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sexta-feira, 22 de junho de 2012

Manifestantes denunciam “captura” da ONU por corporações

21/06/2012 - por Igor Ojeda
original publicado na Carta Maior

Rio de Janeiro - Ativistas de movimentos sociais e ONGs de todo o mundo realizaram nesta quinta-feira (21) um protesto em pleno Rio Centro, onde acontece a Rio+20, para denunciar a “captura do sistema das Nações Unidas pelas corporações”, refletida, segundo eles, no conceito de “economia verde” e na debilidade do Rascunho Zero, declaração do encontro acertada pelas delegações dos países participantes.

Três ativistas deram início ao ato vestidos como executivos e segurando um cartaz que continha o mapa do mundo rodeado por marcas de grandes corporações, como Coca-Cola, Nestlé e Bayer, e a frase Este é o mundo que compramos. Em seguida, juntaram-se a eles outros manifestantes – um pouco mais de 100 –, que começaram a gritar palavras de ordem contra a mercantilização da natureza e a “ilegitimidade” da Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável, nome oficial da Rio+20.

Após todos se sentarem, teve início o que eles chamaram de “Assembleia dos Povos”, daqueles que, de acordo com os manifestantes, são as verdadeiras vozes do mundo. “Nós, a sociedade civil, rejeitamos esse texto [o Rascunho Zero]. Ele não avança nem um centímetro. É falho em ambição e visão”, disse um dos ativistas.

A Rio+20 diz que a economia verde nos salvará. A economia verde é uma mentira, ela vende a natureza”, afirmou outro.

Para outra manifestante, as verdadeiras soluções para as diversas crises do mundo atual estão vindo da Cúpula dos Povos, que acontece paralelamente ao evento oficial. Grupos feministas, indígenas e representantes da sociedade civil de vários países também discursaram.

Por ter sido realizado em uma área de grande circulação – entre os pavilhões 3 e 5 do Rio Centro –, o protesto chamou bastante atenção. Por duas vezes, a segurança do evento solicitou que fossem para outro espaço; por duas vezes, o pedido foi recusado após votação.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Haiti: terremoto é desastre natural, mas a pobreza extrema, não

Mídia relaciona efeitos graves do terremoto com a pobreza extrema, mas não diz por que o país caribenho é tão subdesenvolvido
por Eduardo Sales de Lima e Igor Ojeda, do Brasil de Fato

As imagens das TVs de todo o mundo mostram um verdadeiro inferno. Destruição total, corpos estirados, homens e mulheres aos prantos. Os relatos dos repórteres nos jornais que foram a campo não são diferentes. Saques a supermercados, violência, desespero.

Quase em uníssono, os meios decretaram: os efeitos do terremoto de 7 graus na escala Richter ocorrido no dia 12 no Haiti são ainda mais graves devido à extrema pobreza em que vive a população do país, o de menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do hemisfério ocidental. A análise um tanto óbvia não é incorreta, mas a imprensa em geral “esqueceu-se” de explicar o porquê de tanta miséria, praticamente naturalizando o subdesenvolvimento acentuado do Haiti.

“É preciso que se diga que se, de fato, as causas da tragédia são naturais, nem todos os efeitos o são”, opina Aderson Bussinger Carvalho, advogado e ex-conselheiro da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) que visitou o país em julho de 2007. “É preciso saber que indústrias exploram a mão-de-obra barata haitiana, cujos produtos são exportados para o mercado dos EUA, assegurando imensos lucros que não se revertem em favor do povo. As casas construídas somente com areia, a ausência de hospitais, a falta de luz e água... tudo isso vem de antes do terremoto”, afirma.

Pobreza extrema
Atualmente, 80% dos haitianos vivem abaixo da linha de pobreza, sendo que 54% se encontram na extrema pobreza. A mortalidade infantil é de cerca de 60 mortes para cada mil nascimentos (no Brasil, a proporção está em torno de 22 para mil), a expectativa de vida é de 60 anos e o analfabetismo atinge 47,1% da população.

Além disso, o país sofre com a falta de infra-estrutura e indústria nacional. As estradas são bastante precárias, assim como as áreas de energia, telecomunicações e transporte. Dois terços dos haitianos dependem da agropecuária para sobreviver, enquanto apenas 9% trabalham em fábricas, em sua maioria nas chamadas maquiladoras, unidades especializadas em produção de manufaturados para exportação que se utilizam de mão-de-obra barata. “Durante o ano de 2009, percorremos todo o Haiti. Nossa brigada percorreu dez departamentos e conhecemos a situação de pobreza em que vive a imensa maioria da sociedade haitiana”, relata José Luis Patrola, militante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e integrante da Brigada Internacionalista Dessalines da Via Campesina, que atua com as organizações camponesas do país.

Triste e estranha realidade para uma nação que foi a segunda das Américas a se tornar independente (da França) e a primeira a abolir a escravidão, em 1804. Ou seja, que tinha tudo para oferecer uma vida digna para seus habitantes.

Construção histórica
“A pobreza extrema do Haiti é uma construção histórica bi-centenária, produto da incessante intervenção colonialista e imperialista, em boa parte devido precisamente a ter sido o Haiti a primeira e única nação negreira onde os trabalhadores escravizados insurrecionados obtiveram a liberdade. Isso após derrotar expedições militares francesa, inglesa e espanhola”, explica Mário Maestri, historiador e professor do Programa de Pós Graduação em História da Universidade de Passo Fundo (UPF), no Rio Grande do Sul.

Segundo ele, a partir de então, o Haiti passou a ser temido pelos EUA, pois poderia servir como exemplo aos escravos estadunidenses. Assim, o país passou a “ser objeto de bloqueio quase total, desde seus primeiros anos, pelas nações metropolitanas e americanas independentes. Já em 1825, foi obrigado a pagar, sob pena de agressão militar, pesadíssima indenização à França. Conheceu nas décadas seguintes intervenções militares dos EUA, que, mesmo após a desocupação, em 1934, transformaram o país em semi-colônia, sobretudo através das sinistras ditaduras dos Duvaliers, Papa Doc e seu filho (entre 1957 e 1986)”.

De acordo com Osvaldo Coggiola, professor de História Contemporânea da Universidade de São Paulo (USP), o Haiti não é uma exceção na região em que se encontra, mas um caso extremo da dominação imposta pelos países centrais do capitalismo. Assim, para ele, “atribuir seus males à incapacidade da sua população, descendente de escravos forçados a trabalhar na ilha pelos colonialistas franceses, é um conceito abertamente racista. A classe dominante, ela sim, é corrupta até a medula. Se chegar ajuda para o governo local, vão roubar, para vender e chantagear a população”. Mais