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quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Sírios acusam a Arábia Saudita pelo fornecimento de armas químicas

03/09/2013 - por Dale Gavlak and Yahya Ababneh
- publicado por Thoth3126
- Submetido por Tyler Durden em 30/08/2013
Tradução, edição e imagens: Thoth3126@gmail.com
http://www.zerohedge.com 

Sírios sobreviventes em Ghouta acusam a Arábia Saudita pelo fornecimento de armas químicas para ataque dos rebeldes.

Como nós mostramos poucos dias atrás, parece que a verdade sobre quem é o verdadeiro mestre dos fantoches no Oriente Médio está se tornando mais e mais claro de ser observado.

Enquanto o presidente Obama esta ”certo” de que os ataques químicos ocorreram por ordem de al-Assad, a MPN reporta e publica algo bem diferente.

A discussão incrivelmente franca entre  e chefe da espionagem na Arábia Saudita, o príncipe Bandar e Vladimir Putin presidente da Rússia, denunciou um complô muito mais profundo que está em andamento na Síria e com os seguintes detalhes das pessoas reais no terreno na região (Ghouta) quimicamente atacada da Síria que sugerem que o (des)governo de Barack Obama está caindo direto no plano dos sauditas.

Enquanto o presidente Obama está “certo” de que os ataques químicos ocorreram por ordem de al-Assad, a MPN reporta e publica algo bem diferente, com inúmeras entrevistas com médicos residentes em Ghouta, com combatentes rebeldes e suas famílias, um quadro completamente diferente começa a emergir da situação.

O príncipe da Arabia Saudita Bandar bin Sultan, chefe do serviço de inteligência da Arábia Saudita.

Muitos acreditam que "certos rebeldes receberam armas químicas através do chefe da inteligência saudita, o príncipe Bandar bin Sultan, e que os rebeldes foram responsáveis por realizarem o ataque com gás venenoso que matou cerca de um mil e quinhentas pessoas.“

A narrativa dos fatos para consumo público trombeteada pela mídia controlada é bem conhecido e bastante claro – tudo foi culpa de Bashar al-Assad.

Mas a realidade pode ser outra …

Via MPNa partir de inúmeras entrevistas com médicos, de pessoas residentes em Ghouta, de combatentes rebeldes e suas famílias, um quadro diferente emerge. Muitos acreditam que certos rebeldes receberam armas químicas, através do chefe de inteligência saudita, o príncipe Bandar bin Sultan, e que eles foram responsáveis por realizar o ataque com gás venenoso.

Meu filho (um rebelde) veio conversar comigo há duas semanas, perguntando o que eu pensava sobre as armas que ele havia sido convidado a utilizar”, disse Abu Abdel-Moneim, o pai de um combatente rebelde lutando para derrubar Assad, que mora em Ghouta.

Abdel-Moneim disse que o seu filho e outros 12 rebeldes foram mortos dentro de um túnel usado para armazenar armas fornecidas por um militante saudita, conhecido como Abu Ayesha, que estava liderando um batalhão de luta dos rebeldes.

O pai descreveu as armas como tendo uma “estrutura do tipo tubular”, enquanto outras armas eram como uma “enorme garrafa de gás”.

Os  habitantes da cidade de Ghouta disseram que os rebeldes estavam usando mesquitas e casas particulares para dormir enquanto o armazenamento de suas armas era feito em túneis.

Cerca de um mil e quinhentas pessoas morreram na região de Ghouta vitimadas pelo uso de armas químicas.

Abdel-Moneim disse que seu filho e os outros “rebeldes” morreram durante o ataque com armas químicas. Nesse mesmo dia, o grupo militante Jabhat al-Nusra, que está ligado à al-Qaeda, anunciou que seria semelhante atacar civis no reduto do regime de Assad em Latakia na costa oeste da Síria, em uma suposta retaliação.

Eles não nos disseram o que essas armas eram ou como usá-las“, queixou-se uma lutadora rebelde chamada ‘K.’ ”Nós não sabíamos que elas eram armas químicas. Nós nunca imaginaríamos que fossem armas químicas.

Quando o príncipe saudita Bandar dá tais armas para as pessoas, ele deveria dar para aqueles que soubessem como lidar e usá-las”, ela advertiu.

Ela, assim como outros rebeldes sírios combatentes, não quer usar seu nome completo por medo de represálias.

Um líder rebelde conhecido em Ghouta chamado como ‘J’ concordou. “Militantes da al-Nusra Jabhat não cooperam com outros rebeldes, exceto com os combates em terra. Eles não compartilham informações secretas. Eles simplesmente usaram alguns (n.t. imbecis) rebeldes comuns para transportar e operar este material “, disse ele.

Nós estávamos muito curiosos sobre essas armas. E, infelizmente, alguns dos nossos combatentes manusearam indevidamente essas armas e detonaram-nas, declarou o combatente rebelde ’J’.

Médicos que atenderam as vítimas das explosões das armas químicas advertiram aos entrevistadores que deveriam ter cuidado com perguntas a 
respeito de quem, exatamente, foi o responsável pelo mortal ataque.

O grupo humanitário Médicos Sem Fronteiras acrescentou que os trabalhadores de saúde que auxiliaram e socorreram os mais de 3.600 pacientes também relataram ter sintomas semelhantes, incluindo espumar pela boca, dificuldade respiratória, convulsões e visão embaçada.

O grupo de Médicos sem Fronteiras não foi capaz de verificar as informações de  forma independente.

Mais de uma dúzia de combatentes “rebeldes” (ou melhor seria dizer mercenários?) entrevistados relataram que seus salários SÃO PAGOS pelo
governo SAUDITA.

Sobre os autores deste relatório:

Dale Gavlak é correspondente no Oriente Médio para a Mint Press News e Associated Press. Gavlak esta estacionado em Amã, capital da vizinha Jordânia para a Associated Press por mais de duas décadas. Um especialista em assuntos do Oriente Médio, Gavlak cobre atualmente a região do Levante do Oriente Médio para a AP, National Public Radio e Mint Press News, escrevendo sobre temas como política, questões sociais e as tendências econômicas. Dale tem um mestrado em Estudos do Oriente Médio da Universidade de Chicago. Contate Dale em dgavlak@mintpressnews.com 

Yahya Ababneh é um jornalista freelancer jordâniano e está atualmente trabalhando em um mestrado em jornalismo, ele cobriu eventos na Jordânia,
Líbano, Arábia Saudita, Rússia e Líbia. Suas histórias têm aparecido em Amã Net, Saraya News, Gerasa News e em outros lugares.

Para aqueles que podem ter esquecido, aqui estão os detalhes que foram expostos alguns dias atrás … 

Quais foram algumas das revelações impressionantes feitas pelos sauditas? 
Primeiro esta: 

O príncipe saudita Bandar disse a Vladimir Putin, presidente da Rússia,

“Temos muitos valores em comum. E objetivos que nos unem, principalmente a luta contra o terrorismo e o extremismo em todo o mundo. A Rússia, os EUA, a União Europeia e os sauditas concordam com a promoção e consolidação da paz e da segurança internacional."

"A ameaça terrorista está crescendo em função dos fenômenos gerados pela Primavera Árabe. Perdemos (n.t. O CONTROLE de) alguns regimes. E o que temos em troca foram experiências terroristas, como evidenciado pela experiência da Irmandade Muçulmana no Egito e os grupos extremistas na Líbia”. …

“Como um exemplo, eu posso te dar uma garantia para proteger os Jogos Olímpicos de Inverno na cidade de Sochi, no Mar Negro no próximo ano.

Os grupos tchechenos que ameaçam a segurança dos jogos são controlados por nós, e eles não vão se mover em direção ao território da Síria sem uma coordenação conosco.

Esses grupos não nos assustam. Nós os usamos para enfrentar o regime sírio, mas eles não terão nenhum papel ou influência no futuro político da Síria“

É bom saber que os sauditas admitiram que eles controlam uma organização terrorista criminosa que “ameaça a segurança” dos Jogos Olímpicos de Inverno de Sochi 2014, e que a casa de SAUD os usa “contra o regime sírio“. Talvez a próxima vez que houver um atentado em Boston por alguns terroristas chechenos relacionados, alguém pode perguntar a Arábia Saudita que, se por acaso, eles saberiam algo a respeito.

