sábado, 11 de junho de 2011

A LEITÃO DOS BANQUEIROS



Laerte Braga


A mediocridade na mídia privada é algo que assusta e causa engulhos. Há alguns anos atrás os banqueiros tinham suas políticas justificadas pela inteligência do jornalista Paulo Francis. Inteligência, cinismo e uma devastadora forma de escrever ou falar, tanto quanto de cantar mais de duzentas marchas e sambas dos velhos carnavais no programa MANHATAN COLLECTION (hoje deve ter uns seis ou sete telespectadores mais ou menos, o forte era Francis. Morreu sobrou o resto, literalmente o resto).

E Francis tinha uma característica. Era indomável e não prestava consultoria a ninguém. Sua conversão a Wall Street se deu talvez numa visão quando andava pela Quinta Avenida. Foi um período confuso, onde chegou a afirmar que Pedro Bial e Hélio Costa (à época jornalistas da GLOBO nos EUA, eram inteligentes e faziam jornalismo de boa qualidade). J. P. Morgan deve ter aparecido a Francis e revelado algumas “verdades” sobre juros, extorsão, etc, com matizes de estátua da Liberdade

Desde a morte do jornalista a GLOBO tenta de todas as formas achar alguém que pelo menos se assemelhe a ele. Primeiro inventaram Arnaldo Jabor. Virou conselheiro sentimental, tucano de corpo e alma, sonha ser o Sartre latino-americano e acaba sendo um contorcionista confuso, lastimável, em sua busca de “hei de ser Paulo Francis”. Acaba subproduto de Paulo Coelho.  A própria GLOBO já percebeu que nesse sentido é uma furada, daí ter transformado Jabor numa versão masculina de Ana Maria Braga e voltado para outras áreas.

Na impossibilidade de ter um Francis ou “coisa” próxima, juntou um elenco além de Jabor. Lúcia Hipólito, Miriam Leitão, William Waack, Ana Maria Beltrão e outros mais.

Dentre todos os protótipos fracassados de Paulo Francis que a rede tentou construir Miriam Leitão é o mais trágico. Tem consigo a marca de ser furibunda e fortemente influenciada – só pode ser – por aqueles pastores que vivem prevendo o fim do mundo.

Vai acabar amanhã. Aí não acaba. Mas a senhora continua a acreditar que está acabando.

Desde o início do governo Lula que vem prevendo crises e catástrofes que não acontecem e isso é fácil de entender. É só ler o contrário.

A senhora em epígrafe manda recado dos banqueiros. A última preocupação de Miriam Leitão são seus ouvintes ou telespectadores naquilo que é essencial. Para esses é criar a sensação que monstro subiu ao teto e a qualquer momento desce pela chaminé levando devastação. A primeira preocupação é fazer o governo saber o que vai de fato ser real se os banqueiros não forem atendidos em seus pleitos e reivindicações.

Banqueiro é uma espécie complicada, não há certeza que sejam humanos. Nem andróides e tampouco robôs. Uma experiência gerada desde os primórdios da civilização, no primeiro passo humano dado no Planeta e que foi sendo gradativamente aperfeiçoada até chegar aos porões de Wall Street, onde hoje são produzidos por máquinas especiais de tecnologia desconhecida.

O próprio Paulo Francis escreveu que se um banqueiro tiver um olho dito humano e outro de vidro, se algum chorar, vai ser o de vidro.

Aquele modelo de banqueiro inglês, por exemplo, de fraque, cartola, charuto, trancado dentro de um escritório cercado de livros caixa por todos os lados é coisa do passado. Hoje são capazes de andar pelas ruas e se misturarem a qualquer ser humano sem que despertem suspeitas. Há inclusive quem os olhe e imagine-os seres semelhantes a qualquer outro.

Miriam Leitão é a intérprete desse pessoal. Quando fala em crise que se avizinha está recomendando a alta dos juros para que o Banco Central (a jornalista tem acesso ao COPOM – CONSELHO DE POLÍTICA MONETÁRIA) na ilusão – criada propositadamente – venha com a história de inflação de demanda e permita lucros extraordinários aos bancos, naquela jogada de títulos da dívida pública com a rentabilidade que esses juros proporcionam, para enxugar o excesso de moeda.

Em cena o capital de curto prazo, que não produz nada, perambula pelo mundo inteiro no papel de abutre, chega, lucra lucros astronômicos e vai embora lépido, fagueiro e feliz.

Com isso quase a metade do orçamento do governo da União vai para pagamento dos juros, sobe a dívida interna de forma alucinante e o povo lambe com a testa na crença que há um desenvolvimento fantástico e que trezentos milhões de dólares de reserva são uma fortuna que coloca o real no mesmo patamar do dólar. O ufanismo do sujeito que não viu que o gol é do outro time.

Saúde, educação, etc, dançam.

FHC em sua costumeira e voraz forma de mentir foi o grande responsável por esse processo, difícil de desmanchar, mas desmanchável se houve vontade política.

O custo dos chamados serviços públicos (luz, telefone, transportes, etc) é que pressiona a inflação. Não é a chuva ou a geada que liquida a plantação de alface, de tomate, de batata de um pequeno produtor.

Pequeno claro, porque o grande, o latifundiário, no Brasil, é um dos mais importantes cotistas da instituição Estado (vide Código Florestal), com poder de vida e morte, seja na uso de pistoleiros, trabalho escravo, ou no tal agronegócio, os transgênicos.

Toda essa discussão passa pela reforma política, passa pela reforma de um Judiciário cheio de vícios e corrupção (de sã consciência, tem quem ache que Gilmar Mendes seja sério?), mas que não se restringe a discussões fechadas entre os próprios integrantes do clube do qual Miriam Leitão é uma das porta-vozes. 

O caminho é a ampla participação popular. A revisão das estruturas monopolísticas que controlam a mídia brasileira – é parte da quadrilha das elites econômicas –, a criação de mecanismos que permitam ao brasileiro entender que essa arenga das elites de carga tributária alta é só arenga. Quem paga imposto no Brasil é a classe média, são os trabalhadores.


No duro mesmo o trabalhador brasileiro é servido à pururuca no cardápio desse esquema perverso.

As privatizações, que dona Miriam Leitão tanto defende, além dos péssimos serviços prestados (telefonia e eletricidade, por exemplo), não investem, cobram as tarifas mais altas do mundo. O lucro dos bancos no Brasil cresceu de tal ordem que espanta, em cima, principalmente, de juros altos e tarifas bancárias cobradas ao cliente.

Já o salário dos bancários...

Essa perversidade decorre do que chamam nova ordem econômica ditada pelo Consenso de Washington, evento que traçou o desenho do mundo pós União Soviética e segundo a verdade do deus mercado.

É única, é absoluta e quando falham os mecanismos políticos ou econômicos, existe guardadinho em vários lugares do mundo (inclusive na extinta Europa Ocidental, massa falida que os norte-americanos assumiram) o tal arsenal de milhares de ogivas nucleares, capazes de dissuadir qualquer tentativa de enfrentar essa canalha.

Tem sede em Wall Street, escritórios principais em Washington e Tel Aviv.

E funcionários pelo mundo inteiro, caso da senhora Miriam Leitão e toda a trupe da GLOBO.

O sonho de William Bonner é apresentar o JORNAL NACIONAL em inglês, com comentários dos “especialistas” da REDE FOX ou CNN. E presença de Sarah Palin no espetáculo de suas pernas vendendo a ideologia da castidade.

Não é bem aquela que se possa imaginar à primeira vista. É outra, do contrário Miriam Leitão não passaria nem pela porta dos fundos.

Semana passada a secretária de Estado Hilary Clinton convocou seis ex-presidentes de países da América do Sul, dentre eles FHC, agentes desse esquema, para um jantar. O objetivo era discutir o que fazer para que a América do Sul caia de joelhos mais depressa a tempo de ajudar na reeleição de Barack Obama, o Bush em versão supostamente negra (é branco engraxado de negro, como se fazia em Hollywood nos velhos tempos do racismo explícito, hoje é implícito).

