terça-feira, 19 de março de 2013

Contra a privatização da água

18/03/2013 - Federação Nacional dos Urbanitários (FNU) e entidades promovem “Dia Nacional de Luta Contra a Privatização da Água, do Saneamento e a PPP”
- Escrito pela FNU e extraído do site da Central Única dos Trabalhadores

Manifestação para alertar a sociedade sobre os riscos da mercantilização da água ocorre nesta quarta (20), em Brasília.

A privatização dos serviços de água e saneamento, através da chamada Parceria Público Privada (PPP) está na ordem do dia em várias capitais e centros urbanos importantes.

A estratégia adotada pelos governos estaduais e municipais, com aval do Governo Federal, trabalha com a perspectiva de entregar o controle do bem mais precioso ao ser humano, que é a água, ao poder do capital privado.

A Federação Nacional dos Urbanitários – FNU/CUT, a Frente Nacional pelo Saneamento Ambiental – FNSA, Movimento dos Atingidos por Barragens – MAB, dentre outras entidades são frontalmente contrárias a privatização da água e do saneamento seja através da PPP ou de qualquer outra modalidade.

A defesa da federação é pelo saneamento público através da Parceria Público-Público que se dá através de consórcios, com maiores investimentos do governo e controle social, para que a universalização supere as deficiências do setor.

Com o intuito de alertar a sociedade sobre os riscos da privatização e da conseqüente mercantilização da água, a FNU e as entidades do movimento social realizarão dia 20 de março, em Brasília, o Dia Nacional de Luta Contra a Privatização da Água e do Saneamento e a PPP.

A concentração do Dia Nacional Contra a Privatização da Água e do Saneamento e a PPP, será na Catedral de Brasília a partir das 10h de onde marcharemos até o Palácio do Planalto para o grande ato às 14h.

Fonte:
http://www.cut.org.br/destaques/23032/fnu-e-entidades-promovem-dia-nacional-de-luta-contra-a-privatizacao-da-agua-do-saneamento-e-a-ppp


Não deixe de ler:
- A luta pelo direito à água na Rio+20 - Zilda Ferreira
- Privatização da Água: o 'fracasso' melhor financiado - Revista Fórum - original do Envolverde
O mito do capitalismo “natural” - Rafael Azzi
“É preciso sair do capitalismo” – Marcela Valente (entrevista com o escritor francês Hervé Kempf)
Um mundo de águas, minérios e nomes que parecem poemas - parte final 6/6 - UM JOGO EM QUE NEM TODOS TRAPACEIAM - Antonio Fernando Araujo
Discurso de Pepe Mujica no Rio de Janeiro - por ocasião da Rio+20 (junho/2012)

E mais:
A disputa pela terra em Copenhague - Zilda Ferreira
Os limites da pátria - Mauro Santayana
Já temos a resposta, senadora Marina - Carlos Tautz
A centralidade da água - Mônica Bruckman
- Quem são os donos dessas águas? - Antonio Fernando Araujo
- Água não se nega a ninguém - Carlos Walter Gonçalves

Nota:
A inserção das imagens, quase todas capturadas do Google Images, são de nossa responsabilidade e, excetuando uma ou outra, inexistem no texto original.

segunda-feira, 18 de março de 2013

Ato contra a venda do petróleo brasileiro

17/03/2013 - da Redação do site RedeDemocratica

A questão dos leilões é muito mais grave que a questão dos royalties.

Enquanto os royalties representam apenas 10% da renda do petróleo, os leilões envolvem todos esses recursos.

Enquanto todos brigam pelos royalties, para onde vão os outros 90%?

Vamos ocupar o “seminário-festa” dos especuladores do nosso petróleo nesta segunda (18/03), às 8h, no Hotel Windsor em Copacabana.

Um dos maiores crimes contra o povo brasileiro está com data marcada para acontecer em maio.

Não é a derrota da seleção brasileira. Nem o atraso das obras de um estádio para a Copa.

Também não se trata da separação de um casal de artistas famosos.

Nem de uma armadilha para o mocinho da novela das oito.

Estamos falando da entrega de 289 áreas de petróleo.

Isso mesmo, o petróleo que deveria ser nosso, do povo brasileiro irá para as mãos de empresários megamilionários, brasileiros e estrangeiros.

Se aceitarmos esse crime esqueça a ideia de utilizar esse recurso para transformar a educação e saúde públicas, construção de moradias populares, fazer acontecer a reforma agrária, desenvolver transportes de massa, espalhando metrôs, trens e barcas confortáveis e baratos pelo Brasil.

