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quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

A obesidade e a fome

16/01/2014 - “A obesidade e a fome são os dois lados de um sistema alimentar que não funciona
- Entrevista com Esther Vivas - Instituto Humanitas Unisinos (IHU)

Por ocasião da sua visita a Tenerife para a comemoração do Dia Internacional das Mulheres Rurais (15 de outubro), tivemos a oportunidade de conversar com Esther Vivas, [foto] ativista social e pesquisadora de políticas agrárias e alimentares.

A entrevista está publicada na revista Mundo Rural n. 13, do AgroCabildo, Cabildo de Tenerife, 14-01-2014. A tradução é de André Langer.

Eis a entrevista.

Qual é o estado do atual modelo de produção, distribuição e consumo de alimentos?
Atualmente, enquanto milhões de pessoas no mundo não têm o que comer, outros comem muito e mal.

A obesidade e a fome são os dois lados da mesma moeda: a de um sistema alimentar que não funciona e que condena milhões de pessoas à má nutrição.

Vivemos, definitivamente, em um mundo de obesos e famélicos.

Os números deixam isso claro: 870 milhões de pessoas no mundo passam fome, enquanto 500 milhões têm problemas de obesidade, segundo indica o relatório O Estado Mundial da Agricultura e da Alimentação 2013, publicado recentemente pela FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura), e que este ano analisa a mácula da má nutrição.

Uma problemática que não afeta apenas os países do Sul, mas que aqui está cada vez mais próxima.

A fome severa e a obesidade são apenas a ponta do iceberg.

Como acrescenta a FAO, dois milhões de pessoas no mundo sofrem deficiências de micronutrientes (ferro, vitamina A, iodo...), 26% das crianças têm, em consequência, atraso no crescimento e 1,4 bilhão vivem com sobrepeso.

O problema da alimentação não consiste apenas em se podemos comer ou não, mas no que ingerimos, de que qualidade, procedência, como foi elaborada.

Não se trata apenas de comer, mas de comer bem.

E quem sai ganhando com este modelo?
A indústria agroalimentar e a grande distribuição, os supermercados, são os principais beneficiários.

Alimentos quilométricos (que vêm da outra ponta do mundo), cultivados com altas doses de pesticidas e fitossanitários, em condições precárias de trabalho, prescindindo do campesinato, com pouco valor nutritivo... são alguns dos elementos que o caracterizam.

Em suma, um sistema que antepõe os interesses particulares do agrobusiness [agronegócio] às necessidades alimentares das pessoas.

Como afirma Raj Patel [foto] em seu livro Obesos e Famélicos (Los Libros de Lince, 2008):

“A fome e o sobrepeso globais são sintomas de um mesmo problema (...) 

Os obesos e os famélicos estão vinculados entre si pelas cadeias de produção que levam os alimentos do campo à nossa mesa”.

E acrescento: para comer bem, para que todos possam comer bem, é preciso romper com o monopólio destas multinacionais na produção, distribuição e consumo de alimentos. Para que acima do afã do lucro, prevaleça o direito à alimentação das pessoas.

E quem sai perdendo?
Estamos correndo o risco do desmantelamento de um setor, o agrário, estratégico para a nossa economia.

Algo que não é novo, mas que com as atuais medidas só se agravou.

Atualmente, menos de 5% da população ativa no Estado espanhol trabalha na agricultura, e uma parte muito significativa são pessoas maiores de idade.

Algo que, segundo os padrões atuais, é símbolo de progresso e modernidade.

Talvez, teríamos que começar a nos perguntar com que parâmetros se definem ambos os conceitos.

A agricultura camponesa é uma prática em extinção.

Atualmente, milhares de propriedades fecham suas portas. Sobreviver no campo e trabalhar a terra não é tarefa fácil.

E quem mais sai perdendo no atual modelo de produção, distribuição e consumo de alimentos são, precisamente, aqueles que produzem os alimentos.

A renda agrária situava-se, em 2007, segundo a COAG, em 65% da renda geral. Seu empobrecimento é claro. Avançamos para uma agricultura sem camponeses.