Mas a peça de resistência é o que aconteceu no final do diálogo entre os dois homens, o presidente da Rússia e o príncipe saudita, o chefe do serviço de inteligência da Arábia Saudita.

Foi, em poucas palavras, uma ameaça feita pela Arábia Saudita que apontou diretamente para a Rússia.

Assim que Putin terminou seu discurso, o príncipe Bandar advertiu que, à luz do curso das negociações, as coisas estavam propensas a intensificar-se, especialmente na arena da Síria, embora tenha apreciado a compreensão dos russos sobre a posição da Arábia Saudita, o Egito e a sua prontidão para apoiar o exército egípcio, apesar de seus medos com o futuro do Egito.

O príncipe e chefe dos serviços de inteligência saudita disse que a disputa sobre a abordagem da questão síria leva à conclusão de que:

Não há como escapar da opção militar (o que a Rússia NÃO aceita), porque é a única opção disponível no momento, uma vez que o acordo político terminou em um impasse. Acreditamos que a Conferência de Genebra II vai ser muito difícil, tendo em conta esta situação violenta“.

No final da reunião, os dois lados, a Rússia e a Arábia Saudita concordaram em continuar as negociações, desde que a reunião atual permanecesse em segredo.

Isso foi antes de um dos dois lados vazar a notícia através da imprensa russa.

Desde que agora nós sabemos tudo sobre o assunto, significa que não há mais negociações, um aviso implícito de que os chechenos operando na 
proximidade de Sochi podem apenas tornar-se um canhão perdido (com a bênçãos da Arábia Saudita, óbvio), e que cerca de um mês atrás foi dito:

Na SÍRIA não há como escapar de uma opção militar, porque é a única opção disponível no momento, uma vez que o acordo político terminou em impasse

Enquanto isso a humanidade…
E tudo isso PREDETERMINADO por um príncipe saudita, e tudo em nome de perpetuar a hegemonia dos petrodólares.

Mais uma vez lembramos:

A Rússia e a Arábia Saudita SÃO RESPONSÁVEIS PELA PRODUÇÃO DE 25% da produção mundial de petróleo, mas muito mais
importante estão ausentes do acordo Qatar NatGas (e um gasoduto potencial cruzando a região sob o GOVERNO DE UM NOVO regime sírio receptivo - ou seja, sem Assad - e indo para a Turquia), a Europa permanece em dívida com todos os caprichos dos movimentos de Putin e a Gazpromia.

O pequeno Estado do Qatar, muito rico em gás repassou até US$ 3 bilhões em ARMAS ao longo dos últimos dois anos para apoiar a rebelião (conduzida por 
mercenários) na Síria contra Assad, ultrapassando qualquer outro governo nesse período, mas agora está sendo posto de lado pela Arábia Saudita como a principal fonte fornecedora de armas para os “rebeldes da Síria“.

Permitida a reprodução, desde que mantido no formato original e mencione as fontes.

www.thoth3126.com.br

Fonte:
http://thoth3126.com.br/sirios-acusam-a-arabia-saudita-pelo-fornecimento-de-armas-quimicas/

Leia também:  http://contextolivre.blogspot.com.br/2013/09/o-cairo-damasco-e-hipocrisia-norte.html

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

O mundo aprende a andar sem os EUA

28/08/2013 - Spengler [*] em 19/08/2013, no Asia Times Online
- Excerto traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

O barulhão assustador que se está ouvindo, como eu já disse dia 15/8 na CNBC, é a implosão da influência norte-americana no Oriente Médio.

oferecimento que Vladimir Putin [foto] fez, dia 17/8, de ajuda militar ao exército egípcio, depois que o presidente Obama cancelara exercícios militares conjuntos com egípcios, mostra o ponto mais baixo da curva da importância dos EUA em todo o pós-Guerra Fria.

Rússia, Arábia Saudita e China trabalham juntas para tentar minimizar o dano provocado pelos erros dos norte-americanos. É precisamente o que fazem, em silêncio, há mais de um ano.

O alarme soou para a democracia egípcia, quando a Fraternidade Muçulmana ergueu-se de seu passado tenebroso, mas nem assim a Washington oficial acordou.

O Egito estava à beira de morrer de fome, quando os militares depuseram Mohamed Mursi.

A maior parte dos pobres no Egito já estava há meses vivendo do pão subsidiado pelo estado, e até o fornecimento desse pão estava ameaçado. Os militares trouxeram US$12 bilhões de ajuda recebida dos estados do Golfo, o suficiente para evitar uma catástrofe humanitária.

A realidade é essa. É a única coisa sobre a qual Rússia, Arábia Saudita e Israel concordam.

A atitude errática, vacilante, dos EUA sobre o Egito, não é só erro estúpido, tolo, mas uma completa catástrofe institucional.

O presidente Obama cercou-se de uma camarilha, com Susan Rice como Conselheira de Segurança Nacional, ladeada por Valerie Jarrett, milionária da indústria da construção de moradias públicas nascida no Irã.

Comparada à equipe de Obama, o pessoal de Zbigniew Brzezinski [foto] eram colossos intelectuais no Conselho de Segurança Nacional de Jimmy Carter.

Essa gente agora são amadores e ninguém jamais consegue prever o que inventarão, de hoje para amanhã. (...) 

E tampouco interessa o que digam os especialistas do Partido Republicano. Poucos Republicanos eleitos discutirão com McCain [foto abaixo], porque os eleitores já não suportam ouvir falar de Egito e já não confiam nos Republicanos, depois dos fracassos no Iraque e no Afeganistão.

Nenhum dos dois partidos tem capacidade institucional para deliberar inteligentemente sobre os interesses dos EUA.

Dentre os veteranos dos 
governos Reagan e Bush há vários que compreendem com clareza o que se disputa no mundo, mas o Partido Republicano é incapaz de atuar sob orientação deles. Por isso o fracasso institucional nos EUA é tão profundo.

Os deputados e senadores Republicanos vivem em pânico ante a possibilidade de serem derrotados por isolacionistas como o senador Rand Paul (R-KY) – e seguirão o quixotesco senador McCain.

E outras potências regionais e mundiais farão tudo que possam para conter o desmando e a confusão que reina nos EUA. (...) 

A rede Russia Today noticiou, dia 7/8, que: 

(...) a Arábia Saudita ofereceu-se para comprar $15 bilhões em armas da Rússia, e ofereceu uma lista de vantagens e facilitações econômicas e políticas ao Kremlim – no esforço para reduzir o apoio que Moscou continua a dar ao presidente sírio Bashar Assad. 

A posição dos russos não mudará. Quanto a isso, já não há dúvidas. (...) 

O que se vê bem claramente, é que Riad está confiando, não mais em Washington, mas em Pequim, para garantir sua capacidade de transportar e disparar armas atômicas.

A China tem interesse profundo na segurança saudita: é o maior importador de petróleo saudita. É altamente provável que os EUA já se tornem independentes de petróleo importado em algum momento da próxima década, mas a China precisará do petróleo do Golfo Persa por tempo futuro não determinado. (...)

Os russos temem que o radicalismo islâmico escape totalmente de qualquer controle no Cáucaso e talvez em outros pontos, com a Rússia evoluindo 
para ser país de maioria muçulmana. 

Os chineses temem os uigures, povo muçulmano de origem turca, que já é metade da população da província Xinjiang, no oeste da China.

Mas o governo Obama (e Republicanos do establishment como John McCain) insistem que os EUA devem apoiar governos islamitas democraticamente eleitos. É erro gravíssimo. A Fraternidade Muçulmana é tão democrática quanto o Partido Nazista (...).

Países tribais, com altos índices de analfabetismo não têm parâmetro para a tomada democrática de decisões.

Enquanto os EUA continuarem a declarar apoio a “oposições democráticas” muçulmanas no Egito e na Síria, o resto do mundo continuará a tratar os 
norte-americanos como doidos varridos, lunáticos sem conserto, e todos tratarão de garantir seus próprios interesses sem os EUA.

Os turcos, é certo, reclamarão contra o destino de seus amigos na Fraternidade Muçulmana, mas pouco podem fazer. Os sauditas financiam grande parte do enorme déficit nas contas turcas; e quase toda a energia que chega à Turquia vem-lhe dos russos.

Além de errarem na avaliação dos eventos egípcios, os analistas norte-americanos erraram praticamente toda a leitura que tentam fazer do quadro 
mundial.

