06/02/2014 - Rogério Grassetto Teixeira da Cunha (*)
- Correio da Cidadania
O governo, fazem já dois anos, ou muito mais que isso, se contarmos toda a história das tentativas ao longo das últimas décadas, lançou-se de cabeça na insanidade de construir esta
famigerada usina.
Não repetirei aqui toda a história de erros, ilegalidades e mentiras acumulados ao longo deste percurso, analisada extensamente nesta coluna por Rodolfo Salm.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj3_et0Q8DWZBNDxhtG1GFjOjxWTsBY7kWBOOFUhcw3NPXfkLTwtx6fXJ0O2wxxalF4efy17qccb-oQ69ibDZkGxwXFJNHU2ToFVOB8KwQtMw877j7vzuL5SzNCEG2w5Gyy38SyszWvB8s/s1600/estrutura+(2).jpg)
Pode ser uma mera coincidência, claro, ou um viés pessoal meu, pois esporadicamente pipocaram aqui e ali algumas matérias mostrando os problemas da obra. Mas achei o “timing” no mínimo curioso (seria por causa da eleição, pergunto retoricamente?).
Já no site da Folha, um material muito bem produzido abre caminho para que a população desinformada do nosso “sul
maravilha” conheça um pouco dos impactos da obra.
Só as fotos do canteiro de obras deixam, sob o ponto de vista da natureza, qualquer filme da série “Sexta-Feira 13” no chinelo.
Apesar disto tudo, a usina será ligada, a exploração mineral vai ocorrer na região e o desmatamento e degradação vão aumentar o volume de suas trombetas do apocalipse.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEghXmOz7Cj2DF8zlnJX23zuGqRx56eRnfuNwB5RKtYX6haAQ_GksoyPZvcEXtPtsl7PqkTp4jeeaujxrex-VDqiU72Bj18PXGt2Mch2J0c-1tnPYAjKaaJhZ5YGMSOHMx2Q79_IjO4eRl4/s1600/amazonia_belo_monte.jpg)
Não é com nenhuma felicidade (muito pelo contrário) que diremos: nós avisamos. Nós, ambientalistas, sempre ressaltamos alguns dos reais motivos das obras: favorecer setores industriais eletro-intensivos e um modelo de ocupação na Amazônia que não irá beneficiar a população local (exceto com as costumeiras migalhas), mas sim grandes capitais externos e internos.
Ao fazermos isto, as reações de sempre: fomos taxados de contrários ao desenvolvimento, de jogarmos um bagre no colo de Lula, de estarmos na contramão do progresso etc. O velho e cansativo ramerrão. Mas este será um caso em que demonstrar estar-se certo trará muita tristeza e melancolia, não alegria.
O pessimismo do artigo advém também do fato de que a sanha dos barrageiros na Amazônia é imensa, e que seu desrespeito por tudo (regras, bom senso, ambiente, população local) é
absoluto.
Em ano eleitoral, quando a necessidade de mostrar serviço é maior, podemos esperar novos avanços sobre a Amazônia.
E também, escrevam aí, nos próximos anos veremos políticos e economistas defendendo aquilo que, quando do debate sobre a construção ou não de Belo Monte, foi “prometido” que não seria feito: a instalação de novas barragens rio Xingu acima.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh8lsFAEXlve_1bMZ0zdVniWJgPcBooyRFlpygJfqxQIyjRYb6rB3uQ4Sjoz1Ooem74wSJQItWkYqq11rLrE1bSgz2x4S6XdHh4YQZ3XUGJaSrpUzVffZjtM1kqRkh_Xclb0jL80r9FdjI/s1600/corredeiras+(2).jpg)
Cada vez mais aparecerão artigos nos jornalões e comentaristas dos grandes veículos defendendo esta ideia.
Isto porque a região amazônica é vista pelos barrageiros, pelos governos e pelas empreiteiras, que coincidentemente financiam campanhas e constroem barragens (ou seria o oposto? Nunca sei ao certo.), como a grande fronteira hidrelétrica do país.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi_ve2Zomip_NZwnhb88pK2woZf2qkfpBUdTfcjsMxP4MsMZq3IjZt6S3gDIZPGwLV7VNZml0-_YEVDqkZ8wPIGklkMMB75VAauXBhL3roJZLJ8h4aORtM8vHrZyYsNjpGAOZ2vWlZTg7Q/s1600/acionistas-norte-energia.png)
Mas a importância dada ao meio ambiente no Brasil é, infelizmente, infinitamente menor que ao futebol, embora os desmandos e tapetões guardem sórdida semelhança.
Um outro motivo para pessimismo é justamente o fato de tratar-se de ano eleitoral. E anos eleitorais não são mesmo época para se apertar a fiscalização.
Embora reconhecendo os avanços sociais nestes quase 12 anos de governo petista, também entendo que seu pior desempenho foi na área ambiental. E os governantes do partido serão cobrados duramente por isto pela história, que, com o passar dos anos, dará muito mais destaque a esta chaga do que ao belo show do assim chamado “mensalão”.
Alianças com líderes locais são melindrosas, e eles não devem ser provocados. De mais a mais, a atenção de boa parte da opinião pública estará voltada para mais um round do UFC PT x PSDB (embora a dupla Marina/Campos esteja doida para entrar no octógono e melar a disputa), o que provavelmente deixará brechas para os desmatadores.
Provavelmente, ocorrerá mais outro oba-oba de manifestações acéfalas e genéricas (muitas delas ocas, como a maioria das de junho, ou manipuladas por este ou aquele esperto tentando tirar uma casquinha eleitoral).
Nelas, falar-se-á de quase tudo (principalmente de lemas pequeno-burgueses “contra a corrupção”), menos de meio ambiente, deixando os destruidores sempre muito à vontade.
(*) Rogério Grassetto Teixeira da Cunha, biólogo, é docente da Universidade Federal de Alfenas-MG e, apesar do pessimismo, lá no fundo tem sempre uma esperança.
Fonte:
http://www.correiocidadania.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=9231:meioambiente060114&catid=28:ambiente-e-cidadania&Itemid=57
Nota:
A inserção das imagens, quase todas capturadas do Google Images, são de nossa responsabilidade, pois inexistem no texto original.