sábado, 25 de janeiro de 2014

Classe "mérdia" e seu ódio ao Brasil

22/01/2014 - Por que a classe mérdia odeia o Brasil?
- Bruno Oliveira - blogue do Carlos, Professor de Geografia

Antes que me acusem de ufanista, defensor de algum patriotismo cafona, já adianto de antemão que não acho o nosso país uma maravilha, nem concordo com muitas coisas que por aí estão.

Também não sou xenófobo, curto cultura estrangeira tanto quanto a nossa, e não acho que ser brasileiro me torna melhor ou pior do que ninguém.

Mas se tem algo que me incomoda é como, principalmente elementos da “classe mérdia” (com R mesmo pra não confundir com quem é de classe média e não merece ser generalizado com esses tipinhos), não só creem que vivemos no “pior país do mundo”, como estão sempre a se referir a todo e qualquer problema como se sua raiz fosse o fato de aqui ser Brasil, e nós sermos brasileiros.

- Tem corrupção?É a porra do Brasil”.
- Tem impunidade?Só podia ser Brasil mesmo”.
- Educação de péssima qualidade?Coisa do Bostil”.
- Tem Feriado?Brasileiro é tudo vagabundo mesmo”.
- Tem Carnaval?É por isso que o Brasil não vai pra frente”.
- Não ganhamos a copa?País de incompetentes”.
- Ganhamos a copa?Compraram o título, cambada de corruptos”.

É certo que nosso país tem problemas, mas daí achar que o resto do planeta é um paraíso, principalmente quando falamos da Europa, é típico daquele ditado “a grama do vizinho é mais verde”.

Hoje com a internet e mecanismos de pesquisa, descobrimos em rankings decentes que já estivemos pior, e que (pasmem!) em determinadas situações há dezenas de países piores do que o nosso em várias áreas.

Isso não é uma desculpa pra se justificar os nossos problemas, mas sim uma amostra que estamos longe de ser o “pior país do mundo”, como tantos querem crer por aí.

Uma das grandes perguntas que me faço é porque, se aqui é tão ruim, os incomodados não vão embora de uma vez?

Sim, eu sei que isso pode parecer muito “Ame-ou ou Deixe-o”, jargão da ditadura militar, mas naquela época o exílio era a única opção pra escapar da morte certa.

Hoje em dia qualquer um pode ficar ou partir conforme sua vontade.

E se aqui está tão ruim, e nunca vai melhorar, porque “o brasileiro é o pior povo do mundo”, então por que ficar? Todos os demais países não são melhores?

Ah eu quero lutar para melhorar as coisas aqui”, alguns podem dizer.

Então VALE A PENA LUTAR pelas coisas aqui, hein?

Então isso não pode ser uma bosta tão grande se você acha que merece melhorar.

Se é assim, qual o sentido de dizer que tudo aqui é uma bosta, se você realmente ama esse país e quer viver nele? Não faz o menor sentido.

Talvez toda a confusão seja que algumas pessoas não conseguem separar o conceito de país de governo. Pra alguns, é a mesma coisa.

Como se algum partido ou governo pudessem representar o que é um país.

Essa é uma diferença essencial com os norte-americanos, por exemplo, que são muito patriotas e não confundem essas coisas.

Os reaças americanos podem odiar o Obama, e 50% da população falar mal do seu governo, mas você não os verá falando mal dos Estados Unidos.

Mesmo no que sua pátria está errada, em atacar e explorar outros povos, eles se justificam, eles acreditam no seu “destino manifesto” enquanto nação.

Aqui, o que temos é o velho “complexo de vira-lata”, o brasileiro parece que se odeia (meus amigos estrangeiros vivem comentando isso comigo, eles acham muito estranho).

Isso não é um assunto novo. Já ouço falar desse complexo desde criancinha, lá nos anos 80. A classe mérdia não odeia nosso país de hoje, não é algo necessariamente ligado ao seu desprezo pelo atual governo. É algo de profundas raízes históricas e culturais.

Usando novamente os EUA como exemplo, os colonos que iam para lá muitas vezes era gente perseguida, principalmente por causa da sua prática religiosa na Grã Bretanha.

Eles iam para as colônias já sabendo que iriam viver lá pelo resto das suas vidas, sem quaisquer planos de voltar. Estavam indo com claros projetos de construir uma nova nação.

Não por acaso embora a colonização tenha sido tardia, só começado em meados do século XVII, no século XVIII já declaravam sua independência.

