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segunda-feira, 14 de outubro de 2013

AS RESERVAS E O BNDES



Por Mauro Santayana*


(JB) - Depois de terem sido apanhadas de calças na mão pelas crises internacionais, as agências de qualificação voltam de novo sua nefasta atenção para o Brasil, desta vez para defender o enfraquecimento e o desmonte do sistema de financiamento público.

E o nosso país, que deveria tratá-las como aos cães que ladram, enquanto a caravana passa, parece que vai  ceder à chantagem, e tolher a concorrência entre bancos públicos e privados, diminuindo a  o papel dos primeiros na expansão do crédito pessoal e de capital de giro – providência que nos salvou, desde o início da crise, em 2008, até agora.

Como na fábula do lobo e do cordeiro – para a imprensa financeira e os arautos do capitalismo internacional - o país tem que estar indo sempre mal em alguma coisa.

Se não estamos negativos no crescimento, que será de 2.5%  em 2013, mais de duas vezes maior que o do México - o aluno espionado, adulador e obediente do Consenso de Washington - talvez o problema seja com a inflação.

Mas como a inflação desceu para menos de 6% nos últimos 12 meses, e o tomate não chegou a vinte dólares o quilo, como esperavam os “analistas”, o vilão da vez é a dívida bruta, que, no conceito do FMI, está em 68%, e que o governo diz estar em 58% - se descontarmos os títulos que estão em posse do tesouro.

O FMI e as agências falam da dívida bruta, mas se esquecem da dívida líquida, que é de apenas 34%, subtraídos os 375 bilhões de dólares que o país tem em reservas, a maior parte deles em títulos dos EUA, o que nos torna o terceiro maior credor individual dos norte-americanos.

Para evitar que o Brasil fugisse da restrição ao crédito imposta pelos bancos privados no auge da crise de 2008, o governo expandiu em 7% a dívida bruta, e essa é a principal razão, para que ela tenha se transformado agora, na bola da vez, para as agências internacionais.

Essa é a principal causa de as agências internacionais terem rebaixado a perspectiva – vejam bem, por enquanto, apenas a perspectiva - da qualidade da dívida soberana do Brasil, de positiva para “estável” nas últimas semanas.

Bem, o Brasil continua com grau de investimento – e não está na situação dos EUA, com a maior dívida do mundo, a ponto de paralisar, por falta de dinheiro, todo o setor público, daqui a uma semana, se não conseguir licença para assinar novos “papagaios” e aumentar o orçamento federal.

No entanto, neste como em outros embates, principalmente na economia, o governo – pressionado pelo Congresso, pela mídia conservadora, a Europa e os EUA, que desejam impedir o surgimento de um novo concorrente no plano geopolítico – prepara-se, mais uma vez, para reagir mal, aos trancos e barrancos, adotando um comportamento errático e hesitante, ditado muito mais pela pauta dos adversários, do que por um projeto próprio e coerente de país.

É isso que ocorre, por exemplo, na área de telecomunicações, sob quase total domínio do capital estrangeiro desde o governo Fernando Henrique Cardoso. Uma situação que nos leva a pagar, segundo a última pesquisa da União Geral de Telecomunicações, divulgada nesta semana, as mais altas tarifas de telefonia celular do mundo. Preços várias vezes superiores aos que cobram as operadoras estrangeiras, de seus concidadãos, em seus países de origem, pelos mesmos serviços. Sem quase nenhuma atitude do governo, a não ser a de providenciar financiamento farto e barato, e isenção de obrigações e impostos, para multinacionais que enviam bilhões de dólares para o exterior todos os anos - a não ser o recuo em uma frustrada tentativa de retorno da Telebras, como operadora plena, ao mercado, para a prestação de serviços diretos ao consumidor.

Com regras claras, voltadas para a montagem de consórcios com participação privada nacional, estatal e estrangeira, em bases iguais, também na infra-estrutura, o dinheiro injetado em nosso principal banco de fomento poderia ter gerado resultados muito melhores na economia desde a crise de 2008.

No lugar disso, o que vimos, nos últimos anos, foi o BNDES financiando, às vezes, 60%, até 80% do montante de projetos para empresas que, em vez de reinvesti-los aqui mesmo, enviam a maior parte de seus lucros para o exterior.