E, se estes desaparecem, nas mãos de quem fica a nossa alimentação?

Que relação existe com a atual situação de crise?
A crise econômica só piorou esta situação.

Cada vez mais pessoas são empurradas a comprar produtos baratos e menos nutritivos, segundo se desprende do relatório Geração XXL (2012), da companhia de pesquisa IPSOS.

Como estes indicam, na Grã-Bretanha, para dar um exemplo, a crise fez com que as vendas de carne de cordeiro, verduras e frutas frescas diminuíssem consideravelmente, ao passo que o consumo de produtos enlatados, como biscoitos e pizzas, aumentasse nos últimos cinco anos.

Uma tendência generalizável a outros países da União Europeia.

Milhões de pessoas sofrem hoje as consequências deste modelo de alimentação “fast food”, que acaba com a nossa saúde.

As doenças vinculadas ao que comemos só aumentaram nos últimos tempos: diabetes, alergias, colesterol, hiperatividade infantil, etc.

E isto tem consequências econômicas diretas.

Segundo a FAO, a estimativa do custo econômico do sobrepeso e da obesidade foi, em 2010, de aproximadamente 1,4 bilhão de dólares.

Existe alguma alternativa?
Quais são os elementos e a condições necessárias para elas?
Como indica a organização internacional GRAIN, a produção de alimentos multiplicou-se por três desde os anos 1960, ao passo que a população mundial tão somente duplicou desde então, mas os mecanismos de produção, distribuição e consumo, a serviço dos interesses privados, impedem aos mais pobres a obtenção necessária de alimentos.

O acesso, por parte do pequeno agricultor, à terra, à água, às sementes... não é um direito garantido. Os consumidores não sabem de onde vem aquilo que comem, não podem escolher consumir produtos livres de transgênicos.

A cadeia agroalimentar foi se alargando progressivamente afastando, cada vez mais, produção e consumo, favorecendo a apropriação das diferentes etapas da cadeia por empresas agroindustriais, com a consequente perda de autonomia de camponeses e consumidores.

Diante deste modelo dominante do agrobusiness, onde a busca do lucro econômico se antepõe às necessidades alimentares das pessoas e ao respeito ao meio ambiente, surge o paradigma alternativo da soberania alimentar.

Uma proposta que reivindica o direito de cada povo a definir suas políticas agrícolas e alimentares, a controlar seu mercado doméstico, a impedir a entrada de produtos excedentes através de mecanismos de dumping, a promover uma agricultura local, diversa, camponesa e sustentável, que respeite o território, entendendo o comércio internacional como um complemento à produção local.

A soberania alimentar implica em devolver o controle dos bens naturais, como a terra, a água e as sementes, às comunidades e lutar contra a privatização da vida.

Não são propostas utópicas? Que estratégias são requeridas?

Um dos argumentos que os detratores da soberania alimentar utilizam é que a agricultura ecológica é incapaz de alimentar o mundo.

Mas contrariamente a este discurso, vários estudos demonstram que esta afirmação é falsa.

Esta é a conclusão de uma exaustiva consulta internacional impulsionada pelo Banco Mundial [BM] em parceria com a FAO, o PNUD, a Unesco, representantes de governos, instituições privadas, científicas, sociais, etc., projetado como um modelo de consultoria híbrida, que envolveu mais de 400 cientistas e especialistas em alimentação e desenvolvimento rural durante quatro anos.

É interessante observar como, apesar de que o relatório tivesse estas instituições na retaguarda, concluía que a produção agroecológica provia de ingressos alimentares e monetários os mais pobres, ao mesmo tempo que gerava excedentes para o mercado, sendo melhor garantia de segurança alimentar que a produção transgênica.

O relatório da IAASTD, publicado no começo de 2009, apostava na produção local, camponesa e familiar e na redistribuição das terras nas mãos das comunidades rurais.

O relatório foi rechaçado pelo agrobusiness e arquivado pelo Banco Mundial, embora 61 governos o aprovassem discretamente, com exceção dos Estados Unidos, Canadá e Austrália, entre outros.