Já para o Brasil, os colonos portugueses vinham para cá com claros projetos de enriquecer.

Ganhar dinheiro com o pau-brasil, depois com a cana de açúcar, depois com o ouro, e se mandar para casa, para a metrópole, para a Europa onde era lugar de gente civilizada.

Os colonos portugueses odiavam tudo por aqui, o clima, os índios, a cultura local, a falta de civilização, enfim, eles não conseguiam ver isso aqui como um país.

O problema é que a maioria desses incompetentes não conseguia.

Eles ficavam por aqui, e passavam para os seus filhos, e os filhos dos seus filhos, o sonho de um dia enriquecer e finalmente voltar para a Metrópole.

O Brasil, este sempre foi uma porcaria, um lugar para se trabalhar e ganhar o que desse, mas não para viver.

Assim, os filhos dos abastados estudavam na Europa, quando casavam passavam lua de mel na Europa, e quando se aposentassem, iam passear pela Europa.

Mudam-se os tempos, e os destinos hoje são mais amplos, incluindo Miami. Mas o sentimento é o mesmo.

Continuam a detestar o clima, o povo, os hábitos, a cultura local.

Eles continuam não se sentindo brasileiros.

No seu íntimo, o grande sonho é ainda deixar esse lugar, ou que ele fosse adotado como uma colônia extra-oficial de alguma metrópole utopicamente perfeita dentro da sua concepção, no caso, muitas vezes os EUA.

Mas assim como seus antepassados, a classe mérdia não consegue enriquecer fora daqui.

E por isso não vai embora, só fica a nos azucrinar em como esse país é ruim, como esse povo é ruim, como o problema é ser Brasil e ser brasileiro.

E os seus filhos e filhos dos seus filhos, aprendem essa lição, direto da família, ou da mídia que foi construída por eles, para não nos deixar esquecer essa lição.

Claro que esse sentimento parece muito pior nos últimos tempos.

Por duas coisas:
- a primeira é que a grande mídia, que antes era alinhada com o governo central, colocava panos quentes nos problemas nacionais.

Afinal descontentamento com o país leva a descontentamento com o governo.

Agora que estão na oposição, é fácil ver a lógica: quanto mais as pessoas odiarem o país mais odiarão quem o governa (como se as duas coisas fossem uma só, esse é o maior absurdo de toda essa questão).

Então a percepção que os grandes meios de comunicação e seus articulistas dão é essa.

- A segunda razão do aumento do ódio contra o Brasil é que a classe mérdia perdeu a maior compensação do que tinha, por viver nessa terra de “gente inculta, feia, incivilizada”.

Que era justamente ser de classe mérdia. Eles eram “superiores” pois tinham um dinheirinho a mais, não se misturavam com “essa gentalha”.

Eram apenas 30 milhões de brasileiros, até o ano 2002.

Agora são 90 milhões a compartilhar do mesmo status.

- A ir pra praia no fim de semana e congestionar o tráfego.
- A pegar avião.
- A entrar pra universidade.
- A lotar o Shopping Center.
- E o pior, em até ir pra Disney, a ir pra Miami.

Tem “pobre” em tudo que é lugar.

Como escreveu a Danuza Leão, "qual a graça de ir pra Paris ou Nova Iorque se o seu zelador também pode?" Pois é.

- Qual a graça de comer salmão e beber vinho importado se hoje em dia isso é acessível?
- Qual a graça de ver a Copa se não precisa viajar pra isso e ela acontece bem aqui?

Os “pobres” já não estão mais tão pobres assim. É isso que tornou a vida da classe mérdia tão insuportável, a ponto de que se intimamente já odiavam o Brasil, agora queimam a bandeira em atos e manifestações.

Perderam até o gosto de torcer pela seleção brasileira.

O desprezo a nação chegou no seu limite.

Eles precisam que alguém lhes socorra, que voltem os militares, que o V de Vingança destrua os governos, que Jesus traga o apocalipse, por favor, socorro, alguém, os liberte da vida na Colônia e lhes devolva para a merecida metrópole, de onde nunca deveriam ter saído.

Original de 10/01/2014 em:
http://www.sempreupdate.com.br/2014/01/por-que-classe-merdia-odeia-o-brasil_10.html?fb_action_ids=699058716794105&fb_action_types=og.likes&action_object_map=[719566761401847]&action_type_map=[#.UtF6UupocOA.twitter

Fonte:
http://carlos-geografia.blogspot.com.br/2014/01/por-que-classe-merdia-odeia-o-brasil.html

Nota:

A inserção de algumas imagens adicionais, capturadas do Google Images, são de nossa responsabilidade, elas inexistem no texto original.

