Mostrando postagens com marcador Carta Capital. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Carta Capital. Mostrar todas as postagens

domingo, 9 de dezembro de 2012

Aonde eles pretendem chegar?


07.12.2012 - Mino Carta - Carta Capital

Mala tempora currunt, costumava dizer meu pai quando a situação política azedava. Maus tempos chegaram, em tradução livre.

Ele usava relógio de bolso de ouro de celebérrima marca suíça, presente de meu avô materno, Luigi, munido de tampa sobre a qual se lia, gravado em latim, o seguinte dizer: nada aconteça que você não queira lembrar. Nem sempre, contudo, a vida sorri.

Falo de cátedra, porque, quando meu pai morreu, herdei o relógio na qualidade de filho primogênito. Não o uso, mas o guardo com carinho e neste momento vejo meu pai a erguer a tampa com um leve toque de ponta de indicador e pronunciar, entre a solenidade e a pompa, mala tempora currunt.



Há qualquer coisa no ar que me excita negativamente e me induz a pensamentos sombrios, algo a recordar tempos turvos, idos e vividos. É a lembrança de toda uma década, espraiada malignamente entre o suicídio de Getúlio Vargas e o golpe de 1964, aquele executado pelos gendarmes da casa-grande, e exército de ocupação. Dez anos a fio, a mídia nativa vociferou contra líderes democraticamente eleitos e se expandiu em retórica golpista logo após a renúncia de Jânio Quadros.


Muita água passou debaixo das pontes, embora algumas delas levem o nome de ditadores e até de torturadores, mas o tom atual desfraldado à larga pelos barões midiáticos e seus sabujos não deixa de evocar um passado que preferiria ver enterrado.



Talvez esteja, de alguma forma, mesmo porque as personagens têm outra dimensão. Os propósitos são, porém, semelhantes, segundo meus intrigados botões. Acabava de lhes perguntar: qual será o propósito destes comunicadores, tão compactamente unidos no ataque concentrado ao PT no governo? Qual é o alvo derradeiro?

A memória traz à tona Jango Goulart e Leonel Brizola, a possibilidade de uma mudança, por mais remota, e os alertas uivantes quanto ao avanço da marcha da subversão.

Os temas agora são outros, igual é o timbre. Além disso, na comparação, mudança houve, a despeito de todas as cautelas e do engajamento tucano, com a eleição de Lula e Dilma Rousseff. Progressos sociais e econômicos aconteceram.


O ex-presidente tornou-se o “cara” do povo brasileiro e do mundo, a presidenta, se as eleições presidenciais se dessem hoje, ganharia com 70% dos votos.

Percebe-se, também, a ausência de Carlos Lacerda. Ao menos, o torquemada de Getúlio e Jânio lidava melhor com o vernáculo do que os medíocres inquisidores de hoje. Medíocres? Toscos, primários, sempre certos da audiência dos titulares e dos aspirantes do privilégio, em perfeita sintonia com sua própria ignorância.


Contamos, isto sim, com o Instituto Millenium.

Há quem enxergue na misteriosa entidade, apoiada inclusive com empresários tidos como próximos do governo, uma exumação do Ibad e do Ipes, usinas da ideologia fascistoide que foi plataforma de lançamento do golpe de 64.

Até onde vai a parvoíce e onde começa o fingimento?

É possível que graúdos representantes do poder econômico não se apercebam das responsabilidades e alcances da sua adesão ao insondável Millenium?

Ou estariam eles incluídos na derradeira prece de Cristo na cruz: perdoe-os, Pai, eles não sabem o que fazem?

Que o golpismo da mídia da casa-grande seja irreversível é do conhecimento do mundo mineral.

Causa espécie o envolvimento de personalidades aparentemente voltadas aos interesses do País em lugar daqueles da minoria.

Causa espécie, em grau ainda maior, a falta de reação adequada por parte do governo, inerte diante da ofensiva da autêntica oposição, o partido midiático.

Não basta dizer, como o ministro Gilberto Carvalho, que o povo está satisfeito com o bom governo de Lula e Dilma, enquanto a própria liderança do PT recomenda ao relator da CPI do Cachoeira, o intimorato Odair Cunha, que retire os halfos para o morrinho e Policarpo Jr. do rol dos passíveis de indiciamento.

Ri do quê? Este ministro nos deixa intranquilos.
Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr
E aí se apresenta o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo (foto), empenhado no esforço de demonstrar que não foi ignorado pela Polícia Federal no episódio destinado a exibir as mazelas do terceiro escalão governista. Notável protagonista, altamente representativo. Precioso aliado do banqueiro Daniel Dantas em determinadas ocasiões, como, de resto, muitos outros “esquerdistas” brasileiros.

