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quinta-feira, 28 de junho de 2012

Murar o medo

22/06/2012 - por Mia Couto
extraído do site Vermelho (*)


Mia Couto: a quem serve o medo?

Esta conferência foi pronunciada pelo romancista moçambicano em novembro de 2011, nas Conferências do Estoril, da Fundação Cascais, que ocorrem anualmente na cidade portuguesa de Cascais para debater os desafios da globalização, sendo dirigida a um público formado por políticos, empresários, acadêmicos, intelectuais, estudantes, jornalistas e formadores de opinião.
Por Mia Couto

O medo foi um dos meus primeiros mestres. Antes de ganhar confiança em celestiais criaturas, aprendi a temer monstros, fantasmas e demônios. Os anjos, quando chegaram, já era para me guardarem, os anjos atuavam como uma espécie de agentes de segurança privada das almas.

Nem sempre os que me protegiam sabiam da diferença entre sentimento e realidade. Isso acontecia, por exemplo, quando me ensinavam a recear os desconhecidos. Na realidade, a maior parte da violência contra as crianças sempre foi praticada não por estranhos, mas por parentes e conhecidos.

Os fantasmas que serviam na minha infância reproduziam esse velho engano de que estamos mais seguros em ambientes que reconhecemos. Os meus anjos da guarda tinham a ingenuidade de acreditar que eu estaria mais protegido apenas por não me aventurar para além da fronteira da minha língua, da minha cultura, do meu território. O medo foi, afinal, o mestre que mais me fez desaprender.

Quando deixei a minha casa natal, uma invisível mão roubava-me a coragem de viver e a audácia de ser eu mesmo.

No horizonte vislumbravam-se mais muros do que estradas. Nessa altura, algo me sugeria o seguinte: que há neste mundo mais medo de coisas más do que coisas más propriamente ditas.

No Moçambique colonial em que nasci e cresci, a narrativa do medo tinha um invejável casting internacional: os chineses que comiam crianças, os chamados terroristas que lutavam pela independência do país, e um ateu barbudo com um nome alemão. Esses fantasmas tiveram o fim de todos os fantasmas: morreram quando morreu o medo. Os chineses abriram restaurantes junto à nossa porta, os ditos terroristas são governantes respeitáveis e Karl Marx, o ateu barbudo, é um simpático avô que não deixou descendência. O preço dessa narrativa de terror foi, no entanto, trágico para o continente africano. Em nome da luta contra o comunismo cometeram-se as mais indizíveis barbaridades.

Em nome da segurança mundial foram colocados e conservados no Poder alguns dos ditadores mais sanguinários de toda a história. A mais grave herança dessa longa intervenção externa é a facilidade com que as elites africanas continuam a culpar os outros pelos seus próprios fracassos. A Guerra-Fria esfriou mas o maniqueísmo que a sustinha não desarmou, inventando rapidamente outras geografias do medo, a Oriente e a Ocidente.

E porque se tratam de entidades demoníacas, não bastam os seculares meios de governação. Precisamos de investimento divino, precisamos de intervenção de poderes que estão para além da força humana. O que era ideologia passou a ser crença, o que era política tornou-se religião, o que era religião passou a ser estratégia de poder. Para fabricar armas é preciso fabricar inimigos. Para produzir inimigos é imperioso sustentar fantasmas.

A manutenção desse alvoroço requer um dispendioso aparato e um batalhão de especialistas que, em segredo, tomam decisões em nosso nome. Eis o que nos dizem: para superarmos as ameaças domésticas precisamos de mais polícia, mais prisões, mais segurança privada e menos privacidade.

Para enfrentarmos as ameaças globais precisamos de mais exércitos, mais serviços secretos e a suspensão temporária da nossa cidadania. Todos sabemos que o caminho verdadeiro tem que ser outro. Todos sabemos que esse outro caminho poderia começar pelo e conhecermos melhor esses que, de um e do outro lado, aprendemos a chamar de “eles”.

Aos adversários políticos e militares, juntam-se agora o clima, a demografia e as epidemias. O sentimento que se criou é o seguinte: a realidade é perigosa, a natureza é traiçoeira e a humanidade é imprevisível. Vivemos – como cidadãos e como espécie – em permanente situação de emergência. Como em qualquer estado de sítio, as liberdades individuais devem ser contidas, a privacidade pode ser invadida e a racionalidade deve ser suspensa.

Todas estas restrições servem para que não sejam feitas perguntas como por exemplo estas: porque motivo a crise financeira não atingiu a indústria de armamento?

Porque motivo se gastou, apenas o ano passado, um trilhão e meio de dólares com armamento militar?

Porque razão os que hoje tentam proteger os civis na Líbia, são exatamente os que mais armas venderam ao regime do coronel Kadafi?

Porque motivo se realizam mais seminários sobre segurança do que sobre justiça?

Se queremos resolver (e não apenas discutir) a segurança mundial – teremos que enfrentar ameaças bem reais e urgentes.

Há uma arma de destruição massiva que está sendo usada todos os dias, em todo o mundo, sem que seja preciso o pretexto da guerra.

Essa arma chama-se fome.

Em pleno século 21, um em cada seis seres humanos passa fome. O custo para superar a fome mundial seria uma fração muito pequena do que se gasta em armamento. A fome será, sem dúvida, a maior causa de insegurança do nosso tempo.

Mencionarei ainda outra silenciada violência: em todo o mundo, uma em cada três mulheres foi ou será vítima de violência física ou sexual durante o seu tempo de vida. É verdade que sobre uma grande parte de nosso planeta pesa uma condenação antecipada pelo fato simples de serem mulheres. A nossa indignação, porém, é bem menor que o medo.

Sem darmos conta, fomos convertidos em soldados de um exército sem nome, e como militares sem farda deixamos de questionar. Deixamos de fazer perguntas e de discutir razões. As questões de ética são esquecidas porque está provada a barbaridade dos outros. E porque estamos em guerra, não temos que fazer prova de coerência, nem de ética e nem de legalidade. É sintomático que a única construção humana que pode ser vista do espaço seja uma muralha.

A chamada Grande Muralha foi erguida para proteger a China das guerras e das invasões. A Muralha não evitou conflitos nem parou os invasores. Possivelmente, morreram mais chineses construindo a Muralha do que vítimas das invasões que realmente aconteceram. Diz-se que alguns dos trabalhadores que morreram foram emparedados na sua própria construção. Esses corpos convertidos em muro e pedra são uma metáfora de quanto o medo nos pode aprisionar. Há muros que separam nações, há muros que dividem pobres e ricos. Mas não há hoje no mundo, muro que separe os que têm medo dos que não têm medo. Sob as mesmas nuvens cinzentas vivemos todos nós do sul e do norte, do ocidente e do oriente.

Citarei Eduardo Galeano acerca disto, que é o medo global: “Os que trabalham têm medo de perder o trabalho.

Os que não trabalham têm medo de nunca encontrar trabalho.

Quando não têm medo da fome, têm medo da comida.

Os civis têm medo dos militares, os militares têm medo da falta de armas, as armas têm medo da falta de guerras."

E, se calhar, acrescento agora eu, há quem tenha medo que o medo acabe!


