domingo, 16 de dezembro de 2012

Voltei e o Anti-Consenso de Washington

[Nosso entendimento é que esse discurso de Lula, adiante comentado por André Singer, não está desassociado d'O Anti-Consenso de Washington'uma "nota conjunta histórica, encabeçada por Lula e pelo presidente francês François Hollande. Nela, convocam-se instituições, fundações e demais entidades ligadas à social-democracia para definir um novo modelo de governança global, baseado na experiência brasileira pós-crise de 2008."

Esta é a razão de os publicarmos juntos, pois acreditamos que qualquer análise que se faça sobre a possibilidade de inserção da perspectiva da volta de Lula ao universo da política brasileira precisará transcender nossas fronteiras e situá-la automaticamente em uma nova perspectiva, desta vez mais ampla, na medida do seu alcance internacional.

É, portanto, à luz da complementariedade que entendemos estar contida nesses dois textos que formulamos um convite especial à leitura e reflexão dos nossos leitores.
(Equipe Educom)]


15/12/2012 - André Singer (*)
- Folha de São Paulo - Colunistas - UOL

O discurso de Lula anteontem [12/12] em Paris deve ser lido com atenção.
Não só porque foi mencionada a chance de nova candidatura, o que lhe dá sabor histórico.

Quiçá, no futuro, o cabalístico 12/12/12 fique como o dia da célebre entrevista em que Getúlio anunciou a Wainer: "Eu voltarei".



Para os que buscam sinais, aliás, convém anotar outras passagens. A certa altura, o antigo mandatário deixa escapar: "Se é verdade o número que o meu ministro da Economia falou na hora do almoço...". Adiante, afirma aguardar que "a gente consiga fazer um acordo mais razoável" na conferência do clima prevista para se dar em Paris em 2015.

Já quase ao final, solta o seguinte: "Espero que os presidentes das Repúblicas não se reúnam mais para discutir crise. Nós temos que discutir soluções".

Os indícios esotéricos espalhados em uma hora e 20 minutos de duração não constituem, contudo, os elementos centrais do pronunciamento.

Se o ex-metalúrgico será ou não candidato em 2014, depende de fatores cujo controle escapa a qualquer um. Interessa a disposição atual do personagem e, acima de tudo, o programa com que sobe ao palanque.

O orador fez, com voz firme, diagnóstico amplo da crise econômica mundial e dos consequentes desafios postos aos homens e mulheres de Estado no início do século 21.

Os ouvintes que se deixarem levar pela forma - a aparência simples dos enunciados - perderão a abrangência do raciocínio, concorde-se com ele ou não.

Para Lula, os impasses chegaram a tal ponto que ou a política reassume o comando para preservar os avanços obtidos depois da Segunda Guerra Mundial ou caminharemos para o pior.

Comparando a situação europeia - epicentro de processo regressivo mais geral - a um paciente com a perna já amputada, disse que "se demorar mais um pouco, poderá morrer".

Mas diante de quadro tão grave, o que impede os Estados de agirem para interromper a gangrena, salvando o bem-estar social e devolvendo perspectivas de desenvolvimento para o conjunto da humanidade?

Quem são os tão poderosos inimigos da raça humana?

Aí a surpresa. Refratário, em condições normais, a nomear adversários, o ex-presidente, nas derradeiras frases, decidiu colocar pingos nos "is".

"Essa crise é da responsabilidade de pessoas que nós nem conhecemos porque, quando o político é denunciado, a cara dele sai de manhã, de tarde e de noite no jornal.

"Que paguem os bancos, não os povos"
Vocês já viram a cara de algum banqueiro no jornal?"

Acaso fosse necessária indicação adicional sobre como, na visão de Lula, estariam relacionadas a esfera global e as acusações de corrupção no Brasil, fez questão de arrematar: rosto de banqueiro não aparece "porque é ele que paga a propaganda".

(*) André Singer é cientista político e professor da USP, onde se formou em ciências sociais e jornalismo. Foi porta-voz e secretário de Imprensa da Presidência no governo Lula.

