terça-feira, 19 de junho de 2012

Na Cúpula dos Povos, Marchas para deixar marcas

18/06/2011 - Marcha das Mulheres reúne 8 mil pessoas no Rio de Janeiro
da Agência Pulsar - site do MST

A Marcha das Mulheres foi realizada na manhã hoje (18) [ontem] no Centro do Rio de Janeiro e reuniu cerca 8 mil pessoas de várias partes do mundo.

Este foi o primeiro ato público realizado dentro da Cúpula dos Povos, evento paralelo à Rio+20.

A manifestação reuniu mulheres e homens do campo e da cidade para lutar contra a desigualdade de gênero, o racismo e todas as formas de preconceito. As feministas defenderam a mudança do atual modelo econômico, que, segundo elas, aprofunda as desigualdades e que coloca as mulheres em um regime de submissão e muita pobreza.

A representante da Via Campesina Internacional Marta Cecília afirmou que as mulheres estão na luta pela defesa da “Mãe Terra”, da soberania alimentar, agroecologia e pela reforma agrária. A campesina fez um chamado pela união latino-americana.

Graciela Rodrigues

A integrante da Marcha das Mulheres Graciela Rodrigues alertou para a importância dos temas que estão sendo discutidas na Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável (Rio+20). No entanto, de acordo com ela, as propostas apresentadas na conferência não garantem um futuro melhor para o planeta.

Durante a marcha um grupo de mulheres ocupou a sede do Banco de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O grupo questiona a atuação do banco que tem realizado diversos investimentos em atividades consideradas de grande impacto social e ambiental como: produção de etanol, construção de hidrelétricas e monocultivos.

Mais fotos: http://mstrio.casadomato.org/marcha-das-mulheres-na-cupula-dos-povos-rio-2012/
 
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19/06/2012 - Manifestação denuncia retrocessos socioambientais do governo
Brasil de Fato - redação
 
Cerca de duas mil pessoas saíram às ruas dos Rio de Janeiro para protestar contra as contradições desenvolvimentistas do governo Dilma
 
Nesta segunda-feira (18), cerca de duas mil pessoas saíram às ruas do Rio de Janeiro para denunciar os retrocessos socioambientais do governo Dilma. Diante do falso discurso de progresso levado pelo Brasil à Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável, a manifestação, chamada de Marcha à Ré da Rio +20, teve como objetivo protestar contra a presidenta Dilma Rousseff, apontando suas contradições desenvolvimentistas que retrocederam à agenda socioambiental.
 
Segundo a organização da manifestação, mesmo com toda a mobilização nacional pelo “Veta, Dilma”, a presidenta não atendeu aos pedidos da população de vetar integralmente o texto que altera o Código Florestal, "incitando o desmatamento e a impunidade". Além disso, a construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte é marcada pelo desprezo às regras de licenciamento, às condicionantes ambientais e à necessidade de consulta à população indígena afetada.

"A gestão atual reduziu ainda as unidades de conservação, o poder de fiscalização do Ibama e a regularização fundiária, o que resultou no aumento da violência no campo", disse em nota a coordenação da manifestação. Nesse sentido, a marcha critica o atual modelo de desenvolvimento do país e encontra embasamento na declaração feita pelos próprios funcionários do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), Instituto Chico Mendes e Ministério do Meio Ambiente que, recentemente, denunciaram as pressões que sofrem do governo federal.

O protesto integra a campanha "Rio+20: Dilma, com que cara você chega?", uma ação articulada pelo Brasil Pelas Florestas, de São Paulo (SP); Comitê Fluminense em Defesa das Florestas, do Rio de Janeiro (RJ); e Comitê Universitário em Defesa das Florestas, de Brasília (DF).

"Os três movimentos sociais são pacíficos, apartidários, sem vínculos com instituições ou empresas, e representam brasileiros conscientes e mobilizados por um país que vá além do discurso e parta para uma real política de sustentabilidade", explicou a organização da campanha em nota. (do Brasil pelas Florestas)
 
Fonte: http://www.brasildefato.com.br/node/9848
Fotos: Fora do Eixo/CC

segunda-feira, 18 de junho de 2012

O neoliberalismo e a morte da Terra

17/06/2012 - Mauro Santayana (*)
original publicado no site Carta Maior

Ao que parece, o homem está à espera de uma catástrofe – como foi a peste negra, no século 14 – a fim de compreender as dimensões de seus erros.