(*) Agradecimento especial a Selenia Granja que, de Salvador, garimpou esse texto e o deixou à mostra no Facebook de onde foi pinçado.

Original do site Vermelho em:
http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=186637&id_secao=11#.T-xpdOa5c-E.facebook
Video:

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Além da Rio+20: juntos por um futuro sustentável

22/06/2012 - por José Graziano da Silva (*)
original publicado no site TERRAMÉRICA - Envolverde

Rio de Janeiro, Brasil, 22 junho de 2012 (Terramérica) - As declarações finais da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente Humano de 1972 e a Eco 92 puseram o ser humano no centro do desenvolvimento sustentável.

No entanto, até hoje, mais de 900 milhões de pessoas ainda passam fome.

Populações pobres pelo mundo afora, especialmente nas áreas rurais, são as mais atingidas pelas crises alimentar, climática, financeira, econômica, social e energética que o mundo enfrenta hoje.

Não podemos falar em desenvolvimento sustentável enquanto aproximadamente uma em cada sete pessoas – crianças, mulheres e homens – ficam para trás, vítimas de desnutrição. Seria uma contradição. A fome e a pobreza extremas também excluem a possibilidade de um verdadeiro desenvolvimento sustentável porque os miseráveis precisam usar os recursos naturais disponíveis para conseguir comida. Para eles, suprir suas necessidades básicas é o princípio primordial de cada dia – planejar para o futuro é um luxo que eles não têm.

Paradoxalmente, mais de 70% das pessoas que passam fome no mundo dependem diretamente da agricultura, caça e pesca para sobreviver. Portanto, suas escolhas diárias ajudam a determinar como os recursos naturais do mundo são administrados. Não podemos esperar que o agricultor pobre não corte uma árvore se esta é sua única fonte de energia; não podemos pedir para o pescador artesanal deixar de pescar durante o período do defeso se esta é a única maneira de alimentar sua família.

A fome coloca em movimento um ciclo vicioso que reduz a produtividade, aprofunda a pobreza, desacelera o desenvolvimento econômico, promove a degradação dos recursos e a violência. A fome e a disputa por recursos naturais são fatores de conflitos que, mesmo quando são internos, têm impactos que frequentemente ultrapassam as fronteiras dos países. Então, há também uma ligação direta entre a segurança alimentar e segurança nacional e regional.

A busca por segurança alimentar pode ser o fio condutor que ligará os diferentes desafios que o mundo enfrenta e ajudará a construir um futuro mais sustentável. Na Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, temos uma oportunidade de ouro para explorar a convergência entre as agendas da segurança alimentar e a sustentabilidade para assegurar que isso aconteça. Ambas requerem mudanças para modelos de produção e consumo mais sustentáveis.

Para alimentar uma população mundial que superará a marca de nove bilhões de pessoas em 2050, a FAO prevê a necessidade de aumentar a produção agrícola em pelo menos 60%. Para isso, precisamos produzir mais alimentos ao mesmo tempo em que conservamos o meio ambiente. Contudo, mesmo com práticas mais sustentáveis, a pressão sobre nossos recursos naturais será extrema. Então, também temos que mudar a maneira que nos alimentamos, adotando dietas mais saudáveis e reduzindo o desperdício e perda de alimentos: todo ano, entre a colheita e o consumo, jogamos fora 1,3 bilhão de toneladas de alimentos.

Entretanto, mesmo se aumentarmos a produção agrícola em 60% até 2050, o mundo ainda terá 300 milhões de pessoas com fome daqui a quatro décadas porque, como as centenas de milhões de subnutridos hoje, eles continuarão sem os meios para ter acesso à comida que necessitam. Para eles, a segurança alimentar não é um problema de produção insuficiente, é uma questão de acesso inadequado. Para tirar esses milhões de pessoas da insegurança alimentar, precisamos investir na criação de melhores empregos, pagar melhores salários, dar-lhes maior acesso a ativos produtivos – especialmente terra e água – e distribuir renda de forma mais justa e equitativa.

Precisamos trazê-los para dentro da sociedade, complementando o apoio aos pequenos agricultores com oportunidades de geração de renda, com o fortalecimento das redes de proteção social, mutirões de trabalho e programas de transferência de renda, que contribuam para o fortalecimento de circuitos locais de produção e consumo para dinamizar as economias locais. A transição para um futuro sustentável também exige mudanças fundamentais no sistema de governança de alimentos e agricultura e uma partilha equitativa dos custos de transição e benefícios.

No passado, os mais pobres pagaram uma parcela maior dos custos de transição e receberam uma cota menor de benefícios. Este é um desequilíbrio inaceitável, que precisa mudar. Erradicar a fome e melhorar a nutrição humana, criando sistemas sustentáveis de produção e consumo de alimentos, e construir uma governança mais inclusiva e eficaz dos sistemas agrícolas e alimentares são cruciais para alcançar um mundo sustentável.

Na Rio+20, estamos numa encruzilhada. De um lado está o caminho para a degradação ambiental e o sofrimento humano; do outro está o futuro que todos queremos. A Rio+20 oferece uma oportunidade histórica que não podemos dar ao luxo de perder. Nós sabemos como acabar com a fome e gerenciar os recursos do planeta de uma forma mais sustentável. Mas precisamos de uma vontade política mais forte para fazê-lo.

Devemos olhar para Rio +20 como o início de um caminho e não como o ponto de chegada.

E essa é uma caminhada que não podemos fazer sozinhos.

Como a luta contra a fome, o desenvolvimento sustentável é uma meta com a qual cada um de nós deve contribuir – cidadãos, empresas, governos, movimentos sociais, ONGs e organismos regionais e internacionais.

Juntos, trabalhando a partir do nível local para o nível global, podemos construir o futuro que queremos.

E esse futuro precisa começar hoje.

 (*) Diretor-geral da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO). (foto ao lado)

Artigo produzido para o Terramérica, projeto de comunicação dos Programas das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e para o Desenvolvimento (Pnud), realizado pela Inter Press Service (IPS) e distribuído pela Agência Envolverde.


Fonte: Terramérica

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

População: será que não cabe?



