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quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Grave, preocupante e revoltante: PM de São Paulo invade Sindicato dos Jornalistas

Mais grave ainda: aconteceu dia 14, portanto há uma semana e não está em nenhum veículo jornalístico de grande circulação. Será que é assim agora no Brasil? O governo de São Paulo agride a imprensa e a própria imprensa se cala? Ataque covarde ao Plano Nacional de Direitos Humanos Nº 3.

Polícia interrompe ato no Sindicato dos Jornalistas de São Paulo
do Portal 'Comunique-se'

O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo manifestou sua indignação contra a invasão de policiais militares durante a realização de ato em defesa do III Plano Nacional de Direitos Humanos, dia 14. Segundo a entidade, os policiais tentaram intimidar os participantes.

“A intimidação já havia ocorrido por volta do meio-dia, durante a entrega protocolada de carta à Presidência da República no seu escritório de São Paulo, na esquina da Avenida Paulista com Rua Augusta. A PM por duas vezes exigiu saber ‘o nome dos responsáveis’ pelo evento – cerca de 30 pessoas participaram do ato público e foi totalmente pacífico”, explica o sindicato.

Segundo o comunicado divulgado segunda, 18, por volta das 18h um sargento da PM foi até a sede do Sindicato para saber que tipo de ato estava sendo preparando para a noite. Após as explicações, o sargento pediu o número da carteira de identidade do diretor André Freire. À noite, por volta de 21h, dois policiais invadiram o auditório lotado e disseram “estar cumprindo ordens superiores”.

“Diante disso, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais de São Paulo exige das autoridades da Segurança Pública no Estado de São Paulo que deem uma resposta a este abuso de autoridade que nos lembra os velhos costumes da ditadura, que não podemos aceitar de maneira alguma”.

A PM paulista tenta explicar o inexplicável e, talvez num ato falho, praticamente assume a ação intimidatória...

PM-SP credita ao protocolo "visita" a sindicato
por Thiago Rosa, do Portal Imprensa

A Polícia Militar de São Paulo (PM), por meio de sua assessoria, contesta informação de que houve "invasão" na sede do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo (SJSP), na última quinta, 14. Segundo a entidade paulista de imprensa, durante ato em defesa do Programa Nacional dos Direitos Humanos (PNDH), quatro policiais fardados foram ao auditório Vladimir Herzog pedir explicações sobre a realização do encontro.

De acordo com o diretor do SJSP, André Freire, a interpelação policial teve início no começo da tarde de quinta, quando cerca de 30 pessoas participaram de ato pela entrega de carta ao escritório da Presidência da República, na região da Avenida Paulista. O sindicalista relatou à reportagem que por duas vezes a policia interveio e pediu identificação dos responsáveis.

No período da noite, houve a realização de encontro na sede do sindicato. Freire afirma que quatro policiais, em momentos diferentes, compareceram à sede da entidade, solicitando novamente informações sobre o ato. O sindicalista disse ainda que, questionados, um dos PMs afirmou "cumprir ordens superiores". A diretora responsável do sindicato Rose Nogueira chegou a intervir junto aos policiais, pedindo que se retirassem.

Após o incidente, o Sindicato enviou carta de repúdio à Secretaria de Segurança Pública do estado (SSP-SP), pedindo explicações sobre a presença dos policiais no encontro. Em nota, a PM negou que houve "intimidação" aos participantes do ato. De acordo com a policia, a presença das autoridades teve por objetivo "assegurar a ordem" e garantir a integridade dos participantes.

"(...) A Polícia Militar respeita os direitos fundamentais dos indivíduos e trabalha para garantir a liberdade de expressão e de manifestação, preocupando-se, não obstante, com as condições gerais de segurança". A PM afirmou ainda que a identificação dos responsáveis faz parte de protocolo da organização em ações operacionais que envolvem grande quantidade de pessoas.

"O pedido de informações e a identificação das pessoas responsáveis é medida que objetiva, pura e simplesmente, garantir a ordem e a segurança de todos, incluindo a liberdade de expressão", diz o texto. A Polícia acrescenta, porém, que "diante da denúncia", será aberto processo de investigação para apurar o caso.