Ah, sim, Cardozo acha que Lula provou sua inocência no caso da secretária Rose e de suas consequências. Acha? Ainda bem. Soletra ele, diante das câmeras da tevê: “Imaginar que o ex-presidente estivesse envolvido por trás disso, está, a meu ver, desmentido”. A meu ver? Estivesse eu no lugar de Lula e de Dilma, viveria apavorado ao perceber este gênero de comandantes à frente do meu efetivo.

E à presidenta, que CartaCapital apoiou e apoia, recomendamos a leitura de um dos mais qualificados arautos da direita golpista.

Merval Pereira (foto) não se confunde com Carlos Lacerda, mas na semana passada avisou não ser o caso de isentar Dilma das denúncias de corrupção, presentes e passadas.

Está clara a intenção de aplicar à presidenta a tese do domínio do fato.

Fonte:
http://www.cartacapital.com.br/politica/aonde-eles-pretendem-chegar/

Demais imagens: Google Images

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Tanto cá como acolá, mídias que se parecem

04.11.2012 - Mídias que se parecem - Claudio Bernabucci (*)
- extraído da revista Carta Capital

A poética imagem do arco-íris no céu de Brasília, imortalizada na primeira página do Globo no dia seguinte à condenação de José Dirceu, não tem representado o pano de fundo desejado pelos conservadores para as recentes eleições administrativas.

Não obstante a instrumentalização eleitoral do “mensalão” e os tons de cruzada utilizados, a direita saiu do pleito redimensionada e a base governista fortalecida.

Isso denota, entre outras coisas, que o eleitor brasileiro tem mais maturidade de quanto apostava a reação justiceira da grande imprensa e que o excesso de agressividade política pode resultar contraproducente no resultado das urnas.


É de se esperar que dinâmica similar possa se verificar daqui a poucos dias no outro hemisfério, na disputa estratégica pela Presidência dos Unidos Unidos.


Nas últimas semanas da campanha que opõe Obama a Romney, aconteceram fatos graves mas pouco divulgados no Brasil: os eleitores americanos sofreram pressões inéditas e autênticas chantagens por parte de poderosos oligarcas, inconformados com a possibilidade de vitória do candidato democrata.

Vale a pena mencionar alguns episódios para dar ideia da violência do combate. Era fato sabido que os Koch, donos de uma das maiores fortunas dos EUA, torciam pela direita mais retrógrada.

Nesta campanha, pela primeira vez, eles se atreveram a escrever aos 50 mil funcionários do seu grupo petroquímico, de que poderiam “sofrer consequências em caso de vitória de um candidato que queira impor outras regulamentações aos negócios”.

Outro exemplo: David Siguel [sic: 'Siegel', foto] é um bilionário do setor imobiliário da Flórida, já famoso por algumas extravagâncias como a construção da maior mansão do país, chamada com sobriedade de Versailles. Siguel [sic] teve o mérito de ser mais franco com os trabalhadores: declarou em entrevista que em caso de vitória de Obama ele poderia “fechar a empresa e despedir os 7 mil dependentes”.


Enredos do gênero apareceram aos magotes na imprensa americana.

Representam, porém, e apenas a ponta mais radical de uma aliança integrada pela finança e grandes corporações, visceralmente contra Obama, réu de querer lhes impor regras e limites depois da crise iniciada em 2008. Dois enredos talvez tenham marcado a fogo tal coligação antidemocrata.



O primeiro foi a pesada indenização de 25 bilhões de dólares imposta pelo governo a cinco bancos comprometidos com os escândalos dos empréstimos bilionários subprime: JP Morgan Chase, Bank of America, City Group, Wells Fargo e Ally Financial.



O segundo, mais recentemente, é constituído pela acusação formal de fraude contra a Bear Stearns, financeira controlada pela JP Morgan, acusada pelo procurador-geral de Nova York de ter enganado os investidores nos escândalos acima citados.

Esse processo é o primeiro fruto importante da task force, iniciativa do governo Obama, que visa indagar a respeito das irregularidades financeiras originárias da crise.

Caso as acusações contra o JP Morgan sejam confirmadas em juízo, elas estabeleceriam uma jurisprudência muito perigosa para todo o sistema financeiro americano. Não por acaso Wall Street virou as costas a Obama, com quem simpatizou na primeira eleição, e agora financia, copiosamente, o adversário Romney. Como resultado dessa situação, a atual campanha é destinada a ser a mais cara da história americana, com orçamento total de aproximadamente 6 bilhões de dólares.

Os financiamentos das corporações, liberados e sem limites em base a duas sentenças da Justiça em 2010, tem resultado na tremenda distorção da campanha, oferecendo ao candidato republicano uma vantagem nunca vista: entre os “grandes contribuintes”, ele recolheu quatro vezes mais do que o democrata.