por Raquel Torres, da Fundação Oswaldo Cruz
754890 68831682rev 199x300 População: será que não cabe?Chegamos a 7 bilhões de habitantes no mundo e muitos têm dito que não há comida nem recursos para todos. Mas isso é mesmo verdade?
Todo mundo que costuma acompanhar os principais veículos de comunicação – e até quem só dá uma olhada neles de vez em quando – viu, no fim do ano passado, um volume grande de reportagens abordando o aumento da população mundial e as consequências disso. O motivo é termos atingido, em 2011, a marca de 7 bilhões de habitantes.
Essas mesmas reportagens também trouxeram, em sua maioria, a previsão de um futuro não muito feliz para a crescente população – a falta de recursos naturais, especialmente a água, e a insuficiente produção de alimentos fariam da Terra um ambiente inóspito nas próximas décadas, já que, segundo a ONU, passaremos de 9 bilhões em 2050, quando finalmente esse número se estabilizará. A conclusão é a de que o planeta não vai conseguir comportar tanta gente e, para evitar um colapso, em geral se propõe a combinação de duas ações: o controle de natalidade – especialmente em países subdesenvolvidos, em que a tendência ainda é a de crescimento populacional – e o emprego de mais tecnologias no campo para aumentar a produtividade.
Quanto produzimos e quem tem fome
A fome não é um problema do futuro. A Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO, na sigla em inglês) estima que, hoje, um bilhão de pessoas passem fome no mundo. Além disso, dois bilhões são mal nutridas, 200 milhões de crianças menores de cinco anos estão abaixo do peso e nove milhões de pessoas chegam a morrer de fome todos os anos.
Com base nesses dados, tem-se dito que um aumento da população mundial vai necessariamente ampliar esses números, caso não façamos alguma coisa para aumentar a produção de alimentos. Mas há um detalhe: apesar dos dados alarmantes em relação aos famintos, a FAO também afirma que na verdade hoje já se produz mais comida do que o necessário para alimentar a todos. Em 1950, havia 2,5 bilhões de pessoas no planeta, e cada uma dispunha de 2.450 calorias diárias, em média. Hoje, a FAO estima que haja 2.800 calorias por pessoa, por dia. A mesma organização indica que cada um precisa de 1.900 calorias diárias, o que significa que nossa produção atual conseguiria dar conta de mais de 10 bilhões de pessoas, caso o alimento fosse bem distribuído. Portanto, se seremos 9 bilhões a partir de 2050, não há muito motivo para temores, já que ainda estaremos dentro do limite – e isso sem aumentar a produção.
E a suficiência não é só em relação ao valor calórico: no artigo ‘Fome não se acaba com agricultura ‘forte’, o sociólogo Antonio Inácio Andrioli, da Universidade Federal da Fronteira Sul, diz que a produção atual seria suficiente para prover diariamente 2 kg de alimento por pessoa – seriam 1,1 quilo de cereais, 450 g de carne, leite e ovos e mais 450g de frutas e verduras. Além disso, segundo Julian Perez, da coordenação executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Alimentar e Nutricional, desde o início dos anos 1980 a população cresceu 36%, enquanto a produção de cereais cresceu 45%, a de frutas 120% e a de carnes subiu 91%. Como se vê, a falta de comida não é a causa da fome de um sétimo da população mundial, e ainda cai por terra a ideia de que é preciso fazer controle de natalidade para evitar o problema.
Especulação
De acordo com Julian, a maior dificuldade é o acesso da população, decorrente do alto preço da comida – segundo a FAO, nos últimos 11 anos, os preços de carnes, azeites e gordura, laticínios, cereais e açúcar aumentaram em média 250%. E, para ele, isso está diretamente relacionado à especulação financeira em torno dos alimentos, consequência do livre mercado no setor. “Cada vez menos o Estado tem um papel regulador na definição de preços e de políticas agrícolas. Com isso, o mercado toma conta dessa definição e, consequentemente, do acesso aos alimentos. Se é interessante para o mercado elevar os preços dos produtos agrícolas, isso acaba reduzindo a possibilidade de acesso da população a esses bens”, explica.
Segundo a socióloga Carolina Niemeyer, isso também está relacionado à produção de agrocombustíveis – combustíveis extraídos de produtos agrícolas, como a cana-de-açúcar e óleo de palma -, que faz com que parte da comida produzida não tenha a finalidade da alimentação. Hoje, dos cereais produzidos, 46% são usados para alimentar pessoas, enquanto 35% vão para animais e 18% para a produção de combustíveis. “Além disso, o aumento da demanda por agrocombustíveis ajuda a elevar o preço dos alimentos”, diz a pesquisadora.
Quem passa fome está no campo
É no campo que se encontra uma grande contradição em relação ao problema da fome: dentre os malnutridos do mundo, 75% são camponeses – aqueles que produzem o alimento e que, teoricamente, deveriam ter fácil acesso a ele. Julian explica que isso se dá porque é priorizada a produção de poucas culturas em larga escala, num modelo que não se adapta à agricultura familiar. “A maior parte das linhas de crédito não funcionam para autoconsumo”, diz.
Carolina Niemeyer aponta que muitos dos pequenos agricultores hoje trabalham no modelo da ‘integração’, ou seja, se especializam na produção de determinado alimento para venderem para grandes empresas. “Eles entram nisso para terem um comprador certo para seus produtos, já que faltam no país e no mundo políticas de estímulo ao pequeno agricultor. Só que, com isso, acabam obrigados a se desfazerem de suas hortas e dos animais que criavam para seu próprio consumo”, explica.
Fim dos recursos
A relação de proporção entre a quantidade de recursos naturais disponíveis e o número de pessoas sobre o planeta não é nova: ela já foi pensada há mais de 200 anos pelo sacerdote inglês Thomas Malthus. Em tempos de revolução industrial e explosão demográfica, ele dizia que a população crescia muito mais que a produção de alimentos, e que o resultado disso seria a fome.
A questão não é apenas a quantidade de alimentos, mas também inclui a disponibilidade de recursos naturais necessários para produzi-los – a água é o principal deles. Segundo o geógrafo e professor da Universidade Federal Fluminense (UFF) Carlos Walter Porto Gonçalves, a teoria malthusiana baseia-se na ideia de que um aumento da população gera consequentemente um aumento na pressão sobre os recursos naturais. E, de acordo com ele, é preciso reconhecer que esse raciocínio não é inteiramente errado. “Só que a verdade nele é apenas uma parte muito pequena da verdade total. Podemos dizer que, se uma pessoa exerce certa pressão sobre os recursos naturais existentes, então duas pessoas, vivendo sob as mesmas condições, vão exercer o dobro da pressão. O detalhe é que não vivemos sob as mesmas condições”, aponta.
Ele explica que, para ter uma dimensão mais exata do que acontece no planeta, é importante entender o conceito de ‘pegada ecológica’, que pode ser calculada para uma pessoa ou para grupos de um bairro, cidade ou país, por exemplo. A pegada corresponde ao território necessário para produzir a infraestrutura que aquela população utiliza e os alimentos e a madeira que consome, além de absorver o gás carbônico que produz. “Vemos assim que a pressão sobre os recursos naturais está diretamente ligada ao estilo de vida. Quando nasce um bebê em um país desenvolvido, sua pegada ecológica é muito maior do que em países menos desenvolvidos, como Índia e Etiópia. Analisando sob esse conceito, vemos, por exemplo, que um país como a Inglaterra precisa na verdade de ‘dez Inglaterras’ para se sustentar, e que um cidadão médio norteamericano ‘equivale’ a 144 cidadãos da Etiópia. E é muito fácil colocar a culpa dos problemas na Etiópia”, diz.
A água e o discurso da escassez
Quem nunca ouviu dizer que a água está acabando? Carlos Walter diz que, apesar de ser muito presente hoje, esse discurso praticamente não existia 20 anos atrás. “Se observarmos, por exemplo, o documento que resultou da Rio 92 [a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento], perceberemos que a água não era um tema pautado na época. O assunto quase não tinha destaque. Em outro relatório da época – o da Comissão Brundtland, da ONU, que fazia um balanço das condições do planeta nos anos 1980 -, o capítulo sobre a água simplesmente inexiste, e o tema aparece de maneira absolutamente irrelevante”, diz o professor. De acordo com ele, foi no meio dos anos 1990 que o Banco Mundial começou a pautar a água como um bem a ser privatizado.
E, segundo o professor, o discurso da escassez é uma condição para a ideia da privatização da água. “Quando se se fala de um bem que é abundante e está disponível para todos, é muito difícil torná-lo mercadoria. Mas quando esse bem se torna escasso, as pessoas têm que comprar. Do ponto de vista teórico, as ideias de escassez e privatização preparam uma à outra”.
No livro ‘A globalização da natureza e a natureza da globalização’, Carlos Walter diz que o setor privado tem expandido, desde os anos 1990, suas funções na ordenação dos recursos hídricos, e que houve um rápido aumento do grau de privatização dos sistemas de condução de água anteriormente administrados pelo Estado. Ele escreve que “várias empresas vêm processando governos sempre que esses, alegando o interesse público, ferem os interesses comerciais das grandes corporações”. De acordo com o autor, um exemplo aconteceu na Bolívia, quando a empresa estatunidense Bechtel, expulsa do país ano 2000 por prestar maus serviços, tentou processar o governo boliviano por isso.
No mesmo livro, Carlos Walter volta à questão do estilo de vida ao falar de consumo de água, e mostra que, embora a população mundial tenha crescido três vezes desde os anos 1950, a demanda por água cresceu seis vezes – o que mostra que a demanda não cresce na mesma medida que a população. “No Canadá, entre 1972 e 1991, enquanto a população cresceu 3%, o consumo de água cresceu 80%, segundo a ONU”, acrescenta o professor. De acordo com ele, o que é impossível não é manter a população crescendo, mas manter os mesmos hábitos e padrões de consumo. “Dados da ONU apontam que, hoje, consumimos anualmente 30% a mais do que a capacidade da biosfera de se reproduzir. Esta pressão está, de fato, tirando as possibilidades de vida das gerações futuras”.
Produção e recursos
O professor afirma que quem mais usa água no planeta é a agricultura, responsável por 70% do consumo – em segundo lugar está a indústria, com 20%. E, de acordo com ele, na agricultura a água ainda é muito mal utilizada e desperdiçada. “Muitos cultivos são feitos por irrigação e, embora isso aumente a área a ser cultivada, muita água se perde nesse processo. aluguns pesquisadores dizem que se perde de 50% a 60%. Além disso, bastante água é perdida por conta do uso de agrotóxicos, que contaminam rios”, enumera.
Assim, apesar do discurso corrente de que é preciso aumentar a produção – usando mais tecnologias como a de fertilizantes químicos e sementes transgênicas -, Julian afirma que, hoje, a preocupação não deve ser produzir mais, mas sim produzir de maneira a garantir que os recursos naturais continuem disponíveis. “Poucos levam em conta que o modelo que hoje é convencional – com agrotóxicos e sementes transgênicas – contamina o solo e a água, comprometendo o processo de produção no futuro. Hoje, por conta desse processo, temos áreas enormes salinizadas e desertificadas”, critica.