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

O vale de lágrimas é aqui

21/01/2014 - Venício Lima - Carta Maior
- Artigo publicado originalmente no Observatório da Imprensa.

Assim como outros milhares da minha geração, nascidos em famílias católicas, ainda criança aprendi a popular oração “Salve Rainha” que inclui a súplica: “A vós bradamos, os degredados filhos de Eva. A vós suspiramos, gemendo e chorando neste vale de lágrimas” [Ad te clamamus, exsules filii Hevae, ad te suspiramus, gementes et flentes in hac lacrimarum valle].

Segundo a Wikipedia, “a autoria da oração é atribuída ao monge Hermano Contracto, que a teria escrito por volta de 1050, no mosteiro de Reichenan, na Alemanha.

Naquela época, a Europa central passava por calamidades naturais, epidemias, miséria, fome e a ameaça contínua dos povos nômadas do Leste, que invadiam os povoados, saqueando-os e matando”. 

Cresci repetindo mecanicamente esta súplica sem saber o que poderia ser “um degredado filho de Eva” ou, muito menos, por que razão estaríamos todos a “suspirar, gemer e chorar” num “vale de lágrimas”.

Com o tempo, ensinaram-me que o “pecado original” nos tornava a todos “degredados”, e que a expressão “vale de lágrimas” tinha sua origem numa passagem do Salmo 84 [na numeração da Bíblia Hebraica], conhecido como Salmo dos Peregrinos.

Anos mais tarde, me dei conta de que, no Salmo 84, o significado literal de “vale de lágrimas” é muito diferente daquele que prevalece na interpretação cristã dominante.

[Registro, embora este não seja o objetivo aqui, que palavras e expressões mudam de significação ao longo do tempo, da mesma forma que palavras são introduzidas no nosso cotidiano e passam a constituir uma nova linguagem, um novo vocabulário dentro do qual se aprisionam determinadas formas de pensar e ver o mundo.

Ver, por exemplo, “A linguagem seletiva do ‘mensalão’“.]

Baca e as lágrimas
A tradução literal da passagem do Salmo 84 no original hebraico é:

“Bem-aventurados os homens cuja força está em Ti, em cujo coração os caminhos altos passando pelo vale de Baca, fazem dele um lugar de fontes; e a primeira chuva o cobre de bênçãos.”

Na Vulgata Latina (Salmo 83), no entanto, que serve de referencia para as interpretações cristãs, o “vale de Baca” é substituído por valle lacrimarum:

Beatus vir cui est auxilium abs te ascensiones in corde suo disposuit in valle lacrimarum in loco quem posuit etenim benedictiones.”

Na verdade, a palavra hebraica “baca” significa tanto lágrima, choro, como bálsamo.

As “balsameiras” (amoreiras) são árvores que “choram” porque produzem uma resina de cheiro agradável, o bálsamo, palavra que, figurativamente, significa conforto, lenitivo, alívio.

Esta é razão pela qual o vale, ao norte de Enom, recebeu o nome de Baca: é o vale das árvores que “choram”.

Ele era também a última etapa da peregrinação, na encruzilhada das estradas que vinham do norte, do oeste e do sul, com destino ao Templo em Jerusalém [foto].

Os peregrinos, que chegavam até Baca, depois de uma longa caminhada, eram bem-aventurados e poderiam transformar as chuvas em fontes (de água) e de bênçãos.

Na pregação cristã, ao contrário, o “vale das árvores que choram” foi se transformando no “vale de lágrimas” e até mesmo no “vale da morte”, uma condição inescapável da vida humana, uma sequência de sofrimento e purgação para os pecadores na busca do perdão de Deus.