Fonte:
http://www1.folha.uol.com.br/colunas/andresinger/1201658-voltei.shtml

Nota:
A inserção das imagens, quase todas capturadas do Google Images, são de nossa responsabilidade e, excetuando uma ou outra, não constam do texto original.


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14/12/2012 - O Anti-Consenso de Washington - por Castor Filho
- Anti-Consenso de Washington - Coluna Econômica Nassif 

Antes de ontem, em reunião conjunto do Instituto Lula com a Fundação Jean Jaurès, do Partido Socialista francês, foi divulgada uma nota conjunta histórica, encabeçada por Lula e pelo presidente francês François Hollande.

Nela, convocam-se instituições, fundações e demais entidades ligadas à social-democracia para definir um novo modelo de governança global, baseado na experiência brasileira pós-crise de 2008.

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Entenda melhor o alcance desse manifesto.
Desde a Revolução Industrial inglesa, duas linhas de pensamento dominaram as discussões sobre políticas econômicas nacionais.

Uma delas, internacionalista, defendia o primado do mercado, limitava as ações regulatórias e reduzia o grau de intervenção das políticas nacionais.

Crescia em períodos de esgotamento dos modelos nacionais, acumulava forças, sobrepunha-se a toda forma de regulação, privilegiava o livre fluxo de capitais e, depois, esgotava-se em seus próprios exageros, imersas em grandes crises globais.

A segunda, nacionalista, impunha controles aos capitais, práticas protecionistas, graus crescentes de intervenção estatal e, assim como a primeira escola, acabava se esgotando nos seus próprios excessos de intervencionismo.

De certo modo, desde o século 19 a economia mundial capitalista oscila entre esses dois extremos.

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Os modelos de intervenção do Estado assumiram um caráter desenvolvimentista nos países do terceiro mundo e um caráter social nos países desenvolvidos. Nesse segundo grupo gerou a social democracia europeia, responsável pelo avanço do chamado estado do bem estar social.

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Do pós-Guerra até os anos 60 vigorou a linha mais intervencionista. No plano global, foi o período de predominância das grandes instituições multilaterais - FMI, Banco Mundial, BIRD -, do controle de capitais e das oscilações cambiais.

De 1972 em diante - quando o presidente norte-americano Richard Nixon desvinculou o dólar do ouro - predominou um período de gradativa liberalização financeira. No início dos anos 90, um documento denominado de "Consenso de Washington" sugeriu as linhas básicas de política econômica a serem adotadas pelos diversos países que pretendessem se integrar à globalização.

Através de Fernando Henrique Cardoso, o Brasil foi um seguidor religioso do receituário, deixando de lado investimentos públicos e políticas sociais para se concentrar exclusivamente na criação de um ambiente propício ao grande capital. Supunha-se que, atendidas suas exigências, o desenvolvimento viesse automaticamente.

Essa ilusão atravessou os dois governos FHC e o governo Lula até a grande crise de 2008.

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De lá para cá, houve mudanças gradativas na política econômica interna. Constatou-se que políticas sociais, em vez de passivo, tornou-se um enorme ativo nacional, na medida em que gerou um mercado de consumo dinâmico. Em todas as crises do governo FHC, a reação automática era a de um pesado pacote fiscal que aprofundava ainda mais a crise.

Nesse mesmo período, a Europa se afundou na maior crise desde a Segunda Guerra, fruto de políticas econômicas ortodoxas. Pior: iniciou o desmonte do seu estado de bem-estar, um dos grandes avanços civilizatórios do século.

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É nesse quadro que se situa o manifesto, em cima de grandes forças globais atrás de um discurso que unifique as ações e permita a superação do modelo e da crise atuais.

As virtudes da globalização
Começa pelo reconhecimento da inevitabilidade da globalização: "A globalização é um imenso desafio com o qual se confronta a humanidade. Ela tem um poder formidável de mudança para todas as sociedades: a mudança econômica, com a intensificação das trocas; a mudança cultural, pois essas trocas possibilitam a circulação de ideias e a transformação das práticas culturais e de costumes; a mudança política".