Isso ocorreu no setor de telecomunicações, mas também na indústria automobilística. Não se negociou qualquer participação direta do governo nas novas fábricas de automóveis construídas com quase 100% de dinheiro do BNDES e generosa isenção fiscal, para que ao menos parte dos ganhos auferidos com o boom de vendas, gerado pela diminuição do IPI, ficasse no país.

Não se negociou mudanças nas novas fábricas e em novos modelos, que contemplassem exigências de eficiência energética, diminuindo a necessidade de importação de combustível estrangeiro que aumentou com a expansão da frota. Aplicou-se dinheiro que poderia ter sido investido no subsídio à produção local de etanol, em projetos megalomaníacos, como os do Senhor Eike Batista, por exemplo.

O governo precisa perder o medo pânico de investir diretamente em atividades estruturais e produtivas que são estratégicas para o país. Quando não for possível estabelecer um equilíbrio entre capital privado nacional, capital estatal, capital estrangeiro, por eventual falta de interesse privado, que se busque associação direta com estatais de outros países, como a China, na base de 51% para o Brasil e 49% para o parceiro internacional.

O governo não deveria ter se endividado para colocar dinheiro na economia sem a contrapartida de aporte de recursos por parte de quem domina e se beneficia do negócio, principalmente, quando se trata de estrangeiros. Nessa parceria, que lembra a famosa joint-venture dos porcos com as galinhas, as multinacionais entram costumeiramente com os ovos, e o estado brasileiro, via BNDES, com o bacon.

Quem busca financiamento público precisa colocar em cima da mesa pelo menos um real, ou um dólar – vindo de seu próprio bolso ou de fonte de financiamento interna ou externa - para cada real, ou dólar, colocado pelo governo, senão nunca poderemos sair do baixíssimo patamar de investimento no qual nos encontramos.

Pois bem, agora, pressionado pela ameaça de rebaixamento  da nota do país pelas agências internacionais, o governo pretende, para se livrar do problema, jogar a criança fora junto com a água da bacia.

No lugar de aprofundar e corrigir o papel do financiamento estatal, estabelecendo rumos, previsíveis, racionais, para os próximos anos, que levem à otimização da aplicação de recursos na economia, o governo cogita diminuir a participação dos bancos públicos no sistema financeiro e restringir o crédito para o consumo e o capital de giro, e os bancos privados declararam que não têm interesse em cobrir essa demanda.

E, mais, para assegurar os compromissos de financiamento do BNDES até o fim do ano, da ordem de 30 bilhões de reais, o governo fala em vender açodadamente sua participação em  empresas – algumas delas estratégicas – em um momento em que essas ações - que foram responsáveis por metade do lucro do banco nos últimos anos – estão, por causa da desvalorização da bolsa, com seus preços muito abaixo de seu valor real.

Alternativas a esse recuo existem, assim como recursos para continuar com o financiamento público, sem vender os ativos da BNDESpar. Até ontem o Brasil dispunha, - segundo o site do Banco Central - de 375.951 bilhões de dólares em reservas internacionais. Destes, aproximadamente 240 bilhões estão aplicados em títulos do tesouro norte-americano, o que aponta para um risco, nada desprezível, de se tomar um gigantesco calote, caso o governo e o congresso não cheguem a um acordo sobre o orçamento e o novo teto da dívida pública dos EUA.

Esse dinheiro, hoje aplicado a menos de dois por cento ao ano, poderia dar melhor retorno, se uma décima parte dele fosse aplicada, paulatinamente, via BNDES e outros bancos públicos, na expansão de nossa economia, sem necessidade – já que essa é a “preocupação” das agências internacionais de risco - de novos aportes do tesouro ou do aumento da dívida bruta.

No lugar de ficar tirando, a cada momento, coelhos da cartola, para driblar as cascas de banana lançadas pelos seus adversários, o governo precisa de um projeto claro de governo, defensável e fácil de ser explicado e entendido pelos outros entes e poderes da República e a opinião pública nacional e internacional.


