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sábado, 4 de janeiro de 2014

O paradoxo do progresso

12/12/13 - João Carlos Caribé
- em seu blog Entropia

Desde que me entendo por gente vejo a tecnologia mudar o mundo à minha volta, os homens foram a lua, satélites e mais satélites, robôs nas fábricas, computadores, inteligência artificial, e muita ficção científica.

Desde então a sociedade assistiu seu espaço ser invadido pela tecnologia. Tudo em nome do progresso que não poderia parar.

Tivemos de assistir nossos postos de trabalho serem aniquilados, profissões dizimadas, e a tecnologia pouco a pouco ganhar o centro das atenções.

Sindicatos, associações e outros representantes de coletivos foram a luta, mas sem sucesso, afinal o progresso não pode parar.

O progresso é aliado do capital, o trabalho é despesa, o objetivo é o lucro.

     Tínhamos de aceitar, afinal o progresso não pode parar…
          Tínhamos de aceitar, afinal o progresso não pode parar…
               Diziam: a fita cassete vai acabar com a indústria fonográfica!

Pela ótica do capital esta tudo correto, quem lembra da reengenharia, um conceito até interessante, mas que fora usado como artifício para provocar a maior onda de demissões de todos os tempos.

O capitalismo sempre foi focado no lucro, tanto que mão de obra até hoje é entendida como insumo, assim como os materiais, um orçamento sempre foi composto de insumos e lucro.

Lucro este desejado, a palavra de ordem é competitividade, temos de ser competitivos, afinal o capitalismo é selvagem, e somente os mais competitivos sobrevivem.

Entenda que não é nada pessoal, dizia o patrão ao demitir funcionários de longa data, é a busca pela competitividade e sobrevivência da empresa que esta em jogo, empresas não podem ter coração…

     Tínhamos de aceitar, afinal o progresso não pode parar…
          Tínhamos de aceitar, afinal o progresso não pode parar…
               Diziam: O video cassete vai acabar com a indústria cinematográfica!

A Arte da Guerra do Pai rico, que virou a própria mesa antes do Safari de Estratégias do Príncipe, na busca de um monge que virou executivo.

Até hoje não sabemos quem roubou meu queijo, e nem quem foi o Fora de Série que chegou no Ponto da Virada em Caminhos e Escolhas na busca de um Freakonomics.

Mesmo que o Marketing seja Lateral ou vá além do Buzz, ou gerenciamos a experiência do consumidor ou tentamos entender a cabeça do Brasileiro.

O líder do Futuro faz uma Liderança Radical, diz que Sobreviver não é o bastante e não gosta de Sundae de Almôndegas.

Tanta coisa fora sistematizada para alavancar o progresso, para girar a roda da fortuna em prol da competitividade e do lucro.

     Tínhamos de aceitar, afinal o progresso não pode parar…
          Tínhamos de aceitar, afinal o progresso não pode parar…
               Diziam: O CD vai acabar com o LP!

Meados dos anos noventa, o fim do mundo estava próximo, o bug do milênio que assombrava todo mundo, na verdade era apenas mais um mercado construído em cima de dúvidas e incertezas.

Estávamos sendo usados mais uma vez.

As profecias diziam: o fim do mundo esta próximo! A Internet chegou, uma nova parafernália eletrônica que chega para divertir os nerds e conectar os acadêmicos, um espaço de poucos.

A Internet chegou!

Como falavam em globalização!

O mundo como uma maravilhosa aldeia global, onde todos consumiriam alegremente, anunciavam o inevitável fim da cultura local, e enalteciam as maravilhas do mundo globalizado.

Na prática estavam alinhavando novos mercados, o progresso não pode parar!

Aquele tênis bacana é produzido no terceiro mundo por mão de obra escrava com uma marca registrada nos “Staites” que valia mais do que custava o sapato, que não valia nada.

Era o tal do insumo que ficou pequeno perto do lucro, a ciência do preço agora contava com um fator de subjetividade ainda não entendido, mas pouco importa, felizes consumidores pagavam lucros exorbitantes para ostentar seu mimo.

As corporações cresciam, cresciam como nunca…

     Tínhamos de aceitar, afinal o progresso não pode parar…
          Tínhamos de aceitar, afinal o progresso não pode parar…
               Diziam: Pirataria é crime!

B2B, B2C, G2B, G2C, A2Z; A2Z,G2B,B2C,G2C,B2B, e-learing, e-enterprise, e-commerce, e-gov, e-tudo, e-Siglas e letras 3 letras povoaram o vocabulário corporativo.

A Economia Digital ensinava a Vender seu Peixe na Internet e tudo Fazia Sentido.

Webonomics levou ao Net Gain, mas We the Media ainda não haviam estabelecido as Novas Regras da Comunidade.

O capitalismo virou bits, o free shop ficou à dois cliques de distância, que beleza!

Globalização!