Inclusive, iremos perder a possibilidade de definir o ritmo de exploração do petróleo nacional e construir um plano concreto de mudança de matriz energética, desenvolvendo em larga escala energias limpas que substituam os poluentes combustíveis atuais.

Os movimentos sociais são contra a privatização do petróleo por entender que esse recurso deve ser de todo o povo e não apenas gerar lucro para poucos.

O governo do presidente Fernando Henrique criou um modo de entregar nosso ouro negro, o que ele chamou de Rodadas de Licitação de Blocos para Exploração e Produção de Petróleo e Gás.

O Lula continuou com esse processo de leilões.

E Dilma, infelizmente, marcou a 11ª rodada para maio desse ano.

Vamos assistir calados à entrega desses recursos que poderiam mudar a vida do nosso povo tão sofrido?

Muitos lutadores brasileiros, jovens e idosos, estudantes e trabalhadores, mulheres e homens, decidiram que não!

E passaram a construir a campanha O Petróleo Tem que Ser Nosso que exige o fim dos leilões, controle público sobre a Petrobrás e todo o petróleo e a destinação dessa riqueza para a resolução dos nossos graves problemas sociais.

A questão dos leilões é muito mais grave que a questão dos royalties.

Enquanto os royalties representam apenas 10% da renda do petróleo, os leilões envolvem todos esses recursos.

Queremos discutir “o elefante inteiro” e não “apenas o seu rabo”.

Enquanto todos brigam pelos royalties, para onde vão os outros 90%?

Mas por que a urgência?

No dia 11 de março, a Agência Nacional de Petróleo apresentou o edital sobre a 11ª Rodada de Licitação do Petróleo.

No edital, estava prevista a realização de um seminário.

Em plenária dos movimentos sociais que participam da campanha O Petróleo Tem que Ser Nosso, foi aprovada um ato de protesto durante o evento.

Todos estão convidados a se integrar à manifestação, na abertura do seminário, às 8h desta segunda-feira, 18 de março, no Hotel Windsor, na Av. Atlântica, 1020, Copacabana, Rio de Janeiro.

É importante reunir o máximo de pessoas, para mostrar que a população não aceitará calada os leilões marcados para maio.

Fonte: Agência Petroleira de Notícias [http://www.apn.org.br/w3/index.php/manchetes/urgente/5349-urgente-ato-contra-a-venda-do-petroleo-brasileiro]

Vergonha e Covardia
Por Francisco Soriano de Souza Nunes

Você sabia que a Audiência Pública sobre a 11ª Rodada, pela primeira vez na História do Brasil, foi realizada dentro de um quartel das Forças Armadas?

Foi na Escola de Guerra Naval, avenida Pasteur, 480, na Urca (RJ), no dia 19/02/2013, quase em segredo.

Nove dias depois da audiência já realizada, foram colocados a venda mais 117 Blocos, o que constitui mais uma aberração porque tais blocos não constaram da referida Audiência.

Vide a notícia abaixo:

28/02/2013 - autorizado mais 117 blocos exploratórios de petróleo e gás na 11ª rodada de licitações - Gabriel Palma - Repórter da Agência Brasil      

Brasília – O Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) autorizou hoje (28), por meio de resolução publicada no Diário Oficial da União, que a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) inclua 117 áreas na 11ª rodada de licitações de blocos para exploração e produção de petróleo e gás natural.

O governo acrescentou 65 blocos na Bacia da Foz do Amazonas, no Amapá; seis na do Espírito Santo; dez na de Pernambuco-Paraíba e 36 na bacia terrestre de Tucano Sul, na Bahia.

Agora serão 289 blocos a serem leiloados em 14 e 15 de maio. A ampliação foi solicitada pela presidenta Dilma Rousseff no mês passado, de acordo com a Agência Brasil.

Fonte:
http://www.rededemocratica.org/index.php?option=com_k2&view=item&id=4098:ato-contra-a-venda-do-petr%C3%B3leo-brasileiro

Nota:
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domingo, 17 de março de 2013

Área indígena sagrada vai virar hidrelétrica

02/07/2012 - Instituto Humanitas Unisinos - Renée Pereira
- publicado no O Estado de S. Paulo em 01/07/2012

Na curva onde o rio divide os Estados do Pará e Mato Grosso, as águas esverdeadas e velozes do Teles Pires escondem um santuário de belezas naturais e um reino místico da cultura indígena.

Para o "homem branco", nada mais é do que a sequência de sete quedas de corredeiras. Entre os povos indígenas, trata-se de um lugar sagrado, que não pode ser mexido.