O desafio de Dilma é romper esse grilhão. Um ou outro passo, mas alguns importantes foram dados por Lula. Mas não será com essa festa de clube de amigos e inimigos cordiais, partidos sem cara e face, só interesses, que se vai chegar ao desejado.

Falta povo nessa história toda. 


Piada de Rafinha Bastos: Delegada se dispõe a mostrar estado de mulher violentada

A presidente do Conselho Estadual da Condição Feminina São Paulo (CECF), delegada Rose Corrêa, disse em entrevista ao portal Comunique-se que se dispõe a esclarecer e orientar o humorista do CQC a respeito do trauma causado pelo estupro a uma mulher, após o humorista ter feito uma 'piada' sobre o crime.

“Se ele nunca viu o estado que uma mulher fica depois de ter sido estuprada, eu me disponho a levá-lo em qualquer Delegacia de Proteção à Mulher para que ele veja de perto o que é isso, como é isso e não faça piadas com um assunto tão delicado.”

Em um de seus shows de comédia stand-up em São Paulo, o comediante proferiu a seguinte ‘piada’ – que foi citada em reportagem da revista Rolling Stone de maio deste ano: "Toda mulher que eu vejo na rua reclamando que foi estuprada é feia pra caralho. Tá reclamando do quê? Deveria dar graças a Deus. Isso pra você não foi um crime, e sim uma oportunidade. Homem que fez isso [estupro] não merece cadeia, merece um abraço", disse o humorista.

Rose Corrêa critica ainda as palavras irreverentes usadas por Rafinha Bastos ao tratar do tema: “Essa forma de falar a respeito de um assunto tão sério mostra uma falta de senso, de cautela. Porque só quem viu o estado que uma mulher que é estuprada fica, sabe como é. E eu sei como é isso porque eu fui a fundadora da Primeira Delegacia da Mulher no Estado de São Paulo e atendia por 12, 13 horas diárias mulheres vítimas de estupro. Sabe, isso abala a estrutura da pessoa, destrói casamentos, marca demais a vida de quem passa por essa situação. Fora o constrangimento que a mulher passa em todo o processo”, reforça a delegada.

Repúdio
A polêmica declaração levou a Secretaria de Políticas para as Mulheres e o Conselho Estadual da Condição Feminina São Paulo a publicarem notas de repúdio contra as declarações do humorista.

Em seu pronunciamento, o CECF afirma que a 'piada' feita por Rafinha Bastos é de conteúdo machista e preconceituoso, além de encorajar os homens a praticarem a violência contra a mulher, que na Constituição Brasileira, é considerada crime hediondo.

Rafinha se defendeEm contato com a nossa reportagem via e-mail nesta manhã, o apresentador afirmou o seguinte: “Se os comediantes tiverem que responder por toda piada que fazem, não vão ter tempo pra mais nada na vida. Nem pra fazer comédia".

Fonte: Portal Comunique-se
Nota: Regulamentar a mídia é fundamental, para que o desrespeito não se propague.(Zilda Ferreira).

sexta-feira, 10 de junho de 2011

O negócio europeu das emissões perversas ( I )



por Daan Bawens, da IPS
1147 O negócio europeu das emissões perversas (I)Bruxelas, Bélgica, 10/6/2011 – Corporações e governos europeus aproveitam, há anos, um vazio legal do Protocolo de Kyoto sobre mudança climática para obter ganhos exorbitantes. Várias fontes indicam que esse lucrativo esquema causou mais contaminação do que nunca antes. O Protocolo de Kyoto (assinado em 1997 e em vigor desde 2005) permite às empresas europeias “compensarem” seu excesso de emissões de gás-estufa comprando redução de emissões em países pobres.
Esta disposição é o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL). Os requisitos para incluir nele projetos no exterior e a emissão de créditos de carbono – que neste caso se chamam certificados de redução de emissões (CRE) – são controlados pelo Conselho Executivo do MDL, que funciona na órbita da Organização das Nações Unidas (ONU).
Cada CRE equivale a uma tonelada de dióxido de carbono que não foi lançada na atmosfera. E é entregue ao responsável pelo projeto, após certificar que a redução realmente ocorreu. Estes CRE podem gerar instrumentos comercializáveis, sujeitos às leis da oferta e da demanda.
Em junho de 2010, duas organizações não governamentais ambientalistas – CDM Watch, com sede em Bonn, e a Agência de Pesquisa Ambiental (EIA), com escritórios em Washington e Londres – descobriram que governos e corporações europeias estavam fazendo um flagrante mau uso do MDL.
De todos os CRE, 59% se originaram nos mesmos 19 projetos, embora no MDL estejam registrados 2.800 projetos. Os 19 projetos produziam HCFC-22, um gás refrigerante proibido nos Estados Unidos e na Europa no contexto do Protocolo de Montreal Relativo às Substâncias que Esgotam a Camada de Ozônio. Nos países em desenvolvimento, este gás deverá estar eliminado até 2030.
HCFC é a sigla para os hidroclorofluorocarbonos, e também é um “supergás de efeito estufa”, 1.810 vezes mais potente do que o dióxido de carbono. Além disso, o HFC-23, subproduto da manufatura do HCFC-22, é 11.700 vezes mais prejudicial do que o dióxido de carbono.
Quando os produtores do gás refrigerante decidem queimar esse subproduto HFC-23 em lugar de liberá-lo na atmosfera, estão aptos a receberem numerosos créditos concedidos sob o MDL. A queima de uma tonelada de HFC-23 permite adquirir 11.700 créditos de emissão para a unidade que queima o gás. Este negócio se mostrou muito lucrativo. A queima do equivalente a uma tonelada de dióxido de carbono custa apenas US$ 0,25, enquanto os créditos podem ser vendidos no mercado europeu por não menos de US$ 19,00.
Estes projetos logo atraíram bancos investidores, que quiseram participar dos lucros: JP Morgan Chase, Citigroup, Goldman Sachs, Rabobank e Fortis. Junto a estes bancos, os governos italiano, holandês e britânico aparecem várias vezes nas listas de investidores. Grandes empresas de energia, entre elas E.ON e RWE (Alemanha), Nuon (Holanda), Enel (Itália) e Electrabel (Bélgica) também aparecem como participantes nestes projetos.
Os antecedentes recopilados pela CDM Watch e pela EIA indicam que os ganhos derivados desta compensação de gases acabaram estimulando a produção do nocivo HCFC-22. Segundo a EIA, o preço de uma tonelada desse gás oscila entre US$ 1 mil e US$ 2 mil, enquanto a mesma tonelada vale entre US$ 5 mil e US$ 5,8 mil em CRE quando se vende no mercado europeu. Em economia isto se chama “incentivo perverso”, e ocorre quando um incentivo apresenta um resultado não procurado e indesejável que vai contra o que propõe a política em questão.
No total, empresas e governos europeus financiaram estes projetos por pelo menos US$ 1,5 bilhão, enquanto o verdadeiro custo para reduzir este gás é de US$ 150 milhões. “Este dinheiro foi investido em falsas reduções de emissões”, afirmou Eva Filzmoser, diretora de programa na CDM Watch. “Segundo o MDL, os créditos obtidos representam reduções nas emissões. Mas, em lugar disso, houve mais gases-estufa enquanto as empresas ocidentais seguiam contaminando como antes. O dano ambiental é imenso”, disse à IPS.
Dados do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), entre 2004 e 2009, indicam que a produção de HCFC-22 passou de 15 milhões para 28 milhões de toneladas. Depois das queixas da CDM Watch e da EIA, a ONU iniciou sua própria investigação, enquanto tentava frear a emissão de novos CRE. Esta pesquisa, que terminou em 16 de novembro de 2010, foi catalogada como “confidencial” pela ONU devido à “informação comercialmente delicada” que contém.
Entretanto, a IPS teve acesso a esse documento, que indica que algumas das unidades de produção investigadas estavam “maximizando os créditos em lugar de atender a demanda do produto”. Ainda assim, o informe propõe que são apenas “sinais” de incentivos perversos e que a evidência não é “concludente”. No dia 26 de novembro, o Conselho Executivo do MDL decidiu emitir mais 20 milhões de créditos para 12 projetos de HFC (hidrofluorocarbonos).
Jos Delbeke é o titular da Direção Geral de Ação pelo Clima na Comissão Europeia (órgão executivo da União Europeia), que foi criada no ano passado. Segundo ele, o órgão tinha conhecimento do problema antes que as organizações não governamentais iniciassem sua campanha. “Na ONU, nos queixávamos desse problema há vários anos. Não deveria se obter CRE com gases que estão proibidos na Europa”, afirmou Delbeke à IPS.
O principal problema, disse, não é o dano ambiental. “Estão sendo gerados ganhos a partir da usura, e isso é repugnante”, afirmou Delbeke. “Assim não podemos conseguir que nossa política climática funcione. Temos de perguntar se não poderíamos ter feito muito mais com a quantidade de dinheiro que se gastou”, acrescentou.
Quando ficou evidente que a ONU não tomaria medidas, a Direção Geral de Ação pelo Clima decidiu propor uma proibição dos créditos por produção de HFC. A comissária europeia de Ação pelo Clima, Connie Hedegaard, propôs 1º de janeiro de 2013 como data para a entrada em vigor dessa proibição. Mas a história não termina aí. IPS/Envolverde
* Esta é a primeira de duas reportagens sobre como corporações e governos europeus se beneficiam economicamente de um vazio legal no Protocolo de Kyoto.
(IPS)

