segunda-feira, 6 de maio de 2013

A extraordinária competência da Globo - Parte 1

02.05.2013 - A extraordinária competência da Globo
- Luis Nassif - Carta Capital

O que faz das Organizações Globo o maior grupo de mídia nacional?

Massa crítica acumulada durante décadas de pragmatismo, sem dúvida. Mas também uma visão estratégica imensamente superior à dos demais grupos de comunicação.

Quando homogeneíza-se o produto leva vantagem quem dispõe de maior poder de distribuição.

Nos anos 80, o grande salto da Folha de S. Paulo foi ter se tornado o contraponto à Globo.

A visão empresarial – jamais ideológica – de Otávio Frias percebeu o novo público que se formava, adepto das eleições diretas, adversário da burocracia, simpático aos novos costumes sociais, e apostou no novo.

Com essa estratégia, a Folha tirou uma geração de leitores do Estadão e se tornou o maior jornal brasileiro.

***

Hoje em dia, as comunicações globais estão submetidas ao mais violento processo de mudanças da história.

De um lado, enfrentam o avanço inexorável das grandes redes sociais – Facebook e Google – avançando sobre os classificados e a publicidade nacional. De outro, o aparecimento de novos produtos midiáticos online.

Havia duas estratégias de sobrevivência a serem seguidas pelos grupos midiáticos nacionais.

Uma delas, seria o da diferenciação em relação ao líder – a Globo. A segunda, seria a de seguir o líder.

Os três grupos nacionais – Folha, Estadão e Abril – optaram por seguir o líder.

Quando homogeneíza-se o produto leva vantagem quem dispõe de maior poder de distribuição. No caso, as Organizações Globo.

***

O pacto midiático teve como modelo Rupert Murdoch e sua Fox News.

Murdoch entendeu o avanço inexorável das redes sociais e resolveu levar a batalha para o campo político, ainda sob domínio dos grandes grupos de mídia.

Valeu-se, para tanto, de ferramentas tão antigas quanto o jornalismo: a exploração do medo supersticioso do “inimigo externo”, um enredo em que se cobre os adversários políticos com a mesma vestimenta que a dramaturgia utiliza para personagens ancestrais, como o vampiro, o lobisomem, as forças do mal.

O pacto matou a competição e, sem ela, nenhum veículo pode se aproveitar da enorme massa de leitores que se sentiram órfãos de mídia.

***

Os grandes grupos aliados tinham dois adversários pela frente: as grandes redes sociais e as emissoras de televisão, em decadência, mas ainda assim abocanhando a maior parte do bolo publicitário.

Mas a frente escolheu como adversários ora dois velhinhos em final de vida (Fidel e Raul Castro), ora o presidente de uma nação irrelevante (Hugo Chávez, da Venezuela).

E, no campo da mídia, blogs independentes e mídia regional, com acesso a fatias ínfimas do bolo publicitário federal.

***

Um dia os livros de marketing irão narrar a jogada mais esperta de um meio de comunicação em muitas décadas, levando todos os concorrentes no bico.

As enormes pressões feitas sobre a Secretaria de Comunicação (Secom) da presidência da República, para que não ampliasse os canais de mídia, tiveram como resultado a estratificação de todo o mercado publicitário.

Mesmo com a queda de audiência das TVs e com o avanço exponencial do uso da Internet, as verbas mantiveram-se pesadamente concentradas no meio televisão, especialmente na TV Globo – que hoje em dia controla 60% das verbas publicitárias do país.

Agora, a realidade econômica se impõe.
Jornais e revistas pulam, então, para a piscina da Internet.

Mas ela está semi-vazia, porque, devido à sua própria pressão, a publicidade tradicional não rumou para a Internet – como em todas as demais economias desenvolvidas do planeta.

Em três ou quatro anos, a queda de audiência das emissoras de tevê irá se refletir nas verbas publicitárias. Mas os demais grupos midiáticos serão irrelevantes.

Continuarão guerreando contra os velhinhos de Cuba, enquanto a Globo já terá completado a transição.

Fonte:
http://www.cartacapital.com.br/economia/a-extraordinaria-competencia-da-globo/?autor=589

Leia amanhã:
- A extraordinária competência da Globo - Parte 2 - A Internet e o fim do pensamento único - do mesmo Luis Nassif (uma espécie de continuação deste)

Nota:
A inserção das imagens, quase todas capturadas do Google Images, são de nossa responsabilidade, pois inexistem no texto original.

domingo, 5 de maio de 2013

Domingo era dia de Maraca

29/04/2013 - Mataram meu Maracanã
-Podem chamar de Estádio Justo Veríssimo
- por Lúcio de Castro, blogueiro do ESPN.com.br

Tem mais de um ano. Falava aqui dos vendilhões do templo. Para ser mais exato, em 2 de março de 2012.