Um pastor presbiteriano assim descreve o vale de Baca:

“É muito indesejável.
a) É árido. Não tem rios de alegria; os poços, cavados por alguns dos peregrinos que nos antecederam ou por nós mesmos são, muitas vezes, “cisternas rotas que não retêm as águas” (Jeremias 2.13).
b) É pedregoso. Os peregrinos conseguem remover as pedras menores, não as grandes; a caminhada é muito sofrida; muitos tropeçam e caem.
c) É escuro. As trilhas serpenteiam entre rochas de angústia e montanhas de pecado; o Sol da Justiça esconde-se por trás destas e o vale fica muito sombrio.
d) É extenso. Os peregrinos sabem que Sião está à frente, mas não podem vê-la; a caminhada parece não ter fim. Muitos ficam desencorajados.
e) É infestado. Há espíritos maus neste vale. Eles tentam; fazem insinuações malditas e sugestões blasfemas: armam ciladas, lançam os “dardos inflamados do maligno” (Efésios 6.11,16) [ver aqui].

Esta é a significação que “vale de lágrimas” (Baca) tem na oração “Salve Rainha”. É um mundo pleno de misérias e obstáculos.

Ajuda divina
Toda essa introdução é para observar que um visitante estrangeiro que desembarque no Brasil e que tome como referência as notícias diariamente veiculadas na grande mídia brasileira se convencerá de que o “vale de lágrimas” da interpretação cristã do Salmo 84 é aqui, hoje e agora.

No enquadramento padrão do jornalismo praticado entre nós, até mesmo as notícias eventualmente “boas” são acompanhadas de comentários irônicos e jocosos insinuando que alguma coisa deu ou dará errado, mantendo-se o “clima geral” de que estamos vivendo numa permanente e irrecorrível sequência de sofrimento e purgação de pecados.

Dia desses, fiz um teste assistindo ao noticiário local da concessionária de televisão líder de audiência do Distrito Federal.

Além das chamadas de abertura e passagem, nos três blocos de notícias, cada um com três matérias, todas tinham um enquadramento negativo e crítico:

- o hospital universitário, que finalmente iniciaria uma necessária reforma na sua maternidade, criava um novo problema para as grávidas, pois elas teriam que procurar outros hospitais;
- o subsecretário de Segurança era criticado (justamente) por referir-se a uma pessoa desaparecida e encontrada morta sob suspeita de ter sido assassinada por policiais como “um zé”;
- um incêndio no Cerrado, incomum nesta época do ano, tinha causado uma enorme fumaça e atrapalhado a visibilidade dos motoristas, mesmo combatido e controlado pelo Corpo de Bombeiros;
- em algumas regiões do Distrito Federal faltavam vagas para crianças de zero a cinco anos, perto de suas casas, nas creches públicas;
- as chuvas estavam provocando buracos nas ruas de uma cidade satélite onde as “bocas de lobo” estão entupidas e com as tampas quebradas;
- em outra satélite há um cruzamento onde a falta de um semáforo tem dificultado a travessia e provocado acidentes;
- e, por fim, o retrato falado de um suspeito de praticar sequestros relâmpago é divulgado com o inescapável comentário sobre a crise na segurança pública.

Por óbvio, o “vale de lágrimas” não é a única característica do jornalismo brasileiro que omite e/ou enfatiza seletivamente aquilo que atende mais ou menos aos seus interesses, implícitos e/ou explícitos.

De qualquer maneira, o noticiário televisivo do Distrito Federal, escolhido aleatoriamente, é apenas um exemplo de um padrão que se repete várias vezes ao dia, todos os dias.

Não haveria nada de positivo eventualmente acontecendo e merecedor de ser noticiado neste pedaço do planeta “descoberto” por Cabral?

No jornalismo do “vale de lágrimas” que vem sendo praticado pela grande mídia, salvar o Brasil, só com ajuda divina.

Vamos todos rezar o “Salve Rainha”.

(*) Venício A. de Lima é jornalista e sociólogo, professor titular de Ciência Política e Comunicação da UnB (aposentado), pesquisador do Centro de Estudos Republicanos Brasileiros (Cerbras) da UFMG e organizador/autor com Juarez Guimarães de Liberdade de Expressão: as várias faces de um desafio, Paulus, 2013, entre outros livros

Fonte:
http://www.cartamaior.com.br/?/Coluna/O-vale-de-lagrimas-e-aqui/30055

Nota:
A inserção das imagens, quase todas capturadas do Google Images, são de nossa responsabilidade, pois inexistem no texto original.

Leituras afins:
- Política e debates na rede - Maurício Caleiro

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Pobres e ricos no mundo do petróleo

19/01/2014 - Petróleo, Noruega e Reino Unido: o estatal milionário e o liberal sem tostão
- Fernando Brito - Tijolaço

Quarta-feira passada [15/1], cada norueguês se tornou um milionário – sem ter que levantar um dedinho sequer.