Essa  reportagem é muito importante para entender os malefícios dos Créditos de Carbono ao Meio Ambiente e os benefícios ao capitalismo, principalmente europeu, além de afetar  a soberania dos países pobres. Em 2007, recebemos a primeira denúncia. No final de 2009, inauguramos este Blog, denunciando jogo perigoso dos Créditos de Carbono.(Zilda Ferreira).

Debate da UFF: "Escherichia coli: o surto mortal europeu"

COBERTURA ESPECIAL – Debate da UFF: "Escherichia coli: o surto mortal europeu"
Diferentemente de outros tipos bacterianos de E. coli, forma responsável por surto europeu atinge principalmente adultos

Cepa também é responsável por mais casos de síndrome hemolítico-urêmica.


Agência Notisa – Segundo dados da Organização Mundial da Saúde, divulgados hoje pela manhã,9/06/2011, na Alemanha já foram registrados 2.086 casos de infecção pela bactéria Escherichia coli e 722 casos de síndrome hemolítico-urêmica (SHU). Sessenta e nove por cento das vítimas são mulheres e 88% adultos. De acordo com Aloysio de Mello Figueiredo, professor do Laboratório de Enteropatógenos da Universidade Federal Fluminense (UFF), o que chama a atenção nesse surto europeu é justamente a alta proporção de casos que evoluem para a síndrome hemolítico-urêmica e a predominância em adultos. "Víamos até então que cerca de 10% dos infectados por E. coli apresentavam SHU, porém neste surto 30% estão desenvolvendo a síndrome. Da mesma forma, a infecção que antes era predominante em crianças e idosos, agora atinge principalmente adultos jovens", afirmou o biomédico.
Devido à gravidade da situação, Aloysio e colegas participaram do debate " ‘Escherichia coli’: o surto mortal europeu", realizado na tarde de hoje no Instituto Biomédico da UFF. No evento, os pesquisadores abordaram aspectos microbiológicos, alimentares e clínicos da infecção. O encontro contou com a participação, por meio de transmissão on-line, de Alfredo Torres, professor associado da Universidad de Texas e coordenador da Rede Latino-americana de Investigação em Escherichia coli.
Embora a E. coli seja conhecida há algumas décadas e oito patotipos da bactéria já estejam bem caracterizados, os casos que começaram a se multiplicar na Alemanha em maio deste ano são causados por um novo patotipo. Segundo Aloysio, após sequenciar o genoma bacteriano, pesquisadores observaram que esse microorganismo é uma forma originalmente enteroagregativa, porém que adquiriu a capacidade de liberar toxinas (do tipo Shiga). O novo patotipo combina, portanto, dois perfis que antes eram vistos isolados.
Com isso, essa bactéria, que é comensal do intestino de mamíferos e aves, provoca lesões complexas que levam à perda das microvilosidades intestinais, resultando em diarreia crônica e também, segundo o professor, a toxina liberada é absorvida pela mucosa intestinal e atinge a corrente sanguínea, inibindo a síntese protéica celular e levando, consequentemente, à morte da célula. "No homem, as células edoteliais, que compõem o revestimento interno dos vasos sanguíneos, são as mais suscetíveis a essa ação", lembrou Aloysio. "Todo esse mecanismo leva ao principal sintoma da infecção: colite hemorrágica: uma diarreia muito intensa com sangue", explicou.
Segundo Aloysio, outra característica desse novo patotipo é que por ser produtora de biofilme, a bactéria possui uma alta taxa de colonização. Além disso, libera volumes muito grandes de toxina.
O nefrologista Jorge Reis, do Hospital Antônio Pedro da UFF, lembrou que normalmente os pacientes passam por três estágios: (1) aquisição do microorganismo; (2) infecção caracterizada pela diarreia crônica e (3) SHU. "O paciente geralmente é internado por causa da diarreia sanguinolenta e 1/3 deles desenvolvem a síndrome hemolítico-urêmica no hospital", disse.
A síndrome, que se caracteriza por anemia hemolítica; trombocitopenia e insuficiência renal, segundo Jorge, acomete primeiro a microcirculação e leva a formação de trombos. "Podemos observar então alguns sinais que indicam que o paciente está evoluindo para a SHU, por exemplo, queda do nível de plaquetas; presença de hemácias com formas alteradas; aumento da bilirrubina, além de aumento de uréia e potássio", esclareceu.
Embora estudos com E. coli mostrem que o uso de antibióticos não é eficaz no tratamento da doença e podem, até mesmo, piorar o quadro, de acordo com Jorge, alguns especialistas têm questionado se haveria indicação dessa terapia para a nova cepa. Segundo Aloysio, teoricamente, a morte da bactéria pode levar à liberação aumentada de toxina na corrente sanguínea do paciente e também de fagos – vírus que infectam a bactéria, portanto, antibióticos talvez sejam benéficos em casos de severidade extrema.
Transmissão e prevenção Márcia Soares Pinheiro, do Laboratório de Enteropatógenos e Microbiologia de Alimentos da UFF explicou que as principais fontes de infecção da E. coli são os reservatórios: gado bovino e ruminantes. "A transmissão pode ocorrer através do consumo de carne moída crua ou mal cozida; leite cru; água contaminada por material fecal de animais; contaminação cruzada –superfícies e utensílios que estiveram em contato com carne contaminada que podem contaminar outros alimentos – e contato pessoal (oral-fecal)", afirmou.
Um dos principais problemas relacionados a essa bactéria é que ela pode sobreviver por meses em fezes, no solo e na água. Segundo Márcia, a temperatura de crescimento desse micro-organismo varia de 7 a 50ºC, além disso, pode crescer em meios ácidos (pH 4,4). Por outro lado, ela pode ser destruída através do cozimento adequado (maior ou igual a 70ºC).
A OMS, disse a pesquisadora, recomenda que a prevenção e o controle sejam feitos em todos os estágios da cadeia produtiva de alimentos. Também recomenda o rastreamento de animais antes do abate, boas práticas de fabricação, treinamento e educação de trabalhadores em abatedouros e fazendas de leite, implementação de políticas de rastreamento do micro-organismo em produtos cárneos, tratamento de alimentos com técnicas bactericidas e tratamento da água.
A organização também disponibiliza dados para uma alimentação mais saudável que prega a higiene adequada, fundamental para a prevenção da doença.
Atualmente, ainda não se sabe exatamente qual produto foi a fonte inicial de transmissão da doença na Europa. Há suspeitas quanto a três alimentos, em especial: pepinos, tomates e alface.
Márcia lembrou que a Anvisa, por meio de nota de esclarecimento, informou que, no momento, não seriam adotadas medidas restritivas no Brasil e que não há motivos para maior preocupação entre a população.
O nefrologista Jorge, entretanto, lembrou que a síndrome hemolítica-urêmica é um caso muito grave e que, portanto, é importante que diversos setores da saúde permaneçam trabalhando para melhorar o conhecimento sobre a doença. Segundo os dados da OMS mais atuais, na Alemanha ocorreram 18 mortes causadas pela infecção por E. coli. Porém, o médico alertou que os óbitos não são maiores, pois esse país dispõe de um sistema de saúde com infraestrutura capaz de realizar, por exemplo, muitas hemodiálises.
"Se acontecesse um surto semelhante em um lugar como o Brasil, que não possui essas condições, seria uma verdadeira catástrofe", concluiu.
Agência Notisa (science journalism – jornalismo científico)

quinta-feira, 9 de junho de 2011

CESARE BATTISTI - UM ATO DE SOBERANIA



Laerte Braga


O ministro relator do processo de extradição de Cesare Battisti, Gilmar Mendes, num longo voto que sabia de antemão vencido, quis apenas justificar a razão de sua presença no STF – SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Não falou para dentro, falou para fora, falou para longe.