O mundo agora ficou pequeno, e todo mundo achando tudo muito lindo, não percebiam a intenção latente, a nova ordem era transformar empresas em mega corporações, maiores e mais poderosas que as nações…

     Tínhamos de aceitar, afinal o progresso não pode parar…
          Tínhamos de aceitar, afinal o progresso não pode parar…
               Diziam: Agora quem manda são as corporações, afinal oferecemos aquilo que o fizemos desejar.

Descobriram o usuário, a Internet ficou popular, ficou fácil para qualquer um produzir, criar e compartilhar, deixem eles brincar diziam as novas nações-corporações, afinal o Culto dos Amadores não pode nos ameaçar.

Mas as Novas Regras da Comunidade mostravam o Valor das Redes que através de seus Trust Agents corriam em busca de Socialnomics, mas na verdade estavam muito mais interessados no Group Genius.

Esta sociedade conectada, alinhadas por ideologias eram vistas como excelentes oportunidades de negócios, afinal nichos e mega nichos sempre seduziram qualquer corporação em busca de novos mercados.

Eles “brincavam”, faziam mashups, blogs, e se conectavam através de redes sociais.

Excelente dizia o establishment, nosso plano de dominação vai de vento em popa…

     Eles vão ter de aceitar, afinal o progresso não pode parar…
          Eles vão ter de aceitar, afinal o progresso não pode parar…
               Diziam: O mundo de pontas esta se alinhando com o Manifesto Cluetrain.

Inteligência coletiva, cognição interativa, pensamento globalizado, juntos os usuários ficavam mais inteligentes, mais inteligentes que a soma das suas inteligências.

Inteligência coletiva, crowdsourcing, dinheiro P2P, mobilização coletiva e o povo foi para as ruas sem um líder específico, sem uma pauta específica, a indignação mostrou sua cara.

Era a crise da representatividade que estava em jogo, era o modelo atual do mundo que estava em jogo, como diz Rushkoff, eles querem trocar o sistema operacional do establishment e dar um reboot geral.

     Eles vão ter de aceitar, afinal o progresso não pode parar…
          Eles vão ter de aceitar, afinal o progresso não pode parar…
               Diziam: O povo unido jamais será vencido!

Precisamos parar este trem diz o establishment preocupado, vamos estudar esta tal de Internet que agora quer nos pegar, vamos mudar a regra do jogo, vamos controlar as informações, basta dizer que pobres velhinhos são roubados na Internet, ou falar de pedofilia, ou ainda de gente pelada na rede, o velho discurso da pirataria não colava mais, mas TPP vem ai para nos vingar.

Enquanto isto vamos dominar a infra-estrutura dizendo que Internet é telecomunicações, dizendo que Internet é um espaço de negócios e que deve seguir as regras do mercado, assim calamos nossos inimigos, e voltamos a lucrar como nunca.

     Eles vão ter de aceitar, afinal o progresso não pode parar…
          Eles vão ter de aceitar, afinal o progresso não pode parar…
               Diziam: Quem manda no seu país somos nós seus otários!!!

Fonte:
http://entropia.blog.br/2013/12/12/o-paradoxo-do-progresso/

Nota:
A inserção das imagens, quase todas capturadas do Google Images, são de nossa responsabilidade, pois inexistem no texto original.

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

A geração bit se assenhora da comunicação, mas a revolta está no ar


Uma guerra de titãs se processa no campo da comunicação e da tecnologia da informação, envolvendo pelo menos três atores essenciais: os grandes grupos financeiros, as grandes corporações do mundo da informação e da comunicação e os governos. A velha mídia está derretendo sob o sol a pino de novas formas de consumo da informação.

Antonio Lassance* - Carta Maior
 
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A velha mídia está derretendo sob o sol a pino de novas formas de consumo da informação. Os abalos sofridos por ícones tradicionais do jornalismo se sucedem. O que sobrará dos velhos modelos?

Uma guerra de titãs se processa no campo da comunicação e da tecnologia da informação, envolvendo pelo menos três atores essenciais: os grandes grupos financeiros (bancos e seus financistas), as grandes corporações do mundo da informação e da comunicação e os governos.

Quem agora puxa o ritmo das transformações na comunicação são o que chamo de barões digitais, ou Geração Bit (de Bill Gates, da Microsoft; do finado Steve Jobs, da Apple; Mark Zuckerberg, do Facebook; Sergey Brin e Larry Page, do Google, Jeff Bezos, da Amazon, e tantos outros que não param de surgir), todos de trajetória meteórica.

Por enquanto, eles agem em conluio com os velhos gigantes das telecomunicações. O problema é que o principal negócio das telecons está se transformando. Dentre em breve, será quase exclusivamente o de entregar os produtos empacotados pelos barões digitais, pura e simplesmente. A sorte das telecons está, literalmente, por um fio. Se houver inovações que tornem a interligação física dispensável ou menos rentável do que o necessário para cobrir os custos de sua infraestrutura, as telefônicas passarão a ser a bola da vez do canibalismo dos barões digitais.