O que está matando o mundo, hoje, é a peste da ganância do capitalismo, que transformou a razão científica em mera servidora do dinheiro, principalmente a partir do neoliberalismo. (Mauro Santayana)

Não se pode esperar muito da Conferência do Rio. Há quarenta anos que o problema do meio ambiente vem sendo discutido e, nesse tempo, pouco se fez de objetivo a fim de assegurar as condições que a biosfera oferece à Natureza. Ao que parece, o homem está à espera de uma catástrofe – como foi a peste negra, no século 14 – a fim de compreender as dimensões de seus erros. Naquele século emblemático – no qual historiadores encontram semelhanças com o nosso – a população européia quase desapareceu. Pulgas e ratos levaram a peste da Ásia e encontraram o continente vulnerável à bactéria Yersinia pestis: segundo os cálculos, mais de um terço dos europeus pereceram no curso de quatro anos. Como vemos, seres aparentemente tão frágeis são capazes de promover hecatombes.

O que está matando o mundo, hoje, vale repetir, é a peste da ganância do capitalismo, que transformou a razão científica em mera servidora do dinheiro, principalmente a partir do neoliberalismo. Todos nós sabemos que os nutrientes químicos, como o nitrogênio, e agrotóxicos, estão matando os rios e extensões cada vez maiores dos oceanos. A Monsanto continua, firme, em nome da liberdade do mercado, a envenenar os solos e os mananciais de água – isso sem falar nas suas sementes transgênicas.

O que já era ruim em 1972, quando se reuniu, em Estocolomo, a Primeira Conferência sobre o Meio-Ambiente, tornou-se muito pior a partir da conjuração anti-estado, promovida por Reagan, Thatcher – e, como coringa solto na jogada, o papa Karol Wojtila. Nestes últimos trinta e dois anos, não obstante as sucessivas declarações de alarme, e três novas conferências realizadas, pouco se fez de objetivo, a fim de salvar a natureza. Assim, o neoliberalismo acelera o assassinato da Terra.

A realidade nos impõe uma constatação: enquanto os Estados Unidos que, para o bem e para o mal, são o modelo da civilização contemporânea, não mudarem a sua matriz energética, e não contiverem a insensatez da bio-engenharia a serviço dos interesses do grande capital, o mundo continuará sua marcha para a tragédia.

Em nosso caso, a salvação da biodiversidade com que nos privilegiou a Natureza e, em seguida, a História, vem correndo novos e evitáveis riscos, a partir do desmantelamento do Estado, promovido pelo governo neoliberal de Fernando Henrique Cardoso.

Desde Getúlio Vargas, o Brasil dispunha de grupos técnicos de planejamento de infraestrutura a médio e longo prazo. Durante o governo de Juscelino, esses grupos se tornaram a vanguarda do desenvolvimento da economia nacional. Os governos militares mantiveram alguns deles, reorganizaram outros e esvaziaram os demais. Um desses grupos, talvez o mais importante para o nosso desenvolvimento, era o Geipot – reorganizado em 1965, durante o governo de Castelo Branco, abandonado por Fernando Henrique e hoje em liquidação.

A União teve o prejuízo de 400 milhões de reais na execução das obras da Ferrovia Norte-Sul, por falta de um órgão como o Geipot. O serviço das empreiteiras não foi fiscalizado, dia-a-dia, como deveria ter sido, e erros graves, além da não execução das obras planejadas, como estações e depósitos, foram constatados pela nova diretoria da Valec, a estatal que administra a implantação do grande trecho ferroviário.

Outra imprevisão do governo se manifesta agora, na Hidrelétrica do Jirau. Dois milhões de metros cúbicos de madeira e lenha, retirados da área a ser coberta pelas águas, estão destinados a apodrecer, por falta de aproveitamento econômico. A retirada dessa cobertura vegetal deveria ter sido planejada com antecedência e seu aproveitamento, da mesma forma.