Alcançar este objetivo requer uma estratégia de ruptura com as políticas agrícolas neoliberais impostas pela Organização Mundial do Comércio [OMC], pelo Banco Mundial e pelo Fundo Monetário Internacional [FMI], que erodiram a soberania alimentar dos povos a partir de seus ditados de livre comércio, planos de ajuste estrutural, endividamento externo, etc.

Frente a estas políticas, é preciso gerar mecanismos de intervenção e de regulação que permitam estabilizar os preços, controlar as importações, estabelecer cotas, proibir o dumping e, em momentos de sobreprodução, criar reservas específicas para quando estes alimentos escassearem.

Em nível nacional, os países têm que ser soberanos na hora de decidir seu grau de autossuficiência produtiva e priorizar a produção de alimentos para o consumo doméstico, sem intervenções externas.

Mas, reivindicar a soberania alimentar não implica em um retorno romântico ao passado; antes, trata-se de recuperar o conhecimento e as práticas tradicionais e combiná-las com as novas tecnologias e os novos saberes.

Não deve consistir tampouco em um projeto localista, nem numa “mistificação do pequeno”, mas em repensar o sistema alimentar mundial para favorecer formas democráticas de produção e distribuição de alimentos.

A que responde o auge dos grupos de consumo? Como foi a evolução mais recente destes grupos na Espanha?
Os grupos e as cooperativas de consumo propõem um modelo de agricultura cujos objetivos se centram
- em encurtar a distância entre produção e consumo, em relações de confiança e solidariedade entre ambos os extremos da cadeia, entre o campo e a cidade;
- em apoiar uma agricultura camponesa e de proximidade que cuida da nossa terra e que defende um mundo rural vivo com o propósito de poder viver dignamente do campo;
- e em promover uma agricultura ecológica e de temporada, que respeite e tenha em conta os ciclos da terra.

Assim mesmo, nas cidades, estas experiências permitem fortalecer o tecido local, gerar conhecimento mútuo e promover iniciativas baseadas na autogestão e na autoorganização.

De fato, a maior parte dos grupos de consumo encontra-se nos núcleos urbanos, onde a distância e a dificuldade para contatar diretamente com os produtores são maiores, e, deste modo, pessoas de um bairro ou localidade se juntam para realizar “outro consumo”.

Existem, assim mesmo, vários modelos: aqueles em que o produtor serve semanalmente uma cesta, fechada, com frutas e verduras ou aqueles em que o consumidor pode escolher quais alimentos de estação quer consumir de uma lista de produtos oferecidos pelo camponês com quem trabalha.

Também, em nível legal, encontramos majoritariamente grupos inscritos, como associações, e, alguns poucos, de experiências mais consolidadas e com longa trajetória, com formato de sociedade cooperativa.

Os primeiros grupos surgiram, no Estado espanhol, no final dos anos 1980 e começo dos anos 1990, majoritariamente na Andaluzia e na Catalunha,  embora também encontremos alguns em Euskal Herria e no País Valencià, entre outros.

Uma segunda onda se deu nos anos 2000, quando estas experimentaram um crescimento muito importante ali onde já existiam e apareceram pela primeira vez onde não tinham presença.

Atualmente, estas iniciativas se consolidaram e multiplicaram de maneira muito significativa, em um processo difícil de quantificar devido ao seu caráter particular.

O auge destas experiências responde, do meu ponto de vista, a duas questões centrais.

Por um lado, a uma crescente preocupação social sobre o que se come, diante da proliferação de escândalos alimentares, nos últimos anos, como a doença da vaca louca, os frangos com dioxinas, a gripe suína, a e-coli, etc.

Comer, e comer bem, importa de novo. E, por outro lado, a necessidade de muitos ativistas sociais de buscar alternativas no cotidiano, para além de se mobilizarem contra a globalização neoliberal e seus artífices.

Justamente depois da emergência do movimento antiglobalização e antiguerra, no começo dos anos 2000, uma parte significativa das pessoas que participaram ativamente destes espaços impulsionaram ou entraram para fazer parte de grupos de consumo agroecológico, redes de intercâmbio, meios de comunicação alternativos, etc.