Gilmar Mendes quando indicado por FHC para a mais alta corte de justiça do Brasil foi alvo de críticas contundentes de vários setores políticos e ligados ao judiciário, acusado de corrupção pelo jurista Dalmo Dallari Abreu num artigo publicado num dos grandes jornais brasileiros.

O então senador Antônio Carlos Magalhães chegou a advertir FHC que a aprovação do nome de Gilmar seria difícil, pois a corrupção era evidente e as dificuldades se tornavam maiores ainda.

O troca troca nas relações políticas prevaleceu e Gilmar foi para o STF. No mínimo três decisões polêmicas. Os dois habeas corpus concedidos ao banqueiro Daniel Dantas (de quem foi colega no governo FHC), o habeas corpus concedido a um médico paulista que inseminava e abusava de mulheres em sua clínica e hoje vive como foragido no Líbano e agora todo esse espetáculo armado em torno da extradição de Battisti.

Arrasta consigo o ministro presidente César Peluso e a ministra Ellen Gracie, os dois sabidamente ligados a grupos econômicos e à visão que o Judiciário deve refletir a realidade mundial em detrimento da soberania nacional.

Existe um acordo assinado entre o STJ e o Banco Mundial que garante a primazia para direitos de bancos, grandes empresas e latifúndio, nos conceitos do neoliberalismo, a nova ordem econômica mundial, assentada num arsenal nuclear de milhares de ogivas. O processo de dissolução do conceito de nação que permeia países no mundo inteiro, inclusive os EUA, hoje um conglomerado militar/petrolífero e financeiro associado ao estado terrorista de Israel (maior acionista do complexo EUA/TERRORISMO S/A).

Gilmar Mendes, dono de um instituto de estudos jurídicos em Brasília, cacique político em Diamantino (Mato Grosso, onde conseguiu a cassação do prefeito de oposição a seu irmão), que entre seus “professores” tem jornalistas da GLOBO, recebeu na sessão de quarta-feira, um conselho correto do ministro Marco Aurélio Mello. Que, “sobre essa ótica, vossa excelência deve abandonar a magistratura”.

Mais ou menos ou o senhor é ministro do STF, ou advogado do governo da Itália. E de outras cositas más. Quando do episódio dos habeas corpus ao criminoso Daniel Dantas protagonizou a farsa de uma gravação que não houve em seu gabinete, repercutida pela imprensa marrom, VEJA, na tentativa de desmoralizar as investigações sobre o amigo banqueiro.

O voto da ministra Ellen Gracie, dublê de socialite e latifundiária, indicação de FHC foi um primor de “meu Deus me acuda, o que vou falar”. A ministra antes de mais nada fez questão de mencionar sua presença na festa sei lá de que da rainha Elizabeth e falou do tal poder moderador.

Não sabe nada de Inglaterra. O ex-presidente do Chile Augusto Pinochet foi preso em Londres sob a acusação de crimes contra a humanidade. O príncipe Philips, consorte, quer dizer, marido da rainha, ensaiou um protesto, levou um chega para lá de quem cabia a decisão e recolheu-se aos castelos e que tais de uma monarquia milionária num país falido e transformado em colônia dos EUA. Pinochet ficou preso por bom tempo. De qualquer forma as colunas sociais podem registrar a presença da ministra na festa da rainha e lembrar a banheira de hidromassagem que mandou instalar em seu apartamento funcional com dinheiro do STF, público, declarando que necessitava conforto para poder trabalhar.

Que o diga o trabalhador brasileiro. Deve incluir o direito a banheiras de hidromassagens em reivindicações futuras.

Imagino que esse notável saber jurídico da ministra deve ter influenciado em não obter a vaga que pleiteou junto a uma corte internacional. E olha que teve o apoio de Lula.

O caso Battisti nos remete a uma luta que vem sendo vencida nos bastidores do Judiciário pelos advogados de potências estrangeiras – potências e interesses – a partir de supostos ministros de cortes superiores.

É uma imposição da nova ordem mundial e no Brasil Gilmar Mendes é ponta de lança desse processo, com a cumplicidade do ministro Ari Pendengler, presidente do STJ  e integrante de grupos sionistas. Nazi/sionistas.

O processo de extradição de Cesare Battisti foi muito maior que o próprio extraditando. Foi a primeira grande tentativa, pelo menos pública, com a cumplicidade da mídia privada, de domar o poder Judiciário e transformá-lo em apêndice de interesses de grupos financeiros e econômicos. O governo da Itália foi pano de fundo para toda essa história, já que Berlusconi é a figura que todos conhecemos. Pedófilo e banqueiro, Duas marcas que não se apagam nunca. Lembram tatuagens de gangs para identificar seus membros.

Battisti, como lembra um amigo, deve ter o dom da ubiqüidade para ter cometido os crimes dos quais é acusado a partir de delação premiada (que vem a ser salvo a minha pele e entrego o outro). Os tais assassinatos (mortes em combates na Itália) aconteceram em cidades diferentes, logo...

O que a Itália queria, mais precisamente Berlusconi, era exibir a cabeça de Battisti como troféu. O que os EUA tentaram monitorar por trás dos panos é o processo de controle do judiciário brasileiro, como de resto em países latino-americanos, como forma de neutralizar eventuais governos hostis (não é nem o caso do atual governo brasileiro, o chanceler Anthony Patriot é uma espécie de Clark Kent dos pobres. Por baixo da farpela diplomática tem o uniforme de funcionário do Departamento de Estado).

É da grife “pragmatismo”.

É preciso que se diga e se saiba que as cortes internacionais às quais a Itália fala em recorrer, por exemplo, não são reconhecidas pelos EUA. Os acordos firmados pela organização terrorista EUA/ISRAEL TERRORISMO S/A, materialização de SPECTRE, a ficção de Ian Fleming, incluem cláusulas em que agentes, soldados e funcionários desses dois estados terroristas ficam isentos de qualquer apreciação ou sanção por parte desses tribunais.

O que é mais ou menos o direito de pode tudo, como acontece na Colômbia, no Iraque, no Afeganistão, na Líbia, na Palestina, ou no campo de concentração de Guantánamo.

A barbárie é privilégio deles e a lei é imposta pelo código de ogivas nucleares, capazes de destruir o planeta cem vezes se necessidade houver e para garantir o império.

O Brasil ontem, pelo STF e pelos seis ministros que votaram contra o pedido de extradição de Battisti, ou o direito da Itália decidir sobre questões internas de nosso País, relembrou os tempos de Hermes Lima, Evandro Lins e Silva, Ribeiro da Costa, Victor Nunes Leal e tantos outros que não se calaram diante do arbítrio e nunca receberam ninguém pela porta dos fundos.

E veio a calhar, pois estamos começando a viver um tempo em que forças sinistras de extrema-direita começam a colocar a cabeça do lado de fora, na tentativa de reviver o tenebroso período da ditadura militar, tudo no disfarce da democracia como ilusão.

E até que se prove em contrário continuamos a ser uma nação soberana. Mesmo com Brilhante Ulstra colunista da FOLHA (deve explicar técnicas de tortura, estupro de presos, assassinatos, etc) e a mídia privada que temos.

A propósito, Hilary Clinton reuniu-se em um jantar em Washington com seis ex-presidentes de países da América Latina leais a organização terrorista da qual é Secretária de Estado, para decidir o que fazer com essa parte do mundo. Entre os agentes norte-americanos convocados o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.  