Eles devem isso ao seu litoral, e a uma enorme dose de bom senso.

Desde 1990, a Noruega foi fazendo seu caixa a partir do óleo e do gás do Mar do Norte, em um fundo para o futuro. (…)

Na semana passada, o saldo deste fundo atingiu um milhão de coroas para cada um dos 5 milhões de noruegueses, ou perto de US$ 163 mil (R$ 383 mil).

O texto acima é o início de uma reportagem do inglês The Guardian, publicada esta semana que, logo a seguir, pergunta porque os ingleses, que começaram a explorar o petróleo do Mar do Norte ao mesmo tempo que os noruegueses, no final dos anos 70, não têm praticamente nada acumulado pelos bilhões de barris que foram extraídos do leito marinho.

Para onde foi o dinheiro? “Virou corte de impostos para os ricos ou foi desaguado nas paredes das concessionárias de veículos ou dos agentes imobliários”, lamenta o Guardian.

O economista-chefe da PricewaterhouseCoopers, John Hawksworth [abaixo], admite que “não temos quaisquer novos hospitais ou estradas para mostrar: o investimento líquido do setor público caiu de 2,5% do PIB no início da era Thatcher a apenas 0,4% do PIB até 2000″.

E ele explica o destino do dinheiro: “A resposta lógica é que o dinheiro do petróleo permitiu baixar os impostos não petrolíferos”.

Claro que os sobre a renda e o capital.

Enquanto isso, a Noruega se tornou o maior PIB per capita entre os países da região, como você vê no gráfico. [abaixo]

À frente, inclusive dos “paraísos” da Dinamarca e da Suécia.


E muito à frente dos arrogantes ingleses.

O Fundo do Petróleo Norueguês é, hoje, o dono de 1% de todas as ações do mundo, em valor.

Equivale a 1,8 vezes o produto interno bruto do país.

Não que eles não gastem o dinheiro do petróleo. Gastam, inclusive o do fundo, mas apenas 4% ao ano, menos do que os rendimentos.

A riqueza veio da atividade exploratória, feita em regime de partilha e com uma empresa estatal fortalecida, a Statoil, que desenvolveu tecnologia e indústria no até então atrasado e pesqueiro país.

Hoje, a sua empresa busca petróleo em todo o mundo e o país exporta tecnologia.

Mas os noruegueses têm outra estatal: a Petoro, a Petrosal deles, que recolhe a parte estatal do petróleo e a transforma em dinheiro para o Fundo.

Trago esta história, sugerida pelo leitor Ernesto, para que os amigos e amigas fiquem atentos, quando começar a entrar os recursos do pré-sal, contra os discursos de que o dinheiro deve ser direcionado para “aquecer o mercado”, cortar impostos e distribuir perdulariamente aos municípios.

Ou que andaríamos muito mais rápido se o país permitisse mais liberdade às multinacionais, não exigindo participação da Petrobras, cotas de partilha e alto conteúdo nacional nos equipamentos exploratórios.

A obra dos “eficientes” neoliberais do petróleo do Mar do Norte está lá, bem marcada no gráfico sobre o PIB per capita do Reino Unido.

O modelo escolhido pelo Brasil para o pré-sal é o norueguês e também está lá onde ele levou o pais em quarenta anos.

O país que, mais que seu, é dos seus filhos e dos seus netos.

Fonte:
http://tijolaco.com.br/blog/?p=12771

Nota:
A inserção de algumas imagens adicionais, capturadas do Google Images, são de nossa responsabilidade, elas inexistem no texto original.

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Política e debates nas redes

16/01/2014 - A política e as redes
- Maurício Caleiro - em seu blogue Cinema & Outras Artes

O debate político brasileiro tem sofrido forte influência da internet, meio que não só reavivou, em muita gente, o interesse por política e o hábito cotidiano de discuti-la, mas deu voz a uma diversidade de atores na arena, acabando com o monopólio da mídia corporativa.

O jornalista Tácito Costa, editor do site Substantivo Plural, comenta o processo:

"As redes sociais abriram uma fenda na monolítica imprensa tradicional, que durante séculos monopolizou os canais de comunicação como alicerces de seu poder e dos seus interesses.

Definitivamente, acabou o tempo da comunicação unidirecional.

Um pouco antes da explosão das redes, os sites e blogs já tinham equilibrado esse jogo, oferecendo contraponto indispensável aos conglomerados da mídia e, com isso, fortalecendo a pluralidade e a democracia."