Que papel tem as mulheres neste processo?
Avançar na construção de alternativas ao atual modelo agrícola e alimentar implica em incorporar uma perspectiva de gênero.

Trata-se de reconhecer o papel que as mulheres têm no cultivo e comercialização daquilo que comemos.

Entre 60% e 80% da produção de alimentos nos países do Sul, segundo dados da FAO, recai sobre as mulheres.

Estas são as principais produtoras de cultivos básicos como o arroz, o trigo e o milho, que alimentam as populações mais empobrecidas do Sul global.

Mas, apesar de seu papel chave na agricultura e na alimentação, elas são, junto com as crianças, as mais afetadas pela fome.

As mulheres, em muitos países da África, Ásia e América Latina enfrentam enormes dificuldades para ter acesso a terra, obter créditos, etc.

Mas estes problemas não se dão apenas no Sul.

Na Europa, muitas camponesas sofrem de uma total insegurança jurídica, já que a maioria delas trabalha em explorações familiares onde os direitos administrativos são propriedade exclusiva do titular da exploração e as mulheres, apesar de trabalhar nela, não têm direito a auxílios, à plantação, a uma cota láctica, etc.

A soberania alimentar tem que romper não apenas com um modelo agrícola capitalista, mas também com um sistema patriarcal, profundamente arraigado em nossa sociedade, que oprime e submete as mulheres.

Uma soberania alimentar que não inclua uma perspectiva feminista estará condenada ao fracasso.

Fonte:
http://www.ihu.unisinos.br/noticias/527306-a-obesidade-e-a-fome-sao-os-dois-lados-de-um-sistema-alimentar-que-nao-funciona-entrevista-com-esther-vivas

Leituras afins:

- XV Simpósio Internacional IHU - “Alimento e Nutrição no contexto dos Objetivos do Desenvolvimento do Milênio” - de 05 a 08 de maio de 2014
- Nuvens de veneno - Wellinton Nascimento 
- Fome: 10 fatos para saber em 2014 - Ana Duarte Carmo

Nota:

A inserção de algumas imagens adicionais, capturadas do Google Images, são de nossa responsabilidade, elas inexistem no texto original.

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

O papel da OMC e o que querem os ativistas

Esclarecimento ao leitor: publicamos hoje dois textos de dois momentos distintos, mas ambos alusivos à OMC (Organização Mundial do Comércio - World Trade Organization, da sigla em inglês).

O primeiro se reporta ao dia de maio passado em que Roberto Azevedo, indicado pelo governo federal, foi eleito seu Diretor Geral.

O segundo, ao acordo vitorioso firmado no último dia 07/12 em Bali, Indonésia, entre as nações integrantes da organização, visando destravar as negociações voltadas para a liberalização do comércio mundial, iniciadas em Doha, no Catar, em 2001 e praticamente estagnadas desde então.

As eventuais críticas a esse acordo manifestadas nestes dois textos em nada se alinham com aquelas feitas pela grande mídia conservadora brasileira, objeto do texto que divulgamos ontem (Brasil, uma dupla vitória), cujo propósito ao criticá-lo, visa apenas desqualificar toda e qualquer iniciativa do governo petista, ainda mais aquelas que possam ser vistas como uma vitória, principalmente, como neste caso, quando o evento tem repercussão internacional. (Educom)

13/05/2013 - O papel da OMC - Maria Luisa Mendonça - Brasil de Fato

A escolha do diplomata brasileiro, Roberto Azevedo, para a Direção Geral da Organização Mundial do Comércio (OMC) foi comemorada por diversos setores políticos e midiáticos no Brasil.

Entretanto, é necessário retomarmos a posição dos movimentos sociais que denunciam os impactos causados por políticas identificadas com a chamada “liberalização” comercial.

Desde a sua criação em 1995, o principal papel da OMC tem sido expandir seu poder de regulamentação de políticas comerciais em cerca de 150 países.