Fica aqui o protesto veemente do EDUCOM contra essa atitude atentatória à democracia e à liberdade.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Chile: duas visões sobre a eleição de domingo

O descanso do condor

do Oleo do Diabo
Arriscado usar, numa crônica sobre política latino-americana, o nome condor. Apesar de ainda ser um símbolo de liberdade e independência, a bela ave das cordilheiras andinas teve seu nome estigmatizado pela homônima operação de contra-insurgência realizada coletivamente pelas piores ditaduras da região. Mas eu insisto. Recuso-me a entregar tão facilmente um arquétipo poderoso e popular às mãos torpes de forças derrotadas. Ave mais nobre e mais livre das Américas, o condor é o maior pássaro do planeta. Suas asas têm envergadura superior a três metros, permitindo que ele voe longas distâncias sem sequer movimentá-las. O condor pode voar até trezentos quilômetros sem descanso. Mas o que isso significa perante a imensidão continental das montanhas onde ele vive? Em algum momento, o orgulhoso pássaro tem que descer e descansar.

A derrota de Eduardo Frei é o descanso do condor. Por mais competente que seja uma agremiação partidária, sempre haverá um período de cansaço, de esgotamento, de ânsia pelo novo. A esquerda chilena não foi derrotada neste domingo. Ganhou um desafio. Haveria derrota se o legado da esquerda chilena fosse um país devastado econômica e socialmente, disso resultando uma vitória eleitoral esmagadora para a oposição. Nada disso aconteceu no Chile. A esquerda entrega um país com índices solidamente positivos e perdeu por poucos milhares de votos. Saiu por cima, com dignidade e respeito. Não se radicalizou. Não caiu em armadilhas maniqueístas, realizando avanços onde devia fazê-los e mantendo políticas que achou sensato conservar.

As grandes mudanças não são necessariamente inversões. Nenhuma instância é mais dialética que a política. Todo governo é simultaneamente continuidade e superação. Ou continuidade e regresso.

É válido comparar o Chile ao Brasil. Os formuladores da campanha de Dilma Rousseff terão à sua disposição o exemplo da derrota da esquerda chilena para se precaverem contra algo semelhante por aqui.

*

A esquerda latino-americana acumulou, nos últimos anos, uma longa série de vitórias. Muito além do que os mais otimistas jamais esperavam. Quem imaginaria, dez ou quinze anos trás, que a esquerda ganharia as eleições presidenciais em quase todos os países do continente? E que a primeira década do novo século, após os trágicos anos 90, assistiriam a um declínio da miséria tão acentuado?

Essas vitórias sucessivas, todavia, são o prefácio de derrotas futuras. É a lei da vida. A derrota no Chile serve à esquerda como advertência de seu próprio declínio. Ingenuidade achar que o PT ou qualquer outro partido de esquerda governará o Brasil indefinidamente. Então achei esse poema de um chileno que ganhou o Nobel de literatura, o socialista Pablo Neruda, que fala da necessidade de cairmos de vez em quando para não perdemos a perspectiva da altura. Ou mesmo por razão nenhuma. Porque há mistérios na vida que não compreendemos e seria arrogância e loucura pretender controlar tudo o que acontece. O poema alude também às desgraças políticas (e humanas) que varreram o continente. "Os copos se enchem e voltam / naturalmente a estar vazios / e às vezes de madrugada / morrem misteriosamente. Os copos e os que beberam."

A esquerda latino-americana não perdeu no Chile, porque sua maior vitória ainda é válida. Os gritos de júbilo pela volta da democracia ainda ecoam nas escarpas de Machu Picchu. As ditaduras direitistas não voltarão mais. E se voltarem encontrarão um ambiente social e institucional muito mais preparado para enfrentá-las.

Os povos latino-americanos são pacientes e fortes. Já enfrentaram séculos de opressão, miséria e totalitarismo. Não será a eleição pontual de um conservador que abaterá o seu espírito endurecido por tantos anos de sofrimento. Sem dúvida, tudo está muito bem; e tudo - diz Neruda - está muito mal.

De qualquer forma, vinte anos no poder é um sonho ainda distante da esquerda brasileira. Lula teve oito. Ainda teremos que nos preparar muito para sermos capazes de voar tão alto e tão longe quanto o condor andino.