Outras áreas da Amazônia estão sendo desmatadas para a exportação – legal e ilegal – da madeira, com os danos conhecidos ao meio-ambiente. É urgente que se planifique o aproveitamento racional da madeira e dos outros bens naturais existentes nas áreas a serem inundadas nas outras hidrelétricas em construção no território brasileiro. Há, ainda, no fundo da futura represa – cujo enchimento se iniciará ainda este ano – muita cobertura vegetal que, se não retirada a tempo, irá provocar danos imensos ao ambiente, ao produzir metano, um dos gases mais poluidores da atmosfera, além do carbono.

A eficiência do Estado se garante mediante o estudo prévio de suas necessidades e de suas possibilidades, ou seja, de planejamento. Desde o Império, empreendedores e homens de Estado pensaram em termos de planejamento. Até hoje é válido o projeto ferroviário de Mauá, que previa a ligação ferroviária entre o Norte e o Sul, entre o Leste e o Oeste, e o aproveitamento dos rios para o transporte de carga pesada. Vargas, na plataforma eleitoral de 1930, reafirmou a necessidade de planejamento e seguiu a idéia durante o Estado Novo. Vargas retomou o projeto nacional, em 1951 e Juscelino deu-lhe prosseguimento de forma vigorosa, em seu mandato.

Com a desconstrução do estado nacional, o governo Fernando Henrique deixou o planejamento por conta das empreiteiras e dos estrangeiros. Vale lembrar a contratação da Booz Allen pelo governo tucano, para “identificar os gargalos” que dificultam o desenvolvimento do país, quando não faltam técnicos competentes nos quadros da administração federal para cuidar do planejamento dos projetos de infra-estrutura no Brasil, como é o caso dos transportes e da energia.

É hora de o Estado assumir diretamente a sua responsabilidade e buscar os meios constitucionais para acabar com as agências reguladoras e devolver aos ministérios as tarefas que devem ser suas. As agências reguladoras foram, nos Estados Unidos de Roosevelt e do New Deal, o instrumento do Estado para conduzir a economia nos anos de crise. No Brasil, elas tiveram o objetivo contrário, o de entregar aos agentes privados, a serviço dos interesses estrangeiros, a administração dos setores estratégicos nacionais, como a energia elétrica, as telecomunicações, as rodovias, as ferrovias e os portos – isso sem falar na saúde, com a Anvisa.

(*) Colunista político do Jornal do Brasil, diário de que foi correspondente na Europa (1968 a 1973). Foi redator-secretário da Ultima Hora (1959), e trabalhou nos principais jornais brasileiros, entre eles, a Folha de S. Paulo (1976-82), de que foi colunista político e correspondente na Península Ibérica e na África do Norte.

domingo, 17 de junho de 2012

A CÚPULA DOS POVOS – CAPITALISMO NÃO É DALTONISMO, É CINISMO E BARBÁRIE

17/06/2012 - Laerte Braga
publicado originalmente no blog Juntos Somos Fortes


O verde mais cinza, em tons Marina da Silva. Não é daltonismo.

É o cinismo e a barbárie capitalista.

Pode estar com sombreados Greenpeace, um dos negócios mais lucrativos do planeta.

O que é sustentabilidade? Sustentar o quê?
  
Milhares de ogivas nucleares, cinco mil ataques aéreos para devastar a Líbia, a fome na África, o trabalho escravo em países periféricos (expressão que adoram no jornalismo global podre e venal), a guerra civil montada na Síria, o genocídio contra palestinos na versão sionista do nazismo, as bases militares espalhadas pelo mundo, o agrotóxico, o transgênico, os salários dos professores, a privatização da saúde, o governo Dilma na prática de uma no cravo e outra na ferradura. Será isso a tal sustentabilidade?

Ou um convescote de entidades, partidos do clube de amigos e inimigos cordiais, num Rio de Janeiro transbordando de gente e os preços estratosféricos, tudo regado a vastos recursos oficiais ou semi oficiais. Os trabalhadores, óbvio, do lado de fora das cercas eletrificadas do capitalismo.

Daniel Dantas e Paulo Maluf estão citados entre os mais corruptos do mundo nos dados do Banco Mundial. Um é deputado e apóia a candidatura petista à Prefeitura de São Paulo (indicou um nome para o Ministério das Cidades como compensação) e Dantas tem um “ministro” de plantão na mais alta corte de justiça do País para eventuais habeas corpus.