Ali, entre ilhas, pedras e uma mata ainda intocada, eles acreditam que vivem os espíritos de seus antepassados, a mãe dos peixes e da água. "Se for destruído, coisas ruins vão acontecer para o homem branco e para a comunidade indígena", prevê o cacique João Mairavi Caiabi (foto), que aos 51 anos comanda 206 pessoas da aldeia Cururuzinho.

Segundo ele, algumas dessas maldições já perturbam o dia a dia dos índios: "Temos pessoas com suspeita de tuberculose. Isso nunca aconteceu antes na comunidade. É reflexo das intervenções no rio e na floresta".

Os caiabis moram a alguns quilômetros das corredeiras Sete Quedas, nas margens do rio onde está sendo levantada a Hidrelétrica de Teles Pires, a quarta maior usina em construção no Brasil, com 1.820 megawatts (MW) de potência - energia suficiente para abastecer 5 milhões de habitantes, a maioria do Sudeste.

Na região, também moram os índios da etnia mundurucu, considerados mais arredios, e apiacá, que juntos somam uma população de cerca de 600 índios - alguns deles são acusados de nunca terem ido nas Sete Quedas.

A exemplo de outras obras, como Belo Monte (PA), a barragem, de R$ 3,6 bilhões, enfrenta fortes protestos de índios, ambientalistas e do Ministério Público, contrários à expansão das usinas na Amazônia.

A preocupação do cacique João é que, só na Bacia do Teles Pires, devem ser construídas mais quatro hidrelétricas, além das duas em andamento (Teles Pires e Colíder).

Para tirar os projetos do papel, cerca de 70 mil hectares de floresta dariam lugar aos lagos - isso significa 70 mil campos de futebol.

Embora elevado, o número é bem inferior ao das usinas do passado - a Hidrelétrica de Balbina, no Amazonas, inundou quase três vezes mais para gerar apenas 275 MW.

Hoje, diante da preocupação ambiental, quase todas as usinas são a fio d'água, sem grandes áreas de reservatório.

Se por um lado reduzem a potência da unidade, por outro diminuem substancialmente o impacto ambiental.

Isso não significa, entretanto, impacto zero, especialmente para os indígenas.

Compensação ambiental
O lago de Teles Pires terá 9.500 hectares de área inundada, sendo que 7 mil hectares terão de ser desmatados.

Em compensação, a Companhia Hidrelétrica de Teles Pires (CHTP, formada por Neoenergia, Furnas, Eletrosul e Odebrecht), que detém a concessão da usina, terá de pôr em prática 45 programas sociais, ambientais e indígenas, num total de quase meio bilhão de reais (15% do valor total da obra).

Estão sendo criados projetos de monitoramento de clima, água e solo; controle de prevenção de doenças; construção de escolas, unidades de saúde, terminal rodoviário, pontes e a pavimentação de ruas.

Há ainda programas de resgate de fauna e flora de toda área impactada, além do monitoramento de algumas espécies em extinção.

Não importa se é um grande mamífero ou simplesmente uma borboleta, como a Agrias Claudina, ameaçada no Pará. "Todos precisam ser resgatados e catalogados", afirma a gerente de Meio Ambiente da CHTP, Maíra Fonseca Moreira Castro.

Mas, numa região com a biodiversidade tão rica como na Amazônia, é praticamente impossível evitar todos os prejuízos.

Maíra conta que já foram resgatadas 1.084 espécies diferentes de árvores na área da usina, sendo que 638 delas foram descobertas após os estudos de impacto ambiental.

Só de orquídeas (foto) são 85.326 espécies diferentes. Tudo isso catalogado e resgatado por 60 pessoas.

O Plano Básico Ambiental (PBA) indígena é tratado a parte.

A CHTP desenhou 12 programas com investimentos para atender as 12 aldeias indígenas da área.

Mas a proposta está longe de atender aos anseios das lideranças da região, que ainda não aprovaram o documento.

"O PBA está muito fraco. Precisamos de projetos melhores na saúde, educação e habitação", afirma Elenildo Caiabi (foto), um jovem de 25 anos que conhece bem tanto a cultura indígena como a do "homem branco".

Para ele, as aldeias precisam reivindicar seus direitos enquanto a usina está em construção. "Depois vão todos embora e nós ficamos apenas com os prejuízos, sem lugar para caçar e pescar."

A lista de equipamentos pedidos pelos índios à CHTP é grande - e cara.

Inclui caminhonetes importadas, como Mitsubishi, barcos e motores, antenas parabólicas, etc. A justificativa é a localização.

Para chegar à aldeia Cururuzinho (foto), no Pará, há duas alternativas.