Mais cedo ou mais tarde, os velhos capitães das telecons terão que encarar diretamente os criadores da atual fase da era digital. Ambos os lados irão reinstalar o teatro que, há um século, se dava em torno de ferrovias, petróleo, energia elétrica e siderurgia. Na segunda metade do século XIX, esses barões ladrões se abraçavam e se apunhalavam o tempo todo. Algo similar deve ocorrer na era digital entre o baronato sem fio e o com fio, em duelos em que as armas serão telefones (fixos e móveis), computadores portáteis e televisores. Nenhum deles deve desaparecer. A grande incógnita não é quem irá vencer, mas sim como e quando os barões digitais da Geração Bit irão enterrar os telecons, e se alguém dentre as telefônicas irá mudar de lado a tempo para evitar ficar pequeno, como aconteceu com a IBM, a Xerox e a Kodak.

O entrechoque vai ditar os novos rumos da comunicação global. Aqueles que prevalecerem desse confronto irão transformar definitivamente o mundo das comunicações.

Os Cavalos de Troia
Os governos aparecem como peças chave dessa equação. Eles são propulsores das estratégias comerciais e industriais dos grupos econômicos que estão à frente das inovações que reinventam o mundo em que vivemos. Patrocinam as estratégias desses grupos, compram seus produtos e os alimentam de informação vendida como notícia.

O complexo militar é normalmente responsável por investir recursos maciços em tecnologias inovadoras que, posteriormente, ganham versões de mercado. Hoje se sabe o quanto tais tecnologias continuam sendo capturadas por objetivos militares e de influência geopolítica.

Celulares, tablets, notebooks e televisores, vendidos em lojas de varejo e dados aos montes em época de Natal, aniversário e Dia dos Namorados, são presentes de grego que trazem em suas barrigas soldados digitais (como era Edward Snowden), recrutados para abrir os portões das atividades, das preferências e dos pensamentos de cidadãos, empresas e governos, onde quer que estejam.

A comunidade de informação dos EUA continua se banqueteando de todos nós, a cada clique, como vermes escondidos. Graças a Snowden, descobrimos que o grande problema da internet não são os piratas, são os corsários, ladrões de informações preciosas a serviço dos governos. Ao invés de empunharem a bandeira de ossos cruzados, vestem uniformes e hasteiam as bandeiras de seus países.

Em meio a tudo, o outrora grande negócio do jornalismo tornou-se apenas um detalhe. Neste instante, completa-se uma longa trajetória que começou, no século XIX, com o jornalismo, enquanto profissão - “profissão liberal”, como se dizia no passado daqueles que trabalhavam por conta própria e recebiam o quanto lhes era pago diretamente por seus clientes. No século XX, o jornalismo abriu um grande mercado – o da comunicação de massa. Suas corporações carregavam o portentoso título de “a grande mídia”. Eram titãs nos velhos tempos. Alguns ainda são. Em pouco tempo dirão, como a personagem do filme “Crepúsculo dos deuses”: “eu sou grande! O mundo é que ficou pequeno”.

A trajetória hoje se completa com o jornalismo e a informação sendo transformados simplesmente em um produto. Um produto cada vez menor, rasteiro e descartável. Em uma visão dialética, se percebe que esse já era o destino para o qual os grandes veículos estavam transformando o caráter da notícia. Hoje, provam sua amarga colheita e se sentem envenenados.

Entre tantos sinais do derretimento colossal, o mais recente e apoteótico foi a compra do Washington Post pelo fundador e chefão da Amazon.com, Jeff Bezos. O Post custou o preço de um quadro de Paul Cézanne.

Pior destino tiveram muitos outros jornais. Eles se dividem entre os que desapareceram, os que permanecem em estado vegetativo e os que entraram em autofagia. A maioria resiste fazendo dos jornalistas suas principais vítimas, com demissões em massa e enxugamento das redações e editorias.

O titã tornou-se, ao fim, um Titanic. Foi essa a metáfora mais emblemática da venda do Washington Post a Bezos. O jornal encontrou seu iceberg, e é sobre ele que o negócio do jornalismo, prostrado, lança suas esperanças de abrigar-se. É sobre sua plataforma gigantesca e reluzente que se busca refúgio e alívio contra um destino pior: afundar.

O mesmo Bezos já havia vaticinado:

"A internet está transformando quase todos os elementos do negócio das notícias: reduziu os ciclos noticiosos, erodiu as fontes confiáveis de receita e abriu espaço a novas formas de competição, entre as quais as que têm pouco ou nenhum custo para a produção de notícias". (“Jeff Bezos, el multimillonario que compró el alicaído Washington Post”, BBC, 6/8/2013).

A notícia como mercadoria
O grande negócio do jornalismo, ao transformar a notícia em mercadoria, hipotecou sua independência. O “jornalismo independente” significava, no princípio, que o jornalismo era um negócio próprio, autônomo. Sua principal fonte de receita era a venda em bancas e as assinaturas. É esse modelo que está em crise.

Cada vez mais, os velhos jornalões estão sendo comprados ou por grandes financistas (como John W. Henry e Warren Buffett) ou por grupos de telecomunicações e novas mídias digitais (como Carlos Slim e, agora, Bezos).