Quem sabe sustentabilidade serão os cem bilhões de euros para salvar bancos espanhóis enquanto o rei caça elefantes na África, ou búfalos em campos privados na Suíça a cinco mil dólares por cabeça? Um quarto da população adulta da Espanha desempregada e mais da metade dos jovens que chegam ao chamado “mercado de trabalho” sem qualquer perspectiva?

Os gregos lutam nas ruas para preservar seu país. Os egípcios assistem seus militares curvarem-se e lustrarem as botas do sionismo num golpe de estado que mantém o regime de Mubarak sem Mubarak. Tal e qual os golpistas de 64 por aqui lustraram as botas de Lincoln Gordon e Vernon Walthers, pelo “direito” de encher as prisões, torturar, assassinar e depois transformar documentos confidenciais em secretos para escapar da vergonha das práticas criminosas, tudo recheado de patriotismo. “O último refúgio dos canalhas” na frase sempre necessária de Samuel Johnson.

Não há compromisso algum dos países ricos com políticas mínimas de preservação ambiental, de mudanças no sistema econômico, nada disso, enquanto é evidente a tentativa de países como o Brasil de salvar o que não tem salvação, o capitalismo. Pela voz de Anthony Patriot, o profeta do equilibrismo. Vai atravessar num cabo de aço a vários mil metros de altura, a distância entre a RIO+20 e Wall Street carregando uma nova proposta de dez mandamentos que não mudam mandamento algum. Dilma chega só para cortar a fita simbólica do cabo.

O espetáculo, o show midiático. Os “especialistas” deitando falação sobre como salvar o planeta enquanto o planeta vai sendo destruído por drones e outros artefatos mortais, cuja última preocupação é o ser humano, o trabalhador.

A classe média acha ótimo. Aboleta-se num automóvel, entope as ruas – paulista, por exemplo. adora um congestionamento e espera entrar no Guiness num desses feriadões da vida – e exibe aos filhos o progresso, todo esse mundo colorido que se junta para dizer que vai catar o lixo jogado nas ruas e depositá-lo em recipientes que irão permitir a reciclagem.

Não se pode criticar a VALE. A quadrilha privatizada no governo de FHC não admite críticas. É uma das principais acionistas do Estado brasileiro, detém o poder de veto sobre decisões do governo federal, de governos estaduais e municipais. Um moçambicano foi deportado pela Polícia Federal do Brasil. Estava chegando para a cúpula dos povos e ia relatar os crimes ambientais cometidos pela VALE em seu país. As técnicas de monitoramento e vigilância tem o made IN USA e o MADE MOSSAD, em estrita colaboração nos acordos assinados pelos de governos de FHC e Lula (esse inventou o “capitalismo à brasileira” e acha que ainda é presidente, fala vinte e quatro horas por dia, FHC pensa que é divindade).

 Do lado de fora das cercas o povo da Cúpula dos Povos.

Consciente que a luta foge às “regras” impostas pelo poder, pela classe dominante e que o movimento popular há que ser como o de gregos, egípcios, trabalhadores espanhóis que acorrem às ruas e repudiam seus governos, ou os que de fato governam.

Grandes corporações, bancos, empresas fomentadoras do latifúndio em países como o Brasil.

Quem governa a União Européia? Os governantes detentores de mandatos populares na farsa democrática? Ou as centenas de instituições e agências sem mandato popular, mas senhoras absolutas do poder e dos governantes?

Quem governa o Brasil? Os acordos com Paulo Maluf para eventuais vitórias nas eleições – como se eleições fossem atestado completo de democracia – ou as manobras para manter impávido o poder de Carlinhos Cachoeira? Quem sabe as agências e escuros túneis do poder de bancos, empresas, latifúndio, agências que tornam milionários os seus integrantes e adjacências?

A grande lição da Cúpula dos Povos é que não existe alternativa dentro do sistema, lutando por dentro.

É nas ruas.

Muhamad Ali dizia a diferença entre ele “o maior de todos” e os outros, é que “luto por fora, não luto por dentro, não permito que se acheguem a mim, eu os destruo”.

Quanta masturbação verbal nos salões com ar condicionado da farsa da RIO+20. O discurso “popular” das entidades agregadas ao poder.