Obama se confirma mais forte nas numerosas doações individuais e em alguns setores industriais de vanguarda, como a eletrônica, mas a desproporção dos meios materiais é brutal. Ao violar o sagrado princípio das oportunidades iguais, em tempos normais essa disparidade seria tomada como ameaça à democracia.


Hoje, no calor do combate, parece não haver espaço para sutilezas.

É certo que, em tais condições, uma vitória de Obama representaria um autêntico milagre: a supremacia da participação dos cidadãos contra o poder do dinheiro. Sobretudo, poderia significar a aplicação de novas regras contra a prepotência da finança e das grandes corporações, além de um primeiro passo para reequilibrar as relações de força entre política e setor econômico-financeiro, de sorte a beneficiar o futuro da nossa civilização.


De regresso às nossas latitudes, é certo que as mudanças encarnadas por Obama são exatamente as que os nossos donos do poder detestam profundamente.


Portanto, é necessária toda a atenção aos maus exemplos americanos, porque, aí sempre nasceu inspiração para as tragédias pátrias.

(*) Claudio Bernabucci, formado em Ciência Política na Universidade La Sapienza, em Roma, é ex-assessor internacional da prefeitura da capital italiana e ex-funcionário da ONU. Interpreta o Brasil, país que escolheu para morar a partir de 2010, aos olhos do mundo.

Fonte:
http://www.cartacapital.com.br/sociedade/midias-que-se-parecem/?autor=1347

sábado, 22 de setembro de 2012

Toda araruta tem seu dia de mingau


22/09/2012 - O espetacular desfile do Grêmio Recreativo Escola de Samba Unidos no Mensalão Tucano (GRES-UMT), no Grupo Especial
- por Antonio Fernando Araujo (*)


Calma gente, toda araruta, sim, tem seu dia de mingau. Mino Carta já não escreveu na CartaCapital "nuvens plúmbeas estacionam no horizonte?"

e prosseguiu: "Desde já, CartaCapital avisa. Tão logo termine o julgamento do chamado 'mensalão petista', nossa capa vai soletrar: E AGORA VAMOS AO MENSALÃO TUCANO.

Temos um excelente enredo a desenrolar. Se mudança houve, que seja." 

E, aqui pra nós, não adianta querer forçar a barra, como insiste a talentosa Rede Globo, apelidando-o de 'mensalão mineiro', pois na verdade este 'mensalão petista', já em fase final de julgamento, ficará para a história apenas como o remanescente atávico do mesmo sistema nefasto que há tempos irriga com uma grana extra, políticos e seus Partidos, aquele que possui, desde sua origem, a experiência, a plumagem e o DNA dos que conduziram com destreza essa modalidade de patifaria: o MENSALÃO TUCANO. Pois foi lá, no ninho azul e amarelo deles, inspirados e chocados cuidadosamente por Eduardo Azeredo quando governador tucano de Minas Gerais, que nasceram todos os demais mensalinhos e mensalões, patéticos com suas variadas cores e sinistros personagens a promoverem a descrença e a deformação dos políticos e da atividade política neste país.
Augusto Boal

No entanto, nesse desfile alegórico, nessa quase pantomina que logo estará na avenida, há que se levar em conta que "o teatro é uma representação do real, não é o real, ainda que saibamos todos que a imagem do real é real enquanto imagem". Ao garantir isso em seu livro "O Teatro como Arte Marcial", Augusto Boal antecipou aquilo que décadas mais tarde se tornaria a narrativa de uma comédia encenada numa monumental passarela do samba de qualquer cidade brasileira, o enredo trágico e deslumbrante de uma Escola de Samba irreal, mas que, enquanto imagem que expressa a afirmação do mestre do Teatro do Oprimido, é ficção real, dolorosamente real e dramaticamente ficção.

Assim sendo galera, vâmu qui vâmu a esse turbilhão de alegorias onde vida e arte se entrelaçam, porque prestes a terminar o desfile do Mensalão Petista, se apressa para entrar fulgurante na avenida, o fantástico Mensalão Tucano.


Antes porém, e como acaba de divulgar o TSE (Tribunal Superior Eleitoral), o tucano PSDB, que a “grande imprensa” da Família GAFE (Globo/Abril/Folha/Estadão) considera seus membros, os bastiões brasileiros da moral, dos bons costumes e da anticorrupção, é o partido que tem mais pessoas Fichas-Sujas entre os candidatos a prefeito no Brasil, os chamados Barrados do Ficha Limpa, nestas "Eleições 2012". Assim, no Grupo de Acesso, composto por todos os Barrados do Ficha-Limpa, o tucano PSDB não renunciou às suas origens, acabou de sagrar-se Campeão. Portanto sua participação no Grupo Especial já está garantida.