"Os vendilhões do templo como querem acabar com o carnaval carioca" tratava também do Maracanã. Escrevi outros tantos textos sobre o fim do Maracanã.

O sábado que passou [27/4] foi o dia de enfim passar da teoria para a prática, confirmar tais expectativas.

Minto.
Não era necessário confirmar tais expectativas.

O fim do templo onde cultuávamos nossos deuses, o sagrado e o profano se misturavam na geral e arquibancada e tanto reis quanto plebeus estavam juntos, já havia se confirmado.

Na arquitetura do novo estádio que destruiu o antigo e muito mais do que isso: no papel, oficialmente, como no estudo de viabilidade econômica para o futuro administrador, curiosamente feito pela IMX, de Eike Batista, onde qualquer máscara vai abaixo, ao expressar "mudança do perfil do público".

Está lá no tal estudo, acima de qualquer discussão teórica.

A constatação da elitização daquele que foi símbolo da mistura de classes na cidade não é passível de argumentação. Está no papel. É oficial.

Com muito penar percorri caminhos de uma vida toda no último sábado, quando o Maracanã seria "reinaugurado".

Sabia que ia rever a velha namorada, ainda que ela não fosse mais a mesma.

Mas amores são assim, é possível passar por cima de tudo.

No fundo, ainda guardava a ilusão que aquela história de amor entre nós podia voltar. Como se o tempo voltasse...

Pensava no momento em que sairia do túnel tantas vezes atravessado e daria de cara com aquele monumento. Encontrei tanta gente no caminho. Segurei o passo. Encontrar a velha namorada exige solenidade. Tinha que ser sozinho.

Os versos de Vinícius não saiam da cabeça.
Ia dar o último passo no túnel e o Maracanã seria como nas palavras do poetinha, a "me entreabrir a porta como uma velha amante".

Bobagem, sabia tanto que a "velha amante", a namorada dos melhores anos de nossas vidas não estava mais ali.

Mas amantes são assim mesmo, só materializam ao constatar que acabou e se descobre a amada nos braços de outro.

Me desprovi de todos os conceitos anteriores.

Se já era sabido que o sentido do velho Maracanã tinha ido abaixo com sua elitização, ao menos talvez fosse possível, com todas as ressalvas, constatar que realmente o novo estádio é bonito, moderno.

Tudo o que se diz dos novos estádios por aí: ainda que matem tradições, histórias, são belos, funcionais, modernos.

Entrei com esse sentimento, tentando me desarmar de minhas ideias sobre o tema o mais possível. E aqui deixo meu relato do que vi, deixando para trás até mesmo a convicção de que nada desculparia tal mudança: o Maracanã acabou.

Mataram o Maracanã.

Se essa ideia de beleza do novo, moderno, apesar dos pesares, vale para outros, não vale para o Maracanã.

Pois obviamente o que fazia o belo, o impressionante do Maracanã era exatamente sua exuberância. Era ser monumental.

Majestoso. Algo impressionante.

Se sentir pequeno diante de tal obra. A epifania que era cruzar aquele túnel e se sentir tão pequeno.

E ser abraçado pelo canto daquela gente.

Epifania sim, sem medo de exagerar ou blasfemar.

Algo que só se sente diante da força das águas das cataratas do Iguaçu ou como chegar no último degrau de Machu Picchu.

Ou do sol morrendo atrás dos Dois Irmãos. Poucas coisas podiam ser igual aquele momento.

Exagero?

Quantos e quantos vindos de fora se extasiaram com tal visão?

Quantos craques tremeram ao deixar o túnel e cegar-se com a majestade do Maracanã?

Quantos deram tanto de sua vida para um dia viver aquilo, seja no gramado ou na arquibancada...

Acabou.
Quem viveu isso vai constatar e ver o mesmo.
Acabou.
Quando se chega ao fim do túnel, o Maracanã não está mais ali.

Um estádio acanhado, bonitinho como outro qualquer. Bonitinho mas ordinário.

Como será que deixou-se fazer isso? Quem cometeu essa boçalidade?

"A força da grana que ergue e destrói coisas belas".