* Publicado originalmente no site Fundação Oswaldo Cruz.
Extraído do site Envolverde

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Segurança Alimentar aprova Declaração



Nesta quinta-feira (10), foi aprovada a Declaração pelo Direito Humano à Alimentação Adequada e Saudável, votada no último dia da 4ª Conferência Nacional de Segurança Alimentar. O evento reuniu mais de 2 mil pessoas entre os dias 07 e 10 de novembro, em Salvador (BA), para debater propostas para proteger, promover, respeitar e prover o direito humano à alimentação adequada no Brasil e no mundo, direito fundamental e universal dos 7 bilhões de habitantes do planeta.
“Tenho orgulho de participar da construção e da formulação de politicas públicas para a segurança alimentar do pais em nome do Ministro Florence quero destacar o compromisso do MDA com este tema”, destacou o secretário nacional de Agricultura Familiar do Ministério do Desenvolvimento Agrário (SAF/MDA), Laudemir Müller, ao participou da mesa de votação da Declaração.
Também participaram da mesa o presidente do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), Renato Maluf, da secretária de Segurança Alimentar do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), Maya Takagi, do diretor de Política Agrícola e Informações da Conab, Sílvio Porto, do presidente da Caisan, Onaur Ruano, e de Maria Emília Lisboa Pacheco, assessora do programa de segurança alimentar da Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (FASE).
A declaração política é um documento com 25 pontos que apresentam a conferência e seus resultados para vários públicos: seus participantes, os envolvidos na mobilização social e para os governantes. “Estamos falando também para a sociedade brasileira no seu conjunto, inclusive aquela que não tem muita consciência dos problemas que estamos enfrentando. Também estamos falando para o mundo”, resume o presidente do Consea.
Conferência
A 4ª Conferência Nacional de Segurança Alimentar reuniu 1.626 delegados de sociedade civil e governamentais, eleitos em conferências municipais, territoriais e estaduais de todo o país, num processo que envolveu mais de 75 mil pessoas e representantes de mais de 3 mil municípios. O evento contou também com 400 convidados de todos os continentes e teve  representada toda a diversidade brasileira - social, regional, étnico-racial e cultural.
Ao longo de quatro dias, a conferência teve a participação de agricultores e agricultoras familiares, representantes de povos e comunidades tradicionais (quilombolas, extrativistas, ribeirinhos, pescadores artesanais, marisqueiras, seringueiros, entre outros), além de povos indígenas e população negra.
Importância da Agricultura Familiar
A Declaração reconhece o papel estratégico da agricultura familiar para a segurança alimentar. Um de seus itens afirma: “Importa estruturar e priorizar sistemas de produção sustentáveis e diversificados de alimentos saudáveis com o fortalecimento da autonomia da agricultura familiar e camponesa, povos indígenas e outros povos e comunidades tradicionais, bem como garantir o acesso à água em qualidade e quantidade suficiente, reconhecer o papel estratégico dessas populações na conservação e uso sustentável da agrobiodiversidade ...”.
A declaração coloca como um dos princípios fundamentais “a soberania e a segurança alimentar e nutricional como eixo estratégico do desenvolvimento socioeconômico do país, baseado na erradicação da fome, da miséria e das desigualdades sociais, regionais, étnico-raciais e de gênero”.
O documento também reconhece como necessário o fortalecimento da atuação dos Conseas (conselhos de Segurança Alimentar) e a garantia da participação da população na formulação e implantação de políticas públicas. Apenas dois dos 25 itens tiveram alteração, com pequenos ajustes no texto final.