William Waack dessa vez, um dos agentes preferidos da senhora Clinton, ficou de fora.

O perigo, é real, não é brincadeira não, é Gilmar Mendes entrar num acordo com Sérgio Cabral no Rio e o vice-governador Givaldo Vieira do Espírito Santo e chamar o BOPE e a organização terrorista PM do ES.

Os bombeiros estão lascados.



Depois de quatro anos, Cesare Battisti Deixa o Presídio da Papuda



Débora Zampier*



Brasília – O ex-ativista italiano Cesare Battisti foi solto na madrugada de quarta para quinta-feira (9), por volta da meia-noite, do presídio da Papuda em Brasília, onde estava preso desde 2007. O carro em que ele saiu da penitenciária parou rapidamente na saída, momento em que os jornalistas fizeram fotos e registraram imagens, mas ele não falou com a imprensa. Battisti estava usando camisa e calça de cor clara e sorria, apesar da fisionomia cansada. O alvará de soltura foi expedido pelo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Cezar Peluso, logo depois do julgamento sobre a extradição do italiano.
De acordo com o advogado de Battisti, Luis Roberto Barroso, Battisti ficou feliz com a notícia de sua libertação. “Depois de quatro anos nessa situação, qualquer pessoa fica feliz. Ele estava sereno, humilde, viveu uma época difícil na vida dele, de fuga para o Brasil depois de 14 anos na França. Foi a interrupção de um projeto de vida. É o fim de um momento de angústia, mas começa uma angústia nova, que é reconstruir a vida”, disse Barroso.
Ele pediu que a imprensa dê um momento de paz a Battisti até que ele se recomponha do momento difícil que viveu no cárcere. “Ele não é uma celebridade saindo de Cannes. É um homem saindo da prisão, que foi uma prisão surpreendente, que interrompeu o projeto de vida dele”. De acordo com o advogado, o primeiro desejo de Battisti é falar com as filhas, o que ainda não ocorreu.
Barroso também mandou um recado aos italianos. “Sempre uma palavra de respeito e solidariedade para as vítimas dos anos de chumbo, ninguém é feliz com o que aconteceu. É preciso que se entenda que o Brasil é um país que tem tradição humanista, e a ideia de punir alguém, 32 anos depois, que participou de um embate ideológico, foge um pouco da compreensão política do Brasil”.
O advogado lembrou que o Brasil é um país que deu a anistia aos militantes e a membros do governo envolvidos na ditaduta militar e que o país não é uma sociedade punitiva. “É preciso que a Itália compreenda a situação brasileira, a condição do Supremo e vire essa página. Eu estou convencido de que, em pouco tempo, isso será superado”.
Nesta quinta-feira (9), os advogados de Battisti (o ex-ativista também tem em sua defesa Luiz Eduardo Greenhalgh) devem entrar com o pedido para a obtenção de visto definitivo no Ministério da Justiça, uma vez que o italiano entrou de maneira irregular no país. Segundo Barroso, Battisti pretende ficar no Brasil e continuar suas atividades de escritor.
Barroso disse não acreditar que o processo pelo qual Battisti foi condenado, na Justiça Federal no Rio de Janeiro, no ano passado, por falsificação de passaporte, vá interferir na obtenção do visto. “Nenhum refugiado chega com passaporte verdadeiro no país para o qual fugiu, isso não deve atrapalhar em nada”, avaliou.

*Débora Zampier - repórter da Agência Brasil
 Fonte: Justiça Agência Brasil

FORÇAS ÍTALO/AMERICANAS DERROTADAS NO STF



Laerte Braga


Um dos episódios mais estranhos – para usar uma expressão suave – de todo o processo que envolve a extradição (negada) de Cesare Battisti ocorreu há cerca de um mês, quando a Secretaria do STF enviou o feito ao ministro Joaquim Barbosa, quando deveria tê-lo feito ao relator. Por conta de um pedido de liberdade para Battisti. Um engano segundo um funcionário do STF.

Gilmar Mendes, Ellen Gracie e o presidente da Corte César Peluso estavam nos Estados Unidos chamados a explicar as razões e os motivos pelos quais o Brasil não queria – como não vai – entregar o preso político à sanha do pedófilo Sílvio Berlusconi.

Há muito mais que a simples extradição requerida pelo governo italiano, como pela intervenção descabida desse governo ferindo a soberania nacional do que pode parecer à primeira vista.

Por trás de toda essa pantomima organizada sob a batuta do ministro Gilmar Mendes está a submissão do Judiciário brasileiro a interesses e conveniências do neoliberalismo em todos os seus sentidos, da globalização com seu caráter de “globalitarização”, tudo isso expresso na subserviência do acordo assinado pelo ministro Ari Pendengler (o do chilique com um funcionário num caixa eletrônico) e o Banco Mundial.

Não é de hoje que o governo dos EUA pressiona o governo brasileiro a adotar uma legislação específica contra o que Washington considera “terrorismo”, excluindo, evidente, os norte-americanos. Que por sinal não aceitam o Tribunal Penal Internacional.

Campo de concentração em Guantánamo inclusive com menores presos isso pode.

O STF por maioria de seis votos a três (exatamente os soldados ítalo/americanos sob o comando de Gilmar Mendes) rejeitou as pressões do governo da Itália, a intervenção dissimulada do governo norte-americano e mandou soltar Battisti, sem prejuízo do processo a que responde na justiça estadual do Rio de Janeiro.

Reafirmou a soberania nacional.

É outra luta que se avizinha, pois todo o foco de pressões será deslocado para o Rio de Janeiro.

Todos esses anos de dinheiro público jogado fora – a lei é clara, a Constituição não deixa dúvidas sobre o poder final do presidente da República em casos de extradição – para atender a certamente interesses de quem ganhou dinheiro com tudo isso. E pela porta dos fundos.

Se Battisti se chamasse Daniel Dantas tudo seria mais fácil.

É difícil entender a presença de Gilmar Mendes no STF. Como é fácil compreender a recusa de José Sarney a um pedido de afastamento e investigações sobre o ministro feito por um cidadão brasileiro.

Eles se entendem no processo institucional falido que rege o País e mantém intocados privilégios e absurdos como esse do processo de extradição de Cesare Battisti.

O relator Gilmar Mendes votou pela anulação do ato do presidente Lula que concedeu a Battisti a condição de refugiado ao aceitar o direito do governo da Itália interferir em negócios internos do Brasil (é célebre a entrada do embaixador da Itália no gabinete do ministro, à época que presidia a Corte. Pela porta dos fundos).

Seis ministros – maioria absoluta – votaram contra a extradição e pela imediata soltura de Battisti. Luís Fux (que fulminou Gilmar Mendes em seu voto), Ricardo Lewandovsky, Joaquim Barbosa, Ayres Brito, Carmen Lúcia e Marco Aurélio Mello. Os dois ministros que acompanharam o relator foram exatamente seus companheiros de viagem aos EUA. Ellen Gracie e Cesar Peluzo.

Era visível, até no tropeçar nas palavras e no não conseguir concatenar seu raciocínio, a irritação da ministra Ellen Gracie ao perceber que os interesses ítalo/americanos estavam derrotados e o Brasil até prova em contrário é uma nação senhora de si. Dois ministros se julgaram impedidos e não votaram. José Antônio Toffoli e Celso Melo.  .

Os ministros alinhados com o governo da Itália e às pressões norte-americanas tentaram de todas as formas desclassificar as razões do presidente Lula para conceder o refúgio e se esqueceram, no quesito direitos humanos, de citar fatos graves e de peso indiscutível na concessão do refúgio. As acusações contra Battisti foram obtidas através de delação premiada e não existem garantias que seus direitos básicos seriam respeitados na Itália, já que foi julgado à revelia com base exatamente nessa figura abominável “delação premiada”, justo por abrir portas para salvar a própria pele e entregar a do companheiro, ou cúmplice.

O ministro Luís Fux lembrou as declarações de um deputado italiano logo no início do caso. “O Brasil não é famoso por seus juristas, mas por suas dançarinas”, para invocar, além dos fundamentos jurídicos, questões de soberania nacional.