Ou o PT corrige seu rumo, ou corre o risco de tomar outro rumo a partir do ano que vem.
Postado por Mauro Santayana às 05:00  AS RESERVAS E O BNDES



(JB) - Depois de terem sido apanhadas de calças na mão pelas crises internacionais, as agências de qualificação voltam de novo sua nefasta atenção para o Brasil, desta vez para defender o enfraquecimento e o desmonte do sistema de financiamento público.

E o nosso país, que deveria tratá-las como aos cães que ladram, enquanto a caravana passa, parece que vai  ceder à chantagem, e tolher a concorrência entre bancos públicos e privados, diminuindo a  o papel dos primeiros na expansão do crédito pessoal e de capital de giro – providência que nos salvou, desde o início da crise, em 2008, até agora.

Como na fábula do lobo e do cordeiro – para a imprensa financeira e os arautos do capitalismo internacional - o país tem que estar indo sempre mal em alguma coisa.

Se não estamos negativos no crescimento, que será de 2.5%  em 2013, mais de duas vezes maior que o do México - o aluno espionado, adulador e obediente do Consenso de Washington - talvez o problema seja com a inflação.

Mas como a inflação desceu para menos de 6% nos últimos 12 meses, e o tomate não chegou a vinte dólares o quilo, como esperavam os “analistas”, o vilão da vez é a dívida bruta, que, no conceito do FMI, está em 68%, e que o governo diz estar em 58% - se descontarmos os títulos que estão em posse do tesouro.

O FMI e as agências falam da dívida bruta, mas se esquecem da dívida líquida, que é de apenas 34%, subtraídos os 375 bilhões de dólares que o país tem em reservas, a maior parte deles em títulos dos EUA, o que nos torna o terceiro maior credor individual dos norte-americanos.

Para evitar que o Brasil fugisse da restrição ao crédito imposta pelos bancos privados no auge da crise de 2008, o governo expandiu em 7% a dívida bruta, e essa é a principal razão, para que ela tenha se transformado agora, na bola da vez, para as agências internacionais.

Essa é a principal causa de as agências internacionais terem rebaixado a perspectiva – vejam bem, por enquanto, apenas a perspectiva - da qualidade da dívida soberana do Brasil, de positiva para “estável” nas últimas semanas.

Bem, o Brasil continua com grau de investimento – e não está na situação dos EUA, com a maior dívida do mundo, a ponto de paralisar, por falta de dinheiro, todo o setor público, daqui a uma semana, se não conseguir licença para assinar novos “papagaios” e aumentar o orçamento federal.

No entanto, neste como em outros embates, principalmente na economia, o governo – pressionado pelo Congresso, pela mídia conservadora, a Europa e os EUA, que desejam impedir o surgimento de um novo concorrente no plano geopolítico – prepara-se, mais uma vez, para reagir mal, aos trancos e barrancos, adotando um comportamento errático e hesitante, ditado muito mais pela pauta dos adversários, do que por um projeto próprio e coerente de país.

É isso que ocorre, por exemplo, na área de telecomunicações, sob quase total domínio do capital estrangeiro desde o governo Fernando Henrique Cardoso. Uma situação que nos leva a pagar, segundo a última pesquisa da União Geral de Telecomunicações, divulgada nesta semana, as mais altas tarifas de telefonia celular do mundo. Preços várias vezes superiores aos que cobram as operadoras estrangeiras, de seus concidadãos, em seus países de origem, pelos mesmos serviços. Sem quase nenhuma atitude do governo, a não ser a de providenciar financiamento farto e barato, e isenção de obrigações e impostos, para multinacionais que enviam bilhões de dólares para o exterior todos os anos - a não ser o recuo em uma frustrada tentativa de retorno da Telebras, como operadora plena, ao mercado, para a prestação de serviços diretos ao consumidor.

Com regras claras, voltadas para a montagem de consórcios com participação privada nacional, estatal e estrangeira, em bases iguais, também na infra-estrutura, o dinheiro injetado em nosso principal banco de fomento poderia ter gerado resultados muito melhores na economia desde a crise de 2008.

No lugar disso, o que vimos, nos últimos anos, foi o BNDES financiando, às vezes, 60%, até 80% do montante de projetos para empresas que, em vez de reinvesti-los aqui mesmo, enviam a maior parte de seus lucros para o exterior.