Apesar de difundir a ideologia do livre comércio, a OMC possui uma complexa estrutura de normas utilizadas para estimular a formação de monopólios no acesso a mercados internacionais.

A abrangência dos acordos contidos na OMC vai além de temas relacionados ao comércio internacional, incluindo propriedade intelectual e privatização de setores de “serviços” que incluem direitos básicos como saúde e educação.

A política central da diplomacia brasileira na OMC tem sido estimular o lobby em favor de vantagens comerciais para o agronegócio.

Esta política é contrária à posição dos movimentos sociais rurais que defendem o lema “OMC fora da agricultura”.

Durante mais de uma década, as negociações no âmbito da OMC enfrentaram constantes “fracassos” já que, obviamente, os países centrais não fizeram e dificilmente farão concessões em relação à proteção de sua própria agricultura e indústria.

Mesmo assim, sucessivos governos no Brasil insistem em pedir a eliminação dos subsídios e a “abertura” dos mercados nos países “ricos”, ao mesmo tempo em que mantêm forte apoio estatal para o agronegócio.

Este duplo discurso esconde a inevitabilidade da criação de impasses neste tipo de negociação comercial, que só se resolveriam se os países centrais deixassem de proteger suas economias, o que só os repetidores das reclamações contra os malvados subsídios dos países ricos parecem acreditar.

A possibilidade mais provável é sempre de que os países periféricos se submetam às regras estabelecidas nestes espaços multilaterais.

A política externa brasileira em função do lobby do agronegócio se manteve ao longo dos anos, mesmo com os repetidos e previsíveis “fracassos” das negociações da OMC.

Tanto no período considerado neodesenvolvimentista, quanto naquele chamado de neoliberal, prevalece a defesa de uma política estatal de apoio ao modelo agroexportador, com base no argumento de que seria a forma possível de se garantir “equilíbrio” na balança comercial brasileira.

Como o papel do Diretor-Geral da OMC é principalmente defender as regras estabelecidas e tentar “destravar” as negociações, a escolha de Roberto Azevedo para o cargo pode levar o Brasil a fazer maiores concessões.

De qualquer forma, o avanço destes acordos terá sempre a função de facilitar a ampliação de monopólios privados, seja nos países centrais ou periféricos.

Fonte:
http://www.brasildefato.com.br/node/12892

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08/12/2013 - OMC: Ativistas dizem que acordo de Bali favorece grandes corporações
- Da Redação - Carta Maior

Ministros de 159 países fecharam modesto pacote que prevê desburocratização do comércio global e incentivo às trocas agrícolas.

Bali, Indonésia – A Organização Mundial do Comércio (OMC) conseguiu fechar neste sábado (7/12) o seu primeiro acordo global em quase 20 anos, ao obter apoio de ministros de 159 países para um modesto pacote que prevê desburocratização do comércio global, incentivo às trocas agrícolas e foco no desenvolvimento dos países pobres.

Foi uma vitória pessoal do diretor geral da organização, o brasileiro Roberto Azevêdo [foto], no cargo desde setembro de 2013.

Pela primeira vez na história, a OMC verdadeiramente entregou o que promete”, comemorou Azevêdo.

O encontro em Bali foi marcado pela disputa entre Estados Unidos e Índia.

Os norte-americanos queriam que os indianos pusessem limite em seu programa de compra de alimentos, que visa garantir renda e soberania alimentar a milhões de pequenos agricultores do país.

Diante da recusa da Índia, os ministros negociaram deixar a questão para mais tarde, permitindo a assinatura do acordo.

Na OMC, tudo tem de ser feito por consenso e a recusa de apenas uma delegação pode interromper o processo.

Críticas
Para ONG Focus on the South Global, com forte atuação no sudeste asiático, o acordo aprovado na OMC é ruim para trabalhadores e pequenos produtores rurais.

Segundo documento divulgado pela organização e apoiado por diversas entidades indonésias e indianas, “a proposta de facilitação do comércio vai beneficiar principalmente grandes corporações, e os compromissos de longo prazo para os países menos desenvolvidos foram diluídos em promessas vagas”.