Na direita norte-americana, o consenso dominante há anos é que a Rússia acabaria por implodir economicamente e demograficamente.

Mas a taxa de fertilidade total na Rússia, ao contrário, subiu, de um ponto calamitosamente baixo de menos de 1,2 nascidos vivos por mulher em 1990, para cerca de 1,7 em 2012, no ponto intermediário, superior ao 1,5 da Europa e pouco abaixo do 1,9 dos EUA.

Faltam dados para avaliar a tendência, mas já está bem claramente indicado que é erro descartar a Rússia, seja por qual critério for, pelo menos por hora. (...)

Taxa de fertilidade no mundo em 2011 (nascidos por mulher)
(clique na imagem para aumentar) 

Gostem ou não gostem, a Rússia não sumirá do mapa.

Analistas norte-americanos veem os problemas russos com os muçulmanos no Cáucaso, com o superficialismo de quem se diverte com a desgraça alheia. 

Durante os anos 1980s o governo Reagan apoiou jihadistas no Afeganistão, contra os russos, porque a União Soviética era, então, a encarnação perfeita do mal.

Hoje, a Rússia não chega a ser exatamente amiga-irmã dos EUA, é claro, mas o terrorismo islamista é que é o pior dos males, e os EUA bem fariam se seguissem o exemplo dos sauditas e se unissem aos russos, contra o terrorismo islamista.

No caso da China, o consenso era que a economia chinesa desabaria rapidamente esse ano, o que geraria problemas políticos.

Os dados do comércio chinês de junho mostram exatamente o contrário disso: um aumento nas importações (incluindo crescimento de 26% ano a ano nas importações de minério de ferro e de 20% no petróleo) indica que a China continua a crescer confortavelmente mais de 7% por ano.

A transição da China, de modelo exportador movido a trabalho barato, para modelo de manufatura com alto valor agregado e economia de serviços ainda é desafio gigantesco, talvez o maior de toda a história da economia; mas absolutamente não há qualquer sinal de que a China esteja fracassando ante o desafio que se propôs.

Gostem ou não, a China continuará a marcar o ritmo do crescimento da economia mundial.

Crescimento do PIB da China e dos EUA até 2028
(Clique na imagem para visualizar melhor) 

Os EUA, se escolhessem exercitar o próprio poder e cultivar seus talentos culturais, ainda seriam capazes de derrotar os “opositores”. Mas escolheram nada fazer, e a rédea afinal escapou das mãos de Washington.

Os norte-americanos só ouvirão falar de desenvolvimento importante, se e 
quando outros países decidirem divulgar seus próprios sucessos. É justo prevenir os leitores de que aqueles, dentre nós, norte-americanos, que 
ainda mantemos condições e meios razoavelmente satisfatórios de vida e progresso, não conseguiremos mantê-los igualmente satisfatórios no futuro. 

Meu registro de sucessos nas previsões que faço não é de todo mau. Em 2003, avisei que a tentativa do governo de George W Bush de construir 
nações no Iraque e no Afeganistão terminaria em tragédia.

E no início de 2006, escrevi: “Gostem ou não, os EUA só produzirão caos, e nada podem fazer para escapar dele.” (...)

Ninguém mais precisa de analistas de política externa.

Em 2013, os cães da guerra estão soltos e escolherão, eles, os próprios caminhos.

Nos EUA, basta abrir a janela de casa, que já se ouvem os latidos.
__________________________

[*] Spengler, apelido de David P. Goldman, escreve a coluna Spengler para o Asia Times Online e contribui frequentemente para as publicações The Tablet, First Things (2009-2011) e outras. Foi Chefe Global de Pesquisa de Dívida do Bank of America (2002-2005), Diretor Global de Estratégia de Crédito do Credit Suisse (1998-2002). Ocupou cargos importantes nas organizações financeiras Bear Stearns e Cantor Fitzgerald. Foi colunista da revista Forbes (1994-2001). Seu livro How Civilizations Die (and why Islam is Dying, Too) foi lançado em setembro de 2011.

Fonte:
http://redecastorphoto.blogspot.co.at/2013/08/o-mundo-aprende-andar-sem-os-eua.html

domingo, 11 de março de 2012

O problema xiita da Arábia Saudita

domingo, 11 de março de 2012 - Rede castorphoto
7/3/12, Toby Matthiesen* em The Middle East Channel, “Saudi Arabia’s Shiite problem”
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

Pelo menos sete jovens muçulmanos xiitas foram mortos e dezenas de outros foram feridos por forças de segurança no leste da Arábia Saudita, nos últimos meses. Embora não haja detalhes dos confrontos, e o Ministério do Interior alegue que todos foram feridos ou mortos depois de atacarem forças da segurança, em todos os casos houve protestos de massa depois dos funerais.


Esses são só os eventos mais recentes da luta dos xiitas sauditas, que se arrasta por décadas, e que ganhou nova urgência no contexto dos levantes regionais de 2011 – mas que permanece em vasta medida ignorada pela imprensa local dominante e ocidental em geral.

Os eventos da Primavera Árabe fizeram despertar e crescer tensões que persistem há muito tempo na Província do Leste, na Arábia Saudita. Apenas três dias depois de os protestos em larga escala começarem no Bahrain, dia 14/2/2011, começaram os protestos também na Província do Leste, distante do Bahrain apenas 30 minutos, de carro, pela ponte. Talvez não surpreendentemente, o Ministério do Interior saudita decidiu esmagar os protestos com “mão de ferro” e iniciou campanha de desqualificação-ocultação contra os protestos e os xiitas em geral. Durante o verão os protestos diminuíram, mas recomeçaram em outubro e, desde então, só têm aumentado, o que tem levado a resposta ainda mais pesada, pelas forças de segurança.

Essa resposta repressiva, com ecos retóricos diferentes, se comparada ao que se ouve sobre o regime sírio de Bashar al-Assad, impõe desafio perigoso à recente política externa dos sauditas. Os protestos populares na Província do Leste são tão legítimos quanto os protestos na Síria. Se a Arábia Saudita não responder àqueles clamores por reformas em casa, como poderá esperar merecer algum crédito quando se declara defensora da democracia na Síria? A violência na Arábia Saudita e no Bahrain deu aos regimes iraniano e sírio, assim como aos movimentos políticos no Líbano e Iraque, um útil trunfo retórico a ser usado contra seus rivais regionais.

Na Província do Leste está virtualmente todo o petróleo da Arábia Saudita, além de uma considerável minoria xiita estimada em entre 1,5 milhão e 2 milhões de habitantes, cerca de 10% da população da Arábia Saudita. O credo Wahhabi dos islâmicos sunitas que o Estado abraça na Arábia Saudita desenvolveu hostilidade especial contra os xiitas. Os cidadãos sauditas xiitas, por sua vez, há muito tempo protestam contra a discriminação de suas práticas religiosas, nos empregos públicos e no comércio, e contra a marginalização em geral.

Por décadas, grupos de oposição formados por xiitas sauditas, grupos de esquerda e islamistas, além de centenas de petições assinadas por xiitas notáveis, repetem as mesmas demandas: fim da discriminação sectária nos empregos públicos e representação nos principais setores do estado, inclusive no plano ministerial; mais desenvolvimento para as áreas xiitas; fortalecimento do judiciário xiita; e fim das prisões de xiitas por razões religiosas e políticas. Nenhuma dessas demandas, se atendida, comprometeria significativamente a posição da família real, ou ameaçaria, de qualquer outro modo, a integridade da Arábia Saudita. Atendidas essas demandas, todo o atual sistema político ganharia solidez, e seria possível pensar em atrair para o regime a solidariedade, ou no mínimo a simpatia, de 2 milhões de xiitas que vivem literalmente em cima de todo o petróleo do reino.

Desde o ano passado, as demandas passaram a incluir a libertação de nove prisioneiros políticos xiitas e a retirada do Bahrain das forças sauditas, ou pelo menos, uma solução negociada para aquele conflito, além de reformas políticas mais gerais na Arábia Saudita. O governo prometeu aos jovens ativistas que suas dificuldades seriam examinadas em abril de 2011 e, depois de um pedido de respeitados clérigos sauditas xiitas, para que suspendessem os protestos, os jovens concordaram. Mas o governo nada fez do que prometera, e respondeu com mais repressão depois do verão, embora tenha libertado alguns dos que haviam sido presos durante os protestos de fevereiro a abril de 2011. A situação, portanto, permaneceu tensa, e quando quatro xiitas foram mortos em novembro, seus funerais transformaram-se em protestos contra o regime que reuniram mais de 100 mil manifestantes.