De avião, gasta-se meia hora saindo de Paranaíta, a cidade mais próxima no Estado de Mato Grosso. Mas esse é um meio de transporte apenas para os visitantes. Normalmente, os índios levam cinco horas para chegar à cidade, sendo duas horas de carro e mais três horas de barco.

Modernidades
Na comunidade, cercada de um lado pelo Rio Teles Pires e de outro pela Floresta Amazônica, as casas - algumas retangulares e outras, ovais - ainda são feitas de madeira e cobertas de folhas de palmeiras. No chão, apenas terra batida.

A única casa de alvenaria é reservada aos visitantes da aldeia. Mas alguns avanços da cidade já fazem parte da vida dos caiabis.

A aldeia tem um orelhão e energia elétrica produzida por gerador, que funciona à noite ou quando alguém precisa usar o computador, por exemplo.

Eles têm fogão a gás, mas quase nunca usam. Preferem o fogão a lenha, improvisado com tijolos e uma chapa, melhor para assar peixes e carne de animais nativos, como jacu, cateto e paca.

Alguns alimentos do "homem branco" também integram as refeições dos índios, como arroz, café e açúcar.

"Mas preferimos o peixe, a caça e a farinha de mandioca, plantada aqui do lado", afirma Valdete Caiabi, que aos 25 anos é mãe de cinco filhos.

"Dizem que não vai ter nenhum impacto para nós. Mas temos parentes que moram perto de outras hidrelétricas e hoje não têm mais peixe para comer. O rio é o nosso mercado", diz ela.

Em março, a Justiça suspendeu a licença de instalação da usina, alegando que os índios não haviam sido ouvidos. As obras, na época com 2 mil trabalhadores, ficaram paralisadas por 12 dias. A CHTP teve de alugar avião para levar os trabalhadores para casa durante esse período.

De acordo com a empresa, todas as audiências públicas foram feitas dentro da lei e gravadas. Mas para o procurador da República no Pará, Felício Pontes (foto), pela lei, é o Congresso Nacional que tem de fazer oitivas nas aldeias indígenas e não engenheiros e executivos. Segundo ele, entre Ministério Público Federal e Estadual, há cerca de 11 ações propostas contra a usina de Teles Pires.

"Fizemos várias alterações no projeto para reduzir os impactos ambientais na região. Vamos produzir mais megawatts com menos área alagada e devastada", afirma o diretor de Sustentabilidade da CHTP, Marcos Azevedo Duarte. As mudanças, no entanto, não seduzem os caiabis: "Queria o rio do jeito que Deus deixou", diz Valdete.

Índios e brancos vivem em clima hostil
No lugar da placa de "Bem-vindo", uma faixa com letras garrafais escancara um problema que vai além da construção da Hidrelétrica de Teles Pires.

É com a frase "Unidos contra a demarcação de terras indígenas" que a pequena cidade de Paranaíta, de 10 mil habitantes, recebe seus visitantes.

A demarcação para elevar de 117 mil para mais de 1 milhão de hectares o tamanho da reserva das três etnias (caiabis, mundurucus e apiacás) deveria ter sido iniciada dia 22, mas foi suspensa pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ).

No município, que teve origem em 1979 e foi emancipado sete anos depois, conta-se nos dedos quem seja a favor dos índios. Naturalmente, os fazendeiros que ajudaram a fundar a cidade são os mais arredios. Foram eles que patrocinaram a confecção de várias faixas espalhadas pela cidade.

Algumas, no entanto, foram assinadas pela própria prefeitura de Paranaíta. "Temos de defender o lado da economia. Há um grupo de pecuaristas que terão os investimentos inviabilizados. Além disso, vamos perder as jazidas de calcário na região, que não poderão ser exploradas", observa o prefeito de Paranaíta, Pedro Miyazima.

Mas não são apenas os latifundiários que hostilizam os índios. Até mesmo aqueles que se dizem descendentes, como José Hermínio da Silva, são contra as tribos locais. "Eles se intrometem em tudo", reclama o baiano, de 77 anos, que chegou em Paranaíta em 1988 para trabalhar no garimpo.

Não fez fortuna, mas conseguiu comprar uma casa e dois lotes de terra. "Vendi uns 80 quilos de ouro, mas reinvesti tudo. Continuo pobre", conta ele, que guarda na boca as lembranças da época do garimpo. Seus dois caninos são revestidos de ouro.

Do outro lado, os povos indígenas reclamam da agressividade do "homem branco". "Quando chegamos na cidade, ouvimos: Por que esses índios estão aqui? Por que não ficam em suas aldeias?", relata Elenildo Caiabi.