Bezos é o primeiro da Geração Bit a entrar pela porta da frente do mundo jornalístico. Antes dele, e pela porta dos fundos, o Google ameaçou fazer um estrago no jornalismo tradicional similar ao provocado pelo Youtube na indústria do entretenimento. Rodando resumos de notícias extraídas diretamente dos jornais, em tempo real, em seu motor de busca, ele provocou uma diminuição na propensão dos leitores de gastarem um clique a mais para visitar as páginas dos jornais, definhando a estatística que alimenta sua publicidade.

O jornalismo de grande escala é cada vez menos um negócio em si e cada vez mais uma parte de outros negócios. É um item a mais na grande lista de produtos das grandes corporações digitais de entretenimento.

Porém, a dialética da nova comunicação digital, se em escala global levou à sua transformação completa em mercadoria, em escala local produziu uma nova versão do jornalismo enquanto atividade militante, dedicada ao desmascaramento das relações ocultas entre o público e o privado. Também tem se revelado fundamental à proclamação da identidade de novos atores, com novas agendas na relação entre Estado e sociedade.

De fato, esse jornalismo militante estava presente na origem do jornalismo contemporâneo. Desde os tempos longínquos de Marat (1743-1793) e seu jornal “O Amigo do Povo”, fagulha essencial para a Revolução Francesa. Também no jornalismo operário do século XIX e na imprensa revolucionária dos partidos proscritos pelos governos aristocráticos da velha Europa. Estava igualmente visível na primeira imprensa dos Estados Unidos, que Alexis de Tocqueville (1805-1859) registrou como uma das bases essenciais “Da Democracia na América” (título de seu livro de 1835). Naquela república que, segundo ele, trazia um padrão de governança que se espalharia por todo o mundo, havia um cidadão com uma característica peculiar: o gosto por ler jornais.

Não à toa, ali se conformaria uma ética e uma estética do jornalismo que se tornariam um padrão internacional, pelas mãos do célebre Joseph Pulitzer (1847–1911). Pulitzer, celebrizado pelo prêmio que funciona como um Nobel para os profissionais da área, reproduziu seu modelo de “independência”, zelo pela precisão das informações e rigor na apuração. Consolidou também a preferência por jornais de títulos grandes e chamativos, imagens fartas, frases curtas, objetivas, diretas.

É importante lembrar o contexto de Pulitzer, de combate intenso do jornalismo contra os barões ladrões e crítica à política corrupta, capturada pelo interesse dos cartéis. Pulitzer fez parte de um processo importante de formação da consciência nacional que contribuiu para a luta contra a cartelização econômica, o que forçou os partidos Republicano e Democrata a um realinhamento de suas plataformas e de suas relações com a sociedade.

Nos tempos de Pulitzer, o leitor era a fonte essencial da sustentação dos veículos. Para vender, os jornais, em alguma medida precisavam expressar o ímpeto por mudanças. Paulatinamente, esse modelo foi superado. O jornalismo baseado no interesse do leitor foi transformado em jornalismo comercial, no qual a publicidade passou a ocupar um espaço fundamental. Ele já não podia, francamente, se reivindicar independente. Ele não podia revelar suas relações íntimas com os grandes grupos econômicos e seus governos liberais. Como alternativa, sua pregação iconoclasta, sua simulação de independência e sua indignação se voltaria contra movimentos sociais, permanentemente estigmatizados, e contra governos progressistas, quase sempre nivelados por baixo e carimbados de corruptos.

A situação chegou ao paroxismo no Brasil, onde, como lembra o professor Mário Schapiro, a corrupção e as práticas ilícitas “parecem corresponder a um mercado de ficção: o mercado em que só há a demanda, mas não há a oferta" (SCHAPIRO, Cartel no Metrô e as Respostas do Direito. Blog do Estadão, 2/8/2013). Há corruptos por todo o Estado, mas o mercado de corruptores é apenas negócio.

O novo mundo da comunicação se encaminha para o que Manuel Castells (Communication, Power and Counter-power in the Network Society. International Journal of Communication, vol. 1, 2007, págs. 238-266) denominou “autocomunicação de massa”. Uma comunicação que não é mais absolutamente unívoca e depois massificada, e sim proveniente de uma profusão de atores e autores. Por meio da troca multimodal, algumas mensagens geradas por muitos e endereçadas a muitos ganham uma notoriedade viral.

Essa comunicação, dificílima de ser engarrafada pelos meios de comunicação tradicionais, é revolucionária por criar e recriar, o tempo todo, novos padrões comunicativos e narrativas inovadoras. Ao mesmo tempo, é uma comunicação descartável, que se desmancha no ar. Tende a gerar um Walter Cronkite por dia (Cronkite, 1916-2009, foi o respeitado âncora da CBS entre os anos 1960 e 1980), descartando-o no dia seguinte. É essa lógica do efêmero, movida pelo “on-line” e pela inovação de formatos e narrativas, que torna constante o descarte de profissionais, a repaginação dos layouts e a migração para novas plataformas eletrônicas. Estamos diante de um processo acelerado de destruição da atividade jornalística tradicional. O jornalismo não está morrendo. Está se reinventando. O que está morrendo é uma forma específica e datada de jornalismo.