A percepção de discriminação sistemática tem levado alguns xiitas sauditas a abraçar ideologias revolucionárias, na verdade, há décadas.

Embora existam grupos pró-Irã entre os xiitas do Golfo, não são os mais poderosos entre os xiitas sauditas, e a maioria já renunciou à luta armada como instrumento político desde, no mínimo, meados dos anos 1990s. Mas a resposta repressiva do regime saudita aos protestos, e a política de concessões zero, têm oferecido campo fértil para novos grupos da oposição. Uma repetição da política xiita pós-1979, quando centenas de jovens xiitas deixaram o Bahrain e a Província do Leste da Arábia Saudita, parece possível.

Dado que os protestos no Bahrain e, sobretudo, em Qatif recebem atenção mínima dos canais de televisão que pertencem a sauditas do Golfo, como Al Jazeera e Al Arabiya, os sauditas são obrigados a assistir ao canal Al-Alande televisão, em árabe, patrocinado pelo Irã; à televisão do Hezbollah libanês, Al-Manar TV; ao canal iraquiano Ahlul Bait TV ou, cada vez mais, a outros canais de televisão pró-Assad, para obter informação sobre as regiões onde vivem.

A nova guerra fria no Oriente Médio está já convertida em guerra total de informação, na qual os veículos de mídia ou são a favor da oposição no Bahrain e em Qatif e a favor do regime de Assad, ou são a favor da oposição na Síria e contra os chamados protestos sectários dos xiitas no Bahrain e em Qatif.

A situação dos xiitas sauditas na Província do Leste não é novidade. O Relatório Anual do Departamento de Estado dos EUA ao Congresso sobre Liberdade Religiosa para a segunda metade de 2010, período imediatamente anterior à Primavera Árabe, registra prisões arbitrárias, fechamento de mesquitas e prisão de crentes xiitas. Telegramas diplomáticos dos EUA publicados por Wikileaks [1] revelaram que diplomatas dos EUA, e especialmente o pessoal do consulado em Dhahran, tinham quantidade gigantesca de informação sobre as comunidades xiitas locais e escrevem, quase como obcecados, sobre agressões às quais se referem como inadmissíveis. Mas os problemas específicos dos xiitas sauditas quase nunca chegavam à pauta de reuniões com funcionários sauditas de alto nível.

Isso não se explica exclusivamente pela cerrada aliança que liga os EUA e os sauditas. Os norte-americanos às vezes partilham as mesmas desconfianças sauditas contra os xiitas do Golfo, os quais existem em vários dos regimes aliados aos EUA. A desconfiança deve-se em parte à questão do Irã, mas tem a ver também com as explosões nas Torres Khobar, um complexo residencial na cidade de Dhahran, na Província do Leste, onde residiam militares norte-americanos, incidente no qual morreram 19 militares norte-americanos.

Nove xiitas permanecem presos desde 1996, acusados de pertencerem ao Hezbollah al-Hijaz, por participação naquele atentado. Foram acusados formalmente nos EUA em 2001, mas, porque as prioridades da política exterior dos EUA mudaram depois do 11/9, tornaram-se “esquecidos” – que é como os xiitas sauditas referem-se a eles. Na acusação, há referências ao envolvimento do Hezbollah libanês e do Irã no atentado, mas nenhuma prova desse envolvimento foi jamais divulgada. À época, alguns norte-americanos exigiram ataque de retaliação contra o Irã. Mas depois do 11/9, todas as acusações centraram-se contra a al-Qaeda como responsável pelo ataque às Torres Khobar, o que levantou dúvidas quanto à culpa daqueles prisioneiros xiitas.

O sigilo que cerca toda essa questão tem contribuído para aumentar a desconfiança e as suspeitas contra o estado, de parte das famílias dos prisioneiros e na comunidade saudita xiita em geral. Os manifestantes sauditas xiitas que tomaram as ruas esse ano abraçaram a causa dos nove xiitas prisioneiros. Havia cartazes com seus retratos e nomes em manifestações que pediam sua imediata libertação, nas quais os familiares dos presos tiveram papel importante. Foram a contrapartida xiita de uma campanha simultânea, à frente do Ministério do Interior em Riad, organizada por familiares dos prisioneiros políticos presos por suspeita de associação com a al-Qaeda. Mas, diferentes desses prisioneiros, os prisioneiros xiitas não acalentam qualquer esperança de serem “reabilitados” por qualquer dos vários programas governamentais, fartamente propagandeados, de des-radicalização. Parece justo exigir, no mínimo, julgamento público, exigência que tem sido repetidas vezes endossada pelas ONGs Human Rights Watch e Anistia Internacional. Mas nada semelhante a julgamento aberto parece estar incluído na agenda da política exterior dos EUA.

O comportamento da liderança saudita só empurra para a conclusão de que a repressão contra os xiitas é parte fundamental da legitimidade política dos sauditas. O estado saudita não quer alterar a posição dos xiitas e usa os protestos xiitas para intimidar a população sunita, ameaçando-a com o risco de os iranianos tomarem os campos de petróleo sauditas com a ajuda dos xiitas locais.

Narrativas similares têm sido distribuídas pela imprensa do Conselho de Cooperação do Golfo (CCG) há meses – ao custo de aprofundar cada vez mais a divisão sectária nos estados do Golfo. A intervenção do CCG no Bahrain fez piorar muito as relações entre as seitas no Golfo e além dele, as quais chegam hoje a níveis de confrontação nunca mais vistos desde a Revolução Iraniana. Mas esse declarado sectarismo saudita já teve repercussões negativas também no Iraque, na Síria, no Líbano e no Kuwait. O Bahrain parece já condenado a anos de conflito sectário; as relações comunitárias já estão completamente rompidas; e o estado está desenvolvendo uma campanha que, para os ativistas xiitas, é “limpeza étnica”.

Em vez de alienar completamente os xiitas, a Arábia Saudita e o Bahrain teriam de negociar com eles um contrato social. Não o fazer levará a muitos anos de instabilidade, com resultados imprevisíveis. E nada garante que outros sauditas não sejam cooptados e estimulados pelos protestos dos xiitas, como já se viu acontecer em recente declaração-manifesto de liberais sauditas de todo o reino, denunciando a violência sectária contra os xiitas, em Qatif.

O ocidente teria de pressionar seus aliados, sobretudo a Arábia Saudita e o Bahrain, para que, de uma vez por todas, parem de matar e prender seus cidadãos xiitas, sempre os acusando de serem agentes a serviço do Irã e traidores. A alienação dos jovens xiitas cria perfeito caldo de cultura para que brote outro movimento xiita de oposição no Golfo, e reforça a posição relativa do regime iraniano. Mesmo sem qualquer ajuda externa aos manifestantes xiitas locais, a área está madura para uma volta à política tensa de relações sectárias dos anos 1980s.

Em seu próprio interesse e no interesse dos estados do Golfo, os EUA deveriam empenhar-se na direção de uma real reconciliação entre os xiitas do Bahrain e da Arábia Saudita e seus respectivos governos. Sem isso, o sectarismo acabará por dominar o Golfo, com prejuízo para todos.