Os problemas da globalização
Depois, aponta os problemas atuais: "A globalização, da forma que ocorre atualmente, está longe de satisfazer as aspirações que legitimamente suscita. A crise econômica internacional agrava a concorrência entre os países e as sociedades. Ela atinge os mais vulneráveis, particularmente os trabalhadores e os jovens. (...) Ela conduz governos a adiar as decisões necessárias para prevenir o aquecimento global".

As críticas às políticas de austeridade
Depois, uma crítica às políticas de austeridade adotadas pela União Europeia: "Isoladas, (...)  mostraram seus limites para encontrar a saída da crise.

A retomada ainda não esta garantida, ao mesmo tempo em que os direitos econômicos e sociais estão ameaçados. É imprescindível que sejam adotadas políticas de crescimento. Somente assim a globalização poderá garantir o respeito à coesão social e ao meio ambiente".

A nova governança
A defesa da nova governança: "Uma nova governança é necessária para regular os conflitos entre as nações e garantir a paz e, de outro, permitir que cada nação realize o modelo de sociedade que escolheu. Os poderes públicos devem garantir que todos tenham oportunidades de desenvolver suas capacidades individuais. Devem também trabalhar em prol da perenidade do meio ambiente para as gerações futuras.

Novo mundo em marcha
Depois, aponta as mudanças em curso: "A sociedade civil mundial se tornou uma realidade tangível. Políticas públicas inovadoras e outros modos de governar surgem em todos os continentes, particularmente nos países emergentes e em desenvolvimento. As instâncias multilaterais também estão se reconfigurando. A constituição do G20 reflete a mudança dos equilíbrios mundiais, mas seu impacto ainda limitado ilustra a dificuldade dos governos de chegarem a um acordo e de agir de forma concreta".

A conclamação
Finalmente a conclamação: "Os riscos que atualmente ameaçam a humanidade são grandes demais para nos focarmos apenas em uma gestão de curto prazo. Fazemos uma conclamação em defesa da confiança na capacidade humana de se reinventar e do poder criador de nossa sociedade-mundo, para sair definitivamente da crise e construir as bases de um futuro harmonioso que possa ser compartilhado por todos"

Fonte:
http://blogoosfero.cc/castorphoto/blog/o-anti-consenso-de-washington.

Blog: www.luisnassif.com.br

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sábado, 15 de dezembro de 2012

Quando o controle remoto não resolve

[15/12/2012 - Oscar Niemeyer, 105 anos, nossa homenagem. (Equipe Educom)]


13/12/2012 - Revista do Brasil - Edição 78 - Dezembro/2012
- Laurindo Lalo Leal Filho


Em que pese a importância das redes sociais e da internet para o debate sobre as virtudes e defeitos dos meios de comunicação, nas universidades a crítica definha. 


Jornais, revistas, o rádio e a televisão tratam de quase tudo sem restrição. Apenas um assunto é tabu: eles mesmos.




Se hoje a internet tem papel relevante nesse debate sobre a mídia, na academia houve retrocesso. O programa Globo Universidade das Organizações Globo, tem parcela importante de responsabilidade nessa mudança.

Surgiu com o objetivo de neutralizar aquela que era uma das poucas áreas em que se realizava uma análise crítica sistemática dos meios de comunicação. 

Passou a financiar laboratórios de pesquisa e eventos científicos, e, com isso, um objeto de investigação, no caso a própria Globo, tornou-se patrocinador do investigador, retirando da pesquisa a necessária isenção.


Fez na comunicação o que a indústria farmacêutica faz com a medicina, bancando viagens e congressos médicos para propagandear remédios.

O resultado prático pode ser visto no número crescente de trabalhos acadêmicos sobre o uso de novas tecnologias associadas à TV e as formas de aplicação de seus resultados pelo mercado.

Enfatizam cada vez mais o papel do receptor como elemento capaz de selecionar, a seu critério, os conteúdos que lhe interessam. Fazem, dessa forma, o jogo dos controladores dos meios, retirando deles a responsabilidade por aquilo que é veiculado.

Fica tudo nas costas do pobre receptor.
Esquecem o fenômeno da concentração dos meios que reduz o mundo a uma pauta única, com pouca diferenciação entre os veículos.


Dizem em linguagem empolada o que empresários de TV costumam expressar de modo simples: O melhor controle é o controle remoto”.