Agora vamos ao desfile desse Grupo Especial, do qual participa o já veterano Grêmio Recreativo Escola de Samba Unidos no Mensalão Tucano (GRES-UMT).

Já escalado pra Comissão de Frente estará o Satiagraha, ficando a refinada coreografia a cargo de Gilmar Mendes, a Suprema Majestade do Supremo dos Supremos. Segredos, há tempos guardados sob a toga, vão surpreender na avenida.

A Privataria Tucana, candidata ao Prêmio Jabuti-2012 em uma de suas categorias, virá a seguir num deslumbrante Carro Abre-Alas, onde o destaque, claro, é o incansável e insistente José Serra, fantasiado de querubim ao lado do padre Marcelo Rossi. Vibrando com ele, o Mestre de Bateria, o imbatível e sedutor FHC com sua Pasta Rosa onde guardará as batutas de maestro de oito anos de carnavais em notas de 1000. Se der tudo certo e ele for novamente guindado a Mestre de Bateria no ano que vem, elas serão distribuídas generosamente entre todos os ritmistas.

À frente deles e deslizando esplêndida como um cisne, sua Rainha, outra não poderia ser senão a vistosa Vanessa Mendonça, a mulher do grande Patrono da Escola, o benemérito bicheiro Carlinhos Cachoeira.

O teatral Roberto Jefferson, digníssimo presidente do PTB, é o puxador do samba-enredo "O Mensalão Campeão", que embora não tenha sido composto por ele, promete levantar bem alto a galera de tanto susto e indignação, depois que a merda toda vier à tona e se espalhar pelas arquibancadas, frisas e camarotes. O Primeiro Mestre-Sala, claro, é Demóstenes Torres (ex-DEM) e sua Porta-Bandeira, o Agripino Maia travestido, do DEM, portando a bandeira azul e amarelo tucana, imbatíveis quando tratam de honrar com galhardia o nobre apelido que lhes deram, C&H, de Cinismo & Hipocrisia.

Por seu turno e por não ter sido tão habilidoso quanto seu colega Demóstenes, José Arruda (ex-DEM, ex-governador do DF e que já foi flagrado nas patifarias pela segunda vez), por isso mesmo, é o Segundo Mestre-Sala. Sua Porta-Bandeira é a Rosinha Garotinho, ex-governadora do Rio, como seu marido e tutor Anthony Garotinho, ele veterano, mas ela, no caso, ainda uma aprendiz. 


Compondo a Velha Guarda do GRES-UMT, entrarão em peso e em volta do Banestado, toda a Ala do DEM, com o Jorge Bornhausen fantasiado de Madre Tereza de Calcutá, já que ele nunca escondeu sua ojeriza a pobre, seguido por ACM Neto (candidato a prefeito de Salvador e "in memoriamrepresentando o insigne avô), Rodrigo Maia (candidato a prefeito do Rio), o " dad " César Maia (ex-prefeito do Rio) e seus colegas tucanos mais emplumados e experientes, Sérgio Guerra, Álvaro Dias, Eduardo Azeredo (o histórico grande artífice de todos os mensalões), Marconi Perillo, Roberto Freire (o "tucano de periferia"), o Kassab (o "tucano regra três") e o Garotinho que, embora não sendo demo nem tucano, na última hora pediu pra entrar nessa Ala, pois quer ficar de olho na Rosinha, já que não confia nem um pouco que o trapalhão do Arruda possua gabarito suficiente para dar a ela boas aulas de rodopio com a bandeira azul, verde e branco do Mensalão do DEMOS. Como aprendiz que ela ainda é, não convém se deixar flagrar ao escorregar e cair na tentação em plena avenida, diante dos jurados do "Samba, Tradição & Fuzarca" (STF) e das câmeras ocultas dos arapongas X-9, tipo Dadá do Cachoeira.

Já o contrito Bispo Macedo, refinado como ele é, astuto Diretor de Harmonia, não teve maiores dificuldades. Ali mesmo e em troca dos trocados abençoados, ele concordou com o pedido do Garotinho, e sem pestanejar fez uma prece com o olhar revirado pro Céu - que os maledicentes logo interpretaram como uma nova versão da Oração do Mensalão -, piscou duas vezes pro evangélico Garotinho, sem titubear pegou dele o calhamaço de notas e, numa rapidez incrível, acomodou tudo num esconderijo secreto entre suas pelhancas do tronco das coxas com as nádegas.