A mídia resplandecente no exibir o show, o espetáculo e a mostrar a “turba”, ou seja, os que pagam essa espécie de “farra do boi” disfarçada em “vamos salvar o planeta”.

E ainda falta a senhora Hilary Clinton para a histeria da mídia e os noticiários carimbados pelo Departamento de Estado. Carimbados e autorizados.
 
O tom sombrio dessa gente é a volta às cavernas como previu Stanley Kubrick.

Só que essas defendidas por ogivas nucleares, bunkers com a suástica transformada em verde pelos marqueteiros do capitalismo, ar condicionado e farto estoque de iguarias para os novos barões na nova Idade Média, a Idade Média da Tecnologia do Terror.

Dizem que a senhora Clinton deve chegar numa nuvem escura chamada de Tempestade no Deserto e semear mercenários por todos os lados num discurso de “paz” e advertência que “estamos vigilantes para garantir a democracia”.

Transmissão exclusiva da GLOBO, o resto pega a rebarba.

Quem sabe o ATO PATRIÓTICO, que entre outras coisas define modalidades de torturas permitidas, assassinatos em qualquer parte do mundo em nome dos direitos humanos, não salva o planeta?

Em todo o caso, em várias barracas, fragrâncias diversas oriundas de pesquisas cientificas capazes de tornar a realidade do dia a dia mais perfumada e palatável em meio ao esgoto capitalista?

Tudo é possível.

A luta é nas ruas e aos poucos vai tomando forma em todo o mundo.

É a percepção que é luta de sobrevivência para que se possa construir a alternativa socialista (sem aspas, vale dizer com os trabalhadores).
 
Fonte: http://juntosomos-fortes.blogspot.com.br/2012/06/semana-o-capitalismo-nao-e-daltonismo-e.html 

sábado, 16 de junho de 2012

Desenvolvimento Sustentável: Estado Sólido, Líquido ou Gasoso?

30/05/2012 - Patricia Almeida Ashley(*)
Original publicado no site Rede EConsCiencia e Ecocidades - UFF

Faço aqui uma reflexão sobre as discussões em andamento sobre Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (Sustainable Development Goals) para uma possível ação a ser acordada entre os países representados na Rio+20.

Percebo uma ansiedade por um “estado sólido”, paupável, mensurável, segurável, assegurável, verificável, comprovável, comparável, planejável, previsível, reproduzível, sempre que se fala em Objetivos de Desenvolvimento Sustentável como resultados e impactos a serem desdobrados em Indicadores e Metas para serem usados por todos os países e regiões no mundo. Haja números e estatísticas e equações!!!. Para mim, reflete uma racionalidade mecanicista, positivista, típica da abordagem científica hipotético-dedutiva e cartesiana, que pressupõe equações lineares, métodos estatísticos e métricas parametrizáveis para comparações, rankings, previsões. Típica de formação de engenharias e outras ciências que requerem, para a sua contribuição na formação do conhecimento humano, estruturas mensuráveis.

Quando passamos a conceber os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável como algo mais pertinente a processos e capacidades para que as sociedades renovem seus sistemas jurídicos, normativos, suas lógicas anacrônicas para a educação, reprodução, produção e consumo, estamos passando para um “estado líquido” de concepção de desenvolvimento sustentável, algo como a água que não se perde ao cruzar com as pedras, mas as contorna, sofre com contaminações, mas se evapora, se desmancha para um novo ciclo de vida. Ou seja, os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável não passam mais a ser comparáveis em métricas entre países, pois somos águas e terrenos distintos, mas somos passíveis de trocas, intercâmbios, aprendizagens, intenções e ações para que nossas águas sempre se renovem e gerem vida.

E se caminharmos para os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável como algo mais pertinente a princípios, valores, sensações, sentimentos, afetos, daí caminharemos para a qualidade espiritual da humanidade em harmonia com a Terra e com o Cosmos, passando a enxergar o quão grande é a família a que pertencemos e o que viemos fazer aqui e agora e com todos que percebemos estar e viver e morrer. Digo que é desenvolvimento sustentável como “estado gasoso” que trabalha pela inteligência espiritual, pela evolução de consciências, pelo desapego à limitação da expressão sólida apenas perceptível pelos cinco sentidos. Como medir em indicadores e metas o que atingimos e atuamos quando podemos nos abraçar profundamente e sem medo? Já experimentou algo assim? Percebe o que muda em sua hierarquia de valores?