A Focus on the South Global apontou ainda a incoerência dos países ricos, que cobram o fim de políticas públicas nos países menos desenvolvidos, ao mesmo tempo em que mantêm bilionários programas de subsídios para seus agricultores.

Os subsídios agrícolas nos países desenvolvidos continuam a devastar a nossa agricultura, e as táticas de pressão estão a minar a unidade dos países em desenvolvimento para que se chegue a acordo com soluções verdadeiramente justas”, afirma o manifesto.

Vigilância
Em sua análise sobre o acordo de Bali, o Trade Game, um observatório mantido pelas organizações italianas Confederazione Generale Italiana del Lavoro (Cgil), Arcs/Arci, Fairwatch e Legambiente, também denunciou a atuação das delegações dos EUA e da União Europeia.

Segundo o Trade Game, “EUA e UE [União Europeia] desempenharam um jogo perigoso em Bali: não assumiram qualquer compromisso vinculativo para um maior equilíbrio no comércio global, e quiseram impor medidas pesadas para os países emergentes”.

A partir de agora, as negociações sobre o acordo em Bali continuarão na sede da OMC, em Genebra.

Os sindicatos e a sociedade civil precisam continuar críticos e vigilantes”, disse manifesto divulgado pelo Trade Game.

Fonte:
http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Economia/OMC-Ativistas-dizem-que-acordo-de-Bali-favorece-grandes-corporacoes/7/29752

Leia também:
- Brasil, uma dupla vitória - Arnóbio Rocha

Nota:
A inserção das imagens, quase todas capturadas do Google Images, são de nossa responsabilidade, pois inexistem nos textos originais.

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Brasil, uma dupla vitória

08/12/2013 - A dupla Vitória do Brasil na OMC, a dupla Derrota da Mídia
- Arnóbio Rocha - em seu blog Política, Economia e Cultura

Em maio de 2013 escrevi um texto (Vitória do Brasil na OMC [Organização Mundial do Comércio], Derrota da mídia local) em que apontava mais uma vez o ódio da mídia brasileira à política externa do Brasil.

Naquele momento o país tinha apresentado a candidatura do Embaixador Roberto Azevedo.

Dias antes os jornais chegaram a divulgar que ele perderia fácil a eleição pois a UE [União Europeia] apoiaria a  candidatura do mexicano ultraliberal Hermínio Blanco, formado em Chicago, a escola dos neoliberais.

No dia da votação a mídia excitada criticava o governo brasileiro, pois dava como certa a derrota.

Todos sabemos que Roberto Azevedo, venceu.

Assim dizia eu, sobre os embates contra a mídia naqueles dias:

Alertei ontem que a mídia brasileira não se conformaria com a vitória do Brasil na OMC, com a eleição do Embaixador Roberto Azevedo ao cargo mais importante do órgão, que somado ao cargo na FAO [Food and Agriculture Organization - Organização para a Alimentação e Agricultura, da ONU], mostra um novo caminho da diplomacia brasileira no mundo, reforçando uma virada nas relações mundiais, em particular com o advento da Crise 2.0, em que as velhas potências balançaram, abrindo espaço para novos atores como os BRICS."

"O Brasil em especial, tem aproveitando bem este novo momento”.

“Nem deu um dia e começaram a destilar seus ódios."

"Mas é preciso lembrar que um dia antes da eleição os jornalões brasileiros comemoraram a notícia da UE ter decidido pelo voto em Herminio Blanco, mexicano, lançado pelos EUA, afinal ele é um graduado mestre da escola de Chicago, bem em linha com os interesses de Washington, coincidindo com os da mídia tapuia."

"Aqui, [esses jornais] não conseguem entender, ou melhor, aceitar as mudanças mundiais e o protagonismo do Brasil, desde o início do Governo Lula”.

No dia seguinte da vitória vários artigos tratando como uma “quase derrota” ou insinuando que o Brasil havia “comprado o cargo”, mas a mídia permanecia no ataque de que a política externa dos governos do PT era um fracasso, pois não adiantavam as vitórias obtidas pela chancelaria brasileira pois “a tese é de que fazer comércio com outros países, que não os EUA ou a UE é isolamento."