Já a turma dos garis será comandada por ninguém menos que Boris Casoy, claro, um privilégio que depois de muito empenho, ele conseguiu com o ilibado governador Cabral, um ex-tucano, acatando uma recomendação do seu 'capo' Fernando Cavendish, agora dono nas sombras da Empreiteira Delta, por conta de uma carona rapidamente aceita no jatinho do empresário pra próxima temporada de compras parisienses com todas as mulheres, primas, cunhadas, amantes e sogras dispostas em caravana a renovar por lá o estoque de calçados da nova temporada.

Como sabemos Casoy possui uma indiscutível afinidade com essa turma de macacão laranja da Comlurb, desde quando no Natal de 2010 os desancou no ar, ao não perceber que o áudio ainda estava aberto. Nelson Jobim, fantasiado com uniforme camuflado de selva, concreto e asfalto se encarregará da segurança contando com o apoio velado do ex-Secretário de Segurança da Rosinha Garotinho, Álvaro Lins, que embora se encontre na cadeia, condenado que foi por sua exemplar conduta corporativa no gerenciamento de milícias devidamente conciliada com a pose de Secretário de Governo, prometeu um suporte discreto, mas eficaz.

Os jurados estarão sob o comando de Joaquim Barbosa, que, com o egrégio assentimento de quase todos os seus pares do órgão máximo do "Samba, Tradição & Fuzarca" (STF) também será encarregado das apurações. Perfeito, da forma como ele exigiu. Alegando dores insuportáveis no quartos praticamente impôs que nesse caso, primeiro se apure os votos e depois, se for assim tão necessário, se julgue cada um dos quesitos dos carnavalescos, num delírio tão fantasioso que a Corte Internacional que rege os carnavais do mundo todo, tão logo soube, pediu vistas.

Roberto Gurgel, o exemplar Procurador Geral da Liga, seu manhoso e celebrado assistente, assentiu levantando o dedão pro alto e ao dar o ok pra essa artimanha digna de registro nos anais forenses, consagrou uma prática jurídica que ainda vai dar muita dor de cabeça aos futuros carnavalescos que porventura pensem em burlar as ancestrais regras de presunção de inocência e virgindade das candidatas a Rainha da Bateria, dos destaques e passistas de samba no pé, bem como da necessária apresentação de provas insofismáveis que são habilidosas Portas-Bandeiras para um desfile impecável em termos puramente burlescos no surrupio do dinheiro público sem se deixar flagrar. Dessa forma, Barbosa prometeu que os resultados sairão antes das Olimpíadas de 2016 ou antes dele ficar entrevado de vez, o que acontecer primeiro.

Dadá, homem da absoluta confiança de seu amigo Carlinhos Cachoeira e seus colegas arapongas ficarão com o encargo de fingir que empurram os carros alegóricos, na verdade movidos por um motorzinho que eles produziram "Sem Autorização da Justiça" e muito menos do STF, embora digam que este teria feito vista grossa por se tratar de amigos tucanos, "tutti buona genti".

Na especial Arquibancada 7, reservada aos turistas mais bem aquinhoados, veremos José Sarney, tendo a tiracolo, Renan Calheiros e Jader Barbalho, todos do PMDB, um do Senado e outro da Câmara, um de cada lado, cercados por garçons, serventes e seguranças, estes a cargo das honradas milícias do deputado tucano Marcelo Itagiba, depois que ele defenestrou delas o Álvaro Lins. O senador Presidente do Congresso, liderando e sendo reverenciado por seus pares de homens e mulheres probos, tanto os das Bancadas Ruralista e Evangélica quanto os dos seus apaniguados no Ministério dos Transportes e no de Minas e Energia, todos presentes para aplaudir o desfile tucano, estarão muito bem instalados em poltronas confortáveis, bem nutridos, cercados de geladeirinhas térmicas recheadas com vinhos, quitutes e guloseimas, fartos de tantos privilégios.

Só falta a mídia, representada na sua totalidade pela impoluta Família GAFE da Imprensa e seu partido, o PIG, o Partido da Imprensa Golpista. Toda a cobertura jornalística e televisiva ficará a cargo do sinistro, mas casto, Roberto Civita, da Veja (mas não leia) tendo como Primeiro Assistente o Policarpo Jr., da Veja-Brasília, amigo, mais do que íntimo, do ilustre Patrono da Escola, o mais do que afamado bicheiro Carlinhos Cachoeira. Os comentaristas escalados para o "aquário" serão o Reinaldo Azevedo, também da Veja, fantasiado de matuto caipira que, por sinal, lhe cai muito bem e o fugitivo Diogo Mainardi (ex-Veja) que, devido as circunstâncias, virá fantasiado com máscaras venezianas pra não dar na vista, mas criativamente adaptadas das dos Irmãos Metralha. Todos do primeiro escalão, dessa que é ou já foi a maior revista semanal da América Latina, embora o Alexandre Garcia, da Globo News, garanta, devido sua intimidade de longa data com os porões da ditadura militar, que há controvérsias no submundo da máfia midiática.