Como se ao mudar de canal fosse possível ver algo muito diferente.

Cresce também o número de empresas de comunicação que oferecem cursos até em universidades públicas, retirando dessas instituições o espaço do debate e da crítica. Saem dos cursos de comunicação jovens adestrados para o mercado, capazes de se tornar bons profissionais.

No entanto, a débil formação geral recebida os impedirá de pôr os conhecimentos obtidos a serviço da cidadania e da transformação social.

O papel político desempenhado pelos meios de comunicação e a análise criteriosa dos conteúdos emitidos ficam em segundo plano, tanto na pesquisa como no ensino.

Foi-se o tempo em que, logo nos primeiros anos do curso, praticava-se a comunicação comparada, com exercícios capazes de identificar as linhas político-editoriais adotadas pelos diferentes veículos.

Caso fosse aplicada hoje, mostraria, com certeza, a uniformidade das pautas, com jornais e telejornais reduzindo os acontecimentos a meia dúzia de fatos capazes de “render matéria”. Mas poderia, em alguns momentos excepcionais, realçar diferenças significativas, imperceptíveis aos olhos do receptor comum.

Como no caso ocorrido logo após a condenação de José Dirceu pelo STF. Ao sair de uma reunião, o líder do PT na Câmara dos Deputados, Jilmar Tatto (foto), foi abordado por vários repórteres. Queriam saber sua opinião sobre o veredicto do Supremo.

Claro que ele deu apenas uma resposta, mas para quem viu os telejornais da Rede TV e da Globo foram respostas diferentes.

Na primeira Tatto dizia:

A Corte tem autonomia soberana e pagamos alto preço por isso. E só espero que essa jurisprudência usada pelo STF continue e que tenha o mesmo tratamento com os acusados do PSDB”.

Na Globo a frase sobre o “mensalão tucano” desapareceu.


Em casa o telespectador, mesmo vendo os dois jornais, dificilmente perceberia a diferença entre ambos, dada a sequência rápida das imagens.


Mas para a universidade seria um excelente mote de pesquisa cujos resultados teriam uma importância sociopolítica muito maior do que longos discursos sobre transmídias e receptores. 

Fonte:
http://www.redebrasilatual.com.br/revistas/78/lalo-leal/view

Tudo a ver:
As 10 estratégias de manipulação midiática
- A velha cara da nova direita

Nota:
A inserção das imagens, quase todas capturadas do Google Images, são de nossa responsabilidade e, excetuando algumas, não constam do texto original.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Para ler, comentar e divulgar

A velha cara da nova direita 

Da CartaCapital

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Mais:
Aonde eles pretendem chegar?
Quando o controle remoto não resolve

O golpe tardio de Marcos Valério

11/12/2012 - Miguel do Rosário em seu blog O Cafezinho


Uma das características mais interessantes do golpismo midiático é o endeusamento de bandidos.

Desde que estes se prestem a servir a “causa”, ganham ilimitado espaço nos grandes meios de comunicação.

Quem irá esquecer os oito minutos que o Jornal Nacional [Rede Globo], às vésperas de uma eleição presidencial, deu àquele bandidinho de segunda, que havia acabado de sair da cadeia, Rubnei Quicoli [foto], onde ele acusava a Casa Civil de lhe ajudar a obter um empréstimo de 8 bilhões junto ao BNDES?

Não há santos em política. Não é preciso muita imaginação para supor a quantidade estonteante de chantagens, pressões indevidas, tráficos de influência, subornos, caixa 2, ameaças, que acontecem nos bastidores de Brasília.


Se há poder envolvido, tem-se necessariamente um jogo pesado.
Nem PT nem Lula escapam dessa lógica. Eles não têm o poder mágico de remover a podridão humana, nem a alheia, nem a própria.


Dito isto, qualquer acusação contra Lula merece ser analisada com triplo cuidado, porque faz parte do jogo político, desde priscas eras, acusar o adversário das piores felonias.

Hoje [11/12] o Estadão volta com uma acusação que ele mesmo havia feito há alguns meses, mas acrescentando detalhes que implicariam a pessoa do Lula.