Isso ocorreu no setor de telecomunicações, mas também na indústria automobilística. Não se negociou qualquer participação direta do governo nas novas fábricas de automóveis construídas com quase 100% de dinheiro do BNDES e generosa isenção fiscal, para que ao menos parte dos ganhos auferidos com o boom de vendas, gerado pela diminuição do IPI, ficasse no país.

Não se negociou mudanças nas novas fábricas e em novos modelos, que contemplassem exigências de eficiência energética, diminuindo a necessidade de importação de combustível estrangeiro que aumentou com a expansão da frota. Aplicou-se dinheiro que poderia ter sido investido no subsídio à produção local de etanol, em projetos megalomaníacos, como os do Senhor Eike Batista, por exemplo.

O governo precisa perder o medo pânico de investir diretamente em atividades estruturais e produtivas que são estratégicas para o país. Quando não for possível estabelecer um equilíbrio entre capital privado nacional, capital estatal, capital estrangeiro, por eventual falta de interesse privado, que se busque associação direta com estatais de outros países, como a China, na base de 51% para o Brasil e 49% para o parceiro internacional.

O governo não deveria ter se endividado para colocar dinheiro na economia sem a contrapartida de aporte de recursos por parte de quem domina e se beneficia do negócio, principalmente, quando se trata de estrangeiros. Nessa parceria, que lembra a famosa joint-venture dos porcos com as galinhas, as multinacionais entram costumeiramente com os ovos, e o estado brasileiro, via BNDES, com o bacon.

Quem busca financiamento público precisa colocar em cima da mesa pelo menos um real, ou um dólar – vindo de seu próprio bolso ou de fonte de financiamento interna ou externa - para cada real, ou dólar, colocado pelo governo, senão nunca poderemos sair do baixíssimo patamar de investimento no qual nos encontramos.

Pois bem, agora, pressionado pela ameaça de rebaixamento  da nota do país pelas agências internacionais, o governo pretende, para se livrar do problema, jogar a criança fora junto com a água da bacia.

No lugar de aprofundar e corrigir o papel do financiamento estatal, estabelecendo rumos, previsíveis, racionais, para os próximos anos, que levem à otimização da aplicação de recursos na economia, o governo cogita diminuir a participação dos bancos públicos no sistema financeiro e restringir o crédito para o consumo e o capital de giro, e os bancos privados declararam que não têm interesse em cobrir essa demanda.

E, mais, para assegurar os compromissos de financiamento do BNDES até o fim do ano, da ordem de 30 bilhões de reais, o governo fala em vender açodadamente sua participação em  empresas – algumas delas estratégicas – em um momento em que essas ações - que foram responsáveis por metade do lucro do banco nos últimos anos – estão, por causa da desvalorização da bolsa, com seus preços muito abaixo de seu valor real.

Alternativas a esse recuo existem, assim como recursos para continuar com o financiamento público, sem vender os ativos da BNDESpar. Até ontem o Brasil dispunha, - segundo o site do Banco Central - de 375.951 bilhões de dólares em reservas internacionais. Destes, aproximadamente 240 bilhões estão aplicados em títulos do tesouro norte-americano, o que aponta para um risco, nada desprezível, de se tomar um gigantesco calote, caso o governo e o congresso não cheguem a um acordo sobre o orçamento e o novo teto da dívida pública dos EUA.

Esse dinheiro, hoje aplicado a menos de dois por cento ao ano, poderia dar melhor retorno, se uma décima parte dele fosse aplicada, paulatinamente, via BNDES e outros bancos públicos, na expansão de nossa economia, sem necessidade – já que essa é a “preocupação” das agências internacionais de risco - de novos aportes do tesouro ou do aumento da dívida bruta.

No lugar de ficar tirando, a cada momento, coelhos da cartola, para driblar as cascas de banana lançadas pelos seus adversários, o governo precisa de um projeto claro de governo, defensável e fácil de ser explicado e entendido pelos outros entes e poderes da República e a opinião pública nacional e internacional.


Ou o PT corrige seu rumo, ou corre o risco de tomar outro rumo a partir do ano que vem.