Deflagrados a partir da confluência entre desenvolvimento, barateamento e difusão de tecnologias digitais e num contexto em que a passividade do espectador dá lugar à interatividade, os resultados concretos dessa atividade virtual se fazem sentir em fenômenos mais ou menos recentes e por vezes antagônicos entre si, como a emergência da chamada blogosfera progressista, o uso do tumblr como ferramenta para o humor político e a mobilização popular via redes sociais.

Estas, além de se constituírem, cotidianamente, como arena pública de debates, tiveram papel relevante nas manifestações de junho e acabam de servir de meio para deflagração de "rolezinhos" em shoppings.

No bojo da Copa e da campanha eleitoral, prometem seguir dominando a cena em 2014.

Bolha de certezas
Não obstante positivo em sua essência, o debate político que se dá via redes sociais traz, inerentes, aspectos contraditórios ou mesmo intrinsecamente negativos, os quais se tornam mais evidentes à medida que a interação por elas proporcionada se torna um elemento rotineiro no cotidiano de cidadãos e cidadãs.

Talvez o mais evidente - e empobrecedor - deles, na seara política, seja a tendência à formação de "igrejinhas", em que a timeline [o conjunto de perfis seguidos e que te seguem] tende a se apresentar expurgada dos perfis que expressam opiniões francamente contrárias ou divergentes às do dono da conta, acabando por forjar uma falsa unidade discursiva em prol do ideário, partido ou programa político por este professado.

Assim, seu universo político pessoal é conservado em uma espécie de bolha que, embora perfurada amiúde pela própria impossibilidade de se prever e vetar toda e qualquer opinião contrária, o mantém no mais das vezes preso, a um tempo, de convicções que seus pares reafirmam a todo instante e do contato com a multiplicidade de opiniões divergentes – dinâmica que lhe impede acesso a uma visão realista da intensidade da oposição à linha política que defende.

Carimbador maluco
Deriva de tal dinâmica um segundo efeito dessa "segmentação opinativa" inerentes às redes sociais: a tendência, em um cenário político pobre em termos de diversidade e fortemente concentrado na oposição PT X PSDB, a "carimbar" as opiniões de acordo com a régua estabelecida por tal dicotomia.

Assim, se você defender o Bolsa Família ou mostrar simpatia pelos condenados do "mensalão" é grande a probabilidade de ser carimbado como simpatizante do PT ou mesmo xingado de "petralha" e termos derivados, os quais, disseminados a partir do jornalismo neocon, explicitam a intolerância e a tentativa de desqualificação do que entendem por esquerda.

Já se você ousa defender a classe média ou dá pinta de pender para uma posição com tinturas de conservadorismo ou de liberalismo econômico, se tornam grandes as chances de ser repelido pelas hostes dominantes nas redes e carimbado como "coxinha", o xingamento máximo do petismo militante, não obstante a ascensão de pobres à classe média ser comumente desfraldada pelos próprios partidários como principal conquista dos governos petistas.

Desqualificação a priori
Nesse cenário polarizado, há pouco espaço para nuances ou para assimilação de críticas que procuram ir além da dicotomia PT x PSDB.

É sintomático dessa intolerância a evocação do fantasma dos anos FHC – ou seja, elitismo, precariedade social e crise econômica – à mínima restrição dirigida ao governo petista.

Com tais reações, o debate é interditado por uma confusão deliberada entre a crítica pontual à atual administração e a negação total do petismo em prol do que seria inapelavelmente, de acordo com a reação citada, a única alternativa: o retorno aos anos FHC.

Trata-se de uma atitude que não só revela-se autoritária e diversionista ao se recusar a debater os termos específicos da crítica, mas, mostrando ignorar não só a significação última do dito marxista de que a história só se repete como farsa, não se apercebe que se a volta ao Brasil do ex-presidente fosse uma mera questão de deixar de optar pelo PT, então seria porque as mudanças por este partido promovida, nos últimos 11 anos, não foram suficientes sequer para nos colocar a salvo de tal perigo como uma ameaça imediata (muito pelo contrário, até as privatizações estão de volta, sob patrocínio petista).