Para o início dos desfiles escalaram a Miriam Leitão, do Globo, em especial pra entrevistar o carnavalesco da Escola, o irrequieto e inefável Geraldo Alckmin, o truculento tucano governador de São Paulo, destacado apreciador de xuxu, "a la Opus Dei". Na verdade a única função da Miriam ali é agourar - especialista que é nesse metier - pra que as demais escolas desfilem mal e a GRES-UMT volte a ser, uma vez mais, a campeã das urnas paulistanas, como tanto deseja o carnavalesco Alckmin. Pra pista também, infiltrado entre os passistas, escalaram o experiente Augusto Nunes (já andou por tudo quanto é mídia, agora está na Veja e, como não poderia deixar de ser, também na Globo News) pra que ele recorde com entusiasmo juvenil, seus tempos de estudante quando, infiltrado no movimento estudantil, funcionava maravilhosamente bem como alcaguete da ditadura.

Pros camarotes, por conta da sua Imortalidade adquirida a prestações, mas com o aval da família Malina, digo Marinho, vai o Merval Pereira, do Globo, fantasiado com o Fardão da Academia e, claro, representando a tal família. Vai levar vários exemplares dos seus dois únicos livros que escreveu, mas que nem a família leu. Não haverá autógrafos, servirão apenas para distribuição gratuita entre aqueles que já estiverem completamente embriagados, pois no dia seguinte jamais saberão ao certo como aquele troço foi parar nas suas mochilas. Entretanto, sua mais destacada missão será entrevistar o William Waack, da Globo News, que no camarote dos EEUU, representará o governo americano e o casal William Bonner & Fátima Bernardes, da TV Globo, que no britânico, posarão como se fossem Suas Altezas Imperiais Britânicas, tudo por conta do servilismo colonial, ainda muito em voga e considerado chique entre esses súditos da nobreza capitalista mundial.

Pra "Dispersão", na Praça da Apoteose, foi designada a Eliane Cantanhede, da Folha e da Globo News. Ninguém melhor que a Musa da Febre Amarela, já que não se pode imaginar uma musa que não seja tão dispersiva, roxa de carteirinha, especializada que é em qualquer tratamento de doenças graves ou leves em geral, biomas de partes remotas da região amazônica, Muamar Khadafi, Bashar-Al-Assad e outros árabes notáveis e suas vertentes islâmicas, além das sutilezas tecnológicas de caças ultra modernos adequados pra nossa FAB.

Já pro meio da galera das últimas arquibancadas, as do povão, ainda cogitaram escalar o Luiz Carlos Prates, agora no SBT, depois que foi expulso da RBS, a Rede Brasil Sul, afiliada da Rede Globo, por conta das insuportáveis asneiras que ele vociferava no ar atribuindo  à Classe C a culpa pelos transtornos no trânsito e as mortes nas estradas. Mas quando chegaram a conclusão que, no ardor da sua demência ele seria capaz de, em pleno Setor 11 da Apoteose, o dos personagens distintos desse vasto Brasil dos excluídos, aqueles conhecidos como Classe E e alguns penetras da F, já no limiar da "Dispersão", quando todos estão alvoroçados, ele tirar a roupa só pra mostrar que por baixo estará fantasiado de "chiquita bacana, lá da Martinica" com apenas uma vulgar casca de banana nanica enfiada entre as pernas como um tapa-sexo pouco criativo, acharam por bem desconvidá-lo, e por medida de segurança, ainda interná-lo no Hospital Souza Aguiar, pra desfrutar do inigualável conforto do maior hospital público da América Latina, no lado mais melancólico e esquecido do centrão do Rio.


Assim, com essa equipe, cuja parte técnica estará integralmente sob controle do Arnaldo Jabor, da CBN, os telespectadores terão a garantia de que não assistirão porra nenhuma do que realmente vai acontecer na avenida, mestre que ela é em escamotear a verdade, inventando reportagens (a Dilma Roussef-Dulce Maia, do Elio Gaspari, no Globo e na Folha), imagens (a Ficha falsa da Dilma, na Folha), entrevistas (Renato Maurício Prado, ex-Sport TV, na Veja-Rio e a recentíssima envolvendo supostas declarações do Marcos Valério, na Veja), eventos (a bolinha de papel na careca do Serra, no Globo), declarações (todas as do Lula, habilmente distorcidas, como as supostamente ditas por ele no encontro com Gilmar Mendes e Nelson Jobim), pois jornalismo pra essa turma nada mais é do que botar nas bancas e na casa dos assinantes, em primeiro lugar, somente aquilo que for agradável ao paladar mediano, ao juntar em qualquer formato, lazer com fofocas de "celebridades", patifarias falsas e verdadeiras dos políticos com dietas seguras pra emagrecer, pincelando isso tudo com as disputas por fiéis e seus dízimos entre líderes evangélicos e as últimas descobertas da medicina com alguns lançamentos da informática.