Fonte: Portal de Notícias do MDA 

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Brasil combate a fome fora das fronteiras



por Fabiana Frayssinet, da IPS
35 Brasil combate a fome fora das fronteirasSalvador, Brasil, 9/11/2011 – O governo do Brasil avançou na luta contra a fome, desta vez no plano mundial, ao inaugurar um Centro de Excelência alimentar para estender suas experiências positivas a outros países em desenvolvimento, com ajuda de agências da Organização das Nações Unidas (ONU).
O centro, com sede em Brasília, foi apresentado no dia 7 pela diretora-executiva do Programa Mundial de Alimentos (PMA), Josette Sheeran, e pelo diretor da Agência Brasileira de Cooperação, Marco Farani, com a presença de José Graziano da Silva, diretor-geral eleito da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). O centro já começou associações entre PMA, Brasil, Moçambique, Timor Leste e Haiti.
“Trabalhamos de maneira conjunta para desenvolver capacidades de cooperação técnica em países da África, América Latina e também da Ásia, para que possam conhecer algo da experiência brasileira de combate à fome e, a partir dela, desenvolver seus próprios programas de alimentação escolar e combate à pobreza”, disse à IPS o diretor do Centro, Daniel Balabán.
O “Centro de Excelência contra a fome para o desenvolvimento de capacidades em alimentação escolar, nutrição e segurança alimentar”, seu nome completo, contará com recursos financeiros, tecnológicos e operacionais dessas entidades brasileiras e da ONU. O objetivo, segundo Farani, é “disseminar boas práticas no campo da alimentação escolar”, lançando mão das experiências do PMA e do Brasil para o desenvolvimento, a execução ou expansão de programas escolares sustentáveis, além de apoiar outras iniciativas existentes.
“O Brasil tem uma rica experiência a ser compartilhada com os governos interessados em aprender como os brasileiros conseguiram esse êxito, e adaptar esse conhecimento aos seus países”, disse Sheeran na cerimônia de lançamento, em Salvador, Estado da Bahia. Será uma “ponte Sul-Sul única para a segurança alimentar”.
Diante de uma realidade na qual uma em cada sete pessoas no mundo não tem o que comer diariamente, as únicas reações possíveis são “se revoltar, migrar ou morrer”, disse Sheeran por ocasião da IV Conferência Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, que acontece até amanhã na capital baiana. “O Brasil criou uma quarta opção, que é combater a fome dando esperanças à infância, que é o futuro”, acrescentou.
O Brasil promove no plano internacional seus êxitos neste campo, com a aplicação desde 2003 do programa Fome Zero, que combina medidas de emergência com políticas de criação de empregos e ampliação da renda familiar. Implantado pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2011) e continuado por Dilma Rousseff, o programa conseguiu reduzir a desnutrição infantil em 61%, multiplicar por oito o crédito para a pequena agricultura e reduzir a pobreza rural em 15%, segundo Graziano, um dos arquitetos destas iniciativas.
No contexto de um programa mais amplo contra a pobreza, o Bolsa Família, que entrega subsídios às famílias mais pobres, desde que vacinem seus filhos e os mantenham na escola, o Fome Zero contribuiu para tirar cerca de 28 milhões de pessoas da pobreza neste país de 192 milhões de habitantes.
A prioridade do Centro será uma iniciativa do Fome Zero: o programa de merenda escolar que no Brasil serve três refeições diárias para 47 milhões de crianças e adolescentes, considerado um modelo mundial. O programa também está vinculado à agricultura familiar e às compras locais de alimentos “combinados de maneira a dar de comer às crianças e estimular a produção local”, destacou Farani. “A ideia do Centro surgiu porque havia muita demanda por cooperação brasileira nessa área”, disse à IPS o coordenador de ações internacionais de combate à fome do Ministério das Relações Exteriores, Milton Rondó Filho.
“O que fizemos com a alimentação escolar foi buscar uma espécie de círculo virtuoso” de desenvolvimento. Em primeiro lugar, a preocupação com a nutrição da criança. Com melhor nutrição se tem maior capacidade de aprendizagem, e com isso, e comprando localmente alimentos, se promove o desenvolvimento local”, afirmou Rondó. Por lei, 30% dos alimentos para a merenda escolar devem ser comprados da agricultura familiar da mesma região onde fica a escola.
Além disso, a iniciativa intervirá também na desigualdade de gênero. Rondó mencionou o caso do oeste do Paquistão, onde o analfabetismo das meninas chega a 97%. “A ONU nos diz que se entrarmos com alimentação escolar ninguém reterá essas meninas em casa e também as enviarão para a escola”, afirmou. Segundo Rondó, “não é o caso de as escolas se transformarem em pequenos restaurantes, mas é um estímulo importante que, além da nutrição, melhora a assistência à aula e a capacidade de aprender. E se compramos produtos do mesmo lugar, é um motor enorme do desenvolvimento local”.
O anfitrião do encontro, o governador da Bahia, Jaques Wagner, destacou que, em seu Estado, a alimentação escolar dinamiza a economia local, “a quitanda, a feira, o mercado, porque é um programa de geração de renda de baixo para cima”.
O Centro não pretende repetir a fórmula brasileira, mas adaptá-la às circunstâncias geográficas, culturais e étnicas de cada país, explicou o vice-ministro de Educação de Moçambique, Augusto Jone Luís. Neste país, de 20 milhões de habitantes, onde o programa de merenda chega a seis milhões de alunos e se expandirá com ajuda do Centro, o sucesso se baseia em abordar a “alimentação escolar com um cunho pedagógico”, disse Luís.
Mais de dois mil participantes do Brasil e cem internacionais assistem a IV Conferência, na qual autoridades e organizações civis avaliam os avanços para garantir o direito à alimentação, que no ano passado alcançou status constitucional no Brasil. Contudo, o país ainda tem matérias pendentes: 16 milhões de pessoas – incluídas no programa Brasil Sem Miséria, lançado por Dilma – vivem com menos do equivalente a US$ 41 por mês. E não foram alcançadas metas de nutrição adequada.
A IV Conferência, organizada pelo Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, aborda essas lacunas bem como outros temas preocupantes: aumento da obesidade, degradação do solo, mudança climática e agrotóxicos.