A matéria informa que Valério diz que o esquema pagou despesas pessoais de Lula, e que o presidente deu ok aos empréstimos que o publicitário fez em nome do PT. A acusação, porém, tem as seguintes falhas:

Como sempre faltam provas.
E, segundo o próprio Valério, não há provas de que o dinheiro se destinou a pagar despesas pessoais de Lula, visto que não foi depositado na conta do ex-presidente.


Lula já era presidente, a maior parte de suas contas poderia ser paga, regularmente, por seu gabinete. Não tem sentido esperar dinheiro de Marcos Valério. Se Valério falasse que depositou milhões para Lula em conta no exterior, haveria sentido, que era o enriquecimento ilícito. Mas pagar contas?

Quanto ao aval sobre o empréstimo,
aí é que não faz sentido mesmo.

Em primeiro lugar, foi um empréstimo, que o PT inclusive já quitou. O STF criminalizou um empréstimo legal. Tentou-se, desde o início, pintar o PT como um partido inadimplente e falido, o que é um contrassenso o PT havia acabado de sair vitorioso de uma eleição onde vencera em estados, além da vitória maior, a presidência. Qualquer banco privado emprestaria ao PT por este motivo.

Marcos Valério, obviamente, está desesperado
com a possibilidade de ficar em cana por décadas. Isso é motivo para, no mínimo, se desconfiar de suas intenções.


Além do mais, todo bandido brasileiro da área política já entendeu que basta dar umas cacetadas no PT e, sobretudo, em Lula, para receber a solidariedade inconteste e definitiva da grande mídia.

Quanto às “ameaças de morte” que teria recebido de Paulo Okamoto, pode-se tratar de uma estratégia astuta para se pintar como vítima.


Felizmente, o golpe em Lula, o milionésimo, chegou tarde.

O ex-presidente teve tempo de fazer o que tinha de fazer: melhorar a vida do brasileiro, sobretudo o mais pobre.

Para milhões de brasileiros, liberdade de expressão não é apenas poder falar o que quiser, mas também obter as proteínas e a dignidade necessárias para fazê-lo de cabeça erguida.

Fonte:
http://www.ocafezinho.com/2012/12/11/o-golpe-tardio-de-marcos-valerio/ 

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

STF: em 1995, Celso de Mello reconheceu separação de poderes

Cassação de mandatos é adiada no aniversário do AI-5 

Se, como já indicou, sacramentar a cassação dos deputados condenados pelo que a mídia convencionou chamar de "mensalão", o ministro do Supremo Tribunal Federal Celso de Mello irá de encontro a seus próprios princípios. Em 1995, Mello acatou recurso do então vereador de Araçatuba (SP) Pedro Martinez de Souza (PPB), questionando a perda de seu mandato após condenação por crime eleitoral. O decano do STF proferiu então que um parlamentar somente poderia perder o mandato por ato da mesa legislativa, como assegura a Constituição. Celso de Mello contribuiu assim para formar a maioria que permitiu a Souza voltar à Câmara de Araçatuba em 1996. 

Por causa da internação de Mello esta manhã para tratar uma pneumonia, a definição da Corte sobre os mandatos foi adiada. Ele será o último ministro a se pronunciar na matéria, já que o sucessor de Cezar Peluso, Teori Zavascki, está impedidoNesta quinta, o Ato Institucional Nº 5 completa 44 anos. Entre 1968 e 1978, o AI-5 permitiu a cassação generalizada de mandatos pela ditadura.

Mello (ao fundo) e, abaixo, com Joaquim Barbosa. Fotos: FRP/ABr

Estão ameaçados de perda do mandato os deputados federais João Paulo Cunha (PT-SP), Pedro Henry (PP-MT) e Valdemar Costa Neto (PR-SP). A votação do STF, que pode resultar na cassação dos três condenados na Ação Penal 470, está empatada em 4 a 4. Por remeter a decisão à Câmara votaram o relator-revisor Ricardo Lewandowski, Carmen Lúcia, Dias Toffoli e Rosa Weber. Votaram pela cassação imediata o relator e atual presidente da Corte Suprema Joaquim Barbosa, além dos ministros Gilmar Mendes, Luiz Fux e Marco Aurélio Mello. 