A revolta da comunicação das ruas
Frente a um novo contexto e muitas dificuldades, a velha mídia do Brasil pisou distraída nas jornadas de junho - como foram apelidadas as manifestações ocorridas neste ano. Diante de novos padrões comunicativos e narrativas inovadoras, produzidas por atores multifacetados, os veículos de maior audiência resolveram brincar com fogo.

Os maiores veículos não estavam seriamente interessados em saber o que estava acontecendo, e sim em direcionar o alvo do desgaste. Os especialistas de plantão eram os de sempre, inaptos a dar opiniões que realmente fizessem algum sentido em relação às pautas das manifestações.

Em pouco tempo, uma imprensa desacostumada a uma pluralidade de atores, sobre os quais praticou a delicada censura do silêncio, tornou-se ela própria um alvo evidente dos protestos. As grandes multidões eram compostas de inúmeras e diversas “multidinhas”. Em comum elas tinham, no mínimo, uma desconfiança em relação à velha mídia, mas alguns grupos demonstraram uma franca aversão e até ódio aos veículos mais tradicionais.

A tentativa da velha mídia de dublar as opiniões das multidões, com uma tradução enviesada por seus próprios interesses, gerou revolta e foi rechaçada de forma agressiva pelos manifestantes, que hostilizaram e expulsaram todos os jornalistas que se apresentaram na multidão com o símbolo dos grandes grupos de comunicação. Mesmo alguns de nossos melhores jornalistas, críticos e acostumados a mostrar o outro lado, foram nivelados por baixo. Algo que não se justifica, mas se explica.

De positivo, houve a eclosão de uma infinidade de comunicadores populares, com uma ideia na cabeça e um smartphone ou uma pequena câmera na mão. No Brasil, um desses grupos ganhou identidade em torno da Mídia Ninja. Mas há uma centena de pessoas e de grupos populares de comunicação espalhados pelo Brasil, surgidos em torno da vontade de mostrar o que ninguém vê. Se somarmos a isso a comunicação popular comunitária, a conta passa dos milhares. A única diferença para os Ninjas é que eles não surgiram das manifestações de ontem, e sim há um bom tempo, e ainda não escreveram seu manifesto.

Ao por em ação um novo padrão comunicativo, colocam em xeque o padrão tradicional de comunicação jornalística, publicitária, de eventos (como a Copa), e mesmo da comunicação digital. O jornalismo impresso era responsável por apresentar, diariamente, “uma condensação totalizante de determinada visão de mundo”, como lembra Maringoni (Jornal, o fim de uma concepção). O jornalismo alternativo e popular ganha sentido com uma visão horizontal, crítica da sobredeterminação do mercado sobre as políticas públicas do Estado. Longe do mito da isenção e da imparcialidade, sua objetividade é garantida justamente pela possibilidade de estar próximo à ação popular ou de ser parte dessa própria ação.

Também essa visão engajada estava presente na origem do jornalismo. No entanto, o novo padrão comunicativo não é mais o velho engajamento dos publicistas, como o de Émile Zola (1840 - 1902) em seu “J’accuse”, ou o jornalismo de Samuel Weiner (1912-1980), que tomava partido pró-Getúlio Vargas (1930-1945). O velho publicismo e o jornalismo partidário faziam, no primeiro caso, um apelo à consciência nacional. A comunicação popular e alternativa é parte do próprio alinhamento de setores da sociedade que ganham expressão comunicativa. Em meio a uma feroz disputa política, os velhos publicistas eram heróis da consciência nacional adormecida. Hoje, os que fazem a comunicação de movimentos sociais e de atos de revolta buscam sobretudo registrar e potencializar, e não orientar tais iniciativas.

O engajamento hoje se dá na relação com movimentos populares, dos quais sua comunicação brota e depende. Se (ou quando) tais movimentos se recolhem, essa comunicação tende ou a murchar ou a ganhar maturidade e permanência, como foi no caso da experiência da TV dos Trabalhadores. Quando não, hibernam junto com um outono das mobilizações, até que ressurjam com força, ou ganham nova forma e novo sentido.

O jornalismo mambembe diante dos governos que se comportam como empresas
Infelizmente, as formas de comunicação plurais, de pequena escala, que interessam ao cidadão que vê o mundo de sua janela, estão fora do radar da comunicação governamental. Os governos, que deveriam ser os principais interessados em comunicar para a cidadania, agem no mercado publicitário sem qualquer diferença em relação ao que fazem as fábricas de cerveja, as lojas de varejo e as montadoras de automóvel.