O Maracanã não era um estádio qualquer. Transformar o Maracanã numa "arena" (eles merecem mesmo esse nome ridículo) e achar que ficou mais bonito do que era, é destruir Machu Picchu, é achar que se pode deixar o pôr do sol mais bonito.

Talvez o argumento valesse para qualquer outro estádio. "Mudou tudo, elitizou-se, mas é preciso reconhecer que está mais bonito".

Não, no Maracanã não vale.
Ora, será que não é tão óbvio saber que a beleza do Maracanã era aquilo tudo.

Era seu aspecto monumental.

Vejam que não estou falando de coisas imateriais, ainda que não se possa separar a beleza do Maracanã do grito da geral, da gente misturada.

Estou falando sobre a boçalidade de destruir algo monumental, diferente de tudo para deixá-lo igual a outros tantos.

Pois eles conseguiram.
O Maracanã agora é igual a outros tantos.
Não chamem aquilo lá de Maracanã, por favor.

Chamarei de Estádio Justo Veríssimo, aquele personagem do Chico Anísio que defendia a morte dos pobres, "quero que pobre se exploda", dizia ele.

È esse o novo espírito do monstrengo moderno que conceberam. Inócuo, um dragão que não cospe mais.

Mataram o meu Maracanã, amor de toda uma vida.

Nesse momento, só me ocorre a frase do Dr. Ulisses ao promulgar a constituição de 1988. "Tenho ódio e nojo à ditadura".

Pois como cidadão, carioca, brasileiro, traços indissolúveis de minha identidade, tenho ódio e nojo de quem fez isso com o Maracanã.

Como jornalista, ainda que não acredite que uma profissão possa estar separada da cidadania, tenho apenas que contar essa história.

Como fizeram isso?
Quem fez isso?
Como fizeram isso com o Maracanã?

Ele agora é mais um. Uma arena. Igualzinha a todas as outras. Não era. Era diferente de tudo.

Mataram o amor de toda uma vida dos cariocas e dos brasileiros.

Presidenta, você estava lá aplaudindo isso.
Governador, você assina isso e responderá por todas as suas gerações.

Todas as noites, até seu último dia, você vai ouvir o Gerdau, geraldino histórico do Maracanã gritando no seu ouvido, como fazia na geral: "Pra frente, chuta....!!!".

Todos os seus ouvirão. Não adianta botar o guardanapo na cabeça. O Gerdau estará lá. "Pra frente, chuta"...

Trataremos desse funeral com os rituais com que os povos conseguem superar seus dramas.

Nenhum lugar, nenhuma cidade do mundo amou tanto um estádio como o Rio amou o Maracanã. Vivia no seu imaginário. Nenhuma cidade tinha em seus cantos um estádio.

Como fizeram isso?
É essa a modernidade?

Lamento por alguns do bem que vejo ouvir o canto da sereia.

Trataremos desse funeral. Não sei como ainda.

Mas esse povo sempre soube se reinventar.

Sempre que a vida foi negada por aqui, em São Sebastião do Rio de Janeiro.

Metáfora de um Brasil. E o Maracanã era a metáfora maior disso tudo.

Acabou.
Não sei como terá de ressurgir.
Assim sempre foi a gente daqui.

Lembrei-me de "Os Bestializados, O Rio de Janeiro e a República que não foi", trabalho maior de José Murilo de Carvalho.

Que nos dá conta de nossa história.
De como fizemos e nos reinventamos em ginga, samba, futebol, capoeira quando tudo era negado.
Mais uma vez estamos diante disso, como lá atrás.

De alguma forma nos reinventaremos.

Ainda que agora seja tão difícil aceitar uma das maiores violências já cometidas contra a população do Rio, do Brasil.
E contra a história.

Mataram o Maracanã.

Fonte:
http://m.espn.com.br/blg-col-noticiaip.php?id_bc=326086

Não deixe de ler:
- Ai de Ti, Maracanã! - Arthur Muhlenberg

Nota:
A inserção das imagens, extraídas do Google Images (exceto as de Felipe Patto), são de nossa responsabilidade, pois inexistem no texto original.

sábado, 4 de maio de 2013

Aécio e sua louca cavalgada

02/05/2013 - A louca cavalgada de Aécio
- Paulo Nogueira (*) - Diário do Centro do Mundo

Ao repetir chavões arquiconservadores como o da democracia em “risco”, ele vai se tornando um Serra com topete.

FHC está por trás das tolices ditas por Aécio?