A decisão do STF é uma dura derrota para a extrema-direita brasileira em todos os seus campos. A mídia nacional – privada – durante todos esses anos referiu-se a Battisti como “terrorista” e procurou criar na opinião pública condições favoráveis a pressões pela extradição.

Foi vencida também.

Ao final, visivelmente a contragosto, o presidente do STF, ministro Cesar Peluzo proclamou o resultado e determinou a expedição do alvará de soltura do jornalista e escritor Cesare Battisti.

Gilmar Mendes, numa de suas intervenções durante a fala de Ellen Gracie tentou deixar uma porta aberta para futuros processos como esse, já dentro das normas traçadas pelo Banco Mundial e organismos internacionais para judiciários de países submissos ao modelo. Pelo jeito o Brasil continuará sendo soberano. Pelo menos no caso de Cesare Battisti. 

quarta-feira, 8 de junho de 2011

terça-feira, 7 de junho de 2011

Força-tarefa deve chegar hoje ao Norte do País para conter a violência no campo



por Renata Giraldi*, da Agência Brasil
forcanacional 300x168 Força tarefa deve chegar hoje ao Norte do país para conter violência no campoBrasília – Uma equipe formada por homens da Polícia Federal, Força Nacional de Segurança, Polícia Rodoviária Federal e das Forças Armadas chega hoje (7) ao Norte do país para intensificar os esforços de combate à violência no campo. A ação é denominada Operação Proteção à Vida. A ordem para executar a operação foi dada pela presidenta Dilma Rousseff na semana passada, depois que quatro ambientalistas foram assassinados na região.
As informações são do governo do estado do Pará. Em reunião no último dia 3, no Palácio do Planalto, Dilma ouviu os governadores do Pará, Simão Jatene, do Amazonas, Aziz Elias, e de Rondônia, Confúcio Moura.
Também estavam presentes na reunião em Brasília seis ministros – Nelson Jobim (Defesa), José Eduardo Dutra (Justiça), Maria do Rosário (Secretaria de Defesa dos Direitos Humanos), Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral da Presidência) e Afonso Florence (Desenvolvimento Agrário).
Na reunião, Jatene disse que é necessário identificar e punir de forma rigorosa os envolvidos em assassinatos no campo. Segundo ele, só dessa maneira será possível evitar o ambiente de impunidade que domina a região.  “Não vamos reproduzir o passado e o ponto de partida deve ser a união de todos no enfrentamento à violência”, afirmou ele, na reunião.
Ontem (6), o secretário de Segurança Pública do Pará, Luiz Fernandes, disse que as áreas mais críticas do estado são o sul e o sudeste. Em 2010, houve 13 assassinatos sem apuração em  Pacajás. Ele informou ainda que as investigações sobre o assassinato do casal de ambientalistas – José Cláudio Ribeiro e Maria do Espírito Santo – estão “em curso”.
Para o secretário, as mortes refletem a “situação de intolerância dentro do assentamento” e foram estimuladas pela ganância de alguns madeireiros. “Falta o Estado sim, mas o Estado como um todo. Faltam políticas públicas, não o Estado policial, mas o Estado que educa, que cuida da saúde, que ajuda a preservar a natureza e o homem, que dá ao colono a condição de trabalhar e criar sua renda”, disse Fernandes.
No fim de maio, quatro ambientalistas foram assassinados no Brasil – três no Pará e um em Rondônia. Para a Comissão Pastoral da Terra, ligada à Igreja Católica, a lista dos que estão ameaçados chega a mil pessoas, sendo que 125 correm mais riscos.

*Publicado originalmente na Agência Brasil.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Código da desertificação



por Roberto Malvezzi (Gogó)*
Insatisfeitos com os danos que já causaram, querem mudar a lei para destruir ainda mais.
145 Código da desertificaçãoA desertificação avança no mundo inteiro, inclusive no Brasil. Aqui na região Nordeste, temos manchas de desertificação no Piauí, Pernambuco e Ceará. Esses dias, novas notícias dizem que o Norte de Minas pode transformar-se num deserto em 20 anos.
As perspectivas do aquecimento global para a região semiárida projetam a inviabilização de toda a região para a agricultura até o final do século, caso a temperatura da Terra suba entre dois e sete graus. O cálculo é que, para cada grau de aumento da temperatura, há uma perda de 10% na produção de certos produtos. Desta forma, fala-se que o Ceará pode perder até 70% de sua fertilidade caso a temperatura suba mesmo sete graus.
Cenário tão terrível como este é também pintado para a região amazônica, na já rotineira afirmação de que a região pode transformar-se de uma floresta tropical em uma rala savana.
Some-se a esses cenários o macabro legado do agronegócio no Brasil, que deixou por onde passou cerca de 80 milhões de hectares inviabilizados para qualquer produção. Alguns falam em recuperar essas áreas, mas os que cometeram o crime querem desmatar ainda mais.
Talvez seja esse o ângulo mais cruel do código da desertificação proposto agora pelos ruralistas. Insatisfeitos com os danos que já causaram, querem mudar a lei para destruir ainda mais. Mas, agora querem fazê-lo legalmente, dentro da lei.
Certamente o planeta Terra vai saber distinguir entre seus danos legais e ilegais. Afinal, na cabeça desse povo, se a queimada e o desmatamento forem legais, certamente não contribuirão para o efeito estufa, não degradarão os solos, não eliminarão os mananciais, não comprometerão a galinha dos ovos de ouro.
Parece que os ruralistas estão encontrando um osso duro de roer chamado Dilma. A presidenta já garantiu que, se o código da desertificação for aprovado, ela veta. Não parece que esteja brincando. Mas, brasileiros que somos, só acreditaremos vendo.
Mas, vamos dar um crédito a essa postura. Afinal, está na hora de alguém pensar mais no país do que nesses parceiros eleitorais de terceira categoria.
* Roberto Malvezzi (Gogó) é assessor da Comissão Pastoral da Terra.
** Publicado originalmente no site Brasil de Fato.
(Brasil de Fato)

O BRASIL NA CORDA BAMBA



Laerte Braga


O fato público que os dados relativos às operações da empresa do ministro chefe do Gabinete Civil Antônio Palocci vazaram a partir da Secretaria de Finanças do governo do estado de São Paulo não justificam nada do que foi feito. Nem importa que o procedimento de Palocci à frente de sua empresa tenha sido legal. Foi imoral.

Qualquer cidadão com o mínimo de consciência ou tino sabe que o governo paulista, onde partiram os dados, está em mãos do PSDB e o governador é Geraldo Alckimin, um integrante da OPUS DEI. São duas quadrilhas de porte. Uma nacional, outra internacional.

Mas nem isso pode ser invocado em defesa de Palocci, até porque deveria ser exatamente o contrário. A reação de setores do PT que o partido está sendo massacrado pela mídia merece mais que uma crítica à mídia privada que todos sabemos podre, venal e ligada a interesses das elites políticas e econômicas do País. Merece uma reflexão sobre os seus rumos e as implicações das muitas alianças feitas por conveniência eleitoral, que estão deformando o partido, deixando atônitos militantes históricos e jogando no lixo sua história.

É um ditado antigo, um crime não justifica outro e nem a ninguém é dado o direito de práticas tucanas – como as de Palocci – só porque os tucanos fazem, ou todos fazem.

O modelo político e econômico brasileiro está falido, a presidente é um equívoco de Lula, figura menor que o cargo que ocupa e as perspectivas são as piores possíveis se uma reviravolta não acontecer em termos de atitude e políticas.

Como é possível conviver com figuras como o governador do estado do Rio, Sérgio Cabral, protagonista da maior embromação dos últimos tempos, mergulhado na corrupção do escritório de sua mulher e agora na barbárie de seu esquadrão da morte chamado BOPE, tão corrupto e venal quanto setores normais corruptos e venais da polícia? Com a agravante que se transformou num símbolo de combate ao crime. Na prática, passou a deter o monopólio do crime sob as bênçãos do Estado.

O que aconteceu na invasão do quartel do Corpo de Bombeiros foi um episódio de fazer inveja a qualquer integrante dos esquadrões de choque dos tempos da ditadura militar.