Isso vem a ser quase a totalidade do que necessitam para garantir ou aumentar a receita, sem descuidar, claro, da indispensável "aura de credibilidade" que deixam transparecer em algumas páginas raivosas que baixam a ripa exclusivamente no PT e nos textos recheados de invencionices da lavra da maioria de seus articulistas, verdadeiros paus-mandados a soldo dos patrões, para que uns e outros executem algo similar ao papel que a cereja, com galhardia, cumpre no Martíni.

Me ocorre lembrar, que foi nesses moldes que Günter Wallraff, jornalista e escritor alemão, na década de 1970, aludiu ao jornal Bild, do grupo empresarial alemão Springer, quando escreveu o seu "Fábrica de Mentiras". E é sem tirar nem por, o que Sylvia Debossan Moretzsohn, jornalista, escritora e professora da Universidade Federal Fluminense, escreveu na Edição 710, do Observatório da Imprensa, em seu artigo de 04/09/2012, "longa tradição das 'entrevistas' inventadas". Nossa mídia GAFE tem se mostrada em geral, uma aluna, dessas que nunca faltam aos ensaios nos barracões, praticante exemplar desse jornalismo de esgoto.

Mas, voltemos ao desfile pra concluir. Finalmente, o presidente da Liga, já contemplado com uma extensa ficha corrida, o honrado Daniel Dantas, dono do Grupo Opportunity, assessorado pelo não menos íntegro Índio da Costa, o ex-vice do Serra, que recentemente levou à falência o Banco Cruzeiro do Sul, em meio à denúncias cabeludas de malversação do dinheiro dos aplicadores e pelo ativo empreendedor e homem de visão, Ricardo Teixeira (ex-CBF, em conluio com João Havelange e, claro, a mando da família Marinho) já estabeleceu que, no Grupo Especial, aquela Ala Tucana campeã dos Barrados do Ficha-Limpa, deve compor-se com a jovem e promissora Ala dos Tucanalhas do Amanhã, sob a liderança do Otavinho Frias, dono da Folha, o jornal que, além de estampar uma ficha falsa da presidenta Dilma Roussef e não pedir desculpas pela safadeza, não se cansou de ceder seus veículos a notáveis figuras da ditadura militar, para a prisão, tortura e morte dos que, na década de 1970, bravamente, a ela resistiam em São Paulo.

- Aí, não tem pra mais ninguém, está tudo dominado, anunciou em manchete o Estadão, a mando do Serra, e emocionado e aos berros o Paulo Preto, tudo pronto enfim pra ser o Mensalão Campeão, disse ele, enredo e apresentação tão esperados do invencível Grêmio Recreativo Escola de Samba Unidos no Mensalão Tucano (GRES-UMT) que não perde nenhum dos desfiles de São Paulo, há quase 20 anos.

Como viram, esse Mensalão Tucano não é coisa pra principiantes, dado o número, patentes e biografias dos envolvidos. Assim, esses estreantes do Barrados do Ficha-Limpa e que agora, como campeões do Grupo de Acesso, vão participar da Ala dos Tucanalhas do Amanhã, no vitorioso Grêmio Recreativo Escola de Samba Unidos no Mensalão Tucano (GRES-UMT), podem se orgulhar e estar certos de que encontrarão nele o ambiente propício ao desenvolvimento de suas habilidades, já inicialmente testadas e comprovadas nessa recente vitória.

Portanto, desde já, podem todos, novatos e veteranos, encomendar o chope. Com uma ressalva. Saibam que essa distribuição e seu rigoroso controle ficarão exclusivamente a cargo do confiável e abstêmio mineiro Aécio Neves, o rei do bafômetro carioca, que há longa data vem acompanhando das coxias e do seu apartamento do Leblon, todos os ensaios da Escola, tendo já consumado com êxito alguns novos lances experimentais nos desfiles da Belo Horizonte das Alterosas. É o mais bem cotado come quieto, candidato único a suceder o atual presidente da Liga.


"Nuvens plúmbeas estacionam no horizonte", disse Mino Carta, mas as metáforas que protagonizaram este enredo e pretenderam interpretar Boal sob as luzes de uma passarela do samba qualquer, a avenida onde ainda vai desfilar o Grêmio Recreativo Escola de Samba Unidos no Mensalão Tucano são apenas componentes desse imenso palco de um teatro do tamanho do Brasil oprimido, onde apenas veremos uma representação do real, não o real.