O Berlusconi chileno

do Blog do Emir Sader
De tanto considerar-se um país da OCDE, distanciado da América Latina, o “tigre latinoamericano”, o Chile ganhou um Berlusconi. Esse é o molde de Sebastián Piñera, recém eleito presidente do Chile, fazendo com que a direita volte ao governo – depois de ter ocupado violentamente o poder, mediante uma ditadura militar, de 1973 a 1990.

Depois dos ditadores militares que representaram os interesses da direita e dos EUA na região, o neoliberalismo projetou um outro tipo de líder da direita: o empresário supostamente bem sucedido. Roberto Campos, entre outros, já dizia que o Estado e as empresas estatais deveriam funcionar com o mesmo critério das privadas: a busca do lucro, o critério custo-benefício, a competitividade. Empresas estatais deficitárias deveriam ser fechadas ou privatizadas – junto com as rentáveis também, já que não competiria ao Estado essa função.

Berlusconi foi eleito e reeleito, entre outras imagens, por essa: o empresário mais rico, o supostamente mais bem sucedido, da Itália. “Se deu certo dirigindo suas empresas, vai dar certo no Estado” – conforme a pregação liberal. “Vai passar o Estado a limpo”, “Vai cortar os gastos inúteis” (isto é, os não rentáveis economicamente). O Estado funcionar conforme o custo-benefício significa cortar recursos para políticas sociais, paga salários dos fucionários públicos, para investimentos de infra-estrutura. Daí o sucateamento do Estado, as privatizações, a mercantilização das relações sociais.

O empresário de sucesso no mercado seria o melhor agente para “passar a limpo” o Estado, fazer o tal “choque de gestão” – que os tucanos adoram. Aqui mesmo eles já apoiaram Antonio Ermírio de Morais, contra seu atual aliado, Orestes Quércia, para o governo de São Paulo.

No Chile, José Piñera, irmão e sócio do eleito presidente do Chile, foi o introdutor das malditas “reformas laborais”, um dois eixos do neoliberalismo, com seu suposto fundamental: gastar menos com remuneração salarial e elevar a superexploração do trabalho, como outras forma de transferência de recursos para os grandes empresários.

O Grupo Piñera ficou conhecido no Chile como dos que mais fez pela introdução do cartão de crédito no Chile, porém o grosso dos seus esforços esteve concentrada na expansão da Lan Chile, com a criação da Lan Peru e a compra de outras empresas latinoamericanas de aviação. Para se assemelhar mais ainda a Berlusconi, ainda que não seja torcedor do Colo-Colo, comprou o clube, como quem compra uma fábricas de empanadas.

Piñera não esconde suas afinidades com o presidente colombiano, Uribe, com quem tratará de fazer dobradinha, tentando isolar a Equador e a Bolívia na região andina e se apresentar, junto com o Peru, como um pólo ortodoxo neoliberal, intensificando as relações de livre comércio com os EUA. Mal sabe ele que os tempos de auge do neoliberalismo já ficaram para trás, que aventurar-se por esse caminho é deixar a economia chilena ainda mais fragilizada diante dos continuados efeitos da crise internacional, ainda para um pais que tem um TLC com os EUA – eixo dessa crise.

A derrota é muito dolorosa para o povo chileno. Mesmo se não colocássemos os governos da Concertação no bloco progressista na região – porque privilegiaram o Tratado de Livre Comércio com os EUA, mantiveram uma política econômica ortodoxa -, toda a esquerda sai derrotada. Porque, apesar das debilidades dos governos da Concertação – refletido agora no voto majoritário da direita, que incorpora amplos setores populares -, a esquerda não soube construir, nas duas décadas de democratização, uma alternativa antineoliberal no Chile. O povo chileno pagará caro esse erro da esquerda, que agora tem, pelo menos, a possibilidade de colocar em questão o modelo herdado do pinochetismo.

Os momentos de balanço de derrotas como essa se prestam para as divisões, para os oportunismos, para os radicalismos verbais. A esquerda chilena pode olhar para a América Latina para ver distintas expressões de governos populares e de blocos sociais e políticos que levam a cabo esses governos, como referência, para que o Chile volte a assumir seu lugar no processo de integração regional e de construção de alternativas efetivamente de esquerda, nas terras de Allende, Neruda e Miguel Enriquez.

sábado, 16 de janeiro de 2010

EXCLUSIVO: ameaça de bomba durante exibição de filme sobre Mariguella, no Rio!