O Rio tem sido infeliz na escolha de seus governadores. O último governador a merecer respeito naquele estado foi Leonel Brizola. De lá para cá só bandidos.

Sérgio Cabral é um dos parceiros preferidos do governo Dilma Roussef, como o foi de Lula.

As mortes encomendadas por latifundiários no Norte e Centro-Oeste do Brasil revelam outra ponta dessa corda bamba em que o governo petista se equilibra. Lideranças camponesas e ambientalistas são assassinadas por predadores ligados ao DEM, ao PSDB e por extensão, aos grupos econômicos que controlam a agricultura brasileira, as terras e o agro negócio.

No Espírito Santo, extinto estado da suposta Federação Brasileira, hoje propriedade de empresas como a ARACRUZ, a SAMARCO, A CST e outras menores, onde os governadores são meros capatazes e deputados e juízes (em qualquer instância) boys de luxo, a PM – resquício dos tempos do império e que sobrevive como instrumento de violência e opressão – em menos de uma semana protagonizou duas ações terroristas de vulto. Uma contra uma comunidade sem teto, a serviço da ARACRUZ e outra debaixo da fraqueza política e moral do vice-governador da extinta unidade da Federação, contra estudantes e cidadãos que manifestavam seu descontentamento com os custos das passagens de transportes coletivos.

A corrupção no antigo Espírito Santo é uma pandemia e atinge a todos os partidos, que afinal, são os que nominalmente detêm a máquina do Estado.

Em São Paulo a mesma PM reprime com violência e toda a boçalidade possível protestos democráticos e assegurados por lei – o direito é constitucional – mas não toma, por exemplo, uma atitude contra as consultorias tucanas, ou os vestidos de madame Alckimin (eram para ser doados aos pobres, guarnecem os guarda-roupas da dita senhora).

O dilema do governo Dilma não é necessariamente substituir Antônio Palocci, uma figura desprezível sob qualquer ângulo que se olhe. Exerceu consultorias concomitantemente com o mandato de deputado federal e depois de ser afastado do Ministério da Fazenda por uma série de bobagens típicas de político menor e corrupto, deslumbrado com o poder.

Passa por rever alianças com setores incompatíveis com o DNA do seu partido, a menos que esse DNA tenha sido corrompido ao longo desses anos de poder. É o que parece mais provável.

O risco disso? Quando um jornal como a FOLHA DE SÃO PAULO convida para integrar seu quadro de colaboradores um militar remanescente da ditadura, responsável por setores da repressão, torturador, estuprador, assassino, caso do coronel Brilhante Ulstra, não o está fazendo apenas para promover um debate – o que já seria inaceitável, o lugar de Brilhante Ulstra é na cadeia –. É uma peça a mais em todo o processo político que busca a retomada do poder pelas forças de direita no Brasil. Não fosse o jornal aquele que emprestava seus caminhões para a desova dos corpos dos presos políticos assassinados sob a batuta de Brilhante Ulstra, Fleury e outros.

O governo Dilma, como em muitos aspectos o fez o governo Lula, a cúpula do PT, dá a sensação que quer o trono FIESP/DASLU e nesse passo foram e são colaboradores desse processo, exatamente na fraqueza.

Como é possível pretender um governo respeitado onde além de Palocci, Moreira Franco é ministro?

Não tem jeito.

Moreira Franco é a versão Maluf do Rio de Janeiro.

O governo Dilma equivocou-se na escolha do chanceler e o chamado pragmatismo na política externa torna o País cada vez mais vulnerável aos interesses do terrorismo nuclear de EUA e Israel e hoje o campo de manobra do próprio governo está limitado às dimensões anãs do ministro Anthony Patriot.

Na contramão do processo político de integração latino-americana, indispensável para fazer frente a um mundo aterrorizado pelas políticas norte-americanas e seus cúmplices no terrorismo os sionistas.

O que é a Comunidade Européia? Uma grande base militar da OTAN, países em processo de falência, de dissolução, multidões percebendo a gravidade dessa situação, mas se capazes de ir às ruas incapazes de ter um caminho, ou enxergar um caminho, perdidas no medo e na constatação do fracassso.  

Mais de 40 milhões de norte-americanos vivem na linha da pobreza por conta da crise que afetou o mundo. Todas as empresas em vias de falência na tal crise sobreviveram com dinheiro público e o distinto público continua dançando.

Dinheiro para matar civis no Afeganistão, no Iraque, para permitir o genocídio do povo palestino, destruir um país como a Líbia para manter intocado o dólar, garantido o petróleo, esse existe à larga, pelo simples motivo que os Estados Unidos deixaram de ser uma nação e transformam-se cada vez num conglomerado terrorista associado a Israel.

Com uma dívida impagável, oprime o mundo com seu fantástico arsenal de destruição, de boçalidade.

E o Brasil? E Dilma?

Não percebem que Palocci é produto de alianças espúrias. Armadilha de tucanos e setores do PMDB, que o alçapão está prestes a ser fechar e a mais perigosa de todas as quadrilhas políticas pronta para assumir o poder e passar a escritura.

Falta a Dilma estatura política para ser presidente da República, sobra à cúpula petista oportunismo e deslumbramento para jogar por terra todo o processo de luta popular construído nos últimos anos.

Palocci é só adereço. Detalhe nesse emaranhado de disputa pelo poder.

Aí, além do ministro corrupto, ele e outros, tem que engolir Sérgio Cabral, um governador pusilânime como Casagrande no extinto Espírito Santo, Moreira Franco no Ministério e ainda por cima ter Aldo Rebelo como aliado. E nem estou falando do faroeste no Norte e Centro-Oeste onde lideranças camponesas e ambientalistas são exercícios de tiro ao alvo para pistoleiros do latifúndio de d. Kátia Abreu (a que desviou dinheiro público doado à Confederação Nacional da Agricultura para sua campanha eleitoral e de seus filhos).

Breve, comentários de Brilhante Ulstra na FOLHA DE SÃO PAULO recomendando pau de arara, choques elétricos, estupros, assassinatos, etc.

Ou Dilma, Lula e o PT são cegos, ou acham que de repente a Copa do Mundo vai resolver tudo. E o grave nisso é que reivindicam para si o monopólio do avanço na luta popular. O que havia de positivo no governo Lula já foi para o brejo no desgoverno Dilma.

É lógico que a mídia podre deita e rola. Nem precisa de inventar nada,  a turma cede tudo de bandeja. É só retocar e cair de pau em cima.

A visão é estreita, se limita ao cartório petista e entorno. Não percebe o tamanho do monstro a engolir o País e transformá-lo num entreposto de dimensões gigantescas. Ou um mercado de “um trilhão de dólares” como afirmou há anos o general Colin Powell, ex-secretário de Estado do governo do terrorista George Bush.

Lições da lamentável repressão aos bombeiros

Por Mário Augusto Jakobskind


O Governador Sérgio Cabral deu o ar de sua graça política ao ordenar a violenta repressão contra os bombeiros que ganham salários aviltantes. São heróis e foram tratados de forma humilhante. Não satisfeito, Cabral ainda os ofendeu. Se alguém tinha dúvidas sobre Cabral, o episódio no Quartel General da guarnição esclareceu.
O lamentável nesta história é o fato do governador do Estado do Rio de Janeiro receber o apoio de partidos cujos integrantes em outros tempos se mobilizavam exatamente para denunciar violências do mesmo tipo que as praticadas agora no Rio de Janeiro.
Os bombeiros, considerados heróis pelo povo pelo tipo de trabalho que desenvolvem, foram tratados como marginais. Há testemunhas que comprovam os excessos praticados pelo Bope, uma delas a deputada Janira Rocha, do PSOL, que dignifica o seu mandato ao ficar ao lado dos manifestantes no QG dos bombeiros.
Bombeiros na ALERJCabral faz lembrar épocas do século passado, inclusive de governantes como Washington Luis, que consideravam a questão social como caso de polícia.
O que está acontecendo agora é na prática um divisor de águas. Se a esquerda parlamentar não repudiar o que foi feito pelo Bope e denunciar Cabral, entrará para a história ao lado do conservadorismo que não aceita  mobilizações populares, ainda mais o direito humano de reivindicar melhores salários e condições de vida.
Repressão aos bombeiros, aprovação na Câmara dos Deputados do Código Florestal que favorece os violadores do meio ambiente são demonstrações concretas da existência de uma esquerda que a direita gosta como diria o inesquecível Darcy Ribeiro.
Soma-se a isso o fato de o vice-governador Luiz Fernando Pezão estar sendo agraciado por uma entidade vinculada ao agronegócio, setor recém-favorecido pelo deputado Aldo Rebelo, do PC do B.
Bombeiro e DiginidadePor estas e muitas outras, a cada dia que passa os partidos políticos se distanciam dos anseios de amplas parcelas do povo brasileiro. Afinal de contas, como explicar a prática que adotam de apoio aos que ao longo da história foram combatidos por setores políticos que tinham como bandeiras principais a democracia e o socialismo?
É possível até que nas próximas horas os referidos partidos apresentem seus argumentos e criem as suas dialéticas para continuar com a mesma prática de apoio a quem reprime o povo. E até para justificar a ocupação de cargos na administração fluminense.