Afinal, dizem os esperançosos, a realidade às vezes e ao final das contas, costuma ser até um pouco melhor do que a ficção, do tipo dessa que acabamos de descrever.

"Se mudança houve, que seja." Tomara!


(*) Antonio Fernando Araujo é colaborador deste blog



segunda-feira, 10 de setembro de 2012

A mídia e os políticos

06.09.2012 - Mino Carta - Carta Capital


A inveja dói. Não bastou cair nos braços de Clinton para ser “o cara”.
Foto: Lula Marques / Folhapress
 Quando me convidam para falar em público, quase sempre plateias universitárias, às vezes, se a situação recomenda, proponho: levante o braço quem já leu um livro de Fernando Henrique Cardoso.

Ao cabo de décadas de palestras, vi ao todo três braços erguidos.

 O príncipe dos sociólogos é lido por pouquíssimos.

Fama usurpada? Anos atrás, em conversa com um caro amigo, ousei citar o líder comunista italiano Massimo D’Alema, o qual, sem referir-se ao sociólogo, disse do político: “Fernando Henrique é um presidente de exportação”. O caro amigo me convidou com extrema firmeza a passar o resto dos meus dias na Itália e nunca mais falou comigo. E nem sei se ele leu algum livro do seu herói.

Avento a hipótese de que haja quem coloque FHC sobre um pedestal inviável e lhe atribua um peso específico inexistente, a configurar um mistério brasileiro digno da análise dos cultores do absurdo. Entendo que a presidenta Dilma fique indignada com o artigo que o presidente da reeleição comprada publicou no Estadão de domingo 2 de setembro para denunciar no chamado “mensalão” a herança de Lula. Mas vale a pena abrir portas abertas ou conversar com as paredes para replicar a um texto ditado, antes de mais nada, pela inveja?

Há quem diga que mesmo em Higienópolis, o bairro heráldico de São Paulo, o morador FHC deixou de ser assunto há muito tempo. E quanto há de sofrer o esquecido, devorado pela constatação de que Lula não foi presidente de exportação para ser reconhecido internacionalmente como “o carasem precisar atirar-se nos braços do presidente americano. À época da Presidência tucana, Clinton, avalista do neoliberalismo mundial, ao qual FHC aderiu sofregamente.

Estranho, de todo modo, que as autoridades brasileiras atualmente no poder atribuam importância a uma mídia disposta a desancá-las in limine e a priori para apoiar maciçamente o tucanato, com resultados tragicômicos, como se viu em 2002, 2006 e 2010.

Nesta semana, a espantosa Veja registra a mudança histórica representada pelas “condenações de mensaleiros”. “O Brasil reencontra o rumo ético”, afirma, e nisto conta com a imediata concordância de Época, a global.

Simples explicar tanto regozijo: Veja e Época consideram-se pontas de lança da mídia enfim vencedora. Sem entrar no mérito da palavra errada, mensaleiros, entregam-se ao estado de graça os mesmos que silenciaram em relação ao “mensalão” tucano, das privatizações em diante. Cabe perguntar por que o Brasil não começou a mudar então.

Os políticos, em geral, ainda não entenderam que esta mídia, pronta a antecipar os veredictos do Supremo, serve exclusivamente à minoria privilegiada, a lhe repetir as frases feitas, a lhe engolir as mentiras, a acreditar em suas invenções qual fossem a própria verdade factual, sem dar-se conta, é óbvio, das omissões.

E para impedir a convocação de Policarpo Jr. diretor da sucursal de Veja em Brasília, parceiro de Carlinhos Cachoeira em algumas clamorosas contravenções, destinada à apuração da CPI, basta e sobra que um representante da Abril baixe na capital federal e converse com quem de direito, habilitado a dar um jeito. Ah, sim, o famoso jeitinho brasileiro. Daí, a moral: o Brasil não é o Reino Unido, que manda para casa o senhor Murdoch.

Veja e Época celebram a mudança que lhes convém, expõem-se, contudo, a um risco. E se o Supremo tomar gosto pela fidelidade à deusa vendada e depois do processo em curso partir para outro, o julgamento das falcatruas tucanas? Os dias não têm sido luminosos para o PSDB, à vista, inclusive, da luta intestina a ser precipitada pela possível (provável?) derrota de José Serra na iminente eleição paulistana. Quem será o próximo candidato tucano à Presidência da República, o anti-Dilma? Nuvens plúmbeas estacionam no horizonte.

Desde já, CartaCapital avisa.

Tão logo termine o julgamento do chamado “mensalão petista”, nossa capa vai soletrar: E AGORA VAMOS AO MENSALÃO TUCANO.

Temos um excelente enredo a desenrolar. Se mudança houve, que seja.

Fonte:
http://www.cartacapital.com.br/politica/a-midia-e-os-politicos/?autor=42