da sereia, só isso.

Ilude o pescador e o leva para o fundo do mar no atraso crônico de uma instituição em estado falimentar.

Isso  quer dizer perigo.

Vem respaldado por forças conservadoras que podem causar estragos ponderáveis, sobretudo na América Latina, principalmente na Argentina.

Está longe de ser um Maradona, um Néstor Rossi, um Alfredo Di Stéfano.

E um detalhe, ironia ou não, o jornal brasileiro dedicado aos esportes, LANCE, chamou na edição de hoje [13/3], quarta-feira, antes da escolha de Francisco, o jogador argentino Lionel Messi de papa.

Foi pelo desempenho no jogo de terça-feira contra a equipe da Milan.

Francisco não é uma incógnita.

É a continuidade do atraso da igreja romana.

Sua dimensão pode ser, inclusive, a de enfrentar os evangélicos, grupo de malucos que tenta roubar a primazia do contato divino que sempre foi privilégio do Vaticano.

Fonte:
http://www.diarioliberdade.org/opiniom/opiniom-propia/36559-e-deu-maradona.html

PS do blog Educom:
Há um mês, em 13/02/2013, a Carta Maior publicou um texto de Oscar Guisoni do qual extraímos os seguintes trechos:

"Como ocorreu em 2005, quando foi eleito o Papa Joseph Ratzinger, os conservadores e ultramontanos argentinos voltam a se iludir com a possibilidade de colocar seu homem no Vaticano: o cardeal Jorge Bergoglio

 Mas o papel desempenhado pela Igreja argentina e pelo citado cardeal em particular durante a última ditadura militar (1976-1983) (foto ao lado, general Jorge Videla, ex-ditador argentino desse período) torna quase impossível que o Vaticano opte por habilitar com a “fumaça branca” um personagem com semelhante currículo.

Salvo que “assim como nos anos 80 escolheram Karol Wojtyla para canalizar religiosamente a luta do povo polonês (isto é, a do mundo ocidental e cristão) contra o totalitarismo soviético”, sustenta D’Addario [colunista Fernando D’Addario, do Página/12, da Argentina] com acidez, “agora escolham um papa argentino para salvar-nos do populismo gay e favorável ao aborto que se expande como uma peste por estes pampas”.

"Enquanto isso, o candidato em questão, o atual arcebispo de Buenos Aires, Jorge Bergoglio, sonha em alcançar um papado impossível.

Nascido em 1936 e presidente da Conferência Episcopal durante dois períodos (cargo que abandonou recentemente por doenças da idade), é difícil que o Vaticano se arrisque a colocar no trono de Pedro um homem citado em vários processos judiciais por sua cumplicidade com a ditadura e que conseguiu evitar seu próprio julgamento por contra de influências e argúcias de advogados.

Nada disso impede, porém, os ultramontanos argentinos de sonhar com a possibilidade de ter um Papa em Roma que os ajude a acabar de uma vez por todas com um governo [de Cristina Kirchner (foto)] que consideram o pior inimigo da Igreja Católica desde que o presidente Juan Domingo Perón enfrentou-se de forma virulenta (incluindo a queima de algumas igrejas) com a hierarquia católica no final de seu governo em 1955."

Nota:
A inserção das imagens, quase todas capturadas do Google Images, são de nossa responsabilidade e, excetuando uma ou outra, inexistem no texto original.

sábado, 12 de janeiro de 2013

"Lei dos meios" para o Brasil, por que?

01/01/2013 - "Lei dos meios" - Vladimir Safatle (*)
- Folha de São Paulo

Nas últimas semanas, a Argentina voltou ao noticiário brasileiro devido aos imbróglios relativos à aplicação da chamada "Lei dos meios", responsável pela nova regulamentação dos serviços de comunicação.

Alguns viram, no caráter antimonopolista da Lei, a expressão de uma sanha estatal visando limitar a liberdade de expressão, principalmente devido à arquirrivalidade entre o governo Kirchner e o maior grupo de mídia do pais: o grupo Clarín.

No entanto, há um debate importante que deve ser feito de maneira desapaixonada. Ele passa pela resposta à pergunta: "Precisamos ou não de leis que restrinjam a concentração da propriedade de canais de comunicação?".


Ou seja, podemos afirmar que a concentração da mídia não afeta necessariamente o funcionamento da democracia?

Neste sentido, vale a pena lembrar que o mercado de mídia é, atualmente, um dos mais oligopolizados do mundo.

Como vimos através do recente caso de Rupert Murdoch, (foto) isto não é sem consequências para nossa vida política.

Murdoch detinha um império mundial de TVs, jornais, editoras, revistas, rádios, estúdios de cinema, portais de internet que lhe dava uma capacidade de moldar o debate, pressionar governos e de intervir na política a ponto de prometer a um general norte-americano (David Petraeus) apoio irrestrito de seu império caso ele aceitasse concorrer à Presidência norte-americana.

Situações como esta não são exclusivas do mundo anglo-saxão.

As últimas décadas conheceram uma tendência brutal à concentração de mídia que interfere, de maneira nociva, não apenas na política, mas também na cultura.


Um grupo como Time Warner, por exemplo, controla, ao mesmo tempo, a produção, a difusão e o desenvolvimento das técnicas de reprodução.


Por isto, podemos dizer que leis que impeçam a formação de oligopólios são uma forma da sociedade defender-se da uniformização forçada de opiniões e do silenciamento de perspectivas.

Pode-se contra-argumentar dizendo que a pulverização das mídias as deixa mais vulneráveis às pressões dos governos. Este é um argumento relevante. 

No entanto, a solução para esse problema não está na perpetuação de outro problema.

Há de se pensar ações que impeçam os governos de moldarem as informações a partir de seus interesses.

No caso brasileiro, isso pede a limitação da capacidade de influência dos governos através da drástica limitação da publicidade governamental (reduzida apenas a campanhas de utilidade pública), do respeito à proibição de políticos e seus grupos operarem concessões de mídia, assim como de critérios absolutamente isonômicos de usos de verbas publicitárias de empresas estatais.

(*) Vladimir Safatle é professor livre-docente do Departamento de filosofia da USP (Universidade de São Paulo). 

Fonte:
http://www1.folha.uol.com.br/colunas/vladimirsafatle/1208576-lei-dos-meios.shtml

Leia também:
- No mundo de Murdoch - Luiz Gonazaga Belluzzo
- Compare: o juiz inglês e os nossos juízes - Paulo Nogueira

Nota:
A inserção de algumas imagens adicionais, capturadas do Google Images, são de nossa responsabilidade, elas inexistem no texto original.