Entende por que podemos ser plenamente realizados sem ter que ter que ter que ter, mas sendo o ser para ser o ser entre seres? 

O artigo Why we need sustainable development goals?, que replico aqui e originalmente publicado em Why we need Sustainable Development Goals – SciDev.Net, foi o que me provocou as reflexões que escrevi acima. Coloco, como contraposição, o excelente artigo elaborado por Benedito Silva Neto e David Basso, publicado na Revista Ambiente e Sociedade, em 2010, sob título A ciência e o desenvolvimento sustentável: para além do positivismo e da pós-modernidade, que nos ajuda a sair do estado sólido, transitar pelo necessário estado líquido para atingir e recuperarmos o estado gasoso do desenvolvimento sustentável.


(*) Colunista de Plurale, professora e coordenadora da Rede EConsCiência e Ecocidades da Univesidade Federal Fluminense (UFF).


Artigo publicado originalmente no site Plurale. Postado por Equipe Rede EConsCiencia e Ecocidades em:
http://redeeconsciencia.blogspot.com.br/2012/05/desenvolvimento-sustentavel-estado.html

sexta-feira, 15 de junho de 2012

COBERTURA ESPECIAL – Rio+20


[Com essa Cobertura Especial, a equipe do blog EDUCOM registra, nesta data, os 20 anos da inauguração, também
no Rio de Janeiro, da Cúpula da Terra, na ECO-92]


14/06/2012 - COBERTURA ESPECIAL – Rio+20
Fonte: Agência Notisa


Países avançaram muito pouco em estratégias de prevenção de desastres desde a Eco 92

Para especialistas, é preciso mudar o comportamento social, investir em pesquisa e melhorar o diálogo entre cientistas e governantes.

Agência Notisa - Dados da Estratégia Internacional das Nações Unidas para a Redução de Desastres (UNISDR) indicam que desde a realização da Cúpula da Terra, no Rio de Janeiro em 1992, 4,4 bilhões de pessoas foram afetadas por esses desastres. No total, isso representa um prejuízo de US$ 2 trilhões de dólares e 1,3 milhões de óbitos. Apenas na China, um dos dez países mais impactados pelos desastres, 2,5 bilhões de pessoas foram afetadas. No Haiti 230.675 pessoas foram mortas. Esses foram alguns dados apresentados em uma sessão do Forum on Science, Technology & Inovation for Sustainable Development, realizada na manhã de hoje (14) na Pontifícia Universidade Católica (PUC-RJ). O fórum é um dos eventos paralelos à Rio+20.

Durante a sessão, especialistas de diferentes nacionalidades discutiram medidas interdisciplinares para redução e gerenciamento de riscos de desastres. Segundo Gordon McBean, professor e diretor do Institute for Catastrophic Loss Reduction do Departamento de Geografia e Ciência Politica da University of Western Ontario, no Canadá, em todas as sociedades as pessoas mais pobres são as que estão mais suscetíveis aos desastres. Boa parte desses eventos, segundo ele, está relacionada ao clima e a mudanças climáticas. Nesse sentido, ele destacou a necessidade da colaboração nacional e internacional para a formação de uma consciência social.

Desde 1980, tem-se observado um número crescente de desastres. O pesquisador lembrou que Austrália, Ásia e América do Norte são alguns dos lugares onde há relatos frequentes desses eventos. “Com esse aumento de eventos notamos que cada vez mais pessoas têm sido afetadas. Atualmente, existem vários métodos para normalizar essas perdas, por exemplo, estatísticas que levam em conta dados sociodemográficos e socioeconômicos”, disse o especialista. Segundo Gordon, progressões indicam que as sociedades devem esperar ainda mais desastres. Dessa forma, ele defendeu a importância do mundo estar preparado para enfrentá-los.

Para Kuniyoshi Takeuchi, diretor do Internacional Center for Walter Hazard and Risk Management (ICHARM), do Japão, um dos fatores que tem contribuído para a intensificação e maior constância dos desastres é o número crescente de habitantes do planeta. “As pessoas vêm se empenhando cada vez mais para obter mais educação e maior poder aquisitivo. Atualmente, nossos investimentos em prevenção de desastres não são suficientes. Precisamos de muito mais esforços para reduzir a frequência desses eventos”, considerou.