Fonte: Envolverde/IPS

sábado, 8 de outubro de 2011

Violência de gênero, a outra cara da fome



por Isaiah Esipisu, da IPS
25 Violência de gênero, a outra cara da fome
Recém-chegados a Dadaab esperam atendimento médico. Foto: Isaiah Esipisu/IPS
Dadaab, Quênia, 7/10/2011 – Quando Aisha Diis (nome fictício) fugiu de sua casa na Somália devido à fome, não estava plenamente consciente dos perigos que corria. Em abril, ela abandonou a aldeia de Kismayu, a sudoeste de Mogadíscio, capital somaliana, para se dirigir com seus cinco filhos ao acampamento de refugiados de Dadaab, na Província Nordeste do Quênia.
Estava em um grupo com muitas mulheres e crianças. Quatro de nós éramos da mesma aldeia, por isso nos relacionamos como se fôssemos uma família”, contou à IPS. “No caminho paramos para fazer um pouco de chá, já que as crianças estavam muito cansadas e com fome. Uma mulher ficou com eles enquanto três de nós fomos pegar lenha”, acrescentou. “Foi aí que fomos sequestradas por um grupo de cinco homens que nos arrancaram a roupa e nos violentaram várias vezes. É algo que não poderei esquecer. Mas não gostaria que meus filhos soubessem”, disse entre lágrimas.
Lamentavelmente, o caso de Diis e das outras duas mulheres que a acompanhavam não é único. A viagem que fazem diariamente centenas de mulheres cansadas, fracas e desnutridas com seus filhos rumo ao acampamento de Dadaab é angustiante. Muitas levam seus filhos menores presos às costas. Nada conseguiram salvar de suas casas na Somália. Só algumas afortunadas podem transportar pequenos pertences se possuem um burro de carga. Raramente, ao chegar, desejam falar sobre o que lhes aconteceu no caminho.
A maioria se registra como refugiada e passa por exames médicos com seus filhos. Depois são alojadas em uma barraca de campanha com equipamento doméstico básico. As tendas não têm porta nem janela, nem mesmo cama ou algum móvel. Mas, de todo modo, os refugiados a chamam de lar, agora e, talvez, por muitos anos ainda. Alguns nasceram aqui em 1991, quando foi criado o acampamento, e não conhecem outro lugar.
Mesmo depois de instaladas, muitas mulheres não se animam para falar da violência que sofreram até chegarem ao acampamento. “A violência de gênero é a outra cara da fome”, disse Sinead Murray, administradora de programas em Dadaab do Comitê Internacional de Resgate (IRC).
“Na rápida avaliação feita em Dadaab e divulgada pelo IRC em julho, a violação e a violência sexual foram mencionadas como as preocupações mais angustiantes das mulheres e meninas quando fugiam da Somália, problemas que continuam, embora em menor grau, nos acampamentos”, disse Murray à IPS. “Algumas entrevistadas para o estudo disseram que outras mulheres e meninas eram violentadas diante dos maridos e pais, por homens com armas. Outras foram obrigadas a ficarem nuas e sofrerem abusos por vários homens”, acrescentou.
Entretanto, Diis e as outras duas mulheres que foram violentadas junto com ela são das poucas somalianas que se animam a denunciar a violência. No caso de Diis, teve coragem por ser viúva e não temer represálias contra sua família. “Não tinha medo de falar sobre meu caso às autoridades médicas por não ter marido”, disse Diis. Seu marido foi morto a tiros por desconhecidos na Somália há sete meses.
“Muitas mulheres foram atacadas por homens armados quando se dirigiam ao acampamento de refugiados, especialmente as que viajavam em grupos sem homens”, disse Ann Burton, funcionário de saúde em Dadaab do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur). “Contudo, a maioria é reticente em denunciar esses casos porque temem que suas famílias as culpem ou que as comunidades as rejeitem, ou, simplesmente, por terem vergonha de falar sobre isso”, acrescentou.
Depois de denunciar o caso, Diis recebeu profilaxia por pós-exposição, um tratamento antirretroviral de curto prazo usado para reduzir a probabilidade de uma infecção por HIV, vírus causador da aids. “Após informar meu caso recebi remédios e fiz exames a cada três meses, depois disso me confirmaram que não havia contraído o HIV. Essa era uma das minhas maiores preocupações”, contou Diis, explicando que também recebeu assessoria. As outras duas mulheres violentadas junto com ela receberam o mesmo tratamento.
Diis disse conhecer as outras mulheres violentadas diante de seus familiares, mas que não denunciaria os casos ao pessoal médico do acampamento. Não informar a violação só aumenta o sofrimento das vítimas. “As sobreviventes, em geral, não recebem atenção fundamental que salva vidas por guardarem o segredo”, alertou Burton. Entre janeiro e julho forma registrados apenas 30 casos de violação, segundo o Acnur. No entanto, especialistas médicos no acampamento garantiram que os casos reais são muitos mais.
Uma vez que chegam a Dadaab, algumas continuam sofrendo violência de gênero inclusive por parte de seus familiares mais íntimos. Murray disse que isto inclui casamento forçado ainda bem jovem e “sexo de sobrevivência”, quando as mulheres são obrigadas a oferecerem seus corpos para conseguirem produtos para suas necessidades básicas.
Embora os casos de violência de gênero sejam menos frequentes dentro dos acampamentos, algumas mulheres disseram à IPS que se sentem inseguras e com medo à noite. “Os acampamentos não têm barreiras, e também não podemos fechar nossas barracas durante a noite, qualquer coisa pode acontecer”, disse Amina Muhammad, que vive em Dadaab. O maior risco no acampamento, segundo as mulheres disseram à IPS, é quando viajam longas distâncias em busca de lenha

Fonte: Envolverde/IPS

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Deem sementes e as camponesas alimentarão o mundo



por Melanie Haider, da IPS
1266 Deem sementes e as camponesas alimentarão o mundoNova York, Estados Unidos, 27/9/2011 – Se as camponesas tivessem mais ferramentas e recursos, entre cem milhões e 150 milhões de pessoas poderiam deixar de passar fome no mundo. Esta mensagem foi difundida por Josette Sheeran, diretora-executiva do Programa Mundial de Alimentos (PMA) da Organização das Nações Unidas (ONU), em um encontro dedicado ao poder das mulheres rurais em matéria de segurança alimentar e nutrição, realizado no contexto da sua Assembleia Geral.
Na reunião da semana passada, que contou com o patrocínio da ONU Mulheres e do PMA, entre outros vários organismos, reuniram-se organizações comunitárias e representantes do setor privado e de governos com vistas a uma “nova coalizão que marque a diferença”, disse Sheeran. Em outubro acontecerá a reunião do Comitê de Segurança Alimentar Mundial na sede do Programa Mundial de Alimentos (PMA) em Roma, à qual se seguirá a 56ª sessão da Comissão sobre o Status das Mulheres, no próximo ano. São duas oportunidades para fortalecer o papel das camponesas no alívio à pobreza e erradicação da fome.
O diretor-executivo da companhia Unilever, Paul Polman, destacou a nova iniciativa Project Laser Beam, na qual o PMA e seus sócios corporativos, DSM, Aliança Global para a Nutrição Melhorada (Gain), Kraft Foods, se reuniram para combater a desnutrição infantil em Bangladesh e na Índia. “O programa se concentra em mulheres, agricultura, consolidação de produtores de pequena escala, saúde, higiene e escolaridade feminina. Não me surpreende porque descobrimos, como empresários, que seguramente obteremos mais benefícios com estes investimentos do que com outros que fazemos”, disse Polman.
A ONU Mulheres e a Coca-Cola também anunciaram um acordo para eliminar as barreiras que encontram as empresárias no terreno mediante programas de capacitação e serviços financeiros. O informe sobre o estado mundial da alimentação e da agricultura 2010-2011, realizado pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), concluiu que quando as mulheres têm renda adicional investem mais do que os homens em alimento, assistência médica, vestimenta e ensino para os filhos. Isto tem consequências no crescimento econômico ao melhorar a saúde, a nutrição e a educação do país.
Elas costumam ter menos recursos produtivos, como educação, terra, gado, tecnologia, trabalho, serviços financeiros, entre outros, do que os homens, segundo a FAO. “Se as mulheres contassem com os mesmos recursos produtivos que os homens, a produção agrícola nos países em desenvolvimento cresceria entre 2,5%% e 4% e se reduziria a quantidade de pessoas com fome entre 12% e 17%”, diz o informe. “Há pessoas que não têm alimento suficiente e precisam de ajuda imediata”, disse a agricultora Anne Itto, ex-ministra interina da Agricultura e Silvicultura do Sudão do Sul. A ajuda deve estar bem dirigida para que os “alimentos não acabem no mercado local”, o que reduz os preços, destacou.
“Para quem tem capacidade e quer trabalhar no longo prazo, a primeira coisa é capacitação, fornecer conhecimento necessário e habilidades para as mulheres a fim de incentivar o acesso a insumos agrícolas como sementes otimizadas e melhores tecnologia e equipamento”, afirmou Itto. “Mas, não podem obtê-lo a menos que tenham acesso a serviços financeiros”, acrescentou. É importante relacionar as mulheres com o mercado, pois a “maioria dos grãos não pode ser armazenada mais do que dois ou três meses”, insistiu a ex-ministra.
Permitir que as mulheres solicitem empréstimos terá um impacto positivo na segurança alimentar porque poderão pagar por melhores sementes e ferramentas e produzir mais, prosseguiu Itto. “Creio que as mulheres fizeram seu trabalho. Agora é a vez do governo, de atores humanitários e do setor privado se associarem com elas para que possam continuar alimentando suas famílias e contribuindo para a construção do país”, concluiu.

