Companheiros e companheiras,
Por razões de saúde que me prendem em casa, não pude e estar ai com
vocês. Que valha essa pequena mensgem.
Lamento profundamente que a discussão do Código Florestal foi colocada
preferentemente num contexto econômico, de produção de commodities e
de mero crescimento econômico.
Isso mostra a cegueira que tomou conta da maioria dos parlamentare e
também de setores importantes do Governo. Não tomam em devida conta as
mudanças ocorridas no sistema-Terra e no sistema-Vida que levaram ao
aquecimento global.
Este é apenas um nome que encobre práticas de devastação de florestas
no mundo inteiro e no Brasil, envenenamento dos solos, poluição
crescente da admosfera, diminuição drástica da biodiversidade, aumento
acelerado da desertificação e, o que é mais dramático, a escassez
progresiva de água potável que atualmente já tem produzido 60 milhões
de exilados.
Aquecimento global significa ainda a ocorrência cada vez mais
frequente de eventos extremos, que estamos assistindo no mundo inteiro
e mesmo em nosso pais, com enchentes devastadoras de um lado,
estiagens prolongadas de outro e vendavais nunca havidos no Sul do
Brasil que produzem grandes prejuizos em casas e plantações
destruidas.
Só cegos e estupidificados pela ganância do lucro não vêem as conexões
causais entre todos estes fenômenos.
A Terra está doente. A humanidade sofredora de 860 milhões passou,
por causa da crise econômico-financeiro dos paises opulentos, onde
grassam ladrões, salteadores de beira de estrada das economias
populares, a um bilhão e cem milhões de pessoas.
Consequência: a questão não é salvar o sistema econômico-financeiro,
não é produzir mais grãos, carnes e commodities em geral para exportar
mais e aumentar o lucro.
A questão central é salvar a vida, garantir as condições
fisico-químicas e ecológicas que garantem a vitalidade e integridade
da Terra e permitir a continuidade de nossa civilização e do projeto
planetário humano. A Terra pode viver sem nós e até melhor. Nós não
podemos viver sem a Terra. Ela é nossa única Casa Comum e não temos
outra. Ela é a Pacha Mama dos andinos, a grande mãe, testemunhada por
todos os agricultores e a Gaia, da ciência moderna que a vê como um
superorganismo vivo que se autoregula de tal forma que sempre se faz
apto para produzir e reproduzir vida.
Então, é nossa obrigação manter a floresta em pé. É uma exigência da
humanidade, porque ela pertence a todos, embora gerenciada por nós . O
equilíbrio climático da Terra e a suficiência de água para a
humanidade passa pela floresta amazônica. É ela que sequestra carbono,
nos devolve em oxigênio, em flores, frutos e biomassa. Por isso temos
que manter nossas matas ciliares para garantir a perpetuidade dos rios
e a preservação da pegada hidrológica (o quanto de água temos a nossa
disposição). É imperioso não envenenar os solos pois os agrotóxicos
alcançam o nivel freático das águas, caem nos rios, penetram nos
animais pelos alimentos quimicalizamos e acabam se depositando dentro
de nossas células, nos entoxicando lentamente.
A luta é pea vida, pelo futuro da humanidade e pela preservação da Mãe
Terra. Vamos sim produzir, mas respeitando o alcance e o limite de
cada ecossistema, os ciclos da natureza e cuidando dos bens e serviços
que Mãe Terra gratuita e permanentemente nos dá.
Que devolvemos à Terra como forma de gratidão e de compensação? Nada.
Só agressão, exaustão de seus bens. Estamos conduzindo, todos juntos,
uma guerra total contra a Terra. E não temos nenhuma chance de
ganharmos essa guerra. Temo que a Mãe Terra se canse de nós e não nos
queira mais hospedar aqui. Ela poderá nos elimiar como eliminamos uma
célula cancerígena. Devemos devolver seus beneficios, com cuidado,
respeito, veneração para que ela se sinta mãe amada e protegida e nos
continue a querer como filhos e filhas queridos.
Mas não foi a devastação que fomos criados e estamos sobre esse
ridente Planeta. Somos chamados a ser os cuidadores, os guardiães
desta herança sagrada que o Universo e Deus nos entregaram. E vamos
sim salvar a vida, proteger a Terra e garantir um futuro comum, bom
para todos os humanos e para a toda a comunidade de vida, para as
plantas, para os animais, para os demais seres da criação.
A vida é chamada para a vida e não para a doença e para morte. Não
permitiremos que um Codigo Florestal mal intencionado ponha em risco
nosso futuro e o futuro de nossos filhos, filhas e netos. Queremos que
eles nos abençoem por aquilo que tivermos feito de bom para a vida e
para a Mãe Terra e não tenham motivos para nos amaldiçoar por aquilo
que deixamos de fazer e podíamos ter feito e não fizemos.
O momento é de resistência, de denúncia e de exigências de
transformações nesse Código que modificado honrará a vida e
alegrará a grande, boa e generosa Mãe Terra.
Leonardo Boff
Companheiro de lutas e de esperança
Petropolis, RJ, 7 de maio de 2011.
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