Em decorrência da tendência a pouca tolerância com opiniões nuançadas – no sentido de não circunscritas à troca de chumbo entre petistas e peessedebistas -, cria-se um processo vicioso de desqualificação a priori das críticas, denunciadas na origem como ideologicamente tendenciosas e cujo teor sequer é levado em conta, e de restrição à sua circulação, seja através da recusa pessoal (e legítima) a repercuti-la nas redes sociais, seja na recusa (dissimulada) dos blogs de grande audiência em repercutir opiniões que se oponham frontalmente às linhas partidárias que efetivamente (mas não assumidamente) apoiam.

Boicote autoritário
Senador Joseph McMarthy
Destarte, malgrado o pleno direito à expressão e as múltiplas modalidades possibilitadas pela internet, acaba-se por observar-se atualmente, no que concerne ao debate político brasileiro, o germe de um processo de caráter totalitário, por vezes macartista, de abafar vozes críticas divergentes, processo este em que tem papel precípuo as paixões partidárias e é protagonizado por entidades virtuais que até recentemente se publicizavam como pluralistas e progressivas.

Trata-se, em última analise, de um fator de retrocesso no debate público, pois enquanto as paixões partidárias se manifestarem como elementos de desqualificação e de repressão à livre abordagem crítica dos problemas, será a fé se sobrepondo à razão, até na seara política.

Verdadeiros democratas não temem o debate.

Fonte:
http://cinemaeoutrasartes.blogspot.com.br/2014/01/a-politica-e-as-redes.html

Nota:
A inserção de algumas imagens adicionais, capturadas do Google Images, são de nossa responsabilidade, elas inexistem no texto original.

Leituras afins:
- Das elites, essa estranha noção de liberdade - Fernando Brito
- Imprensa e rolezinho - Luciano Martins Costa
- Às esquerdas da Europa e do mundo - Álvaro Garcia Linera

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Das elites, essa estranha noção de liberdade

16/01/2014 - A estranha noção de liberdade das elites
-Fernando Brito - blogue Tijolaço

Quando surgiu o factóide do “Rei dos Camarotes”, a não ser na blogosfera, não foi tratado como escandaloso o fato de termos uma classe média e uma mídia babacas ao ponto de elegerem este pateta como um “agregador de valor”.

E não foram raros os que saíram dizendo que, como o dinheiro era dele – embora uma parte fosse devida aos impostos que não pagou à cidade de São Paulo - ele era livre para ser idiota o quanto quisesse.

E, afinal, ele só estava ali para “zoar, pegar as meninas e dar um rolé”.

Não sou destes que quer fazer uma sociologia primária, de ver os “rolezinhos” como movimento libertário, revolucionário ou o escambau, como diziam no meu tempo.

A garotada está nessa apenas, também, para “zoar, pegar as meninas e dar um rolé”.

Normal, desde que o mundo é mundo e enquanto os jovens são jovens.

Mas quando a direita se digna a olhar para a pobreza, podem crer, não é em favor dos pobres.

Quer capturar não apenas o medo dos pobres que as elites sempre tiveram.

Mas também transformar sua erupção na vida social em uma cortina de fumaça para seus interesses políticos.

Servir-se de sua despolitização para levá-la como água ao moinho de seus interesses.

E de uns tolos que não entendem que transformar em efemérides barulhentas o direito dos jovens pobres de “zoar, pegar as meninas e dar um rolé” é criar as condições para que estes jovens voltem a um tempo onde não podiam isso e também não podiam estudar, trabalhar, entrar na universidade pelo sistema de cotas e, sequer, andar na rua sem serem abordados, humilhados e agredidos pela polícia.

A sabedoria política nos exige mais.

Exige mostrar e ajudar a entender que o idiota dos camarotes é isso, um idiota.

E que a garotada da periferia, se não quiser gramar mais séculos de opressão, não pode ser idiota feito ele.

E isso, para lembrar o que disse há algum dias atrás o Saul Leblon, nos requer mais do que atas do Copom.

Fonte:
http://tijolaco.com.br/blog/?p=12673

Leituras afins:
- Imprensa e rolezinho - Luciano Martins Costa

Nota:
A inserção de algumas imagens adicionais, capturadas do Google Images, são de nossa responsabilidade, elas inexistem no texto original.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Imprensa e rolezinho

15/01/2014 - Imprensa e rolezinho, machismo e irresponsabilidade
- Por Luciano Martins Costa na edição 781 do Observatório da Imprensa
- Comentário para o programa radiofônico de 15/01/2014

Com exceção da Folha de S. Paulo, os principais jornais de circulação nacional não parecem fazer um grande esforço para compreender o novo fenômeno social, conhecido como “rolezinho”.