*Fonte:http://www.maurosantayana.com/2013/10/as-reservas-e-o-bndes.html

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Por que a mídia não quer que mude nada

10/09/2013 - Paulo Nogueira [*]- Diário do Centro do Mundo

Como mostra a lista de bilionários da Forbes, as famílias lucram extraordinariamente com os privilégios que têm.

Na rarefeita lista dos bilionários brasileiros montada pela revista Forbes estão quatro donos de empresas de mídia: os três irmãos Marinhos – Roberto Irineu, João Roberto e José Roberto – [foto] e Giancarlo Civita, o Gianca, primogênito e um dos herdeiros de Roberto Civita. [Editora Abril]

Essa simples informação – a lista da Forbes não é científica, mas ao longo de décadas seus editores desenvolveram métodos sofisticados de apuração – explica por que a mídia brasileira luta tanto contra qualquer mudança que represente o fim de seus imensos privilégios e mamatas.

O número 1 é o investidor Jorge Paulo Lemann. Mas se você combinar as fortunas dos três herdeiros de Roberto Marinho, Lemann é ultrapassado com 
folga.

Um olhar de floresta sobre a listagem mostra que 124 pessoas concentram 12,3% do PIB brasileiro.

Eis um número que se pode classificar de miserável: é a representação da extrema iniquidade do país.

Vi a notícia no site da Exame, da Abril, e evidentemente fui lê-la. Um bom texto, exceto por uma omissão que mostra como é difícil a vida dos jornalistas profissionais no Brasil de hoje: entre os setores que abrigam os bilionários não estava citada a mídia.

Presumo que o editor, ou o próprio redator, tenham tirado a menção por cuidado.

A voz rouca das ruas não tem ideia das facilidades que as grandes empresas de mídia têm recebido ao longo dos tempos do Estado. Ou, para sermos mais precisos, do contribuinte.

O papel usado, por exemplo, é isento de impostos. É o chamado “papel imune”, no jargão interno das empresas de jornalismo. Tampouco elas pagam 
ISS sobre as vendas de publicidade.

Ao longo da história, órgãos como o BNDES e o Banco do Brasil concederam empréstimos a juros maternos para a mídia, sempre com dinheiro público.

Nos anos 1980, o Jornal do Brasil pagava suas dívidas perante o Banco do Brasil com anúncios. Mesmo assim, quebraria por causa de uma gestão ruinosa.

É um clássico na mídia: a administração é lastimável. Isso se explica, em parte, pela absurdamente anacrônica reserva de mercado mantida para as 
grandes corporações jornalísticas.

A reserva – que a mídia combate em todos os setores exceto o dela mesma – impede a concorrência estrangeira. Mas o preço pela facilidade são gestões trôpegas, típicas de quem goza de reserva. Para as famílias acionistas é uma coisa boa, mas para a sociedade é péssimo.

Administrações atrapalhadas ajudam a entender por que, mesmo com tantas vantagens bancadas com dinheiro público, as empresas de mídia frequentemente estiveram à beira da quebra. Muitas foram além disso e se instalaram no cemitério.

Veja a diferença.

No exterior, Rupert Murdoch [foto], da News Corp, construiu um império global à base de risco.

Murdoch foi da Austrália para o Reino Unido, e de lá para os Estados Unidos, com base em apostas que poderiam levá-lo ao céu ou ao inferno.

No final da década de 1980, ele decidiu investir em tevê por satélite. Pegou dinheiro emprestado em bancos e montou a Sky. Mas as coisas não correram como o esperado, e ele esteve à beira de ir à bancarrota.

Foi obrigado pelos credores a se juntar em tevê por satélite com a rival da Sky, a BSB. Pouco tempo atrás, ele estava com o dinheiro pronto para comprar a parte da BSB por mais de 20 bilhões de reais. O negócio só não foi feito porque o escândalo de seu tabloide levou o governo britânico a proibir a aquisição.

Veja, em contraste, como a Globo construiu sua supergráfica que foi concebida, pausa para rir, para uma tiragem de mais de 1 milhão de exemplares do Globo.

A Globo foi buscar dinheiro no lugar de sempre, o BNDES. Ou seja, a viúva e os pensionistas foram convocados para ajudar a família Marinho.