Soubemos na tarde deste sábado, por nossa amiga Fátima Lacerda, jornalista da Agência Petroleira de Notícias, que suposto telefonema anônimo informando a colocação de uma bomba motivou a segurança do Centro Cultural da Caixa, no centro do Rio de Janeiro, a interromper a sessão para convidados do filme "Marighella – Retrato Falado do Guerrilheiro", de Silvio Tendler, na noite de sexta, 15. Não foi encontrado nenhum explosivo nas dependências do prédio da Caixa Econômica. Após a sessão, seria realizado um debate sobre a Comissão Nacional da Verdade, prevista pelo novo Programa Nacional de Direitos Humanos. Muitos presentes haviam participado, na sede do Sindipetro-RJ, de uma homenagem a outra vítima fatal da ditadura militar, o jornalista e, assim como Carlos Mariguella, guerrilheiro Mário Alves (veja post). A notícia da ameaça de bomba também chegou ao nosso conhecimento, na mesma tarde de sábado, pelo jornalista, analista político e colaborador frequente do Blog EDUCOM Laerte Braga. Nenhum veículo jornalístico publicou nada a respeito do incidente, de clara relevância política, sobretudo no momento que hoje vivemos em nosso país. Leia a seguir mais uma jóia jornalística produzida por Laerte.

ODETE HOITMAN, MARLON BRANDO, TORTURADORES/TERRORISTAS – “BRASIL MOSTRA A TUA CARA” – VALE TUDO
Laerte Braga

Sexta-feira, dia 15 de janeiro, no auditório da Caixa Econômica Federal, à rua Almirante Barroso, 25, centro da cidade do Rio de Janeiro, estava sendo exibido o documentário do cineasta Sílvio Tendler sobre o ex-deputado e militante revolucionário Carlos Marighella e haveria um debate sobre a COMISSÃO DA VERDADE, constante do PLANO NACIONAL DE DIREITOS HUMANOS (vai revelar os documentos secretos da ditadura militar sobre tortura e óbvio, os nomes dos torturadores), quando uma ameaça de bomba no prédio fez com que o evento fosse encerrado e a Polícia chamada a uma “geral”.

Ao final de longa e deliberada verificação (a Polícia é cúmplice desse tipo de atividade, por ação ou omissão, mas é sempre cúmplice), constatou-se que não havia bomba alguma. O vereador Marcelo Santa Cruz, da cidade de Olinda, lembrou-se da bomba explodida por militares ao tempo da ditadura na sede da OAB do Rio de Janeiro e que matou a secretária Lídia Monteiro. O crime permanece impune até hoje e à época foi atribuído a forças que resistiam à barbárie militar.

O senador republicano Joe McCarthy, no final da década de 40 e início da década de 50, século passado, desfechou uma ação contra supostos comunistas nos EUA, chamados de traidores. Os estúdios de Hollywood foram virados de cabeça para baixo e centenas de roteiristas, diretores, atores e atrizes foram acusados de práticas “anti-norte-americanas", banidos do trabalho, dentre eles Charles Chaplin. Saiu do país para não ser preso.

A ação de McCarthy estendeu-se a todos os setores sociais dos Estados Unidos, gerou uma histeria coletiva e muitos cidadãos foram presos por delação movida por razões ou motivos pessoais. Vizinho chato? Com certeza comunista. McCarthy mandava intimar. Era parceiro de J. Edgard Hoover, diretor do FBI por décadas e especialista em chantagens. Grava os seus adversários e em qualquer situação adversa chantageava.

Em 1954, desmoralizado e beirando a loucura plena e absoluta, o inquisidor acabou sendo banido do Senado e demitido de um cargo que ocupava de embaixador pelo então presidente Eisenhower.

O esquema era simples. Quer criar uma situação que complique seu inimigo, seu adversário, alguém que tenha lhe desagradado? Pegue um capitão do exército brasileiro, um sargento, dê-lhes um carro com placa fria e coisa e tal, mande-os ao RIOCENTRO. Levarão uma bomba a um local onde estava ocorrendo um show de música e lógico, com músicos “esquerdistas”. Colocam a bomba, explode a bomba, morrem muitas pessoas e pronto. É o cenário ideal para que os boçais saiam dos quartéis e venham para as ruas garantir a pátria contra o “terrorismo”.