Fonte: Envolverde/IPS

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Fome, guerra civil e bombas dos EUA



por Jim Lobe*
220 Fome, guerra civil e bombas dos Estados UnidosWashington, Estados Unidos, 26/9/2011 – Enquanto a Somália sofre sua pior fome em seis décadas e o Iêmen desliza para uma guerra civil, o governo dos Estados Unidos expande sua rede de bases para realizar ataques com aviões não tripulados contra suspeitos de terrorismo nos dois países. Baseando-se em parte em novos telegramas diplomáticos norte-americanos divulgados pelo grupo WikiLeaks, o jornal The Washington Post informou, no dia 22, que as forças norte-americanas lançaram ataques com aviões não tripulados sobre esses dois países, a partir de uma instalação militar no Djibuti, e que planejam construir uma segunda na Etiópia.
O The Washington Post e o The Wall Street Journal também informaram que uma base em Seychelles, utilizada pelas forças dos Estados Unidos para enviar aviões de vigilância, agora contaria com naves armadas capazes de levar sua carga mortal ao longo dos mais de 1.500 quilômetros que separam esta ilha do Oceano Índico do Chifre da África, e regressar. A nova “constelação” de bases de aviões não tripulados também incluirá uma da Agência Central de Inteligência (CIA) que a administração anunciou no começo deste ano que estaria localizada na Península Arábica.
Essa instalação seria construída na Arábia Saudita, segundo um “alto funcionário militar norte-americano” citado em um informe de rede de TV Fox News no dia 22. “As operações na Arábia Saudita são a única nova expansão deste plano”, disse a fonte. “O restante funciona há mais de um ano, quando nos demos conta do perigo que representava a AQPA” (Al Qaeda na Península Arábica), acrescentou. A AQPA é uma célula terrorista iemenita que teria consolidado seus vínculos com o grupo radical islâmico somaliano Al Shabaab.
A IPS telefonou para o Departamento da Defesa em Washington a fim de confirmar se instalaria uma nova base na Arábia Saudita, mas não recebeu resposta. Entretanto, Chas Freeman, ex-embaixador norte-americano em Riad, que mantém boas ligações com o governo saudita, disse que a versão é “altamente plausível”, devido à “estreita e forte” cooperação contraterrorista entre os dois países e a proximidade geográfica da Arábia Saudita com o Iêmen.
Segundo um dos autores da matéria do The Washington Post, a expansão da rede de bases aéreas tinha o objetivo de “evitar os erros do passado. Quando a Al Qaeda fugiu do Afeganistão para o Paquistão em 2001 e 2002, passaram-se anos até que a CIA pudesse armar um programa de aviões não tripulados capaz de colocar a rede terrorista sob pressão”, escreveu Greg Miller no site do jornal. “Essa demora, junto com os caros acordos para ter acesso a bases aéreas em países vizinhos, permitiu o florescimento da Al Qaeda”.
Os informes chegaram em meio a uma considerável polêmica sobre o crescente uso da administração de Barack Obama de aviões não tripulados, que, segundo seu alcance, podem levar os sinistros nomes de Predator (Predador), Reaper (ceifador) ou Parca (morte).
No Paquistão, onde a CIA aumentou drasticamente os ataques com aviões não tripulados (para quase 200) contra objetivos de “alto valor” da Al Qaeda e do movimento islâmico Talibã nos primeiros dois anos do governo Obama, a estratégia contribuiu para um aumento do sentimento antinorte-americano na população local. Uma esmagadora maioria de 97% dos consultados em uma pesquisa do Centro Pew de Pesquisa, realizada recentemente no Paquistão, expressaram uma opinião negativa sobre os ataques com aviões não tripulados.
De fato, nada menos que o alto chefe de inteligência do governo norte-americano, Dennis Blair, disse em uma reunião com especialistas em política externa e segurança nacional, em julho, que é um erro deixar que a campanha militar domine as relações com Paquistão, Iêmen e Somália. “Estamos alienando os países envolvidos porque os tratamos apenas como lugares aonde vamos atacar grupos que nos ameaçam, porque estamos arriscando as perspectivas de uma reforma de longo prazo”, acrescentou Blair. Além disso, ressaltou que essas operações bélicas deveriam contar com o consentimento das autoridades dos países onde são realizadas.
Porém, o novo chefe do Pentágono e ex-diretor da CIA, Leon Panetta, rejeitou essas críticas, insistindo que a estratégia foi e continuaria sendo “efetiva para minar a Al Qaeda e sua capacidade de planejar ataques” contra os Estados Unidos. Panetta e o Pentágono também estariam liderando um debate em Washington para ampliar a atual lista de objetivos, até agora integrada apenas por altos líderes das redes terroristas, e dessa forma poder atacar também combatentes a pé.
Os aviões não tripulados se converteram na principal arma dos Estados Unidos em seus esforços para derrotar a Al Qaeda e seus aliados, embora seja usada com menor frequência contra objetivos no Iêmen e na Somália do que no Afeganistão, Paquistão e Iraque. Pelo menos seis ataques foram cometidos com aviões não tripulados contra supostos combatentes islâmicos no Iêmen em 2010 e 2011, mas esse número pode ter aumentado nos últimos meses devido ao colapso da autoridade do governo em várias partes desse país. Combatentes islâmicos que Washington acredita estarem relacionados com a AQPA assumiram controle de cidades perto do Golfo de Aden.

Fonte: Envolverde/IPS

* O blog de Jim Lobe sobre política externa pode ser lido em www.lobelog.com.

domingo, 18 de setembro de 2011

"A AJUDA HUMANITÁRIA CRISTÃ, DEMOCRÁTICA E OCIDENTAL"



Laerte Braga


Em 26 de dezembro de 2004 um tsunami de grandes proporções varreu o litoral e boa parte do interior da Somália. Milhares de pessoas morreram, perderam suas casas, plantações foram devastadas, a fome, que já era uma realidade brutal no país, assumiu caráter tétrico.

Uma das conseqüências do tsunami não estava prevista. Ao revolver o fundo do oceano milhares de tambores de lixo atômico, hospitar e tóxico de várias naturezas vieram a tona. Foram depositados ali por britânicos, norte-americanos, franceses, entre outros.

A democracia cristã e ocidental havia escolhido o litoral próximo à Somália para despejar seus dejetos industriais, nucleares, etc.

Nasceram no tsunami os chamados piratas somalis. Passaram a ser constantes os seqüestros de petroleiros, iates de luxo, cargueiros, em troca de resgate.