Segundo ele, seu povo está estudando e conhecendo melhor a cultura do não índio para lutar pelos seus direitos.

"Eles alegam que um 1 milhão de hectares é muito para nós, mas nunca nenhum deles veio aqui saber como vivemos", diz Elenildo, referindo-se aos prefeitos e governadores dos Estados do Mato Grosso e Pará.

Da mesma forma, os índios são acusados de nunca terem ido às corredeiras Sete Quedas, que hoje dizem ser um local sagrado.

A briga pela demarcação das terras já dura mais de 23 anos. "O governo fez tanta promessa e não cumpriu nenhuma delas. Mas não vamos desistir", completa Valdete Caiabi.

A decisão da Justiça de suspender a demarcação poderá ter reflexo na construção da Hidrelétrica de Teles Pires, vista como moeda de troca para a comunidade indígena.

O cacique João Mairavi Caiabi ameaça invadir o canteiro de obras da usina se o governo federal não resolver logo a situação.

"Os fazendeiros têm medo de perder suas propriedades. Nós temos medo de perder nosso rio, nossa floresta, nossa comida", completa Valdete.

Fonte:
http://www.ihu.unisinos.br/noticias/511063-area-indigena-sagrada-vai-virar-hidreletrica

Nota:
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sábado, 16 de março de 2013

Os repolhos e a geração eólica

11/03/2013 - Por Rogério Maestri - Luis Nassif on line

Em 1989 o Diretor de um laboratório de Hidráulica chinês, me contou uma história anedótica ocorrida no auge da Revolução Cultural da China, que serve muito para projeção de nosso futuro.

Num determinado ano houve nos arredores de Pequim uma superprodução de repolhos, como se estava no auge da revolução cultural e todos os chineses deveriam contribuir para o não desperdício de alimentos no país, eles receberam uma cota extra para a compra de repolhos.

Como bons revolucionários, não revisionistas, todos eles compraram a preços simbólicos três repolhos por família.

Mesmo com a grande população a produção de repolhos era mais intensa, com isto a cota aumentou.

Recebida a segunda cota ainda restavam repolhos e desta forma a cota aumentou ainda mais.

Como todos eram bons revolucionários, mas o organismo não aguentava tantos pratos com variações de repolho, diligentemente todos levaram para suas casa a super cota de repolhos.

Porém como as casas eram pequenas e já estavam cheias de repolhos, os nossos amigos depositaram seus repolhos nos corredores dos apartamentos, resultando que por algum tempo Pequim ficou cheirando a repolho e a maioria desses teve que ser colocados no lixo depois de apodrecerem.

Bem qual é a correlação dos repolhos com a geração eólica, muito simples, a energia elétrica gerada pelo vento é mais ou menos como a produção dos repolhos, pode ser alta ou pode ser baixa.

Quando escutamos uma notícia do tipo: As turbinas eólicas que estão sendo instaladas gerarão energia necessária para abastecer 20.000 residências estão nos vendendo a superprodução de repolhos, ou seja, no ano em que os ventos foram favoráveis, nos dias em que estes forem fortes e na hora em que os ventos foram mais vigorosos, os geradores abastecerão o suficiente para 20.000 residências.

Como não podemos esperar o ano, os dias e as horas em que esta energia for fornecida pelos aerogeradores, devemos ter um número suficiente para que quando estas condições não forem satisfeitas se tenha uma energia mínima que satisfaça o consumo.

Isto ocorre com hidrelétricas também, no momento em que não houver chuvas e as vazões dos rios estiverem baixas, devemos nos servir de alguma reserva, ou deveremos dimensionar as usinas para a pior situação possível (usinas a fio d’água).

Esta condição de ter um número suficiente de aerogeradores para sozinhos garantir o consumo de pique, poderia ser considerada satisfatória desde que a diferença entre a energia máxima gerada e a mínima não atingisse relações de 10 para 1.

Se considerarmos primeiro a variação diária da energia gerada, mais a variação semanal e incluirmos algo que é claramente escondido pelas empresas de geração eólica, a variabilidade decadal, podemos facilmente ter em anos “secos de ventos” uma variabilidade em relação à geração de anos “ventosos” mais de 20%.

Esta variabilidade decadal já é patente analisando os dados de geração de energia eólica entre os anos de 2007 e 2012 (dados de produção de energia do Operador Nacional do Sistema) para os mesmos aproveitamentos (atenção à série histórica ainda é pequena, caso for realizado algum trabalho estatístico com estes dados talvez esta diferença de ano a ano possa atingir, mais de 35%).

Caso não se queira utilizar a própria energia eólica como reserva dela mesmo, é necessário ter um sistema de “backup”.