A mídia tem tido no Brasil um “Estado-babá”. Isso é bom para seus acionistas, como se vê pela Forbes.

Para a sociedade, é uma tragédia.

[*] O jornalista Paulo Nogueira, baseado em Londres, é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.

Fonte:
http://www.diariodocentrodomundo.com.br/por-que-a-midia-nao-quer-que-mude-nada/

Leia também:http://contextolivre.blogspot.com.br/2013/09/dez-fatos-perturbadores-sobre-grande.html

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

A guerra que pode matar uma nação

03/09/2013 - Saul Leblon - Carta Maior

Variáveis macroeconômicas são ingredientes à espera de um projeto de Nação. 

Quem decide a receita do desenvolvimento e da sociedade é a luta política.

Uma arma crucial do embate é a formação das expectativas.

No Brasil hoje, são elas que podem mover ou travar a engrenagem decisiva do investimento na esfera industrial e na infraestrutura.

Num caso, o país retoma o crescimento ancorado em bases consistentes. 

No outro, o pessimismo estreita o horizonte do futuro e afoga a Nação na liquidez rentista. A espiral descendente do emprego e do consumo cuida do resto, conflagrando a inquietação social.

É a disjuntiva dos dias que correm.

A guerra das expectativas dispara mísseis que cruzam os céus do imaginário social ininterruptamente.

A quarta frota desta guerra é a área na qual a influencia conservadora desequilibra o jogo a seu favor: o comando do noticiário em geral; o da
economia, em particular.

Dados auspiciosos do IBGE sobre o PIB do segundo trimestre foram recepcionados com um muxoxo pela emissão conservadora: ‘resultado surpreende o mercado’.

Modéstia.

O resultado não surpreende, ele o decepciona.

Um desastre econômico de proporções ferroviárias é vaticinado há meses pela endogamia da mídia com a corriola das consultorias e a pátria financeira. 

O lubrificante ora é o dólar no mercado futuro. Ora a AP 470. Ora a 'invasão' da saúde pública por 'escravos de Fidel', desembarcados de ‘aviões negreiros’. Assim por diante.

A impressionante expansão de 9% do investimento no 2º trimestre, comparado ao mesmo período de 2013, trouxe ao crescimento de 1,5% do PIB uma qualidade há muito requerida pelo país. 

O incremento de capacidade produtiva avançou bem acima da variação do consumo das famílias (2,3%) e o do governo (1%). 

É a calibragem correta para uma expansão de longo curso.

Aquela que não desanda em pressões inflacionárias porque a oferta caminha adiante da demanda.

Não significa que a matriz de um novo ciclo está consolidada. Estamos longe disso.

O Brasil acumula pendências cambiais e de logística que emperram o motor do seu desenvolvimento. 

A economia tem gargalos objetivos; oscila em altos e baixos à procura de uma nova coerência, como mostra a montanha-russa do desempenho industrial.

Mas o PIB que surpreendeu a narrativa derrotista comprova que a fatalidade conservadora não é um dado de natureza.

É um ingrediente da luta política em curso, abastecida com a pólvora das expectativas. 

O conjunto manipula a incerteza intrínseca ao cálculo econômico de longo prazo no regime capitalista.

A sinalização financeira a quem caberia clarear a neblina do futuro, age para cegar. Seu alto-falante midiático cuida de afligir.

Um lucra com a especulação nutrida pela incerteza; o segundo, com o rebate conservador que o pânico injeta nas pesquisas eleitorais.

Significa dizer que a batalha do crescimento não será vencida no âmbito exclusivo das medidas econômicas.

Se o governo não se despir do economicismo, perderá a guerra. Ainda que tome as medidas tecnicamente adequadas à retomada do crescimento.

O contrafogo das expectativas negativas pode por tudo a perder.

Guardadas as proporções, vale lembrar: Puttin, na Rússia, colocou no ar uma emissora estatal que dispõe de orçamento de US$ 300 milhões/ano. E um quadro de dois mil contratados.

Guardadas as devidas motivações, cumpre insistir: esse é o tamanho do jogo. 

Nunca é demais repetir: a coerência macroeconômica quem dá é a correlação de forças da sociedade, que tem na formação das expectativas um de seus
ordenadores decisivos.