O diabo é que a bomba, por um defeito qualquer, explodiu no colo do sargento e caiu num outro colo, o da extrema-direita alucinada das forças armadas brasileiras, acabou tirando o fôlego para novas ações terroristas, aquele história de momento desfavorável.

O sargento morreu e o capitão salvou-se depois de muitas intervenções cirúrgicas, permaneceu na vida militar, o caso foi abafado, evidente e valeu ao jornal O PASQUIM uma de suas primeiras páginas mais jocosas, acima de tudo, das mais contundentes exibições de imprensa livre e digna contra a ditadura. Tratou da genitália do sargento, decepada pela bomba.

Em Bakersfield, a cem quilômetros de Los Angeles, o aeroporto foi fechado, evacuado e os vôos desviados. Francisco Ramirez, um jardineiro de 31 anos de idade estava com cinco garrafas de “gatorade” contendo um “líquido estranho”.

Preso, levado a interrogatório, já imagino o interrogatório padrão campo de Guantánamo, tudo porque os líquidos fizeram disparar o alarme do aeroporto.

FBI, cães farejadores de explosivos, corpo de bombeiros, uma força tarefa conjunta contra o “terrorismo”, a busca por cúmplice de Ramirez e dois agentes de segurança internados às pressas num hospital. Ao tentar abrir as garrafas, os frascos, sentiram náuseas.

Fim da neurose, os frascos continham mel. As análises comprovaram isso.

Deve ser duro viver num país com a missão divina de salvar o mundo e derrotar o “terrorismo”.

E um detalhe. Os agentes queriam que Ramirez os informasse se o mel que levava era de abelhas muçulmanas.

Um general torturador chamado Geraldo Almendra, desses que vomita “patriotismo” no conceito do pensador inglês Samuel Johnson – “o patriotismo é o último refúgio do canalha –, mandou uma carta a Lula descendo o bambu no presidente da República, acusando-o de comunista, de anarquista, de sindicalista desqualificado, de incitar o País à violência e ao ódio contra as forças armadas e vociferando e rugindo contra o Plano Nacional de Direitos Humanos que vai revelar os documentos da ditadura.

Tipo assim, mostrar que ao tempo em que Almendra, Brilhante Ulstra, Romeu Tuma, Sérgio Paranhos Fleury, prendiam os tais “terroristas” que resistiam à ditadura norte-americana implantada no Brasil sob comando do general Vernon Whalters, disfarçada de defesa da “democracia” e escoimada no tal “patriotismo, as mulheres “terroristas”, para serem “libertadas” do demônio comunista, eram estupradas sistematicamente pelos bravos patriotas.

Exorcismo patriótico. Choque elétrico, pau de arara, estupro e por fim, morriam atropelados/as nas ruas de São Paulo. Os caminhões do jornal FOLHA DE SÃO PAULO, entre outras empresas, pegavam os corpos nos quartéis da tortura e os deixava numa via pública. A família era informada do “atropelamento” e os corpos entregues em caixões lacrados. O doutor Harry Shibata, banido da medicina pelos órgãos específicos da categoria, dava os atestados de óbitos ao sabor das conveniências da ditadura e seus patriotas.

Registre-se que essas pessoas foram brutalizadas, torturadas e assassinados quando estavam indefesas, sem condições de lutar pela própria vida, na “bravura” dos Almendras da vida. Medalha de “heróis da covardia”.

Não querem que a História do Brasil registre esse momento de canalhice e subserviência, de barbárie e terrorismo real dos militares que deram o golpe de 1964 a mando e a soldo dos EUA e das elites econômicas do País.

São patriotas, estão à margem da lei. Não percebem que cometeram crime de lesa humanidade, definidos na Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Os filmes de Hollywood, os western principalmente, tinham uma lógica simples. Mocinho e bandido e no fim o clássico beijo do mocinha na mocinha. Essa sofria o filme inteiro até que John Wayne conseguisse eliminar os rancheiros (latifundiários) que roubavam terras e água (que nem Israel na Palestina) dos pequenos produtores.