O jornal norte-americano THE NEW YORK TIMES, na semana passada, em matéria do repórter Jeffrey Gettleman, faz um breve histórico das condições atuais da Somália e afirma que nos próximos meses podem morrer 750 mil pessoas de fome. Mesmo a chegada da estação das chuvas e possibilidade de plantar não vai permitir a essas pessoas sobreviver. Não há tempo.

As forças da OTAN – ORGANIZAÇÃO DO TRATADO ATLÂNTICO NORTE – braço do complexo terrorista ISRAEL/EUA/TERRORISMO S/A, destruíram um aqueduto de três quilômetros e meio e cinco metros de diâmetro, que levava água a toda a população líbia. Foi construído pelo governo do coronel Muamar Gadaffi. A falta d’água atinge Trípoli, capital do país devastado por bombardeios aéreos no afã de conquistar o petróleo líbio. A UNICEF está advertindo o mundo por conta dessa catástrofe e tentando comprar água para suprir a deficiência – não existia antes da “ajuda humanitária” – evitando doenças, mortes, todas essas conseqüências das “libertações” promovidas por norte-americanos, suas colônias européias sob a batuta sionista que controla o complexo.

Não há a menor disposição de ajuda humanitária – sem aspas – à Somália.

O país vive um caos político, econômico e social e não tem a qualquer perspectiva de sair da crise a curto e médio prazos.

O ex-presidente George Bush (o pai), assim que terminou a primeira guerra do Iraque anunciou que o Kwait precisava criar estruturas democráticas para evitar situações como a que viveu com a invasão iraquiana, apoiada por boa parte de sua população. Bush do alto de sua criminosa política de destruição reclamou da falta de democracia nos países árabes e “exigiu” que medidas fossem tomadas nessa direção. Hipocrisia pura.

À época o general Hosny Mubarack era o presidente/ditador do Egito e aliado norte-americano. O rei da Jordânia governava e governa o país com mãos de ferro e é aliado dos norte-americanos e submisso a Israel. Como Mubarack também. A Arábia Saudita é a principal base do complexo terrorista no Oriente Médio e é governada com mão de ferro por uma família real que se sustenta no luxo e no esplendor proporcionados pelo petróleo entregue a companhias estrangeiras.

Os egípcios derrubaram a ditadura de Mubarak, mas permanecem os militares no governo sem nenhuma direção democrática. Continuam batendo continência para Washington e Tel Aviv e temem que uma eleição livre possa levar ao poder um governo que vá romper os acordos com Israel (que humilham o país) e resistir ao avanço nazi/sionista.

As ditaduras leais aos EUA e submissas a Israel permanecem intocadas. A Líbia foi arrasada pela OTAN. Líderes tribais foram armados para simular uma reação e forças estrangeiras transformaram a infra estrutura do país em pó. O petróleo é o alvo e os caminhos de Gadaffi não interessavam ao Ocidente cristão e democrático, sob o tacão nazi/sionista.

Há uma característica na ação do complexo ISRAEL/EUA TERRORISMO S/A. Como controlam boa parte – a imensa maioria – da mídia privada em todo o mundo, revestem a boçalidade e a crueldade que é parte de sua genética imperialista do cinismo e da hipocrisia de “mundo livre”.

Você pode comprar um tênis ADIDAS a preço de banana. É produzido por trabalhadores escravos na China.

Os 750 mil somalis que vão morrer de fome nos próximos meses não têm idéia disso. São assolados por milícias, por grupos mercenários (alguns ligados a BLACK WATER, empresa terceirizada da força armada dos EUA) e por políticos corruptos.

Os palestinos de Gaza, mantidos sob um cerco estúpido por Israel e submetidos a crime de genocídio pelo “povo eleito”, não podem também receber ajuda humanitária. Os sionistas seqüestram, saqueiam, colocam no setor de secos e molhados e transformam em lucro. 

Cólera, febre tifóide e sarampo são algumas das doenças que vão matar milhares de somalis. Repete, como mostra a reportagem do THE NEW YORK TIMES a tragédia acontecida nos anos 90.

O mundo cristão, ocidental e democrático, sob a tutela do complexo ISRAEL/EUA TERRORISMO S/A está, literalmente, se lixando para os somalis. Os norte-americanos alegam que tentaram ajudar e não conseguiram. Claro. Um exército de mercenários foi formado à época para saquear o país, estuprar mulheres somalis e tentar implantar um governo fiel a Washington. Como não era compensador do ponto de vista econômico largaram para lá.

É a face democrática, cristã e sionista (uma estranha mistura, mas negócios são negócios) do capitalismo.

Pensando bem, o que são 750 mil somalis comparados com os barris de petróleo da Líbia? Para o complexo terrorista que dispõe de armas capazes de destruir o planeta cem vezes, não representam nada. Ou por outra, custos.

É a lógica perversa do capitalismo.

Jeffrey Gettleman, o jornalista que revelou a situação atual da Somália afirma em seu trabalho a não preocupação do mundo livre, cristão, ocidental e democrático com o problema. As tentativas da ONU esbarram tanto nas dificuldades dentro da própria Somália, como no desinteresse dos países ocidentais.  Afirma categoricamente que “a situação não deve mudar”.

A visão do complexo terrorista é que somalis são piratas e a Somália é uma espécie – como outros países – de depósito do lixo do terror capitalista.

Na terça-feira a presidente do Brasil Dilma Roussef vai abrir mais uma Assembléia Geral das Nações Unidas. Será a primeira mulher a fazê-lo, já que cabe ao Brasil o primeiro pronunciamento de chefe de Governo e Estado. Em seguida fala o terrorista Barack Obama – às voltas com demagogia eleitoral –.

Será a grande oportunidade da presidente do Brasil afirmar seu repúdio a “ações humanitárias”, defender sem meias palavras o Estado Palestino e mostrar que o Brasil não está disposto a ser, no futuro (há todo um processo em curso para isso desde a entrega de parte do País no governo FHC), outro depósito do lixo capitalista.

Romper as amarras com esse mundo hipócrita e perverso e dizer um sonoro não à Comunidade Européia no que diz respeito a empréstimos.

Não se cogita de emprestar dinheiro para salvar empregos, para dar aos europeus melhores condições de saúde (gregos, portugueses, espanhóis, etc). Mas apenas de salvar bancos.

E bancos devem ser enterrados e não salvos.

Metade do dinheiro gasto pela OTAN para destruir a Líbia resolveria o problema da fome dos somalis. E dizem que Obama é negro. Sarah Palin, uma de suas prováveis adversárias, ex-governadora do Alasca, acredita inclusive que o presidente seja um muçulmano disfarçado com a tarefa de destruir a sociedade norte-americana.

Nos EUA, esse negócio de matar os pais e ir ao cinema, ou dar uma festa, é corriqueiro. Faz parte da cultura terrorista implantada pelo medo em cada cidadão do país.

Tem todo dia. Como todo dia tem a declaração oficial da Casa Branca. “Foi um ato covarde e que nos faz pensar sobre se nossa sociedade não está doente”.

É questão de tempo de verbo. É doente. E ainda mais agora sob controle nazi/sionista.