Ana Maria Cruz, editorial manager GCOE e professora adjunta visitante da Kyoto University, do Japão, destacou que embora existam sistemas de alerta para desastres, eles não têm funcionado de forma satisfatória. “Essas ferramentas não foram suficientes para proteger a cidade em muitos desastres. Precisamos de uma comunicação melhor, precisamos ser mais honestos e isso envolve qualquer caso de desastre, seja natural ou causado pelo homem”, afirmou.

Abdou Sane, président du réseau des parlementaries sénégalais por I´Habitt, la Sécurité, la Prévention et la Gestion des Risques de Catastrophes lieés aux Changements climatiques, do Senegal, também reforçou a importância de mais investimentos financeiros na prevenção de desastres. Para ele, é necessário estabelecer planos de ação.

Segundo Walter Ammann, presidente do CEO Global Risk Forum GRF Davos, da Suíça, os risco são compostos de fatores naturais, mas também estão relacionados ao mau uso dos recursos, por exemplo, através da construção de forma indiscriminada de prédios. Nesse sentido, ele afirmou que o fator natural é apenas um componente do gerenciamento de riscos. “Precisamos relacionar o gerenciamento de risco com o desenvolvimento social. Há vinte anos na Convenção do Clima, também realizada no Rio de Janeiro, foram propostas medidas, mas o que vemos hoje é que houve um avanço muito lento nesse campo. É preciso relacionar gerenciamento de risco à sustentabilidade”, considerou.

Uma questão importante, segundo Peter Höppe, do Head of Geo Risks Research Department, Corporate Climate Centre, em Muniche, Alemanha, é que os países em desenvolvimento e os mais pobres são impactados por esses desastres de forma muito mais intensa. “Quando os eventos ocorrem em países desenvolvidos é possível reconstruir as cidades de forma rápida. Acredito que esses países têm responsabilidade de ajudar os países pobres a lidar com os destares. Isso pode ser feito de diversas formas, inclusive, através de recursos financeiros”, afirmou.

Para Allan Lavell, do Integrated Research on Disaster Risk (IRDR) do programme Scientific Commitee member, do Reino Unido, o homem está contribuindo para a construção desses desastres. “Não podemos mudar o comportamento dos tornados, por exemplo, mas podemos mudar o comportamento humano”, destacou.

Essa mudança, segundo Gordon McBean, precisa ser iniciada agora.

O diretor do ICHARM, Kuniyoshi Takeuchi, reforçou a ideia de que os governos não devem investir apenas em sistemas de evacuação, ou seja, em medidas que visem contornar as catástrofes. Para ele, é fundamental o investimento em estratégias capazes de evitar esses eventos. “Precisamos investir, por exemplo, em saneamento básico e em formas de ampliar o acesso à água potável”, ressaltou.

Outra medida importante, segundo Ana Maria Cruz, é que os programas de gerenciamento de risco não sejam conduzidos de forma segmentada. Para ela, é importante que os diferentes setores envolvidos nos planos de ação dialoguem entre si.

Os co-organizadores da sessão Jane E. Rovins, diretora executiva do Integrated Research on Disaster Risk (IRDR) Programme, e Badaoui Rouhban, diretor da Section for Disaster Reduction, da UNESCO, lembraram a importância da educação nesse contexto. Para Jane, o trabalho de orientação em escolas é fundamental.

Os palestrantes discutiram ainda sobre a relação entre política e ciência. Eles destacaram a necessidade de se investir mais na produção de conhecimento e defenderam que esses dois setores precisam se comunicar melhor. Além disso, consideraram que é preciso investir especialmente em estratégias capazes de transferir o conhecimento gerado em laboratório para a prática.

Para Ana Maria Cruz, a ciência pode ser feita através de pesquisas que não necessariamente visam completar lacunas, mas também deve ser feita a partir da identificação de lacunas, buscando formas de preenchê-las.

Agência Notisa (science journalism – jornalismo científico)

quinta-feira, 14 de junho de 2012

A água não pode faltar na Rio+20

13/06/2012 - por Thalif Deen, da IPS
original extraído do site Envolverde

A manchete de um jornal de Nova York, em março deste ano, capturou a essência de uma possível ameaça à estabilidade mundial: Informe dos Estados Unidos prevê tensões pela água”.