Não acredito que FHC esteja, de fato, orientando Aécio na caminhada deste rumo às eleições de 2014.

FHC é vaidoso, está desatualizado, sofre ao se ver, tão cedo, relegado a uma nota de rodapé na história dos presidentes brasileiros.

Ele seguiu a receita de Thatcher e hoje se vê no que ela deu nos países em que não houve uma drástica mudança de rota.

Bem, FHC tem muitos defeitos – mas bobo, definitivamente, não é.

Não é possível que ele esteja por trás das tolices em série proferidas por Aécio.

Num espaço de poucos dias Aécio conseguiu se pronunciar contra a reeleição – foi FHC quem a trouxe de volta, sabemos todos a que preço – , levantou alarme sobre a inflação e agora repete a ladainha dos dias de Lacerda segundo a qual a democracia está em “perigo”.

Não faltariam bons argumentos para Aécio criticar Dilma e o PT.

Exemplo: um levantamento divulgado esta semana mostrou que o Brasil, entre 40 países, ficou em penúltimo em educação.

(A Finlândia está no topo, para confirmar a admirável supremacia da sociedade escandinava.)

Aécio poderia falar nisso.

Dez anos de PT e é isso que temos a mostrar ao mundo em educação?

Poderia também citar outro estudo segundo o qual o Brasil é o quarto país mais desigual da América Latina.

Se você é quarto na Europa, é uma coisa desagradável, mas dá para engolir. Mas ser quarto numa região já em si tão desigual como a América Latina é vexatório.

Haveria, sim, muita coisa relevante a falar.

Mas para isso Aécio teria que ler. Ou melhor, que ler as coisas certas.

Aécio parece estar repetindo coisas que são faladas por Jabor, escritas por Merval, repetidas por Reinaldo Azevedo – enfim, todos aqueles  clichês arquiconservadores por trás dos quais se esconde apenas o desejo de manter privilégios indefensáveis.

E repete o mesmo erro incrível de Serra nestes anos todos: deixou o PT sozinho para falar do tema mais importante não apenas do Brasil mas do mundo contemporâneo: justiça social.

Rapidamente, se transforma num Serra com topete.

Não pelo que tem feito, que sem dúvida poderia e deveria ser mais, mas pelas besteiras que os adversários vão cometendo em série, Dilma tende a ter em 2014 uma das vitórias mais fáceis da história das eleições presidenciais.

Se for para o segundo turno, vai ser uma surpresa.

(*) O jornalista Paulo Nogueira, baseado em Londres, é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.

Fonte:
- http://www.diariodocentrodomundo.com.br/fhc-esta-orientando-mesmo-aecio/

Não deixe de ler:
- FHC, Aécio e o jogo político de 2014 - Maurício Caleiro

Nota:
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sexta-feira, 3 de maio de 2013

Democratizar a mídia, tarefa urgente

18/04/2013 - site Teoria & Debate - Edição 111 - José Genoíno (*)

A regulação da mídia é um tema “maldito” porque implica democratizá-la, torná-la plural, ampliando o acesso à informação, permitindo o contraditório e alinhando o sistema de comunicação aos interesses do país.

*****

Em novembro de 2011, o governo Dilma sancionou a Lei nº 12.527, Lei de Acesso à Informação, que altera os prazos de sigilo de documentos e dados guardados pelo poder público e estabelece procedimentos para acessá-los.

Durante mais de oito anos, período em que o projeto de lei tramitou na Câmara dos Deputados, houve um intenso debate sobre a democracia brasileira, tendo como pano de fundo a construção do consenso de que a informação é um bem público e não pode ser nem propriedade do Estado, nem privada.

E, como bem público, é condição essencial para o exercício da cidadania.

Hoje, ao discutir a regulamentação da mídia no Brasil, não devemos esquecer que essa lei federal consolidou os preceitos já definidos na Constituição e avançou no princípio democrático do caráter público da informação.

O PT foi protagonista desse processo, que foi sancionado por um governo cuja presidenta também é petista.

Para sermos fiéis à verdade e à história desse debate, devemos voltar 25 anos e recuperar as grandes polêmicas em torno da mídia e das comunicações que ocorreram na Constituinte de 1988.

O relatório da deputada Cristina Tavares, que já trazia o conceito de informação como bem social, entre outros avanços, foi derrotado. O alternativo, apoiado pela Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), foi obstruído.

Mesmo com essas limitações, uma das primeiras consequências da Constituinte foi a revogação, na prática, da Lei de Imprensa, em vigor desde a ditadura.