De McCarthy para cá essa cultura simples de mocinho e bandido começou a mudar. Começaram a surgir filmes onde o bandido vencia e no final das contas, confundindo a cabeça do incauto espectador, afinal, quem era o bandido? O mocinho? Ou o bandido mesmo?

Hoje é regra geral o bandido vencer.

Chegou (óbvio ululante) a GLOBO e suas novelas. Odete Hoitman (acho que é isso), a mais célebre vilã das novelas. No final, o bandido representado pelo excelente ator Reginaldo Farias, foge com a grana do crime cometido e de dentro de avião, ao som da música de Cazuza, dá uma banana para toda a bela paisagem do Rio vista do alto, debaixo ou do meio.

Brasil, mostra a tua cara...” Tem cara de Almendra, de José Collor Serra, de FHC, de Yeda Crusius, de Nelson Jobim, de Reinold Stephanes, de Gilmar Mendes, de José Roberto Arruda...

Mas... O culpado é o Protógenes, que cismou de prender o bandido. Ora como prender o bandido, Daniel Dantas, se a bandidagem está aí firme e forte espalhada como câncer por todo o tecido das instituições públicas? Do Estado?

A maior parte dos críticos considera que Marlon Brando foi o maior ator cinematográfico de todos os tempos. Se não foi, com certeza é um dos maiores. Ele, Roberto de Niro, Gene Hackman e outros evidentes. Os “blues eyes de Beth Davis”. As fantásticas pernas de Marlene Dietrich. Carregavam e faziam andar o talento, a genialidade. Se fossem só pernas Cid Charisse terminaria empatada com La Dietrich.

Marlon Brando em 2 de maio de 1960 postou-se com milhares de pessoas e muitos deles atores, à frente do “açougue” de San Quentin, chamado penitenciária, para protestar contra a execução de Caryl Chessman na câmara de gás. Quinze anos após a sua condenação. Quando recebeu o “Oscar” mandou sua namorada índia ir buscar a estatueta, trazendo para o centro do espetáculo a causa indígena nos EUA.

E pouco antes de sua morte denunciou que os estúdios de Hollywood estavam fechados a atores como ele, pois eram controlados por grupos de judeus sionistas. Execrado pela mídia, podre como sempre, acabou se desculpando e custaram a perceber que a desculpa dizia respeito ao povo judeu e não aos judeus sionistas.

A “suposta” bomba durante a exibição do documentário de Tendler, a lembrança de Marighella, a ação terrorista dos militares golpistas de 1964, Operação Condor, OBAN, a reação dos militares ao Plano Nacional de Direitos Humanos, tudo isso e mais muitas coisas servem para mostrar que paira sobre o Brasil o mesmo perigo que pairava em 1964 até a consumação do golpe.

As elites não admitem que lhes seja tirado o modelo FIESP/DASLU.

O jogo em 2010 vai ser pesado e muito.

Já imagino quantas vezes Nelson Jobim vai aparecer de “general da banda” nesse enredo tétrico e que precisa ser mostrado para que se saiba que os boçais estão ainda com o porrete nas mãos e continuam boçais.

Quanto ao incauto cidadão, esse precisa aprender que aquele negócio de mocinho matando bandido e terminando com a mocinha é coisa do passado, saudosismo besta. E levar a sério aquele aviso que volta e meia aparece na telinha para que não se tente fazer o mesmo que o caçador de crocodilos ou de serpentes, pois ele é treinado para isso. Inclusive fazer o incauto cidadão de bocó.

No mais, todos atentos, vem aí a primeira eliminação do Big Brother e para evitar maiores problemas a GLOBO dessa vez botou na casa uma PM (policial militar) que além de bater, diz que gosta de apanhar.

Está dando uma baita banana para o Brasil e os brasileiros.

Vem aí o general Almendra em seu alazão branco, ao lado do “general da banda” Nelson Jobim para nos “libertar” a todos dos males do anarco/comunismo/sindicalismo/terrorismo, tudo pago em dólares e em “patriotismo,” moeda dessa gente. Cunhada nos porões da tortura, dos estupros e assassinatos de presos políticos indefesos. Os que resistiam à boçalidade da ditadura no tal golpe de 1964.