Quem fizer a leitura política do noticiário econômico enxergará a queda de braço em curso.

De um lado, iniciativas oficiais procuram desbastar o caminho para um novo ciclo histórico, ancorado no impulso do investimento com maior equidade social.

De outro, os interesses que tentam direcionar a encruzilhada atual para a regressão ao modelo dos anos 90: privatizações, Estado mínimo, arrocho
social, alinhamento carnal com geopolítica e a economia imperial norte-americana. 

Nunca será fácil converter as conquistas e aspirações de uma época à paz salazarista cobiçada pelos ‘mercados’.

A saber: um cemitério social rígido como o eletrocardiograma de um morto, associado à apoteose rentista da nação à serviço do dinheiro. 

Fomentar a crise de confiança é a pedra basilar dessa arquitetura. 

Dar a isso a abrangência de um sentimento coletivo de baixa autoestima, é a sua argamassa.

Fazer da descrença no país, em suas lideranças, no Estado e organizações sociais um acontecimento de natureza política e econômica, o vigamento
superior.

Naturalizar esse jogral a ponto torna-lo uma profecia autorrealizável, a cumeeira do processo.

Leve tudo ao forno da inquietação social movida a denuncismo e vaticínios de desastre iminente no desempenho do PIB e dos índices de inflação. 

Não importa que os resultados do mês em curso os desmintam. 

O núcleo duro dessa usina de sombras e abismos é afinado por um jogral de pluralidade ideológica irrisória.

Em entrevista recente, o colunista do Estadão, José Paulo Kupfer, admite o viés que afina o noticiário econômico: 

"Fiz uma pesquisa de fontes em alguns principais jornais: Estadão, O Globo, Folha. Captei 500 participações. 85% das citações eram de consultorias, departamentos de economia (alinhados) a escolas neoliberais. Fica tudo com uma visão só”, afirmou.

Como enfrentar essa guarda pretoriana sem um antídoto da envergadura daquele ostentado pelo projeto da ‘Russia Today’?

Difícil.

O PIB do segundo trimestre revelou uma taxa de investimento ainda abaixo dos 20%, tido como um requisito para acelerar a máquina do crescimento.

Mas cravou 18,6%, em ascensão, tendo como pano de fundo cerca de R$ 3,8 trilhões em novos projetos investimentos privados e grandes obras de
infraestrutura.

A previsão é do BNDES para o período 2014 e 2018. 

O valor, apreciável em qualquer latitude do globo, separa a linha entre o país viável e aquele cronicamente inviável, disseminado pelo jogral dos ‘85%’ identificados por Kupfer.

Não só. O conjunto incide sobre um mercado de 200 milhões de habitantes.

Significa que o país tem hoje uma população equivalente a dos EUA nos anos 70. E uma renda pouco superior a 1/3 daquela dos norte-americanos nos anos 30. 

Com uma distinção dinâmica não negligenciável.

A distribuição, no caso brasileiro, é melhor que a registrada na sociedade norte-americana, atropelada então por 14 milhões de desempregados da crise de 29.

Essa obra prima dos livres mercados é um pouco o que a turma dos ‘85%’ quer ressuscitar no Brasil do século 21. 

Precisa para isso torturar de morte ingredientes dificilmente compatíveis com a sua receita de nação: uma população jovem, uma imensa demanda não
atendida, trilhões de reais mobilizáveis e recursos estratégicos abundantes, a exemplo do pré-sal.

A macroeconomia pura e simples jamais diria que estamos diante dos ingredientes de um fracasso, como aquele vaticinado dia e noite pela emissão
conservadora.

Mas a guerra das expectativas pode matar uma Nação.

Se conseguir convencê-la a rastejar por debaixo de suas possibilidades históricas.