Publicado originalmente no Site Rede Democrática

domingo, 5 de junho de 2011

Aprovada a destruição. Que fazer?

 

Hoje é dia mundial do meio ambiente. Não há o quê comemorar.



por Elaine Tavares*
1415 Aprovada a destruição. Que fazer?Vivemos um eterno retorno quando se trata da proteção aos latifundiários e grandes empresas internacionais. No Brasil contemporâneo, pós-ditadura, nunca houve um governo sequer que buscasse, de verdade, uma outra práxis no campo. Todos os dias, nas correntes ideológicas do poder, disseminadas pela mídia comercial – capaz de atingir quase todo o país via televisão –, podemos ver, fragmentadas, as notícias sobre a feroz e desigual queda de braço entre os destruidores capitalistas e as gentes que querem garantir vida boa e plena aos que hoje estão oprimidos e explorados.
Nestes dias de debate sobre o novo Código Florestal, então, foi um festival. As bocas alugadas falavam da votação e dos que são contra a alteração do Código como se fossem pessoas completamente desequilibradas, que buscam impedir o progresso e o desenvolvimento do país. Não contentes com todo o apoio que recebem da usina ideológica midiática, os latifundiários e os capatazes das grandes transnacionais que já dominam boa parte das terras brasileiras, ainda se dão ao luxo de usar velhos expedientes, como o frio assassinato, para fazer valer aquilo que consideram como seu direito: destruir tudo para auferir lucros privados.
Assim, nos exatos dias de votação do novo Código, jagunços fuzilam Zé Claudio, conhecido defensor da floresta amazônica. Matam ele e a mulher, porque os dois incomodavam demais com esse papo verde de preservar as árvores. Discurso tolo, dizem, de quem emperra a distribuição da riqueza – deles próprios, é claro. E o assassinato acontece, sem pejo, no mesmo dia em que os deputados discutem como fazer valer – para eles – os seus 30 dinheiros sujos de sangue.
Imagens diferentes, mas igualmente desoladoras. De um lado, a floresta devastada e as vidas ceifadas a bala, do outro a tal da “casa do povo”, repleta de gente que representa, no mais das vezes, os interesses escusos de quem lhes enche o bolso. Pátria? País? Desenvolvimento? Progresso? Bobagem! A máxima que impera é do conhecido personagem de Chico Anísio, o deputado Justo Veríssimo: eu quero é me arrumar!
No projeto construído pelo agronegócio só o que se contempla é o lucro dos donos das terras, dos grileiros, dos latifundiários. Menos mata preservada, legalização da destruição, perdão de todas as dívidas e multas dos grandes fazendeiros. Assim é bom falar de progresso. Progresso de quem, cara pálida? Ao mesmo tempo, os “empresários” do campo, incapazes de mostrar a cara, lotam as galerias com a massa de manobra.
Pequenos produtores que acreditam estar defendendo o seu progresso. De que lhes valerá alguns metros a mais de terra na beira de um rio se na primeira grande chuva, o rio, sem a proteção da mata ciliar, transborda e destrói tudo? Que lógica tacanha é essa que impede de ver que o homem não está descolado da natureza, que o homem é natureza?
Que tamanha descarga de ideologia os graúdos conseguem produzir que leva os pequenos produtores a pensar que é possível dominar a natureza, como se ao fazer isto não estivessem colocando grilhões em si mesmo? Desde há muito tempo – e gente como Chico Mendes, irmã Doroty e Zé Claudio já sabia – que o ser humano só consegue seguir em frente nesta terra se fizer pactos com as outras forças da natureza. E que nestes pactos há que se respeitar o que estas forças precisam sob pena de ele mesmo (o humano) sucumbir.
O novo Código Florestal foi negociado dentro das formas mais rasteiras da política. Por ali, na grande casa de Brasília, muito pouca gente estava interessada em meio ambiente, floresta, árvore, rio, pátria, desenvolvimento. O negócio era conseguir cargo, verba, poder. Que se danem no inferno pessoas como Zé Cláudio, que ficam por aí a atrapalhar as negociatas. Para os que ali estavam no plenário da Câmara, gente como o Zé e sua esposa Maria não existe. São absolutamente invisíveis e desnecessários. Haverão de descobrir seus assassinos, talvez prendê-los por algum tempo, mas, nas internas comemorarão: “menos um, menos um”.
Assim, por 410 a 63, venceram os destruidores. Poderão desmatar à vontade num tempo em que o planeta inteiro clama por cuidado. Furacões, tsunamis, alagamentos, mortes. Quem se importa? Eles estarão protegidos nas mansões. Não moram em beiras de rio. Dos 16 deputados federais de Santa Catarina, apenas Pedro Uczai votou não. Até a deputada Luci Choinacki, de origem camponesa votou sim, contrariando tudo o que sempre defendeu.
Então, na mesma hora em que a floresta chorava por dois de seus filhos abatidos a tiros, os deputados celebravam aos gritos uma “vitória” sobre o governo e sobre os ecologistas. Daqui a alguns dias se verá o tipo de vitória que foi. Mas, estes, não se importarão. Não até que lhes toque uma desgraça qualquer. O cacique Seatlle, da etnia Suquamish, já compreendera, em 1855, o quanto o capitalismo nascente era incapaz de viver sem matar: “Sabemos que o homem branco não compreende o nosso modo de viver. Para ele um torrão de terra é igual ao outro. Porque ele é um estranho, que vem de noite e rouba da terra tudo quanto necessita. A terra não é sua irmã, nem sua amiga, e depois de exauri-la, ele vai embora. Deixa para trás o túmulo de seu pai sem remorsos. Rouba a terra de seus filhos, nada respeita. Esquece os antepassados e os direitos dos filhos. Sua ganância empobrece a terra e deixa atrás de si os desertos. Suas cidades são um tormento para os olhos do homem vermelho, mas talvez seja assim por ser o homem vermelho um selvagem que nada compreende”.
Zé Claudio e Maria eram assim, vistos como “selvagens que nada compreendem”. Mas, bem cedo se verá que não. Eles eram os profetas. Os que conseguiam ver para além da ganância. Os que conseguiam estabelecer uma relação amorosa com a terra e com as forças da natureza. Eles caíram a bala. E os deputados vende-pátria, quando cairão?
Já os que gritam e clamam por justiça não precisam esmorecer. Perdeu-se uma batalha. A luta vai continuar. Pois, se sabe: quem luta também faz a lei. Mas a luta não pode ser apenas o grito impotente. Tem de haver ação, organização, informação, rebelião. Não só na proteção do verde, mas na destruição definitiva deste sistema capitalista dependente, que superexplora o trabalho e a terra. É chegada a hora de uma nova forma de organizar a vida. Mas ela só virá se as gentes voltarem a trabalhar em cada vereda deste país, denunciando o que nos mata e anunciando a boa nova.

* Elaine Tavares é jornalista e membro do Instituto de Estudos Latino-Americanos da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
** Publicado originalmente no site Correio da Cidadania.
** republicada dia 30 de maio pelo portal Envolverde.


Veja também: Como derrubar árvores e matar pessoas.