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quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Especialistas da Coppe fazem balanço da COP-17 e propõem atividades para a Rio+20


O Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas (FBMC) realizou uma reunião, no dia 19 de dezembro, para avaliação dos resultados e desdobramentos da 17ª Conferência das Partes da Convenção da ONU sobre Mudança do Clima (COP-17), realizada entre os dias 28 de novembro e 11 de dezembro, em Durban, na África do Sul. Na reunião, também foram apresentadas iniciativas de algumas entidades e instituições para a Rio+20 (Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável), que será realizada em junho de 2012.

Promovida por meio de uma parceria entre a Secretaria Executiva do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas (FBMC), o Grupo de Trabalho Mudança Climática, Pobreza e Desigualdades e o COEP, a reunião foi iniciada pelo presidente do COEP, André Spitz, no Auditório do Instituto Virtual Internacional de Mudanças Globais (IVIG/Coppe), localizado no Centro de Tecnologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

"O que saiu de Durban foi insuficiente”. Esse é o ponto de vista do diretor do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe/UFRJ) e secretário executivo do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas (FBMC), Luiz Pinguelli Rosa, numa avaliação sobre a prorrogação do Protocolo de Kyoto. “Canadá, Japão e Rússia saíram, o que não dá para festejar. Mas foi bom, foi um passo adiante, ainda que esvaziado”, relembra.
Pinguelli destacou a criação de um grupo que até 2015 vai elaborar uma proposta de acordo global para depois de 2020. “É menos do que nada, mas é pouco, pois não há diretrizes claras”, pontua, lembrando que, mais uma vez, uma conferência climática terminou com resoluções aquém das desejadas. “Mas política é assim mesmo e o mundo vive um momento difícil”, afirma, em referência à atual crise econômica global.

Mirando o futuro, entidades e instituições ligadas ao FBMC apresentaram sugestões de atividades que pretendem realizar na Rio+20, como a discussão dos impactos do desenvolvimento sustentável e das mudanças climáticas no mercado de trabalho, workshop proposto pelo movimento sindical. Já o Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (criado nos mesmos moldes que o Intergovernmental Panel on Climate Change, o IPCC) pretende divulgar o primeiro relatório de avaliação nacional do órgão.

No entanto, em termos gerais e independentemente das propostas apresentadas na reunião, Luiz Pinguelli afirmou temer que a Rio+20 “fique esvaziada por falta de ênfase”. “Não estou feliz com a agenda que está encaminhada para a Rio+20. Talvez fosse o caso, sem eliminar pontos, de focar na questão da pobreza e na mudança climática”, opina Pinguelli em relação aos 25 temas levantados pela sociedade brasileira para a discussão durante a Rio+20, que incluem assuntos de cultura, educação, agropecuária e empoderamento da mulher.

Diversos participantes destacaram que as discussões sobre mudanças climáticas devem estar associadas a questões como a pobreza, desigualdade e economia verde. À luz disso, foram apresentados também os resultados da pesquisa ‘Mudanças Climáticas, Desigualdades Sociais e Populações Vulneráveis no Brasil: Construindo Capacidades’, desenvolvida pelo Grupo de Trabalho (GT) de Mudança Climática, Pobreza e Desigualdades, coordenado pelo COEP. O trabalho estudou o impacto das mudanças climáticas junto às comunidades pobres – consideradas as mais vulneráveis aos efeitos do aquecimento global.

Quando falamos de vulnerabilidade, as mudanças climáticas são mais um ponto agravante. Precisamos ficar atentos a esse tema porque isso só vai piorar a situação dessas pessoas”, explica Gleyse Peiter, coordenadora do GT.

Durante a reunião, foram lançados dois livros relacionados a subgrupos dessa pesquisa, editados com apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq): ‘Mudanças Climáticas, Vulnerabilidades e Adaptação’, de Renato Maluf e Teresa da Silva Rosa, e ‘Mudanças Climáticas, Pobreza e Desigualdade’, de Anna Peliano.

O primeiro livro traz os resultados do subprojeto ‘Populações Vulneráveis’, coordenado pelos professores Renato Maluf, do Centro de Referência em Segurança Alimentar e Nutricional (Ceresan), e Teresa Rosa, do Centro Universitário Vila Velha. O trabalho teve como foco os impactos regionais e as vulnerabilidades de populações de baixa renda em três biomas (Amazônia, Caatinga e Cerrado) e duas regiões metropolitanas (ambas em área de Mata Atlântica), que enfrentaram episódios relevantes de eventos climáticos, constituindo cinco estudos de caso.

O outro livro, ‘Mudanças Climáticas, Pobreza e Desigualdade’, reúne os resultados do subprojeto ‘Empresas’, coordenado pela socióloga Anna Peliano, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que investigou se as empresas têm contemplado em seus investimentos sociais o impacto das mudanças climáticas sobre as populações vulneráveis.

Os dois livros integram a Coleção Cidadania em Rede e estão disponíveis em formato eletrônico no site do COEP
 
(www.coepbrasil.org.br/portal/publico/apresentarCadernos.aspx).
 