Os itens aprovados pelos deputados constituintes levaram o STF a declarar a Lei de Imprensaincompatível com a atual ordem constitucional”. Outras consequências foram as conquistas registradas entre os artigos 220 e 224, da Constituição Federal, capítulo denominado “Da Comunicação Social”.

Nele está expresso o que de mais avançado poderia ter sido pactuado na correlação de forças daquele período.

Seu primeiro ponto decreta: “A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo, não sofrerão qualquer restrição, observado o disposto nesta Constituição”.

E seus parágrafos 1º e 2º garantem definitivamente e com clareza a plena e irrestrita liberdade de imprensa instituída.

O texto constitucional afirma que nenhuma lei conterá dispositivo que possa constituir embaraço à plena liberdade de informação jornalística em qualquer veículo de comunicação social e é vedada toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e artística.

No mesmo artigo, em seu parágrafo 3º, está registrado, de forma cristalina, a necessidade da regulamentação posterior:

Compete à lei federal:
I - regular as diversões e espetáculos públicos, cabendo ao poder público informar sobre a natureza deles, as faixas etárias a que não se recomendem, locais e horários em que sua apresentação se mostre inadequada;

II - estabelecer os meios legais que garantam à pessoa e à família a possibilidade de se defenderem de programas ou programações de rádio e televisão que contrariem o disposto no artigo 221, bem como da propaganda de produtos, práticas e serviços que possam ser nocivos à saúde e ao meio ambiente".

Portanto, identificar a necessidade de regulamentar a mídia no Brasil como um “desejo” de censura é colocar uma cortina de fumaça no debate e deturpar seu mérito.

Como exemplo dessa postura, citamos o editorial do jornal O Globo do último dia 7/4. “A ‘regulação’ do desejo dessa militância (PT) visa a interferir no conteúdo jornalístico – censura, a palavra certa” afirma o texto.

Tudo é uma enorme perda de tempo”, diz ainda o jornal, pois o que interessa discutir é “a atuação de sites controlados do exterior no jornalismo e entretenimento; a necessidade de produção local; o papel das telefônicas no processo de fusão de mídias, entre outros temas”, esclarece sem disfarce algum.

E, em tom ameaçador, conclui que é “inútil e nada produtivo continuar a investir, não importa em nome de quê, contra princípios constitucionais consolidados”.

Entretanto, além dos “princípios constitucionais consolidados” citados anteriormente, é adequado lembrar que o parágrafo 5º do mesmo artigo 220 deixa claro que os “meios de comunicação social não podem, direta ou indiretamente, ser objeto de monopólio ou oligopólio”.

E o artigo 221 estabelece, como princípios constitucionais, “a regionalização da produção cultural, artística e jornalística, conforme percentuais estabelecidos em lei”, entre outros. Ou seja, nova exigência de regulamentação.

Portanto, a quais “princípios constitucionais consolidados” O Globo se refere?

Na verdade, para os grandes grupos de comunicação, o “perigo” da democratização da mídia é a perda de mercado e do poder de influência.

Não há sequer o mais tênue sinal de ânsia democrática ou defesa da Constituição em suas declarações e editoriais.

A regulamentação é um dos temas mais amaldiçoados por setores monopolistas da mídia, não só no Brasil, mas no mundo todo. Foi assim na Inglaterra, México, Argentina, para ficar só nos países que recentemente enfrentaram esse debate.

É um tema “maldito” porque regular a mídia implica democratizá-la, torná-la plural, ampliando o acesso a informação, permitindo o contraditório e alinhando o sistema de comunicação aos interesses do país.

Por isso, têm razão aqueles que advertem que os grandes grupos da comunicação, movidos pelo interesse econômico, sempre irão repelir quaisquer iniciativas que visem democratizar o “espaço” comunicativo. Essa resistência faz parte da própria natureza econômica desses setores e de suas tendências de contrair o mercado.

No Brasil, tenta-se interditar o debate sob a alegação, também e cumulativamente, de que regular a mídia é intervenção no conteúdo.

Aqui, à reação monopolista, agrega-se uma intimidação deliberada, dissimulada e cínica ao “ressuscitar tempos em que a censura fazia parte do cotidiano do país”.

Como lembra o professor Venício A. de Lima (foto), colunista do Observatório da Imprensa e de Teoria e Debate, “ao contrário da Inglaterra, no Brasil não há compromisso histórico com a liberdade de expressão.