* Toby Matthiesen é pesquisador associado em Estudos Islâmicos e do Oriente Médio, na Universidade de Cambridge, Inglaterra

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Nota dos tradutores [1] Leia em: “WikiLeaks: Saudi crackdown on Shiites has echoes in Bahrain” (http://www.mcclatchydc.com/2011/06/22/116306/wikileaks-saudi-crackdown-on-shiites.html#storylink=misearch)

sexta-feira, 2 de março de 2012

Verdades e Mentiras sobre a Síria - Perspectivas da Revolução Árabe


("Muito já se disse sobre o que ocorre na Síria hoje. Os meios de comunicação de massa, nacionais e internacionais, expressam o que pensa o Pentágono. Com honrosas exceções, tudo que recebemos no Brasil em particular, publicados em língua pátria no Globo, Abril, Folha e Estadão [órgãos da Família GAFE da Imprensa] reproduz quase que sem retirar nenhuma frase, o que as agências noticiosas internacionais despacham para o mundo todo. Agências, diga-se de passagem, que sequer possuem um só correspondente em Damasco, capital da Síria. A seguir, para auxiliar nossos leitores, fazemos um pequeno resumo de tudo que se diz sobre a República Árabe da Síria. Resumimos 15 pontos que se destacam na atualidade." - do blog burgos4patas)


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24.02.2012 - Perspectivas da Revolução Árabe - relação com o que ocorre hoje na Síria
Por Lejeune Mirhan * - Portal da Fundação Maurício Grabois

Gostaria muito de tratar mais globalmente sobre a Revolução Árabe, iniciada há pouco mais de um ano. Poderia tratar do Egito e suas eleições, as eleições também ocorridas na Tunísia ou mesmo no Iêmen, cujo ditador de 33 anos acaba de cair de deve refugiar-se em alguma monarquia reacionária árabe da vizinhança ou mesmo nos EUA (seu vice assumiu, mas segue sendo ditadura). No entanto, a pauta segue sendo a Síria. Por isso, voltamos ao tema neste artigo que, entre outras fontes, estão as abaixo consultadas.


Verdades e Mentiras sobre a Síria

1. Governo de Bashar Al-Assad mata milhares – Mentira
Dia após dia, manchetes garrafais estampam que o governo vem matando “milhares” de sírios, todos “inocentes”. A única fonte de informação que o Ocidente inteiro possui sobre tais “dados” de mortes é de um obscuro Observatório Sírio de Direitos Humanos (sic), com sede em Londres e que recebe farto financiamento de países do Golfo Pérsico, todos, sem exceção, monarquias antidemocráticas, absolutistas e extremamente reacionárias e pró-EUA.

Como isso esta ficando uma vergonha para quem pratica um jornalismo sério, a grande imprensa, quando publica os números “assustadores” de mortos, ultimamente vem pelo menos acrescentando sempre “segundo o Observatório Sírio de DH”, que “não puderam ser comprovadas”.

De fato, os únicos dados confiáveis são os fornecidos pelo próprio governo, que atesta que pelo menos dois mil soldados, policiais e cidadãos sírios foram assassinados por grupos terroristas e mercenários, seja em ataques diretos ou em atentados a bomba que vêm ocorrendo com maior intensidade nas últimas semanas.

2. Exército Síria Livre é formado por desertores – Mentira
Não há desertores no Exército sírio. Pelo menos não em expressão. Todas as deserções em todas as divisões do Exército da República Árabe da Síria são pontuais e ocorrem apenas e exclusivamente na baixa oficialidade.

O que se tem de concreto é que essa organização é composta de mercenários altamente remunerados, usando armas contrabandeadas, inclusive do arsenal líbio. Se um AK-47, fuzil de assalto mais famoso no mundo, podia ser comprado a cem dólares tempos atrás, hoje, com os bilhões de dólares que a Arábia Saudita e o Qatar vêm despejando para a derrubada do governo do Dr. Bashar, não se compra uma arma dessa, muito popular, por menos que 1,5 mil dólares.

Esse tal “exército” esta acampado na fronteira com a Turquia e por esta é estimulado e seu comando vem de Istambul. O governo turco, que presta um péssimo papel achando que voltará a ter o comando do sultanato otomano, tem procurado dar guarida a essa milícia terrorista e facínora, apoiada por Israel e pelos EUA. Seu “comandante”, o coronel desertor Riad El Assad, esta na folha de pagamento do Departamento de Estado.

3. Liga Árabe pede Democracia e Liberdade na Síria – Mentira
(Não tem moral para isso)
A Liga Árabe, organismo multilateral fundado em 1945, é integrado pelos 21 países árabes e a OLP que representa a Palestina. Ainda que possa ser duvidoso que em algum momento tenha cumprido algum papel relevante na vida dos árabes, a certeza é de que hoje ela é um organismo fracassado.

Tomado de assalto pelas monarquias do Golfo, com seus bilhões de dólares, esse organismo presta-se hoje como auxiliar tanto do CS da ONU, quanto da União Europeia e dos EUA. De árabe essa tal Liga não tem mais nada. Não representa mais os anseios e as verdadeiras aspirações do povo árabe, que hoje são quase 400 milhões de pessoas.

Esse organismo serve apenas para propor ao CS da ONU resoluções que os EUA e a União Europeia não teriam a coragem de propor. Os petrodólares da Casa de Saud e do emirado do Qatar é que sustentam a organização. Esta completamente esvaziada. Iraque, Líbano, Argélia e a própria Síria nem mais tem comparecido às reuniões, que perderam completamente a sua eficácia.

Mas, o que é pior. Que moral tem a Arábia Saudita e o Qatar em pedir democracia na Síria? Falam em liberdade, mas não a praticam em seus países, que não tem parlamento e nenhum partido funcionando. Uma hipocrisia completa. Uma falsa moralidade. Indignam-se com o que ocorre na Síria, mas é uma indignação seletiva.

4. Rússia e China vetam resolução anti-Síria na ONU – Verdade
(E ambos têm suas razões)
Essas duas potências mundiais – ambos BRICS – ficaram escaldadas com o golpe europeu-estadunidense que, usando a OTAN, rasgaram a resolução 1973 de 17 de março de 2011, que mencionava apenas “proteção” a civis líbios. Com essa resolução a OTAN bombardeou toda a Líbia na linha da ordem dada por Obama/Hilary: derrubem o regime! A linha foi a da mudança de regime, coisa que só o povo líbio teria poder de decidir. Assassinaram mais de 200 mil líbios!

Os EUA e seus clientes europeus não aceitaram nenhuma modificação proposta por estes dois países na nova resolução proposta em 4 de fevereiro passado. E pior que isso. Expressaram sua indignação sobre o veto exercido dentro das regras da Carta das Nações. Quando os EUA vetam dezenas de resoluções contra Israel no CS/ONU nada se fala. Uma vez na vida duas potências vetam uma resolução que abriria brecha para a OTAN atacar a Síria, vem a indignação seletiva.

A embaixadora dos EUA da ONU, Susan Rice, chegou a dizer que o “mundo não poderia ficar refém de dois países” (sic). Tenho em mãos uma pesquisa sobre os vetos dos EUA contra resoluções a favor dos palestinos e que criticavam Israel. A pesquisa compreende apenas dez anos (1972 a 1982). Só nesse curto período foram exatos 43 resoluções vetadas pelos EUA!

Hoje, felizmente, tanto a China como a Rússia têm visto o que realmente ocorre no OM. Derrubar o governo da Síria hoje, passando por cima da soberania desse país árabe pode significar ainda um maior fortalecimento do imperialismo estadunidense e seus estados clientes europeus.

O fato é que a Rússia volta com força ao cenário internacional. Não titubeou nenhuma vez em defesa da soberania síria. Enviou armas e uma frota naval esta ancorada no estratégico porto de Tartous. Como já vimos falando, a unipolaridade no mundo tende ao seu fim. Vários pólos vão sendo criados e a Rússia vai ganhando seu espaço, fazendo-se ouvir depois de mais de vinte anos de um mundo unipolar.

5. EUA, Israel e seus aliados árabes são os maiores inimigos – Verdade (É preciso que sejam dados nomes aos bois)
Os maiores entraves para o avanço da Revolução no mundo Árabe são as petromonarquias. Elas têm nome: Arábia Saudita, Kuwait, Emirados Árabes, Qatar, Omã e Bahrein. A esses se somam países que não são fortes produtores de petróleo, mas são monarquias reacionárias e pró-EUA, como a Jordânia e o Marrocos.

O centro da resistência ao avanço revolucionário árabe vem de Riad, no reino dos sauditas. Estes reservaram em 2011 mais de cem bilhões de dólares para a contrarevolução. E contratam mercenários a peso de ouro. Apoiados pelos EUA, ainda que discretamente, e mais discretamente por Israel e sua inteligência do Mossad. Isso esta amplamente documentado. Pelo WikiLeaks e pela imprensa verdadeiramente livre e a blogosfera.

6. Se a Síria cair, isso reflete em todo o OM – Verdade
Há hoje um eixo de resistência ao imperialismo estadunidense. Esse eixo apoia as mudanças profundas no OM, apoia a causa palestina, faz oposição à Israel, defende o rompimentos dos acordos de paz assinados com esse país pelo Egito e Jordânia, de forma unilateral.