 
Fonte: http://www.coepbrasil.org.br/portal/Publico/apresentarConteudo.aspx?CODIGO=C20111219105912114&TIPO_ID=1

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

A água em primeiro lugar



por Joshua Kyalimpa, da IPS
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A falta de acesso a água requer uma solução urgente na África austral. Foto: Mantoe Phakathi/IPS
Durban, África do Sul, 7/12/2011 – Ganham força os esforços para que a água seja incluída como capítulo com peso próprio nas negociações internacionais sobre a mudança climática, que acontecem até o dia 9 nesta cidade. Segundo especialistas em temas hídricos, dessa forma se conseguiria maior ênfase no desenvolvimento de políticas e na atração de recursos para este setor mediante programas de adaptação.
“A primeira coisa que cada um de nós usa ao se levantar pela manhã é água, e também quando vai para a cama. De todo modo, é dada como certa”, disse Chris Moseki, gerente de pesquisa na sul-africana Comissão de Pesquisa da Água, que integra a sociedade Mundial para a Água.
A falta de água é um problema grave na África austral, onde afeta quase cem milhões de pessoas. A região ficará mais quente e mais seca nos próximos 50 a cem anos, o que colocará em risco o fornecimento hídrico de estabelecimentos agrícolas, industriais e famílias, além de ameaçar os ecossistemas, indicam modelos traçados pelo Conselho de Pesquisa Científica e Industrial, da África do Sul.
Especialistas e políticos preocupam-se com o fato de o planejamento sobre mudanças na disponibilidade de água não estar recebendo o destaque que merece. O secretário-executivo do Conselho de Ministros Africanos sobre a Água, Bai-Mass Taal, disse que o grupo trabalha para elevar o perfil dos temas hídricos na 17ª Conferência das Partes (COP 17) da Convenção Marco das Nações Unidas sobre Mudança Climática, que acontece nesta cidade sul-africana.
“Dizemos às partes: apreciamos o que estão fazendo em outros setores, mas, sem abordar os temas hídricos diretamente, tudo isso será em vão”, advertiu Taal. No momento, os assuntos relativos à água são discutidos como parte do planejamento, da adoção de prioridades e implantação da adaptação a um clima mutante.
Enquanto se espera que cada vez mais países sofram escassez hídrica, a atual posição da água nas conversações climáticas é inadequada, disse a secretária-executiva da Associação Mundial para a Água, Ania Grobicki. “O produto interno bruto de muitos países menos adiantados depende da água. Mais de 50% dos alimentos do mundo procederão da África no futuro, e isto depende da disponibilidade de água. É por esta razão que este debate deveria ir mais além”, afirmou.
Mais de 70% da população da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral depende diretamente da agricultura, principalmente da obtida apenas com água de chuva. As projeções do Conselho de Pesquisa Científica e Industrial estão entre as muitas que chamam a atenção para o efeito que terão sobre a população africana as mudanças previstas nos padrões de chuvas, os limitados recursos destinados à adaptação e a falta de instituições para regular o aproveitamento dos rios.
Desafios similares são previstos para o resto do mundo, mas a falta de irrigação e de infraestrutura geral na África é um fator que multiplica a necessidade de uma intervenção urgente. Ao mudarem os padrões das chuvas, a África enfrenta crises importantes. Em 2010, milhões foram vítimas da fome em Níger e Mali devido a uma seca que afetou os produtores agropecuários. Este ano, o Chifre da África enfrenta sua pior seca em 50 anos, e milhões sofrem fome por esse motivo. Segundo o Programa Mundial de Alimentos (PMA) da Organização das Nações Unidas (ONU), cerca de 12,3 milhões de pessoas necessitam de assistência de emergência nessa região.
A comissária da União Africana para a Economia Rural e a Agricultura, Rhoda Peace, disse que, quando os líderes do continente falam sobre a mudança climática, invariavelmente se referem a secas e inundações, o que mostra que a água já é uma prioridade. Em 2008, os chefes de Estado africanos resolveram colocar a água e o saneamento como prioridade continental.
“Os governantes acordaram destinar pelo menos 0,5% de seu orçamento nacional para a água”, disse Peace. “Que este seja realmente o caso é outra história, mas alguns países estão indo muito bem e podem conseguir seus objetivos”, acrescentou. Brindar um acesso adequado a água em toda a África custará milhares de milhões de dólares. E, para os muitos governos africanos que não honram compromissos anteriores, não será possível arrecadar as somas necessárias sem apoio.
O coordenador para a África oriental da Associação Mundial para a Água, Simon Thuo, declarou estar surpreso pelo fato de inclusive as propostas do grupo de negociadores africanos mencionarem a água apenas superficialmente. Como outros especialistas, Thuo acredita que, mesmo se as negociações climáticas abordarem de maneira específica a administração desse elemento essencial, não receberá a atenção nem o financiamento necessários.

Envolverde/IPS