O estudo, uma somatória de relatórios da inteligência norte-americana, alerta que nos próximos dez anos muitos países “quase seguramente experimentarão problemas relacionados com a água, por escassez, má qualidade ou inundações, que poderiam gerar instabilidade e falhas nos Estados, aumentando as tensões regionais”.

Apesar destas advertências, há temores de que no plano de ação que se espera seja acordado na Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, que acontece de 20 a 22 deste mês no Rio de Janeiro, deixe fora o assunto fundamental da água e do saneamento. “Muitos estão perdendo sua fé no sistema das Nações Unidas, e um resultado fraco na Rio+20 contribuirá para essa desconfiança”, alertou Karin Lexen [ao lado], do Instituto Internacional da Água de Estocolmo.

Naturalmente, gostaríamos de ver um resultado contundente, com compromissos concretos e com visão de futuro”, disse Karin à IPS. Esta especialista também afirmou que seria importante os líderes reunidos no Rio de Janeiro acordarem novas metas de desenvolvimento sustentável. Como elemento crucial da economia, a água claramente deve ser tema de uma das metas, e também deve estar incluída em outras referentes a setores como energia e alimentação, destacou.


A Rio+20, da qual participarão mais de 120 chefes de Estado e de governo, acontecerá 20 anos depois da Cúpula da Terra, também realizada no Rio de Janeiro. O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, afirmou que a cúpula deve obter progressos nos elementos fundamentais da sustentabilidade: energia, água, alimentação, cidades, oceanos, emprego e empoderamento das mulheres. Por sua vez, a relatora especial da ONU sobre direito humano a água e saneamento, Catarina de Albuquerque [ao lado], exortou os Estados-membros a contemplarem este tema na Rio+20.

Em carta aberta dirigida aos governos que discutem o documento final do encontro, Catarina expressa sua preocupação pela possibilidade de ser excluído do texto um expresso reconhecimento do direito humano a água e saneamento, após fracassarem neste aspecto três rodadas de negociações em Nova York. “Alguns países sugeriram uma linguagem alternativa que não faz menção explícita a esse direito. Outros tentaram reinterpretá-lo e inclusive diluir o conteúdo deste direito”, apontou.

A relatora destacou que o acesso a água já foi reconhecido, em 2010, como direito humano tanto pela Assembleia Geral da ONU como pelo Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas. Quando fixarem metas sobre acesso a água potável, os líderes reunidos na Rio+20 deverão integrar o conceito desse recurso como direito humano, insistiu Catarina. A água deve estar disponível em quantidade suficiente para proteger a saúde e a dignidade humanas, especialmente para os mais marginalizados, ressaltou.

No entanto, Karin destacou que na Rio+20 será fundamental acordar “uma gestão sábia e sustentável da água”. Se tudo continuar como está, a demanda mundial poderá superar a oferta em 40% até 2030. Isto, advertiu, porá em risco também a energia e a alimentação, aumentará os custos da saúde pública, limitará o desenvolvimento econômico, desatará tensões sociais e geopolíticas e causará danos ambientais duradouros.

Portanto, os fundamentos de uma economia verde eficiente devem ser construídos sobre água, energia e segurança alimentar, e esses temas precisam ser enfrentados de forma integrada e global, além de constarem” do documento final do Rio, acrescentou Karin.

Esta especialista opinou que as conferências internacionais ainda não dão à água o lugar de destaque que merece, considerando seu papel fundamental para a vida e o desenvolvimento, além de ser ferramenta para a cooperação e também possível motivo de conflitos. Embora a água seja mencionada no rascunho da declaração final, está excluída quando se refere a outras áreas relacionadas.

As delegações continuam debatendo sobre o conceito do acesso a água e saneamento como direito humano, quando faltam poucos dias para o início da reunião.

Temos muito trabalho na última semana que resta pela frente, e na própria cúpula, para garantir que haja compromissos concretos e um resultado contundente”, enfatizou Karin.


Envolverde/IPS


Original em: http://envolverde.com.br/ips/inter-press-service-reportagens/a-agua-nao-pode-faltar-na-rio20/?utm_source=CRM&utm_medium=cpc&utm_campaign=13