O bloco de países que integram o eixo da resistência são hoje, além da Síria, o Iraque, Líbano, a Argélia e o Irã (que é persa). O Partido de Deus (Hezbolláh), do Líbano, que forma governo com os cristãos patrióticos (maronitas do Marada e MPL de Aoun), sunitas e xiitas de várias organizações (Amal de Berri e drusos de Jumblat) e o PC Libanês de Khaled, seria o primeiro a sofrer consequências. O Hezbolláh – apesar do nome, é uma organização política e não defende no Líbano um estado religioso – além de muitos deputados e ministros, tem a maior milícia armada de resistência ao exército sionista de Israel que insiste em ocupar o Sul do país.

A própria luta de resistência palestina contra a ocupação, com todas as suas organização que compõem a OLP e o Hamas (que não integra a Organização), se enfraqueceriam imensamente com a queda do governo sírio e a instalação nesse país de um governo pró-EUA.

7. A Irmandade Muçulmana encabeça a oposição na Síria – Verdade
Essa organização tem seus tentáculos em mais de 70 países. Fundada por Hassan El-Bana em 1928, funciona como partido político, tendo uma ideologia de caráter teológico de linha islâmica fundamentalista. Na maioria das ditaduras e monarquias árabes, cujas liberdades partidárias são praticamente nenhuma, a única forma de uma parte da população expressar-se acaba sendo por essa Irmandade.

Não fiquei surpreso com o fato do seu braço político recém legalizado no Egito e na Tunísia terem ficado em primeiro lugar nas eleições ocorridas recentemente após a queda dos ditadores desses países. Não havia outra forma de expressão política além do islamismo, além da máscara de apelo ao Islã fundamentalista.

No entanto, é preciso deixar claro. Em que pese esse pessoal ter jogado algum papel na resistência à ditadura Mubarak, sempre fez acordos com ele. Aceitavam as regras do jogo, qual seja, que a oposição ao ditador pudesse chegar a no máximo 20% dos votos – eleições fraudadas – tanto para presidente como no parlamento.

A Irmandade é uma organização conservadora, que prega o fundamentalismo islâmico mais próximo do Wahabiya – linha da família Al-Saud, portanto sunitas. Sempre foi e sempre será anticomunista. Por baixo do pano sempre fez acordos, inclusive com o imperialismo britânico e mais recentemente o norte-americano. Seus líderes rapidamente disseram, depois dos resultados das eleições parlamentares no Egito, onde venceram, que não romperiam o acordo de paz com Israel.

Hoje, na Síria, os principais líderes da insurreição interna, que organizam os ataques terroristas aos prédios públicos, oleodutos, gasodutos, escolas e hospitais, são membros da Irmandade. Lamentável. Mas é a verdade amplamente documentada, mas omitida pela grande imprensa.

8. A oposição síria não tem unidade e tem força no exterior apenas – Verdade (Mas a grande imprensa não mostra isso)
É preciso que se diga. Há duas oposições na síria hoje. Uma interna e outra que funciona apenas e tão somente no exterior.

A que tem sede no exterior, seus escritórios ficam em Londres, Paris e Istambul. Esta não tem credibilidade alguma. Financiada pelas monarquias do Golfo e pelo Departamento de Estado – amplamente documentado – elas vivem para dar entrevistas na grande mídia internacional, que repercute amplamente essas “reportagens”. No Brasil, a Folha e o Estadão publicaram várias delas. Todas falsas, sem provas, com “líderes” que nunca ninguém viu. É uma oposição sem respaldo algum junto ao povo sírio. Defende abertamente uma resolução no CS/ONU que abra a possibilidade – que eles tanto sonham – da OTAN atacar a Síria. Como acreditar em “lideranças” que pedem que potências estrangeiras bombardeiem seu próprio país, ainda que a pretexto de “proteger civis inocentes”?

Há outra oposição. A interna. No entanto, esta também se divide em duas grandes partes. Uma delas, participa do chamado Diálogo Nacional. Há uma mesa de negociações formada pelo governo da Síria. No rumo das mudanças que o país precisa de fato. E, tais mudanças, vêm ocorrendo (falaremos disso mais à frente). Não se sabe o tamanho dessa oposição. As eleições marcadas para o mês que vem devem mostrar a dimensão dessa oposição. Essa oposição prega a construção de um governo de unidade nacional. Em hipótese alguma defende a intervenção externa. Diz que os problemas dos sírios devem ser resolvidos pelos próprios sírios, sem ingerência externa.

A outra parte da oposição interna, não dialoga com o governo. Esta radicalizada. Arma-se até os dentes e apoia a sabotagem de prédios públicos. Alia-se com o autointitulado Exército da Síria Livre e com o Conselho Nacional Sírio. Prega também abertamente a intervenção externa, ainda que não de forma clara defenda os ataques da OTAN. Faz, na prática, o jogo das potências imperialistas.

A oposição não se unifica. Há pelo menos 53 grupos políticos e tendências atuando de forma conflitiva no tal Conselho Nacional Sírio, organismo criado no exterior e apoiado pelos EUA. Em reuniões com autoridades europeias, essa tal oposição exige que sejam feitas várias reuniões, pois eles não conseguem sequer sentar-se à mesma mesa. Não há unidade política entre eles. Talvez o único ponto em comum seja remover Assad do poder. Nada mais. Mesmo que as reformas sejam profundas – como esta ocorrendo de fato – isso hoje pouco importa. A única agenda, a agenda da CIA, dos EUA, de Israel, da Casa de Saud e do Mossad é mudar o regime. Nada mais lhes interessa.

Tanto a externa, quanto à interna que não dialoga com o governo, possuem amplo e plena interlocução em especial com os EUA, Inglaterra e França.

9. Bashar Al-Assad é um sanguinário e genocida – Mentira
É evidente que os processos eleitorais tanto na Síria quanto em qualquer país árabe não seguem os padrões que vivemos no Brasil e no Ocidente. No entanto, não se pode falar em democracia na Síria e não se falar desse tema nos outros países árabes. Mesmo no Ocidente. Agora mesmo na Grécia se pede inclusive suspensão das eleições para que um possível novo governo de oposição não rompa os acordos de traição nacional que estão sendo assinados às claras e abertamente.

Os mesmos monarcas que falam em “democracia” na Síria, são os que mais reprimem seus próprios povos, como na Arábia Saudita, Qatar e Bahrein. Essa gente não tolera manifestação, não tolera povo organizado. Essas monarquias sequer possuem parlamento funcionando, partidos políticos são proibidos.

Em que pese todas as restrições às amplas liberdades na República Árabe da Síria, esse país ainda é o mais livre em termos de funcionamento de partidos políticos em todo o Oriente Médio. São oito os partidos políticos existentes e legalizados. Claro, o Partido Socialista Árabe Sírio, o Baath é o maior e do governo. Esta no poder há pelo menos 42 anos. Mas temos dois partidos comunistas no país funcionando. Temos o Partido Nacional Sírio e outros. Depois dos pleitos por reformas amplas, outros cinco partidos foram legalizados, ampliando para 13 o número de partidos com direito a concorrer nas próximas eleições.

O relatório dos observadores da Liga dos Estados Árabes – 160 pessoas que ficaram na síria por trinta dias – menciona em uma parte que contataram e viram funcionando 147 órgãos de imprensa nesse país árabe! Entre rádios, TVs e jornais que circulam amplamente.

Bem ou mal, as eleições para o parlamento sírio ocorrem a cada quatro anos e os oito partidos funcionam livremente. Não é a democracia mais avançada, popular, que defendemos, mas não se pode dizer que as restrições são totais. Há muito que se fazer. E esta sendo feito. Mas, a grande imprensa não divulga uma só linha sobre tudo isso. Chegou às minhas mãos – nunca divulgadas pela grande imprensa – um conjunto de 33 grandes medidas, ações governamentais, decretos e leis adotadas entre abril de 2011 e fevereiro de 2012 que mudam completamente a realidade política desse país árabe.

10. A Síria é o único país árabe hoje a apoiar com firmeza a causa palestina – Verdade
E não se pode falar em apoio pela metade, parciais. Apenas a Síria, em sua capital, funcionam escritórios de todas as organizações da resistência palestina. O enfrentamento que o povo e o governo da Síria vêm dando à Israel, contra as ocupações que o estado sionista faz em terras árabes é o maior que se te visto em todo o OM.