Logo todo o discurso pela implementação da geração eólica deve ser relativizado, citam os defensores desta energia como solução para a falta no Brasil um valor de R$ 87,94 por megawatt/hora (MWh) obtido nos últimos leilões, porém se não houver outra geração de energia sobrando (que no Brasil não há) na realidade este valor se torna R$ 87,94 + CUSTO DO BACKUP.

Agora vamos ao absurdo que ocorre no nosso país com a DEMONIZAÇÃO das hidrelétricas.

Levantam-se tantas restrições ambientais, sociais e políticas a construção de novas hidrelétricas com grandes reservatórios que é mais fácil se conseguirem uma licença ambiental de uma usina a carvão ou a derivados do petróleo do que para uma hidrelétrica.

Desta forma o Governo Federal para não sofrer o desgaste de ONGs preservacionistas e de outros grupos parte para um sistema de BACKUP através de usinas termoelétricas.

Gostaria que todos aqueles preocupados com a falta de energia se dessem conta que a DEMONIZAÇÃO das HIDRELÉTRICAS, que EM TODO O MUNDO É CONSIDERADA A ENERGIA MAIS LIMPA, está nos levando ao maior dos absurdos, a utilização de combustíveis fósseis, poluidores e recursos esgotáveis, no lugar de hidrelétricas, não poluidoras e não esgotáveis.

Agora vamos ao fechamento final, se investirmos somente em energia eólica, num sistema que já está com capacidade limitada de geração, teremos ou construir usinas de BACKUP que ficarão paradas em boa parte do tempo, ou devemos dimensionar os aerogeradores para a situação mais crítica, e para os anos mais ventosos, fazer como os chineses, deixar os repolhos apodrecerem nos corredores.

O comentário de 2 leitores e o de um doutor em engenharia nuclear:

seg, 11/03/2013 - 13:41 - Bruno Cabral
A solução é energia geotérmica, cada casa cavando seu poço e instalando seu próprio gerador.

Precisa de mais energia, faz outro poço e instala outro gerador. A geração será constante e conhecida.

Epa, "cada casa" é incompatível com empresas geradoras e distribuidoras!

seg, 11/03/2013 - 14:23 - Olhar de urbanista - Oscar Müller
No final da estória, energia é energia, mas a geração limpa, por hidroelétricas, eólicas, ou solares precisa ser privilegiada, e não há motivo para descartar nenhuma destas modalidades.

O texto chama atenção para o óbvio: uma coisa é gerar, outra estocar, e só estocando que se obtém segurança. Até aí tudo certo, só faltou lembrar que basta usar a energia excedente para bombear a água já usada pela hidroelétrica de volta para a represa, para estocá-la, e assim o repolho não apodrece.

Bruno, lembrou bem, a energia geotérmica é outra fonte limpa, e a micro geração uma opção ainda demasiadamente subestimada. E também não podemos esquecer que a nova legislação já atende às necessidades da micro geração, ao permitir que o consumidor devolva à rede seu excedente.

Energia é riqueza, e não é difícil constatar que o bicho homem não costuma medir esforços (e muitíssimo menos consequências) para obtê-la, o consumismo desvairado da atualidade é óbvio fator, mas certamente não é o único, e não sei dizer se seria o cerne da questão, entretanto é justamente neste contexto, que a micro geração (lembrada aqui pelo Bruno) se mostra super esperta.

Além do evidente, também intuo que as soluções adotadas de baixo para cima sejam mais eficientes e longevas. Mera intuição...

ILDO SAUER - doutor em engenharia nuclear pelo MIT (Massachusetts Institute of Technology, nos EUA), é coordenador do Programa de Pós-Graduação em Energia da USP e diretor de energia da Fiesp. Foi gerente do projeto do Circuito Primário do Reator Nuclear da Marinha (1986-1989).

Energia nuclear no Brasil pós-Fukushima
É natural que países sem recursos energéticos lancem mão da opção nuclear, mas a dotação de recursos do Brasil permite outra estratégia.

Após duas décadas de hibernação dos planos nucleares, no final do governo anterior foram anunciadas a conclusão de Angra 3 e mais quatro usinas, possivelmente às margens do rio São Francisco.

A previsão de investimento é da ordem de R$ 8 bilhões por unidade, atingindo R$ 40 bilhões para a instalação de 6.800 MW.

O país dispõe de capacidade tecnológica, de recursos humanos e de conjunto de recursos naturais para expandir a oferta de energia elétrica, em dados aproximados: 150 mil MW de potencial hidráulico remanescente, em adição aos 100 mil MW já desenvolvidos e em desenvolvimento; 143 mil MW eólicos; 15 mil MW de biomassa, mormente bagaço de cana; 17 mil MW em pequenas centrais hidrelétricas; 10 mil MW em cogeração e geração descentralizada por gás natural.