Nosso liberalismo nunca foi democrático e prevalece uma interdição branca até mesmo do debate público das questões ligadas à regulação do setor de mídia.

Recentemente, a bandeira da liberdade de expressão foi indevidamente apropriada pelos mesmos grupos que apoiaram o golpe de 1964, responsável pela censura oficial que vitimou, inclusive, seus próprios apoiadores por mais de duas décadas”.

Na verdade, se hoje o Brasil goza da mais ampla liberdade de expressão, com uma imprensa absolutamente livre, é porque setores da mídia, que hoje se arvoram de paladinos da liberdade e num passado não tão distante ofereceriam favores operacionais à ditadura ou defendiam atalhos antidemocráticos em editoriais, foram derrotados.

Nos 33 anos de PT e na década petista do governo federal não foi promovida ou patrocinada nenhuma ação, tentativa ou qualquer outra manifestação de tolhimento da liberdade de expressão ou de censura.

Ao contrário, o PT nasceu, se ergueu e hoje é o principal partido do país porque lutou pela mais ampla e irrestrita liberdade.

A mídia deve ser regulamentada porque, além de ser uma necessidade constitucional visando à sua democratização, universalização e pluralidade, é condição essencial para dar dinamismo e colocar o Brasil lado a lado de outras nações que já estabeleceram novos marcos para um setor que foi atingido por uma das mais drásticas mudanças de seu padrão tecnológico da história.

O Código Geral das Telecomunicações é de 1962, quando não havia TV em cores, satélites nem rede nacional.

Nos anos 1990, as empresas de telefonia trabalhavam com comunicação de voz a distância.

Duas décadas depois, essas mesmas empresas são os maiores provedores de internet e apresentam um poder de fogo dificilmente igualado por qualquer rede de TV tradicional.

Estamos vivendo uma época em que televisão, rádio, telefonia, cinema, literatura, música, transmissão de dados, instrumentos de navegação e uma infinidade de aplicativos que facilitam a comunicação podem ser acessados por um mesmo aparelho que cabe na palma da mão.

O ex-ministro da Comunicação Social Franklin Martins afirma que o “espectro eletromagnético é um bem público, precioso e escasso, cujo uso, diretamente pelo Estado ou por concessões a grupos privados ou instituições públicas, tem de ser regulado, com regras claras e agências que zelam pela sua aplicação”.

É assim nos Estados Unidos, na Grã-Bretanha, na França, na Alemanha, na Itália, na Espanha, em Portugal, na Argentina.

Em alguns países, diz ele, “há uma agência para telecomunicações, outra para radiodifusão; em outros, há uma só. Alguns colocam a ênfase na regulação econômica, como os Estados Unidos, que proíbem a propriedade cruzada. Outros estabelecem regras muito minuciosas para conteúdo, como é o caso da França e do Reino Unido. Mas todos buscam, por um caminho ou por outro, enfrentar a questão da monopolização e da oligopolização e defender a pluralidade, a heterogeneidade, a democratização.

É claro e necessário corrigir distorções inaceitáveis herdadas do passado e acabar com o cipoal de gambiarras que se formou na área: político não pode ter concessão de rádio e TV; televisões e rádios não podem vender horários para igrejas ou televendas – é inaceitável a subconcessão de um bem ou serviço público, concessões não podem ser vendidas ou repassadas como se fossem bens privados”.

Portanto, a definição de um novo marco das comunicações é necessária, atual e deve estar subordinada aos seguintes princípios:

- garantia da liberdade de imprensa e da pluralidade;
- respeito à privacidade;
- direito de resposta e de imagem;
- não à discriminação de qualquer tipo;
- complementaridade entre o sistema público, estatal e privado;
- desconcentração e democratização da oferta;
- promoção da cultura nacional e regional;
- estímulo à produção independente;
- estímulo à comunicação comunitária;
- universalização do acesso;
- liberdade na internet;
- liberdade de imprensa.

Democratizar a mídia é uma tarefa urgente e faz bem à cidadania.

(*) José Genoino é deputado federal pelo PT-SP

Fonte:
http://www.teoriaedebate.org.br/materias/nacional/democratizar-midia-uma-tarefa-urgente?page=full

Não deixe de ler:
- Fora Marin! - Rede Democrática
- Um 1º de Maio para expressar a liberdade - Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação
- BNDES financiará a democratização midiática - Cesar Fonseca

Nota:
A inserção de imagens adicionais, capturadas do Google Images, são de nossa responsabilidade, elas inexistem no texto original.