Desde a derrubada do governo de Saddam Hussein e seu assassinato, que procurava dar enfrentamento à ocupação estadunidense de toda a região; desde a queda e o assassinato de Muammar Khadaffi em outubro passado, um a um foram caindo todos os focos de resistência ao imperialismo estadunidense e à Israel. Restou a Síria. É preciso instalar governos dóceis aos norte-americanos e aos sionistas em todo o mundo árabe para que se complete seu projeto neocolonial na região.

E é preciso deixar claro: derrubar Bashar hoje significa enfraquecer a resistência libanesa e palestina e isolar completamente o Irã! Quem não compreender essa geopolítica no OM não entende nada nem de OM nem de política internacional!

11. A OTAN e a Al Qaeda estão em aliança – Verdade (A grande mídia esconde isso)
Aqui é preciso esclarecer muitas coisas. Ainda que isso possa parecer inacreditável, para quem foi bombardeado durante anos com a informação de que a rede Al Qaeda de Osama Bin Laden sempre foi uma rede terrorista, que teriam feito os atentados às torres gêmeas em 11 de setembro de 2001, isso pode parecer mesmo um verdadeiro absurdo. Mas não é.

Escritores, jornalistas independentes e intelectuais progressista a cada dia vêm trazendo informações precisas e importantes que comprovam essa informação. E os próprios comunicados da organização Al Qaeda pelo seu novo “comandante”, o médico pediatra egípcio Ayman Al Zawahiri atestam isso. Textos recentes da lavra desse senhor ou a ele atribuídos, mencionam a importância fundamental da derrubada do governo sírio em aliança com as forças do autoproclamado Exército Síria Livre. E essa organização prega o Estado Islâmico.

Essa organização faz questão de não dialogar com o governo. Foi assim na Líbia quando ela apoiou abertamente a queda de Khadaffi e fez aliança com as forças da OTAN. Agora, da mesma forma, conversações de alto (?) nível entre emissários dessa organização militar europeia – agora mundial! – com líderes da Al Qaeda que atuam na Síria mostra essa aliança, que é abastecida fartamente com dólares do petróleo árabe das monarquias do Golfo e dinheiro da CIA e do Mossad de Israel, via território curdo.

Como diz Pepe Escobar, combativo jornalista brasileiro correspondente do Asia Times, “quem imaginaria que o que a Casa de Saud deseja ver na Síria é exatamente o que a Al Qaeda deseja para a Síria? Quem imaginaria que o CCG e a OTAN desejam para a Síria é o mesmo que a Al Qaeda deseja para esse país?”.

12. A Turquia e seu governo deram as costas para os árabes – Verdade
É lamentável ter que reconhecer isso, mas o governo de Recep Tayyip Erdogan, cujo partido governa a Turquia há quase nove anos (desde 14 de março de 2003), com o seu Partido da Justiça e do Desenvolvimento – PJD (em turco AKP, ou Adalet ve Kalninma Partisi), tem outros projetos para seu país e para uma liderança de toda a região.

Como bem sabemos, a região do OM é habitada por diversos povos. Além do árabe, que são a esmagadora maioria, temos ainda os persas (Irã), os judeus (Israel) e os turcos na Turquia, que é um país laico (apesar de 97% da população pertencer ao islamismo sunita) e foi ocidentalizado de tal forma que até seu alfabeto foi modificado. A separação das entidades e instituições religiosas do Estado é absoluta. No entanto, com Erdogan isso vem sendo gradativamente modificado.

Na verdade, esse Partido vem vencendo as eleições por, gradativamente, ir modificando o cenário turco de tal forma que boa parte da população já admite certa islamização da sociedade. A imprensa apresenta Erdogan como membro de um partido “muçulmano moderado” (sic) sabe-se lá o que isso significa.

No entanto, o grande sonho, o grande projeto desse Partido, o AKP (em turco), é integrar-se à Europa. Isso o falecido cientista político estadunidense Samuel Huntington já havia previsto em seu artigo clássico da Foreing Office de 1995 que causou polêmica acadêmica no mundo todo intitulado Clash of Civilization (Choque de Civilizações, posteriormente transformado em livro pela Editora Objetiva, em 1997).

A crítica que a Turquia receberia desse intelectual era de que o país viraria as costas para o mundo islâmico e teria maiores interesses em olhar para a Europa. Hungtinton afirmaria – quase que como uma profecia – que ele nunca seria admitido na Europa, por ser o continente extremamente preconceituoso, cristão e antiislâmico, por mais que a Turquia fosse um país laico. Sabe-se que o Vaticano se pronuncia contra o ingresso da Turquia na Europa. Era discreto com João Paulo II e agora é aberto com Bento XVI.

Nesse sentido, desde 2003 Erdogan vem se aproximando da Europa. Seu país é membro da OTAN e tem bases militares dessa organização militar, antes contra a URSS e hoje contra qualquer mudança progressista ou revolucionária em qualquer país do mundo. Chegou a ensaiar passos contra Israel. Não é para menos. O governo sionista de Netanyahú interceptou em 2010 uma flotilha de vários navios e fuzilou nove cidadãos turcos. Erdogan teve que subir o tom. Chegou a jogar um papel importante na tentativa de tirar o Irã do isolamento em seu programa nuclear que contou com o apoio de Lula do Brasil.

Mas, mudou de posição. Voltou ao que sempre foi. Tem um sonho de ser a grande liderança do Oriente Médio e dos árabes inclusive. Baixou completamente o tom de voz contra Israel. Apoiou os ataques da OTAN/Europa à Líbia e apoia abertamente a derrubada do governo da Síria em uma clara ingerência nos assuntos internos de um país vizinho que teria que respeitar. Dá abrigo ao exército mercenário estacionado nas suas fronteiras com a Síria. Faz uma manobra arriscada. Coloca em pé de guerra todos os milhões de curdos que vivem em território turco que odeiam o seu governo (pelo menos na Síria eles são melhores tratados). A política de Erdogan de “zero problemas com os vizinhos” hoje vemos uma situação de “zero amigos”.

Talvez sonhe com a volta do império turco-otomano. Mas não há espaço para isso. Ele terá que fazer escolha. E, neste momento, vem escolhendo o que tem de pior para o mundo árabe e para toda a Ásia, qual seja, uma aliança tácita com o imperialismo estadunidense e europeu. Lamentamos por isso.

13. Relatório sobre a Situação da Síria só Vale Quando Fala Mal do Governo – Verdade
Dois relatórios foram produzidos nos últimos 90 dias sobre a Síria. Um, da lavra do representante da ONU para Direitos Humanos na Síria, o brasileiro e meu colega sociólogo Paulo Sérgio Pinheiro, da USP e outro, assinado pelo general sudanês, Mohammed Ahmad Al-Dabi.

Escrevi um artigo sobre o primeiro relatório. O Prof. Paulo Sérgio sequer entrou na Síria, mas escreveu sobre o que não viu. Fez um relatório faccioso, tendencioso, parcial. Não ouviu ninguém do governo, apenas opositores no exílio. Tal relatório foi amplamente saudado pela imprensa internacional como “equilibrado”. Atacava o governo de todas as formas possíveis.

O outro relatório foi feito sob a coordenação do experiente general sudanês, ex-presidente de seu país. A comissão formada era oficial da Liga Árabe. Era integrada por 160 pessoas. Passaram trinta dias na Síria. Visitaram várias cidades, ouviram oposicionistas e o governo. Não constataram a violência que o mundo diz haver no país. Não atestaram o número exorbitante de mortos que a imprensa ocidental divulga. Ao contrário. Constaram sim milhares de mortos das forças regulares, do exército e da polícia. Presenciaram milhões nas ruas em apoio ao governo do Dr. Bashar. Mas, como disse Kissinger em recente artigo o governo é amado pelo povo, mas mesmo assim tem que cair (sic). Esse foi o relatório que apontou a existência de 147 órgãos de imprensa funcionando livremente na Síria.

Imediatamente, a Liga Árabe, que representa hoje apenas as petro-monarquias do Golfo e os interesses da OTAN prontamente rejeitou tal relatório, levando o seu presidente a renunciar aos trabalhos. De fato, dois pesos e duas medidas. Só não vê quem não quer.