Isso tudo sem as possibilidades decorrentes da repotenciação e da modernização de usinas antigas e dos programas de racionalização do uso de energia. A energia eólica vem apresentando uma curva de aprendizado tecnológico notável, no mundo e no Brasil, conforme demonstrado pelas contratações recentes, com custos declinantes, já competitivos com a opção nuclear.

A própria opção fotovoltaica, conectada à rede de distribuição, tende a repetir o sucesso da eólica. Várias combinações entre esses recursos são possíveis para suprir a energia disponibilizada pela alternativa nuclear proposta, todas elas com custos de cerca da metade da opção nuclear, economizando mais de R$ 20 bilhões em investimentos para o mesmo benefício energético.

O desenvolvimento de 70% da capacidade hidráulica e de 50% do potencial eólico permitiria gerar anualmente cerca de 1,4 bilhão de MWh de fontes inteiramente renováveis, produção superior ao 1,1 bilhão de MWh requerido para atender a demanda brasileira prevista para a década de 2040, considerando uma duplicação do consumo per capita anual, para 5 MWh (semelhante ao padrão atual de Itália e Espanha), quando, segundo o IBGE, a população se estabilizará em torno de 220 milhões.

Há uma tendência natural de complementaridade das disponibilidades energéticas entre os ciclos hídrico e eólico. Além disso, eventual complementação com usinas térmicas, com suprimento flexível de combustível para operação em períodos hidroeólicos críticos, permitiria aumentar a confiabilidade e reduzir os custos.


É natural que países destituídos de recursos energéticos, como Japão, Coreia, França, ou mesmo Índia e China, lancem mão da opção nuclear como principal alternativa.

Mas a dotação de recursos do Brasil permite outra estratégia.

A construção de usinas nucleares, por si só, não garante avanços significativos no domínio da tecnologia nuclear. A consolidação de nossa capacidade nuclear, inclusive para geração elétrica, depende de planejamento, projeto, desenvolvimento e construção de reatores, especialmente de pesquisa, no país. Há dois projetos para tanto.

O primeiro é o reator experimental de 50 MW, de iniciativa da Marinha, projetado e cujos equipamentos foram construídos e estão estocados há 20 anos. Ele deveria, finalmente, ser montado e operado, podendo testar tecnologia de convecção natural, base da segurança passiva, capaz de garantir o resfriamento do núcleo mesmo na ausência de energia elétrica.

Outro é o reator de alto fluxo de nêutrons, para teste de materiais, apoio a pesquisa em agricultura, biologia e medicina e produção de radioisótopos, caros e em falta.

O investimento estimado para os dois projetos é de cerca de R$ 1 bilhão, 5% dos custos economizados com o cancelamento do plano atual de geração nuclear e sua substituição por outras fontes, renováveis, sustentáveis e sem deixar como herança carga radioativa a exigir cuidados das gerações futuras.

Fonte:
http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/os-repolhos-e-geracao-eolica

Nota:
A inserção das imagens, quase todas capturadas do Google Images, são de nossa responsabilidade e, excetuando uma ou outra, inexistem no texto original.

sexta-feira, 15 de março de 2013

Biodiversidade na produção de alimentos

01/03/2013 - Governo firma compromisso com ONU e Fiesp para uso da biodiversidade na produção de alimentos
- Reportagem de Flávia Albuquerque, da Agência Brasil
- publicada pelo EcoDebate em março 01, 2013 por HC

[Quando o Partido dos Trabalhadores (PT), como parte das conclusões de seu IV Congresso, realizado em 2011, elege como princípio que "o Brasil não tratará a questão ambiental como apêndice, senão como parte essencial, de seu projeto de desenvolvimento", deixa evidente que "como socialistas democráticos", almejam por "uma alternativa de civilização ao capitalismo".

Nesse cenário, o que vale para "militantes sinceros da resistência à destruição da natureza", como escreveu Saul Leblon, vale também para um partido político, ainda mais para uma agremiação que carrega em seu bojo a proposta que se pretende crível, de uma nova sociedade.