No parágrafo 2º do artigo 55, a Constituição da República Federativa do Brasil diz que, caso ainda se encontre o sentenciado no exercício do cargo parlamentar por ocasião do trânsito em julgado desta decisão, "a perda do mandato será decidida pela Câmara dos Deputados ou pelo Senado Federal, por voto secreto e maioria absoluta, mediante provocação da respectiva Mesa ou de partido político representado no Congresso Nacional, assegurada ampla defesa".

Impasse e risco de crise institucional
A conclusão do julgamento da AP 470 foi interrompida na última segunda-feira, 10, quando a votação sobre cassar ou não os mandatos dos três parlamentares estava em 4 votos a 4. Toda a polêmica vem do fato de que a Constituição tem duas interpretações sobre o tema. A primeira refere-se à condenação em ação criminal, que é a hipótese para suspensão de direitos políticos. Na segunda interpretação é aberta exceção no caso de parlamentares, atestando que somente as respectivas Casas Legislativas podem decretar a perda de mandato após processo interno específico. 

No dia 6, a discussão começou na Corte Suprema com os votos do presidente da instituição e relator da ação, Joaquim Barbosa, e do ministro-revisor, Ricardo Lewandowski. Eles apresentaram votos opostos. Barbosa defende a perda de mandato imediata por condenação criminal, enquanto Lewandowski diz que não cabe ao Supremo a intervenção política. Sem o voto computado oficialmente, o ministro Celso de Mello sinalizou, nas duas últimas sessões, que deverá acompanhar o entendimento de Barbosa. Para o relator, a perda do mandato deve ser decretada judicialmente pelo STF, e ao Congresso Nacional cabe apenas ratificar a determinação.

O risco de que parlamentares tenham seus mandatos cassados por outro dos poderes da República provocou duras críticas. Esta semana o presidente da Câmara, deputado Marco Maia (PT-RS), antecipou em entrevista coletiva que o Poder Legislativo reagiria com firmeza caso o Judiciário exorbitasse suas atribuições com cassação de deputados federais. A maioria dos líderes da Casa - até mesmo de partidos de oposição como o PSDB - manifestou apoio a Maia. Parlamentares do PT acusaram Joaquim Barbosa e os ministros que o seguiram no voto de tentar provocar uma crise institucional. Ao que tudo indica, a bola está com Celso de Mello e esperemos que seja coerente, marcando um gol para as instituições democráticas. (R.B., com Agência Brasil e portal '247')

Leia aqui o voto do ministro Celso de Mello há 17 anos.

Mais:
STF não cassa mandato de deputados condenados
Grotescos e malandros alimentam crise entre STF e Congresso

Um cartola que o passado condena

11/12/2012 - Mário Augusto Jakobskind - Direto da Redação


Fez bem o deputado Romário [foto] ao propor a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar a Confederação Brasileira de Futebol.

Romário é do ramo, ou seja, conhece muito bem os bastidores da entidade, agora presidida por José Maria Marin [foto], que sucedeu nada mais nada menos que Ricardo Teixeira.


Convenhamos, depois de Teixeira vir Marin é dose cavalar para o esporte mais popular do país. E Teixeira, queimado depois de mais de 20 anos de gestão, indicou Marin.



Teixeira [foto ao lado] é acusado de várias falcatruas. Numa CPI terá todo o direito de defesa. Já o seu substituto também não pode ser considerado exemplo para o esporte ou para o País, muito pelo contrário. Aliás, o Brasil é useiro e vezeiro de passar por cima de sua memória histórica, como se fatos do passado não interessassem.

Agora, graças ao jornalista Juca Kfouri foi lembrado em seu blog quem é Marin, como ingressou na política e o seu comportamento (sórdido) durante a ditadura civil militar que assolou o país durante 21 anos a partir de abril de 1964.

Pois bem, José Maria Marin ingressou na política antes de 64 elegendo-se vereador por São Paulo nas fileiras do integralismo, que tinha o nome de Partido de Representação Popular (PRP), capitaneado pelo fascista tupiniquim Plínio Salgado.