14. Os EUA vivem uma Indignação Seletiva – Verdade
Nunca a famosa frase de “dois pesos e duas medidas” ficou tão claro e tão evidente como no momento atual da diplomacia norte-americana com Barak Obama. Seus planejadores do Pentágono e do Departamento de Estado são hoje mais ideólogos que planejadores. São seletivos em suas análises, facciosos.

Colocam-se contra o Irã e seu programa nuclear pacífico, mas nada falam sobre as duzentas ogivas nucleares que Israel possui. Falam o tempo todo contra o “ditador” Bashar, mas não se pronunciam contra as monarquias absolutistas, obscurantistas, fascistas e feudais do Golfo, por estes serem seus aliados, amigos e pró-Israel. Pronunciaram-se contra a “repressão” na Síria, mas calaram-se com o massacre dos xiitas no Bahrein. Falam contra o uso das forças armadas sírias que defende o país, mas calam-se contra a invasão que as forças armadas sauditas fizeram no Bahrein, sede da 5ª Frota dos EUA que patrulha o Golfo Pérsico-Arábico. Abusam do direito de veto no CS/ONU em favor de Israel, mas indignam-se contra um veto exercido dentro das regras previstas na Carta das Nações usado pela China e pela Rússia.

15. Terroristas agem abertamente na Síria – Verdade
A grande imprensa apenas acusa o governo de matar dezenas, centenas de cidadãos. No entanto, ela tem sido obrigada a noticiar mais e mais atentados terroristas contra prédios públicos, oleodutos, gasodutos, escolas e até mesmo hospitais. São feitos por mercenários contratados a peso de ouro pelo obscuro Exército da Síria Livre. O objetivo desses ataques é quebrar a infraestrutura do país e jogar a opinião pública contra o governo.

É preciso destacar que a ação desses grupos mercenários conta com apoio e total suporte da OTAN que os treina e financia, a partir de acampamentos na fronteira da Turquia. Estão envolvidos nessa operação a CIA e o MI6 inglês, além, claro, como sempre, o Mossad de Israel. Isso não vem surtindo efeito. Ao contrário. Pesquisas confiáveis de opinião mostram o grande apoio da opinião pública ao governo.

Conclusões
Nunca tivemos dúvidas, desde o início do processo da Revolução Árabe, que a Síria viveria uma situação distinta, particular. O caráter de um governo se mede pelas tarefas que assume, pelos seus objetivos, pela ação que pratica. Por isso nunca duvidamos do caráter antiimperialista, popular e em defesa dos palestinos que o governo da família Assad sempre expressaram.


Defendemos, tal qual as organizações sindicais, populares e os partidos comunistas da Síria, reformas profundas no país, ampliação das liberdades políticas e de organização. No entanto, não podemos somar nossas vozes com grupos terroristas, mercenários à soldo do imperialismos de todas as matizes, sejam eles norte-americano, inglês ou francês. Não bastasse isso, já esta claro mais que provado por diversas fontes, a ampla aliança da Al Qaeda com a OTAN. E somado a isso, os serviços secretos da CIA, MI6 e Mossad israelense.


Somamos nossas vozes às do povo e do governo da Síria, em seu projeto em defesa da soberania nacional e sua autodeterminação. Não à ingerência estrangeira nos assuntos internos da Síria. Apoiamos e defendemos o diálogo nacional. Apoiamos as eleições livres que ocorrerão no mês que vem, sob nova e democrática constituição da República Árabe da Síria.


Ao que tudo indica, o jogo parece que vai terminando. E com uma derrota fragorosa para as forças imperialistas e sionistas. Para as forças que querem barrar o avanço da Revolução Árabe. A Rússia e China estão resolutas em não apoiar qualquer intervenção externa na Síria. Já chega de destruição de uma nação árabe. Não ficou pedra sobre pedra no Iraque. Agora a mesma coisa na Líbia, antes o país de maio IDH de toda a África. Sem falar na própria destruição do Afeganistão. Agora querem destruir e tomar a síria, último bastião e pilar do verdadeiro nacionalismo e panarabismo, herdados de Gamal Abdel Nasser. A oposição externa já perdeu as ilusões de apoios. Até Sarkouzy já disse que não se ganha uma guerra de fora do país!


A OTAN não tem como intervir e já disse isso com todas as letras. Resta-lhes apoiar os terroristas da rede Al Qaeda, financiada pela CIA. A Turquia vai acabar tendo que retirar todo seu apoio aos mercenários recrutados pelos dólares sauditas, a que ela vem chamando de Exército da Síria “Livre” (Free Syrian Army – FSA em inglês). Vai ficando isolada e sem amigos no OM.


O risco de um conflito regional no OM, que já foi maior, deve estar sendo redimensionado pelos tais planejadores de Washington. Não há como um conflito dessa natureza deixar de fora as capitais Tel Aviv, Riad e Ancara. Um incêndio de razoáveis proporções.


O CS/ONU e a Liga Árabe (do Golfo...) não conseguem mais executar a política estadunidense. Não pelo menos com antes, com a desenvoltura anterior. Há resistências da Rússia e China e agora do Líbano, Iraque, Argélia, do Irã e da própria Síria e do seu bravo povo. A Liga Árabe acabou. Precisará ser, no futuro, recomposta ou outra organização surgirá. Hoje, é palco para monarquias fascistas, feudais, como as da Arábia Saudita e do Qatar.


O governo da Síria, sob o comando do seu jovem presidente, o médico Bashar El Assad, segue no caminho da tentativa de pacificação do país. Mais de 30 decretos, portarias e novas leis, editadas em oito meses vão reformando o regime, o governo, o país, dando-lhes feições mais modernas e democráticas. Avança o diálogo nacional com todas as organizações, governamentais ou não, no rumo de eleições democráticas, nova constituição e eleições presidenciais em 2013. Novos pactos, novas alianças, regionais e internacionais, devem atender aos interesses dos sírios. Novos acordos econômicos com países amigos, em especial Rússia e China, devem ser assinados em breve.


Quero registrar meu profundo lamento a uma esquerda que não consegue compreender a dimensão do que está em jogo naquela região e insiste em somar suas forças, pequenas é verdade, às do império estadunidense e seus lacaios, tentando derrubar o governo patriótico da Síria.


Posso estar enganado, mas contas feitas pelo imperialismo e sionismo, pela direita islâmica, o melhor mesmo talvez seja melhor bater em retirada. Difícil prever em detalhes, mas é esse o cenário que vislumbramos.

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Fontes Pesquisadas e Citadas


- Aisling Byrne. A realidade sempre mal contada na mídia sobre a Síria, do Asian Times Online, de 4 de janeiro de 2012;
- Assad Frangiéh, em www.elmarada.com.br em Editorial, O começo do fim. Agradeço ao Dr. Assad em particular por observações na primeira versão deste trabalho.
- Camila Carduz. Irã promete apoiar resistência libanesa e palestina contra Israel. Prensa Latina.
- Evguêni Satanóvski. Atual estratégia russa para o Oriente Médio permite ao país salvar as aparências e ganhar tempo. Presidente do Instituto de Estudos sobre o OM.
- Michel Chossudovsky. Syria: NATO’s next “humanitarian” war? http://www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=29234
- Pepe Escobar. Síria, a nova Líbia. Asia Times Online.
- Pepe Escobar. É que o Bahrein não é a Síria... http://www.atimes.com/atimes/Middle_East/NB15Ak03.html
- Robert Fisk, Bashar Al-Assad não cairá. Não, pelo menos, agora. The Independent.
- Sharmine Narwani. Veterano diplomata americano questiona a narrativa sobre a Síria. Al-Akhbar, Beirute.
- Thierry Meyssan. Fin de partie au Prouche-Orient. Rede Voltaire Net. http://www.voltairenet.org/Fin-de-partie-au-Proche-Orient

Observação: os artigos traduzidos para o português sem menção de páginas da Internet foram realizados pelo coletivo de tradutores da Vila Vudu, a quem de público agradeço.

* Lejeune Mirhan é sociólogo, Professor, Escritor e Arabista. Colunista de Oriente Médio do Portal da Fundação Maurício Grabois (http://grabois.org.br/). Colaborador da Revista Sociologia da Editora Escala. E-mail: lejeunemgxc@uol.com.br