Assim, prossegue o autor, "talvez tenha chegado a hora inadiável de adicionar nervos e musculatura a essa declaração de intenções", essencialmente política, ou seja, a ser debatida estrategicamente, compreendida e disseminada em sua base para em seguida ter seu corpo edificado a partir de pontos de identidade com projetos que, ainda que de natureza técnica, deverão se situar, natural e politicamente longe de "um guia de boas maneiras para o "capitalismo sustentável" para então se aproximar com determinação de um projeto maior, "alternativo à lógica desenfreada da exploração da natureza e do trabalho", evitando-se assim, conceder espaço para as "oportunistas empresas ambientalmente responsáveis", pregoeiras de uma falácia de proposta, contaminada de riscos ao meio em que vivemos, mas que atende pelo atraente nome de "economia verde" ou assemelhados.

À luz de um futuro que, em distintos patamares, incorporou cerca de 50 milhões de brasileiros à sociedade de consumo é "obrigação de um partido de esquerda", como assinala o autor, saber distinguir dela o que se entende por uma sociedade justa e sustentável. E destaca, foi Chico Mendes (1944-1988) quem, rompendo com uma tradição preservacionista europeia, branca, elitista e excludente, vinculou, de forma pioneira, a defesa da floresta à luta contra a miséria e a opressão. Mas "a fila anda".

E é justamente aqui que almejamos imprimir lucidez à inserção da matéria adiante. Pretendemos que ela se torne independente dos autores que a propõem, na medida em que entendemos, como Leblon, que não estamos lidando com um problema brasileiro, mas com algo de um alcance planetário "o que apenas reforça a urgência de ação num mundo que ainda rasteja em postergações".

Aos nossos olhos, o governo e o PT que lhe dá sustentação política terão que se tornar os senhores de projetos dessa envergadura, condutores de uma agenda ambiental moderna, tecnologicamente avançada e que protagonize com desassombro um avanço "sobre essa que é a mais importante fronteira de atualização do campo da esquerda em nosso tempo: o ponto de encontro entre socialismo e desenvolvimento sustentável."

"A fila anda", e como verão, não estamos sós, há outros atores vivamente interessados em ter acesso aos ecogenéticos da nossa diversidade biológica, em se apossar de parte considerável dos nossos ativos ambientais e em desenvolver tecnologia pioneira na produção de alimentos a partir de aprimoramentos tecnológicos aplicáveis à nossa vasta biodiversidade. Como é relativamente fácil perceber, são bem mais de 50 milhões os que, ainda que inconscientemente, anseiam por tais avanços, reflexos benfazejos do nosso melhor conhecimento.

Concordamos com Leblon: "O sopro da barbárie já respira entre nós.] (Antonio Fernando Araujo)

A ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, firmou ontem (28/2) um compromisso com representantes da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) e da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) de trabalhar em conjunto com a agricultura brasileira para encontrar os caminhos para conciliar o acesso aos ecogenéticos (que resulta na predisposição genética em responder de diferentes maneiras a fatores ambientais) em produção de alimentos e inovação tecnológica.

O objetivo da reunião foi discutir metas de biodiversidade e o Protocolo de Nagoia, segundo maior pacto ambiental desde o Protocolo de Quioto.

Isso vem conciliando tanto o que está na parte de alimentos da FAO e na Convenção da Diversidade Biológica.

Foi uma excelente reunião e temos muito trabalho pela frente.

Estamos falando da biodiversidade que nós temos e de como poderemos produzir a partir do aprimoramento tecnológico e do conhecimento genético com mais sustentabilidade”, disse a ministra.

De acordo com o secretário executivo de Conservação da Diversidade Biológica da ONU, Bráulio Dias (foto), é preciso reforçar o debate sobre a legislação ambiental nacional, já que o Brasil é um dos poucos países que têm leis ambientais.

“Há pelo menos 15 países com essa legislação, mas em todos, e o Brasil não é uma exceção, essa lei foi muito voltada para proibir a biopirataria e não para estimular o acesso aos ecogenéticos e à pesquisa e ao desenvolvimento tecnológico.

Se não houver isso, não teremos novos produtos e benefícios que possam ser repartidos”.

Para Dias, é preciso incentivar esse desenvolvimento e a comercialização de produtos para gerar  riquezas.

A riqueza deve ser melhor compartilhada para que os países de onde são originários esses recursos também se beneficiem e possam melhorar seu esforço de conservação desse material para o futuro”, disse.

Fonte:
http://www.ecodebate.com.br/2013/03/01/governo-firma-compromisso-com-onu-e-fiesp-para-uso-da-biodiversidade-na-producao-de-alimentos/

Não deixe de ler:
- Uma agenda à procura de um Partido - Saul Leblon
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E mais:
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- A centralidade da água - Mônica Bruckman

Nota:
A inserção das imagens, quase todas capturadas do Google Images, são de nossa responsabilidade e, excetuando uma ou outra, inexistem no texto original.