Continuam aí. Deram um golpe em Honduras sob as bênçãos do cardeal, entraram em palácio carregando a imagem de Cristo, na canalhice típica da exploração barata e consentida da Igreja Católica.Têm 13 bases militares na Colômbia do narcotraficante Álvaro Uribe e agora brincam de presidente garçom com o branquelo Obama.

O Haiti, já dizia a música, é aqui. É toda a América Latina.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Quem tem medo da verdade?

por Hildegard Angel*. Publicado originalmente no Jornal do Brasil
CHEGA UMA hora em que não aguento, tenho que falar. Já que quem deveria falar não fala, ou porque se cansou do combate ou porque acomodou-se em seus novos empregos… POIS BEM: é impressionante o tiroteio de emails de gente da direita truculenta, aqueles que se pensava haviam arquivado os coturnos, que despertam como se fossem zumbis ressuscitados e vêm assombrar nosso cotidiano com elogios à ação sanguinária dos ditadores, os quais torturaram e mataram nos mais sórdidos porões deste país, com instrumentos de tortura terríveis, barbaridades medievais, e trucidaram nossos jovens idealistas, na grande maioria universitários da classe média, que se viram impedidos, pelos algozes, de prosseguir seus estudos nas escolas, onde a liberdade de pensamento não era permitida, que dirá a de expressão!…

E AGORA, com o fato distante, essas múmias do passado tentam distorcer os cenários e os personagens daquela época, repetindo a mesma ladainha de demonização dos jovens de esquerda, classificando-os de “terroristas”, quando na verdade eram eles que aterrorizavam, torturavam, detinham o canhão, o poder, e podiam nos calar, proibir, censurar, matar, esquartejar e jogar nossos corpos, de nossos filhos, pais, irmãos, no mar… E MENTIAM, mentiam, mentiam, não revelando às mães sofredoras o paradeiro de seus filhos ou ao menos de seus corpos.

Que história triste! Eles podiam tudo, e quem quisesse reclamar que fosse se queixar ao bispo… ELES TINHAM para eles as melhores diretorias, nas empresas públicas e privadas, eram praticamente uma imposição ao empresariado — coitado de quem não contratasse um apadrinhado — e data daquela época esse comportamento distorcido e desonesto, de desvios e privilégios, que levou nosso país ao grau de corrupção que, só agora, com liberdade da imprensa, para denunciar, da Polícia Federal, para apurar, do MP, para agir, nos é revelado…

De modo cínico, querem comparar a luta democrática com a repressão, em que liberdade era nenhuma, e tentam impedir a instalação da Comissão da Verdade e Justiça, com a conivência dos aliados de sempre… querem comparar aqueles que perderam tudo — os entes que mais amavam, a saúde, os empregos, a liberdade e, alguns, até o país — com aqueles que massacraram e jamais responderam por isso.

Um país com impunidade gera impunidade. A história estará sempre fadada a se repetir, num país permissivo, que não exerce sua indignação, não separa o trigo do joio… TODOS OS países no mundo onde houve ditadura constituíram comissões da Verdade e Justiça. De Portugal à Espanha, passando por Chile, Grécia, Uruguai, Bolívia e Argentina, que agora abre seus arquivos daqueles tempos, o que a gente, aqui, até hoje não conseguiu fazer… QUE MEDO é esse de se revelar a Verdade? Medo de não poderem mais olhar para seus próprios filhos? Ou medo de não poderem mais se olhar no espelho?
*é jornalista, filha de Zuzu Angel e irmã de Stuart Angel Jones, ambos vítimas fatais da ditadura militar

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Vá à fonte

Veja o que diz um liberal (ou neoliberal), o ex-governador de São Paulo Claudio Lembo, sobre o Programa Nacional de Direitos Humanos nº 3. Publicado originalmente no Terra Magazine.

Vá à fonte
por Cláudio Lembo*
De São Paulo
Uma grande celeuma. Por pouco. O Governo Federal editou nos últimos dias de dezembro - mais precisamente no dia vinte e um daquele mês - extenso e estranho documento.

Estranho por indicar, com grandiloqüência, processo que se desenvolve continuamente, graças à instauração da democracia nos anos oitenta. A sua evolução é normal, apesar de núcleos reacionários contrários.