Chegamos às raias do ridículo, uma tese insustentável, pois encerra duas graves mentiras, ou contradições:

Que o Brasil faz política externa “insular”, ora, meus ateus, como se faz política isolacionista e se vence na OMC e na FAO?

Mesmo importante, esta vitória não pode ser usada por Dilma ou pelo governo petista para legitimar a política insular do Brasil, então não se deve comemorar, ou melhor, devemos nos envergonhar de vencer.

Foi vitória maiúscula destes 10 anos de governo petista e derrota vexatória para a mídia estúpida nacional, esta é que é a verdade.

Então, como não se pode contestar, tratemos de relevar a importância, ou a menosprezar afirmando que outros objetivos não foram alcançados, como faz o repórter da Folha no final da matéria sobre a eleição, dizendo que ”O Maior objetivo do país na política externa continua inalcançado: a conquista da vaga permanente no Conselho de Segurança da ONU”.

Mas a questão não parou por aí, claro.

Roberto Azêvedo, continuou sendo alvo das maledicências de sempre e o auge foi o artigo de Demétrio Magnoli, [foto] que apostou tudo, que jamais sairia um acordo na OMC e escreveu antes do resultado final, um primor de burrice e estupidez, que agora será motivo de gozação eterna.

Segundo Magnoli, em sua coluna na Folha, a OMC seria reduzida à condição de “ente vestigial, um tribunal de contenciosos comerciais”.

E continua na onda negativa:

“O fracasso atinge em cheio o Brasil, evidenciando uma sequência de erros de política externa causados pela subordinação do interesse nacional ao imperativo da ideologia”, escreveu Magnoli, acrescentando que não faltaram alertas”. (Brasil247.com).

A Folha saiu no sábado pela manhã com estas pérolas, ainda segundo o Brasil247:

"Magnoli conclui sua análise trágica sobre o cenário que não se concretizou falando sobre 'o mito da Ilha-Brasil'".

Segundo ele, "o Império do Brasil, invocando as aventuras dos bandeirantes, “sustentou a ideia de que o território nacional constitui uma 'ilha' na América do Sul, delimitada por fronteiras naturais que estariam apoiadas no traçado das redes hidrográficas”. 

Hoje, finaliza o colunista, "a noção da Ilha-Continente ressurge na forma de uma muralha anacrônica que nos isola dos fluxos da globalização”.

Os “especialistas” da GloboNews, por mera coincidência são todos tucanos aposentados do Itamaraty e que vivem apenas para atacar a chancelaria brasileira.

Eles apostavam no fracasso da rodada de Bali e com um sorrisinho no canto da boca comemoravam o “fracasso da diplomacia brasileira”.

No fundo, todos eles, falam que a diplomacia abandonou a “política” e virou “ideologia”.

Concluo que na verdade estes analistas falam no espelho, aquilo que eles repetem: que é a “ideologia”, a neoliberal, que por acaso foi derrotada no mundo inteiro, mas que no Brasil parece zumbis, que continuam vivos no seio da grande mídia, mesmo que na vida real ela não mais tenha poder.

Se todos os desejos da mídia, sua ideologia neoliberal derrotada no mundo, aqui não dá trégua, então a saída é “torturar a realidade”, distorcer, mentir para achar alguma sobrevivência.

Que o governo ignore solenemente os “alertas” de tipos como Magnoli, Rubens Barbosa, [William] Waack [GloboNews-Painel] e tantos tolos de plantão.

Vamos em frente, parabéns ao embaixador Roberto Azevedo [foto] o Brasil está no caminho certo, por isto eles esperneiam tanto.

Fonte:
http://arnobiorocha.com.br/2013/12/08/a-dupla-vitoria-do-brasil-na-omc-a-dupla-derrota-da-midia/

Nota:
A inserção das imagens, quase todas capturadas do Google Images, são de nossa responsabilidade, pois inexistem no texto original.