Fonte:
http://www.cartamaior.com.br/templates/postMostrar.cfm?blog_id=6&post_id=1311

Leia também:
http://blogdosakamoto.blogosfera.uol.com.br/2013/09/04/ajustamos-o-termostato-do-planeta-para-nos-gratinar-lentamente/

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

As estatais estrangeiras e o mercado nacional

10/12/2012 - Mauro Santayana em seu blog

(Carta Maior) - Com a intenção de “normalizar e simplificar a governança estratégica” do gigantesco grupo de armamentos EADS, assegurando, ao mesmo tempo, que a Alemanha, a França e a Espanha, protejam os seus legítimos “interesses estratégicos”, os governos dos três países acabam de fechar  acordo para manter 24 por cento das ações nas mãos dos estados francês e alemão e 4 por cento sob propriedade do estado espanhol.

Mantêm, assim, o domínio do grupo, que controla, direta e indiretamente várias empresas prestadoras de serviços na área de defesa, no Brasil, como é o caso da Cassidian.

Enquanto no Brasil é pecado o Estado meter-se em outras áreas que não sejam segurança, saúde e educação, países admirados por muitos como paradigmas de capitalismo avançado e do livre-mercado, asseguram a propriedade  do Estado em áreas estratégicas da economia - e nem por isso o mundo vem abaixo. 

       Vamos aos fatos. A participação da Espanha no capital da EADS (abreviatura da denominação, em inglês, da European Aeronautic Defense Space Company), mediante a CASA (Construcciones Aeronauticas S.A) deve ser conhecida. Embora tenha nascido da iniciativa privada, em 1923, a empresa foi sendo absorvida pelo estado espanhol, a partir de 1943, e, desde 1992, a participação estatal é de 99,2%.


       Além da construção aeronáutica, o estado espanhol comanda as empresas ferroviárias, de construção, navais e de armamento. É com essas empresas que a Espanha quer invadir o mercado brasileiro, aproveitando o financiamento farto e barato no BNDES.

     O instrumento dessa operação é uma instituição chamada SEPI - Sociedade Estatal de Participações Industriais.

E atentem bem para a palavra estatal.

A SEPI - a exemplo de organizações congêneres como as existentes na Alemanha, na França, ou na Itália, com o IRI - não está presente apenas como sócio temporário, mas exerce sua tarefa permanente de controle nacional dos setores estratégicos da atividade econômica.

           No Brasil, esse é um assunto tabu. O BNDES pode financiar empresas estrangeiras, e até mesmo estatais, como é o caso da DCNS, que constrói o estaleiro onde serão montados os submarinos que compramos à França. No entanto, não admitem que o Brasil possa ter uma empresa estatal para assegurar diretamente a presença do Estado onde ela é necessária, seja como controlador, seja como indutor do processo de desenvolvimento, como ocorre lá fora.


O temor da opinião dos "analistas" do "mercado" e de certa parcela dos meios de comunicação, já totalmente entregue aos interesses estrangeiros, chegou a tal ponto que os maiores absurdos são vistos como absolutamente normais.

         É o caso, por exemplo, da projetada concessão operacional do Aeroporto do Galeão. Uma empresa controlada pelo Estado francês, a ADP 
(Aeroports de Paris) disse, claramente, que só entra no negócio se a INFRAERO (ou seja, o estado brasileiro) estiver em posição minoritária. E o governo brasileiro, como mostra a mudança no formato do modelo, obedece.

        É preciso definir o caminho correto para que o Brasil possa se desenvolver em ritmo acelerado sem abrir mão de sua autonomia e da sua soberania, agora e no futuro. 
       Ao contrário do que aconteceu no passado, e tem acontecido ainda, o BNDES só deveria financiar empresas autenticamente brasileiras, inclusive estatais, que possam negociar de igual para igual, em cada setor, com as estatais de outros países, como fazem, sem nenhum pudor, as outras nações.


Os estrangeiros que quiserem entrar no Brasil, principalmente no filé das obras de infraestrutura, que se submetam às nossas leis e condições - e tragam o seu próprio dinheiro. 

Fonte:
http://www.maurosantayana.com/2012/12/maior-com-intencao-de-normalizar-e.html

[Equipe Educom: outro que também clama por caminhos corretos, por um diagnóstico, por uma definição clara de objetivos e por uma estratégia para o futuro deste país é o professor J. Carlos de Assis, como pode ser visto aqui, em - Reaglutinar forças e novos rumos para o mundo.

Imagens: Goggle Images

Não deixe de ler: - O cerco do Ocidente à indústria brasileira de defesa