Há preocupações extremadas com a possibilidade, por exemplo, de financiar mídias que cobrem protestos - possivelmente, mais pelo fato de que as manifestações criticam todos os governos, como é próprio da luta pela cidadania. A luta por direitos sempre foi antecipada por revoltas, algumas violentas. Do ludismo dos ingleses e das sabotagens dos franceses, que jogavam seus “sabots” (tamancos) dentro das máquinas, contra a Revolução Industrial; dos protestos violentos de 1º. de maio de 1886 pela redução da jornada de trabalho; das passeatas pelo voto das mulheres (as sufragistas); das greves operárias de 1978 e 1980 que confrontaram a ditadura no Brasil; dos Occupy, nos EUA; dos indignados, na Espanha, aos revoltosos da Primavera Árabe.

Os movimentos que historicamente se tornaram vitoriosos foram aqueles que transformaram a revolta e a destruição em politização das pautas e em partidarização de bandeiras que foram sendo progressivamente institucionalizadas, ou seja, se tornaram regras. Uma dessas bandeiras ainda à espera de quem as empunhe com mais firmeza é a da democratização da comunicação.

Dizem que não se pode financiar mídias que, entre outras coisas, podem verbalizar protestos, mas não se tem pudor algum em anunciar em programas cujos apresentadores defendem que bandido bom é bandido morto, ou programas humorísticos em que as principais piadas são contra negros, mulheres, nordestinos e homossexuais. Se os índices de audiência justificam o gasto, não importa o gosto; não importa, nem mesmo, a mensagem anti-cidadã que pronunciem. Financiar o conservadorismo é normal. Financiar a mudança é um perigo.

Os governos chamam de “mídia técnica” aquela que é medida pelo Ibope e pelo Índice de Veiculação de Circulação de jornais e revistas (o IVC). Mas esquecem de dizer que o Ibope e IVCs dessas mídias é diariamente alimentado por um mercado de informações privilegiadas e das entrevistas exclusivas concedidas apenas para “os grandes”.

A informação produzida pelo Estado é um bem imaterial, mas que custa dinheiro público para ser produzida. Pois ela é rotineiramente dada privadamente de bom grado, conforme relações de amizade e interesses de evidência, ou jogada pela janela da cizânia de autoridades maiores e menores dos próprios governos. Sem licitação, sem transparência, sem critérios republicanos. Muitas vezes em segredo, o que é algo proibido pela lei que rege o serviço público (salvo raras exceções), mas é afrontosamente tolerado sob o charmoso apelido de “off”.

A “mídia técnica” gasta absurdamente mais recursos em TV do que em rádio, embora o consumo de informação dos brasileiros pelo rádio esteja praticamente no mesmo patamar do da TV. Gasta-se injustificadamente mais do que se deveria em jornais e revistas do que em internet. Gasta-se muito com poucas empresas de comunicação, e pouco com os profissionais que fazem a comunicação. Afinal, a esmagadora maioria dos profissionais da comunicação está fora do pequeno circuito da velha mídia.

Esse é um debate essencial e que precisa mudar de patamar. É preciso olhar ao redor o que acontece no mundo da nova comunicação digital e no que ocorreu bem debaixo de nosso nariz, após os protestos. A comunicação alternativa e popular não pode ser tratada como um jornalismo mambembe, que sobrevive de centavos jogados pelos transeuntes sobre um chapéu virado.

Sua principal virtude é tratada como um defeito pela visão oficial, dado o viés meramente comercial. A comunicação popular e a alternativa não são estritamente jornalismo, são comunicação em sentido amplo. Sua principal atividade não é apenas relatar e opinar (isso também), e sim dar voz, documentar ações e personagens muitas vezes invisíveis, contar histórias de quem é silenciado pelos meios tradicionais. Sua vocação não é a da massificação, mas a de públicos segmentados – melhor seria dizer, públicos especiais. Ela caminha pelo que Castells chama de “pequenos meandros”, as redes de relacionamento social que precederam as ferramentas eletrônicas criadas para facilitar a produção e entrega de suas mensagens.

Essa comunicação não se dedica ao mercado, e sim à cidadania. Talvez por isso a maioria das áreas de publicidade dos governos, colonizada pela visão marqueteira e focada nos índices de popularidade, não sabe exatamente o que fazer com ela.

Deveria ser acolhida de forma pública e transparente nas estratégias de financiamento das políticas públicas que interessam ao fortalecimento da pluralidade, da democracia, da radicalização dos direitos de cidadania. É claro que essa possibilidade inovadora só poderia existir em governos que também não encarassem a notícia como mercadoria. É difícil encontrá-los.

Assim que Jeff Bezzos comprou o Washington Post, surgiram várias especulações sobre o que ele afinal pretende. Se Bezos estiver pensando grande, pode criar um novo modelo de negócio para o jornalismo, fazendo desaparecer muitos jornais, assim como, com o Kindle, seu leitor de livros digitais, ajudou a fechar várias livrarias por todo o país. Outra hipótese é a de que, se estiver pensando pequeno, Bezos usará o Post apenas como instrumento para aumentar sua influência em Washington - convenhamos, Bezos não precisa do Post para isso, basta seu dinheiro. Alguns ainda disseram que ele quer, além da marca do Post, se aproveitar de uma parcela preciosa da inteligência nacional, aquela formada pelo excelente time de profissionais da notícia que vive sob o manto e o mito do jornal que derrubou Nixon. Provavelmente, Bezos está pensando não em uma, mas em todas as opções anteriores.