Este documento legal denomina-se PNDH-3. É o terceiro Programa Nacional de Direitos Humanos. Arrola temas comuns nos debates acadêmicos e presentes nos meios de comunicação.

Aqui e ali, utiliza linguagem marcada por uma deformação ideológica oriunda dos anos 60. Isto, porém, não incomoda. Indica, apenas, que seus autores, um dia, procuraram ser agentes da utopia.

Ora, quem lê, sem preconceitos, o documento presidencial constatará que ele enfoca temas que, necessariamente, deverão ser abordados pela sociedade e, depois, analisados pelo Congresso Nacional.

Em uma sociedade com conflitos sociais latentes, onde poucos dominam, pelas mais diversas formas, a grande maioria, preservando-a em situação alarmante, apontar temas para o debate é essencial.

Claro que alguns tópicos arrolados, no documento, à primeira vista, se assemelham descabidos. O uso de símbolos religiosos em recintos públicos da União, por exemplo.

A tradição cultural brasileira sempre aceitou - sem contestação, ainda porque a imensa maioria da sociedade pertencia a uma única religião - a afixação de símbolos religiosos em locais oficiais de trabalho.

Hoje, a formação da sociedade alterou-se. São inúmeras as confissões religiosas e as novas crenças que se acresceram ao cenário social do País. Antes que conflitos surjam, é bom que um Estado laico trate do tema.

Outros assuntos versados também parecem extravagantes. A verdade, no entanto, que eles permeiam a sociedade, apesar de alguns poucos quererem vê-los como descabidos.

Examinem-se alguns poucos. A situação das prostitutas no contexto social. Marginalizadas. Usadas como objetos. Repudiadas como seres fora da normalidade. Posição anti-social inaceitável.

A questão da homo-afetividade, já tratada por muitos países, inclusive pelos seus parlamentos - como aconteceu na última semana na Assembléia da República portuguesa - e na penumbra por aqui.

Há temas que causam aflição e desconforto permanente. Nem por isto não devem ser trazidos à tona e debatidos, a partir das inúmeras posições religiosas e visões, morais.

A eutanásia não pode ser esquecida. Até onde vai a vontade de familiares e médicos em manter a vida vegetativa? É moral manter a vida de quem se encontra condenado pela plena falência biológica?

O aborto criminalizado pela nossa lei penal e, assim, levando, particularmente, à mulher todo o ônus da condição humana, deve ser cinicamente omitido entre os problemas da sociedade?

Claro que estes assuntos, no campo moral, sempre causam repulsas. Nem por isto, porém, devem deixar de ser examinados e debatidos pela sociedade. Permanecer estagnados é que se mostra grave.

No campo político, o documento legal mostra-se limitado. Quer analisar o Estado Novo e os acontecimentos de 1964. Bom e oportuno. Mas violência ocorre no Brasil desde 1500. A colonização foi um ato de força.

São tantas e tão diversas as questões inseridas no Terceiro Programa Nacional dos Direitos Humanos que se torna difícil uma análise mais abrangente de seu conteúdo.

Contudo, oportuno notar que sua formatação não contém nenhuma força coercitiva. Trata-se apenas de um roteiro para futuros exercícios de cidadania.

Os professores, acostumados a ler os trabalhos contemporâneos de seus alunos, constatarão que o documento parece produto de uma tarefa própria de um exercício de informática.

Origina-se de uma longa atividade de coleta de dados, sem que isto aponte para qualquer vício cometido pelos seus autores. Na verdade eles foram a trabalhos concretizados pela União Européia, ultimamente.

Antes, contudo, nos anos sessenta, os temas consolidados mereceram grande explicitação nas universidades norte-americanas e, por aqui, em vários organismos privados de pesquisa e extensão.

O melhor, no caso do decreto n. 7.037, de 21 de dezembro de 2009, é o acesso ao texto integral pelo cidadão responsável. Faça este a sua própria análise do documento.

Ganham os direitos humanos, afastam-se as interpretações facciosas. Não ouça terceiros. Vá à fonte. É melhor e mais seguro.
*é advogado e professor universitário. Foi governador de São Paulo de março a dezembro de 2006