Depois do golpe de 64, Marin conseguiu se eleger deputado estadual paulista na legenda do partido da ditadura, a Arena, que por sinal está sendo revivida no século XXI , justamente contando com a falta de memória dos brasileiros.


O atual presidente da CBF bateu o recorde em matéria de meu passado me condena, como lembrou Kfouri.

No triste momento do assassinato do jornalista Vladimir Herzog [foto] nas dependências do DOI-CODI, Marin teve participação vestindo a camisa da linha dura. Está nos anais da Assembleia Legislativa de São Paulo o discurso que fez poucos dias antes do assassinato do jornalista.

Em tom extremista, fazendo eco com a linha dura do regime ditatorial,  Marin, em setembro de 1975, pedia maior rigor no combate aos “comunistas da TV Cultura”, e o “retorno da tranquilidade aos lares de São Paulo”.


Em seguida, Herzog foi intimado a comparecer na boca do lobo e teve o fim que sabemos.

Marin discursou no mesmo tom do então líder do governo Geisel, Dinarte Mariz [foto abaixo], pouco tempo depois, ao pedir maior rigor contra a imprensa brasileira, que, segundo o parlamentar, estava “infiltrada de subversivos”.

Mariz, que pelo nome não se perca,  praticamente deu o sinal verde para outro episódio lamentável na história do país, o atentado a bomba contra a sede da ABI (Associação Brasileira de Imprensa), em agosto de 1976, episódio que está sendo investigado pela Comissão da Verdade.

Mas quem pensa que o apoiador da ditadura José Maria Marin ficou só nisso em matéria de extremismo, engana-se. É de autoria do atual presidente da CBF discurso elogiando a atuação de Sérgio Paranhos Fleury, o hediondo delegado do DEOPS paulista, responsável pela tortura e morte de centenas de opositores da ditadura.

Sempre vinculado ao que havia de pior no mundo político brasileira. Marin foi vice de Paulo Maluf e acabou governando São Paulo por um tempo, sendo posteriormente substituído por governadores eleitos.


Na verdade, uma figura como Marin jamais poderia ter sido galgado à presidência da CBF, porque tal fato depõe contra a imagem do Brasil.

Esporte é vida e confraternização. Marin não é nada disso, muito pelo contrário.

Juca Kfouri, com todo o seu prestígio jornalístico e que prestou um serviço de utilidade pública lembrando quem é Marin, poderia liderar campanha no sentido de destituir do cargo o atual presidente da CBF.

Um presidente da CBF ganha prestígio, ocupa grandes espaços midiáticos, tem poder até para destituir ou convocar técnicos sem consultar quem quer que seja.


Como estamos numa democracia, o poder de pressão da sociedade tem peso. Por tudo que foi revelado por Juca Kfouri, José Maria Marin [foto] jamais poderia estar ocupando o cargo que ocupa.


É o caso de perguntar ao competente deputado Romário, do Partido Socialista, como ele se posiciona nesta matéria de tanto interesse dos brasileiros que vão se ligar na Copa das Confederações neste junho de 2013 e na Copa do Mundo de 2014.


Já em Brasília, por iniciativa de Deputada Luiza Erundina [foto ao lado], a Câmara dos Deputados prestou importante homenagem devolvendo simbolicamente o mandato de 173 parlamentares cassados pelos governos de fato que ocuparam o país depois de abril de 64. Destes, apenas 29 estão vivos.

A Justiça foi feita. Espera-se que o Parlamento siga adiante em suas iniciativas que ajudam a passar o país a limpo. Por que não a Deputada Erundina ou algum outro parlamentar apresentar projeto impedindo que nome de ditadores de plantão continuem servindo para denominar ruas ou avenidas deste país.

E que seja recomendado ao Ministério da Educação que nos livros didáticos os ditadores do período sejam tratados não como presidentes da história do Brasil, mas como ditadores que foram. Fica a sugestão.


Ah, sim, depois da Câmara dos Deputados, seria importante o Senado fazer o mesmo. Com a palavra José Sarney.


Fonte:
http://www.diretodaredacao.com/noticia/um-cartola-que-o-passado-condena

Imagens: Google Images