A que me parece mais instigante é justamente a da inteligência nacional. No Brasil, ela está sendo demitida dos jornais e partindo para voos solo, em blogs ou em novas organizações coletivas, micro, pequenas e médias; comunitárias ou cooperativas. Isso deveria interessar aos governos que pretendam uma política ousada e republicana de comunicação, capaz de relacioná-la mais aos direitos de cidadania do que ao Ibope. Uma política que se aproveitasse mais da extraordinária capacidade e inteligência dos jornalistas do que das marcas dos veículos que as transmitem. Afinal, tais marcas são efêmeras e decadentes. É melhor investir em quadros de Paul Cézanne. No futuro, eles valerão bem mais.

*Antonio Lassance é cientista político e pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). As opiniões expressas neste artigo não refletem necessariamente opiniões do Instituto.

Publicado originalmente no site da Carta Maior, onde  há  versão em PDF e links remissivos

http://www.cartamaior.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=6243

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Testes rápidos para hepatite B e C são útéis para comunidades de difícil acesso

COBERTURA ESPECIAL – CONFERÊNCIA HTAi 2011


Palestrantes discutiram também o uso de PCR para diagnóstico de tuberculose pleural e de marcador inflamatório para pré-eclampsia.
 
AGÊNCIA NOTISA – Os testes diagnósticos são ferramentas fundamentais para os sistemas de saúde pública, pois além de permitirem o estabelecimento de condutas terapêuticas para diferentes quadros clínicos, podem ser utilizados como mecanismos de prevenção na triagem de doenças. Nessa quarta-feira (29), sob coordenação de Bruce Ducan, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e de Sun Robin, da Haute Autorité de Santé, na França, pesquisadores brasileiros apresentaram diferentes estudos sobre o uso desses testes na saúde pública. A sessão fez parte do último dia da 8ª Reunião Anual da Health Technology Assessment International (HTAi), realizada pela Health Techonology Assessment International (HTAi) e pelo Ministério da Saúde, no Rio de Janeiro.
 
Michael Shlussel, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, apresentou uma revisão literária que ele e colegas realizaram com o objetivo de avaliar se a concentração sérica da proteína C-reativa no primeiro e segundo trimestres da gestação está associada com pré-eclampsia e se esse marcador inflamatório poderia ser incorporado na rotina médica dos serviços de pré-natal.
 
O pesquisador lembrou que a pré-eclampsia é a complicação mais comum depois da 20ª semana gestacional e está associada com altas taxas de mortalidade materna e morbidade neonatal. Por essa razão, estudos que busquem identificar precocemente esse evento se tornam importantes.
 
De acordo com Michael, a pesquisa por estudos, publicados entre abril de 2010 e abril de 2011, que abordavam esse tema em plataformas de busca científicas resultou na seleção de 16 trabalhos científicos, sendo sete dos EUA, seis da Europa, um da Austrália e dois da América Latina, especificamente da Colômbia e do Chile.
 
Esses estudos, entretanto, eram muito heterogêneos, o que não permitiu uma conclusão sobre a eficácia do teste. Assim, Michael destacou que, no momento, ele e equipe consideram que não há “suporte científico para justificar seu uso como tecnologia na rotina de serviços de saúde de atenção pré-natal para identificar mulheres em risco para desenvolvimento de pré-eclampsia”.
 
Outra tecnologia discutida durante o evento foi a reação em cadeia de polimerase (PCR, em inglês) para diagnóstico da tuberculose pleural. Para avaliar se essa metodologia poderia ser utilizada para identificar o micro-organismo Mycobacterium tuberculosis, Guilherme Geit, do Hospital das Clínicas de Porto Alegre (HCPA), apresentou a experiência dessa instituição. Ele contou que 85 pacientes atendidos, entre 2004 e 2009, no HCPA com suspeita de tuberculose pleural foram incluídos na pesquisa. O teste de PCR apresentou, segundo Guilherme, 41% de sensibilidade e 97% de especificidade. Dessa forma, a equipe considerou a metodologia útil e com a vantagem de antecipar o início do tratamento nos casos positivos, pois o resultado é obtido em três dias. Vale lembrar que outras alternativas diagnósticas, por exemplo, a cultura de células revela o diagnóstico em 50 dias.
 
Ao final do evento, Lívia Melo Villar, da Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ), apresentou um trabalho realizado por ela e colegas sobre o uso de testes rápidos no diagnóstico de hepatite B e C. Segundo ela, essas ferramentas podem ser vantajosas em localidades de difícil acesso, por exemplo, comunidades indígenas da região Norte do Brasil. Embora existam testes rápidos, esses ainda não são validados, por essa razão, os pesquisadores buscaram estabelecer padrões para avaliá-los. Lívia explicou que foram selecionados quatro testes: dois para detectar o antígeno de superfície do vírus da hepatite B (HBsAg, em inglês) – Imuno-Rápido HBV da  Wama Diagnóstica e Vikia HBsAg da Biomérieux – e dois para detecção de anticorpos contra o vírus da hepatite C (anti-HCV) – Imuno-Rápido HCV da Wama Diagnóstica e o teste rápido anti-HCV da Bioeasy.
 