Na edição de quarta-feira (15/1), o Globo ignora o assunto e o Estado de S. Paulo se limita a reproduzir manifestações de autoridades da segurança pública e entidades que representam os shopping centers.

A Folha busca as origens do movimento e produz sua própria versão da nova forma de protagonismo de jovens da periferia.

A iniciativa de marcar encontros que podem reunir centenas, milhares de jovens e adolescentes nos espaços abertos dos centros de compra tem origem nas redes sociais digitais e faz parte da consolidação, no espaço físico, de relacionamentos desenvolvidos no chamado ambiente virtual.

O que acontece a seguir é da natureza dos protagonistas: gargalhadas, gritos, movimentos bruscos, manifestações exageradas de entusiasmo.

Farra, muita farra, que pode incluir correrias e longas filas pelos corredores dos shoppings – o antigo “trenzinho”, que agora se chama “bonde”.

Como muitas manifestações culturais que surgiram nas comunidades oprimidas por traficantes e pelo poder corrompido da polícia, os “bondes” representam a mobilização coletiva dos marginalizados.

A expressão foi cunhada por traficantes nas favelas do Rio, com o sentido de blitz, de carga ligeira nos confrontos com seus concorrentes ou contra a polícia.

Daí, a palavra evoluiu para definir os “arrastões” na praia [Ipanema, 11/1 sábado de verão, ao lado] e, em seguida, a formação de grupos que se dirigiam aos bailes funk em áreas inseguras.

Os “bondes” dos jovens paulistanos que desembarcam em multidões nos shopping centers têm simplesmente o sentido da reunião, da ação coletiva cujo propósito é o de apenas realizar fisicamente a interação experimentada nas redes digitais e manifestar a alegria do encontro.

Acontece que esses palácios de consumo foram planejados para explorar a soma dos desejos individuais no ato da compra, e não estão preparados para funcionar como palcos de manifestações massivas.

Elitismo e preconceito
A Folha de S. Paulo produz uma reportagem interessante sobre alguns protagonistas desse movimento, mas ao tentar se aproximar de um universo que seus jornalistas desconhecem, comete uma parcialidade e um erro grave.

A parcialidade consiste em definir os “rolezinhos” apenas como encontros entre meninos muito populares na rede social e suas admiradoras ou “amigas” do Facebook – a interpretação é machista e limitada à ideia de que os meninos, machos, têm a iniciativa e as meninas são apenas as “tietes” que se deslocam para encontrar seus ídolos.

O erro grave consiste em expor a identidade e a imagem de um jovem de 17 anos, inimputável perante a lei, como sendo o “organizador” da concentração ocorrida no Shopping Center Itaquera no sábado (11/1).

O adolescente aparece no alto da primeira página, em fotografia destacada ao lado da manchete do jornal, e na página interna é mostrado novamente, com seu perfil descrito junto ao de outros supostos líderes dos “rolezinhos” entre eles, um menino de 13 anos, apontado como um dos promotores do evento.

Além de submeter esses protagonistas à exibição pública, contrariando as normas legais, trata-se de mau jornalismo, pelo simples fato de que tais concentrações ocorrem numa cadeia de conexões cujo centro é impossível definir.

Ao identificar três ou quatro jovens, e principalmente ao destacar um deles na primeira página, a Folha aponta o dedo e abre a possibilidade de que sejam visados por policiais, agentes de segurança dos shopping centers e até mesmo por criminosos com interesse em promover saques, com as consequências que se pode imaginar.

Aquilo que parece uma interessante sintonia do jornal com o mundo dos adolescentes da periferia não passa de manifestação machista – presente na afirmação de que os “rolezinhos” são feitos por meninas em ato de tietagem, negando a possibilidade de que elas também estejam apenas realizando seu direito de exercer a sociabilidade onde quiserem.

A versão de que o fenômeno se limita aos encontros de garotas devotadas a “don juans” da internet não é apenas machista: é também elitista, ao abrigar um mal disfarçado preconceito, presente na afirmação de que não há nenhuma “grande ideia” por trás do movimento.

Ora, para quem vive em comunidades com poucas opções de lazer, uma farra no shopping [Itaquera, foto acima] pode ser a melhor ideia da temporada e uma chance rara de protagonismo social.

Fonte:
http://observatoriodaimprensa.com.br/news/view/imprensa_e_rolezinho_machismo_e_irresponsabilidade