A pesquisadora afirmou que os testes rápidos apresentaram bom desempenho quando comparados aos testes convencionais e, por isso, recomendou o uso em pequenos laboratórios, nos quais os exames convencionais não estejam disponíveis.
 
Agência Notisa (science journalism – jornalismo científico

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Conhecimento é o bem de produção mais valioso do século 21

COBERTURA ESPECIAL – 6º Seminário Nacional Médico/Mídia



Profissionais devem se integrar às redes de troca de informações existentes na Web.
 
Agência Notisa – Mais do que capital, terra, energia, mão de obra ou matéria prima – tradicionais meios de produção industrial – em nossa era o conhecimento se configura como fator mais determinante para o sucesso não só empresarial, mas também profissional individual. Este ponto de vista foi defendido pelo professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro e Doutor em Informática pela Université de Paris Marcos Cavalcanti, na palestra “A mídia e as novas tecnologias – a importância do Twitter, Facebook, Orkut e outras mídias sociais no dia a dia do jornalista e do médico”, durante o encerramento do 6º Seminário Nacional Médico/Mídia, promovido pela Federação Nacional dos Médicos (FENAM) e ocorrido no Rio de Janeiro nas últimas quinta (28) e sexta-feira (29).
Marcos Cavalcanti explicou que hoje, cada vez mais bens intangíveis se firmam como mais importantes na produção de riqueza do que demais fatores caros à sociedade industrial. Segundo o professor, em 2006 as exportações de bens intangíveis dos EUA superaram a de bens tangíveis. Tais bens intangíveis são aqueles que, disse Cavalcanti, não viajam de “trem ou navio”, mas sim usando a Internet ou a própria mente das pessoas como meio de transporte. Entre produtos e conteúdos que se encaixam nessa definição, passam não apenas softwares de computadores, mas também ideias e informações que, hoje, podem correr o mundo com mais facilidade.
O século 21, explicou Cavalcanti, caracteriza-se por uma forma de produção de conhecimento que pode ser chamada “de muitos para muitos”. Ao contrário do que acontecia antes do aparecimento da Internet, em que professores, médicos, mídia e outras figuras de autoridade tinham a palavra final sobre o que devia ser consumido enquanto informação, hoje os meios para conseguí-la estão disponíveis na Internet 24 horas, vindo das mais diversas fontes. Nasce, assim, a “economia do conhecimento”.
Segundo Cavalcanti, esta sociedade guiada pela “economia do conhecimento” é fundamentalmente diferente daquela que se baseava na tradicional economia de produção. As principais características dessa nova organização são: (1) a realidade de que, quanto mais se compartilha, mais se tem. “Cada vez que eu compartilho conhecimento, eu saio sabendo mais do que eu sabia”, disse o professor; (2) o apreço pela inovação e (3) o papel destacado das redes de conhecimento neste contexto.
Na opinião do professor, nenhum profissional pode “ficar à margem desse processo (de participação de redes)”. Dessa maneira, a facilidade de troca de informação disponibilizada pela Internet deve ser entendida como um auxílio para passos maiores. Marcos Cavalcanti usou a Medicina para ilustrar esta mudança de paradigma, em que a colaboração tem papel-chave: ao contrário de antigamente, em que, por exemplo, a descoberta de vacinas era atribuída a um único nome, hoje as inovações médicas não podem ser associadas a um único laboratório ou pesquisador. Isto se vê, disse Cavalcanti, no projeto de mapeamento do genoma humano, para o qual trabalham profissionais de saúde de todo o mundo numa rede colaborativa, e também em iniciativas como a parceria Massachusetts Institute of Technlogy-Harvard University (EUA), que resultou na construção de um centro de pesquisa para a cura do câncer que conta com uma infinidade de profissionais, trabalhando em conjunto para o mesmo fim.
No Brasil, o segundo vice-presidente da FENAM Eduardo Santana, presente à mesa durante a palestra, comentou a existência da Rede FENAM como exemplo desta nova maneira de organização do conhecimento. O profissional explicou que ela é uma ferramenta da Web que funciona como o Orkut e o Facebook, mas voltada exclusivamente para médicos. Lá, é possível trocar experiências e informações entre este grupo profissional, de maneira a estimular a formação de um saber coletivo. A Rede FENAM foi lançada este ano e ainda se encontra em fase de teste.
Dessa forma, Cavalcanti defendeu que jornalistas e médicos, público-alvo do evento da FENAM, e também todo e qualquer profissional que deseja progredir em sua área de atuação não pode viver isolado. Isto porque em nossa sociedade atual não se pode negar a relevância do saber coletivo e compartilhado, de forma que, sentenciou o especialista, “quem organizar as melhores redes vai sair na frente”. 
Agência Notisa (science journalism – jornalismo científico